Circulam pelo WhatsApp mensagens anônimas que acusam a Rede Católica de Rádio (RCR) de inflar números de mortos por covid-19 para causar um caos no país e violar direitos constitucionais. As mensagens têm versões diferentes, uma delas tendo sido publicada por um suposto “engenheiro”. Ele diz que sabe fazer contas sobre a população atingida pela covid-19, e mostra números diferentes do que seriam os informados em notícias sobre a pandemia veiculadas pela RCR.
O engano promovido
A mensagem apresenta uma série de números, sendo alguns deles defasados e outros que são analisados de forma equivocada. O principal erro é considerar a taxa de mortalidade da covid-19 (número de mortes por covid-19 pelo total de habitantes do Brasil) e não a taxa de letalidade (o número de mortes por covid-19 em relação ao número total de contaminados pela doença). Quando observada apenas a taxa de mortalidade e não a de letalidade, os números numa população continental como a do Brasil ficam bastante baixos, não mensurando o impacto real da pandemia no país. Mais detalhes sobre o cálculo de taxa de mortalidade e taxa de letalidade podem ser encontrados no espaço dedicado ao coronavírus do blog da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (Sesau).
Bereia checou os números informados na mensagem, conforme indicações abaixo:
“Até a presente data, 10 de abril de 2021, 352.693 pessoas morreram de covid-19.”
Aqui também há números defasados e não consta a fonte a que o autor ou autora recorreu. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, em 10 de abril de 2021 o Brasil tinha 351.334 mortos por covid-19.
3. “X= 352.693×100/209.500.000 X= 0,17%” e “Dos 209.500.000 habitantes no País apenas 13.493.317 pessoas pegaram o Covid-19, isso representa 6,4% da população.”
Ainda que sejam usados os números defasados, o cálculo feito para evidenciar a porcentagem de contaminação e mortes por coronavírus no Brasil é correto e correspondem, respectivamente a número próximo de 0,17% e 6,35% da população.
Entretanto, o cálculo mais indicado nesta estatística é o de letalidade. A letalidade do coronavírus no Brasil chegou, em 10/04, a 2,61%. No fechamento desta matéria, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins em 20/04, a taxa de letalidade do coronavírus no mundo era de 2,13% e o Brasil acumulava o segundo lugar no mundo em mortes absolutas e a 10ª posição no ranking de mortes por milhão de habitantes, superando inclusive Estados Unidos e Índia, que somados têm número de casos confirmados três vezes maiores que o Brasil.
Considerando ainda os dados do monitor do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças, obtidos em 20/04, a média móvel de novas mortes nos últimos sete dias no Brasil é de 2.866 pessoas, mais que o dobro da Índia que vem em segundo lugar com 1.353 mortes diárias e quatro vezes maior que o número dos Estados Unidos que teve 714 mortes por dia nos últimos sete dias. É importante ressaltar que a Índia é um país com mais de 1,3 bilhão de habitantes e os Estados Unidos com mais de 330 milhões de pessoas.
Argumento em favor da economia é descontextualizado
O texto que circula, em pergunta retórica, menciona “justifica travar toda a economia, cercear os direitos fundamentais de ir e vir, do lazer, do trabalho, da educação e da dignidade humana?”. A indagação traz afirmações falsas.
Na ocasião da declaração da OMS, a entidade emitiu uma declaração considerando que “em certas circunstâncias específicas, medidas que restringem o movimento de pessoas podem ser temporariamente úteis, como em ambientes com capacidades de resposta limitadas ou onde há alta intensidade de transmissão entre populações vulneráveis”. No Brasil as restrições só começaram a acontecer em Estados e municípios após a publicação da Lei nº 13.979/2020 que dispôs sobre as medidas de enfrentamento à pandemia.
O posicionamento da Rede Católica de Rádio
A Rede Católica de Rádio publicou, em 14 de abril de 2021, nota esclarecendo o assunto.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Diante de publicação que circula em redes sociais e outras plataformas, citando a Rede Católica de Rádio, viemos a público esclarecer que:
1. É FALSO que o referido texto foi escrito, articulado ou assinado pela RCR e que, usando cálculos simplistas, busca descredibilizar e minimizar a gravidade e informações sobre números de mortos pela pandemia de Covid-19. 2. As informações prestadas pelos veículos da RCR sobre a pandemia, incluindo o Jornal Brasil Hoje, sobre a pandemia, são frutos de rigorosa apuração jornalística e baseadas nas fontes oficiais de dados. 3. A Rede Católica de Rádio está investigando origem deste conteúdo com o intuito de adotar as medidas cabíveis, inclusive judiciais. 4. Quaisquer questionamentos sobre decisões, dados ou outras informações oficiais sobre pandemia, por parte da Rede Católica de Rádio, são feitos por meio de sua produção jornalística e de suas afiliadas e, divulgadas através das respectivas emissoras, do JBH e de seus canais oficiais na internet. 5. A RCR defende a adoção das medidas de saúde e segurança preconizadas pelas autoridades competentes, como o uso de máscaras, do distanciamento social e do avanço da vacinação para o controle da pandemia de Covid-19.
A Rede Católica de Rádio é uma associação vinculada a SIGNIS Brasil e baseia suas ações nas orientações e Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana.
Pedimos a todos que receberam esse falso texto, que não o difundam e desconsiderem seu conteúdo.
Nós, cristãos e meios de comunicação de inspiração católica, temos compromisso com Jesus Cristo, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14, 6)
São Paulo, 14 de abril de 2021.
Angela Morais Presidente da Rede Católica de Rádio
Joelma Viana / Jorge Teles Vice-presidentes
Nota da RCR
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Bereia conclui, portanto, que o conteúdo sobre a RCR que circula pelo Whatsapp é enganoso. Apesar de conter um raciocínio e cálculos corretos, os números são defasados, sem indicação de fonte e com desprezo ao formato adequado de cálculos para mensurar o impacto da pandemia. Os números também desconsideram a situação de outros países, como a Índia com uma população de 1,3 bilhão de pessoas e que tem letalidade e média móvel mais baixas que a do Brasil. Conteúdos como este promovem desinformação, desestimulam medidas de proteção e higienização frente ao coronavírus e, por conseguinte, minimizam o impacto da pandemia que já ceifou mais de 378 mil vidas de brasileiros.
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A apuração contou com o auxílio do matemático Marcio Medeiros para a interpretação e análise dos dados.
Pelas mídias sociais, circula o vídeo de um pastor que, durante pregação em uma igreja, propaga mentiras sobre a Coronavac, vacina chinesa contra a Covid-19. Nas imagens, o pastor afirma:
“Daqui alguns anos muitas pessoas vão morrer de câncer, por quê? Por causa da vacina. Um cientista francês soltou um vídeo todo em francês alertando sobre a vacina. Já está sendo constatado por ele, um grande cientista francês, que o vírus surgiu na França, criado em laboratório, foi levado para China, aprimorado e espalhado para o mundo. (…) No mundo não tem uma nação comprando vacina da China. Quem tá comprando? São Paulo. Aí o cientista soltou a nota dizendo que essa vacina que está vindo aí, quem tomar vai atingir o seu DNA. Quando atingir seu DNA você não vai sentir nada mas depois de um tempo doenças aparecerão. Muitas pessoas vão morrer de câncer achando que foi câncer porque comeu alguma coisa, porque é hereditário, porque tem tumor, mas na verdade é por causa da vacina. Você, concordando comigo ou não, graças a Deus, tem um presidente doido no Brasil que diz que no Brasil não vai ser ninguém obrigado a tomar, porque se fosse outro estaria dizendo ‘vai todo mundo tomar’. Eu não tenho coragem de tomar uma vacina vindo da China, o país de origem do vírus. O cientista diz que até HIV tem dentro dela.”
Pastor Davi Goes
Bereia verificou que o líder religioso que aparece no vídeo é pastor na Igreja Assembleia de Deus Ministério Canaã, no bairro Água Fria, em Fortaleza (CE). Davi Goes é capelão no Exército Brasileiro e comandante da Capelania Samaritans, organização que oferece serviços religiosos. Segundo o site da organização, Goes foi militar das Forças Armadas, mas “saiu com méritos e honras para trabalhar no Exército de Deus”, sendo hoje pastor da igreja que tem cerca de 2.500 membros, onde foi gravado o vídeo.
Entretanto, em ferramentas de busca na internet, foram encontrados apenas dois registros que vinculem, em algum nível, Davi Goes com as Forças Armadas Brasileiras, mas nenhum deles comprova a vinculação como servidor efetivo ou temporário do órgão militar. O primeiro é referente ao Concurso Público para Admissão de Capelães Navais da Marinha do Brasil do ano de 2015, onde o nome do pastor aparece em documento de habilitação dos candidatos para realização de provas para o referido concurso. O segundo é referente ao mesmo cargo, porém em certame do ano de 2018, no qual Davi Goes aparece na relação de candidatos com inscrição deferida e habilitado para a prova escrita do concurso. Mesmo em busca por concursos anteriores e resultados dos certames, os sites das Forças Armadas não disponibilizam de forma facilitada os arquivos para consulta pública.
No Twitter, foram localizadas imagens em que Davi Goes aparece realizando funções de capelania militar, inclusive trajado conforme o código militar. Em uma das fotos é possível identificar a tarjeta em seu peito com o nome do pastor. As imagens foram publicadas em 21 de março de 2018 por um usuário do Twitter.
Davi Goes, além disso, é filho de Jecer Goes, pastor fundador e presidente da denominação Assembleia de Deus Ministério Canaã, iniciada no ano 2000. Segundo postagem em um antigo site da igreja, em 2011, o ministério possuía 140 congregações, um seminário teológico, um santuário para 12 mil lugares, uma rádio, duas fazendas (uma delas com 852 hectares), um grande hospital evangélico e um canal aberto de TV para todo o Estado.
Após a repercussão da gravação de sua pregação, o pastor deletou seu perfil no Instagram, Twitter, Facebook, bem como seu canal no YouTube. A página da Igreja Assembleia de Deus Canaã em Água Fria no Youtube também não pode mais ser encontrada. Antes da exclusão, entretanto, era possível assistir pregações de Davi no mesmo cenário exibido no vídeo do qual falamos. Portanto, o sermão antivacina contra a Covid-19 foi, provavelmente, ministrado em um culto na igreja.
Bereia confere nesta matéria, especificamente, os trechos selecionados pelo pastor Davi Goes:
“No mundo não tem uma nação comprando vacina da China. Quem tá comprando? São Paulo” FALSO
A afirmação do pastor é falsa. A informação foi repetida também pelo vice-presidente da República Hamilton Mourão, na manhã deste 14 de dezembro, em entrevista em Brasília, mas tem sido desmentida por vários veículos jornalísticos, como fez o portal de notícias UOL. Além do Brasil (por meio do estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Butantã), dois outros países já encomendaram as vacinas desenvolvidas na China para imunizar suas populações e vêm realizando testes: a Turquia e a Indonésia. Além destes, o Chile tem realizado estudos sobre a vacina, embora ainda não tenha fechado contrato de compra para o território nacional.
“Aí o cientista soltou a nota dizendo que essa vacina que está vindo aí, quem tomar vai atingir o seu DNA” FALSO
RNA (ribonucleic acid) é uma sigla em inglês que significa ácido ribonucleico. O RNA, ao contrário do DNA, é composto por apenas uma fita e ela é produzida no núcleo celular a partir de uma das fitas de uma molécula de DNA. Depois de pronto, o RNA segue para o citoplasma celular, onde desempenhará sua principal função, que é controlar a síntese de proteínas.
Existem três tipos de RNA, o RNA mensageiro, o RNA transportador e o RNA ribossômico.
