O site CPAD NEWS divulgou, em 3 de junho, matéria com o título “Brancos se ajoelham em oração pedindo perdão a negros por anos de racismo”. Segundo o site, ato ocorreu em 31 de maio no bairro Terceira Ala, na cidade de Houston, no Texas (EUA), durante protestos após a morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por policial branco em 25 de maio durante ação policial em Minneapolis (EUA).
O ato solidário contra o racismo reuniu um grupo de pessoas brancas, que ajoelhadas diante de pessoas negras, pedia perdão por anos de preconceito.
Além de sinal pela luta por justiça social, dobrar um dos joelhos faz referência à imagem de terror que mostra George Floyd sendo asfixiado por um policial. Floyd foi detido após o funcionário de uma mercearia chamar a polícia e acusar o homem de tentar pagar as compras com uma nota falsa de US$ 20.
Atos em protesto contra o racismo aconteceram em escala global após a morte de Floyd. Milhares de pessoas saíram às ruas para dizer
“basta de racismo, fascismo e violência policial”.
Houve manifestações pelo mundo. As mais numerosas aconteceram nos Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e na França. Em Paris, inclusive, um ato com mais de 15 mil pessoas também relembrou a morte do jovem francês Adama Traoré.
O Coletivo Bereia verificou as imagens e vídeos de ato de perdão e confirma a veracidade das informações destacando o conteúdo como VERDADEIRO.
Inúmeras manifestações, inclusive nas mídias sociais, continuam a protestar contra séculos de racismo. Bereia reafirma que a publicação de informação responsável é fundamental para reforçar e legitimar a luta social e evangélica em favor do direito à vida e à justiça de todos os negros e negras do Brasil e do mundo.
Este foi o pedido de uma criança ao presidente Jair Bolsonaro durante evento de hasteamento da Bandeira Nacional, em Brasília, no dia 12 de maio deste ano.
Após ouvir o pedido, o Presidente da República Jair Bolsonaro declarou:
No mesmo dia 12, o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) apresentou na Câmara dos Deputados um projeto sobre a questão da ideologia de gênero. O texto determina que tanto o sexo biológico como as características sexuais primárias e cromossômicas devem definir o gênero do indivíduo no país.
Em matéria divulgada na Gazeta do Povo dia 17 de maio, Filipe Barros afirmou:
“Gênero e sexo biológicos sempre foram sinônimos. Quando a teoria queer começa a ser formulada e passa a ganhar espaço em especial nas universidades públicas, gênero passa a significar algo diverso do sexo biológico. Acontece que isso é uma mera teoria, não é ciência”, afirma o deputado. De acordo com ele, o principal objetivo do seu projeto é “desfazer a confusão linguística criada propositalmente por grupos radicais.”
A campanha de Jair Bolsonaro e dos seus apoiadores/as contra a noção falaciosa de ideologia de gênero é antiga. Desde o período de eleitoral para a Presidência em 2018, notou-se que esta seria uma pauta importante em seu mandato.
Mas o que é ideologia de gênero?
O termo surgiu pela primeira vez em 1998, na América Latina, na Conferência Episcopal do Peru em documento eclesiástico intitulada “Ideologia de gênero: seus perigos e alcances”. Mas foi no debate do Plano Nacional de Educação (PNE), que dita as diretrizes e metas da educação, sancionado em 2014, que o termo ganhou força.
Na ocasião, as bancadas religiosas afirmaram que as expressões – igualdade, identidade de gênero, orientação sexual e sexualidade nas escolas – valorizavam uma “ideologia de gênero”, corrente que deturparia os conceitos de homem e mulher, destruindo o modelo tradicional de família.
“Toda a campanha dos setores religiosos conservadores contra a diretriz do PNE deu-se pautada na luta contra o que se classificou como “ideologia de gênero”. Sob o argumento de que gênero constituía uma ameaça contra a família, pois subverteria a sexualidade e a família “natural”, esses setores apostaram fortemente nos sentidos objetivados, portanto dominantes, de sexo e família, para encamparem sua luta contra a discriminação das desigualdades de gênero e de orientação sexual e, não esqueçamos, contra a discriminação das desigualdades étnico-raciais e regionais.”
Desde seu surgimento, a expressão “ideologia de gênero”carrega um sentido pejorativo(negativo, ofensivo). Por meio dela, setores mais conservadores da sociedade protestam contra atividades que buscam falar sobre a questão de gênero e assuntos relacionados, como sexualidade nas escolas. As pessoas que concordam com o sentido negativo empregado no termo “ideologia de gênero” geralmente temem que, ao falar sobre as questões mencionadas, a escola vá contra os valores da família.
Sobre isto, a doutora Sandra Duarte afirma:
“O modelo de família reivindicado por esses grupos, referido sempre como “modelo natural”, responderia aos objetivos divinos para a criação do ser humano. A família só seria legítima se acompanhasse o modelo homem, mulher e filhos, sendo descartadas outras composições. Para isso, é preciso vigiar o sexo, vigiar os corpos e regular a sexualidade, e um dos meios mais eficazes para isso tem sido o da produção do pânico moral por meio da construção do inimigo: as feministas.”
A expressão “ideologia de gênero” não é admitida no mundo acadêmico. Nas universidades, apenas o termo teoria de gênero é reconhecido, e estabelece que gênero e orientação sexual são construções sociais e não apenas determinações biológicas. Já para segmentos da direita, a “ideologia de gênero” é um ataque ao conceito tradicional de família.
O Presidente Bolsonaro faz uso frequente do conceito para criticar governos de esquerda e políticas educacionais que estariam, na visão dele, desviando da concepção tradicional cristã de família, comporta por um homem e uma mulher.
Jair Bolsonaro e “Ideologia de Gênero”
Este casamento ganhou força em 2018 por meio de uma fake news amplamente divulgada pelo então candidato à presidência, Jair Bolsonaro. Em entrevista ao Jornal Nacional, em 28 de agosto de 2018, apresentou o livro –Aparelho Sexual e Cia, da Editora Companhia das Letras, e afirmou categoricamente que a obra fazia parte do material intitulado pejorativamente por ele como “kit gay”, que teria sido distribuído em escolas públicas pelo Ministério da Educação quando Haddad era o ministro da pasta.
“Nesse quadro, entendem comprovada a difusão de fato sabidamente inverídico, pelo candidato representado e por seus apoiadores, em diversas postagens efetuadas em redes sociais, requerendo liminarmente a remoção de conteúdo. Assim, a difusão da informação equivocada de que o livro em questão teria sido distribuído pelo MEC… gera desinformação no período eleitoral, com prejuízo ao debate político”, concluiu o ministro do TSE.
A pesquisadora americana Amy Erica Smith, professora associada de ciência política na Universidade de Iowa e autora do livro Religião e Democracia Brasileira: Mobilizando o Povo de Deus, afirmou que há lideranças evangélicas na política nacional que priorizam duas pautas: “defender interesses institucionais, principalmente a capacidade de evangelizar”, e “combater o que chamam de ideologia de gênero”.
Desde sua campanha para presidente, Jair Bolsonaro fez da pauta “ideologia de gênero” uma de suas prioridades.
No dia 23 de outubro de 2018, cinco dias antes do segundo turno, Bolsonaro afirmou em entrevista para a Rede Gospel de Televisão que se fosse eleito, a “ideologia de gênero” deixaria de existir. Veja a afirmação no minuto 3’40’’ do vídeo.
“Com o tempo começou a se instituir outras coisas à sociedade, como, por exemplo, a mal fadada ideologia de gênero, dizendo que ninguém nasce homem ou mulher, que isso é uma construção da sociedade. Isso é uma negação a quem é cristão e acredita no ser humano. Ou se nasce homem, ou se nasce mulher.”
No discurso de posse no primeiro dia do ano de 2019, Bolsonaro afirmou:
“Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre de amarras ideológicas.”
No mês de junho, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), incorporou o mesmo discurso do presidente criando uma guerra na política externa. Em pelo menos duas reuniões, na ONU e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, os diplomatas receberam a instrução de ressaltar aos outros países a visão do governo brasileiro, de que “a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino”.
“Se querem que eu acolha isso, apresente uma emenda à Constituição e modifique o artigo 226. Lá está escrito que família é homem e mulher. Mesmo mudando isso, como não dá para emendar a Bíblia, vou continuar acreditando na família tradicional”, afirmou.
“A educação do Brasil, com as exceções de praxe, não vai muito bem Em grande parte, devemos isso a uma ideologia que, ao longo de décadas, foi se aproximando das escolas. O que nós queremos é que os nossos filhos sejam bem instruídos. O trabalho é de tirar e afastar certas ideologias, como a ideologia de gênero, pessoas que estão preocupadas apenas em fazer com que, no futuro, tenhamos militância.”
No início de setembro, em seu Twitter, Bolsonaro determinou que o Ministério da Educação (MEC) elaborasse um projeto de lei contra a “ideologia de gênero” no ensino fundamental. O anúncio não especifica o que seria considerado um conteúdo inadequado.
Em novembro passado, na 1ª Convenção Nacional do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou criar mas não obteve sucesso, foram lidos os cinco princípios da nova sigla. No terceiro princípio nota-se o combate à “ideologia de gênero”. Leia na íntegra:
3º -Defesa da vida, da legítima defesa, da família e da infância: o partido está convicto de que nenhum progresso seria obtido sem a defesa da vida humana, desde a concepção. A vida é o primeiro dos efeitos, sem vida, não há mais o que defender, pois a morte já terá encerrado a possibilidade de qualquer outro direito. Todas as propostas do partido relacionadas à saúde deverão ter como norte a defesa da vida humana, em todas as suas fases. (…) A Aliança pelo Brasil defende também o valor da maternidade como um dos fundamentos da sociedade, para que todas as mulheres gestantes e mães tenham condições dignas de vida, de gestação e criação de seus filhos. Outrossim, o partido se compromete a lutar incansavelmente até que todos os brasileiros tenham o direito de possuir e portar armas para sua defesa e a dos seus. (…) Defesa da família como núcleo fundamental da sociedade. (…) Combaterá a pedofilia e o tráfico de crianças. (…) Combaterá ainda a erotização da infância e a ideologia de gênero. (…) tirar o Brasil dos índices de analfabetismo.
Ainda em 2019, noúltimo dia do ano, Bolsonaro postou em seu Twitter que a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) incluía a “nefasta ideologia de gênero e o aborto”.
Em 2020, a luta contra a falaciosa “ideologia de gênero” continua. Em 12 de janeiro de 2020, Bolsonaro postou em seu Twitter um vídeo do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, no qual defende a distribuição de livros didáticos para estudantes da escolas públicas. Ele destaca, contudo, que o material não deve ter “ideologia”.
“É para ensinar a ler, escrever, ciências, matemática, não é para doutrinar.”
Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, aprofundar o debate sobre sexualidade e gênero contribui para uma educação mais inclusiva, equitativa e de qualidade, não restando dúvida sobre a necessidade de a legislação brasileira e os planos de educação incorporarem perspectivas de educação em sexualidade e gênero.
“As desigualdades de gênero, muitas vezes evidenciadas pela violência sexual de meninas, expõem a necessidade de salvaguardar marcos legais e políticos nacionais, assim como tratados internacionais, no que se refere à educação em sexualidade e de gênero no sistema de ensino do país.”
Em entrevista ao Nexo, apedagoga e educadora sexual Caroline Arcari, , especialista em Educação Sexual pelo Centro de Sexologia de Brasília e mestre em Educação Sexual pela Unesp, afirmou:
“A visão distorcida sobre a educação sexual virou pauta política conservadora, e as notícias falsas infelizmente contribuem para a reprodução do mito de que ela erotiza as crianças e facilita o acesso de abusadores aos seus corpos.Políticos que vociferam contra a educação sexual sem fundamentação científica alguma, pautados na mentira e na polêmica, estão prestando um enorme desserviço à proteção de crianças e adolescentes contra a violência sexual.”
Bereia conversou com Valéria Vilhena, coordenadora nacional da EIG – Evangélicas pela Igualdade de Gênero, sobre as consequências da narrativa conservadora do governo Bolsonaro sobre “ideologia de gênero”. Vilhena afirma que nunca existiu uma “ideologia de gênero”.
“Essa narrativa foi construída para se opor aos direitos da mulher e da população LGBT. Eles constroem esse discurso para mais uma vez se posicionarem e reforçarem a negação da dignidade humana. Essa é a questão. Porque não existe uma “ideologia de gênero” – algo que se referem como uma “crença”, uma crença que se impõe para destruir a família.
Na verdade, não existe e nunca existiu uma ideologia de gênero. O que há é a construção de uma narrativa se utilizando do conceito “gênero” que vem dos estudos de gênero, mas que não tem nada a ver com o que dizem. É muito interessante como eles constroem algo em cima do inexistente. Para pensar o que seria “ideologia de gênero”, primeiro teríamos que pensar sobre o que é gênero. E gênero está especialmente ligado aos estudos das construções e dos papéis sociais, que são imbuídos e intencionalmente definidos ou pré-definidos para homens e mulheres. Não sendo papéis sociais soltos, desconectados de um sistema político-econômico. Se separados, criam mais estereótipos, binarismos. Gênero, ou categoria de gênero, está ligado a relações de poder, e é por isso que não pode estar deslocado das políticas estruturantes do nosso sistema econômico.
O governo Bolsonaro construiu uma narrativa que foi muito bem desenvolvida no sentido de confundir a população, que ganhou bastante força nas últimas eleições por meio de fake news, mas que na realidade é mais uma forma de reproduzir e reforçar a negação de direitos e da dignidade humana para mulheres e populações LGBT.”
Bereia conclui que o modo como o Presidente Jair Bolsonaro trata a temática “ideologia de gênero” corresponde à postura de uma parcela de líderes religiosos no Brasil. Ela tem sido considerada por educadores e pesquisadores uma das mais bem sucedidas noções criadas e propagadas no ambiente religioso para desinformar a opinião pública.
Surgido no ambiente católico e abraçado por grupos evangélicos distintos, o termo trata de forma depreciativa a categoria científica “gênero”, que emergiu de estudos acadêmicos sobre questões relativas a gênero e sexualidade na sociedade, nos EUA, a partir dos anos 1970. O uso da ideia de “ideologia de gênero” desqualifica as lutas por justiça de gênero, pela busca da igualdade de condições entre homens e mulheres e ampliação de direitos para LGBTI+.
Atrela-se, portanto, a categoria científica e as lutas por justiça à noção de “ideologia”, no sentido banalizado de “ideia que manipula, que cria ilusão”. Em oposição à ciência e às causas, defensores do termo propagaram a ideia de que “gênero” seria um instrumento político da esquerda para impor uma sexualidade libertada do que dita a natureza, para permitir que as mulheres tenham liberdade total com seus corpos e para promover o matrimônio homossexual.
A plataforma multimídia brasileira de cobertura diária dedicada à verificação do discurso público Aos Fatos publicou a matéria “Desenhamos fatos sobre a ‘ideologia de gênero’” com esclarecimentos sobre esta desinformação.
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Referências de Checagem:
Youtube: Palácio da Alvorada – 12/05/2020 – Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f9iE_y-CqBc
Gazeta do Povo – Bolsonaro quer lei contra ideologia de gênero. E não é o único. Veja como está a batalha no Congresso. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ideologia-de-genero-lei-bolsonaro-congresso/
Circula em grupos de WhatsApp um vídeo, gravado em 12 de maio de 2020, com imagens do centro comercial de Maringá, afirmando (segundo o narrador) que a cidade localizada no sul do país (Paraná) é um exemplo no combate ao coranavírus no Brasil. O homem que faz a gravação enquanto dirige, mostra as lojas da cidade abertas e pessoas e carros circulando pelas ruas.
A narração minimiza a ação da covid19 na cidade e diz que todas as pessoas usam máscara, todos os estabelecimentos oferecem álcool-gel para atender o público e, com isso, a cidade tem vida normal. O narrador anônimo afirma que o vídeo tem que “correr o mundo” para “o Doria vagabundo e esse Witzel, do Rio de Janeiro, outro vagabundo que fica fechando o comércio, aterrorizando a população” (sic). O homem completa dizendo que Maringá “tem vida normal e só teve seis mortes até agora desde quando começou o coronavírus” e que “não tem caso de morte em Maringá faz um mês já”. Ele admite que morreu uma pessoa na “semana passada” mas era “um caminhoneiro que veio de fora, que nem de Maringá era”.
O autor do vídeo diz que “Maringá é uma cidade exemplo para o Brasil ” e pede aos receptores que “façam correr este vídeo pelo Brasil todo, chegar até aquela população do Rio de Janeiro e de São Paulo… aqui ninguém transmite vírus pra ninguém, exemplo. É a coisa mais fácil do mundo você fazer o comércio voltar ao normal. É só a população ter consciência do que fazer. E estes governadores corruptos estão aí que não deixam o Brasil voltar ao normal”.
O Coletivo Bereia entrou em contato com o ex-prefeito de Maringá, Silvio Barros, na manhã de quinta, 14 de maio, para averiguar a veracidade das informações compartilhadas no vídeo. Ele afirmou que o vídeo, apesar de conter informações verdadeiras, também desinforma:
“A pessoa que gravou esse vídeo, a probabilidade é muito grande de que ele não seja de Maringá. Ele passou aqui em um determinado horário e viu o comércio aberto. A verdade é a seguinte, o comércio aqui abre às 10h e fecha às 16h. Se ele tivesse passado aqui 16h30 ele não teria feito esse vídeo. Os comerciantes têm lá as duas restrições. Maringá fechou muito cedo, além do toque de recolher, que funciona até hoje, foi extremamente rigorosa e isso criou um problema muito sério. Esta abertura do comércio começou esta semana. Então eu acho que precisa ponderar, não é de todo falso, não é todo verdadeiro.”
Bereia também colheu o depoimento dos diretores do Jornal “O Fato”, de Maringá, Ligiane Ciola e José Carlos Leal, em 14 de maio. O casal afirma que as informações são parcialmente verdadeiras.
“Hoje a cidade está realmente toda aberta. O comércio funciona com horário especial, das 10h – 16h, e realmente há um decreto que prevê medidas de higiene e de distanciamento social. Pois bem, tais medidas foram implementadas depois que a cidade ficou fechada totalmente por 30 dias, no período entre 20 de março e 20 de abril. Com o lockdown (trancamento das ruas) preventivo foi possível reduzir cerca de 85% o número de contágios e consequentemente diminuiu também a circulação do vírus. A pressão da associação comercial e bolsonaristas, que com vergonha admito, são mais de 80%, o Prefeito começou a ceder. De 20 a 30 de abril ele flexibilizou algumas atividades e enfim, há sete dias decidiu correr atrás do prejuízo político e mandou abrir tudo. As consequências dessas medidas conheceremos nos próximos dias … Na verdade do dia 1º de maio em diante registrou-se 60 novos casos, mas há cerca de 300 pessoas isoladas em suas próprias casas aguardando o resultado do exame. A estrutura hospitalar é muito boa e o SUS aqui funciona melhor do que os convênios, coisa óbvia, já que muitos dos serviços são prestados pela estrutura sanitária privada. Em resumo: ‘nosso amigo’ que fez as imagens só conta uma parte da história. O frio será um agravante e o Governador já tem um plano para fechar todo o Estado se for o caso. Ter optado por fechar tudo imediatamente propiciou uma condição favorável. Se o Brasil inteiro tivesse feito isso, hoje teríamos menos de 2000 mortos e no máximo 20 mil contagiados.”
Os relatos do ex-prefeito e do casal de jornalistas podem ser confirmados com o Decreto da Prefeitura de Maringá n. 445/20, que determinou isolamento severo a partir de 20 de março. Coincidem ainda com o Decreto Municipal 566/2020, de 18 de abril, que autorizou o funcionamento do comércio, das 10 às 16h, e o uso obrigatório de máscaras nas ruas da cidade. A partir de 7 de abril, a Prefeitura liberou o funcionamento de oficinas mecânicas e o atendimento presencial em clínicas e consultórios médicos (Decreto Municipal 502/20). Em 13 de abril, o município abriu para o funcionamento de lotéricas e indústrias (Decreto Municipal 544/20). Os depoimentos também estão relacionados ao Decreto 637/20, que autorizou a reabertura de shoppings, academias, restaurantes, bares, celebrações religiosas e outros estabelecimentos, com controle de atendimentos, distanciamento, horário e medidas de higiene e limpeza, a partir de 7 de maio de 2020.
