O que significa para a vida das pessoas a cultura digital e quais são os desafios que ela impõe às igrejas, à teologia cristã e à pastoral? Essa foi a tônica da palestra da editora-geral do Bereia Magali Cunha durante o Simpósio ASTE 2024 que ocorreu em 11 e 12 de dezembro em formato virtual, organizado pela Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE).
A pesquisadora destacou que os inúmeros recursos tecnológicos cada vez mais disponíveis estão decretando um cenário em que nada será como antes. Ela apontou que a cultura digital contribui de maneira significativa no cotidiano das pessoas, “tornando possível maior aproximação de pessoas e, delas, a produções informativas, educacionais e culturais, de diferentes partes do mundo”. E lembrou que esses benefícios alcançam também áreas de saúde, meio ambiente, educação e produção de bens e serviços.
Magali Cunha, porém, chamou a atenção para os perigos dessa era digital. Se, por um lado, as mídias digitais aproximam pessoas e favorece a superação de isolamentos sociais – ainda que também os criem –, por outro, afetam as relações sociais, a existência e a coexistência, muitas vezes estabelecendo um clima de ódio e intolerância.
“Muitos que não têm uma arma nas mãos para desferir contra desafetos, inimigos, acabam recorrendo a palavras e imagens como armas, usando a tecnologia para atacar, ofender, agredir”, critica, acrescentando que “por trás de uma tela, pessoas e grupos passaram destruir outras: calúnia, agressões verbais, ameaças”.
A editora-geral do Bereia lembrou que a disseminação da desinformação é outro componente desafiador. Segundo ela, as fake news ameaçam instituições, destroem reputações e põem em risco a democracia. E alerta: grupos cristãos parecem ser os mais inclinados a propagá-las.
“Cristãos estão propensos não só a assimilar as notícias e ideias mentirosas que circulam pela internet, coerentes com suas crenças, como também a fazer a propagação, uma espécie de ‘evangelização’, espalhando notícias e ideias a fim de converter pessoas ao mesmo propósito”.
Magali Cunha citou pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujo objetivo foi compreender como grupos religiosos se apropriam de modo intenso do WhatsApp e fortalecem redes de desinformação.
Segundo ela, o estudo concluiu que “a desinformação circula facilmente no segmento religioso da população não só porque se adequa mais a crenças e valores e menos a fatos propriamente ditos, mas porque elementos relacionados à prática da religião terminam por interferir mais fortemente na propagação de desinformação”.
Desafios
Magali Cunha aponta que no contexto da era digital a educação teológica precisa “trabalhar por processos críticos, educativos e humanizadores” na formação de pastores, teólogos e lideranças. Em sua opinião, isso passa pelo oferecimento de uma educação midiática digital, pela ênfase e recuperação da cultura do diálogo e pela ética do pastorado, da liderança cristã e da postura teológica “para que haja atitudes compatíveis na ocupação das mídias digitais”, como não ser fonte de desinformação, não estimular polarizações nem promover o ódio.
A íntegra da palestra está disponível no YouTube.