O RNA mensageiro (RNAm) é o responsável por levar a informação do DNA do núcleo até o citoplasma, onde a proteína será produzida.
As vacinas de RNA mensageiro funcionam da seguinte forma: o conteúdo da substância de imunização é um trecho de RNA mensageiro do vírus. As células das pessoas “leem” o RNA e produzem, enquanto ele permanecer no organismo (intervalo de dias), pedaços do vírus. O sistema imune do corpo humano identifica esses pedaços e começa a produzir anticorpos antes que sejamos infectados. Assim, quando o indivíduo tem contato com o vírus, já conta com um sistema imune treinado, e o RNA mensageiro que foi inserido já se encontra fora do corpo humano.
A desinformação se torna ainda mais grave quando se recorda que a CoronaVac, vacina produzida pela Sinovac Biotech, indústria chinesa, é de RNA mensageiro. Este imunizante encomendado pelo Governo do Estado de São Paulo, na verdade, é do mesmo modelo já usado há anos no Brasil na “tríplice viral” que previne contra caxumba, rubéola e varíola. Ambas as vacinas trabalham com formas enfraquecidas do vírus, que são identificadas pelo sistema imune e geram resposta imunológica. Portanto, tal base da Coronavac não é novidade no país.
“Já está sendo constatado por ele, um grande cientista francês, que o vírus surgiu na França, criado em laboratório, foi levado pra China, aprimorado e espalhado para o mundo” FALSO
Desde abril, as fake news sobre os planos conspiratórios para a “fabricação” da COVID-19 vêm circulando na rede, com ares de ciência, fazendo-se uso de declarações do pesquisador francês e Nobel de Medicina Luc Montagnier. O pesquisador francês recebeu um quarto do prêmio no ano de 2008 pela sua descoberta do vírus HIV. Ele dividiu o prêmio com Françoise Barré-Sinoise (também com ¼) e Harald zur Hausen (½ do prêmio). No entanto, essa não é a primeira vez que o pesquisador se envolve em polêmicas científicas.
A ideia do coronavírus ter sido criado em laboratório já foi testada e confirmada como falsa. Também em abril, um editorial da Agência Lupa demonstrou como vários artigos científicos têm indicado a falta de veracidade nas declarações, e há abundância de evidências de que o vírus é, de fato, natural e se desenvolveu do contágio animal para o humano.
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Bereia conclui que o vídeo citado é verídico e representa uma gravação de pregação do pastor da Assembleia de Deus Ministério Canaã, Davi Goes, porém seu conteúdo é falso. A apuração mostra que o pastor mentiu durante culto ao dizer que o vírus foi criado em laboratório; que a vacina causará câncer, ao atingir o DNA dos usuários; e que contaminará com HIV. Todas estas afirmações já foram classificadas como falsas por diferentes fontes de informação comprometidas com a saúde da população.
O Coletivo Bereia chama a atenção dos/as leitores/as para que toda e qualquer afirmação referente à Covid-19, doença que já matou mais de 180 mil pessoas no Brasil, seja verificada antes de ser compartilhada. Ainda que informações sejam veiculadas por autoridades políticas e religiosas há muita mentira e confusão em circulação que pode causar a perda de vidas. Bereia está à disposição para receber denúncias e indicação de checagens pelo e-mail coletivobereia@gmail.com ou pelo WhatsApp (38) 98418-6691.
Marcando os 75 anos de existência da Organização das Nações Unidas, a Assembleia Geral deste ano foi atípica: por conta da pandemia da Covid-19, pela primeira vez na história, os líderes globais e suas delegações diplomáticas não se reuniram presencialmente em Nova York. As discussões foram virtuais e congregaram os chefes de Estados por meio de discursos gravados previamente.
Mesmo assim, a realização remota foi apenas um entre os fatos que despertaram a atenção do público e da mídia ao redor do mundo. Isso porque, entre os desdobramentos do encontro anual estiveram em evidência, sobretudo, os discursos dos presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e do chefe do Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, conectados pelas críticas e pressões à China e ainda por jogarem luz a temas de cunho religioso.
Neste cenário, o Coletivo Bereia volta sua atenção para uma matéria publicada no portal Gospel Mais no dia 27 de setembro, intitulada: “Trump condena a perseguição religiosa e critica relação da OMS com a China”. De acordo com o conteúdo, o presidente americano teria sido alvo de polêmica durante discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a ONU, ao criticar a relação da Organização Mundial de Saúde (OMS) com o governo comunista da China. Segundo Gospel Mais, que já contabiliza diversos conteúdos categorizados como imprecisos, enganosos ou mesmo falsos, Trump ainda teria criticado a perseguição religiosa no mundo, tema abordado pelo chefe do Executivo brasileiro ao fazer apelo contra a cristofobia.
Gospel Mais traz uma citação do presidente na ocasião do discurso: “Se a ONU quiser ser uma organização eficiente, precisa focar nos problemas reais do mundo. Isso inclui terrorismo, a opressão de mulheres, trabalho forçado, tráfico de drogas e de pessoas, perseguição religiosa e limpeza étnica de minorias”, disse o americano. Essa foi a única menção à temática religiosa presente na fala do presidente. Mesmo assim, ganhou destaque no título da matéria de Gospel Mais.
O conteúdo afirma também que Trump teria voltado a reiterar suas críticas à OMS, sugerindo que a organização teria omitido dados importantes ao lado da China, durante o início da pandemia do novo coronavírus, o que poderia ter salvado a vida de milhares de pessoas no mundo.
Na página de Gospel Mais no Facebook, que contabilizou 218 curtidas, 10 comentários e 36 compartilhamentos até a data de checagem, a publicação dividiu a opinião dos usuários.
Por dentro do discurso de Trump na Assembleia
No segundo dia do evento, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, disse que, 75 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e a fundação das Nações Unidas, o mundo está uma vez mais “envolvido numa grande luta global.” Enquanto líder do país anfitrião, ele foi o segundo a tomar a tribuna na abertura dos debates de líderes internacionais na ONU.
A íntegra do discurso virtual do presidente norte americano foi acessada no portal da CNN Brasil, da qual destacamos alguns trechos que reforçam as pressões que os EUA vêm fazendo à China. “Estamos em uma luta mundial, batalhamos contra um inimigo invisível, o vírus chinês que levou muitas vidas em 188 países. Nos Estados Unidos nós fizemos uma grande mobilização, a maior desde a Segunda Guerra Mundial. Entregamos respiradores, equipamentos e pudemos compartilhar com parceiros no mundo. Criamos tratamentos, reduzindo nossa taxa de mortalidade em 85% desde abril. Três vacinas estão na fase clínica para que possam ser entregues. Vamos distribuir a vacina, vamos combater e derrotar o vírus. Acabar com a pandemia e entrar em uma nova era de prosperidade, cooperação e paz”, disse.
Trump também fez duras críticas à China e ao combate à pandemia do novo coronavírus. De acordo com ele, a Organização Mundial da Saúde (OMS) colaborou para o impasse, em parceria com o governo chinês. “Nesse futuro precisamos responsabilizar a nação que libertou esta praga no mundo: a China. Ela proibiu os voos nacionais, mas permitiu que pessoas voassem para o restante do mundo e infectasse as populações. O governo chinês e a Organização Mundial da Saúde, que é virtualmente controlada pela China, disse que não havia possibilidade de transmissão de pessoa para pessoa, depois disseram que pessoas assintomáticas não espalhariam o vírus. Precisamos responsabilizar a China por suas ações”, criticou.
O presidente norte americano ainda avaliou a saída dos EUA do Acordo de Paris como uma solução para a redução da emissão de poluentes. “A China descarta lixo e plástico nos oceanos, destrói corais e lança mais mercúrio tóxico da atmosfera do que qualquer país no mundo. As emissões de carbono na China são quase o dobro dos Estados Unidos e estão crescendo. Depois que retirei os Estados Unidos do Acordo de Paris, nós reduzimos as emissões mais do que qualquer outro país do acordo. A China não está interessada no meio ambiente, ela está interessada em punir os Estados Unidos e eu não vou aceitar isso. Se os Estados Unidos vão ficar em uma Organização, ela precisa tocar nos problemas reais do mundo: o terrorismo, problema das mulheres, trabalho escravo, tráfico de pessoas, perseguição religiosa. Os EUA sempre serão líder para os direitos humanos”, acrescentou.
“Meu governo está criando oportunidade para mulheres, descriminalização da homossexualidade e protegendo pessoas não nascidas nos EUA. A prosperidade americana é a base da liberdade e segurança no mundo. Em três anos criamos a maior economia da história e estamos fazendo isso novamente”, reforçou.
Apesar do esforço de Donald Trump em culpabilizar a China por destruição do meio ambiente, por irresponsabilidade com a pandemia de coronavírus e ligar o país ao suposto controle da OMS, s as controvérsias em torno deste discurso são observadas. Além de desinformar com exagero nas acusações à China, Trump omite que os Estados Unidos praticam o mesmo tanto quanto ao coronavírus quanto ao meio ambiente. Os ataques discursivos à China são estratégia de disputa geopolítica. Antes mesmo da pandemia, as duas maiores economias do mundo já travavam uma disputa global de interesses econômicos, que chegou a ser caracterizada como nova Guerra Fria ou um período de “grande ruptura sem nenhuma liderança”, como afirmou o economista e professor da Universidade de Columbia (EUA) Jeffrey Sachs, em entrevista à BBC.
Pontos controversos também no discurso de Bolsonaro
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi o primeiro líder de Estado a discursar na 75ª Assembleia Geral da ONU. Entre falas que defendem a atuação do governo no combate à pandemia e aos crimes ambientais, Bolsonaro ressaltou as medidas econômicas implementadas em caráter de urgência, acusou a imprensa de espalhar desinformação sobre as queimadas e o desmatamento na Amazônia e Pantanal.
Os argumentos repercutiram até mesmo na mídia internacional. A agência francesa AFP, por exemplo, líder mundial em verificação digital, checou vários pontos da fala do presidente, apontando, sobretudo, para uma “campanha de desinformação” sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal.
Segundo a matéria da AFP, para explicar os incêndios que afetam a floresta amazônica, onde foram registrados 71.673 focos ativos desde o início do ano, Bolsonaro sugeriu que as chamas são causadas por caboclos e indígenas que ateariam fogo na terra para prepará-la para a agricultura. A checagem considera que, embora essa seja uma técnica efetivamente empregada por povos indígenas brasileiros, um levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) de setembro do ano passado concluiu que uma grande proporção dos incêndios que afetam a região está atrelada ao desmatamento.
A respeito da fala do presidente brasileiro sobre a Covid-19, a AFP também categoriza como “falsa”. Isso porque, apesar de realmente ter demonstrado preocupação com as consequências da pandemia para a economia brasileira desde o início do surto de covid-19, “não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro alertou ‘desde o princípio’ para a necessidade de combater o novo coronavírus”, explicita a matéria.
A checagem acrescenta que no dia em que o Brasil registrou a primeira morte pela doença, em 17 de março, Bolsonaro indicou ver “histeria” em algumas medidas implementadas para reduzir a propagação da doença. Em pronunciamento à população em 24 de março, quando o Brasil registrava 46 óbitos e mais de 2.200 casos confirmados de covid-19, o presidente se referiu à doença como uma “gripezinha”. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”, afirmou.
Alguns dias depois, em 27 de março, colocou em dúvida os dados de mortes pela doença no estado de São Paulo, que registrava 58 óbitos no momento. “Não pode ser um jogo de números para favorecer interesses políticos. Não estou acreditando nesses números de São Paulo, até pelas medidas que ele [o governador João Doria] tomou”, disse Bolsonaro em entrevista à Band TV. No mesmo mês, segundo a checagem, saiu para passear em Brasília, provocando pequenas aglomerações – já desencorajadas na época, inclusive por seu ministro da Saúde – e disse que o vírus precisaria ser enfrentado mas “não como um moleque”. “Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia”, acrescentou.
