Enquanto a presença feminina no jornalismo avança em algumas frentes, a desigualdade de gênero ainda persiste, especialmente em cargos de liderança. Dados recentes do Reuters Institute for the Study of Journalism, publicados em 2024, revelam que apenas 24% dos editores-chefes em 240 veículos de notícias ao redor do mundo são mulheres, mesmo que, em média, 40% dos jornalistas nesses mercados sejam do sexo feminino. No entanto, iniciativas como o Coletivo Bereia provam que é possível construir um ambiente mais justo e inclusivo, com presença feminina em posições-chave.
A pesquisa do Instituto Reuters, que analisou 12 mercados em cinco continentes, incluindo países como Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Japão, aponta que a desigualdade de gênero no jornalismo é um problema global. Em todos os mercados estudados, a maioria dos editores-chefes são homens, mesmo em países onde as mulheres representam uma parcela significativa dos jornalistas. Por exemplo, no Japão, nenhuma mulher ocupa o cargo de editora-chefe nos veículos analisados, enquanto nos Estados Unidos, o país com a maior representação feminina, menos da metade, apenas 43% dos editores-chefes, são mulheres.
A pesquisa Reuters também destaca que não há correlação entre a igualdade de gênero na sociedade e a representação de mulheres em cargos de liderança no jornalismo. Isso sugere que as barreiras à ascensão das mulheres na indústria de notícias são específicas do setor e não refletem necessariamente as tendências sociais mais amplas.
Bereia: um raro exemplo de equilíbrio e representatividade
Em contraste com esse cenário global, o Coletivo Bereia se destaca como um exemplo positivo de representatividade feminina no jornalismo. Com 19 integrantes, o grupo conta com dez mulheres, representando 52,6% do total. A editoria-geral é ocupada por uma mulher, Magali Cunha, o que já coloca o Bereia à frente de muitos veículos de notícias no mundo, onde a liderança feminina ainda é uma exceção.
Além disso, a Equipe de Checagem do Bereia é majoritariamente feminina, com cinco mulheres em um total de seis integrantes. Essa forte presença feminina na verificação de fatos, área que exige alta assertividade em meio a velocidade da produção de matérias, demonstra que é possível construir equipes diversas, inclusivas e eficientes, mesmo em setores tradicionalmente dominados por homens.
A editora-geral do Bereia Magali Cunha vê a experiência do projeto como uma inspiração: “Como se diz na linguagem da religião cristã, a equidade de gênero na equipe Bereia é um testemunho importante. É uma inspiração para que veículos que, como o Bereia, que defendem o direto humano à informação digna e coerente com os valores da justiça, honrem sua vocação na forma como desenvolvem o trabalho”, afirma a jornalista.
Quem são as mulheres que fazem o Bereia
O Bereia é formado por um coletivo de mulheres talentosas, formadas em diversas áreas do conhecimento, unidas pela paixão pelo jornalismo e pela missão de levar mais verdade nos ambientes religiosos. Conheça um pouco mais sobre elas:
Camila Duarte | Historiadora pela UNIRIO (2016) e jornalista em formação pela Universidade Estácio de Sá. Com experiência em produção de conteúdo otimizado para mecanismos de busca, atuou em portais de notícias cobrindo economia e finanças. Gabriella Vicente | Jornalista com cursos complementares na área de checagem pelo Knight Center para Jornalismo da Universidade do Texas, em Austin. É repórter e produtora de conteúdo há mais de 10 anos. Magali Cunha | Jornalista e doutora em Ciências da Comunicação, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER), articulista da revista CartaCapital, membro da Associação Internacional em Mídia, Religião e Cultura e membro-honorária da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC), colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas. Maria Isabel Fester | Pedagoga (UERJ), pós-graduada em Supervisão Escolar (UFRJ), escritora de livros didáticos, revisora, professora das redes pública e privada da cidade do Rio de Janeiro. Educadora em Direitos Humanos. Membro da Frente de Evangélicos Pelo Estado de Direito. Naira Diniz | Graduada em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (2020) e em 2022 ingressou no curso de Administração de Empresas. Após um longo período está de volta ao Coletivo Bereia, em busca de novos aprendizados. Além de jornalista, é entusiasta de fotografia, escritora e poetisa. Rafaely Camilo | Cientista Social, mestre em Ciências Sociais (UERJ), doutoranda em Ciências Sociais (UERJ), pesquisando gênero e religião. Teóloga (FTSA) atuando em Missões Urbanas. Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Desigualdades Contemporâneas e Relações de Gênero (NUDERG) Suianne Souza | Estudante de jornalismo e profissional apaixonada por projetos que geram impacto na sociedade. Considera o trabalho no Bereia mais que uma oportunidade de desenvolvimento, mas uma chance de poder ajudar a transformar a realidade por meio de informações concretas para a sociedade. Thaila Vieira | Graduanda de Jornalismo na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), presidente da Liga Acadêmica de Jornalismo, Educação e Memória (LIGA JOEME), e bolsista da Coordenação de Jornalismo. Viviane Castanheira | Jornalista com MBA em Mídias Sociais e pós-graduação em Linguagem Fotográfica. Participou do projeto CIRCUITO ABRAJI – LUPA, oficina de verificação e checagem de fatos. Foi finalista do projeto FactCheckLab, da Agência Lupa em parceria com a embaixada americana no Brasil. Atua como repórter de veículos cristãos e seculares desde 2001. Xênia Cassete | Jornalista, especialista em Comunicação Empresarial, Comunicação e Marketing e em Comunicação para o Terceiro Setor. Trabalhou como editora e redatora no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais. Com experiência em assessoria de comunicação no setor de educação e no setor público. Faz parte da diretoria estatutária voluntária da Casa de Apoio à Criança Carente de Contagem.
Representatividade é também qualidade
A presença de mulheres em cargos de liderança e em equipes técnicas não é apenas uma questão de igualdade, mas também de qualidade do jornalismo. O estudo intitulado “The Impact of Sexual Harassment on Job Satisfaction in Newsrooms” (O Impacto do Assédio Sexual na Satisfação no Trabalho em Redações), da Universidade de Londres, publicado em 2023, demonstra que a diversidade de gênero nas redações contribui para uma cobertura mais abrangente e sensível a questões que afetam as mulheres e outros grupos sub-representados.
No caso do Bereia, a forte presença feminina na equipe de checagem pode trazer perspectivas únicas e necessárias para a análise de informações, especialmente em um contexto onde a desinformação afeta desproporcionalmente as mulheres.
Referências:
Blumell, L., Mulupi, D. & Arafat, R. (2023). The Impact of Sexual Harassment on Job Satisfaction in Newsrooms. Journalism Practice, pp. 1-20. doi: 10.1080/17512786.2023.2227613 Disponível em https://openaccess.city.ac.uk/id/eprint/30825/1/The%20Impact%20of%20Sexual%20Harassment%20on%20Job%20Satisfaction%20in%20Newsrooms.pdf
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