Sob pressão para afrouxar as medidas de março, a Prefeitura havia se manifestado pela manutenção do isolamento severo, em 9 de abril, por meio de texto no seu site oficial, com o título “Continuar o isolamento social é a melhor opção; confira”;
Levantamento do Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag), com apoio da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mostrou que a média diária de casos notificados de pessoas que apresentaram sintomas de coronavírus em Maringá aumentou 263% entre 31 de março e 30 de abril, com média de 36 casos por dia. O aumento de notificações coincide com a publicação de decretos municipais que flexibilizaram o isolamento social e permitiram a retomada de algumas atividades do setor econômico.
O boletim diário sobre coronavírus da Prefeitura de Maringá indica 5 novos casos em 14 de maio. O registro geral agora é de 129 casos confirmados de covid-19, com quatro pacientes confirmados internados, dois em UTI e dois na enfermaria. São 267 pacientes suspeitos em situação de isolamento domiciliar. Outros 15 pacientes estão internados com suspeita. Os óbitos permanecem seis.
No dia em que o isolamento foi extinto por decreto, em 8 de maio, Maringá não havia tido novo caso de coronavírus por 24h. O município registrava 110 casos positivos de pacientes com COVID-19. Casos suspeitos em situação de isolamento domiciliar eram 305 e dez pacientes estava internados com suspeita e os óbitos permaneciam seis.
Diante das informações checadas, Bereia conclui que o vídeo anônimo que circula em mídias sociais é enganoso. O conteúdo, que exalta bons resultados em Maringá, não explica que eles foram alcançados depois de um isolamento total (lockdown) implementado pela Prefeitura em março, com afrouxamento em abril, após um mês. O autor do vídeo não se refere aos horários restritos de abertura do comércio e outros estabelecimentos, decretados pela Prefeitura, o que não condiz com a ideia de “vida normal” que insiste em ressaltar. A publicação também omite que após a flexibilização do isolamento tem ocorrido um crescimento do número de casos que tem alarmado as autoridades municipais.
Soma-se a isto a campanha explícita que o autor do vídeo empreende contra os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo, classificando-os como “vagabundos” e “corruptos” por conta das medidas de isolamento social que permanecem em vigor nesses estados. Pode-se concluir que, dada a ênfase neste aspecto e a omissão de informações relevantes, o autor anônimo produziu as imagens com finalidade política contra as medidas de prevenção à Covid-19 orientadas pela Organização Mundial de Saúde e assumidas não só em boa parte do mundo, como também pelo Ministério da Saúde do Brasil, e seguidas por estados e municípios.
O Coletivo Bereia alerta seus leitores e leitoras para a circulação de material anônimo pelas mídias sociais, que, frequentemente não apresenta embasamento e fontes, tendo, por isso, altas chances de ser falso ou enganoso e fazer uso de receptores para interferir negativamente em temas de interesse público.
Em meio a tantas informações e desinformações sobre a Covid-19 que circulam em espaços noticiosos e mídias sociais de indivíduos e grupos religiosos, o Coletivo Bereia avança no processo de checagem dos conteúdos sobre a pandemia que mudou o cenário global.
A igreja é liderada pelo casal Silvio Ribeiro e Maria Ribeiro, autoproclamados “profetas”. Após processo de checagem, identificamos que a informação “sobre unção imunizadora” era verdadeira, os líderes foram acusados de charlatanismo e o caso foi encaminhado para o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul.
Dias depois, em 13 de março, a jornalista e editora executiva do Coletivo Bereia, Alynne Sipaúba, elaborou reportagem intitulada “Coronavírus e igreja: uma dupla que não é fantasia”. Ela entrevistou o médico e pastor, Carlos Bezerra, a respeito das ações solidárias das igrejas durante a pandemia do Covid 19.
“A igreja tem uma inescapável função social. A igreja, em suas palavras e ações, seu kerigma e sua práxis, profetiza, ensina e serve. Walter Brueggemann, teólogo e catedrático do Antigo Testamento, disse que profetizar não é predizer o futuro, é falar a verdade a respeito do tempo presente. A verdade de hoje é que enfrentamos uma pandemia e não podemos ser displicentes nos cuidados necessários à sua superação. A medida extrema de cancelar as celebrações dominicais presenciais é também um ato pedagógico, um alerta àqueles ainda negligentes face à gravidade da situação. Acima de tudo, evitando os grandes ajuntamentos a igreja atua de maneira responsável e cuidadosa não apenas para com seus frequentadores, como também para com toda a sociedade.”
Ed René Kivit
Na manhã do dia 15, domingo, Bereia publicou checagem sobre as manifestações pró-bolsonaro, que aconteceram em 229 cidades ao redor do país, desafiando as recomendações de isolamento da Organização Mundial de Saúde (OMS).
No mês de março Bereia fechou o mês com checagem sobre os posts e vídeos do pastor Silas Malafaia sobre o coronavírus. As mensagens tinham o objetivo de comparar e minimizar a cobertura da imprensa, profissionais de saúde e cientistas sobre a COVID-19.
Post de Silas Malafaia
Números oficiais
394 casos de COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
428 casos de COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
2 mortes por COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
4 mortes por COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
58.178 casos de H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
60.048 casos de H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
2.101 mortes por H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
2.194 mortes por H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
Fonte dos Dados: desconhecida
Fonte dos Dados: Ministério da Saúde
No mês de abril a quantidade de notícias, precisas ou não, sobre o coronavírus se intensificou, fazendo com que a OMS classificasse o cenário como INFODEMIA. Diante da enxurrada de desinformação o Coletivo Bereia reforçou suas checagens sobre o tema durante todo o mês.
Bereia iniciou o mês com a reflexão do pastor batista, professor e escritor, Irenio Silveira Chaves, na coluna Areópago – “Como será a vida depois da quarentena?”, que ressalta possíveis transformações mundiais pós-pandemia.
No dia 3, para ampliar o olhar crítico sobre a relação igrejas-covid19, as jornalistas Alynne Sipaúba e Mariana Domin, produziram a reportagem “Igrejas e suas ações transformadoras em tempos de pandemia” com destaque sobre as ações sociais promovidas por congregações católicas e evangélicos nos três estados brasileiros mais populosos do país – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. As jornalistas verificaram que muitas igrejas, mesmo com seus templos fechados, por conta das medidas sanitárias implementadas em todo o país, continuaram servindo as comunidades em nome do bem comum, inclusive em parceria com prefeituras.
No sábado, 04, o historiador Lyndon de Araújo, lançou texto crítico sobre a “santa convocação” para um jejum nacional feito pelo presidente Bolsonaro – “Fiquemos com Isaías, profeta do século VIII a.C. Os profetas são como os historiadores, incômodos demais, falam coisas que ninguém quer se lembrar e falar, causam mal-estar. Pois Isaías apregoou um tipo de anti jejum que ultrapassava a mera performance religiosa de uso político. É esse o jejum que cristãos deveriam convocar, e não uma demonstração religiosa de exteriorização ou cooptação política. Assim nos diz esse profeta no capítulo 58.”
No início dia 6 outro texto crítico foi lançado na coluna Areópago, desta vez pela teóloga Romi Bencke. Ela declarou que o cenário do coronavírus revela o triunfo do fundamentalismo:
“Esse cristianismo distorcido, manipulado e instrumentalizado para os interesses das criaturas com modificações internas, é o que está presente hoje na política brasileira. Trata-se de um cristianismo fundamentalista aonde Deus é mero instrumento do mercado como ideal de Reino. Em obediência e reverência a este reino, valem todos os sacrifícios. Este é o triunfo dos fundamentalismos.
Quando vemos altas autoridades e “pessoas do bem” argumentando que é melhor perder algumas vidas para que a economia seja salva, podemos dizer que deixamos de existir. Esta também é a morte de Deus. É a repetição da cruz.”
“Seremos capazes de captar o sinal que o coronavírus nos está passando ou continuaremos fazendo mais do mesmo, ferindo a Terra e nos autoferindo no afã de enriquecer?”
No dia 11, Bereia checou, à pedido de leitor, notícia veiculada de forma intensa em sites e mídias sociais sobre suporta afirmação do Ministro da Saúde de Israel, Yaakov Litzman, sobre “coronavírus: um castigo de Deus contra a homossexualidade“. Veja o desfecho da checagem aqui.
“Ao invocar essa falsa dicotomia, o governo quer dividir com a população uma responsabilidade que ela, na Constituição e no voto, confiou a ele. Cabe à população, apenas, seguir as regras de distanciamento. Cabe ao governo, e apenas a ele, conseguir levantar ou gerar os recursos para bancar esse povo que morre e teme a morte dia pós dia.”
Silvio Gomes
Para finalizar a semana, a equipe do Bereia fez checagem sobre o cenário do coronavírus no Brasil após o jejum do dia 05, e concluiram queos números continuavam aumentando – tanto de casos novos, como de óbitos – “qualquer afirmação de que houve relação entre o jejum convocado para 5 de abril e os dados presentes nas tabelas é enganosa (em função dos atrasos na confirmação dos números) e falsa se estiver sugerindo que há redução de casos no Brasil.”
Na data seguinte, 23, o monge Guido Dotti escreveu sobre esperança para a coluna Areópago. O texto intitulado “Estamos sob cuidado, não em guerra!” fala sobre a necessidade do ser humano ser agente real do cuidado do outro.
“O futuro será colorido pelo que fomos capazes de viver nesses dias mais difíceis, será determinado pela nossa capacidade de prevenção e assistência, começando pelo atendimento ao único planeta à nossa disposição. Se formos e pudermos ser guardiões da terra, a própria terra cuidará de nós e protegerá a condição indispensável para nossa vida. As guerras terminam, ainda que recomecem, mas os cuidados, por outro lado, nunca terminam. Se, de fato, existem doenças que (por enquanto) não podem ser curadas, não existem e nunca existirão pessoas para as quais não possamos oferecer assistência.”
“Nesses tempos de pandemia, temos ouvido e assistido reflexões intermináveis vindas de uma ordem diferente em meio à confusão e ao medo. Muitas delas, de natureza religiosa, são atravessadas por visões simplistas, dualistas, espiritualistas e em perspectivas de punição, condenação, mérito e salvação. Elas apresentam versículos bíblicos, independentemente de seus contextos e história, e assim, provocam o que parece mais uma atitude mágica do que uma audição serena à experiência comunitária da palavra de Deus endereçada ao seu povo.”
No decorrer desses meses o alastramento de dois vírus tem se intensificado – o covid19 e a desinformação.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, deixou um recado durante Conferência de Segurança em Munique:
“As fake news se disseminam mais rapidamente e mais facilmente que o vírus e são igualmente perigosas.”
No Brasil, o combate à desinformação foi intensificada desde agosto de 2019, quando o Ministério da Saúde lançou uma ferramenta chamada “Canal Saúde sem Fake News”, cujo objetivo é combater a divulgação de desinformação através da plataforma do WhatsApp. Para utilizá-lo, basta adicionar o número (61) 99289-4640 em seus contatos do whatsapp e enviar links, informações ou fotos para serem verificadas. A partir do recebimento das mensagens o conteúdo é apurado junto às áreas técnicas do Ministério da Saúde e devolvido com uma “etiqueta” que esclarece se é fake news ou não.
Tais medidas, assim como os esforços do Coletivo Bereia, que funciona majoritariamente de forma voluntária, corroboram como instrumento de saúde em meio à uma sociedade que sofre com a pandemia da desinformação – INFODEMIA. O Coletivo Bereia continuará atento prestando serviço de acuidade e informação contra esta guerra.
No dia 22 de abril, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, publicou em seu Twitter a seguinte mensagem:
No texto do seu blog, Ernesto combate 12 trechos do livro “Virus: Catastrofe e solidarietà” , do filósofo Slavoj Zizek, lançado em abril deste ano, pela editora Ponte alle Grazie, de Milão.
Os 12 trechos selecionados pelo ministro foram traduzidos por ele mesmo, do italiano. O livro, no total, contém 79 páginas e expõe a visão de Zizek sobre a insustentabilidade do atual modelo econômico evidenciado pelo coronavírus. O filósofo afirma que o atual momento exige um pensamento para além do mercado financeiro e do lucro.
Ernesto, em sua crítica, além de fragmentar a ideia de Zizek, afirma que há um “plano comunista”, do qual intitula como “comunavírus”, que iria tirar proveito da pandemia de Covid-19 para implementar sua ideologia por meio de organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde. A coordenação global realizada pela OMS para fazer frente à crise, segundo ele, seria “o primeiro passo em direção ao comunismo” de um “projeto globalista”.
“Transferir poderes nacionais à OMS, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente, é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária”, disse.
O Filósofo, ao ler a crítica do ministro das Relações Exteriores do Brasil, afirmou:
“O chanceler brasileiro me acusou de usar a epidemia do coronavírus como uma desculpa para introduzir outro vírus, o ‘comunavírus’. Infelizmente, ele não entendeu a questão.
“Não quero impor nada, apenas observo que até governos conservadores estão lidando com a crise sanitária e econômica provocada pela epidemia. Estão introduzindo medidas que, seis meses atrás, seriam inimagináveis e vistas como um sonho comunista.
Esses governos estão violando as regras básicas do mercado, distribuindo gratuitamente bilhões para que os novos desempregados sobrevivam. Estão ordenando o que a indústria deve produzir (equipamentos de saúde) e admitindo que precisamos não apenas de um serviço universal de saúde como também de um serviço global de saúde. Estão pensando em como prever fome maciça como uma consequência da pandemia…
Em que outra época se viu conservadores se sentindo compelidos a agirem como comunistas, dando preferência ao bem comum em vez dos mecanismos do mercado?”
“Na comunicação política, grande parte da energia é despendida para fornecer interpretações da realidade na forma de histórias ou narrativas e para convencer o maior possível número de pessoas a adotá-las como forma de explicar o mundo, de compreender o que com elas se passa e de justificar os próprios sentimentos e atitudes.
Primeiro, porque as pessoas adoram grandes narrativas que explicam tudo, e o complô junta a pluralidade dos fatos em um encadeamento em que tudo ganha sentido, mesmo que para isso seja preciso forçar os dados e arranjar os fatos. O complô dá ordem ao caos. Segundo, porque uma vez compartilhadas as grandes premissas da maquinação, as pessoas vão completando as lacunas e produzindo narrativas derivadas, fabricando elas mesmas suas próprias teorias da conspiração, algumas ainda mais radicais do que as matriciais, produzidas pelo partido ou movimento. Muita gente, em suma, se põe a cooperar para tornar a história plausível e indisputável.”
Gomes ainda ressalta que as teorias de conspiração passaram a funcionar como matriz básica das decisões, prioridades e declarações de Bolsonaro, a começar da sua seleção de ministros para a guerra contra o comunismo.
Ernesto Araújo é o general que irá lutar contra o globalismo, o “marxismo cultural” e a dominação comunista da ONU, alinhando-nos estrategicamente ao lado de países livres como Afeganistão e Uzbesquistão. Damares Alves é a comandante das tropas que desmantelarão a epidemia decorrente da infecção de boa parte da população brasileira pela “ideologia de gênero” e pelos “direitos humanos”, que são evidentes mutações da cepa do vírus comunista. O major Abraham Weintraub foi destacado para neutralizar a infiltração comunista nas universidades, tratando os vermelhos a pão, água e chicote, além de “desideologizar” os currículos brasileiros a fim de recuperar as criancinhas de anos de “doutrina ideológica”. O General de Brigada Ricardo Salles, por sua vez, colocará tropas em solo para liquidar de vez a infiltração do marxismo ambiental.”
A teoria do chanceler Ernesto Araújo sobre a OMS – “plano comunista em curso pretende utilizar a OMS como primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária”, não é nova. Várias teorias da conspiração sobre a ONU já foram publicadas, como esta aqui de Portinari Greggio.
Há um plano comunista sendo instalado no Brasil?
Sob ideias de viés ideológico conservador, o comunismo vem sendo “combatido” no país através do atual Governo liderado pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, que desde sua atuação parlamentar contesta a instalação ideológica e partidária de deputados da esquerda brasileira considerados “comunistas”, acusando sobretudo, o Partido dos Trabalhadores (PT) como responsável por uma Ditadura Comunista no país. Em vários dos seus pronunciamentos realizados durante a campanha, que marcaram o pleito eleitoral, o Presidente chamava seus adversários de “corruptos comunistas” e prometia “varrer os comunistas do Brasil ”, encenando que iria “metralhá-los” politicamente.
Durante o seu mandato, políticas públicas de programas sociais realizados pelo governo petista sofreram cortes significativos, como o “Fome Zero”, “Minha Casa, Minha Vida”, “Bolsa Família” e “Mais Médicos”, têm sido considerados programas comunistas que solaparam a economia do país. Sob o aval do antipetismo, o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) protocolou um projeto de lei (PL 5358/2016) que visa criminalizar o comunismo/socialismo no Brasil, inibindo manifestações e protestos.
Não obstante, de acordo com o livro “Anarquistas e Comunistas no Brasil” (Editora Brazil Publishing, 2018), as influências e ideias comunistas chegaram ao país no final do século XIX. Desde então, movimentos emancipatórios, sindicalistas e operários com agremiações de diversas matizes tiveram formação no Brasil, como ocorre também em outros países. Todavia, segundo o historiador doutor em história e professor do Departamento de História da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta, “O Brasil nunca esteve perto do comunismo, nem mesmo em 1964, ano de início da ditadura militar no Brasil.”
Ainda de acordo com entrevista à Carta Capital pelo professor e coordenador do Núcleo de Pesquisas da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Prof. Dr. Paulo Silvino Ribeiro, o Brasil não sofre nenhum tipo de ameaça comunista ou socialista:
“Não é, não foi e creio que tão pouco será futuramente. Atualmente, o socialismo recuou no mundo todo, principalmente na Europa onde teria nascido. No caso brasileiro, ao se considerar nosso processo de formação social e econômica pautado principalmente na manutenção das estruturas que reproduzem o privilégio, a desigualdade, o racismo, as fobias todas, lamentavelmente o socialismo está um horizonte infinitamente longínquo.
A fala do presidente recentemente empossado, ao dizer que vai “libertar o país do socialismo”, não tem nenhuma relação com a realidade do presente ou do passado do país. Trata-se de uma fala ainda pautada no discurso eleitoral, e que busca produzir efeito por entre seus apoiadores os quais, a meu ver, também não conseguem compreender o que é o socialismo. (..) Associam o socialismo aos governos do PT, os quais evidentemente não foram socialistas, embora tenham promovido avanços sociais. Os governos petistas teriam esta pecha (de socialista), portanto, por terem defendido um Estado maior e mais presente, bem como por terem promovido políticas sociais como o Bolsa Família, o qual para os mais desavisados seria uma afronta à meritocracia. ”
A Lei do Brasil é clara quanto ao regime político-econômico que conduz o país. Segundo a Constituição Federal, o artigo 170 estabelece que a ordem econômica do Brasil tem como princípios a propriedade privada e a livre concorrência, duas características básicas de regimes capitalistas. O parágrafo único deste mesmo artigo diz:
“é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”.
O cientista político, diretor do programa MIT Brazil e autor de “Hierarchical Capitalism in Latin America: Business, Labor, and the Challenges of Equitable Development” (Cambridge, 2013), Ben Ross Schneider, ressalta que a política econômica adotada no Brasil por governos petistas foi marcada por uma contradição entre discurso e ações: “aumentaram o uso de subsídios estatais, uma política que poderia ser vista com traços socialistas, mas para apoiar as empresas privadas, a propriedade privada”.
O cientista político e autor do livro “Presidencialismo de coalizão” (Companhia das Letras, 2018), Sérgio Abranches, indica que muitas características apontadas por Bolsonaro como marcas do “socialismo” nos últimos governos, como estatismo e poder centralizado no Governo Federal, existiram em outros períodos da História brasileira, inclusive no regime militar, época enaltecida pelo presidente. Foi no regime militar, principalmente nos anos 70, no governo do general Ernesto Geisel, que o Estado teve o maior controle da economia nacional.
O Coletivo Bereia conclui que: não há plano comunista sendo instalado no Brasil ou no mundo via OMS e que a abordagem do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é enganosa, pois revela uma tática manipulativa por meio de teorias da conspiração para desinformar a população dos reais problemas que a nação enfrenta. Ao nomear o livro do filósofo esloveno como uma “obra-prima de naïveté canalha”, o chanceler revela uma defesa ideológica e religiosa alienante, além de anacrônica frente às respostas necessárias para a atual problemática do mundo: a pandemia do novo coronavírus.
