Mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual

*Publicado originalmente no site da CNBB

“Se nos esforçamos e lutamos,
é porque pusemos a nossa esperança no Deus vivo,
que é o salvador de todos” (1 Tm 4,10).”


Reunidos no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, de
28 de agosto a 2 de setembro, para a etapa presencial da 59ª Assembleia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nós, bispos católicos, em colegialidade e comunhão, nos
dirigimos a todos os homens e mulheres de boa vontade.

Como pastores, temos presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de
nossa de gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e
esperanças, tristezas e angústias (cf. Gaudium et Spes, 1) são as mesmas de cada brasileira e
brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos.

Nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade
concretas. O compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção
até o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral e do estado democrático
de direito estão intrinsecamente vinculado à nossa missão apostólica. Todas as vezes que esses
compromissos têm sido abalados, não nos furtamos em levantar nossa voz. “A Igreja é
advogada da justiça e dos pobres, exatamente por não se identificar com os políticos nem com
os interesses de partido” (Bento XVI, Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida).

Com a esperança que nos vem do Senhor e que não nos decepciona (Cf Rm 5,5),
reconhecemos o tempo difícil em que vivemos. Nosso País está envolto numa complexa e
sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade
brasileira. Constatamos os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e
crescente, potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas que ameaçam o convívio
humano harmonioso e pacífico na sociedade. Entre outros aspectos destes tempos estão o
desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o maiscruel e criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189). Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO, 2022), a quantidade de brasileiras e brasileiros que enfrentam algum tipo de
insegurança alimentar ultrapassou a marca de 60 milhões.

Como se não bastassem todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados,
urge reafirmar o óbvio: Nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto
nacional. Isso não significa somente “um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta
aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos […] se não há um consenso
sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade”
(Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).

Ao comemorarmos o bicentenário da Independência do Brasil, é fundamental ter
presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um
projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma economia que
mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio. É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra. Comprometidos com essas conquistas e inspirados pela cultura do diálogo e do encontro, podemos ser uma nação realmente independente e soberana.

É motivo de preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de fake news que
têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a
democracia. A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os
valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e
enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com o Evangelho e
com a verdade.

A corrupção, histórica, contínua e persistente, subtrai o que pertence aos mais pobres.

A Lei da Ficha Limpa, que proíbe que condenados por órgãos colegiados possam se candidatar
a cargos políticos, é uma conquista popular e democrática, que deve ser promovida, juntamente
com outros mecanismos de controle que garantam a ética na política.

Mesmo com todos esses desafios, a dinâmica da democracia nos coloca, mais uma vez,
num processo eleitoral. Tentativas de ruptura da ordem institucional, veladas ou explícitas,
buscam colocar em xeque a lisura desse processo, bem como, a conquista irrevogável do voto.Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores. Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições.

Assim, conclamamos, mais uma vez, toda a sociedade brasileira a participar ativa e
pacificamente das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo (presidente e
governadores) e o legislativo (senadores e deputados federais, estaduais e distritais), que
representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da
vida, da família e da Casa Comum.

Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude a buscar sempre a melhor
política, uma das formas mais eminentes da caridade.

Aparecida – SP, 31 de agosto de 2022.

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Foto de capa: CNBB/Divulgação

Campanha Primavera para a Vida 2021 debate fake news dentro das comunidades de fé

Lançamos a 21ª edição da Campanha Primavera para a Vida, que aborda o caminho da verdade como um princípio cristão que produz paz e justiça e denuncia os danos que a cultura de produzir e difundir “Fake News” (expressão sofisticada para o termo “mentira”) tem causado na sociedade, de modo mais particular em comunidades de fé.

A live de lançamento contou com a participação da editora-geral do Bereia, Magali Cunha, da pastora Romi Bencke e da ativista Ana Gualberto, além de diversos membros do movimento ecumênico.Como parte da campanha lançamos também a publicação “Buscar a Verdade: Um Compromisso de Fé”, que traz conteúdos para debate e difusão da aplicação do princípio da verdade. Você pode baixar a publicação aqui.

A campanha, que promovemos desde 2001, busca articular o diálogo com as Igrejas, fortalecendo o compromisso ético com a promoção e garantia dos Direitos Humanos, contribuindo para a formação das lideranças clérigas, leigas e das comunidades de fé, disponibilizando estudos bíblico-teológicos inspirados em demandas sociais vivenciadas pela organização.

É verdade que brancos se ajoelham em oração pedindo perdão a negros por anos de racismo

O site CPAD NEWS divulgou, em 3 de junho, matéria com o título “Brancos se ajoelham em oração pedindo perdão a negros por anos de racismo”. Segundo o site, ato ocorreu em 31 de maio no bairro Terceira Ala, na cidade de Houston, no Texas (EUA), durante protestos após a morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por policial branco em 25 de maio durante ação policial em Minneapolis (EUA).