Outro ponto citado por Bolsonaro que gerou debate e polêmica foi a questão religiosa, assunto inclusive já abordado pelo Coletivo Bereia em matéria publicada recentemente. Na ocasião, ele fez um apelo à comunidade internacional pelo combate ao que ele chamou de “cristofobia”. Também pregou a defesa à liberdade religiosa. Bolsonaro não mencionou nenhuma outra religião, além do cristianismo. “Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à ‘cristofobia’”, disse. A declaração se deu em um momento em que falava de liberdade e ordem democrática. Bolsonaro afirmou que o Brasil é um “país cristão e conservador e tem na família sua base”.
É possível perceber a conexão do discurso do chefe de Estado brasileiro à fala do presidente dos EUA, Donald Trump, o segundo a se pronunciar na assembleia, que também afirmou: “se a ONU quiser ser uma organização eficiente, precisa focar nos problemas reais do mundo”, afirmou. “Isso inclui terrorismo, a opressão de mulheres, trabalho forçado, tráfico de drogas e de pessoas, perseguição religiosa e limpeza étnica de minorias”.
O que os discursos têm em comum?
Essa não é a primeira vez que os líderes se referem, em discursos, a perseguição religiosa, com enfoque nos cristãos. Em fevereiro de 2020, Brasil, EUA e mais 25 Nações entraram em acordo para fundar uma aliança global de combate à intolerância religiosa após praticamente dois anos de discussão sobre o tema.
Em setembro de 2019, Donald Trump teve uma reunião com a cúpula das Nações Unidas para pedir proteção para a liberdade de religião, lembrando episódios de ataques à judeus em sinagogas e a cristãos e muçulmanos ao redor do mundo.
O Coletivo Bereia ouviu Alexandre Brasil, doutor em Sociologia e diretor do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre os esforços brasileiros em se juntar ao governo americano na Aliança Internacional para Liberdade Religiosa. Para ele, a ação é uma estratégia política:
A necessária questão da liberdade religiosa sempre foi uma preocupação da diplomacia brasileira, tendo atuado em diversos momentos e, dentro da tradição brasileira, privilegiando os fóruns internacionais multilaterais. O Brasil sempre ocupou uma importante posição no palco internacional devido a orientação assumida de buscar a conciliação e o diálogo. Em anos recentes o governo brasileiro atuou em processos em vários países em que a liberdade religiosa de cristãos tem sido ameaçada. Isso se deu tanto por meio do diálogo e participação em eventos da alta administração com governos nacionais que ocorreram em fóruns multilaterais, como também em ações concretas visando intermediar e receber refugiados que estão com a vida ameaçada. Nunca houve desconsideração com esse tema, sendo que o que há de novo agora é a proeminência e uso político e estratégico dele. Um ponto central nessa pauta é que a mesma não pode e não deve assumir uma conotação ideológica e política, mas ser enfrentada com a seriedade e complexidade que possui visando, principalmente, a defesa e promoção da vida e dos direitos humanos.
Alexandre Brasil, doutor em Sociologia
Ainda de acordo com Alexandre Brasil, a aliança pode causar efeito inverso, definindo o que chama de “inimigos globais”:
Essa ativa atuação global americana pode ser lida como uma união entre religião e política que pode acabar por definir inimigos globais a partir da questão da liberdade religiosa. Inimigos que também serão da Aliança criada. Assim podemos estar diante de uma conformação similar daquela experimentada por ocasião da Guerra Fria, só que agora a religião acaba por servir como alimento para uma retórica persecutória que elege e estabelece inimigos a serem combatidos. O que vem sendo adotado no governo brasileiro, que reúne tanto católicos como evangélicos, são elaborações que perpassam a questão da liberdade religiosa e que afirmam que essa tem precedência sobre os outros temas dos direitos humanos. Isso tanto no Itamaraty como no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Alexandre Brasil, doutor em Sociologia
Apesar de fazer o esforço de defesa da tolerância religiosa que vem promovendo nos anos mais recentes de seu governo, uma das promessas de campanha de Trump, que foi autorizada no início de seu mandato, foi a de barrar a entrada de viajantes muçulmanos nos EUA, sob o argumento de se defender do terrorismo e defender as fronteiras do país.
Além da política imigratória restrita que marca o discurso de Trump, em outros episódios, o presidente foi conivente com falas xenofóbicas e intolerantes, como aconteceu durante sua campanha em 2016, quando, durante um comício, um eleitor levantou a questão dos muçulmanos como um problema a ser enfrentado pelo país e chamou o então presidente Barak Obama de muçulmano. Diante da fala, Trump concordou e deu uma resposta evasiva.
Já o presidente brasileiro participou, somente em 2019, de 40 encontros religiosos com líderes evangélicos, desconsiderando ainda outras profissões de fé cristãs, como os católicos. O próprio Bolsonaro já afirmou em suas falas que foi eleito graças aos votos da base eleitoral evangélica.
Em 01 de abril de 2019 Bolsonaro visitou o Muro das Lamentações em Jerusalém, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A visita gerou debate na comunidade internacional, pois historicamente o Brasil sempre defendeu a causa palestina, no entanto, o ato, realizado na presença do ministro de Israel foi contra a política brasileira de apoio aos palestinos. Em nota, o grupo palestino, Hamas, condenou a atitude do presidente, o que foi prontamente rebatido em rede social pelo filho de Bolsonaro, o senador, Flávio Bolsonaro, com uma frase intolerante que causou reação aos leitores. “Quero que vocês se explodam”, escreveu Flávio sobre a nota emitida pelo Hamas.
A aliança de países é uma solução para a intolerância religiosa?
Para o doutor em sociologia, Alexandre Brasil, ouvido por Bereia, já existiam fóruns de discussão no sistema internacional de direitos humanos que poderiam articular ações para essa problemática. “Por que não os utilizar?”, questiona Brasil.
Ainda de acordo com Alexandre Brasil, “a questão que se põe faz parte de uma estratégia da política internacional americana em dar precedência sobre os chamados direitos humanos de primeira geração, com foco na liberdade, e desconsiderar todo o avanço acumulado posteriormente que envolve tanto as questões sociais, como também ambientais, culturais e de participação social”.
Questionado se acredita no efetivo combate à intolerância religiosa no Brasil a partir da aliança internacional, Alexandre Brasil é enfático:
Já não estou mais na idade de acreditar em ações visivelmente marcadas por uma determinada agenda ideológica na linha da “cristofobia” anunciada por Bolsonaro em seu discurso na ONU. Essa é a agenda que está na mesa, à qual considero extremamente perigosa e prejudicial para as relações internacionais brasileiras.
Alexandre Brasil, doutor em Sociologia
De acordo com o especialista, há gargalos no sistema de proteção dos direitos humanos no Brasil e, ao invés de melhorias, houve desidratação de áreas de ministérios que estavam envolvidas com a temática no governo de Jair Bolsonaro.
O desafio brasileiro é enorme em relação à temática da liberdade religiosa. O foco e desafio do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos envolve considerar seriamente as ações previstas no último Plano Nacional de Direitos Humanos que possuem três pilares: o incentivo a criação de mecanismos públicos como secretarias, coordenadorias, conselhos e comitês para a promoção de discussões, reflexões e ações relacionadas a promoção do respeito à diversidade religiosa e para o suporte as vítimas. Há também questões que envolvem a necessidade de formação, iniciativas na educação básica, desenvolvimento de pesquisas populacionais e a formação dos servidores públicos que atuam no atendimento à população nas áreas de saúde, educação, assistência pública e segurança pública. Uma terceira frente seria a realização de campanhas e ações públicas visando sensibilizar e ampliar essa discussão. Infelizmente vemos o inverso a isso, com o desmonte de áreas nos Ministérios envolvidos com esta pauta como o da Educação. Uma total incapacidade e desinteresse por parte dos setores da área da cultura e, no caso dos Direitos Humanos, houve a extinção do Comitê que existia, sendo proposta a criação de um novo fórum com menor representação da sociedade civil e que ainda não saiu do papel. O novo comitê proposto tem como foco o tema da liberdade religiosa, sendo que o Brasil é reconhecido internacionalmente como o país campeão de liberdade religiosa no mundo em decorrência da inexistência de leis restritivas à criação e reunião em torno da religião. O nosso desafio, enquanto país, passa por identificar as questões que nos afligem em relação a existente intolerância religiosa e um marcado racismo religioso que tem se dado de forma violenta e segregacionista em relação às religiões afro-brasileiras. Isso precisa ter prioridade na agenda de qualquer esfera pública dedicada à promoção e defesa dos Direitos Humanos.
Alexandre Brasil, doutor em Sociologia
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O Coletivo Bereia categoriza a matéria publicada no portal Gospel Mais no dia 27 de setembro, intitulada: “Trump condena a perseguição religiosa e critica relação da OMS com a China” como enganosa. O veículo reproduz conteúdos, de fato, pronunciados pelo presidente dos Estados Unidos, mas não oferece aos leitores/as a informação de que são falsos.
Recentemente, o Bereia checou diversos conteúdos relacionados à disseminação de desinformações e notícias falsas no Brasil e no mundo envolvendo cristãos e o governo chinês, o que parece ser apenas uma das frentes de algo que vem sendo denominado como a Nova Guerra Fria, tendo a China e outras potências mundiais como protagonistas.
Ademais, o site gospel engana os leitores com um título que destaca o tema da perseguição religiosa, mas este foi apenas uma breve menção do presidente Donald Trump em seu discurso, que, na verdade, enfatizou as críticas à China, não tendo abordado questões referentes a religião.
Na próxima quinta-feira, 24/09, será lançada a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), iniciativa que reúne pesquisadores, jornalistas, projetos, agências, coletivos, movimentos sociais, revistas e instituições científicas, e entre os integrantes, o Coletivo Bereia. O lançamento acontece a partir de 19h por meio de transmissão ao vivo no Youtube da RNCD.
A editora-geral do Coletivo Bereia, Magali Cunha, classificou a decisão de integrar a rede como um “passo a mais da nossa consolidação [enquanto coletivo de verificação fatos]”. Bereia é reconhecido nacionalmente por ser o primeiro coletivo jornalístico do Brasil especializado em fact-checking religioso.
A Rede
São mais de 30 projetos que trabalham em várias frentes combatendo a desinformação em diversos ambientes e cujo escopo vai da pandemia da COVID-19, passa pela política e pelo ambiente religioso e chega aos direitos humanos com ataques à integridade das pessoas LGBT, mulheres, negros, indígenas, dentre outros.
A RNCD reúne uma diversidade de abordagens contra a desinformação englobando projetos de monitoramento de fake News, de jornalismo de fact-checking, projetos que trabalham com comunicação proativa levando informação precisa e necessária para a sociedade, projetos de contranarrativas, além de muitos que trabalham com informação científica e popularização da ciência.
Sobre o evento de lançamento é válido destacar que além da apresentação da plataforma da RNCD e dos parceiros da iniciativa, haverá uma palestra do jornalista e Professor Doutor Eugênio Bucci que dentre outras atividades é Professor Titular da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), colunista do jornal O Estado de São Paulo e foi Presidente da Radiobrás entre 2003 e 2007. Publicou vários livros, alguns focado na ética jornalística e, por último, publicou, em 2019, o livro Existe democracia sem verdade factual?.