Referências de Checagem:
A Pública – 1964: “O Brasil não estava à beira do comunismo”, diz historiador.Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://apublica.org/2019/04/1964-o-brasil-nao-estava-a-beira-do-comunismo-diz-historiador/
Brasil 247 – Comunismo vai derrotando coronavírus e mundo aplaude China. Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://www.brasil247.com/mundo/comunismo-vai-derrotando-coronavirus-e-mundo-aplaude-china
Boitempo – Pandemia. Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/e-pandemia-covid-19-e-a-reinvencao-do-comunismo-961
Carta Capital – “Partimos para o socialismo”, diz Carlos Bolsonaro sobre crise do coronavírus – Acessado em 24 de abril às 12h03. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/partimos-para-o-socialismo-diz-carlos-bolsonaro-sobre-crise-do-coronavirus/>
Carta Capital. Ernesto Araújo diz que pandemia é usada para implementar o “comunavírus”. Acessado em 24 de abril às 12h03. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/ernesto-araujo-diz-que-pandemia-e-usada-para-implementar-o-comunavirus/
Coletivo Bereia – O Partido Comunista Chinês não avança no Brasil, mercado chinês, sim. Acessado em 24 de abril às 12h03. Disponível em: https://coletivobereia.com.br/o-partido-comunista-chines-nao-avanca-no-brasil-mercado-chines-sim/
Carta Capital – Ele não entendeu a questão”, disse autor do livro citado por Araújo. Acessado em 24 de abril às 18h09. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/ele-nao-entendeu-a-questao-disse-autor-do-livro-citado-por-araujo/
Catraca – Chanceler brasileiro diz que comunistas usam OMS para dominar o planeta. Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/chanceler-brasileiro-diz-que-comunistas-usam-oms-para-dominar-o-planeta/
Diário do Centro do Mundo – As mortes por coronavírus aumentam e a preocupação do chanceler Ernesto Araújo é com o “comunismo”. Acessado em 27 de abril. Disponível em: <https://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-mortes-por-coronavirus-aumentam-e-a-preocupacao-do-chanceler-ernesto-araujo-e-com-o-comunismo/>
Diário de Contagem – A Constituição de 1988: comunismo ou fascismo à brasileira.Acessado em 27 de abril. Disponível em: http://www.diariodecontagem.com.br/Materia/10576/16/artigo-a-constituicao-de-1988-comunismo-ou-fascismo-a-brasileira/
El País – Ai Weiwei: “O capitalismo chegou ao seu fim”. Acessado em 27 de abril. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/ideas/2020-04-05/ai-weiwei-o-capitalismo-chegou-ao-seu-fim.html>
Estado de Minas – COVID-19: Ministro Ernesto Araújo diz que mundo enfrenta ‘comunavírus’ Acessado em 27 de abril. Disponível em: < https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/04/22/interna_politica,1140845/covid-19-ministro-ernesto-araujo-diz-que-mundo-enfrenta-comunavirus.shtml >
Estado de Minas – Pompeo: Partido Comunista chinês faz campanha de desinformação sobre coronavírus. Acessado em 27 de abril. Disponível em <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/03/25/interna_internacional,1132328/pompeo-partido-comunista-chines-faz-campanha-de-desinformacao-sobre-c.shtml>
Folha de S. Paulo – Ernesto alerta para suposta ameaça comunista na América Latina em artigo – Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/12/ernesto-alerta-para-ameaca-comunista-na-america-latina-em-artigo-para-blog-bolsonarista.shtml
Folha de São Paulo – Em blog, Ernesto Araújo escreve que coronavírus desperta para ‘pesadelo comunista’ -Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/em-blog-ernesto-araujo-escreve-que-coronavirus-desperta-para-pesadelo-comunista.shtml>
G1 – Covid-19: Ernesto Araújo denuncia ‘comunavírus’ e ataca OMS. Acessado em 22 de abril às 18h12. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/covid-19-ernesto-araujo-denuncia-comunavirus-ataca-oms-24387155?utm_source=Facebook
G1- Jornal Nacional – Ministro das Relações Exteriores afirma que coronavírus é um plano comunista – Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/04/22/ministro-das-relacoes-exteriores-afirma-que-coronavirus-e-um-plano-comunista.ghtml
Intercept*– O GOLPE DE 64 NÃO SALVOU O PAÍS DA AMEAÇA COMUNISTA PORQUE NUNCA HOUVE AMEAÇA NENHUMA. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: <https://theintercept.com/2018/09/21/farsa-historia-ditadura-militar-comunista/>
Istoé– O vírus comunista. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://istoe.com.br/o-virus-comunista/
Jovem Pan – Ernesto Araújo: coronavírus ‘nos faz despertar para pesadelo comunista’.Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: <https://jovempan.com.br/noticias/brasil/blog-ernesto-araujo-coronavirus-despertar-pesadelo-comunista.html>
Justificando – O fantástico mundo das teorias de conspiração – Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em:https://www.justificando.com/2020/03/26/o-fantastico-mundo-das-teorias-de-conspiracao/
Metapolítica 17– Chegou o Comunavírus. Acessado em 22 de abril às 18h02. Disponível em: https://www.metapoliticabrasil.com/post/chegou-o-comunavírus
Ministério das Relações Exteriores:Para além do horizonte comunista. Acessado em 27 de abril de 2020 às 14: 00 .Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/discursos-artigos-e-entrevistas-categoria/ministro-das-relacoes-exteriores-artigos/21163-para-alem-do-horizonte-comunista-terca-livre-18-12-2019>
Observatório da Imprensa – A ameaça comunista jamais existiu. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/memoria/a-ameaca-comunista-jamais-existiu/
Opera Mundi – ‘Comunavírus’: chanceler brasileiro fala em ‘conspiração comunista’ para dominar mundo pós-pandemia. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: < https://operamundi.uol.com.br/coronavirus/64280/comunavirus-chanceler-brasileiro-fala-em-conspiracao-comunista-para-dominar-mundo-pos-pandemia>
O Tempo – Ernesto Araújo relata que coronavírus desperta para ‘pesadelo comunista’ – Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: < https://www.otempo.com.br/politica/ernesto-araujo-relata-que-coronavirus-desperta-para-pesadelo-comunista-1.2327687 >
Outras Palavras – Zizek: O nascimento de um novo comunismo. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: <https://outraspalavras.net/outrasmidias/zizek-o-nascimento-de-um-novo-comunismo/>
Piauí – A HIPÓTESE COMUNISTA DEVE SER ABANDONADA? Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-hipotese-comunista-deve-ser-abandonada/
Pleno News – Ernesto Araújo ataca OMS e denuncia “comunavírus”. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: < https://pleno.news/brasil/politica-nacional/ernesto-araujo-ataca-oms-e-denuncia-comunavirus.html>
Poder360 – Ernesto Araújo diz que há ‘plano comunista’ se beneficiando da covid-19. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: < https://www.poder360.com.br/coronavirus/ernesto-araujo-diz-que-ha-plano-comunista-se-beneficiando-da-covid-19/>
Politize – Marxismo cultural: o que é isso? Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: https://www.politize.com.br/marxismo-cultural/
Revista Cult – O complô comunista como matriz governamental de Bolsonaro. Acessado em 27 de abril às 15h38. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-complo-comunista-como-matriz-governamental-de-bolsonaro/
Super Interessante – Mito: os militares impediram um golpe comunista em 1964.Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/mito-os-militares-impediram-um-golpe-comunista-em-1964/
Twitter Ernesto Araújo – Acessado em 22 de abril às 16h57. Disponível em: https://twitter.com/ernestofaraujo/status/1252811093405122566
UOL – Pandemia: ministro denuncia “plano comunista”, cita China e questiona OMS. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponivel em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/04/22/diante-da-pandemia-chanceler-alerta-contra-plano-comunista-e-questiona-oms.htm
UOL – Brasil esteve à beira do comunismo nos anos 1960? História não mostra isso. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/10/01/brasil-esteve-a-beira-do-comunismo-nos-anos-1960-historia-nao-mostra-isso.htm
UOL – Bolsonaro está convencido de que coronavírus é um plano do governo chinês. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/tales-faria/2020/03/16/bolsonaro-esta-convencido-de-que-coronavirus-e-plano-do-governo-chines.htm
Veja – Coronavírus já formou mais comunistas que Mao e Stalin, diz historiador. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponivel em: https://veja.abril.com.br/blog/sensacionalista/coronavirus-ja-formou-mais-comunistas-que-mao-e-stalin-diz-historiador/
Na madrugada de hoje, 24 de abril, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), a exoneração do diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
O Diário Oficial é um dos veículos de comunicação pelo qual a Imprensa Nacional tem de tornar público todo e qualquer assunto acerca do âmbito federal. Espera-se, que toda divulgação feita neste veículo seja verdadeira, pois orienta todas as áreas da vida da nação. Mas, hoje, descobriu-se publicamente, por meio de pronunciamento do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que as fake news rodeiam o veículo.
O documento publicado no Diário Oficial afirma que a exoneração foi feita “a pedido”, o que foi desmentido pelo agora ex-ministro em pronunciamento na manhã desta sexta-feira, 24 de abril.
“Não é verdadeiro que o Maurício queria sair. O ápice da carreira na PF é o cargo de diretor geral. Claro que depois de tantas pressões, ele até manifestou a mim que talvez fosse melhor sair se conseguisse uma substituição adequada. Mas sempre devido à pressão, que ao meu ver não seria apropriada.”
O documento também apresenta a assinatura eletrônica de Moro, indicando que ele sabia da exoneração antes da publicação no Diário Oficial. Durante pronunciamento ele também desmentiu sobre assinatura, depois de ter dito que tomou conhecimento da exoneração somente pelo periódico:
“Fiquei sabendo pelo Diário Oficial, não assinei esse decreto.”
Em pronunciamento, realizado na tarde do mesmo 24 de abril, Bolsonaro contestou a fala do ex-ministro e afirmou que a exoneração foi “a pedido”.
“Sobre a exoneração do doutor Valeixo, diretor geral da Polícia Federal, pela lei 13047 de 2014, é prerrogativa do Presidente da República a nomeação e a exoneração do Diretor Geral, bem como de vários outros cargos da administração direta. A exoneração ocorreu após uma conversa minha com o Ministro da Justiça na manhã de ontem. À noite, eu e o doutor Valeixo conversamos por telefone e ele concordou com a exoneração a pedido. Desculpe senhor Ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe uma acusação mais grave para um homem como eu, militar, cristão e Presidente da República ser acusado disso. Essa foi a minha conversa com o doutor Valeixo. E mais ainda, não só a imprensa publicou, no dia de ontem e de hoje, bem como, entre aspas, o doutor Valeixo em contato com a superintendência do Brasil, comunicando que estava cansado, e que desde janeiro queria sair. Então não foi uma demissão que causasse surpresa a quem quer que fosse.”
Após o pronunciamento do presidente, o ex-ministro Moro se pronunciou no Twitter:
Na noite desta sexta, alterações foram feitas no Diário Oficial. A assinatura do ex-ministro Moro foi retirada, e no lugar, acrescentaram o nome do ministro da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto, e do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Antonio de Oliveira Francisco.
A relação do Governo Federal com as Fake News não é de agora, segundo o site de checagem de notícias Aos Fatos, desde a posse de Bolsonaro até hoje, já foram 926 declarações falsas ou distorcidas.
Vamos acompanhar os desdobrabramentos dessas declarações no cenário político nos próximos dias. Infelizmente o Brasil tornou-se terra fértil para a proliferação de fake news. De onde se espera mais verdade, vem dúvida, passível de mentira e engano.
O Coletivo Bereia, no compromisso de atuar com informação e checagem de notícias, no enfrentamento de toda desinformação, lamenta ter que noticiar este fato aos seus leitores e leitoras, a quem só resta acreditar que a injustiça governa.
Mas o povo
brasileiro continua acreditando em um país onde haja política justa para todos
e todas.
*****
Referências de Checagem:
Diário Oficial da União – acessado em 24 de abril às 14H03. Disponível em: http://www.in.gov.br/web/dou/-/decreto-de-23-de-abril-de-2020-253769429
Youtube – Sergio Moro anuncia sua saída do Ministério da Justiça – acessado em 24 de abril às 12h15. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Yol5UvdlP2Y
Youtube – Pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro – acessado em 24 de abril às 18h02. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=r50zxW-D7M0
Uma notícia que circulou de forma intensa nas mídias sociais nos últimos dias foi de que o Ministro da Saúde de Israel, Yaakov Litzman, teria afirmado que “o coronavírus é um castigo de Deus contra a homossexualidade”. Vários sites brasileiros compartilharam a notícia, entre eles Hypeness, Pragmatismo Político e até mesmo o MSN. Um leitor de Bereia fez um pedido de checagem, e o caso foi verificado ponto por ponto pelo Coletivo.
Confira a
checagem:
COMO TUDO
COMEÇOU?
O jurista e
membro do Parlamento Catalão, Alfons López Tena, escreveu em seu Twitter dia 05 de abril a seguinte mensagem:
“O Ministro da Saúde de Israel, Yaakov Lizman, chefe do partido Agudat Yisrael, que semanas atrás declarou que o coronavírus é um “castigo divino pela homossexualidade”, foi infectado. A esposa dele também. Isso força o primeiro-ministro Netanyahu a se isolar por mais 15 dias.”
Alfons
López, em sua declaração, que obteve 2,5 mil retweets e mais de 3 mil curtidas, não informa a fonte de sua denúncia,
apenas afirma que semanas
atrás o Ministro da Saúde fez tal declaração.
Na verdade,
quem tinha feito a declaração no mês anterior sobre“coronavírus ser
punição de Deus” foi o rabino israelense, Meir Mazuz, durante uma
palestra na yeshiva (local onde judeus se reúnem para estudar Torá e as tradições
rabínicas), da qual é líder.
O site Time of Israel em matéria, dia
8 de março, escreveu:
“Um rabino israelense ortodoxo afirmou que a disseminação do coronavírus mortal em Israel e em todo o mundo é uma retribuição divina pelas paradas do orgulho gay.
As declarações do rabino Meir Mazuz, relatadas pelo jornal Israel Hayom no domingo, foram condenadas por grupos de direitos humanos, incluindo a Liga Anti-Difamação, que o pediu para se desculpar.
Um influente rabino sefardita, Mazuz é o ex-líder espiritual do partido Yachad ultra-nacionalista e homofóbico extinto e é o chefe da yeshiva Kiseh Rahamim em Bnei Brak.
Na noite de sábado, ele deu uma palestra na yeshiva, durante a qual, segundo o relatório, ele disse que uma parada do orgulho é “uma parada contra a natureza, e quando alguém vai contra a natureza, quem criou a natureza se vinga”.
O surto no Irã, um dos mais graves em qualquer país, ele explicou como sendo devido aos maus hábitos dos iranianos e “ao ódio deles por Israel”.
Segundo o jornal, Mazuz havia alegado anteriormente que Israel estaria protegido contra o coronavírus.
“É lamentável que em momentos como este, quando o mundo inteiro se reúna para erradicar o coronavírus, o rabino Mazuz ache apropriado culpar o surto do vírus na comunidade LGBTQ. Condenamos duramente suas declarações e pedimos que ele se desculpe ”, disse o ramo de Israel da ADL em comunicado.
O moderno grupo ortodoxo Ne’emanei Torah Va’Avodah também condenou os comentários de Mazuz.
“Usar esse tempo de necessidade de incitar contra a comunidade LGBT é inaceitável. Tentar fazer com que as pessoas voltem à religião não pode ter o preço de prejudicar outras pessoas ”, afirmou em comunicado.
Até agora, Israel teve 39 casos de coronavírus, incluindo 14 novos casos anunciados no domingo à noite, mas nenhuma morte.
Mazuz não é estranho à controvérsia ou à retórica odiosa. Em novembro de 2015, ele afirmou que as paradas do orgulho gay e outras formas de “comportamento pecaminoso” foram a razão pela qual os terroristas assassinaram Eitam e Naama Henkin em 1º de outubro de 2015.
Em um evento memorável para os Henkins, Mazuz disse que a morte a tiros nas mãos de terroristas palestinos havia sido uma forma de retribuição divina.
Em 2016, Mazuz atribuiu o colapso de uma garagem de estacionamento em Tel Aviv que matou seis pessoas e uma explosão que destruiu o satélite Amos-6 à profanação do Shabat.
Israel tem duas grandes paradas do orgulho gay a cada ano, uma em Tel Aviv e outra na capital, Jerusalém, que é anunciada como promovendo a tolerância.”
No dia 06 de
abril, um dia após a declaração de López no Twitter, o site paquistanês nayadaur.tv, publicou uma matéria com o título
– Ministro da Saúde de Israel recebe coronavírus depois que rabino declara
‘punição divina’ ao vírus.
O primeiro
parágrafo da matéria no site paquistanês anuncia:
“Aos 71 anos, Yaakov Litzman, ministro da Saúde de Israel e também líder do partido ultra-ortodoxo “Judaísmo Unido da Torá”, testou positivo para Covid-19. O diagnóstico foi divulgado nesta terça-feira (7) pela imprensa local e chamou atenção por causa de declarações anteriores de Litzman. Durante um discurso, ele afirmou que o coronavírus “é um castigo divino contra a homossexualidade”.
No dia 07 de
abril o site inglês pinknews.co.uk declarou:
O Ministro da Saúde de Israel, que abertamente alegou que o coronavírus é “castigo divino” pela homossexualidade, dá positivo para o Covid 19
No mesmo dia, a equipe do honestreporting.com, que combate desinformação a respeito de temáticas ligadas à Israel, pediu que o site Pink News corrigisse sua matéria.
Honest Reporting pede correção de acusação falsa contra Ministro da Saúde de Israel
Leia
na íntegra o que o editor-geral de Honest Reporting, Simon Plosker, escreveu:
“Houve relatos de declarações extremas e homofóbicas de alguns líderes religiosos de linha dura de diferentes religiões sobre o coronavírus.
O rabino Litzman, no entanto, não está entre eles. Além disso, se o ministro da Saúde de Israel fizesse tal declaração, teria causado um alvoroço dentro de Israel, uma sociedade esmagadoramente liberal e favorável aos gays. Uma história dessa natureza certamente seria manchete na imprensa israelense, incluindo os muitos sites profissionais de notícias em inglês que são facilmente acessados por jornalistas de todo o mundo.
Esta é uma demonstração infeliz de como é fácil espalhar notícias falsas de fontes ilegítimas.
Para seu crédito, a Pink News respondeu ao nosso e-mail imediatamente, reconhecendo que havia sido cometido um erro. A história foi alterada e a seguinte correção foi emitida:
Uma versão anterior deste artigo referenciava dois relatórios imprecisos sobre Yaakov Litzman, culpando a pandemia de coronavírus pela homossexualidade. Isso já foi corrigido.”
O site Pink News mudou o título da matéria e tirou as acusações sobre o Ministro de Israel do texto, mas o endereço da matéria continua com o título anterior, como mostra a imagem abaixo.
O novo título, diz: Ministro “mais homofóbico” em Israel, que pensa que todas as pessoas LGBT + são pecadoras, dá positivo para COVID-19
ALÉM DA ACUSAÇÃO HOMOFÓBICA DO RABINO ISRAELENSE, MEIR MAZUZ, HÁ OUTROS LÍDERES RELIGIOSOS QUE RELACIONAM A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS À HOMOSSEXUALIDADE?
SIM,
confira:
O controverso pastor americano, Perry Stone, pregou para os seus fiéis, de uma igreja no Tennesee, Cleveland, EUA, que a pandemia atual é uma reposta de Deus, um castigo em resposta as leis que permitem o aborto e o casamento gay. “Há um acerto de contas, porque os tribunais da terra aprovaram uma lei para tirar a vida de uma criança, (…) e que o casamento, como conhecemos, fosse transformado em algo que nunca conhecemos”.
Segundo David Holland, professor de história da igreja na Harvard Divinity School, em matéria publicada no Times Free Press, afirmou não ser novidade líderes religiosos fazerem reivindicações teológicas sobre os eventos. “Esses religiosos já alegaram que a mão divina estava envolvida em inúmeros eventos – desde as vitórias e perdas em guerras até a epidemia de HIV / AIDS, em consequência da prática da homossexualidade”.
Para o pastor da Igreja Cristã dos EUA, Steven Adrew, “março é o mês do arrependimento do pecado LGBT. E por que as pessoas deveriam se arrepender do pecado LGBT? O amor de Deus mostra que é urgente se arrepender, porque a Bíblia ensina que os homossexuais perdem a alma e Deus destrói as sociedades LGBT. Obedecer a Deus protege os EUA de doenças como o coronavírus”.
Bereia conclui que o conteúdo da postagem do parlamentar Alfons López Tena, e reproduzida por diversos sites, atribuindo a fala “o coronavírus é um castigo de Deus contra a homossexualidade”ao Ministro da Saúde de Israel, Yaakov Litzman, é falso. Por outro lado, diversos outros líderes religiosos atribuiram a pandemia atual à comunidade LGBT , ao casamento gay e às leis que permitem o aborto.