O ato solidário contra o racismo reuniu um grupo de pessoas brancas, que ajoelhadas diante de pessoas negras, pedia perdão por anos de preconceito.

Em vídeo gravado pelo canal KPRC 2 Click2Houston um dos homens brancos afirma durante oração:

Deus Pai, pedimos perdão a nossos irmãos e irmãs negros por anos e anos de racismo.”

Desde o início dos protestos, iniciados em 26 de maio, ficar de joelhos têm sido um gesto global para mostrar respeito pelos pedidos de justiça e pelo fim do racismo policial.

Fonte: Reuters/Jonathan Ernst

Além de sinal pela luta por justiça social, dobrar um dos joelhos faz referência à imagem de terror que mostra George Floyd sendo asfixiado por um policial. Floyd foi detido após o funcionário de uma mercearia chamar a polícia e acusar o homem de tentar pagar as compras com uma nota falsa de US$ 20.

Fonte: AFP/Facebook/Darnella Frazier

Atos em protesto contra o racismo aconteceram em escala global após a morte de Floyd. Milhares de pessoas saíram às ruas para dizer

basta de racismo, fascismo e violência policial”. 

Houve manifestações pelo mundo. As mais numerosas aconteceram nos Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e na França. Em Paris, inclusive, um ato com mais de 15 mil pessoas também relembrou a morte do jovem francês Adama Traoré.

O Coletivo Bereia verificou as imagens e vídeos de ato de perdão e confirma a veracidade das informações destacando o conteúdo como VERDADEIRO.

Inúmeras manifestações, inclusive nas mídias sociais, continuam a protestar contra séculos de racismo. Bereia reafirma que a publicação de informação responsável é fundamental para reforçar e legitimar a luta social e evangélica em favor do direito à vida e à justiça de todos os negros e negras do Brasil e do mundo.

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Referências de Checagem:

CPAD NEWS. Brancos se ajoelham em oração pedindo perdão a negros por `anos de racismo´. Disponível em: http://www.cpadnews.com.br/universo-cristao/50545/brancos-se-ajoelham-em-oracao-pedindo-perdao-a-negros-por-anos-de-racismo.html

Diário do Povo. Relatório de autópsia independente de George Floyd indica morte por asfixia. Disponível em: <http://portuguese.people.com.cn/n3/2020/0602/c309808-9696697.html>

G1. Por que as pessoas se ajoelham durante os protestos contra racismo policial nos EUA?. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/04/por-que-as-pessoas-se-ajoelham-durante-os-protestos-contra-racismo-policial-nos-eua.ghtml>

G1. Duas novas autópsias afirmam que George Floyd foi morto por asfixia. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/01/duas-novas-autopsias-afirmam-que-george-floyd-foi-morto-por-asfixia.ghtml

O Impacto. Houston, cidadãos brancos se ajoelham perante negros e pedem perdão. Disponível em: https://oimpacto.com.br/2020/06/01/houston-cidadaos-brancos-se-ajoelham-perante-negros-e-pedem-perdao/. Acesso em: 06 jun. 2020.

Youtube. White people kneel, ask forgiveness from the black community in Third Ward. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=8&v=fdX6aVzPgHs&feature=emb_logo

É verdade que Apóstolo Valdemiro Santiago oferece semente que cura Covid-19

Circula amplamente por mídias sociais neste 7 de maio de 2020, um vídeo de pouco mais de dois minutos com fala do líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, Apóstolo Valdemiro Santiago, sobre o poder de uma semente oferecida por ele na cura da Covid-19.

No vídeo, o líder religioso mostra um exame que comprovaria que uma pessoa teria sido curada da Covid-19 após plantar a semente (que não é identificada), na qual está escrita frase que Deus diz a Abraão, segundo a Bíblia: “Sê tu uma bênção”. Valdemiro Santiago afirma:

“Gente curada de estado terminal, gravíssimo. E está ali o exame, para quem quiser. (…) Você vê como a semente é semeadora. E aí sim conseguiu vencer a crise e a panademia. Só tem um jeito de se vencer essas fases difíceis. É semeando, e semeando na obra de Deus. Essa semente é interessante, você planta… É a semente “sê tu uma bênção”. Você vai semear essa semente e na planta que nascer vai estar escrito “Sê tu uma bênção”.”