Em uma celebração neste último domingo (24/8), o padre Antônio Firmino da paróquia São João Batista, em Visconde do Rio Branco, Minas Gerais, desejou a morte dos fiéis que não estão indo à igreja durante a pandemia. O caso se tornou matéria publicada pelo portal de notícias evangélico Pleno News, em 25 de agosto de 2020, com o título “Padre deseja morte a fiéis que não vão à igreja na pandemia”.
No vídeo que circulou nas mídias sociais, o pároco dizia que os fiéis que não estão no grupo de risco e optaram por sair só quando houvesse a vacina deviam “morrer antes” que ela fosse entregue à população. Ele também relacionou a falta de presença na igreja como falta de fé dos fiéis.
“Aí a gente vai vendo quem realmente ama a eucaristia… Porque tem alguns católicos, engraçado, que têm saúde, têm tudo e dizem: ‘Eu só vou na Igreja quando tiver a vacina’. Tomara que não apareça vacina para essas pessoas. Ou que morram antes de a vacina chegar, não é?”, disse Antônio Firmino Lana, pároco da igreja.
Retratação
Em um vídeo publicado na terça-feira (25) no Instagram, o padre Antônio Firmino pediu desculpas pelo comentário, que classificou como “infeliz”, e disse que é conhecido por ser uma pessoa que “luta pela vida”. Ao final da fala, ele pediu orações e reconheceu o erro. Segue o link pelo Instagram:
“Eu venho pedir desculpas para aquelas pessoas que se sentiram ofendidas pelas minhas palavras. Espero que fique claro isto e tenho certeza que vocês, que tem o coração bom, hão de reconhecer o meu erro e me perdoar por isso, rezem por mim, também sou pecador”, finalizou.
O padre Antônio Aparecido Alves, da Diocese de São José dos Campos (SP), pároco da Paróquia São Benedito do Alto da Ponte, em declaração ao Bereia, afirmou “Essa é uma fala infeliz e moralista, que não representa o que pensa a Igreja sobre essa situação.”
Comentários nas mídias sociais
Alguns comentários dos usuários de mídias digitais sobre o ocorrido mostraram indignação perante a opinião do pároco.
“Não irei sair da minha casa pra ir ouvir uma barbaridade dessas. Ao invés de prosperar, evangelizar, pregar a palavra fica desejando morte das pessoas que ele nem sabe o motivo de não ir […] mas se ele me deseja isso eu desejo o bem pra ele e ele foi infeliz nesse comentário espero que ele reconheça e estude mais sobre a palavra de Deus porque tem muito a aprender. A gente só pode ensinar quando sabe”, escreveu uma usuária.
“Então eu vou morrer. Sou católico e por fobia não estou saindo da minha casa, medo de pegar essa doença e passar para os idosos ou familiares da minha casa (faço somente mandatos no meu bairro para familiares idosos). Não há importância padre!”, publicou outro.
Bereia conclui que o conteúdo da matéria é verdadeiro, pois de fato, a declaração do padre existiu, assim como sua retratação após o ocorrido. A matéria de Pleno News destacou ambas as circunstâncias, incluindo espaço para os dois vídeos. O Coletivo Bereia reforça aos leitores que é importante ir além do título para ter compreensão geral do assunto abordado em qualquer matéria, bem como para compreender os vários posicionamentos e pontos de vista acerca de um determinado assunto.
O site Pleno News publicou em 09 de junho a notícia “Transmissão de Covid-19 por paciente sem sintomas é rara” que destaca a declaração de Maria Van Kerkhove, infectologista e chefe do departamento de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a propagação da Covid-19 a partir de pacientes assintomáticos ser “muito rara”. De acordo com a porta-voz da OMS, os dados levantados mostraram que pessoas que não apresentam sintomas do vírus têm pouco potencial infectológico para contaminar indivíduos saudáveis. Esse pronunciamento foi feito em 08 de junho. Devido à polêmica causada pela declaração, logo em seguida, a infectologista Maria Van Kerkhove, justificou que ainda não há definição de quantas pessoas são assintomáticas.
No dia seguinte (09/06), a OMS corrigiu a declaração informando que há transmissão e é preciso que iniciativas de isolamento social continuem a vigorar para evitar a proliferação do Coronavírus. A matéria no Pleno News foi publicada à meia-noite do dia 09/06 e atualizada às 8h40 na mesma data. Mesmo depois da correção da declaração pela OMS, o Pleno News não atualizou a notícia, que permanece no site desatualizada.
No Twitter, também em 09 de junho, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cobrou transparência da Organização Mundial da Saúde com relação a pandemia e chamou a atuação da OMS de “papel problemático”.
A distorção das declarações da OMS
Não é incomum a distorção ou retirada de contexto das declarações da Organização Mundial da Saúde para permitir diversas interpretações. Em 06 de maio, por exemplo, o site UOL publicou matéria com o título “Fala da OMS é tirada de contexto para dizer que órgão é contra isolamento”. Segundo o site, a informação foi divulgada através do blog Estibordo que tem um viés de política de direita, sendo posteriormente compartilhado uma fala da OMS baseado na entrevista de Margaret Harris, porta-voz da organização para o jornal The Sydney Morning Herald, sobre o afrouxamento da quarentena na Austrália.
O canal da UOL no Youtube publicou em 09 de junho o vídeo “Bolsonaro distorce dado da OMS sobre transmissão de Covid-19 por assintomáticos” no qual o presidente afirma que deve haver uma “reabertura mais rápida” a partir do momento que a OMS realizou divulgação que a disseminação do Coronavírus por pessoas assintomáticas é considerada rara. Durante a Reunião dos Conselhos, Bolsonaro apresentou críticas à OMS no qual reforça o “pânico” causado pelos meios de comunicação.
Assintomático, sintomático ou pré-sintomático?
O canal do portal de notícias O Antagonista, no Youtube, publicou o vídeo “O Erro Sintomático da OMS” em 09 de junho, que esclarece os conceitos de assintomático, sintomático e pré-assintomático. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o pré-assintomático, por exemplo, seria o indivíduo que ainda não apresentou sintomas do Covid-19 e que inclusive pode haver uma contaminação antes do aparecimento dos sintomas. O assintomático é aquele que ainda não desenvolveu os sintomas, ainda. Os sintomáticos são os indivíduos com os sintomas já desenvolvidos.
Em 10 de junho, o Correio Braziliense publicou notícia com o título “Ignorar pacientes assintomáticos é ”mal-entendido’, diz OMS”, na qual há a afirmação de que milhares de pessoas podem ser infectadas e o vírus pode estar presente em qualquer um, inclusive naqueles que não apresentam os sintomas da covid-19, os chamados assintomáticos.
De acordo com Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências da OMS:
“Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto, saber qual é a contribuição relativa de cada grupo para o número total de casos”.
Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências da OMS
Na tentativa de elucidar a declaração do dia 08/06, Maria van Kerkhove afirmou que há um subgrupo de pessoas que não desenvolvem sintomas, e não há uma resposta concreta para entender esse grupo, que gira entre 6% e 41% da população mundial. “Mas sabemos que as pessoas que não têm sintomas podem transmitir o vírus”, ressaltou.
Ainda sobre o mesmo assunto, o portal de notícias G1 publicou em 09 de junho notícia com o título “OMS esclarece que assintomáticos transmitem coronavírus: ‘a questão é saber quanto’”. A matéria esclarece que uma pessoa com o Sars CoV-2 assintomática nunca deverá desenvolver os sintomas da Covid-19, sendo que os mais comuns são febre, tosse e dificuldade para respirar. Um paciente pré-sintomático também está com o vírus em circulação no corpo, mas no período de incubação, prestes a desenvolver os sintomas dentro de alguns dias.
Bereia conclui que é enganosa a notícia publicada no site Pleno News sobre as possibilidades de transmissão de Covid-19 por paciente sem sintomas, após verificar notícias e vídeos publicados em 09/06, mesma data da notícia do Pleno News, contendo a correção da fala de Maria Van Kerkhove e da OMS sobre a da declaração proferida em 08 de junho.
Youtube. BOLSONARO DISTORCE DADO DA OMS SOBRE TRANSMISSÃO DE COVID-19 POR ASSINTOMÁTICOS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WLY7rEEmBk8>. Acesso em: 16 jun. 2020.
* Matéria atualizada em 11/04/2022(correção de etiqueta)
Está circulando em vários grupos de WhatsApp, católicos e evangélicos, um link que oferece livre acesso a 471 livros da Editora [Católica] Paulus . O Coletivo Bereia verificou, porém, que não se trata de um material promocional da editora, mas, sim, um furto intelectual.
Martha Bispo, assessora do Centro de Estudos Biblícos do Maranhão e secretária-executiva da CNBB Região IV, conta que recebeu o link suspeito via WhatsApp e logo percebeu que havia algo errado. A assessora imediatamente consultou um padre,- que já sabendo sobre o ocorrido, solicitou que ela excluísse a mensagem recebida.
“Eu abri porque recebi de um WhatsApp seguro, mas logo percebi que era vírus”, disse Martha Bispo. Ela conta que, em seguida, recebeu uma mensagem de um dos funcionários da Paulus confirmando tratar-se de algo ilegal:
“Prezados/as,
infelizmente o link acima que dispõe as obras da Paulus gratuitamente foram fruto de roubo intelectual, o que é previsto no Código Civil por crime.Fazer o download, segundo alguns especialistas, não constitui crime. Mas a apropriação indébita de uma obra, fruto de roubo, é crime.
Verifiquei com o Jurídico da Editora Paulus, que já foi acionado.No Brasil, há mais de 1000 casos de roubos de propriedade intelectual ou privada.As obras que constam ali são supostamente verdadeiras, mas podem conter vírus que prejudicam computadores, celulares, tablets ou leitores de livros digitais, e, muitas vezes não se manifestam logo de início, mas ao longo do tempo, pois ficam alojados nos arquivos baixados.Portanto, se baixarem, pode ser que em algum momento informações confidenciais de seus computadores sejam roubados também da mesma forma que as obras foram.
É bom que se tenha um antivírus muito bom em sua máquina ou celular.A Paulus, provavelmente não sabe como isso ocorreu.Os livros, revistas e outras obras que são dispostos digitalmente, podem ser baixados diretamente no site da Paulus, como a Revista Vida pastoral, por exemplo.É o que sabemos no momento”
Euri Ferreira
O Coletivo Bereia também entrou em contato com Francisco Galvão, religioso Paulino e escritor da Paulus. Ele confirmou, então, que houve furto do material da Editora. Também, confirmou que a editora ainda não conseguiu compreender como o fato ocorreu. Francisco Galvão lamenta o “roubo de quase 500 obras” e, também, informou que a área jurídica da instituição está trabalhando quanto às medidas jurídicas que a editora poderia tomar.
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Referências de Checagem
Link oficial da Editora Paulus: https://www.paulus.com.br/portal/conteudo-gratuito/
Debate entre influenciadores evangélicos, mensagens nas redes sociais de políticos e até declarações do Presidente Bolsonaro provocam uma guerra de números e estatísticas. Todavia, só há uma certeza: o Brasil precisa ampliar a testagem da população, a coleta, o tratamento, análise e divulgação dos dados. Em meio à pandemia, uma das questões centrais é a necessidade de transparência, dados confiáveis e atualizados.
O Deputado Federal Marco Feliciano (PODE/SP) publicou em seu perfil no Twitter em 14 de abril:
O deputado citou “dados do Ministério da Saúde” – e não foi o único a se referir a números sobre a COVID-19 que são conflitantes. Foram muitas as postagens sobre dados com respeito a infectados e mortos que apareceram nas mídias sociais nos últimos dias. Bereia checou a guerra de índices e narrativas sobre os infectados e os óbitos por COVID-19 (nome da doença causada pelo coronavírus).