Inúmeras igrejas ao redor do Brasil têm demonstrado que a ideia de culto vai muito além de reuniões ou encontros. Como afirmou o teólogo americano Paul Waitman Hoon em seu livro “The Integrithy of Worship”, em 1971 o “culto litúrgico também é vida”.
Vários pastores e pastoras acreditam que a sociedade precisa ser envolvida por este tipo de culto cristão, com caráter profundamente social e orgânico. Sendo assim, o Coletivo Bereia fez uma pesquisa nos 3 estados brasileiros mais populosos, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e verificou que muitas igrejas têm servido o seu Estado e às suas comunidades em nome do bem comum.
Confira:
SÃO PAULO
Igrejas assinam parceria com a Prefeitura
No estado de São Paulo, vários pastores e líderes se uniram sob a
liderança do Pastor e médico, Carlos Bezerra Júnior, para colocar suas igrejas
à disposição do poder público diante do cenário crítico de pandemia.
O termo de compromisso em parceria com a Prefeitura do Estado foi assinado dia 23 de março por 63 lideranças das mais diversas denominações. Mas segundo Bezerra ainda há igrejas interessadas na parceria.
Bereia entrevistou o
pastor Carlos Bezerra, que também é secretário-executivo da Prefeitura de São
Paulo.
Bereia: Nesta parceria com a Prefeitura de São Paulo, qual a contrapartida da Igreja?
Carlos Bezerra: Ceder espaços de acordo com as demandas específicas da Prefeitura, especialmente aquelas ligadas às Secretarias de Saúde e de Assistência e Desenvolvimento Social. As áreas do templo podem ser usadas para recebimento de doações, armazenamento de insumos como, por exemplo, testes para o coronavírus, medicamentos, espaços para vacinação, bem como para o acolhimento da população em situação de rua, que são os mais vulneráveis.
Bereia: Como o senhor analisa a responsabilidade social da igreja em um momento crítico como este?
Carlos Bezerra: A Igreja e os discípulos de Jesus têm um papel crucial nessa crise humanitária, de acolhimento e parcerias com o poder público, que são fundamentais. A Igreja também deve promover a paz na cidade e semear esperança. A Igreja é, sem dúvida nenhuma, hoje, um lugar de abrigo, mais do que nunca, para os cansados, aflitos, doentes… Um instrumento que Deus vai usar sinalizando a paz e a esperança em tempos de tanto desassossego.
Confira a relação de igrejas que assinaram o termo de compromisso com a Prefeitura de São Paulo:
PASTORES/AS
IGREJAS
Carlos Alberto de Quadros Bezerra
Comunidade da Graça
Ademario Inacio da Silva Júnior
Templo Batista em Vila São José – Zona Sul
Ademir Pereira Nunes
Igreja Batista Filadélfia – Lausane Paulista
Adilson de Souza Brandão
Primeira Igreja Batista em Vila Formosa
Aldo Gallo
Igreja Vida
Alexandre Passos
Batista Renovada Deus e Fiel
André Peri Alto
Ministério Curando as Nações
Antonio Pires
Igreja Primitiva Atos dos Apóstolos – IPAP
Arthur Cavalcante
Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade-Campos Elíseos
Atilio Cruz Neto
Primeira Igreja Evangélica Batista em Guaianases
Bruno Cesar Lopes Ramos
PIB Mogi das Cruzes
Clayton Rodrigues Da silva
Comunidade da Graça em José Bonifácio
Cyaton Nandes
Igreja Ap. Torre Forte
Daniel Antonio dos Santos
Comunidade Cristã na Zona Leste (Vila Formosa)
Daniel Checchio
Comunidade Evangélica do Bixiga
Diego Menin
Igreja Lírio dos Vales em AE Carvalho.
Ed René Kivitz
Igreja Batista de Água Branca
Edson Rebustini
Igreja Bíblica da Paz
Elaine Nicolau Vargas
Igreja Unida – Vila Carrão
Eliane Maria da Silva Ribeiro
Igreja Ev. Pent. Cristo Está Voltando
Elias Rodrigues de Moura
Igreja Somos um
Eliezer Victor Pereira Ramos
Primeira Igreja Batista da Penha
Evandro Braga da Costa
Igreja Unida – Vila Carrão
Franckie Duarte
Comunidade Cristã Figueira
Gabriel Cesario
Comunidade Bíblica para as Nações – Capão Redondo
Gilberto Maito Dias
Comunidade Evangélica Maanaim
Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez
Igreja Batista Betel
Igor Vilcinskas Dalpino Jr
Igreja Cristã Época da Graça – Vila Prudente
Igor Vilcinskas Junior
Igreja Cristã Época da Graça
Ivener Soler
Igreja Batista do Povo de Vila São José
Jefferson Mendes Chiovetto
Igreja Evangélica Cristã Pentecostal – São Mateus
Jefferson Modesto de Souza
Igreja Metodista em Vila Mazzei (Zona Norte)
Joel Cardoso Junior
Igreja Metodista Renovada
José Carlos dos Santos
Comunidade da Graça Jardim Iguatemi
Klaus Piragine
Igreja Kyrios
Leandro Menezes
Comunidade da Graça em Itaquera
Leonardo Meyer
Igreja Unida – Água Rasa
Lucia Bezerra
Assembleia de Deus Ministério da Restauração
Luciano Gonçalves Rosa
INSJC – Vila Formosa
Lucinéia Ap C. Souza
Igreja Evangélica Palavra Viva
Luiz Carlos
Libertação em Cristo
Marcelo dos Santos Oliveira
Igreja Batista da Graça
Marcos Paulo
Igreja Cristã Rocha Eterna – Sede
Maria Granado
Comunidade Caminho da Paz
Mario Jorge Castelani
Associação Batista da Penha – ABAPE
Moises Lopes da Silva
IBF – Mauá
Moisés Quirino da Silva
Igreja de Itaquera
Pereira Barreto
Igreja Metodista Renovada – S.Vicente
Odair B. Do Nascimento
Igreja Batista Philadelphia – Cidade Tiradentes
Paulo Jorge de Souza
Comunidade Apostólica da Cruz – CAC Jd. Noronha
Paulo Lutero de Mello
Grande Templo “O Brasil para Cristo” – Pompéia
Paulo Tércio Lopes da Silva
Igreja Apostólica Novidade de Vida
Pérsio Luiz de Moraes Santos
Igreja Batista da Lapa
Ricardo Gondim
Igreja Betesda
Rivanildo Segundo Guedes
Igreja Batista Unida do Brás
Robson Rojas Romero
Igreja Batista Central em Caieiras
Ronaldo Brandoles de Quadros Bezerra
Comunidade da Graça
Silas Domingues
Comunidade Batista Boa Vista
Wilson Oliveira da Silva
Igreja Videira São Paulo
Zé Bruno
A Casa da Rocha
Zé Liberio
Toca Comunidade Cristã- TCC – Butantã
Missão Belém, da Arquidiocese de São Paulo
A Missão Belém, sob a liderança do Padre Júlio Lancelotti, tem oferecido os espaços da sede da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, chamada Casa de Oração, para acolher pessoas em situação de rua que estiverem com coronavírus. O espaço, fundado há cerca de 30 anos, fica no centro da capital paulista e tem capacidade para isolar até 50 pessoas, mas a prefeitura não considerou o local adequado, foi o que afirmou Lancellotti para o Bereia. A decisão de oferecer o local teve o aval do Arcebispo Metropolitano, Dom Odilo Scherer, que também está preocupado com a situação.
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, afirmou em entrevista à Rede Brasil Atual, que avalia as medidas anunciadas até agora pelos governos municipal e estadual inacessíveis para a população mais vulnerável. “A doença é para todos, mas a prevenção é para alguns. Como vão higienizar as mãos constantemente, se nem nos centros de acolhida (os CTAs) tem sabão ou álcool gel disponível? Nesses locais você chega a ter 400 pessoas no mesmo espaço, sem ventilação, com condições de higiene precárias”, destacou.
São Paulo possui, em média, 24 mil pessoas em situação de rua segundo o censo municipal, sendo que 3.164 moradores tem mais de 60 anos. Tuberculose, má alimentação, más condições de higiene são alguns dos principais problemas. “A população também pode ajudar, abrindo espaço para que essas pessoas possam lavar as mãos, doando álcool gel. Vivemos um tempo de egoísmo, mas é preciso solidariedade”, afirmou Lancellotti.
Igreja Betesda, na Zona Sul de São Paulo
Essa igreja, localizada na Zona Sul, fechou as portas para cultos e
ofereceu suas instalações para servir à comunidade, e também como apoio às
demandas do governo.
Bereia conversou com o presidente da igreja, Ricardo Gondim, sobre a importância social da igreja diante do cenário de pandemia. “A Igreja Betesda está se organizando para coletar alimentos não perecíveis para atender não apenas as demandas de pessoas carentes da nossa comunidade, como também para fazermos parcerias com ONGs e instituições que, neste momento, atendem aos desvalidos, aos sem teto, às pessoas que estão desabrigadas e muito carentes. Também colocamos à disposição das autoridades governamentais as dependências da Igreja Betesda, tanto do templo como do nosso prédio de apoio para que possamos servir como apoio ou na logística que o governo precisar em todas as frentes, quaisquer que forem as mais prementes, nós estaremos à disposição”, afirmou Gondim.
RIO DE JANEIRO
Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca
O pastor Antonio Carlos Costa, que faz parte da equipe pastoral da Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca anunciou no seu twitter dia 19 de março que “o Conselho de IP Barra tomou a decisão de oferecer o templo da igreja à União, Estado e Município a fim de que sirva de hospital de campanha”.
Ele afirmou ao Coletivo Bereia que “a igreja está oferecendo todo seu espaço, inclusive o estacionamento e escritórios para receber pacientes, para armazenamento de cestas básicas ou para qualquer outra finalidade que o poder público quiser dar. Também estamos mobilizando pessoas para trabalho voluntário, especialmente quando a pandemia alcançar o seu pico no Brasil.”
O pastor Antonio Carlos também é líder da ONG RIO DE PAZ, que tem feito um trabalho de assistência às famílias em situação de vulnerabilidade das comunidades do Jacarezinho e Mandela, na zona norte do Rio. “O Rio de Paz está envolvido com a distribuição de cestas básicas nas favelas. Nossa meta é não permitir que nenhum morador de favela passe fome“, declarou.
O pastor ainda afirmou ao Coletivo Bereia que a Igreja não pode silenciar neste momento de crise. “Se ela se omite, perde sua autoridade profética. Quem vai levar a sério uma Igreja que, no momento da mais grave crise do século, não se faz presente como agente de transformação social? A Igreja está diante de uma grande oportunidade de manifestar o amor misericordioso de Cristo ao escolher tratar as pessoas com compaixão.”
Igreja Batista Betânia
Com o tema “AS REUNIÕES PARAM, A IGREJA, NÃO”, a comunidade, liderada pelo pastor Neil Barreto, continua atuante em suas atividades sociais durante a Quarentena. Evangelistas e missionários saíram pelas ruas do Rio de Janeiro atendendo a população em situação de rua, entregando refeições comunitárias, além de arrecadarem alimentos para pessoas em vulnerabilidade, por meio da Campanha “Amor em Forma de Alimento”.
O líder da congregação tem realizado lives e cultos com enfoque na prevenção e cuidados contra o coronavírus, levando os fiéis a reflexão do cenário de pandemia à luz das Escrituras.
O Coletivo Bereia recebeu informações que a PIB de Campo Grande, Igreja Metodista de Cascadura e Renas/Rio também estão agindo em solidariedade ao cenário de pandemia.
MINAS GERAIS
Arquidiocese de Belo Horizonte
Ainda em recuperação, o Estado de Minas Gerais, que acaba de vivenciar um período de “Calamidade Pública” decorrente das violentas enchentes que deixaram 56 pessoas mortas e 53 mil pessoas desabrigadas, agora enfrenta a pandemia do coronavírus.
A Arquidiocese de Belo Horizonte, em solidariedade e em combate ao crescente número de pessoas com o Covid19 disponibilizará 1.500 igrejas que devem se tornar hospitais de campanha. Os templos estão localizados na capital mineira e em 27 municípios da região metropolitana. A decisão foi tomada pelo arcebispo metropolitano da capital, Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Os templos também poderão ser utilizados como pontos de apoio a idosos, doentes e pessoas de maior vulnerabilidade social.
Os municípios beneficiados são: Belo Vale, Betim, Bonfim, Brumadinho, Caeté, Confins, Contagem, Crucilândia, Esmeraldas, Ibirité, Mário Campos, Nova União, Lagoa Santa, Moeda, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Piedade dos Gerais, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São José da Lapa, Sarzedo, Taquaraçu de Minas e Vespasiano.
Confira, abaixo, a íntegra da carta do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo:
Amado Povo de Deus, Saúde e paz
Paradoxalmente, a pandemia do COVID-19 coloca-nos em isolamento social, mas, ao mesmo tempo, florescem muitas iniciativas de generosidade. Mesmo distantes uns dos outros, não nos afastamos do compromisso cristão de ajudar. Exemplares são os empreendedores que dedicam parte de seus recursos para investir em equipamentos hospitalares, tão importantes para acolher quem mais sofre com o coronavírus. Também toca o coração a atitude dos que mesmo tendo pouco, procuram ajudar. São jovens que fazem compras para os idosos, profissionais que oferecem graciosamente serviços a partir das redes digitais. A força da solidariedade vai vencer a pandemia. Deus seja louvado pela vida dos que irradiam a generosidade. A Arquidiocese de Belo Horizonte fortalece a sua adesão a essa rede de solidariedade.
Nossos templos, cerca de 1500, na Capital Mineira e em outros 27 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Catedral Cristo Rei e o Centro Olímpico da PUC Minas estão sendo colocados à disposição do poder público para serem “hospitais de campanha”, espaços de acolhida, dedicados aos mais pobres. A Igreja está aberta para amparar os doentes, unindo esforços ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Sejam, pois, as nossas igrejas, grandes e pequenas, no ambiente urbano ou rural, templos da acolhida aos enfermos, a serviço da saúde, na tradição bonita da Igreja Católica de sempre amparar especialmente os mais pobres.
Peço a ajuda de todos os fiéis, cidadãos, homens e mulheres de boa vontade, na missão de acolhermos os enfermos. Com a intercessão de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, Cristo Rei nos guiará na tarefa de vencer a pandemia.
Igrejas e Entidades evangélicas levam auxílio a BH
Vários evangélicos e evangélicas, que fazem parte das mais diversas igrejas ao redor do Brasil, estão em campanha a favor de famílias mineiras que passam por necessidade devido ao cenário de pandemia que gerou desemprego e falta de renda para muitos brasileiros/as.
Um dos coordenadores da campanha afirmou ao Bereia que estão pedindo ajuda em dinheiro, uma vez que recolher donativos seria expor muita gente ao contágio.
A campanha é realizada pela Frente De Evangélicos pelo Estado de Direito, Rede Fale, O Reino em Pessoa e Evangélicxs pela Diversidade.
O Coletivo Bereia elaborou essa checagem de boas ações, das igrejas e entidades, para motivar pessoas de fé de todo o Brasil a caminhar na direção da solidariedade em tempos de luto e dor.
“Aprendemos que a Fé não precisa do templo, do domingo ou do clero. Ela precisa de algo que nos impulsione para aquilo que está além de nós mesmos. As estruturas religiosas jamais deveriam estar engessadas em fórmulas, hierarquias, calendários ou mesmo espaços sagrados. É preciso descobrir que não há nada mais sagrado que a vida, que santidade é cuidar da vida de tal modo que toda ela seja importante, que a grande sabedoria de viver é permitir que o outro desfrute das mesmas chances que eu tenho. A Fé se realiza no encontro com o outro e com o transcendente, com esse sentimento de pertença ao outro e ao transcendente, ao mesmo tempo.”
Irenio Chaves
Referências de Checagem:
HOON, P. W. The Integrithy of Worship. Abington Press, 1971.
Igrejas de fé consciente fazem contraponto com espiritualização do cenário de pandemia
O Coletivo Bereia checou informações de diversas igrejas sobre suas programações e verificou que algumas continuam desobedecendo o pedido do Ministério da Saúde de que sejam evitadas aglomerações e contatos próximos.
CONFIRA:
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
Não cancelou as programações, mas restringiu o número de pessoas nos cultos.
Veja aqui o comunicado oficial lançado dia 17 de março.
Na noite do dia 19, quinta, o bispo Renato Cardoso fez uma live no Facebook e afirmou:
“O governo precisa ver as igrejas como aliadas nesse desafio contra o coronavírus. Aliadas no sentido de disseminar a informação correta, conscientização dos seus membros, os pastores e líderes religiosos falam a língua do povo, falam de forma que o povo entende, respeita e ouve. Então somos aliados de vocês. Vocês colocarem as igrejas de portas fechadas e os membros longe de seus líderes religiosos, desculpa, isso não é inteligente.”
Não vou fechar igreja coisíssima nenhuma. Se amanhã os governos disserem que vão impedir transporte público, fechar mercados, fechar todas as lojas… Como pastor, acredito que a igreja tem que ser o último reduto de esperança para o povo. Se fechar tudo, numa medida drástica, a igreja precisa estar de porta aberta.”
O pastor RR Soares lançou comunicado oficial dia 12.03 sobre cancelamento da maioria das reuniões. Veja o vídeo do pronunciamento aqui.
No final do vídeo ele afirma:
“Com Jesus nós vencemos coronavírus, vencemos tudo. Mas vamos ter prudência por conta das pessoas que não tem uma fé grande, madura, que ainda não estão fortes suficientementes na fé para resistir ao mal. Vamos orar por elas!”
” […] queríamos que você soubesse que, de fato, planejamos fortemente e ousadamente continuar realizando nossos cultos regulares na Igreja UNITED e queremos garantir à você que estamos dedicados a oferecer um ambiente limpo e seguro. Nossa equipe de voluntários limpa regularmente e completamente nosso prédio – dando atenção especial às superfícies comumente usadas e tocadas. Além disso, sabonetes estão sempre disponível nos banheiros e temos um suprimento de desinfetantes para as mãos à base de álcool gel disponíveis para uso em todos os cultos.”
Apesar da suspensão de alguns eventos e reuniões, os templos vão continuar abertos durante alguns dias da semana.
IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS EM MISSÃO
A igreja continua com suas programações. Veja o vídeo do culto realizado na noite do dia 18, quarta.
Nos primeiros segundos o pastor fala que depois de tudo isso que está acontecendo vai surgir uma onda de desigrejados:
“eu não sei que Jesus você serve, mas eu sigo um Jesus que diz que diz que eu preciso estar ligado ao corpo sendo ele o cabeça. Como eu digo que sirvo a Deus se eu não congrego?”
Em entrevista à BBC, o pastor batista Levi Araújo afirmou:
“É importante que, nesse momento, denominações religiosas se posicionem com o objetivo de proteger seus fiéis e o restante da população. “Seja qual for a religião, essa situação do coronavírus vai apontar quem são os fanáticos e os oportunistas, muitos dos quais só pensam em dinheiro. Esses vão continuar a promover a aglomeração de pessoas dentro das igrejas.”
BANCADA EVANGÉLICA E CORONAVÍRUS
Segundo o site da Uol, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), divulgou nota para pedir a reabertura de templos, Os parlamentares argumentam que precisam de orações para enfrentar a “pandemia maligna”…
IGREJAS QUE JÁ SUSPENDERAM SUAS PROGRAMAÇÕES PRESENCIAIS:
IGREJA BATISTA DE ÁGUA BRANCA
No Brasil, um dos templos que suspenderam todos os cultos foi a Igreja Batista de Água Branca, na zona oeste de São Paulo. Em comunicado nas redes sociais na quinta-feira, 12, o pastor Ed René Kivitz afirmou que todas as atividades presenciais estão “suspensas até segunda ordem”.
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA
Lançou comunicado dia 18, quarta, recomendando a suspensão de todas as programações presenciais dos 13,713 templos ao redor do Brasil.
ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL(atualizado dia 20, 21h)
Lançou nota pública dia 20, sexta. Uma de suas declarações foi a favor da solidariedade. Confira:
“Nosso chamado, portanto, vai além do atendimento individual – ou ainda pior, individualista – de normas profiláticas. Que este seja um tempo de exercício de solidariedades! Assim, não basta fechar as portas nos dias de culto: é preciso pensar estratégias de cuidado para com as pessoas de nossa comunidade não alcançadas pelas políticas públicas. Não basta pedir isolamento: é preciso seguir denunciando a omissão do Poder Público em nível federal, estadual e municipal, e exigindo medidas urgentes, como a concessão imediata de todos os pedidos paralisados que atendam aos requisitos do Bolsa Família, sobretudo os da região Norte e Nordeste; ou a proibição de quaisquer demissões por um prazo mínimo de 90 dias, sem redução de salário, mas com redução de jornada, e, na medida do possível, em férias coletivas; ou ainda exigir a contratação imediata de profissionais de saúde que estejam aguardando a chamada em concursos por Prefeituras, Estados e Governo Federal.”
A nota também repudia postura de líderes religiosos que permanecem com suas programações:
“Por fim, repudiamos como anticristãs todas as falas de lideranças religiosas que buscam constranger seus fiéis a participarem de cultos e reuniões, alegando falar em nome de Deus ou da Bíblia, colocando a vida destes em risco apenas para manter, em muitos casos, as rendas indecentes de seus “ofertórios” conseguidas através de manipulação e coerção psicológica” (Mt. 7:15; Rm. 16:18; II Pe. 2:3).
IGREJA METODISTA
Na manhã do dia 19, quinta, a igreja decidiu“suspender os cultos locais, realizando-os virtualmente conforme os recursos disponíveis. Lembrarmos que em hipótese alguma os pastores e pastoras podem suspender os cultos sem oferecer às pessoas uma forma concreta de estar espiritualmente ligadas como corpo de Cristo; para isto, as plataformas digitais serão de grande importância.”
“Diante do agravamento do quadro, Presidência, Pastoras Sinodais e Pastores Sinodais da IECLB orientam a suspensão imediata, e por tempo indeterminado, de todas as atividades comunitárias que envolvem encontro presencial de pessoas, sejam elas de qualquer idade. A orientação se aplica inclusive aos lugares que não possuem casos ou relatos de casos do Novo Coronavírus. Dependendo da evolução da pandemia, a suspensão será revista e novas orientações serão emitidas. ”
“Neste tempo de Pandemia e na defesa da saúde e da vida, conclamamos a todas as pessoas (membros de nossas comunidades ou não) a seguirem rigorosamente as orientações e os protocolos de prevenção prescritos pelo Ministério e Secretarias da Saúde […] Que, pelo menos, nos dois próximos domingos de março as Igrejas estejam fechadas, suspendendo as celebrações semanais e outros atos litúrgicos até dia 04 de abril, em resposta ao Protocolo de prevenção da OMS e dos decretos dos governos estaduais. Este prazo pode ser alterado caso haja novas orientações das autoridades sanitárias.”
IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
As Igrejas Presbiterianas do Brasilforam orientadas pelo presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Roberto Brasileiro , a cancelarem as reuniões e permanecerem com os cultos online, bem como reforçar as reuniões nos lares.
IGREJA PRESBITERIANA UNIDA DO BRASIL
No dia 19, quinta, compartilhou algumas orientações no site:
“O Conselho Coordenador da IPU, em sua reunião de 18 de março de 2020, tendo em vista a situação de pandemia que atingiu o país de forma crescente nos últimos dias e em atendimento às decisões governamentais e dos órgãos de saúde, vem pela presente orientar as igrejas e presbitérios que suspendam seus cultos e atividades públicas, no sentido de resguardar nossos eclesianos e visitantes, em especial aqueles que pertencem aos grupos de risco definidos pelos órgãos especializados, do contágio pelo vírus COVID 19 da epidemia do Coronavírus.”
IGREJA CRISTÃ NOVA VIDA (atualizado dia 20, 21h17)
O bispo Walter Mcalister recomendou que todas as igrejas seguissem as recomendações oficiais. Sendo assim, pediu suspensão de todas as programações da igreja.
“Seguindo as recomendações gerais de prevenção à Covid-19, informamos que todos os nossos eventos marcados estão adiados e que em breve divulgaremos as novas datas. Informamos também que os nossos cultos presenciais estão suspensos temporariamente, porém, a igreja permanecerá aberta com plantões de oração com nossos bispos e pastores. Esses plantões acontecerão nos seguintes horários (e também serão transmitidos pela internet): 10h, 18h e 20h.”
“Em decorrência desse surto, muitas medidas e adaptações precisaram ser tomadas. Na Sara Nossa Terra você agora também tem a opção de assistir aos cultos por meio da Sara Online, dessa forma é possível estar conectado à Palavra de Deus de qualquer lugar e cuidar da saúde física. Os cultos de Quebra de Maldições, Arena Jovem e Cultos de domingo podem ser assistidos por meio do canal do Youtube da SNT , no portal oficial da Sara e no Sara Play ao vivo. Neste final de semana, o Congresso de Cura Interior também contará com transmissão on-line.”
IGREJA CRISTÃ MARANATA
Aigreja suspendeu todas as atividades realizadas nos templos. A orientação abrange os eventos internos e externos. Os cultos serão transmitidos, diariamente, às 19h30, no canal oficial no Youtube.
IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR
O Conselho Nacional de Diretores decidiu, dia 16 de março, cancelar todas as apresentações artísticas para os dias 18 e 19.
“A Igreja do Evangelho Quadrangular, bastante compreensiva com o momento, e consciente das prevenções contra o Corona Vírus, apesar de todas as cautelas necessárias e medidas de segurança que já havia adotado, vem contribuir para com o bem-estar de todos e a preservação da SAÚDE PÚBLICA.”
O site apublicapublicou matéria hoje, 19, sobre as “Megaigrejas que continuam abertas e dizem que fé cura coronavírus.”
O presidente do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil), pastor Inácio Lemke, pede calma e prudência.
“O momento pede calma e prudência. Precisamos ter responsabilidade com aquilo que falamos. Incentivar que um fiel vá à igreja, sabendo que isso expõe não apenas ele, mas toda a sua família, é extremamente irresponsável, além de representar um risco real para a saúde pública.”
Na manhã deste domingo, 15, eleitores de Bolsonaro da cidade de São Luís/MA decidiram prosseguir com a manifestação anti-Congresso mesmo sem o aval do presidente. Manifestação aconteceu na avenida litorânea e contou com mais de 1000 pessoas. A organização foi realizada pela internet por meio de vários grupos, como a União da Direita Maranhense (UDM) e a ‘Endireita Maranhão’.
Durante o ato pró-Bolsonaro, manifestante afirma:
“Gripe, gripe nós temos! Eu tenho o vírus da gripe no meu corpo. Você tem, você tem, todo mundo tem. Coronavírus nunca matou uma pessoa na face da Terra. Nunca matou e nem vai matar. Velhos morrem porque têm pneumonia e outras coisas mais, não tenham medo da caronavírus.”
Após ter conhecimento da manifestação, o secretário de Saúde do Estado do Maranhão se pronunciou via Twitter.
A capital maranhense é apenas uma das 229 cidades ao redor do país que decidiram, segundo o site da UOL, não adiar o ato.
O presidente Bolsonaro tinha feito um apelo na noite da última quinta-feira, 12, pedindo o adiamento da manifestação devido à pandemia do coronavírus.
Após recomendar adiamento de protestos, Bolsonaro compartilha imagens e vídeos dos atos a seu favor.
CORONAVÍRUS NO BRASIL
Brasil eleva para 121 o total de casos confirmados, segundo o Ministério da Saúde. São 1.496 casos suspeitos, em 13 Estados, 72% dos casos estão em São Paulo e no Rio de Janeiro.
São Luís ainda não possui nenhum caso confirmado até o momento.
Imagem de destaque. Disponível em G1. https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2019/05/26/manifestantes-fazem-ato-em-apoio-ao-governo-bolsonaro-em-sao-luis.ghtml
Manifestantes fazem ato em apoio ao governo Bolsonaro em São Luís. Disponível em: https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2019/05/26/manifestantes-fazem-ato-em-apoio-ao-governo-bolsonaro-em-sao-luis.ghtml
Mesmo sem aval de Bolsonaro, manifestantes programam atos em 229 cidades. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/15/sem-aval-jair-bolsonaro-coronavirus-militantes-manifestacao-200-cidades.htm
Live Bolsonaro – 12.03.2020. Disponível em: https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/videos/885793518527705/
Diante do quadro de pandemia do coronavírus, bispos católicos e pastores/as de várias igrejas ao redor do Brasil recomendam medidas de prevenção para evitar a proliferação do vírus.
Os bispos do Paraná publicaram uma nota com várias orientações de prevenção ao coronavírus, que já possui 6 casos confirmados no Estado. Os casos da dengue já ultrapassaram 50 mil, com 7 mortes desde julho de 2019.
Leia a nota na íntegra:
ORIENTAÇÃO DOS BISPOS PARA A PREVENÇÃO DA DENGUE E DO NOVO CORONAVÍRUS
“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Cf. Lc 10, 33-34)
O estado do Paraná está enfrentando o grave problema da epidemia da Dengue. A situação, especialmente na região Norte e Noroeste do estado é grave e preocupante. O verão e a chuva favorecem o desenvolvimento do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença.
Como Igreja, comprometida com a Vida, que é “Dom e compromisso”, nós, bispos do Paraná, queremos convocar todo o povo para adotar medidas de prevenção e combate a essa grave doença. Estudos já revelaram que o modo mais eficaz de combater a Dengue é eliminar os criadouros do mosquito.
Diante dessa realidade, pedimos a colaboração dos sacerdotes, lideranças, fieis e de todas as pessoas de boa vontade que valorizam a vida, para combater os focos de acúmulo de água parada. Para isso, vamos eliminar qualquer recipiente de potencial criadouro do mosquito, como: latas, embalagens, copos, plásticos, tampinhas de refrigerante, pneus, vasos de plantas, jarros de flores, garrafas, tambores, latões, sacos plásticos e lixeiras, entre outros. Verifique sempre, especialmente após a chuva, locais como: quintais, calhas, ralos, poços, fossas, caixas d’água, entre outros.
Cerca de 98% dos focos do mosquito Aedes Aegypti estão nos quintais, pátios e ambientes internos das casas e empresas. A Dengue é uma doença que pode matar, por isso é preciso que cada um faça a sua parte, assumindo a atitude evangélica do Bom Samaritano, que cuidou daquela vida que encontrava-se ameaçada.
Além dessa realidade que tem afetado diretamente nosso povo, o mundo enfrenta mais um desafio: a difusão do novo CORONAVÍRUS (COVID-19). Assim como no caso da Dengue, todos têm responsabilidade de evitar as situações e circunstâncias que possibilitam o contágio. Por isso, recomendamos algumas medidas às paróquias e comunidades do Paraná:
1. Evitar o aperto de mãos durante a acolhida aos fiéis;
2. Não dar as mãos durante a oração do Pai nosso;
3. Omitir o abraço da paz;
4. Distribuir a comunhão somente sob uma espécie, exclusivamente, na mão, garantindo que o fiel comungue diante do ministro;
Acrescentamos, ainda, as “medidas de prevenção”, recomendadas pelas autoridades sanitárias:
1. Higienizar as mãos, muitas vezes, com água e sabão ou álcool em gel;
2. Utilizar lenço descartável para higiene nasal;
3. Proteger com lenços (preferencialmente descartáveis a cada uso) a boca e o nariz ao tossir ou espirrar;
4. Evitar tocar no nariz ou boca, após o contato com superfícies;
5. Manter os ambientes bem ventilados;
6. Repouso, alimentação balanceada e ingestão de líquidos.
Vivendo a Campanha da Fraternidade deste ano, Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso, contamos com a ajuda de todos no combate e prevenção dessas doenças. Que essa Quaresma nos inspire a ser uma Igreja cada vez mais samaritana, misericordiosa e que cuida da vida. Rogamos para todos a bênção e a proteção de Nossa Senhora do Rosário do Rocio, padroeira do estado do Paraná.
Dom Geremias Steinmetz (Arcebispo de Londrina e Presidente do Regional Sul 2 da CNBB)
Dom José Antônio Peruzzo (Arcebispo de Curitiba e Vice-Presidente do Regional Sul 2 da CNBB)
Dom Amilton Manoel da Silva (Bispo Auxiliar de Curitiba e Secretário do Regional Sul 2 da CNBB)
Padre Valdecir Badzinski (Secretário executivo do Regional Sul 2 da CNBB)
O pastor Ed René Kivitz da Igreja Batista de Água Branca, localizada em São Paulo, anunciou na noite da última quinta, 12, que a igreja iria atender as orientações das autoridades do país e em especial as orientações dos profissionais da saúde, infectologistas, especialistas, no esforço global de contenção da disseminação do vírus.
Leia o comunicado:
COMUNICADO ⠀ Em atenção às notícias a respeito da proliferação do novo coronavírus e às orientações dos especialistas e das autoridades competentes, comunicamos que no período de 13 a 19 de março todas as programações presenciais, inclusive as celebrações do domingo, 15 de março, estão canceladas. ⠀ Somamos esforços na contenção da disseminação do vírus, em razão do nosso compromisso de cuidado, não apenas com nossos membros e frequentadores, como também com nossa cidade e sociedade.
O Coletivo Bereia conversou com o médico e pastor, Carlos Bezerra, atualmente secretário executivo do Programa Mãe Paulistana, sobre o cenário da doença no país.
Confira:
1 – Quais as consequências que a igreja deve sofrer caso não adote as orientações dos profissionais da saúde?
Carlos Bezerra – O dever da igreja é orientar, usando as informações oficiais das autoridades de saúde. Ao não fazer isso coloca em risco a saúde do seu rebanho. O coronavírus já matou mais de 5 mil pessoas ao redor do mundo. Ele é altamente transmissível e a igreja precisa fazer seu papel de prevenção. Quanto maior o número de pessoas que não estão cientes e informadas sobre os cuidados que devem ter, maior o risco.
2 – Como pastor e médico, qual sua orientação frente à epidemia?
Carlos Bezerra – Eu tenho falado sobre o assunto tanto dentro da igreja como em minhas redes sociais, sempre com a responsabilidade de mencionar apenas dados confirmados pelas autoridades nacionais e internacionais. Em casos assim, devemos trabalhar para evitar o pânico e a disseminação de notícias falsas, mas sem deixar de levar, com serenidade, os cuidados que devemos ter para prevenir a doença.
Dia 28, 22h51, a
publicação oficial é postada com a seguinte frase:
“ATENÇÃO LÍDERES DE CARAVANAS:
É UMA CONVOCAÇÃO DE EMERGÊNCIA QUE VOCÊS MOBILIZEM FORÇA TOTAL PARA TRAZER O POVO DE DEUS PARA O CULTO DOMINGO!”
No cartaz oficial do evento a mensagem de imunização contra o vírus é feita.
Dia 1º de março,
7h17, a seguinte mensagem é postada:
No mesmo dia, uma segunda publicação:
A notícia sobre o culto com unção imunizadora chegou ao conhecimento da Polícia Civil e do Conselho Regional de Medicina (Cremers), levando as duas instituições a tomarem medidas contra a ação do apóstolo Ribeiro, que segundo a reportagem do jornal Zero Hora, pode se caracterizar como charlatanismo, crime previsto no Código Penal com punição de três meses a um ano de detenção e multa.
No dia 1º o culto foi transmito ao vivo, às 19h, por meio de uma live na fanpage da igreja – Avivamento Para As Nações.
Durante o culto, o apósto Ribeiro afirma:
“O que tem a ver o coronavírus com a Biblia?
Tiago 5:14-15 diz: Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
Eu tenho base bíblica para destruir qualquer demônio de doença com o azeite de Deus. O azeite de Deus nao cura só coronavírus, cura doenças, câncer… azeite também perdoa pecados.
[…] Um texto que está circulando pela internet e que somentedepois de averiguado biblicamente por professores, teólgoso, doutores em divindades e estudiosos do apocalipe, eu trago ao conhecimento de vocês, o título é O EFEITO DO CORONAVÍRUS – em poucos meses esse vírus poderá trazer ao mundo a marca da besta…O Coronavírus é uma trombeta de Deus chamando o mundo para um arrependimento. Certamente esse virus trará a marca da besta ao mundo. Todos os teólogos, independente da linha de pensamento estão dizendo isso.”
As mensagens do apóstolo Ribeiro deixaram as autoridades gaúchas em alerta, por se tratar de uma medida sem qualquer eficácia contra a covid-19. A doença tem dois casos confirmados no Brasil e outros 252 casos suspeitos, sendo 27 no Rio Grande do Sul.
Após grande repercussão na mídia, uma coletiva de imprensa foi marcada para a tarde do dia 3 de março. Confira aqui.
Na início da coletiva,
o apóstolo Ribeiro declara:
“Eu estou sendo perseguido porque estou obedecendo a palavra de Deus. Eu vou mostrar o que está escrito (leu para as jornalistas um trecho do capítulo 16 do livro de Marcos) . Deus promete essa imunidade para quem tem fé.”
Após ser indagado por uma jornalista se estaria compartilhando desinformação sobre o vírus, ele afirmou:
“Se eu soubesse, realmente, que essa declaração fosse causar tanta polêmica ou pânico, ou agredir a medicina e os médicos que dão a sua vida para salvar o ser humano, eu jamais teria falado isso, mas deixo bem claro que somente falei em defesa da minha fé, em defesa da Palavra de Deus. E se houve isso, eu sei que talvez para vocês possa ser chocante, eu peço perdão à medicina, a ciência, as leis, por ter, talvez impensadamente….eu não estava sozinho, eu estava com uma equipe de pessoas adultas, maduras, empresários, que viajam o mundo todo , eu disse: “gente, eu to vendo aqui na tv, só passa coronavírus, mas a nossa fé, a palavra do Deus vivo diz que ele cura qualquer coisa, vamos fazer um culto por isso.“
Eu peço perdão a todos e digo que a nossa intenção com esse banner ou vírus foi a melhor de todas, levar fé, esperança e amor para as pessoas, jamais outra coisa.
Sou amigo dos médicos, medicina e da ciência. […] Eu creio que Tudo isso foi um anseio, um sonho, um desejo, uma missao de ajudar as pessoas, que infelizmente num péssimo momento usei as palavras erradas , os meios de divulgação errados e já pedi perdão e reforço isso em nome de jesus. Cada vez mais vou ser amigo daquilo que está na nossa sociedade para ajudar o ser humano.”
O Ministério Público do Estado considerou que a prática pode ser enquadrada como crime de charlatanismo ou curandeirismo, segundo informações do site BBC News. O órgão encaminhou os anúncios para as Promotorias de Justiça Criminais, de Proteção à Saúde e às Promotorias de Justiça Cíveis.
O Coletivo Bereia
conversou sobre o caso com o médico e pastor, Carlos Bezerra, atualmente secretário
executivo do Programa Mãe Paulistana.
Confira a entrevista:
1 – Como o senhor avalia a postura de um líder eclesial que
afirma que uma unção com óleo pode imunizar contra o coronavírus?
Carlos Bezerra – Considero que uma igreja não pode prometer algo, revestida da fé das pessoas, e não cumprir. O charlatanismo investigado, neste caso, pode ser comprovado.
2 – Quais as consequências que as pessoas que participaram do
culto podem sofrer ao acreditarem neste tipo de unção? A cidade de Porto Alegre
também pode ser penalizada por meio de uma desinformação?
Carlos
Bezerra – O dever da igreja é orientar, usando as informações oficiais das
autoridades de saúde. Ao não fazer isso coloca em risco a saúde do seu rebanho.
Mesmo considerada baixa, a taxa de mortalidade do coronavírus, mesmo não
havendo um percentual oficial, foi de 3,5% na China, segundo a OMS. A China é o
primeiro país a registrar casos da doença causada pelo coronavírus. Ele é
altamente transmissível e em casos mais graves, pode levar à morte.
Quanto
maior o número de pessoas que não estão cientes e informadas sobre os cuidados
que devem ter, maior o risco.
3 – Como pastor e médico, qual sua orientação frente à
epidemia?
Eu tenho falado sobre o assunto tanto dentro da igreja como em minhas redes sociais, sempre com a responsabilidade de mencionar apenas dados confirmados pelas autoridades nacionais e internacionais. Em casos assim, devemos trabalhar para evitar o pânico e a disseminação de notícias falsas, mas sem deixar de levar, com serenidade, os cuidados que devemos ter para prevenir a doença.
1 – O apóstolo Silvio Ribeiro afirma que todos os teólogos estão dizendo que o coronavírus traz a marca da besta. Como teólogo, o que senhor tem a dizer?
