Possível repressão de Igreja Presbiteriana do Brasil a “esquerdismo” repercute em noticiários: Bereia verificou

Bereia acompanhou a repercussão de uma proposta de expurgo de membros da Igreja Presbiteriana  do Brasil (IPB) alinhados à esquerda e a partidos políticos. A proposta, compartilhada por grandes mídias de notícias, sites evangélicos e perfis em mídias sociais, fazia parte da documentação a ser apresentada no Supremo Concílio, órgão máximo de deliberação da denominação, entre os dias 24 e 31 de julho, em Cuiabá (MT). 

O documento que continha a proposta (com o selo “Aguardando aprovação”) foi divulgado nas mídias sociais da Secretaria Executiva da Igreja Presbiteriana do Brasil e no aplicativo iCalvinus. Ele foi compartilhado em mídias sociais e viralizou. Trata-se de um relatório assinado pelo Rev. Osni Ferreira, que propunha o que em várias mídias sociais e sites passou a ser chamado de “caça aos comunistas”. O relator, após a redação, divulgou um vídeo no Youtube, “Nós temos que reeleger Bolsonaro”, tornando explícita a orientação política em sua liderança.

Imagem: reprodução do app iCalvinus

A cobertura do caso pela grande imprensa

Além das mídias sociais, vários órgãos da imprensa tradicional, que não costumam pautar assuntos internos das igrejas, noticiaram o concílio da IPB e seus desdobramentos (referências ao final da matéria). 

Daniel Weterman (repórter do Jornal Estado de São Paulo, Brasília) foi o primeiro a publicar, em 21/07/2022, às 07h50, que havia uma proposta para cercear fiéis de esquerda, na IPB, tendo dado destaque, também, o tratamento preferencial ao candidato Jair Bolsonaro. 

Entrevistado por Weterman, contudo, o Rev. Osni Ferreira negou que a Igreja tenha candidato. Também ouvido, o presidente da igreja também procurou afastar conexões com a candidatura de Bolsonaro.“Cada pastor é responsável por aquilo que ele fala, por aquilo que ele pronuncia, e responde ao seu conselho e também ao presbitério. Quando a igreja faz um posicionamento oficial é através da minha pessoa, e nós não fizemos nenhum pronunciamento”, afirmou Roberto Brasileiro Silva ao jornal O Estado de São Paulo. 

O jornalista Matheus Leitão, da revista Veja, que é evangélico, também escreveu sobre o assunto em sua coluna (que se tornou a mais lida da semana naquele veículo). Ele chamou a proposta para o Supremo Concílio da IPB de “a nova vergonha da igreja evangélica”.  Neto de pastor, o colunista abriu espaço para vozes presbiterianas críticas do movimento de alinhamento da igreja com Jair Bolsonaro.

Reinaldo Azevedo, católico romano e jornalista político da rádio Band News FM, abordou o assunto no programa “É da Coisa”. O comentarista cita uma das doutrinas mais enfatizadas pela denominação presbiteriana, a predestinação, o entendimento de que Deus determinou de antemão o “destino” da humanidade. 

“A ideia da predestinação é muito importante para a Igreja Presbiteriana. Eu pergunto aos irmãos presbiterianos: vocês acham mesmo que Jair Bolsonaro é compatível com a ideia da predestinação? Será isso o que Deus nos reservou?”. Reinaldo Azevedo,, além de comentar a proposta, alertou: “se a Igreja Presbiteriana fez a opção de se tornar partido político, deve também abrir mão da isenção de impostos, da qual gozam os evangélicos, suas igrejas, pastores e instituições” . 

Resistências internas

Movimentos de grupos resistentes internos à igreja, além da divulgação pela imprensa, resultaram em pressões sobre a reunião que levaram a ações de inviabilização da proposta. A Folha de S.Paulo noticiou a apresentação de um substitutivo (com uso das regras do Concílio) pelo pastor Cid Pereira Caldas.

No texto apresentado por Caldas consta que a “IPB tem mantido equidistância de radicalismos” e a defesa de que “não é finalidade da IPB manifestar-se sobre partidos políticos”.O relatório substitutivo foi aprovado pelo Supremo Concílio, por maioria, em 29/07/2022, por 738 votos contra 538. 

