Existe um amplo uso da tecnologia voltado à prática e ao agravamento de violações dos direitos humanos em Israel por parte de empresas de tecnologia, como a Meta (que controla Facebook, WhatsApp e Instagram), no sentido de promover a censura, reter informações e indiretamente favorecer as estratégias do governo israelense no contexto das operações militares em Gaza no último ano.
A denúncia é do Centro Árabe para o Avanço das Mídias Sociais (7amleh) e aparece no relatório “Direitos digitais palestinos, genocídio e responsabilização das grandes tecnologias”, divulgado no mês de setembro pela organização. O documento aponta a Meta como uma das mais atuantes. O Observatório Palestino de Violações dos Direitos Digitais, ligado à 7amleh, identificou mais de 5.100 casos de censura digital e veiculação de conteúdo enganoso em plataformas como a de Mark Zuckerberg no período de 7 de outubro de 2023 a setembro de 2024.
O relatório também destacou a disseminação de campanhas com conteúdo desinformativo, com danos à liberdade de expressão, ao acesso à informação e ao direito à segurança. Vale lembrar que conteúdos falsos têm sido usados até para prejudicar as ações de ajuda humanitária em Gaza, segundo revela o documento.
A Human Rights Watch já havia denunciado em dezembro de 2023 graves violações aos direitos humanos aos palestinos de Gaza e também a censura imposta. Em um comunicado para apresentar o relatório que elaborou, a organização apontou a atuação da Meta ao dizer que as políticas e práticas da empresa “têm silenciado vozes em apoio à Palestina e aos direitos humanos palestinos no Instagram e no Facebook em uma onda de censura intensificada nas redes sociais“.
Na mesma nota, a Human Rights Watch destacou que no período de outubro a novembro do ano passado mais de 1.050 postagens foram removidas ou conteúdos suprimidos no Instagram e no Facebook, todas feitas por palestinos e apoiadores, incluindo aquelas que tratavam de abusos de direitos humanos.
A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal Brasil), em postagem nas mídias digitais, reforçou o conteúdo da 7amleh ao dizer que a Meta mantém “laços profundos com o apartheid israelense e promove censura sistêmica e global de conteúdo sobre a Palestina e de denúncia do genocídio”. Outra acusação contra a Meta é que ela estaria subsidiando os israelenses com dados de WhatsApp de palestinos de Gaza que seriam usados nas ações de ataques e bombardeios, apontou a Fepal Brasil.
*Atualizada em 15/09 para acréscimo de informações
Um vídeo com informações controversas já checadas e desmentidas pelo Bereia circula desde a última semana em grupos de WhatsApp de igrejas e entidades religiosas cristãs brasileiras. Com a legenda: Vamos fazer uma campanha. Cada um que receber esse vídeo, enviar para 10 contatos, no mínimo. Posso contar com você? O material em tom alarmista traz personalidades católicas versando sobre qual seria o candidato ideal para ganhar o voto de um cristão.
Imagem: Reprodução de grupo no WhatsApp
Campanha eleitoral na Internet
Segundo o TSE, atualmente o Brasil tem mais de 155 milhões de eleitores aptos a votar em 2024, sendo que para 135 milhões o voto é obrigatório. Em contrapartida, o número de brasileiros com acesso a mídias sociais se aproxima do número de eleitores: o Instagram acumula mais de 113,5 milhões de usuários brasileiros, já o Facebook alcançou a marca de 109 milhões brasileiros neste ano.
A presença de brasileiros nas mídias sociais torna esse espaço um alvo para divulgação de campanha pró-candidaturas . De forma a evitar possíveis abusos quanto ao uso dessas plataformas, o TSE realizou alterações na Resolução nº 23.610/2019, para garantir o uso correto da internet na campanha eleitoral. As principais mudanças indicam a obrigatoriedade de repositórios públicos sobre as propagandas impulsionadas por candidatos/as em cada campanha, a proibição de propaganda eleitoral paga além da impulsionada legalmente e a remoção de conteúdos somente sob ordem judicial.