Antônio
Carlos – A
primeira coisa que eu penso é: como o referido senhor conhece todos os
teólogos? Os do Brasil, da América Latina e de todo o mundo? Uma fala vaga e
sem nenhum critério de verificação. Segundo, afirmar que um vírus é a marca da
besta é de uma ingenuidade sem tamanho, além de representar um emocionalismo
barato. Na história do cristianismo líderes e grupos religiosos já apontaram
inúmeras coisas, pessoas e eventos como a marca da besta, como por exemplo o Papa
e o antigo Mercado Comum Europeu, apenas para mencionar dois. É uma afirmação
sem nenhuma base bíblica e teológica que serve apenas para impressionar os
crentes e seguidores. Logo será descoberta a cura do vírus e outra coisa será
anunciada como a marca da besta. Sempre foi assim.
2 – Como o senhor avalia a hermenêutica bíblica feita pelo apóstolo entre o vírus covid-19 e a leitura de Joel 2?
Antônio Carlos – Pensar que essa fala tem alguma coisa dos princípios da hermenêutica é no mínimo uma aberração. A impressão que se tem é que o pregador não conhece nada de hermenêutica, exegese e homilética. Verbalizar textos fora do seu contexto histórico, especialmente os do Antigo Testamento, fazendo aplicações para hoje como se o tempo estivesse parado é muito comum, mas de uma superficialidade impressionante. Um sinal de que não houve nenhum estudo sério das Escrituras é ver que o pregador não faz uso de anotações. Não se tem nenhum indício de que o texto foi pesquisado. Assim sendo, o que se prega é uma imposição pessoal ao texto. Ou seja, o texto serve para o pretexto do pregador. É lamentável e desesperador para o movimento evangélico brasileiro.
3 – O apóstolo se baseia no Livro de Tiago para
fundamentar a imunização por meio da unção do óleo consagrado. Como o senhor avalia esta postura?
Antônio Carlos – Essa é uma coisa complicada. Depende da posição teológica. A cura, se ocorre, deve ter um alvo maior do que a própria cura. O que não se pode fazer é prometer que vai curar. Entende-se que o poder para curar não está no pregador, na sua pessoa, mas em Deus. Ou seja, Deus é o autor da cura.
Como saber então se Deus quer curar? Como prometer que Deus vai curar? Em tese, não se pode prometer entregar o que não se tem. Como alinhar a mensagem de que Deus vai curar com a fala de Jesus na oração do Pai Nosso: “seja feita a tua vontade”?Assim sendo, podemos mesmo crer que Deus pode curar, mas apenas e tão somente se Ele assim o desejar.
4 – Por que igrejas com esse modelo teológico atraem tantas
pessoas?
Antônio Carlos – Atraem porque a maioria absoluta dos cristãos/ãs não leem a Bíblia e muito menos a estudam. Não sabem absolutamente nada de teologia ou pouquíssimo conhecimento das doutrinas históricas do cristianismo. Não existe aprofundamento bíblico-teológico. O ensino nas igrejas é superficial. Aliado a isso tem o contexto de pobreza em que boa parte desse povo se encontra. As igrejas neopentecostais descobriram esse filão e abusam da fragilidade do nosso povo. Elas trabalham com a intervenção divina que a qualquer momento trará cura, emprego ou solução para qualquer problema. O nosso povo é crédulo e muitas vezes não tem alternativa que não seja essa – crer e esperar em Deus.
5 – Como diretor de uma faculdade de Teologia qual o seu principal
desafio com os alunos, principalmente aqueles que vêm de igrejas
neopentecostais?
Antônio Carlos – O nosso desafio, na verdade, não se limita apenas aos que são provenientes de igrejas neopentecostais. Hoje, a necessidade de ensino é um desafio urgente para todas as denominações. É um erro pensar que as igrejas históricas têm em suas fileiras membros mais preparados ou estudados. Isto não é verdade, até porque muitas igrejas históricas no afã de conquistar adeptos tem sucumbido as práticas que contradizem a teologia da denominação. Assim sendo, nós, da Faculdade Teológica Sul Americana, temos por desafio preparar os cristãos/as para que vivam o evangelho de maneira encarnada, comprometidos com os valores do Reino de Deus.
Referências de Checagem:
Postagem do cartaz que anuncia a imunização contra o coronavírus. Disponível em:https://www.facebook.com/ApSilvioRibeiro/photos/a.394258940643123/2763946010341059/?type=3&theater
Promessa de bênção com óleo que imunizaria contra o coronavírus deixa autoridades em alerta no RS. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2020/03/promessa-de-bencao-com-oleo-que-imunizaria-contra-o-coronavirus-deixa-autoridades-em-alerta-no-rs-ck79vcodx00eb01pqa2fqa3bv.html
Igreja que promete ‘imunização’ contra coronavírus pode ser enquadrada por charlatanismo, diz MP. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51708763
Desde o mês de janeiro circula em vários sites religiosos matéria que alega situação desumana vivida por cristãos/ãs perseguidos/as na Coreia do Norte, oficialmente conhecida como República Popular Democrática da Coreia (RPDC), localizada na Ásia.
A notícia relata a persseguição a cristãos naquele país, e ainda conta a história da morte da coreana Younghee, treinada na agência cristã Cornerstone, localizada na China, para ser missionária em vários países.
Leia o texto na íntegra:
Younghee é uma mulher cristã que saiu da Coreia
do Norte e foi treinada na agência Cornerstone para pregar em diversos
países. Mas ela não decidiu ir para longe, e acabou retornando ao seu país
de origem em 2008, mesmo com todas as ameaças do regime ditatorial de Kim
Jong-un.
Ela criou uma igreja subterrânea para escapar da fiscalização ferrenha contra
religiosos no país, mas acabou sendo presa e enviada a um campo de
concentração, que abriga presos dessa natureza.
Peter Lee, diretor-executivo do Cornerstone
Ministries International, revelou que “os internos do campo morrem lá todos os
dias; muitos tentam escapar, mas a maioria é capturada e devolvida”.
Mas o fator que mais chamou a
atenção de todos é a brutalidade desumana com que os presos cristãos são
tratados no campo.
“Muitos dos apanhados são jogados a
cães famintos. Muitos são espancados ou perdem carne para os cães; muitos
prisioneiros recapturados morrem. Os oficiais da prisão querem que os presos
vejam o que acontece quando tentam escapar”, explicou.
A agência que treinou Younghee acabou
perdendo contato com ela após ela ser presa, em abril de 2019. Oficiais
informaram à família posteriormente que ela havia morrido e teve seu corpo
cremado.
Um dos oficiais que cuida da segurança
do campo de concentração chegou a conversar com uma das filhas de
Younghee, e contou que ela era uma mulher honesta que gostava de ajudar os
outros prisioneiros.
“Eu disse à sua mãe: ‘Eu não entendo
por que uma pessoa como você, que é inteligente e não tem nada, acredita em um
Deus que não podemos ver. Se você tivesse negado o seu Deus, não teria todo
esse sofrimento. Você não se arrepende de ser cristã?’ ‘Nunca me arrependi da
minha fé e nem me arrependo agora’”, relatou.
MINISTÉRIO CORNERSTONE
Cornerstone Ministries International (CMI), tem como objetivo apoiar a igreja perseguida em várias nações. A principal atividade do grupo é a distribuição de Bíblias, principalmente na Coreia do Norte e na China, onde o Cristianismo sofre restrições.
O ministério, após alguns anos de trabalho, iniciou um curso de formação de missionários, para que pudessem evangelizar seu próprio povo.
O CMI está sediado em Seul, Coreia, e possui escritórios no sul da Califórnia, Canadá e Pequim, China. Atualmente apoia 12 missionários de campo e suas famílias em países restritos.
Nossa equipe não encontrou relato sobre a missionária YOUNGHEE no site Cornerstone Ministries International (CMI), instituição que a teria preparado para o trabalho de campo.
MORTE DA MISSIONÁRIA YOUNGHEE
A matéria original sobre a história da missionária Younghee e a perseguição a cristãos nas prisões da Coreia do Norte veiculada no GOD Reports em 28 de janeiro deste ano, escrita por Mark Ellis, coordenador geral do site.
A matéria traz informações sobre perseguição e maus tratos mas não expõe qualquer relatório ou dado fundamentado.
God Reports declara-se existir desde 2004 com a finalidade de compartilhar histórias e testemunhos de atuações missionárias em forma de escrita e vídeo.
BRUTALIDADE NAS PRISÕES DA COREIA DO
NORTE
Na Lista Mundial de Perseguição 2020, divulgada pela Missão Portas Abertas – organização cristã internacional que atua em mais de 60 países em apoio aos cristãos perseguidos, a Coreia do Norte está em 1º lugar quando o assunto é opressão a este grupo religioso.
Já em 2014, em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), relatório pontuava crimes “generalizados e sistemáticos” cometidos pelo governo de Pyongyang. O documento de 400 páginas produzido pela Comissão de Inquérito da ONU sobre Direitos Humanos na Coreia Norte, descreve “atrocidades indescritíveis” cometidos no país como assassinatos, escravidão, tortura, estupro, fome e desaparecimentos forçados, que podem se constituir crimes contra a humanidade.
A Christian Solidarity Worldwide, organização de direitos humanos especializada em liberdade religiosa, que trabalha em nome daqueles perseguidos por suas crenças, vem realizando um extenso trabalho sobre a opressão religiosa na Coreia do Norte. Um de seus relatórios divulgado em 2016 fornece evidências de que a liberdade de religião ou crença é um direito humano “praticamente inexistente” na Coreia do Norte.
“O cristianismo é identificado como uma perigosa ameaça à segurança e uma ferramenta de ‘intervenção estrangeira’. Isto é, visto como um meio de conduzir espionagem e coleta de inteligência. Um ex-agente de segurança norte-coreano declarou que o cristianismo é perseguido porque basicamente, está relacionado aos Estados Unidos, pois foram os americanos que transmitiram o cristianismo e são eles que tentam invadir a Coreia, consequentemente aqueles que são cristãos são espiões, e os espiões são executados.”
Com base em 214 relatos em primeira mão de fugitivos reunidos pela equipe de Direitos Humanos da ONU na Coréia do Sul em 2017 e 2018, o relatório descreve como os direitos mais fundamentais das pessoas comuns na Coreia do Norte são amplamente violados por causa de má administração econômica e corrupção endêmica. “As pessoas costumam experimentar tratamento desumano e degradante nas detenções e às vezes são submetidas a tortura durante interrogatórios e procedimentos disciplinares.As pessoas não devem ser presas, detidas, processadas ou extorquidas simplesmente por tentar adquirir um padrão de vida adequado”, concluiu Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.”
Após verificar todas as informações, Bereia classifica como IMPRECISA (a informação tem dados verdadeiros, mas não são comprováveis) a matéria intitulada – “Coreia do Norte joga cristãos presos para cachorros comerem”, pois, apesar das fontes seguras relatarem ações desumanas por parte do governo daquele país, não há qualquer informação fundamentada sobre “jogar cristãos presos para cachorros comerem”.
Bereia também classifica como IMPRECISA a notícia sobre a morte da missionária Younghee, pois o site God Reports não traz informações com dados precisos sobre o fato. Bereia não encontrou informações sobre a morte de Younghee na fonte indicada pela matéria. Não há qualquer registro do caso no site do Cornerstone Ministries International (CMI), que a teria preparado para atuar no campo, e também não há registros desta morte da parte de outras organizações que acompanham estes casos.
New report on religious freedom in North Korea. Disponível em: https://www.csw.org.uk/2016/09/23/news/3266/article.htm
ONU pede que Coreia do Norte renove seu compromisso com os direitos humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-insta-renovacao-de-compromisso-com-a-coreia-do-norte-sobre-direitos-humanos/
North Koreans trapped in ‘vicious cycle of deprivation, corruption, repression’ and endemic bribery: UN human rights office. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2019/05/1039251
A nomeação de Ricardo Lopes Dias, ex-missionário da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), como coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), oficializada no último dia 05 no Diário Oficial da União, gerou inúmeras críticas, até mesmo dos próprios servidores da FUNAI. Mas o governo Bolsonaro parece não estar preocupado com opiniões contrárias, inclusive de entidades que são referências quando o assunto é política indigenista, como a APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), UNIVAJA – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, INA – Indigenistas Associados, FPMDDPI – Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, CIMI – Conselho Indigenista Missionário. Junta-se a elas o CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, que lançou nota indicando seu desacordo frente à nomeação.
“O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), composto pela Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia expressa seu desacordo à indicação do ex-missionário, Ricardo Lopes Dias, para chefiar a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai.”
CONIC, 03 de fevereiro de 2020
Além da nomeação do ex-missionário, que fere o princípio constitucional da laicidade do Estado, o presidente da FUNAI, Marcelo Xavier, fez uma manobra que durou 24 horas para efetivar Dias Lopes. Xavier solicitou uma mudança no regimento interno do órgão, alterando as medidas do cargo, que até então só poderia ser ocupado por servidores públicos efetivos da FUNAI.
INDICAÇÕES DE EVANGÉLICOS NO GOVERNO BOLSONARO
Indicações e nomeações de evangélicos no governo Bolsonaro têm sido uma prática rotineira desde as eleições, em 2018. Após vencer nas urnas, o “Messias”, que conquistou o cargo por meio de estratégias que incluíram batismo no rio Jordão, “aceitação de Jesus” em culto, e alianças políticas com líderes religiosos como Edir Macedo, Silas Mafalaia e Marco Feliciano com a bancada evangélica no Congresso Nacional. O ex-capitão tem governado o país como um pastor autoritário, que faz de tudo para não perder seu “ministério”, nomeando figuras “terrivelmente evangélicas”, como ele mesmo afirma, para cargos de liderança.
Como o Estado é laico, “mas o governo é cristão”, segundo fala do próprio presidente, a equipe bolsonarista tem, hoje, cinco evangélicos no primeiro escalão do governo ocupando ministérios. O maior conselheiro do presidente, Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria do Governo, é batista. Os outros são: Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, luterano. Marcelo Álvaro Antônio, do Ministério do Turismo, membro da Igreja Maranata. André Luiz Mendonça, ministro da Advocacia Geral da União, pastor presbiteriano. Ele é, possivelmente, o homem “terrivelmente evangélico” que Bolsonaro indicaria para o STF. E finalmente, a pastora pentecostal, Damares Alves, ministra da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ela tem levado várias “propostas pastorais” de políticas públicas para o governo, como a de abstinência sexual como uma das diretrizes para combater a gravidez precoce, ignorando, como seu presidente, todas as críticas de médicos, educadores e cientistas que trabalham com o tema da sexualidade na adolescência.
No segundo escalão o número funcionários evangélicos é expressivo, principalmente no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
QUAL O PROBLEMA DE HAVER EVANGÉLICOS NA LIDERANÇA DO GOVERNO FEDERAL?
Nenhum. A questão que se coloca no contexto religioso é o “tipo” de evangélico/a que lá está. O mínimo que se espera de um/a cristão/cristã na política é que respeite a Constituição, o que não tem se dado, de forma bem explícita, neste governo.
Nomeações como a do ex-reitor da Universidade Mackenzie, o presbiteriano Benedito Guimarães Aguiar, para a CAPES em 24 de janeiro deste ano, e agora, Ricardo Dias Lopes para FUNAI, revelam a plena coalizão do governo com a religião, fazendo dela a bandeira que rege a desordem e o desprogresso que o Brasil vem enfrentando neste último ano. Lopes já foi missionário em aldeias indígenas e agora, por meio de manobra, o que intensifica ainda mais o equívoco de sua nomeação, é indicado para um cargo que requer a maior imparcialidade religiosa possível, pois o departamento irá coordenar os índios isolados e de recente contato da Funai, que tem como principal atribuição proteger esses povos e não expô-los a nenhum tipo de evangelização.
Para esclarecer a nomeação do ex-missionário Ricardo Dias Lopes, entrevistei um ex-servidor da FUNAI, que pediu para não se identificar devido o cenário de perseguição que se instalou na Fundação na última semana.
O entrevistado é um antropólogo que tem mais de 10 anos de experiência com questões indigenistas.
ENTREVISTA
1- Como ex-servidor da FUNAI, como o senhor vê a nomeação de Ricardo Lopes Dias para a coordenação de índios isolados?
É importante destacar a total incompatibilidade entre a atividade missionária e a coordenação da política de proteção aos povos indígenas em isolamento voluntário e povos de recente contato. Conforme o próprio declarou, o objetivo de vida dele era a criação do que ele chama de “igreja autóctone” em cada povo indígena. Com esse objetivo o missionário vai contra os standards internacionais dos direitos humanos e dos direitos específicos dos povos indígenas, que afirmam o direito à autodeterminação sobre suas vidas e seus territórios bem como afirma o direito dos povos indígenas à consulta livre, prévia e informada sobre todas as ações que possam impactá-los.
2 – O senhor acha que esta nomeação de Lopes fere a política laica para com os povos indígenas? Sendo que as políticas de proteção territorial da Funai, voltada para os índios isolados, é reconhecida como um exemplo pioneiro no mundo.
Os objetivos do missionário ferem a Constituição Federal de 1988 ao ir contra as garantias estabelecidas na Carta Magna em relação ao respeito ao direito dos povos indígenas, sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições (artigo 231 da CF de 1988). No caso dos povos indígenas em isolamento voluntário, o anseio de Ricardo Lopes é ainda mais grave, porque, ao defender a ação missionária nas terras indígenas ele vai contra os princípios e a política de respeitar e garantir que esses povos vivam de forma autônoma dentro do seu território, protegidos pelas ações desenvolvidas pelas frentes de proteção etno-ambientais da FUNAI, que desenvolvem um trabalho exemplar em defesa da autodeterminação e autonomia dos povos em isolamento voluntário. O Estado brasileiro ao longo do último século passou por várias políticas em relação aos indígenas não contactados até compreender que a melhor forma de respeitar a autonomia e os modos de vida desses povos é garantindo que eles tenham autonomia em realizar o contato ou não.
3-A relatora da ONU para o direito dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, criticou a decisão do governo brasileiro de nomear um evangélico para o cargo na FUNAI. Ela afirmou que “é uma decisão perigosa e que pode ter o potencial de gerar um genocídio para a população de indígenas isolados”. O senhor concorda com essa afirmação?
O trabalho missionário, independente do discurso, da intensão alegada, é uma violência contra esses povos ao tentar impor uma religião específica a eles. É necessário destacar que a ação missionária é invasiva e traz riscos muito sér[ios para os indígenas, inclusive do ponto de vista da saúde, tendo em vista possíveis contágios e vírus decorrentes do contato. Isso ocorreu dezenas de vezes no Brasil, com genocídios provocados por contatos desastrosos e, muitas vezes, criminosos. Importante afirmar que essas populações em isolamento voluntário não estão alheias à realidade a sua volta. Eles optam pelo isolamento muitas vezes por terem passado por experiências traumáticas em relação ao contato com a sociedade nacional. Contato que muitas vezes causou centenas e centenas de morte de Indígenas. É uma opção que deve ser fortemente respeitada.
4 – O estado brasileiro tem a responsabilidade de garantir a proteção integral dos povos indígenas. O senhor acha que este governo tem essa pauta como prioritária?
Fica muito claro nas entrevistas do Ricardo Lopes que ele não está assumindo o cargo para trabalhar na política de proteção e promoção dos direitos indígenas e sim na defesa de uma agenda que a muito tempo eles buscam impor a esses povos. Trata-se de algo totalmente invasivo e vai contra os princípios da liberdade religiosa na medida em que esses missionários promovem proselitismo religioso. Acredito que essa nomeação é um retrocesso de décadas em relação à laicidade do Estado brasileiro e da política indigenista. Cabe lembrar que faz bastante tempo que as organizações de missionários cristãs buscam acessar esses territórios e sempre se ressentiram do trabalho realizado pela Funai na proteção etno-ambiental dos territórios indígenas.
A Missão Novas Tribos, da qual esse senhor participa, tem uma longa história com os povos em isolamento e de recente contato, com inúmeros casos de desrespeito e violência contra os povos indígenas. Uma outra questão a considerar é a total falta de experiência desse senhor em relação à política indigenista. A Funai tem um corpo de funcionários concursados e com longa experiência de trabalho com os povos indígenas. A política hoje é de perseguição a esses funcionários e a colocação de pessoas sem experiência e vivência indigenistas. Pessoas que estão entrando na Funai com uma agenda totalmente contrária aos princípios norteadores da ação indigenista do Estado brasileiro.
5 – Para o senhor, em que princípios a Funai deveria se pautar para escolher o coordenador ou coordenadora para o departamento de índios isolados?