A Folha também apurou que “Cid Pereira Caldas é presidente do Conselho de Administração do Instituto Presbiteriano Mackenzie e pastor da Igreja Presbiteriana de Botafogo. Ele é próximo do presidente do Supremo Concílio da IPB, Roberto Brasileiro”. No mesmo texto, cita-se que “três membros da cúpula da IPB e interlocutores de Cid afirmaram à Folha, sob reserva, que o relatório inicial tinha potencial para rachar a igreja como ocorreu na década de 1970, durante a ditadura militar. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil apoiava o governo militar. Indignados, pastores decidiram romper com a liderança da instituição e criaram a Igreja Presbiteriana Unida”. Não foram ouvidos, pela Folha, os representantes na Igreja Presbiteriana Unida (IPU), apesar do Supremo Concílio da IPB também ter aprovado, nesta mesma reunião de 2022, documento no qual declara “que a IPB não reconhece a IPU como genuinamente evangélica”. Também não foram ouvidos os vários lados nessa matéria.

Imagem: reprodução da Folha de S. Paulo

Alinhamento político

Pesquisa do Instituto Datafolha, publicada em 28 e 29 de julho de 2022 constatou que a candidatura de Lula (PT) tinha 18 pontos à frente de Jair Bolsonaro (PL). Em todos os segmentos, o candidato do PT mantinha a liderança, com exceção dos mais ricos (44% dos que ganham até mais de 5 salários mínimos), empresários (54%) e evangélicos ( Bolsonaro tem 43%, contra 33% de Lula).

Este alinhamento do segmento evangélico com a candidatura de Jair Bolsonaro, embora não seja majoritário, tem sido bem constatado nas cúpulas e concílios de várias igrejas. Curiosamente, reproduz-se o posicionamento de uma dissidência entre os presbiterianos (que não faz parte da IPB), a “Igreja Presbiteriana Conservadora” como lugar comum – a pauta anti-esquerda e anti-identitária está disseminada nas igrejas.

A Convenção Batista do Brasil está discutindo a sua matriz doutrinária (princípios) e já expulsou da ordem de pastores batistas o pastor da Igreja Batista da Água Branca (São Paulo-SP) Ed René Kivitz, por suas posições progressistas. Também houve intervenção da Igreja Adventista do Sétimo Dia em uma de suas mais famosas comunidades (Nova Semente) com o afastamento do pastor Edson Nunes. Até mesmo a Igreja Presbiteriana Independente (IPI), ramo dissidente da IPB, que ordena mulheres pastoras, reuniu-se-se em concílio, uma semana após a IPB, com uma pauta para que a Assembleia Geral não acatasse nenhum documento que proponha posicionamento da instituição favorável às relações homoafetivas e de identidade de gênero, além de não receber, nas igrejas locais, pessoas que militam em favor das causas LGBTQIA+. Além disso, o documento também determina uma intervenção na FATIPI (Faculdade de Teologia de São Paulo da igreja) para afastar professores que defendam tais pautas.

Embora oficialmente haja algum silêncio por parte das cúpulas das igrejas históricas no espaço público quanto a questões políticas, na prática, observa-se uma convergência excludente.

De todos os órgãos de imprensa que cobriram o caso do Supremo Concílio da IPB, apenas a coluna de notícias do UOL ouviu pessoas perseguidas por suas posições políticas dentro da Igreja.

***

Bereia conclui que embora os fatos noticiados sobre o clima de exclusão na Igreja Presbiteriana do Brasil sejam verdadeiros, a cobertura da imprensa foi parcial, pois não houve abordagem ampla sobre os movimentos de resistência internos bem como de consideração da memória histórica. A cultura de exclusão presente na IPB e em outras igrejas não foi tratada, o que auxiliaria os leitores a entender melhor o movimento e as medidas internas nas igrejas. Por exemplo,  nenhum veículo noticiou o sombrio momento vivido pelas igrejas durante a ditadura militar – material que está disponível para acesso público.