Na gravação o Apóstolo reconhece possíveis críticas ao instrumento de cura. Ele diz: “Mas isso é enganar? Não! Você que tá enganado!”. E depois anuncia a forma de pagamento para se adquirir a semente:

“O propósito que eu vou fazer é de R$ 1.000 para cada um [dos parentes para quem vai plantar uma semente]. E muitos que estão me assistindo também vão fazer de R$ mil. Outros vão fazer de R$ 500, e finalmente outros vão fazer de R$ 200 e até R$ 100. A semente de acordo com sua sementeira… Até mais quem quiser”.

O vídeo que circula é um trecho de gravação maior que se encontra no canal do Youtube da Igreja Mundial do Poder de Deus, postado no dia 1 de maio.

A gravação completa tem 42 minutos e inicia com uma pregação de Valdemiro Santiago sobre texto bíblico de Gênesis, capítulo 47, que versa sobre semear a terra e alcançar a abundância de Deus. Daí o Apóstolo “convoca o povo de Deus” a “semear em terra fértil”, que ele classifica como a obra de Deus, durante o mês de maio. Depois de expor que pessoas foram curadas dos efeitos do coronavírus ao terem plantado a semente que tem gravada a frase bíblica “Sê tu uma bênção”, ele oferece o instrumento que diz ser curativo condicionado a um pagamento à igreja de R$ 1.000, R$ 500, R$ 200 ou R$ 100. Se alguém quiser dar mais poderá, segundo o religioso que disse ser este “o mais abençoado de todos os propósitos que já fizemos”. Depois Santiago recorre ao texto da Bíblia em Marcos 4 para justificar a campanha, que diz que o Reino de Deus é como um homem que sai a semear.

O Apóstolo afirma que as sementes são “coisa divina mesmo”, e diz que a planta que cresce tem nela marcada a frase “Sê tu uma bênção”. Depois, o líder da Igreja Mundial convida católicos, evangélicos, pessoas de outras religiões para que ninguém fique de fora e as adquira, por meio de contato telefônico com envios para todo o Brasil. As pessoas que desejarem adquirir a semente devem fazer o depósito do valor desejado na conta da igreja e enviar o comprovante para as centrais telefônicas disponíveis em vários estados, e solicitar o envio.

A Campanha “Semeador Sê tu uma bênção” está em chamada de destaque no site da igreja. Ao clicar no link para a contribuição para esta campanha, não aparece explicação sobre ela, mas sim uma página onde as doações financeiras podem ser realizadas, o que leva à compreensão de que o conteúdo do vídeo já é de conhecimento de quem acessa o site.

O oferecimento de objetos “abençoados” para o alcance de benefícios concretos por parte de fieis é prática comum na Igreja do Poder de Deus e em outras igrejas que desenvolvem teologia e ações similares. O pesquisador Ricardo Mariano explica este fenômeno social na obra ‘Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil’, das Edições Loyola. A imagem da semente como Obra de Deus que pode se multiplicar na vida das pessoas já foi utilizada pela igreja em outras campanhas. No site da Igreja Mundial há um testemunho de milagre financeiro, datado de 13 de março de 2016 que narra a história de José Gino Nazário. Segundo o texto, o fiel tinha a vida financeira arruinada quando percebeu que se tratava da falta de compromisso com o dízimo. Nazário afirma:

“Eu já era evangélico, aqui da Igreja Mundial do Poder de Deus, mas minha vida estava no fundo do poço. Eu atrasava os propósitos, fazia esperando receber, não dando a minha parte. Era dizimista, mas dizimava quando dava vontade ou sobrava dinheiro, ofertava do meu jeito, não do jeito que é ensinado pelo Homem de Deus. Queria mudança na minha vida financeira, que nunca prosperava, mas não abria o meu coração e retornava o que era de Deus. (…) Assisti em casa, pela televisão, a uma palavra ministrada pelo Apóstolo Valdemiro Santiago e, nela, Deus disse que era para semear, que a semente daria frutos e quem dava a semente era Deus. Sou criado e crescido na roça e lembro que meu pai semeava terra e ia até o fazendeiro para lavrar. Aquela explicação encheu meu coração de ânimo e de entendimento. Vim até o templo, tomei posse da semente, peguei um Carnê da Oração Incessante, dessa vez para semear, não para fazer propósitos ou votos que eu não conseguisse cumprir, nem esperando nada específico, apenas para ver semente plantada, porque sei que, na época certa, germina. Peguei e semeei. Deus me deu sete mil reais e paguei tudo o que devia, que me mantinha na miséria e fiquei com o restante. Foi aí que percebi que eu era o errado. Mudei meu jeito de ofertar, de fazer a obra. Hoje, tenho mais um carnê de trezentos reais e sou dizimista fiel, ofertante, porque provo que Deus dá prosperidade e condições para nossa vida. E quem duvidar, apanhe uma semente e faça o que eu fiz, Deus se revelará a você também”.