Um pressuposto da vaga de Coordenador-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato era ser servidor da FUNAI. Por isso o cargo foi mudado para permitir a nomeação desse senhor. Foi retirada a exigência e transformou em cargo de livre nomeação. Foi uma manobra capitaneada pelo Delegado da Polícia Federal que está a frente da Funai ultimamente. Ele mesmo não tinha nenhuma experiência de trabalho com povos indígenas e foi colocado justamente para garantir a agenda do governo Bolsonaro de desconstrução dos direitos dos povos indígenas.
Assim, não é possível pensar essa nomeação de forma isolada. Faz parte de uma agenda que busca a flexibilização dos direitos indígenas, de forma a interromper os processos de reconhecimento territorial em curso e possibilitar a exploração econômica dos territórios indígenas. A integração defendida pelo Governo Bolsonaro nada mais é do que a tentativa de acessar os recursos naturais e ambientais das terras indígenas e explorar de forma predatória sem respeitar os direitos dos povos indígenas em relação à autodeterminação, autonomia, direito de consulta e de usufruto exclusivo dos territórios. Temos um sério risco de um genocídio dos povos indígenas no Brasil. Algo que já foi vivenciado muitas vezes pelos povos indígenas, como registrado. É desconsiderar toda a história da política indigenista no Brasil. A FUNAI registra, hoje, 107 grupos de povos indígenas em isolamento voluntário.
Já vimos a ampliação das ações de invasão dos territórios indígenas por frentes de exploração econômica que hoje avaliam que estão com a carta branca do Governo Bolsonaro para explorarem ilegalmente os territórios tradicionais dos povos indígenas. Não podemos ver essa nomeação de forma isolada. É a colocação de pessoas estratégicas na Funai para fazer o desmonte por dentro, paralisando políticas, perseguindo servidores, rompendo o diálogo com o movimento indígena, perseguindo lideranças, sufocando as coordenações regionais da FUNAI. Então, por mais que esse senhor fale da defesa dos indígenas, não pode negar o fato de que ele faz parte de um grupo que ocupa hoje a FUNAI para acabar com a política de proteção e promoção dos direitos indígenas. Acompanha essa invasão da FUNAI um amplo esforço de mudança normativa para permitir a exploração econômica dos territórios indígenas, como ocorreu essa semana no projeto de lei de mineração e exploração hídrica em terras indígenas sem respeitar o direito de autodeterminação e o direito à consulta livre, prévia e informada. Há pressão para descontrair as políticas de cidadania.
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O chamado crítico do CONIC precisa ser assumido por todos que defendem o Estado laico como princípio constitucional fundamental para o Estado Democrático de Direito: “A concepção evangelizadora que acompanha uma política pública deve ser isenta de toda e qualquer lógica religiosa. Povos indígenas têm um patrimônio cultural e espiritual próprios. É dever do Estado protegê-los e garantir a sua preservação”.
Na última segunda, 27, Bereia recebeu um pedido de checagem sobre uma foto do ônibus do novo partido de Bolsonaro – Aliança do Brasil, dentro do estacionamento da Igreja Presbiteriana Central de Londrina.
Após publicar checagem, afirmando sua veracidade, Bereia entrevistou o advogado e professor de Direito Eleitoral, Guilherme Gonçalves, e o sociólogo Paul Freston, professor de religião e politica na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá
APOIAMENTO DENTRO DE IGREJA É LEGAL?
O advogado Guilherme Gonçalves, que também é membro fundador da ABRADEP – Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político e ex-presidente do IPRADE – Instituto Paranaense de Direito Eleitoral, esclareceu que o apoiamento é algo lícito do ponto de vista estritamente jurídico, mas da ótica moral, é algo discutível. .
Bereia – Há algum tipo de irregularidade por parte do líder religioso em coletar assinaturas dentro da igreja?
Guilherme Gonçalves – Do ponto de vista jurídico, especificamente sobre a ótica da validade ou não desta forma de colher assinaturas, de fato, não há nada que proíba o pastor de fazer esse movimento. No limite, do ponto de vista estritamente jurídico, o que poderia acontecer seria, dependendo de um contexto, alguns fiéis se sentissem constrangidos a assinar o apoiamento e depois revelassem terem se sentido coagidos e retirassem a assinatura do apoiamento. Isso, eventualmente podia gerar uma desistência de apoiamentos que poderia invalidar essas assinaturas e, consequentemente, influenciar no atingimento dessa premissa para obtenção do registro do partido que está sendo liderado pelo presidente Bolsonaro. O apoiamento, do ponto de vista eleitoral não é ilegal, ainda que se possa discutir se isso é moralmente correto. Se é possível fazer esse uso da igreja para essa finalidade.
Para tirar o Aliança do papel, Bolsonaro precisa de aproximadamente 492 mil assinaturas em apoio à criação da legenda. O processo precisa ser validado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 4 de abril, caso participem das aleições deste ano
RELIGIÃO E POLÍTICA, SIM; IGREJA E ESTADO, NÃO.
A nossa equipe também entrevistou o sociólogo anglo-brasileiro Paul Freston, professor de religião e política na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá. Freston também é autor do livro: ‘Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não’, publicado pela Editora Ultimato.
Bereia – Como o senhor enxerga o discurso político/partidário dentro da igreja por meio de lideranças evangélicas?
Paul Freston – Uma igreja defender determinado candidato ou determinado partido é deplorável, independentemente do candidato ou partido. É questão de princípios e não de preferência ideológica. A igreja enquanto instituição (seja congregação local ou denominação nacional), e sobretudo os pastores, devem ficar distantes dos embates partidários. Isso não é só para o bem do país; em primeiro lugar, é para o bem da igreja e do evangelho. É para preservar a autoridade pastoral, para não deixar que o discurso religioso, baseado na Bíblia, se contagie com contingências partidárias volúveis e incertas. O pastor que mobiliza a sua igreja em função da viabilização de determinado partido está pondo em perigo a autoridade do seu discurso religioso, rebaixando-o ao nível de seus compromissos políticos pessoais. Isso já é ruim; e pior ainda, se houver alguma recompensa pelo apoio prestado. Devemos ter um cuidado em não absolutizar nossas posições políticas. Como se diz, “a política é a arte do possível”. Portanto, pode-se concordar sobre certos princípios bíblicos acerca do que deve ser feito, mas deve-se pensar no que é possível ser feito hoje no Brasil. Além disso, há muita distância entre a Bíblia e a sociedade de hoje. Não devemos tratar a Bíblia como uma receita política pronta para ser implementada hoje. Isso é ridículo. Não podemos ter o mesmo grau de certeza das nossas posições políticas quanto temos sobre as doutrinas da salvação e o cultivo das virtudes cristãs.
Bereia – Qual o problema ético/teológico de se fazer campanha para um determinado partido dentro da igreja?
Paul Freston – Acredito, como o grande sociólogo Tocqueville no começo do século XIX, que o cristianismo tem papel importantíssimo na era democrática, mas somente quando está na relação certa com a política democrática (separado do estado e do partidarismo, mantendo o clero longe das disputas eleitorais, mas fundamentando a atividade política). É extremamente importante defender a pluralidade política cristã. Como alguém que estuda e gosta de conversar sobre política, eu tenho as minhas próprias opiniões e, às vezes, gostaria que todo mundo pensasse igual a mim. Mas reconheço que isso nunca acontecerá; e, no fundo, nem quero isso, porque defendo, como algo não só inevitável, mas desejável, a pluralidade política da comunidade cristã. Isso não significa abdicar do debate político sério e intenso; mas significa defender o direito das pessoas discordarem. A pluralidade política da comunidade cristã é fundamental e quando se tenta abolir essa pluralidade quem sai perdendo é a própria igreja, e quem se danifica aos olhos da sociedade é a própria fé. Se internamente devemos defender o direito à discordância política, externamente devemos conscientizar a sociedade a respeito da existência dessa diversidade, contestando aqueles líderes eclesiásticos oportunistas que dizem o contrário. Boa parte da sociedade tem a impressão de que “todos os evangélicos são eleitores de fulano” e que “na política os evangélicos só se preocupam com tais e tais questões”. Combater essa ideia errônea é importante por várias razões, inclusive porque a impressão de falta de diversidade política no meio evangélico impede o crescimento numérico das igrejas, principalmente em certos meios sociais. A comunidade cristã deve dar exemplo para a sociedade de como lidar com a diversidade. Não seria bom que a sociedade olhasse para as igrejas e pensasse: “vocês todos pensam igual”; mas que olhasse e dissesse: “vocês discordam politicamente uns dos outros tanto quanto nós, mas vocês conseguem lidar melhor com isso do que a gente”. Se a igreja pudesse dar exemplo nesse sentido, seria um testemunho forte para a sociedade. Podemos pensar, por exemplo, no papel das igrejas, tanto em épocas eleitorais como fora das épocas eleitorais. Um elemento nisso é o ensino consistente das dimensões políticas do discipulado. Além disso, a igreja não deve se comprometer com candidaturas, nem se envolver na disputa partidária. Mas algo que a igreja pode fazer, e que seria um exemplo para a sociedade, é promover debates sérios com representantes de todas as candidaturas, sejam de dentro da igreja, de outras comunidades cristãs ou de fora, mas representantes sérios expondo os melhores argumentos dos seus candidatos, em um ambiente de seriedade e de paixão, mas também de respeito e paciência para ouvir o outro, numa postura de “eu acho que eu tenho razão, mas preciso ao menos ouvir os melhores argumentos do outro lado, tentar ver o mundo através dos olhos do outro, entender por que o outro vota diferentemente de mim”.
Em nota, via Facebook, a Igreja Presbiteriana do Brasil, se posicionou a respeito do caso:
Circula nas redes, desde segunda, 27, uma foto de um ônibus do novo partido de Jair Bolsonaro – Aliança pelo Brasil, estacionado no pátio da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, no Paraná.
Indagado por leitores sobre a veracidade da imagem, Bereia checou a informação e verificou que , de fato, a equipe do novo partido esteve na Igreja Presbiteriana Central de Londrina, no último domingo, 26, para coletar assinaturas dos membros da igreja.
No áudio ao lado, você confere a fala do Pastor Emerson Patriota convocando a Igreja a fazer um “apoiamento” ao novo partido.
O vídeo original foi delatado do canal da IPB Central de Londrina após denúncias.
Leia a fala do Pastor Emerson Patriota na íntegra:
“Vocês viram um grande ônibus estacionado ali no nosso estacionamento escrito Aliança pelo Brasil? você viu ou não? está meio escuro mas tenho certeza que você viu. Esse ônibus, nós estamos fazendo um apoio a essa…esse movimento que está tendo no Brasil pra formação desse partido político. Não é filiação ao partido, porque o partido ainda não existe – Aliança pelo Brasil – encabeçado pelo nosso presidente, Jair Messias Bolsonaro, e também você sabe que nós temos aqui conosco, o discípulo da nossa igreja, o deputado federal Filipe Barros, toda sua família são discípulos, frequentam nossa igreja, estão firmes aqui, servem a nossa igreja. Felipe Barros nós assumimos o compromisso como igreja, você estava aqui, de orar por ele, de orar pela sua missão. Ele tem uma missão naquele local. É realmente muita luta, trevas contra a luz de Cristo. Nós temos que cubrí-lo com oração. Ele tem feito um trabalho maravilhoso, defendendo a família, e esse partido, esse futuro partido, nós temos profetizado aí, precisa de algo que chama apoiamento, não é filiação, é apoiamento. Sem um número suficiente de apoiamentos, esse partido não se cria, e nós estamos aqui trazendo esse partido, esse futuro partido pra que possa fazer isso – viabilizar apoiadores. Então eles estão ali, na saída do Centro de Adoração…nós temos uma edificação, que é o espaço mulher, onde a SAF, as nossas mulheres servem todos os dias da semana. E nós montamos ali um local, espaço, para que você possa no final do culto passar por lá, conhecer mais os valores desse futuro partido, e você possa fazer seu apoiamento. Inclusive nós temos aqui o pessoal do cartório pra facilitar todo esse processo, porque tem que ser firma reconhecida, aquela coisa toda. Eles já estão aqui para nos abençoar, então você, no final, nós estamos desafiando você, todos passarem lá, conhecerem o estatuto, os valores. Na verdade, eu estava conversando com algumas pessoas e disseram que é mais difícil entrar nesse partido do que em alguns igrejas por aí….sabe, tem que ter mais vida idônea rs, do que algumas igrejas exigem. Isso é muito bom, porque tem valores familiares. Não é filiação, preste atenção, é apoiamento. Eu queria muito que você no final desse culto você pudesse ir lá prestigiar e realmente orar por isso tudo que tem acontecido na vida do Brasil. Nós cremos numa restauração, nós cremos numa mão poderosa do Senhor, como Deus tem nos abençoado, e nós igreja central temos o compromisso de orar pela nação. Você tem orado pelo Brasil? cê tem orado pelo Brasil? amém? tem orado? não fique só na oração que nós fazemos aqui nos nossos cultos não. Ore na sua casa, junte sua família, ore pelo Brasil, pela nossa nação. Nós amamos o Brasil, e nós temos o compromisso como cristãos de orar e interceder pela nossa nação, pela reestruturação, realmente, pelo crescimento em todas as áreas do Brasil pra glória do Senhor Jesus Cristo.”
O Deputado Federal, Marco Feliciano, continua afirmando que o “kit gay” existiu. A nossa equipe, mais uma vez, tenta desmentir essa falsa notícia publicada desde 2011, e compartilhada até os dias de hoje como verdade.
Foi em 2012 que o deputado começou a falar em Kit Gay. Logo, o argumento de que a esquerda queria transformar crianças em homossexuais começou a circular nas mídias sociais e virou uma “palavra de ordem” nos discursos e estratégias políticas da ala mais conservadora. Mas existiu mesmo um Kit Gay, distribuído nas escolas?
Bereia fez uma chegagem em dezembro de 2019 e verificou que o “Kit gay” foi o apelido dado por deputados federais conservadores ao material do projeto “Escola sem Homofobia”, campanha lançada em 2004 no governo Lula, denominada “Brasil sem Homofobia”, aprovada no Congresso Nacional. O programa de combate à homofobia foi lançado para combater o bullying, e fez parte de uma orientação aos educadores como política de inclusão social.
A cartilha explicava conceitos como gênero e sexualidade e sugeria atividades em sala de aula para os alunos refletirem sobre temas como comportamento preconceituoso ou analisarem, por exemplo, expressões sexistas na língua portuguesa. Também havia sugestão de materiais audiovisuais para a sala de aula. Organizado por profissionais de educação, gestores e representantes da sociedade civil, o material era composto de um caderno, uma série de seis boletins, cartaz, cartas de apresentação para os gestores e educadores e três vídeos.
O Ministério da Educação, no entanto, cedeu às pressões das bancadas religiosas do Congresso Nacional e setores conservadores da sociedade, e suspendeu a distribuição do material antes dele ser, de fato, enviado aos professores.
Uma análise do material engavetado, foi feito pelo site “Nova Escola” e pode ser acessado aqui.
Histórico:
2005 – MEC financia projetos de capacitação para diversidade sexual 2006 – MEC cria grupo de trabalho para discutir a homofobia 2011 – Projeto “Escola sem homofobia” – MEC: kit anti-homofobia seria entregue aos educadores. 2011 – Lincoln Portela (PR-MG) inicia pressão contra kit-gay 25 maio 2011 – Rádio Câmara anuncia que “Deputados católicos e evangélicos pressionam a iniciativa e governo suspende kit anti-homofobia
Referências de Checagem:
Twitter Marco Feliciano. Disponível em: https://twitter.com/marcofeliciano/status/1214675718396948485?s=19
Leia a transcrição da entrevista de Marco Feliciano à Folha e ao UOL. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/04/02/leia-a-transcricao-da-entrevista-de-marco-feliciano-a-folha-e-ao-uol.htm
Não há dúvida: a existência de um “kit gay” organizado por Fernando Haddad é falsa. Disponível em: https://coletivobereia.com.br/nao-ha-duvida-a-existencia-de-um-kit-gay-organizado-por-fernando-haddad-e-falsa/
O portal Gospel Prime anunciou na última terça, 17, que Jair Messias Bolsonaro havia “aceitado Jesus” durante culto de ação de graças realizado pela Frente Parlamentar Evangélica no Palácio do Planalto, em Brasília. A notícia viralizou nas principais mídias sociais depois de algumas horas. Bereia recebeu inúmeros pedidos de checagem e decidiu verificar a autenticidade da matéria.
Bolsonaro “aceitou a Jesus?”
A pedido do Bereia, a assessoria da Presidência
enviou por e-mail o conteúdo da fala de Bolsonaro no culto de ação de graças
realizado no Palácio do Planalto. Um
trecho contém a afirmação:
“A todos vocês, nesse momento, é motivo de honra, de
orgulho e de satisfação vê-los, juntamente comigo, publicamente, aceitando
Jesus nessa Casa, que estava carente da Sua Palavra”.
Para muitos evangélicos, a afirmação veio como uma “nova
conversão”, já que uma primeira teria se dado no Rio Jordão, em 2016, quando Bolsonaro
foi batizado pelo pastor assembleiano Everaldo Dias Pereira.
Bereia checou a trajetória de Jair Messias Bolsonaro, no tocante a religião, ao longo dos seus 65 anos e verificou que há muitas ambiguidades.
Início da caminhada
Bolsonaro é um ítalo-brasileiro, criado no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. A região foi estruturada a partir de vários grupos étnicos, dentre eles os italianos. As colônias italianas são marcadas pela religiosidade popular católico-romana, pela agricultura tradicional e por fortes laços familiares. Bolsonaro nasceu neste cenário, em março de 1955, no povoado de Glicério, fundado pela família italiana de Castillho. A torcida pelo Palestra Itália (atual Palmeiras) e a festa de Nossa Senhora de Aparecida são especialmente importantes para a colônia ítalo-brasileira e seus descendentes.
Em 1966,
ainda criança, mudou-se com a família para Eldorado, uma das regiões mais
pobres de São Paulo e com forte predominância católica, 80% de sua população. Aos
18 anos deu início à carreira militar, da qual se aposentou aos 33 anos devido a
eleição de 88, da qual elegeu-se como vereador do Rio de Janeiro.
Durante sua caminhada no exército, não se envolveu e nem participou de nenhuma Associação de Oficiais Cristãos .
Primeiros passos na carreira política
Em 1988 Bolsonaro foi eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Seu mandato foi discreto e pouco participativo, usado principalmente para dar visibilidade às causas militares. Manteve-se, nessa época, distante da Frente Parlamentar Evangélica. Ainda pelo PDC, elegeu-se como deputado federal em 1990, também pelo Rio de Janeiro. Nos anos seguintes conseguiu se reeleger como Federal transitando por 8 partidos – PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL.
Gostaria de saber se o deputado segue algum tipo de religião. Suzana Marques, RJBolsonaro: “Acredito em Deus, essa é a minha religião. Sou um católico que, por 10 anos, frequentou a Igreja Batista”.
Casamento
Em 2013, Jair Messias Bolsonaro, católico, consolidou um terceiro casamento, este com Michelle de Paula Firmo Reinaldo, evangélica, por meio de cerimônia religiosa realizada pelo pastor Silas Malafaia, da Igreja Vitória em Cristo. Michelle foi membro da igreja de Malafaia até 2016, depois passou a frequentar a Igreja Batista Atitude em 2018, localizada na Barra da Tijuca, no Rio. A primeira-dama desenvolve naquela igreja, até hoje, projetos sociais com surdos.
Rumo à Presidência / Parte 1
Em março de 2016 Bolsonaro filiou-se ao Partido Social Cristão (PSC), do qual foi apresentado como pré-candidato à Presidência da República para 2018, inclusive pelo presidente nacional do partido, Pastor Everaldo, o mesmo que iria batizá-lo posteriormente no Rio Jordão.
“Recebo a indicação como pré-candidato à Presidência da
República pelo PSC como missão. Vamos afinar o discurso, mas pode ter certeza
que o direcionamento será para a direita”, disse Bolsonaro.
No evento de filiação, as bancadas evangélica e da bala prestigiaram a admissão de Bolsonaro ao novo partido.
Desde 2013 Bolsonaro já vinha se aproximando de Feliciano (PSC-RJ), e também do senador Magno Malta (PL-ES), defensores de pautas e alianças políticas.
PSC e Pastor
Everaldo
O PSC era historicamente um “partido de aluguel” e, a partir de 2003 foi ocupado pela Assembleia de Deus, em certa concorrência com a Igreja Universal do Reino de Deus, que havia ocupado o PRB (Partido Republicano do Brasil). A partir daí passou a mobilizar a pauta conservadora. A fórmula, “conservador nos costumes e liberal na economia” passou a definir a legenda e seus candidatos.