Referências de checagem:

Veja. 

https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/o-pastor-heroi-brasileiro-perseguido-por-bolsonaristas-e-fundamentalistas/ Acesso em: 3 ago 2022.

https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/a-nova-vergonha-da-igreja-evangelica-com-bolsonaro-agora-em-2022/amp/ Acesso em: 3 ago 2022.

Adventistas. http://www.adventistas.com/2022/07/03/depois-de-remocao-do-pastor-edson-nunes-da-nova-semente-leonardo-goncalves-publica-carta-aberta-a-iasd-na-america-do-sul/comment-page-1/ Acesso em: 3 ago 2022.

Revista Fórum. https://revistaforum.com.br/lgbt/2022/7/27/perseguio-igreja-presbiteriana-independente-decide-se-pode-excluir-membros-lgbtqia-120800.htm Acesso em: 3 ago 2022.

UOL.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/07/28/por-posicao-esquerdista-teologo-e-afastado-da-presbiteriana-diz-jornal.htm Acesso em: 3 ago 2022.

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2022/07/29/igreja-presbiteriana-reduz-tom-contra-esquerda-mas-mantem-brecha-para-punicao.htm Acesso em: 3 ago 2022.

https://www.uol.com.br/eleicoes/2022/07/20/igreja-presbiteriana-diretriz-anti-esquerda-comunismo.htm Acesso em: 3 ago 2022.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/07/28/por-posicao-esquerdista-teologo-e-afastado-da-presbiteriana-diz-jornal.htm Acesso em: 3 ago 2022.

Comissão Nacional da Verdade. http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/16-grupos-de-trabalho/28-papel-das-igrejas-durante-a-ditadura.html Acesso em: 3 ago 2022.

Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil. https://ipcb.org.br/index/posicionamento-da-igreja-presbiteriana-conservadora-do-brasil-em-relacao-a-esquerda/ Acesso em: 3 ago 2022.

G1. https://g1.globo.com/politica/blog/gerson-camarotti/post/2022/07/30/igreja-presbiteriana-rejeita-proposta-que-inibiria-voto-de-fieis-na-esquerda.ghtml Acesso em: 3 ago 2022.

O Dia. https://odia.ig.com.br/brasil/2022/07/6454195-igreja-presbiteriana-reduz-tom-contra-esquerda-mas-mantem-brecha-para-punicao.html Acesso em: 3 ago 2022.

Folha de S. Paulo.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/igreja-presbiteriana-desiste-de-veto-a-cristao-de-esquerda-para-evitar-racha-interno.shtml Acesso em: 3 ago 2022.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/datafolha-bolsonaro-se-descola-de-lula-e-lidera-entre-evangelicos.shtml Acesso em: 3 ago 2022.

Yahoo. https://br.vida-estilo.yahoo.com/igreja-presbiteriana-desiste-veto-crist%C3%A3o-133300164.html Acesso em: 3 ago 2022.

IstoÉ Dinheiro. https://www.istoedinheiro.com.br/igreja-presbiteriana-reduz-tom-contra-esquerda-mas-mantem-brecha-para-punicao/ Acesso em: 3 ago 2022.

Terra. https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/igreja-presbiteriana-tenta-barrar-esquerda-e-abre-pulpitos-para-bolsonaro,fad5e1fbcf5a93fd86ff5e8cb8c983c7uj7a1915.html Acesso em: 3 ago 2022.

Leia Já. https://www.leiaja.com/politica/2022/07/19/suposto-documento-de-igreja-caca-obreiros-comunistas/ Acesso em: 3 ago 2022.

Gospel Prime. https://www.gospelprime.com.br/igreja-presbiteriana-quer-comissao-para-combater-influencia-de-esquerda/ Acesso em: 3 ago 2022.

YouTube. https://youtu.be/vNRPICMdSA0?t=2760  Acesso em: 3 ago 2022.

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/wp-content/uploads/2022/08/esquerdista_doc-icalvinus-2022.pdf Acesso em: 3 ago 2022.