Há narrativas que tentam associar alguns números à queda de mortes devido o “Dia de Jejum Nacional de combate à COVID-19″, que aconteceu dia 05 de abril de 2020 por meio de uma convocação feita pelo Presidente Jair Bolsonaro nas mídias sociais. Essa abordagem provocou uma disseminação considerável de dados incorretos.
LETALIDADE ALTA – O vírus é mais letal que H1N1 e continua matando
A comparação entre H1N1 e COVID-19 demonstra que o vírus atual é mais letal, inclusive, porque é capaz de provocar danos no organismo, diretamente. Mesmo que a taxa de letalidade do novo vírus seja de 0,5% a 1%, como sugerem consultores científicos do governo britânico, a letalidade seria, ainda, muito maior do que a da pandemia de H1N1, que é estimada em 0,02%, segundo um estudo liderado pela cientista Maria Van Kerkhove, da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nos Estados Unidos, o debate sobre o número de mortos e infectados pela COVID-19 aumentou quando o prefeito de Nova York sugeriu que o número poderia ser maior. De fato, um dos maiores desafios na estatística é a inclusão de pacientes que morreram fora de hospitais, mas que já tinham testado positivo, bem como aqueles não testados mas que manifestavam os sintomas da doença.
Enquanto o Ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) esteve à frente do processo de combate à pandemia pelo governo federal, os protocolos da OMS foram seguidos, e os óbitos e casos eram contabilizados considerando-se cada cem mil habitantes. Esta tem sido a prática adotada para taxas oficiais, em todas as epidemias. É desta forma que o Instituto Nacional do Câncer (INCA) trata o avanço dos casos, e as prefeituras e governos acompanham os casos de dengue e meningite (número/cem mil habitantes).
Em postagem no Twitter, em 15 de abril de 2020, o Presidente Jair Bolsonaro expôs outra forma de contabilização dos casos: por milhão de habitantes. Ainda que matematicamente possível, faz parecer que a mortalidade é menor. Este tipo de contagem mostra, apenas, a gravidade do problema sob outra perspectiva. Além disso, o dado atual é de que a letalidade está em 10 óbitos/milhão de habitantes.
DA ESPANHOLA à COVID-19 – a pandemia sempre nasce da mutação de um vírus
A gripe “espanhola” que se tornou uma pandemia, de janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou 500 milhões de pessoas em dois anos. O surto ganhou esse nome por causa da liberdade da imprensa espanhola em noticiar os casos, incluindo até a família real espanhola. Na época, não havia o sequenciamento genético dos vírus – algo que ajuda a entender melhor como as doenças se espalham, por isso, a origem acertada da “gripe espanhola” é desconhecida.
Atualmente, por conta do sequenciamento genético possível, a OMS passou a designar as doenças por siglas, como a COVID-19, causada pelo SARS-COV-2. O vírus é uma mutação de outro conhecido anteriormente, que provoca Síndrome Aguda Respiratória – ou seja, uma doença que acomete os pulmões e impede a pessoa de respirar. A falta de UTIs, de respiradores e a evolução rápida para o óbito fazem da atual pandemia um desafio global.
Em 14 de abril de 2020, o pastor Marcos de Souza Borges, também conhecido como Pr. Coty, um dos diretores da organização Jovens com uma Missão (JOCUM), publicou no Instagram que a redução do número de mortes no Brasil por coronavírus coincide com o 5 de abril, dia do Jejum Nacional. O pastor induziu seus leitores à conclusão de que a campanha religiosa convocada pelo Presidente da República foi bem sucedida no combate ao vírus.
Bereia checou vários exemplares do Boletim Epidemiológico (material publicado pelo Ministério da Saúde) de onde foi retirado o gráfico do pastor Coty (Boletim Epidemiológico 8). A cada dia, novos óbitos são incluídos nas estatísticas, isso se dá em função da demora na confirmação do laudo da causa morte por COVID-19. Há um tempo de testagem que precisa esperar e uma fila cada vez maior diante do aumento do número de casos. O colapso que se anuncia para o sistema de saúde inclui a capacidade de diagnóstico e análise de dados. E esses desafios somam-se à questão da subnotificação.
Ao analisar os boletins 8, 9 e 10 do Ministério, foi possível identificar que a cada dia é indicado um número que pode ser revisto – cerca de 20% dos óbitos anunciados ainda não tinham sido confirmados como tendo sido causados ou não por COVID-19. Além desse percentual, novos óbitos, que não eram suspeitos, podem vir a ser incluídos após o resultado dos exames. Assim, observou-se que a cada dia os novos óbitos anunciados não se concentram na véspera ou no dia em questão, mas se distribuem nos 30 dias anteriores à publicação do relatório.
É significativa a diferença na distribuição dos dados quando observado o período entre 15 de março e 6 de abril como publicado, em 6 de abril no Boletim Epidemiológico nº 7, em comparação com o mesmo período do Boletim Epidemiológico nº 10, publicado no dia 16 de abril.
Veja a seguir:
Boletim Epidemiológico nº 7
Boletim Epidemiológico nº 10
Bereia ouviu o pesquisador Alexandre Brasil (professor e diretor do Instituto de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ), para analisar os relatórios do Ministério da Saúde e concluiu que os dados estão sendo revisados a cada boletim (sempre para cima, com mais casos). Além disso, parece não existir especificidade no Brasil, seja relacionada à vacinação por BCG ou ao clima, que impeça a concretização de um quadro similar aos outros países. Até o momento, o distanciamento social parece ser, como recomendado pela OMS, o elemento mais efetivo para prolongar o tempo de contaminação e assim permitir que o sistema público de saúde e outras instituições tenham condições de atender o volume de pessoas que serão acometidas pela doença.
A observação dos gráficos acima permite identificar um evidente movimento em direção ao aumento no número de casos, o que vai se confirmando no lento processo em que ocorrem as confirmações e ajustes dos dados divulgados. Há uma pressão da pandemia sobre a coleta de dados.
O CREMESP (Conselho Regional de Médicos do Estado de São Paulo) e os Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde também alertam para o problema da subnotificação, pois a demanda de testes impacta o armazenamento e a capacidade de providenciar resultados a tempo. Ou seja, os dados apresentam a fotografia de uma realidade, com até 30 dias de atraso, período em que já existem pessoas sepultadas por COVID-19, de quem o resultado do teste chegou depois da notificação do óbito. Ainda há os casos de pacientes, com testes e “causa mortis” em aberto, por falta de conclusão no inquérito epidemiológico.
O projeto de monitoramento da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) do COVID-19, o Infogripe, somados aos dados municipais de sepultamentos (municipais), também revelam que há, no mínimo, um atraso considerável nos dados oficiais do Ministério da Saúde divulgados.
AJUSTANDO O TERMÔMETRO – Os números são confiáveis?
Para que a população tenha acesso à informação mais correta e completa possível, o Ministério da Saúde precisa divulgar, juntamente com os dados de casos confirmados e de óbitos pelo coronavírus, o índice de contaminação de profissionais de saúde e os dados de ocupação de UTIs e CTIs, – ainda que a divulgação continue a oferecer os números com atraso de 7, 14 ou 21 dias.
Levantamentos na China e na Espanha, por exemplo, indicaram um expressivo número de contaminações entre agentes de saúde.
É fundamental, também, acompanhar o número de hospitalizações por SARGs (Síndromes Agudas Respiratórias Graves), pois essas hospitalizações é que provocam o colapso dos sistemas de saúde em todo o mundo.
HOSPITALIZAÇÃO – Os casos de SARG (Síndrome Aguda Respiratório Grave) internados
CONCLUSÃO
A checagem feita pelo Coletivo Bereia conclui que as informações oficiais com dados de infectados e mortos por coronavírus no Brasil, apresentadas em 5 de abril de 2020, são resultado de dias anteriores – conforme os Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde indicam. Logo, não é possível afirmar que qualquer ação de combate à pandemia no campo da ciência ou de grupos religiosos tenha influenciado nos dados daquele dia e posteriormente. As indicações de pesquisadores são de que somente no final de maio será possível ter um quadro mais fidedigno desse período. Ainda assim, a tendência dos dados é de crescimento nos números de casos e óbitos.
Afirmar qualquer coisa, neste momento, seria apressado. A única informação possível é a de que os números continuam aumentando – tanto de casos novos, como de óbitos. Portanto, qualquer afirmação de que houve relação entre o jejum convocado para 5 de abril e os dados presentes nas tabelas é enganosa (em função dos atrasos na confirmação dos números) e falsa se estiver sugerindo que há redução de casos no Brasil.
O dia destacado pelos influenciadores midiáticos evangélicos citados nessa checagem corresponde à situação da pandemia nas semanas anteriores. Portanto, a correlação é FALSA se estiver sugerindo diminuição após o jejum e ENGANOSA se estiver sugerindo correlação com a data do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Mas, ela pode ser VERDADEIRA, se, como sugere o Ministério da Saúde, estiver medindo o impacto das medidas de isolamento social.
O número de óbitos confirmados continua aumentado (apesar da variação), com uma taxa atual de 7% em relação ao dia anterior (e o gráfico cumulativo demonstra o crescimento). Isso equivale à contabilização de um total de vendas ou de nascimentos de pessoas em determinada localidade: importa o registro total e não apenas um único dia.
Bereia ressalta que a checagem não busca refutar o poder da oração e a eficácia do jejum bíblico. Estes elementos estão fora do campo de checagem jornalística, pois são questões que dizem respeito à fé.
A responsabilidade que se deve ter com o uso de dados é que chama a atenção do Coletivo. São informações que dizem respeito a problemas graves: transparência, consistência e, principalmente, interpretação dos resultados. Isto é importante não só para a opinião pública, mas, principalmente, para o enfrentamento do vírus e da sua letalidade. Portanto, pelas evidências e orientações existentes até o momento, Bereia reforça que os leitores respeitem o distanciamento social para a preservação das vidas e para permitir que a rede pública de saúde tenha condições de atender quem está doente.
ÓBITOS DIA A DIA (TODO O BRASIL)
ÓBITOS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO (ESTADOS)
Referências de Checagem:
BBC – H1N1 não era mais letal. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52078906
UFMG – Comparações entre H1N1 e Covid-19. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/h1n1-fatos-e-fakes/
Agência Brasil – Contágio, letalidade e idade. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-03/covid-19-nao-e-doenca-somente-de-idosos-alerta-oms
UOL – Letalidade da Covid-19. disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/04/13/covid-19-e-dez-vezes-mais-letal-que-h1n1-diz-oms.htm
OMS – Artigo acadêmico (sobre a Pandemia de H1N1 – assinado por Maria Van Kerkhove. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/irv.12074 N1):
USP – Sequenciamento, mutações e nome da doença. Disponível em: http://www.fm.usp.br/fmusp/noticias/-genoma-do-sars-cov-2-do-primeiro-caso-de-covid-19-da-america-latina-sequenciado-em-48-horas-no-instituto-adolfo-lutz
PAHO – Dados covid-19 nas Américas – Organização Panamericana de Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875
FIOCRUZ – Pressão sobre sistema, leitos e SARGs. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/observatorio-covid-19
O GLOBO – A Gripe Espanhola. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/gripe-espanhola-menosprezada-em-1918-epidemia-parou-rio-matou-presidente-24337334 e também no link: https://oglobo.globo.com/fotogalerias/gripe-espanhola-ha-102-anos-produziu-cenas-consequencias-semelhantes-as-da-atual-pandemia-de-covid-19-veja-fotos-24341592
UOL – Subnotificação em Nova York. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2020/04/08/numero-real-de-mortes-por-covid-19-em-nova-york-e-muito-maior-diz-prefeito.html e também no link: https://www.nytimes.com/2020/04/12/nyregion/coronavirus-new-york-update.html
No dia 04 de abril o portal Gospel Prime publicou matéria com o seguinte título: “PM interrompe culto doméstico em SC por decreto de quarentena”.