Contudo, a resolução publicada pelo TSE não indica a fiscalização de conteúdos produzidos por eleitores/as, que abordam o tema das eleições ou temáticas importantes para esse debate, tais como citações a projetos de leis. Desta forma, vídeos, textos e outros conteúdos que circulam pelas mídias sociais e em grupos religiosos, propagam desinformação sobre temas importantes para as eleições e apresentam um papel apelativo para reforçar pautas ultraconservadoras como a proibição do aborto legal, a criminalização do consumo de drogas, a falsa perseguição sistemática a cristãos no Brasil e a ameaça da “ideologia de gênero”, temas que aparecem no vídeo checado pelo Bereia.
Perseguição a cristãos e à igreja
“Não podemos orar pedindo a Deus a expansão do evangelho e depois votar em candidatos que querem fechar as igrejas e que são contra os valores evangélicos!”, disse no vídeo o cantor católico Diácono Júlio Neto. O alerta do cantor, entretanto, é infundado. Bereia já checouvárias publicações sobre a mesma temática e verificou que não há qualquer projeto ou movimento de fechamento de igrejas no Brasil, porque a liberdade de culto é garantida na Constituição Brasileira.
Além do alarde sobre o falso projeto de fechamento de igrejas, logo na abertura do vídeo, o fundador da Associação do Senhor Jesus e idealizador do canal de TV Rede Século 21 Pe. Eduardo Dougherty chama a atenção para a perseguição a cristãos por governos comunistas. “O sofrimento da perseguição religiosa por governos comunistas, não pode deixar de despertar nossa consciência nesta hora tão dramática das eleições!”, frisou o padre.
O uso do tema da perseguição a cristãos pelas esquerdas e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em campanha eleitoral não é novo, remonta às eleições de 1989, quando o PT lançou Lula candidato pela primeira vez, usado por apoiadores de Fernando Collor de Mello. Usava-se o imaginário da ameaça comunista relacionada ao PT e o discurso de que fecharia as igrejas para apoiar Collor, que as protegeria. Este é um trecho de matéria do Bereia, publicada em 7 de setembro de 2022, na ocasião da última eleição presidencial.
Imagem: Site do Bereia
Bereia tem verificado que o discurso em torno de uma suposta perseguição aos fiéis evangélicos no país tem sido muito repetido e reafirmado por lideranças cristãs, especialmente em períodos eleitorais. Bereia publicou este trecho em matéria, em 7 de junho de 2024.
Imagem: Site do Bereia
Liberação do aborto
Um dos pontos abordados pelas personalidades católicas foi a questão do aborto, tema muito sensível para a comunidade cristã e muitas vezes checado pelo Bereia, por conta da enxurrada de desinformação que circunda o assunto. Um homem, cantor, pregador, missionário e apresentador Dunga foi quem falou sobre o tema. “Aborto não é uma questão de saúde pública. Aborto é crime”, apontou.
Apesar de ser classificado de fato como crime no Brasil, o aborto é sim uma questão de saúde pública, por isso, as exceções para a prática no país estão ligadas à condição de saúde física e mental da mulher. Trata-se do aborto legal, previsto em lei, desde 1940, nos casos de gravidez por estupro, e em resoluções da Supremo Tribunal Federal para salvar a vida da mãe, quando há gravidez de risco de morte, ou interromper a gestação de fetos anencéfalos, que nascerão sem vida.
Em junho passado foi estabelecida uma tentativa, no Congresso Nacional, de tipificar como criminosa estas exceções previstas no Código Penal Brasileiro. O Projeto de Lei 1.904/2024, de autoria do deputado federal evangélico Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e mais 33 parlamentares, equipara a interrupção da gravidez após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio e propõe aumentar a pena máxima para até 20 anos de prisão para os responsáveis pelo procedimento.
A aceleração da tramitação do Projeto de Lei 1.904/2024 na Câmara dos Deputados desencadeou uma onda de comentários e postagens nas mídias sociais, muitos deles com base em desinformação. (…) A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o aborto um procedimento de saúde seguro e descomplicado quando realizado adequadamente. Segundo a OMS, “as complicações são raras tanto com o aborto farmacológico como no cirúrgico, quando os abortos são seguros – o que significa que são realizados utilizando um método recomendado pela OMS, adequado à idade gestacional, e por alguém com as competências necessárias” Trecho de matéria publicada na página do Bereia, em 28 de junho de 2024.