O atual
presidente do PSC, Everaldo Dias Pereira, registrado na política como “Pastor
Everaldo”, é oriundo da Assembleia de Deus – por meio da qual entrou na
política, tendo exercido o cargo de Secretário da Casa Civil (1999 – 2002) no
Governo de Anthony Garotinho (PDT).
A conexão entre os evangélicos e a política foi potencializada com a formação da bancada evangélica no Congresso Nacional em 1986, consolidada ao longo das décadas seguintes com força maior entre pentecostais, especialmente políticos ligados à Assembleia de Deus e à Universal do Reino de Deus. A eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Câmara Federal em 2015-2016 foi o resultado da potencialização deste poder.
Bolsonaro e o Batismo no Rio Jordão
Após
filiar-se ao PSC, em março de 2016, Jair Bolsonaro foi batizado dois meses
depois, no dia 12 de maio de 2016, no Rio Jordão, em Israel, pelo Pastor
Everaldo. O ato
foi realizado enquanto acontecia o impeachment de Dilma no Senado.
“Bolsonaro não é evangélico. O batismo não significa que ele se tornou um, aquilo tinha o objetivo simples, de ventilar nas redes/mídias sociais uma aproximação simbólica com o meio evangélico.”
Rumo à Presidência – Parte 2
Em 2017 Bolsonaro começa a movimentação para conseguir uma legenda que permitisse sua candidatura à Presidência da República em 2018. Houve o rompimento com o PSC naquele ano por vários motivos. Uma delas foi a aliança que o partido fechou com o PCdoB no Maranhão nas eleições municipais de outubro de 2016. Bolsonaro não admitia que o PSC apoiasse legendas relacionadas a “comunismo” ou à esquerda. A aliança comuno-cristã em São Luiz possibilitou a eleição de três vereadores comunistas e um evangélico. O ex-capitão considerava que o programa político do PCdoB, que defende bandeiras como a descriminalização do aborto e do consumo de maconha e apoia o casamento gay, seriam incompatíveis com o que o PSC prega.
Outro problema com o PSC tem relação com a campanha do filho Flávio, deputado estadual e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016. Bolsonaro foi repreendido pelo pastor Everaldo porque recusou, aos gritos, a ajuda da deputada Jandira Feghalli (PCdoB), que é médica, quando Flávio desmaiou durante um debate na TV e a concorrente foi ajudá-lo. A repreensão de Everaldo irritou Bolsonaro.
Um terceiro desentendimento entre o deputado e o PSC ocorreu quando ele gravou um vídeo recusando as doações, em dinheiro, para a campanha do filho no Rio de Janeiro, pedidas pelo partido. A direção da legenda se queixou que o parlamentar não aceita orientação partidária, não gosta de trabalhar em conjunto e é considerado personalista. Bolsonaro avisou que pretendia criar um sistema pessoal de arrecadação para a campanha, o que é proibido por lei, e ao qual PSC é contra.
A simpatia dos evangélicos sempre foi alvo de Bolsonaro. Ao lado da esposa evangélica e com o apoio das principais lideranças religiosas do Brasil – Silas Malafaia (Vitória em Cristo), Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus) e José Wellington Bezerra da Costa (Ministério Belém, da Assembleia de Deus), ancorava sua candidatura.
Decidiu por um slogan cristão em sua campanha presidencial – “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, confrontando o Estado Laico, e defendeu pautas conservadoras para conquistar seu eleitorado – 40 milhões de fiéis em todo o país.
Para os pesquisadores na área da Religião, Ana Keila Mosca Pinezie Andrew Chesnut,“Bolsonaro toca o arsenal simbólico não só de evangélicos, mas de cristãos católicos que o reconhecem como a melhor e única saída para as mazelas do país, ou seja, estabelece-se uma relação entre a figura do candidato e o forte messianismo do catolicismo popular e evangélico do pentecostalismo. É importante lembrar que católicos e evangélicos uniram-se à bancada evangélica, na Câmara dos Deputados, em uma só voz contra pautas relacionadas à descriminalização do aborto e o casamento gay.”
Bolsonaro,
Presidente católico, mas politicamente evangélico
Após vitória nas urnas, em novembro de 2018, Bolsonaro concedeu entrevista à TV Aparecida à qual afirma que é católico,apostando assim na “ambiguidade religiosa”.
Em maio de 2019, o país foi “consagrado ao Coração de Maria”. Na celebração, realizada no Salão Leste do Palácio do Planalto, o presidente assinou o ato de consagração do Brasil, que foi “um pedido da Frente Parlamentar Católica”, representada pelo Deputado Eros Biondini (PROS-MG).
Nesta checagem Bereia analisou a trajetória de Jair Messias Bolsonaro e suas relações com o contexto evangélico, ao qual pertence o ato simbólico de adesão denominado “aceitar Jesus”. Conclui-se que Bolsonaro tem uma postura política-eclesiástica muito irregular e ambígua.
Oficialmente, o perfil religioso do presidente anuncia sua vinculação ao catolicismo, porém, politicamente, acena para os evangélicos.
Em contato com a assessoria da Presidência da República na última quinta, 19, Bereia perguntou sobre a religião de Bolsonaro. Em resposta, a assessoria afirmou que não comenta sobre a religião do Presidente, mantendo, oficialmente, a posição de ambiguidade.
Bereia classifica, portanto, a matéria publicada pelo site Gospel Prime sobre a “conversão de Bolsonaro” como imprecisa, pois o texto não inclui a “aceitação a Jesus”, tornada pública no ato de batismo no Rio Jordão em 2016. A matéria faz uso, apenas, de uma frase do discurso do Presidente no culto realizado no Palácio do Planalto. Até o presente momento, Jair Bolsonaro não comprovou adesão a uma denominação evangélica.
Pastor Everaldo recebeu R$ 6 milhões para favorecer Aécio,
diz Odebrecht. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/pastor-everaldo-recebeu-6-milhoes-para-favorecer-aecio-diz-odebrecht-21210969
Bolsonaro deixará o PSC e negocia candidatura ao Planalto por outro partido. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/bolsonaro-deixara-o-psc-e-negocia-candidatura-ao-planalto-por-outro-partido/
Bolsonaro rompe com Pastor Everaldo e vai disputar eleição por outro partido. Disponível em: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/11/bolsonaro-rompe-pastor-everaldo-eleicao-outro-partido.html
Sou católico e não vou acabar com o feriado de 12 de Outubro, diz Bolsonaro em entrevista. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FC5LvU98-pg
Bolsonaro junto com Dom Rifan fará um ato de consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria. Disponível em: https://www.tercalivre.com.br/bolsonaro-junto-com-dom-rifan-fara-um-ato-de-consagracao-do-brasil-ao-imaculado-coracao-de-maria/
O ministro da educação, Abraham Weintraub, voltou a associar as Universidades Federais ao plantio de maconha, falando à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados na última quarta, 11 de dezembro. Weintraub disse que “há plantações de maconha e produção de drogas sintéticas nas universidades federais brasileiras“.
As acusações foram feitas sem novas provas e com base em reportagens que já haviam sido apuradas pela polícia. O ministro foi convocado para explicar as mesmas acusações que repetiu, feitas inicialmente em entrevista ao Jornal Cidade Online no dia 21 de novembro. Weintraub ainda disse que o Brasil está vivendo “a maior revolução na área de ensino” e que “o símbolo máximo é que sai o kit gay, e entra livros para as crianças lerem com os pais”.
Bereia checou as afirmativas do
ministro à Comissão. Confira:
“Há plantações de maconha e produção de drogas sintéticas nas universidades federais brasileiras.” (confira o vídeo aqui)
Para o ministro, vídeos no youtube e reportagens de emissoras como Globo e Record, servem de evidências. Porém, as matérias mostram casos já conhecidos. Um deles é sobre a operação policial de 2017 em uma área vizinha da Universidade de Brasília (UnB). A Universidade já esclareceu que houve uma sindicância interna para a apuração de responsabilidades. Em nota oficial, repudiou a associação – “no processo, foi confirmado, por meio de um parecer técnico, que o local da apreensão não pertence à Universidade”, diz o comunicado. Ainda, segundo a instituição, os alunos acusados foram absolvidos da culpa.
Enquanto Weintraub promovia desinformação e difamação na convocatória, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou, em 12 de dezembro, o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) 2018. Os indicadores são produzidos a partir dos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Os resultados falam por si. Contrariando o Ministro, o próprio MEC constatou que as Universidades Federais lideram o ranking das melhores escolas superiores do país.
Weintraub ainda afirmou que o Brasil tem vivido uma revolução na área do ensino.“Eu adoraria ser convidado para falar sobre o que eu fiz, o que o MEC fez, que é a maior revolução na área de ensino do Brasil nos últimos 20 anos. Nós estamos vivendo isso”, e ainda disse que “o símbolo máximo (da revolução) é que sai o ‘kit gay’ e entra livro para as crianças lerem com os pais”.
A fala do ministro apenas reforça a ideia de que um suposto “kit gay” existiu e foi entregue nas escolas. Esta notícia falsa começou a ser amplamente divulgada em 2018, quando o candidato e hoje presidente, Jair Bolsonaro, afirmou em rede nacional que o livro “Aparelho Sexual e Cia”, escrito por Hélène Bruner, fez parte de um “kit gay” distribuído nas escolas brasileiras.
Na época, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Horbach, determinou a suspensão de links de sites e mídias sociais com a expressão “kit gay” usados pela campanha de Jair Bolsonaro (PSL) para atacar o candidato do PT, Fernando Haddad.
Confira aqui a checagem completa que Bereia produziu sobre o “kit gay”.
Weintraub repete acusações contra universidades com base em
reportagens. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/ministro-da-educacao-repete-que-ha-plantacoes-de-maconha-nas-universidades/
Ministro do TSE determina retirada de fake news contra candidato
Fernando Haddad. Disponível em: http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/ministro-do-tse-determina-retirada-de-fake-news-contra-candidato-fernando-haddad
A matéria publicada pela Revista Fórum no dia 20 de novembro intitulada “Neopentecostais torturam índios por questões religiosas no Mato Grosso do Sul” continua sendo compartilhada nas mídias sociais com um certo sobressalto por parte dos internautas. Bereia checou a notícia e verificou que as informações são verdadeiras
O texto relata o cenário vivido pelos índios/as guarani-kaiowá em suas aldeias durante um ataque religioso por parte de algumas igrejas neopentecostais da região.
Entende-se aqui por neopentecostais as igrejas que “foram geradas no âmbito do pentecostalismo e com uma série de elementos comuns a este. As principais características desta terceira onda são: exacerbação do tema da guerra espiritual, ênfase da pregação da prosperidade material, liberalização de estereótipos, usos e costumes e estruturação empresarial”, explica o professor de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, Ricardo Mariano.
Segundo a matéria, os indígenas convertidos à teologia destas igrejas e empoderados como missionários em uma nova missão, tentaram cristianizar os seus próprios conterrâneos por meio de uma religião que demoniza a própria cultura indígena.
Bereia conversou com o missionário Fábio Ribas, da missão Kaiowá – Dourados/MS, sobre a situação. Ele afirmou que é verdade todo o cenário de manipulação religiosa.
Confira a fala de Fábio Ribas, na
íntegra.
“Realmente aconteceu. Aqui na região há muitas igrejas neopentecostais causando muita confusão, até porque, muitas pessoas que entram na área dos Kaiowá não têm preparo transcultural nenhum, não tem conhecimento da cultura da região e chegam com aquela história de poder. Na verdade, o indígena faz a seguinte leitura – na minha cultura tem o pajé que é um homem de poder, então, Jesus Cristo está trazendo um outro pajé, que é o pastor. É a troca de um poder pelo outro. Há muita confusão, muito sincretismo. A denúncia já foi encaminhada para a Funai. Reuniões já estão acontecendo entre os Guarani Kaiowá, e eles têm pedido a retirada dessas igrejas neopentecostais, pois elas chegam, levantam o templo, falam de dízimo sem respeito nenhum pela cultura.”
Fábio Ribas
No Facebook de Jaqueline Gonçalves, que é Guarani Kaiowá e membra do Grupo Assessor da Sociedade Civil Brasil da ONU Mulheres, Bereia encontrou a seguinte declaração:
Bereia vai continuar acompanhando o caso para identificar quais igrejas estão, de fato, envolvidas. Até o momento ainda não há dados sobre quais denominações fizeram parte da tortura religiosa.
Referências de Checagem:
Neopentecostais torturam índios por questões religiosas no Mato Grosso do Sul https://revistaforum.com.br/noticias/neopentecostais-torturam-indios-por-questoes-religiosas-no-mato-grosso-do-sul/
A ministra Damares
Alves propôs em suas redes sociais, no último sábado, 30, um “detox digital” como
desafio para o Dia Nacional da Família, que será celebrado no próximo domingo, 8.
O objetivo da proposta, segundo a ministra, é alertar a população para os
riscos do uso excessivo da tecnologia e “reconectar” as famílias do Brasil.
A iniciativa faz parte do Programa Reconecta, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, lançado oficialmente no início de julho, e que tem como pauta principal “fornecer acesso mais amplo ao conhecimento cientifico às famílias e à população em geral, a respeito do uso de recursos tecnológicos de maneira inteligente, abordando aspectos sociais, educacionais, e de saúde física e psíquica, visando assim a aquisição de uma maior consciência sobre consequências do uso tecnológico”.
A
ministra Damares convocou, por meio de vídeo postado em seu twitter, o presidente Jair
Bolsonaro, a primeira dama, Michelle, e os ministros a não usarem o celular durante
as 24 horas do dia 8. Ela também estendeu o desafio aos pastores.
Apesar da boa intenção do Programa Reconecte, o real desafio
que o/a brasileiro/a precisa não é um “detox digital”, mas aprender a
desenvolver uma consciência digital no novo contexto social que vive.
Antonio Spadaro, padre, escritor, teólogo e diretor da revista jesuíta Civiltà Cattolica afirmam que “asrecentes tecnologias digitais não são mais simples instrumentos completamente externos ao nosso corpo e à nossa mente, mas um “ambiente” no qual nós vivemos. A rede é um espaço de experiência que sempre mais está se tornando parte integral, em maneira fluida, da vida cotidiana: é um novo contexto existencial. Portanto, a rede não é, um simples ‘instrumento’ de comunicação que se pode usar, mas se evoluiu em um espaço, um ambiente cultural, que determina um estilo de pensamento e cria novos territórios e novas formas de educação, contribuindo para definir também um modo novo de estimular as inteligências e a estreitar as relações, um modo de habitar o mundo e organizá-lo. Não é, portanto, um ambiente separado da vida ordinária, mas ao contrário, sempre mais integrado, conectado com aquele da vida cotidiana.”
A partir desta reflexão pode-se entender que o desafio a ser
proposto seria o inverso – Reconectar-se com o novo contexto social encarando-o
como um ambiente de vida. O estímulo deveria ser para dentro da Rede e não para
fora dela. A internet já está imersa na vida de todos, e o nosso real desafio “não
é mais
apenas “utilizar” bem a internet, como frequentemente se acredita, mas “viver”
bem nos tempos da internet.”
Convocação por oração e clamor pelo presidente Jair Bolsonaro com a assinatura da Igreja Presbiteriana do Brasil circula pelas mídias sociais nesta semana. Bereia recebeu sugestão de checagem de leitores/as e verificou que a postagem é enganosa.
O secretário executivo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), Rev. Juarez Marcondes, falou à nossa equipe que a iniciativa não partiu do Concílio da igreja: “A postagem que circula nas redes sociais não é de iniciativa do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Ainda que seja dever dos cristãos orar pelas autoridades, não procede a criação e veiculação do chamamento em prol do Presidente Jair Bolsonaro”, afirmou.
Bereia considera a postagem enganosa pois oferece conteúdo de substância correta (orar por autoridades), mas a apresentação dela é desenvolvida para induzir o público a compreendê-la como uma convocação oficial da IPB na forma de apoio ao presidente.
Essa chegagem foi sugerida por leitores/as do Bereia. Sugestões de checagem devem ser oferecidas pelo WhatsApp +55 98 92000-7205
É falsa a postagem que circula nas mídias sociais afirmando que a filha de Dilma Rousseff , Paula Rousseff , estaria sendo beneficiada irregularmente do uso de carros oficiais do Estado, bem como de seguranças, motoristas e gasolina de forma ilegal.
O post,
com link inexistente, tem sido compartilhado por vários internautas, que fixam
sua atenção apenas no título e não verificam se a chamada é verdadeira.
Bereia checou a informação e busca separar o joio do trigo. Confira os fatos:
1 – A história
da improbidade administrativa surgiu em 2016, em uma reportagem da revista Isto É.
A matéria, veiculada dia 15.07.16, com o título “mordomia investigada”, afirma que Paula Rousseff
e sua família desfrutavam de regalias.
2 – Em
novembro de 2018, o juiz Leonardo Cacau Santos La Bradbury, da 2ª Vara Federal
de Florianópolis, julgou improcedente a ação e alegou
que “há expressa previsão legal de que haja o transporte institucional dos
familiares do presidente devido ao aumento do risco em razão da maior exposição
pública”, e ainda alegou que a “data
da cessação do transporte institucional da ex-presidente, bem como de seus
familiares, coincidiu com a data de seu impeachment”.
Matéria publicada pelo portal de notícias Gospel Prime, em 27 de outubro, afirma que a deputada federal Benedita da Silva acredita que a Bíblia trata sobre gênero.
O texto se baseia em entrevista publicada pelo jornal O ESTADÃO (imagem abaixo), em 25 de outubro de 2019, intitulada “A Bíblia fala de gênero”, diz Benedita da Silva. A chamada destaca que a deputada federal, que é evangélica, vê retrocesso na política para mulheres, mas destaca atuação da bancada feminina na Câmara.
A entrevista trata de vários temas relacionados à presença das mulheres no parlamento e às políticas referentes aos direitos das mulheres no Brasil. São oito perguntas publicadas pelo Estadão, indicadas como “os principais trechos da entrevista”.
O portal Gospel Prime deteve-se em apenas uma pergunta dos jornalistas, que trata da avaliação da atuação da ministra Damares Alves: “Como a senhora avalia a atuação da ministra Damares Alves? Observa algum avanço?” A resposta ao jornal foi: “Não há avanço. Há retrocesso. Inventaram de combater uma tal de ideologia de gênero, que até hoje eu não sei o que é. Eu sou evangélica e a Bíblia fala de gênero. A palavra era essa. Nós, mulheres, temos grandes conquistas, até mesmo na igreja. Esse mundo é das mulheres. Nós vamos chegar lá. Mas vamos encontrar resistências também, né? Os homens se sentem ameaçados porque eles sempre estiveram no comando”
A matéria do Gospel Prime reproduz o conteúdo desta
resposta. Nesse sentido, a declaração de Benedita da Silva (PT-RJ) registrada
no portal religioso é verdadeira.
Um aspecto chama a
atenção na avaliação de Bereia: a
abertura da matéria do Gospel Prime oferece
um tom pejorativo quanto à identidade evangélica da deputada Benedita da Silva:
“A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que diz ser membro de uma igreja
presbiteriana…”.
Benedita da Silva é
declaradamente evangélica desde os anos 60, quando aderiu à Assembleia de Deus.
O estudioso da relação evangélicos-política no Brasil Paul Freston registra
isto em seus livros. Nos anos 90, a deputada tornou-se presbiteriana, vinculada
à Igreja Presbiteriana Betânia, na cidade de Niterói-RJ. As motivações e os
resultados da mudança estão registrados na biografia de Benedita da Silva
(BeneDita, da editora Mauad, 1997). Em suas mídias sociais, Benedita da Silva
periodicamente publica fotos de eventos da igreja aos quais esteve presente.
Na perspectiva
jornalística a matéria de Gospel Prime
que se oferece como informativa torna-se opinativa quando questiona a
identidade evangélica de Benedita da Silva com o termo “diz ser” relacionado ao
fato de ter “criticado a atuação da ministra Damares Alves” e ter declarado que
encontra a temática de gênero na Bíblia.
Referências de Checagem:
CACERES, Michael.
Benedita da Silva acredita que a Bíblia “fala de gênero”. Gospel Prime, 27 out 2019. https://www.gospelprime.com.br/a-biblia-fala-de-genero-diz-deputada-benedita-da-silva/
Gayer, Eduardo, Ortega,
Pepita. ‘A Bíblia fala de Gênero’, diz Benedita Da Silva. O Estado de São Paulo,
25 out 2019. https://www.estadao.com.br/infograficos/brasil,a-biblia-fala-de-genero-diz-benedita-da-silva,1048434