A
matéria trazia a seguinte redação:
Um culto doméstico de oração com cinco senhoras na cidade de Forquilhinha foi interrompido pela Polícia Militar de Santa Catarina, sob argumento de infringir o decreto 515/2020 emitido pelo governador do estado sobre isolamento social e quarentena.
O decreto de Carlos Moisés (PSL) determina que “os eventos e as reuniões de qualquer natureza, de caráter público ou privado, incluídas excursões, cursos presenciais, missas e cultos religiosos”.
O boletim de ocorrência emitido pela PMSC, que o Gospel Prime teve acesso, relata que cinco pessoas da mesma família estavam orando dentro de sua casa, no Residencial Forquilhinha, mas interromperam as orações por não saberem que o decreto estadual proibia cultos dentro da própria residência.
Os policiais então orientaram a família a interromper as orações para evitar “aglomeração de pessoas e contaminação com o vírus Covid-19”.
O pastor e bacharel em Direito Davi Araújo, presidente da Assembleia de Deus na cidade, da qual as irmãs são membros, viu “uma quebra dos preceitos constitucionais por parte do governo, os policiais estão debaixo de ordens”, mas salienta que os policiais “não precisavam parar a oração”.
O advogado Rafael Vieira Silveira critica o decreto estadual e afirma que “o teor das competências estaduais para legislar sobre tal é bem discutível”.
Lembra também que “constitucionalmente a casa é asilo inviolável (Art. 5º, XI)” e que não havendo medidas excepcionais, “como infração de qualquer direito da vizinha (Art. 1.277 e ss do Código Civil)”, “não faria sentido tal intervenção do Estado” e que os policiais poderiam responder por abuso de autoridade.
Carina Andrade da Silva, fiel da Assembleia de Deus em Forquilhinha (SC), fez uma oração em favor de todos os policiais para proteção em meio à pandemia de Covid-19. Ontem (3), a PMSC interrompeu um culto doméstico na casa dela seguindo decreto estadual do governador Carlos Moisés (PSL).
A fiel citou as pragas enviadas ao Egito e lembrou que “Deus é o principal protetor contra este mal [coronavírus]”.
“Venha cobrir cada policial com teu sangue… venha repreender este mal Senhor… este gigante invisível… envia um anjo ao lado de cada um dos teus filhos para proteger”, clamou.
O comandante-geral da Polícia Militar em Santa Catarina, coronel Carlos Alberto de Araújo Gomes Júnior, junto do tenente-coronel Cristian Dimitri Andrade, visitaram a casa da fiel um dia após ela ter um culto doméstico de oração com cinco pessoas interrompido.
O coronel afirmou que “em nenhum momento a legislação retira a liberdade de culto”, apesar do decreto 515/2020 citar especificamente a proibição de cultos religiosos de caráter público ou privado. “O que ela faz é estabelecer normas para isso [reunião]acontecer em segurança”, diz.
O advogado Rafael Vieira Silveira critica o decreto estadual e afirma que “o teor das competências estaduais para legislar sobre tal é bem discutível”.
Lembra também que “constitucionalmente a casa é asilo inviolável (Art. 5º, XI)” e que não havendo medidas excepcionais, “como infração de qualquer direito da vizinha (Art. 1.277 e ss do Código Civil)”, “não faria sentido tal intervenção do Estado” e que os policiais poderiam responder por abuso de autoridade.
No mesmo dia, 04 de abril, a deputada estadual de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (dissidente do PSL), publicou em seu Instagram o registro do boletim de ocorrência da ação da Polícia Militar, acrescido de críticas aproveitando ao governador do Estado, Carlos Moisés da Silva (PSL) – com um comentário mencionando que faria “três cultos domésticos por dia” em sua própria casa.
Bereia checou as informações das matérias de Gospel Prime e constatou que houve a interrupção do culto pelos policiais para a orientação dos responsáveis do domicílio para que evitassem a aglomeração, utilizando como base o decreto 515/2020, do governo do Estado de Santa Catarina, e a lavratura do Boletim de Ocorrência na cidade de Forquilhinha-SC, aonde o fato ocorreu.
Bereia também constatou que a Polícia Militar de Santa Catarina tem feito um trabalho de orientação em todo o Estado, principalmente em estabelecimentos comerciais. Em 27 de março de 2020, uma nota da PM de Santa Catarina informou que foram emitidos 74 termos circunstanciados (quando há desobediência às orientações feitas pela PM), com mais de oito mil intervenções (orientação, interdição ou lavratura de termo) em todo o Estado.
A nossa equipechecou o decreto estadual nº 515/2020, de 17 de março de 2020, cuja redação declara a situação de emergência e estabelece medidas restritivas. O decreto menciona, em seu artigo terceiro que:
Art. 3º Ficam suspensos, em todo território catarinense, pelo período de 30 (trinta) dias, eventos e reuniões de qualquer natureza, de caráter público ou privado, incluídas excursões, cursos presenciais, missas e cultos religiosos.
Cabe explicar que a decretação de situação de emergência pelo Governo do Estado de Santa Catarina encontra amparo legal na medida do Governo Federal, que declarou estado de calamidade pública no Brasil, chancelada pela Câmara de Deputados e pelo Senado Federal em 20 de março de 2020. Isso possibilita, além das medidas restritivas, tratamento diferenciado das contas públicas, permitindo uma flexibilização do teto de gastos e metas fiscais.
PORTARIA 188 – OMS e Ministério da Saúde
Apesar do decreto catarinense ser anterior ao decreto federal, a Organização Mundial da Saúde já havia decretado situação de emergência em saúde pública de interesse internacional em 30 de janeiro de 2020, e o Ministério da Saúde brasileiro havia publicado a PORTARIA Nº 188 (03 de fevereiro de 2020) que declarava emergência de saúde pública de importância nacional.
A deputada Ana Campagnolo, que fez publicação em seu Instagram, não mencionou as ações do Governo Federal (e a portaria do Ministério da Saúde), e fez críticas ao governo estadual. Campagnolo é dissidente do Partido Social Liberal (PSL), partido do governador. No entanto, a partir da saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, também resolveu se desfiliar e imbuir-se da criação do partido Aliança pelo Brasil em Santa Catarina. De origem presbiteriana e com ligação com a bancada evangélica, a deputada se identifica também como “cristã e antifeminista”, na descrição do seu perfil no Instagram.
Portanto,
os fatos contemplados na matéria de Gospel Prime se resumem a uma intervenção
corriqueira da PM de Santa Catarina, não exclusiva e descaracterizada como ato
de perseguição à liberdade de culto (visto que todas as atividades coletivas e
não apenas cultos estão suspensas). Do ponto de vista do Direito, entretanto, a
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º traz os seguintes incisos que se
complementam:
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
(…)
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
(…)
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
Por se tratar de emergência de saúde pública, a interrupção e proibição de cultos religiosos está amparada pela própria Constituição, que garante a realização dos mesmos. Porém, o culto doméstico em questão, realizado na cidade de Forquilhinha-SC, foi interrompido devido à aglomeração e, conforme consta o boletim de ocorrência, não houve violação da residência. Toda a ação foi orientada no diálogo, com advertência. Como prova, no dia seguinte o comandante-geral da PM de Santa Catarina, coronel Carlos Alberto de Araújo Gomes Júnior, e o tenente-coronel Cristian Dimitri Andrade, estiveram na casa em que a ocorrência foi lavrada para esclarecer os fatos.
Bereia conclui que a matéria é enganosa, pois é composta para induzir a ideia de perseguição religiosa, que não existiu.
No dia 23 de março de 2020, no Twitter, o Pastor Silas Malafaia publicou uma imagem (reproduzida abaixo) com texto, que dizia:“Leia isso!”. A mensagem tinha o objetivo de comparar e minimizar a cobertura da imprensa, profissionais de saúde e cientistas sobre a COVID-19 (nome oficial da doença provocada pelo coronavírus sars-cov2).
Malafaia tem defendido a postura do presidente da república frente à pandemia. A mesma tabela compartilhada por ele foi replicada em outros perfis:
CAMPANHA CONTRA A CHINA?
No mesmo dia, Silas Malafaia, também publicou em seu canal no Youtube um vídeo intitulado “BOLSONARO, CORONAVÍRUS E AS CRÍTICAS À CHINA”, que até o momento do fechamento dessa checagem contava com mais de 890 mil visualizações. No mesmo período, um dos filhos do presidente gerou um incidente diplomático com o maior parceiro comercial do Brasil.
TEXTO E CONTEXTO
Bereia checou as informações publicadas pelo presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) e verificou que as informações publicadas são enganosas por sua descontextualização. O post de Malafaia no Twitter recebeu “atualizações” como essa abaixo, divulgada em uma rede social, que endossam números descontextualizados:
Segundo o Informe Técnico de Influenza, do Ministério da Saúde, publicado em janeiro de 2012, a quantidade de casos registrados na pandemia de H1N1 no ano de 2009 foi de 50.482, em 2010 de 9.385 e em 2011 de 181, totalizando, nos três anos da série 60.048 casos. E foram registrados 2.060 mortes em 2009, 113 em 2010 e 21 em 2011, totalizando 2.194 casos no período.
Post de Silas Malafaia
Números oficiais
394 casos de COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
428 casos de COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
2 mortes por COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
4 mortes por COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
58.178 casos de H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
60.048 casos de H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
2.101 mortes por H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
2.194 mortes por H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
Fonte dos Dados: desconhecida
Fonte dos Dados: Ministério da Saúde
FONTE E DATA ERRADAS
Os dados apresentados no post de Malafaia, além de descontextualizados, apresentam comparação irregular, pois não observam períodos iguais. No primeiro mês de H1N1 no Brasil (isto é, desde a primeira confirmação de caso em maio), foram registrados 627 casos e a primeira morte aconteceu em junho, no Rio Grande do Sul. Se comparado ao coronavírus, no primeiro mês, de 26 de fevereiro até 26 de março, foram 2985 contaminados e 77 mortos. A primeira morte ocorreu dia 17 de março. O número de casos de coronavírus para o mesmo período é 152,5% maior que o da pandemia de H1N1.
REMÉDIO E VACINA
A epidemia de H1N1
alterou a política e a prática de vacinação no Brasil. Na época, a faixa etária era a partir de 60 anos de idade
e, por causa da pandemia de H1N1, a vacinação passou a ser indicada para grupos
prioritários com maior risco de complicações, visando contribuir para a redução
da morbimortalidade associada à influenza. O Ministério da Saúde também
recomendava o uso de antiviral (fosfato de oseltamivir) em todos os pacientes
com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e na infecção por influenza (SG),
independentemente da situação vacinal. A indicação impactou na redução das
mortes pela doença, já que o medicamento reduz a duração dos sintomas e
ocorrência de complicações da infecção pelos vírus da influenza. A COVID-19 não
tem vacina e nem remédio com eficácia comprovada, até o momento desta edição.
Vídeo
Bereia também checou as informações que Silas Malafaia publicou no vídeo. O pastor endossa os dados do post já analisado e afirma, a partir da descrição do vídeo no Youtube, que havia informações ocultadas pela imprensa, como se segue reproduzido abaixo:
Imperdível! Eu falo sobre #coronavírus, #Bolsonaro e as críticas à #China. E mostro também dados que a imprensa não deu.
De acordo com Malafaia, o percentual de infecção por H1N1 é de uma média de 8% enquanto a infecção por Covid-19, o novo coronavírus, seria de 4% da população exposta. O pastor não menciona, porém, que a taxa de mortalidade mundial por H1N1, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é de 0,01% enquanto a taxa de mortalidade por coronavírus é de 2,3%, segundo estudo feito pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CCDC). A infecção média de 8% da população, mencionada por Malafaia, é resultado de um estudo do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) que leva em consideração apenas a população dos Estados Unidos.