Com base nestes elementos, o Coletivo Bereia classifica o conteúdo do vídeo que está circulando nas mídias sociais sobre o oferecimento de semente para cura de Covid-19 e outras dificuldades da vida pelo líder da Igreja Mundial do Poder de Deus como verdadeiro.

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Referências de Checagem:

Youtube, Igreja Mundial do Poder de Deus. https://www.youtube.com/watch?v=iDhf1HjkknU

Igreja Mundial do Poder de Deus. https://impd.org.br/

Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil, por Ricardo Mariano. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2010.

O CRISTÃO E A BUSCA PELA VERDADE

Um dos sintomas relatados pelos pacientes do Covid19 é a perda do olfato e do paladar. Enquanto está com a doença, o infectado não consegue mais sentir nem o gosto, nem o cheiro das coisas. Hoje, se me perguntarem quais são os sintomas que tem predominado em nossa sociedade nesse tempo de pandemia misturado com instabilidade política, eu diria sem pestanejar que perdemos totalmente o gosto pela busca da verdade. Ousaria dizer que ela já quase não importa mais.

Quando criança, minha mãe dizia:

“Fale sempre a verdade, ainda que venha a sofrer por isso”.

Foi algo que me marcou. Igualmente marcante foi o fato de ter crescido no universo protestante. Mais do que qualquer outro grupo cristão, o protestantismo sempre primou pela busca apaixonada da verdade. Para nós, um culto agradável a Deus não é quando há milagres, curas, ou revelações, e sim aquele em que a Palavra da Verdade foi pregada com autoridade. Daí porque nos incomoda tanto as heresias, os desvios, os falsos ensinos…

E foi o que Paulo prescreveu à igreja:

“Seguindo a verdade em amor, cresçam naquele que é o cabeça, Cristo” (Ef 4.15).

Seguindo a verdade… É ela que deverá nortear a nossa vida. Impossível crescer em Cristo, desprezando a verdade em qualquer área da existência. Se há uma batalha que todo cristão deve se engajar de corpo e alma é aquela em favor da verdade. E como filhos de Deus isso não é opção.

Sabemos que muitos evangélicos têm se fechado a ‘determinada’ emissora para não assistir noticiários com possíveis ilações mentirosas. Perfeito. Mas, contraditoriamente, se mantêm abertos a toda sorte de ‘fontes’, muitas delas anônimas, duvidosas, e então, ironicamente, continuam da mesma forma, absorvendo mensagens falsas, e plantadas com o propósito de levar ao erro e ao engano. Consegue perceber?

Toda vez que abrimos mão de “filtrar”, de ler com olhos críticos, e de confirmar a veracidade, acabamos por dar crédito a coisas tão infantis, pueris e absurdas, que não resistem sequer a uma verificação acurada. E olha que a Bíblia ordena:

“Não apliques o coração a todas as palavras que se dizem…” (Ec 7.21)… “Em todas as coisas sejam criteriosos” (Tt 2.6)…

Saiba que informações falsas podem ser tão perigosas quanto a doença que estamos combatendo. Colhi algumas delas. Por ex.:

É falso que Manaus está enterrando caixões vazios para levar pânico à população… Que Caixões são enterrados com pedra e madeira em Belo Horizonte…. Que as covas nos cemitérios foram abertas para a TV filmar, e depois foram fechadas… Que a “ivermectina” (uso veterinário e humano) é a cura para o Covid19…. Que as 6 mil mortes no Brasil são fictícias, e estão sendo “inflacionadas” pela imprensa… Que há máscaras contaminadas vindo da China… Que o Governador da Bahia pediu à prefeita de Porto Seguro inventar 200 casos de covid19… E mais, muito mais…

Pesquise, analise… Se apela para o emocionalismo barato, não repasse, pois visa levar ao erro os mais simples e sugestionáveis… Se houver uma única dúvida sobre a veracidade, não compartilhe… E principalmente, seja crente, mas não seja “crédulo”…

“Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém…” (1Jo 3.7)

* Daniel Rocha, Pastor da Igreja Metodista em Santo André/SP

Fake News rodeiam Diário Oficial da União

Na madrugada de hoje, 24 de abril, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), a exoneração do diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

O Diário Oficial é um dos veículos de comunicação pelo qual a Imprensa Nacional tem de tornar público todo e qualquer assunto acerca do âmbito federal. Espera-se, que toda divulgação feita neste veículo seja verdadeira, pois orienta todas as áreas da vida da nação. Mas, hoje, descobriu-se publicamente, por meio de pronunciamento do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que as fake news rodeiam o veículo.