Mendonça, evangélicos e bolsonarismo

Na condição de evangélico e membro de uma igreja presbiteriana no Rio de Janeiro, venho a público manifestar meu mais profundo lamento pela aprovação de André Mendonça, pastor presbiteriano, para o STF. O Estado é laico. Evangélicos precisam confiar realmente em Deus, e não depender de acesso aos poderes do Estado, como boa parte de seus líderes vêm fazendo, sobretudo desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República. Mendonça foi aprovado pelo Senado para assumir uma vaga no STF, por 47 votos a 32.  É a segunda indicação de Bolsonaro para o STF, a única instituição do país que ainda consegue deter os desmandos do presidente da República.

Bolsonaro – que está mais para lobo em pele de cordeiro – nunca foi evangélico. Mas quando começou a pensar em ser presidente da República rapidamente se aproximou de líderes evangélicos oportunistas. Com a ajuda dessas figuras, Bolsonaro então montou seu marketing eleitoral pra cima dos evangélicos. Deixou-se fotografar sendo batizado nas águas do Rio Jordão, no mesmo local onde Jesus Cristo foi batizado. A foto rapidamente se espalhou pelos grupos de WhatsApp do segmento evangélico. Além disso, o presidente – que tinha seu nicho político-eleitoral entre as “viúvas” do golpe civil-militar de 1964 e pensionistas de militares – acabou ganhando terreno entre os evangélicos por apresentar uma narrativa baseada nos costumes, na homofobia e no anticomunismo, temas que costumam ser caros à direita cristã americana e sua congênere brasileira. 

Quando encontrou na Advocacia-geral da União com o advogado André Mendonça – um profissional que transmitia segurança e competência e, além disso era pastor presbiteriano de uma igreja chamada Esperança (que triste sina a nossa) – Bolsonaro juntou a fome com a vontade de comer. Alçou Mendonça ao cargo máximo da instituição e logo depois ao de ministro da Justiça, substituindo o “traidor” Sergio Moro. 

Como titular do Ministério da Justiça, Mendonça foi alvo de críticas por mandar abrir inquéritos contra opositores do governo Bolsonaro, tais como Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Hélio Schwartsman e outros políticos, jornalistas e cartunistas, sob a acusação de calúnia ou injúria devido a críticas ao presidente. Na sabatina, o mesmo Mendonça disse que a liberdade de imprensa é um bem sagrado. Para quem?

Também durante sua gestão, o Ministério da Justiça foi acusado de produzir um dossiê contra mais de 500 servidores federais e estaduais de segurança identificados como membros do “movimento antifascismo“. Mendonça confirmou à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso a existência de um relatório de inteligência, mas negou que houvesse ilegalidades em sua produção. Apesar de aparentar notório saber jurídico, Mendonça fez o jogo do poder. Só pelas duas atitudes acima, não se pode dizer que tenha “caráter ilibado”, uma das exigências para ser ministro do STF. E, ao assumir o cargo de ministro da Justiça, sinalizou para o chefe que estaria disposto antes de tudo a cumprir ordens.

Em plena posse como ministro da Justiça, Mendonça chamou Bolsonaro de “profeta” por ele ter sido um político “preocupado” com a agenda da segurança pública quando esse assunto não comovia Brasília. Um gesto típico de bajulador, principalmente se levarmos em conta que o tal “profeta” jamais apresentou um projeto sequer em favor da segurança pública do povo brasileiro. 

Pela bajulação, Mendonça não levou sequer um “puxão de orelhas” de sua igreja. Na verdade, os evangélicos, de modo geral, continuam fazendo vista grossa para os erros de Bolsonaro e sua equipe. Entre os evangélicos que se arrependeram do mau caminho bolsonarista, poucos têm coragem de ir à público e manifestar sua opinião. De certo modo, a igreja evangélica brasileira aprofundou suas divisões com a chegada de Bolsonaro ao poder. Mesmo sem ser evangélico, ele consegue influenciar muitos membros de igrejas, sobretudo as pentecostais e neopentecostais. Evangélico que tem a coragem de criticar os desmandos de Bolsonaro muitas vezes sofre discriminação dentro da própria igreja. Há uma legião de jovens evangélicos que ficaram “desigrejados” diante da insistência de pastores e diáconos em manifestarem, até do púlpito, apoio ao governo.

