Nikolas Ferreira se converterá ao catolicismo?

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foi o parlamentar mais votado do Brasil nas eleições de 2022, tendo recebido mais de 1,47 milhão de votos. Natural de Belo Horizonte, Nikolas é evangélico e consolidou sua trajetória política com forte presença nas redes sociais digitais, ao adotar um discurso conservador alinhado aos valores da direita cristã. Sua popularidade cresceu especialmente entre jovens e eleitores religiosos, destacando-se como uma das principais figuras da nova geração da direita brasileira.

Ele protagonizou o que parte da mídia, principalmente de direita, chamou de “Revolta do Pix”, neste janeiro de 2025, ao publicar um vídeo que, na data de fechamento deste artigo, conta com mais visualizações do que o número de brasileiros (mais de 300 milhões), o que provocou uma das maiores crises do governo Lula em seu terceiro mandato. Porém, não é exatamente sobre isso que eu quero falar neste texto. O que gostaria de abordar são as articulações estabelecidas por Nikolas Ferreira com a chamada “bolha católica”. Alguns influenciadores e perfis católicos de direita têm chamado atenção para uma possível conversão do jovem deputado ao Catolicismo. Essa hipótese não é desarrazoada, pois encontra respaldo em postagens feitas por ele em suas redes sociais.

No Instagram, por exemplo, Nikolas Ferreira recomendou o livro do padre Paulo Ricardo, “Um Olhar que Cura: Terapia das Doenças Espirituais” (2008), mencionou estar lendo a biografia de São Josemaría Escrivá, fundador da Opus Dei, e realizou uma live no Youtube com o padre Chrystian Shankar. Além disso, ele tem citado conceitos cristãos específicos da doutrina católica, como a “abertura à vida” no contexto conjugal — um princípio que reflete a disposição de casais católicos em acolher novos filhos, alinhando-se à visão da Igreja sobre o papel procriador do matrimônio.

Em um episódio que reforça essa aproximação, o Centro Dom Bosco — think tank católico ultraconservador — realizou uma live sobre a posse de Donald Trump, na qual citou o “fenômeno Nikolas Ferreira”, tendo exaltado sua aparente abertura ao Catolicismo o que incluiu um convite explicito para ele aderir à fé católica.

Outro elemento que ilustra a formação de uma coalizão ampla entre a direita e a extrema direita no Brasil é a ação do deputado federal por Minas Gerais Eros Biondini (PL), católico ligado à Canção Nova — principal organização do Catolicismo carismático brasileiro, tipicamente conservadora e que apoiou Jair Bolsonaro. Biondini protocolou na Câmara dos Deputados um projeto de lei cujo objetivo é diminuir a idade mínima para que candidatos possam concorrer aos cargos de governador e presidente no Brasil.

Diante disso, estaria Nikolas Ferreira se convertendo ao Catolicismo? O deputado, que foi aluno de Olavo de Carvalho — o ideólogo da direita que, enquanto católico tradicionalista, desprezava fortemente os evangélicos —, já conciliava o plano olavista de hegemonia cultural da direita com a pauta evangélica. Agora, porém, parece acenar também para as alas do Catolicismo conservador.

Se Nikolas Ferreira irá se converter ao Catolicismo ou não, por ora, permanece uma incógnita. O que podemos observar, no entanto, é o seu protagonismo na construção de uma formação discursiva hegemônica dentro da extrema direita, que busca minimizar antagonismos internos e articular diferentes identidades políticas e religiosas em torno de um núcleo comum. Esse movimento, ao fortalecer uma coalizão ampla, evidencia a capacidade estratégica de redefinir fronteiras ideológicas e consolidar um projeto político que se apresenta como uma totalidade capaz de integrar demandas diversas sob um mesmo horizonte.

** Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia

Imagem de capa: Facebook/Nikolas Ferreira

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