O documento publicado no Diário Oficial afirma que a exoneração foi feita “a pedido”, o que foi desmentido pelo agora ex-ministro em pronunciamento na manhã desta sexta-feira, 24 de abril.

“Não é verdadeiro que o Maurício queria sair. O ápice da carreira na PF é o cargo de diretor geral. Claro que depois de tantas pressões, ele até manifestou a mim que talvez fosse melhor sair se conseguisse uma substituição adequada. Mas sempre devido à pressão, que ao meu ver não seria apropriada.”

O documento também apresenta a assinatura eletrônica de Moro, indicando que ele sabia da exoneração antes da publicação no Diário Oficial. Durante pronunciamento ele também desmentiu sobre assinatura, depois de ter dito que tomou conhecimento da exoneração somente pelo periódico:

“Fiquei sabendo pelo Diário Oficial, não assinei esse decreto.”

Em pronunciamento, realizado na tarde do mesmo 24 de abril, Bolsonaro contestou a fala do ex-ministro e afirmou que a exoneração foi “a pedido”.

“Sobre a exoneração do doutor Valeixo, diretor geral da Polícia Federal, pela lei 13047 de 2014, é prerrogativa do Presidente da República a nomeação e a exoneração do Diretor Geral, bem como de vários outros cargos da administração direta.
A exoneração ocorreu após uma conversa minha com o Ministro da Justiça na manhã de ontem. À noite, eu e o doutor Valeixo conversamos por telefone e ele concordou com a exoneração a pedido.
Desculpe senhor Ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe uma acusação mais grave para um homem como eu, militar, cristão e Presidente da República ser acusado disso. Essa foi a minha conversa com o doutor Valeixo. E mais ainda, não só a imprensa publicou, no dia de ontem e de hoje, bem como, entre aspas, o doutor Valeixo em contato com a superintendência do Brasil, comunicando que estava cansado, e que desde janeiro queria sair. Então não foi uma demissão que causasse surpresa a quem quer que fosse.”

Após o pronunciamento do presidente, o ex-ministro Moro se pronunciou no Twitter:

Na noite desta sexta, alterações foram feitas no Diário Oficial. A assinatura do ex-ministro Moro foi retirada, e no lugar, acrescentaram o nome do ministro da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto, e do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Antonio de Oliveira Francisco.

A relação do Governo Federal com as Fake News não é de agora, segundo o site de checagem de notícias Aos Fatos, desde a posse de Bolsonaro até hoje, já foram 926 declarações falsas ou distorcidas.

Vamos acompanhar os desdobrabramentos dessas declarações no cenário político nos próximos dias. Infelizmente o Brasil tornou-se terra fértil para a proliferação de fake news. De onde se espera mais verdade, vem dúvida, passível de mentira e engano.

O Coletivo Bereia, no compromisso de atuar com informação e checagem de notícias, no enfrentamento de toda desinformação, lamenta ter que noticiar este fato aos seus leitores e leitoras, a quem só resta acreditar que a injustiça governa.

Mas o povo brasileiro continua acreditando em um país onde haja política justa para todos e todas.

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Referências de Checagem:

Diário Oficial da União – acessado em 24 de abril às 14H03. Disponível em: http://www.in.gov.br/web/dou/-/decreto-de-23-de-abril-de-2020-253769429

Youtube – Sergio Moro anuncia sua saída do Ministério da Justiça – acessado em 24 de abril às 12h15. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Yol5UvdlP2Y

Youtube – Pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro – acessado em 24 de abril às 18h02. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=r50zxW-D7M0

Aos Fatos – acessado em 24 de abril às 18h23. Disponível em: https://aosfatos.org/todas-as-declarações-de-bolsonaro/

Foto de destaque: Jair Bolsonaro e Sérgio Moro, por Carolina Antunes/PR

Ao encontro da verdade sobre gravidez precoce: o problema social que não pode escolher esperar

Há poucos dias, precisamente em 06.12.2019, tomamos conhecimento e nos indignamos com mais um desserviço do Ministério de Direitos Humanos, Mulher e Família, ao ler a seguinte notícia publicada na Revista Fórum: “Contra gravidez na adolescência, Damares promove seminário com pastor do ‘Eu Escolhi Esperar’ ” .

O movimento coordenado pelo pastor Nelson Junior e sua esposa, Angela Cristina, tem o propósito de “encorajar, fortalecer e orientar os solteiros cristãos a esperar até o casamento para viver suas experiências sexuais”. Logo, questionei-me: “Como o dinheiro público, de uma pasta tão relevante (ao menos deveria ser), está sendo investido para tratar o problema social da gravidez na adolescência?” . São 400 mil casos por ano no Brasil, com maior incidência no Nordeste, seguido pelo Sudeste e pelo Norte do país.

