A semana fecha com a memória dos 50 anos de execução do jornalista Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975, após ser levado para depor e torturado, no contexto da repressão política e da censura da ditadura militar.
Vlado, como era carinhosamente conhecido, e sua família foram vítimas de uma das fraudes informativas mais utilizadas pelo Estado ditatorial: pessoas mortas sob tortura, e outras executadas sumariamente em prisões e porões, eram oficialmente declaradas como suicidas. Foi o que o Estado declarou sobre a morte do jornalista. Na época, o Exército divulgou à imprensa uma foto em que ele aparecia pendurado por um cinto amarrado ao pescoço.

De família de tradição judaica, com um laudo falso de “suicídio”, Vlado deveria ser enterrado na ala destinada a suicidas, à margem do cemitério israelita de São Paulo, uma vez que no judaismo há questões teológicas em relação ao suicídio. O rabino Henry Sobel, porém, viu o corpo e as marcas de tortura e decidiu confrontar as autoridades e resistências internas da comunidade. Sobel e a família enterraram Herzog no centro do cemitério. O ato contestou, publicamente, a política recorrente do regime de forjar laudos para ocultar atrocidades e manter o estado de exceção. Este caso mostra como uma mentira política desta proporção afeta a vida das pessoas e do país de tantas formas.
Sete dias após a morte de Herzog, em 31 de outubro de 1975, realizou-se o histórico ato inter-religioso na Catedral da Sé, conduzido por Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright. O ato se tornou um marco histórico por ser o primeiro grande protesto público contra a ditadura após o Ato Institucional n.5 (AI-5) — que fechou o Congresso Nacional e instaurou oficialmente a censura. É lembrado também pela mobilização pacífica e pela denúncia da morte do jornalista com repercussão internacional. ,

A verdade sobre o caso levou décadas para vir à tona. Em 2013, 38 anos depois, a família recebeu um novo atestado de óbito, com o reconhecimento de que Herzog morreu “em decorrência de lesões e maus-tratos sofridos durante interrogatório” no DOI-Codi, com a reparação formal diante da versão falsa dos militares.

Saiba mais sobre esta memória assistindo ao documentário, produzido pela TV Cultura, com apoio do Instituto Vladimir Herzog, que será lançado na 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, no dia 24 de outubro, às 19h, na Cinemateca Brasileira, e exibido pela emissora no dia 25, às 23h.