Malafaia também menciona que a tuberculose mata cerca de 125 mil pessoas por mês no mundo e reclama que não há uma preocupação da mídia similar à pandemia do coronavírus. O líder religioso não menciona, porém, que a tuberculose é uma doença com cura e que há tratamento disponível em todo o mundo. Também, não foi mencionado que houve, entre 2008 e 2018, uma redução de 8% dos casos de óbitos por tuberculose no Brasil, comprovando a eficácia do tratamento existente. Ainda no vídeo, Silas Malafaia menciona uma frase postada pelo presidente americano, Donald Trump, no Twitter:
Ao mencionar a frase, Malafaia indaga ao seus espectadores: “Vocês não acham que o caos social pode ser pior do que a consequência do coronavírus?”
Ele também criticou a realização de pesquisas de opinião para medir a popularidade do presidente brasileiro bem como o apoio da população às medidas restritivas em face do surto de coronavírus. Por fim, Malafaia parabeniza o deputado Eduardo Bolsonaro por ter dito que o coronavírus era uma conspiração chinesa, sem mencionar em nenhum momento provas a respeito. Também endossou apoio ao presidente Jair Messias Bolsonaro às medidas de flexibilização das restrições durante a quarentena.
CONCLUSÃO: ENGANOSO E PERIGOSO
Bereia conclui que citar dados fora de seu contexto, utilizar uma estratégia persuasiva e atacar os especialistas são práticas enganosas na apresentação de dados. O tratamento da Pandemia de COVID-19 é um tratamento científico. Somente vacinas e remédios poderão deter o coronavírus e reduzir a mortalidade dos pacientes. Essa tem sido uma das metas de todo o mundo, por isso, a estratégia de quarentena, isolamento e “achatamento da curva” são necessárias, além da ampliação do número de leitos em hospitais, leitos de UTI e respiradores.
#FiqueEmCasa – Cuide-se e cuide dos seus parentes.
Referências de Checagem:
Aos
fatos. É falso que início do surto de H1N1 foi mais
mortal que o de Covid-19. Disponível em: https://aosfatos.org/noticias/e-falso-que-inicio-do-surto-de-h1n1-foi-mais-mortal-que-o-de-covid-19/
Ministério
da Saúde. Informe Técnico de Influenza. Disponível
em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/22/informe-influenza-2009-2010-2011-220514.pdf
Ministério
da Saúde. Coronavírus: 4 mortes e 428 casos confirmados.
Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46556-coronavirus-4-mortes-e-428-casos-confirmados
Ministério
da Saúde. Brasil confirma primeiro caso da doença.
Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46435-brasil-confirma-primeiro-caso-de-novo-coronavirus
Templos católicos históricos em Santiago, no Chile, foram vandalizados durante uma marcha feminista no Dia da Mulher. A mobilização pichou as paredes dos templos com frases contra a igreja e a favor do aborto.
Mulheres policiais que faziam a segurança da marcha foram constantemente insultadas pelas feministas. As igrejas de São Francisco da Alameda e da Gratidão Nacional foram pichadas com frases como “fábrica de estupradores”, “aborto legal”, “igreja cúmplice”, entre outras.
De acordo com a agência ACI Prensa, as marchas no Chile começam pacificamente, mas acabam terminando em confrontos desde que a crise social foi desencadeada no país, como resultado do aumento do preço do metrô.
Medidas de segurança foram tomadas pelos templos cristãos para evitar entradas violentas, roubos ou outros ataques durante as manifestações.“Lamentamos que o templo seja alvo de ataques, é como um quadro-negro onde todos escrevem e expressam sua raiva e descontentamento com mensagens para o governo, os políticos e a Igreja”, afirmou padre
Bereia checou as informações publicadas por Gospel
Prime e verificou que o protesto, que aconteceu em 08 de março de 2020 na
cidade de Santiago, no Chile, reuniu cerca de dois milhões de mulheres segundo
a Coordenação 8 de Março, organização de coletivos feministas. Segundo a
polícia nacional chilena, o número de participantes da marcha foi de 125 mil
pessoas, o que foi contestado por especialistas através de imagens aéreas. Além
dos protestos na capital, houve outros protestos em outras cidades. Os
protestos ano a ano são comuns, no entanto, de 2019 para 2020 o número de
participantes saiu de 500 mil para dois milhões de mulheres.
Bereia buscou informações acerca do que motivou essa
escalada da participação feminina em protestos pelo país. De acordo com
reportagem do jornal O Globo, publicada em 03 de março de 2020, o
presidente do Chile, Sebastián Piñera, sancionou uma lei que amplia a punição
aos crimes de feminicídio, porém durante seu discurso culpou as mulheres pela
responsabilidade sobre a violência sofrida.
A reportagem de O Globo traz o seguinte trecho com a fala do presidente:
Às vezes não é apenas a vontade dos homens abusar, mas também a posição das mulheres a serem abusadas — disse o presidente em um discurso no qual ele apareceu acompanhado por sua esposa, Cecilia Morel, e a ministra das Mulheres, Isabel Plá.
De acordo com reportagem do jornal El País, publicada em 03/03/2020, também sobre o discurso de Piñera, não é a primeira vez que ele se envolve em polêmicas com o tema do machismo. Além disso, ocorre no Chile também uma discussão para a promulgação de nova Constituição que amplie os direitos sociais, resultado dos protestos que marcaram o país em 2019. O plebiscito, que ocorrerá em 26 de abril de 2020, definirá se a atual constituição, construída ainda à época do ditador Augusto Pinochet em 1980, será mantida ou renovada.
Bereia também checou que nenhum outro veículo de comunicação
mencionou ataques na forma de pichação aos templos católicos, como replicado
pelo Gospel Prime. Porém, além da imagem que ilustrou a matéria deste
portal, foram encontradas outras imagens, publicadas no dia 09 de março de 2020,
por uma usuária do Twitter identificada como Giselle Vargas, cuja descrição de
perfil a identifica como correspondente da ACI Prensa, veículo católico que
publicou a informação. Nas imagens, é possível ver que foram pichadas a porta
central e a lateral esquerda da Igreja de Gratidão Nacional e o Museu Colonial,
parte anexa da Igreja São Francisco de Alameda.
Bereia também checou que essa não é a primeira vez que as igrejas são atacadas com pichações e o ato parece ser mais político do que anti-religioso, devido ao próprio padre da Ordem Franciscana lamentar o ocorrido, mas entender que a pichação é uma mensagem, conforme traz o site Gospel Prime:
“Lamentamos que o templo seja alvo de ataques, é como um quadro-negro onde todos escrevem e expressam sua raiva e descontentamento com mensagens para o governo, os políticos e a Igreja”, afirmou padre.
Este assunto já havia sido objeto de checagem do Coletivo Bereia, durante os protestos de novembro de 2019, e a abordagem classificada como enganosa.
CONCLUSÃO: IMPRECISA
Portanto, é imprecisa a matéria do portal Gospel Prime,
uma vez que mantém elementos verídicos sobre as manifestações e sobre as
pichações praticadas na Igreja São Francisco de Alameda, mas não contextualiza os
fatos histórico-políticos que levam, há muito tempo, este tipo de manifestação a
acontecer. Também não leva em consideração que o país passa por um processo de
tensão social devido ao plebiscito constituinte que se aproxima e trata a
questão, equivocadamente, como um fato isolado.
A matéria de Gospel Prime, por conter partes de uma matéria de agência de notícias católica, identifica pontos verdadeiros, mas omite informações acerca do posicionamento político da Igreja Católica ao longo da História e da legislação chilena, que apenas permite o aborto em situações de risco de vida da mulher, inviabilidade fetal e estupro, após decisão do Congresso em 2017.
É importante lembrar que manifestações sociais, em especial de representatividade de pautas, sempre terão pessoas e instituições a favor e contra. Essa pluralidade de ideias é bem-vinda numa democracia. No entanto, o uso de desinformação para beneficiar aos interesses específicos de um grupo é danoso para a sociedade no geral, que recebe conteúdos das mídias, em especial àqueles que estão longe do epicentro dos protestos, como é o caso dos brasileiros.
No dia 09 de março de 2020, o site CPAD News publicou matéria com o seguinte título: “Gari que estudava com livros achados no lixo se torna doutor em Teologia”.
A matéria do CPAD News relata:
Um gari da cidade do Crato (CE) encontrou no lixo uma forma de mudar de vida e se tornou um exemplo de superação. Desde os 18 anos de idade, Cícero Rodrigues Ferreira – conhecido como Ferreirinha – encontrava livros no lixo que recolhia e os levava para casa para estudar.
Ferreirinha sentiu que seu esforço foi recompensado quando recebeu no final do ano passado o seu diploma de Teologia.
Hoje com 39 anos, dos quais 21 foram dedicados à limpeza pública, Cícero contou que há quatro anos incluiu em sua rotina as salas de aula, trabalhando como professor em instituições de ensino de Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu e Icó.
Cícero contou que se sente orgulhoso e “realizado” pela trajetória.
“Eu inspiro outras pessoas”, afirmou.
Há seis anos, ele foi promovido dentro da limpeza pública e deixou de varrer e recolher o lixo das ruas para cuidar da parte administrativa do serviço, emitindo ofícios, memorandos e fazendo registro de horas-extras. Tudo por causa dos estudos.
Breve histórico
Ferreirinha é o mais velho de quatro irmãos e teve uma infância pobre, em uma casa de apenas um cômodo, no bairro Alto da Penha, no Crato. Seus pais não tiveram oportunidade de estudar, mas sempre incentivaram as crianças a terem outro destino.
Com influência da música internacional Cícero aprendeu inglês ainda na adolescência e começou a dar aulas no ensino secundário.
Já aos 18 anos, ele conseguiu seu primeiro emprego na coleta de lixo do Crato. Mesmo com uma jornada de trabalho cansativa, que ia das 5h às 18h, Ferreirinha assistia aulas à noite para concluir seus estudos do Ensino Médio. Porém, durante um tempo, acabou largando os estudos e dedicando-se somente ao trabalho.
Mas o desejo de aprender mais sobre a Bíblia e amadurecer sua própria fé cristã protestante o fez voltar a estudar. Em 2015, Cícero estudou Teologia no seminário do Crato. Depois de três anos, conseguiu o bacharelado.
“Sempre gostei de Teologia Sistemática, que vai organizando os pensamentos” explica Ferreirinha.
Mestrado
Com o Ensino à Distância (EAD), o gari iniciou então seu mestrado em Teologia. Estudando por volta de cinco a seis horas por dia, conseguiu cumprir as 18 disciplinas e conquistou seu diploma. No tempo do mestrado, Cícero se mostrou autodidata e aprendeu o idioma grego sozinho.
“Isso nasceu da necessidade. O Novo Testamento foi escrito em grego, como também sou professor, tive que entender os escritos originais”, conta.
Hoje, Cícero também compreende a escrita do hebraico.
Após aprender o idioma grego, Ferreirinha começou seu doutorado, concluído também à distância, há dois anos e meio.
Agora, Cícero é doutor em Teologia, com ênfase em Psicologia Pastoral e está apto a lecionar 16 disciplinas. Apesar disso, :
“Mas ainda me considero gari, com muito orgulho. Meu registro está como gari”.
Bereia checou as informações e verificou que, de
acordo com o relato disponível no Portal da Transparência do município de Crato
(CE), Cícero Rodrigues Ferreira é servidor público municipal há 18 anos e sua
função consta como gari.