O atual presidente eleito, Jair Bolsonaro, em 30.11.2018, após sua vitória no segundo turno, anunciou uma mudança para seu governo, que seria alterar o nome do Ministério dos Direitos Humanos para Ministério da Família. Afirmou o capitão reformado: “Nós temos uma política de direitos humanos de verdade e não é essa que está aí”. E acrescenta: “E terá o nome de Família, que é tão cara e importante para nós”

Nos primeiros dias de seu mandato compôs o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos. Mas o que temos observado é que não foi somente uma mudança de nome, obviamente. Pastora Damares Regina Alves, advogada, assessora parlamentar, com largos anos de atuação política e atual pastora da igreja da Lagoinha (anteriormente pastora da igreja pentecostal, O Evangelho Quadrangular), assumiu a pasta em meio a muitas controvérsias, processo judicial e um eloquente discurso de posse que foi sintetizado por ela com a frase: “O país é laico, mas esta ministra é terrivelmente evangélica”. Mas voltemos à afirmação do terrível desserviço à qual nos referimos inicialmente.

Dados do IBGE/Censo Demográfico 2010, indicam que a proporção de adolescentes e jovens brasileiras entre 15 e 19 anos que ainda não estão inseridas no mercado de trabalho ou mesmo na escola, é maior entre aquelas que já tiveram filhos. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ocorrem aproximadamente 70 nascimentos para cada mil adolescentes, um índice acima da média para a América Latina, Caribe e também da taxa mundial.

Se lançarmos um olhar na perspectiva de gênero, podemos afirmar, sem dúvidas, que as meninas são as mais prejudicadas pela gravidez precoce, pois devido as maiores exigências no cuidado com os bebês, a maioria delas precisa se afastar dos estudos por não ter com quem deixar a(s) criança(s), além dos riscos que correm por gerar filhos tão cedo.

A SBP alerta, além do aspecto social envolvido, para questões de saúde, pois a gravidez na adolescência está associada a uma série de riscos para a menina e o bebê, como elevação da pressão arterial e crises convulsivas (eclâmpsia e pré-eclâmpsia) na jovem grávida e prematuridade e baixo peso nos bebês.

Nas últimas duas décadas a gravidez na adolescência tornou-se um importante tema de debate e alvo de políticas públicas no Brasil, o que resultou na diminuição, entre 2004 e 2015, de 114 mil nascimentos não planejados. Foram 661.290 nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos, em 2004, para 546.529, em 2015. Efetivamente, uma considerável redução de gravidez precoce em relação a anos anteriores. Mas, apesar dos avanços, o número de gravidez não planejada na adolescência ainda é grande, representando cerca de 18% do total de nascidos vivos no país.

De qualquer forma, a redução da gravidez na adolescência entre 2004 e 2015 foi significativa. O cenário mudou devido a iniciativas como a expansão do Programa Saúde da Família, com mais acesso a métodos contraceptivos e ao Programa Saúde na Escola, que oferecia informação de educação em saúde, conscientizando adolescentes a fazer escolhas livres e assim planejar melhor a vida.

É necessário ressaltar que a gravidez precoce, não planejada, também é fruto de violência. A cada 20 minutos uma menina de até 18 anos é vítima de estupro. De janeiro de 2017 a dezembro de 2018, 50.899 crimes contra adolescentes nessa faixa etária foram registrados, o que preencheria o número de habitantes da cidade de Campos do Jordão, no interior de São Paulo.

Para enfrentar tamanho problema, temos no extenso território brasileiro somente 85 hospitais cadastrados como referência de serviço ao Aborto Legal. Tudo isso nos leva a refletir sobre a carência de políticas públicas efetivas, como os programas já mencionados, que apontam maneiras de conscientizar cada vez mais adolescentes a fazer escolhas livres e responsáveis.

Na contramão desses eficientes programas do Ministério da Saúde, que deveriam ser aprofundados e melhorados, o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos utiliza dinheiro, tempo e infraestrutura pública em uma campanha, a meu ver, fraudulenta. Não há dados, ao menos não os encontrei, de que o movimento cristão convidado para o Seminário tenha tido algum êxito, ao menos nas igrejas em que atua, no sentido de convencer solteiros e solteiras a não fazer sexo. Que hipocrisia! A ‘coisa pública’ deve ser sempre embasada em dados, a fim de que se justifique o investimento.

Uma pasta que despreza a realidade, já que a própria coordenadora-geral de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Cecília Pita, afirmou que “não vai abordar o uso de preservativos e outros métodos contraceptivos porque isso já é realizado com políticas da área da Saúde e da Educação” e  que “entende que é preciso, sim, ter educação sexual, mas que é preciso informar sobre os benefícios de uma iniciação (sexual) tardia, e os prejuízos de uma iniciação precoce”, decididamente não está preparada para as problemáticas que o país enfrenta.