Embora o presbiterianismo tenha suas bases na busca de reformas sociais, também por meio da pregação do Evangelho, os evangélicos no Brasil se afastaram da política partidária justamente durante o regime militar. Boa parte das igrejas mais conservadoras apoiou o golpe, mas sempre houve na membresia ilhas de oposição à ditadura e seus algozes. Tanto assim que saiu das fileiras da Igreja Presbiteriana um líder respeitado na luta pelos direitos humanos, o reverendo James Wright, que se tornou o executivo do projeto Brasil Nunca Mais, patrocinado pela Arquidiocese de São Paulo – que denunciou os violentos crimes praticados pela ditadura, com base em 707 processos da própria Justiça Militar. Wright, a quem tive o prazer de conhecer e entrevistar, era o braço direito do cardeal Paulo Evaristo Arns.

Com o Congresso Nacional Constituinte, em 1987, os evangélicos voltaram a se aproximar da política, convencidos de que tinham que participar da construção da nova Constituição, temendo, principalmente, que sofressem algum revés no direito à liberdade de culto. Encontraram de braços abertos justamente o Centrão que reunia o que de mais fisiológico havia na política, em partidos de centro-direita. Seu lema na época era “é dando que se recebe”, frase que também teria sido citada pelo frade São Francisco de Assis. Esses evangélicos negociaram seus votos na bacia das almas. Muitos deles com a desculpa esfarrapada da ameaça do comunismo. Afinal, o Muro de Berlim – que precipitou a extinção da União Soviética e da chamada Cortina de ferro, só cairia em 1989. E ali, com o Centrão de 1987, está a origem desse núcleo político que viu em Bolsonaro um líder capaz de derrotar as esquerdas progressistas que, para os evangélicos, defendem o comunismo  que eliminou cristãos na Cortina-de-ferro, exatamente como o Império Romano fez aos primeiros mártires cristãos nas arenas dos leões.

Esses “novos evangélicos” na política sofrem também grande influência da direita cristã norte-americana, que, nos Estados Unidos, conseguiu, com uma agenda conservadora nos costumes e na economia, eleger Donald Trump. O principal estrategista de Trump, Steve Bannon, ainda hoje dá conselhos ao governo Bolsonaro. 

Apesar de Bolsonaro não ter feito tudo que poderia ter feito pela candidatura de Mendonça, o presidente usou o carimbo de “terrivelmente evangélico” para seu candidato, como uma espécie de ameaça ao Supremo, que tornou-se o único poder a conter os ímpetos autoritários do presidente. Só esse carimbo feito pelo presidente já deixa o novo ministro do STF sob suspeita. Como ministro de estado, numa corte suprema, Mendonça não pode agir como lobista de qualquer que seja o grupo, político ou religioso. Mendonça, inclusive, se revelou um homem de duas faces. Na sabatina, apresentou-se como guardião da Constituição. Logo após eleito, fez um discurso em tom triunfalista, afirmando que sua vitória é o passo para um homem (no caso, ele), mas também para todos os evangélicos. Nada a ver. O Supremo não pode ser evangélico, católico, espírita ou qualquer outra religião e, muito menos, se comprometer com a agenda de qualquer ideologia política. O Estado é laico. E foi justamente a separação entre Igreja Católica e Estado que historicamente deu força para os evangélicos conseguirem superar todas as discriminações, sendo minoria religiosa no país. Agora somam 40 milhões. Um enorme rebanho de ovelhas que cada vez mais atrai lobos vorazes. Sobretudo às vésperas de ano eleitoral.

Agora cabe aos verdadeiros evangélicos, preocupados com a ética e a cidadania, serem os primeiros a fiscalizar as atitudes e os votos de André Mendonça no STF.  E essa forma de preenchimento dos cargos do Supremo precisa urgentemente ser revista pelos legisladores. Mas quem vai ter coragem de mexer nesse vespeiro?

***

Foto de capa: Alan Santos/PR