Bereia também checou a existência da instituição de ensino e do curso mencionado no diploma que ilustra a matéria. O Instituto de Teologia Logos é uma microempresa de ensino superior e pós-graduação, conforme consta no seu CNPJ junto à Receita Federal. No entanto, a empresa não é reconhecida pelo Ministério da Educação para a oferta de cursos superiores e/ou de pós-graduação com validade legal.
O registro do CNPJ da empresa consta ativo na base de dados da Receita Federal.
As páginas dos cursos do Instituto de Teologia Logos, incluindo o curso de doutorado em Teologia citado na reportagem do CPAD News, na parte de dúvidas frequentes, último bloco de informações da página, explicitam: “não temos e não focamos o reconhecimento do MEC”.
Também foi verificado, na plataforma oficial e-MEC, a lista de instituições que estão ou já foram autorizadas a funcionar cursos superiores no Brasil, e nenhum registro foi encontrado para o nome da instituição em questão.
É importante destacar que a matéria compartilhada no site CPAD News foi publicada originalmente pelo portal de notícias G1, do estado do Ceará, no dia 07 de março de 2020. Posteriormente, vários outros sites religiosos compartilharam a matéria, como Guiame e Amigo de Cristo.
De acordo com o artigo 29 do Decreto 9.235 de 15 de dezembro de 2017, que dispõe sobre a regulamentação do ensino superior brasileiro, cursos de pós-graduação só podem ser ofertados por instituições de ensino credenciadas pelo MEC.
CONCLUSÃO: IMPRECISA
A matéria publicada pelo CPAD News é imprecisa, pois provoca entendimento distorcido por não considerar que o curso é chamado erroneamente de doutorado, enquanto, na verdade, é de livre oferta. Também não há registro que comprove a atividade do entrevistado por 21 anos como gari, apenas 18 anos conforme registro da própria Prefeitura de Crato (CE).
Por fim, a instituição de ensino em que o entrevistado estudou não está autorizada pelo MEC para ofertar cursos de ensino superior, além disso, o diploma expedido não tem titulação compatível (Doutorado em Teologia) ou superior ao nível de ensino ministrado.
É importante reconhecer o esforço de Cícero Rodrigues Ferreira para estudar e buscar conhecimento. Isto deve ser valorizado e estimulado. O que está em questão é o reconhecimento de diplomas. Há muitos cursos de Teologia oferecidos por variadas igrejas e instituições no país, como resultado do crescimento das igrejas evangélicas. Um número significativo é reconhecido pelo MEC, outros são cursos livres, cuja diplomação não é considerada como “curso superior” pelo Governo Federal.
No caso da Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, os cursos devem ser credenciados e avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ela está vinculada ao Ministério da Educação e subdividida em áreas de conhecimento. Ciências da Religião e Teologia é uma delas, de número 44.
Segundo o coordenador para Mestrados Profissionais desta Área, Prof. Dr. Claudio de Oliveira Ribeiro, o reconhecimento dos cursos de Mestrado e Doutorado garantem a legitimidade acadêmica da formação dos estudantes pois eles são aprovados a partir de critérios de qualidade nos conteúdos, na infraestrutura das instituições que oferecem e na capacidade do corpo docente, de quem se demanda não apenas o ensino mas também a produção de conhecimento com pesquisas. O coordenador da área esclarece ainda que a diplomação em cursos livres não permite a atuação profissional em espaços públicos e nem o prosseguimento de estudos em instituições renomadas.
Bereia também preparouum check-list para os leitores interessados em estudar teologia, ciências da religião, educação cristã e outros cursos mais buscados pelos fiéis de várias igrejas e comunidades.
CUIDADOS AO SE MATRICULAR:
1 – Verifique o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica) e a situação da instituição no MEC. Se, ao verificar CNPJ, o leitor
encontrar alguma divergência entre o curso oferecido e a autorização para o
funcionamento da instituição – ou se o CNPJ estiver suspenso, irregular ou,
mesmo, se não existe CNPJ, recomenda-se muito cuidado. Instituições com
problemas no CNPJ estão promovendo desinformação e confusão no Ensino Superior.
Para ver o CNPJ – http://receita.economia.gov.br/interface/lista-de-servicos/cadastros/cnpj/comprovante-de-inscricao-e-situacao-cadastral-cnpj
Para conferir a situação no MEC: http://portal.mec.gov.br/instituicoes-credenciadas
2 – Se a instituição tem CNPJ e oferece cursos regulares, o próximo passo é checar a reputação. Atualmente, basta um google para verificar se há processos na justiça contra o CNPJ. Mas, também, existem sites como o “reclame aqui”, no qual os usuários dão ranking para compras e serviços. Ali, verifica-se que muitas instituições de ensino têm deixado a desejar.
Confere aí –
https://www.reclameaqui.com.br/
3 – Se instituição passar pelos dois critérios anteriores, aí vale a pena checar ocorpo docente (os educadores, professores e coordenadores dos cursos). Se você se identifica com alguma das linhas de trabalho, pesquisa e deseja um diploma, certificado, ou busca conhecimento. Esse é o caminho.
VALIDAÇÃO DOS DIPLOMAS DE TEOLOGIA
(Acréscimo à matéria, edição feita em 12/03/2020)
Em 1999, o Parecer 241 da legislação do Ensino Superior reconheceu a Teologia como área do saber universitário. Existem mais de 150 cursos de graduação e cerca de 70 cursos de especialização (pós-graduação) na área de Teologia reconhecidos pelo MEC.
A homologação também estabeleceu um prazo para a “Convalidação” – alternativa para quem fez seminários e, posteriormente, optou por validar o seu diploma como equivalente a curso superior.
O prazo final para as validações foi Setembro de 2017. Ou seja,
ao regulamentar os cursos existentes, o MEC também encerrou a prática anterior
de permitir a validação (na prática, uma extensão feita por algumas
universidades para portadores de cursos livres).
Os cursos chamados livres continuam funcionando normalmente,
mas tem que se adaptar e não poderão mais utilizar-se de nomenclaturas oficiais
(Bacharelado, Mestrado, Doutorado), sob pena de fiscalização e denúncia
perante o Ministério Público Federal.
Fique atento: não há mais validação de diplomas e somente as instituições credenciadas no MEC podem oferecer diploma de Bacharel em Teologia, Mestrado e Doutorado.
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Referências de checagem:
Foto de destaque. Disponível em: https://razoesparaacreditar.com/gari-estudos-livros-lixo-diploma-doutorado/
Gari que estudava com livros achados no lixo se torna doutor em Teologia. Disponível em: http://www.cpadnews.com.br/universo-cristao/49696/gari-que-estudava-com-livros-achados-no-lixo-se-torna-doutor-em-teologia.html
Após começar a estudar com livros achados no lixo, gari recebe diploma de doutorado no Ceará. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/03/07/apos-comecar-a-estudar-com-livros-achados-no-lixo-gari-recebe-diploma-de-doutorado-no-ceara.ghtml
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou neste domingo que irá revogar o decreto assinado por ele, na semana passada, que pune quem “discriminar pessoas por preconceito de sexo, identidade de gênero ou orientação sexual”.
Witzel afirmou que o texto foi publicado com erros no Diário Oficial e que é necessário fazer alterações e republicar o decreto, protegendo assim a liberdade religiosa e a liberdade de expressão, já que o texto abria brechas para que igrejas fossem punidas por considerar homossexualismo pecado ou quem criticasse a ideologia de gênero.
A decisão foi tomada após a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional pressionar para que o governador revisasse o texto.
“Eu havia feito correções no decreto que, por equívoco, não foram publicadas. No decreto nós somente vamos aplicar sanções após o julgamento da secretaria de Direitos Humanos conforme determina o artigo terceiro da Constituição, que fala na proibição da discriminação de sexo, raça, cor, etnia, opinião política, opção religiosa”, disse.
Em nota, a Casa Civil do Rio de Janeiro também confirmou o equívoco no decreto publicado e afirmou que na próxima semana o “decreto será tornado sem efeito, para as correções que se fizerem necessárias”.
Bereia checou as informações e verificou que a matéria faz referência ao Decreto nº 46.945, de 18 de fevereiro de 2020. O decreto regulamenta a Lei Estadual nº 7.041, de 15 de julho de 2015, que estabelece penalidades administrativas aos estabelecimentos e agentes públicos ou privados que discriminem pessoas por preconceito de sexo, identidade de gênero ou orientação sexual.
Leia na íntegra o Decreto nº 46.945, de 18 de fevereiro de 2020, publicada no Diário Oficial:
Após a publicação do decreto, membros da bancada evangélica protestaram:
Segundo matéria do Jornal O Globo, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti também se manifestou: “queremos que esse decreto seja sustado na íntegra. Caso contrário, o governador pode saber que viverá com os evangélicos e católicos um inferno pós-carnaval”.
Houve também quem celebrasse a regulamentação da lei, como foi o caso do deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ).
Ainda segundo Jornal O Globo, a Lei 7.041, aprovada em 2015, regulamentada pelo decreto do governador, deixa expresso que a norma não se aplica às instituições religiosas. O artigo 6º da lei diz: “esta lei não se aplica às instituições religiosas, templos religiosos, locais de culto, casas paroquiais, seminários religiosos, liturgias, crença, pregações religiosas, publicações e manifestação pacífica de pensamento, fundada na liberdade de consciência, de expressão intelectual, artística, científica, profissional, de imprensa e de religião de que tratam os incisos IV, VI, IX e XIII do art. 5º da constituição federal.”
No dia 20 de fevereiro, dois dias após a publicação do Decreto 46.945/20, ele foi revogado, porém, sua publicação e consequente validade se deram a partir do dia 27 de fevereiro, após o recesso de Carnaval.
De acordo com o comunicado oficial da Secretaria da Casa Civil e Governança: “o Decreto 46.945 foi publicado equivocadamente, sem a correção do governador Wilson Witzel, excluindo fatos não contidos na lei. Na edição da próxima quinta-feira, dia 27/2, do Diário Oficial, o decreto será tornado sem efeito, para as correções que se fizerem necessárias”.
Segundo Gospel Prime, o texto do decreto abria brechas para que igrejas fossem punidas por considerar a homossexualidade pecado, ou punir quem criticasse a chamada “ideologia de gênero”, favorecendo esta ênfase. A matéria repete o alarde do deputado Marco Feliciano, de que se tornaria ilícito um pastor pregar que a homossexualidade é pecado.
Gospel Prime desinforma ao utilizar a expressão “favorecer a ideologia de gênero”, termo criado para desqualificar as demandas por direitos de gênero e desprovido de qualquer base científica, como já abordado em matéria do Coletivo Bereia.
O site de notícias religiosas, Gospel Prime, ainda desinforma quando repete sem avaliação crítica as palavras do deputado Marco Feliciano, que molda seu discurso com conteúdos que confundem e desorientam a população, apelando para uma retórica religiosa ao tratar de um tema do campo político e da luta por direitos humanos.
Bereia apurou que nenhum artigo do Decreto cerceava a liberdade religiosa ou de expressão. Portanto, classificamos a matéria de Gospel Prime como enganosa. Apesar de revogado pelo governador Wilson Witzel, após protestos de políticos e líderes evangélicos, é possível compreender por meio de simples leitura da Lei 7.041/2015 e do Decreto 46.945/2020, que a intenção do poder público era combater e coibir a prática de discriminação, coação ou violência em razão da identidade de gênero ou orientação sexual de qualquer cidadão, além de proteger uma parcela da população que sofre constantemente com preconceito e violência. Não havia no decreto qualquer menção à religião ou ao discurso religioso.
Segundo reportagem do Portal UOL, Brasil registra uma morte por homofobia a cada 16 horas.