A impressão que se tem é que o Ministério coordenado por Damares Alves anda na contramão da realidade social, incentivando a abstinência como política pública sem nenhuma referência às condições sociais das adolescentes na gravidez precoce.

O referido seminário foi mais um desserviço e uma irresponsabilidade diante de dados alarmantes como o que temos em nosso país. Gastar dinheiro público em um evento promovido dentro da Câmara dos Deputados, em preparação para a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência para estimular a abstinência sexual como melhor método contraceptivo, é também um escárnio contra esses 18% do total de nascidos vivos entre janeiro de 2017 a dezembro de 2018, fruto de gravidez precoce, além de um desprezo contra as 50.899 meninas estupradas que engravidam sem desejar. A maioria delas nem consegue acessar os poucos serviços de Aborto Legal do país.

Infelizmente, estamos diante de uma pasta que tem se tornado irrelevante à medida de sua atuação irresponsável.

Os museus, as fake news e o silêncio

Os museus, as universidades e as leis de fomento à cultura têm sido motivo para discussões e servido de munição para geração de fake news, conforme pesquisa realizada pelo LavMUSEU/UFMG. Nos casos das últimas exposições consideradas polêmicas, chamou a atenção o fato de o debate relevante sobre o papel da arte e dos museus ter-se dado nos porões dos grupos privados das redes sociais, no sigilo do inbox, longe dos principais veículos de comunicação.

A exposição acrescenta algo ao debate ou é mais do mesmo? Qual a contribuição do discurso, da expografia e da estética das obras para o campo artístico e para a reflexão de assuntos relevantes na contemporaneidade? Essas perguntas, entre outras, emergiram ao largo das polêmicas, restritas aos fóruns fechados de profissionais, ao círculo dos iniciados. Não obstante nossas respostas eventualmente divergentes para cada uma dessas indagações, ninguém (ou quase ninguém) da área cultural queria pôr lenha na fogueira e dar argumento ao opositor. Tínhamos praticamente um consenso, um inimigo em comum. E esse inimigo se chamava censura.

E assim, sob a cortina de fumaça dessas polêmicas, do aviltamento da liberdade de expressão, pouco se debateu sobre questões igualmente relevantes para a cultura e para a sociedade. Esse silenciamento é, em parte, também consequência das fake news. No lugar do diálogo saudável, reinou o espetaculoso imaginário, as notícias falsas, o bate-boca sem embasamento, a agressividade daqueles que, não raro, sequer têm o hábito de frequentar museus. Daqueles que desconhecem o velho clichê: não defender necessariamente o que o outro diz, mas a liberdade de dizê-lo. Ou recorrendo à acidez sem eufemismos de Comte-Sponville: “Cada um tem a estética que merece”. O caso é que gosto se discute, exceto quando o mais importante é garantir princípios essenciais, como a democracia e os direitos humanos. Aí prescindimos das demais reflexões para tentar livrar nossas instituições culturais das garras do cerceamento e da ignorância.

Combater as notícias falsas e reparar os danos causados pela explosão virtual são tarefas ingratas, mas temos de tentar assim mesmo. Um primeiro público que precisamos alcançar é formado pelos próprios frequentadores de museus, e essa tarefa deve começar pelo estabelecimento efetivo de diálogo com esses usuários, ampliando ainda a presença da instituição nas mídias digitais. Passa pelo desenvolvimento de sites e blogs de museus atraentes, funcionais, transparentes e completos, nos quais constem não somente os sucessos, mas também os fracassos da instituição, como suas tentativas frustradas de captação de recursos.

Precisamos falar abertamente sobre nossas dificuldades, para que os amantes do conhecimento e os visitantes assíduos se manifestem em prol da sobrevivência dos nossos museus. As paredes dos museus escondem o lado “profano” da arte, como diria Boris Groys. Suas coleções on-line e sites acabam por seguir essa mesma tendência que, se por um lado encanta o fruidor, por outro contribui para a desinformação acerca do cotidiano das instituições culturais, com seus desafios diários e orçamentos escassos.  

É preciso, portanto, atrair e mapear frequentadores e profissionais bem informados e engajados na causa cultural, potenciais ativistas digitais, que podem ser alcançados por meio das redes sociais institucionais, do marketing digital, do SEO (otimização para mecanismos de busca), da Web Semântica, da formação de bancos de e-mails de usuários, da produção de conteúdo sempre renovado e dinâmico para os blogs e sites de museus.

Esse conteúdo tem suas demandas peculiares: não lemos na tela como o fazemos no papel. Assim como não é adequado afixar nas exposições textos escritos para catálogos e livros, não devemos descolar as letras das paredes e jogá-las inadvertidamente nas páginas digitais. O veículo afeta o teor da mensagem, pelo menos o modo como é compreendida. Museólogos, curadores, historiadores, jornalistas e demais escritores do campo cultural precisam aprender novas habilidades, como redigir para as mídias sociais (a exemplo de técnicas de webwriting e UX writing).

Por fim, mas não menos importante, deve-se exigir que os meios de comunicação, ao menos aqueles com algum respeito à ética jornalística, publiquem na íntegra notas e cartas oficiais dos museus sobre temas polêmicos. É fundamental que as assessorias de comunicação utilizem esse recurso crucial: “pegar carona” nos cliques e compartilhamentos de cada reportagem sobre o museu, apresentando a versão oficial da instituição e dando voz ao contraditório. Jornais, agências de checagem de fatos e blogs sérios costumam ser sensíveis a esse direito, e essas publicações ainda são bastante difundidas, como revelam nossos levantamentos.

É urgente que os museus, a academia e a imprensa cultural reajam com mais propriedade a essa avalanche de desinformação que nos toma de assalto, antes que sejamos engolidos pela revolução digital, que não respeita o tempo individual de adaptação, que não espera os retardatários. Antes que sejamos derrotados pela nossa resistência ao inevitável: vivemos em um mundo digital. Nesse ritmo, corremos sérios riscos de sermos soterrados pelos gritos cada vez mais altos das fake news. Aos “vencedores”, o nosso silêncio? Sabemos que a luta virtual é árdua e, em alguns casos, inglória, mas simplesmente não podemos nos omitir.

Baixe o relatório da pesquisa: https://www.lavmuseu.org/fakenews/

Publicado originalmente no Boletim UFMG, n. 2044 de dezembro de 2018

Aos pastores, pregadores da verdade, e aos impostores, propagadores de fake news

Por favor, não ousem colocar na conta de Deus suas predileções políticas. Não se atrevam a dizer que foi o Espírito Santo quem lhes mandou trabalhar pela eleição de Bolsonaro.Vocês não percebem que com isso a igreja só faz perder cada vez mais sua credibilidade ante a sociedade? 

Durante o último processo eleitoral, o autointitulado apóstolo Renê Terra Nova, o mesmo que organizou um batismo no Rio Jordão em que os fiéis formavam o número 17, “decretou” no mundo espiritual a vitória de seu candidato. Quanta sandice! Desde quando Deus se dobra aos nossos decretos? Chega a soar blasfemo. Enquanto isso, uma enorme ferida se abre no Corpo de Cristo (a igreja), aumentando exponencialmente o número de desigrejados. 

Que WhatsApp que nada! As igrejas se tornaram a principal fábrica de Fake News. 

Mentiras foram ditas nos púlpitos sem o menor constrangimento. Quem quer que tenha certo conhecimento se nega a continuar frequentando esses comitês eleitorais disfarçados de igreja. Pastores chantagearam seu rebanho, ameaçando excluir membros que se negassem a votar em Bolsonaro. Afirmaram que se o candidato oponente vencesse igrejas seriam fechadas, crianças seriam erotizadas nas escolas, pastores seriam forçados a celebrar casamentos gays e o Brasil se tornaria uma Venezuela.

Será que se esqueceram quem é o pai da mentira? 

Haviam grupos de pastores no whatsApp onde a mentira corria solta. Alguns trocavam fichinhas entre si para ver quais as Fake News da vez que deveriam ser contadas no culto seguinte. Não digo que o faziam conscientemente. A maioria, enganada, acreditava que finalmente teriam “um dos nossos” lá, defendo os valores nos quais hipotecamos nossa fé. 

Curiosamente, as mesmas correntes evangélicas que apoiaram o Bolsonaro aqui, são as que apoiaram Donald Trump nos Estados Unidos, com a mesma fábrica de fake news comandada por Steve Bannon.

No site da Unisinos, há um artigo que diz que Bannon estaria na Europa para fazer a mesma coisa: dividir a sociedade do velho continente, inserindo o nazifascismo. Na Itália, conspira contra o Papa. Por onde passa deixa um rastro de ódio e preconceito. 

Pelo menos, tudo o que está ocorrendo no Brasil serve para nos mostrar que o país segue sendo um grande campo missionário. E não me refiro aos milhões de desigrejados que deixaram suas igrejas por não aceitarem esta versão pervertida do Evangelho diluída no discurso fascista. Refiro-me aos tantos que ainda se mantêm nessas igrejas por se alinharem a este discurso. 

Indubitavelmente, o Brasil precisa urgentemente conhecer o evangelho do amor.