“Ideologia de gênero”
Outro assunto frequentemente disseminado nas mídias digitais cristãs, com viés desinformativo, é a questão dos direitos de gênero e a educação sexual nas escolas. Foi uma mulher a escolhida para tratar o tema no vídeo de lideranças católicas, a cantora Eliana Ribeiro. “Não podemos orar pedindo a Deus pelos filhos e votar em quem quer impor ideologia de gênero e imoralidade sexual para nossas crianças”, afirmou Ribeiro. O tema já foi checado pelo Bereia em várias matérias, mas é em períodos eleitorais que ele surge com mais força.
Esta associação de pedofilia a movimentos de esquerda e grupos LGBTQIA+ é uma prática comum em conteúdos disseminados pela extrema direita, e explorada em espaços religiosos, como Bereia já checou. De forma semelhante, a noção inventada de “ideologia de gênero” é um dos temas mais usados por quem produz desinformação em espaços religiosos. Estes temas emergem com mais intensidade em períodos eleitorais, como estratégia de campanha.Texto publicado em 3 de junho de 2024, em matéria no site do Bereia.
Censura e controle dos meios de comunicação
“Não devemos orar por liberdade e democracia e depois votar em quem deseja a censura e o controle dos meios de comunicação”, é a afirmação da atriz e apresentadora de televisão Myrian Rios. O controle dos meios de comunicação e a censura são também tema de destaque em publicações do extremismo conservador, especialmente após os acontecimentos recentes que envolveram a proibição da rede X no Brasil.
Imagem: Site do Bereia
Outras notícias sobre a suposta censura praticada no País, já foram checadas pelo Bereia anteriormente envolvendo pessoas políticas, veículos e instituições religiosas. Nesses casos, a notícia não se aprofunda nas causas da proibição de divulgação ou atuação de determinadas organizações, como o caso do X. Também, as publicações neste tema se baseiam no direito à liberdade de expressão de forma irrestrita, sem limites éticos ou legais, e negam o lugar das instituições e da sociedade civil na regulação do que se veicula nas mídias, o que classificam como “censura”.
Preservação da moral e dos bons costumes
Além dos temas de vieses ultraconservadores e extremistas, o vídeo também apresenta, no final, uma palavra do cantor católico Luiz Felipe sobre menção escatológica do Papa João Paulo II. “O santo papa João Paulo II nos alertou: “Sabemos que estamos na luta final entre igreja e anti-igreja, evangelho e antievangelho, entre cristão e o anticristão”, e ainda, que a última batalha do anticristo será contra a família”.
A fala de Luiz Felipe reforça os temas apresentados pelas personalidades católicas que aparecem antes dele. Ao citar a “anti-igreja”, “anti-evangélio”, “anticristão” e dizer que “a última batalha será contra a família” ele reforça o pânico em torno da perseguição aos cristãos em torno da “família”, de forma genérica. A “proteção da família” é tema frequentemente usado por extremistas conservadores em processos eleitorais, diante do apelo emotivo que provoca, como mostram estudos de especialistas, como Fernanda Marina Feitosa Coelho.
Evangélicos
Lideranças evangélicas também não deixaram de lado o hábito das “Correntes de WhatsApp” para fazer política. Assim como no vídeo católico, circula nos grupos gospel uma mensagem que aponta os partidos de esquerda como os “inimigos” do país e dos cristãos, mantendo o terror alegando que o Brasil iria se “transformar em uma Venezuela”, caso os partidos de esquerda permaneçam no poder.
“Vamos tirar os Comunista e Socialista do Brasil ,vote no partido de direita. Quando o justo governa o povo se alegra, quando o ímpio governa o povo chora. Por isso estão criando muitos impostos para cobrir as corrupções e os rombos nos cofres públicos provérbios 29.2. Divulgue, compartilhe para que o Brasil não possa empobrecer como a Venezuela e (outros) países comunistas que tiram a liberdade do povo fazendo deles escravo não livre”, diz o texto acompanhado de uma imagem com o número de urna de cada partido progressista existentes no país.
Bereia verificou e tem verificado as informações do vídeo que circula nas mídias sociais. O conteúdo da produção é enganoso, pois distorce informações sensíveis, que apelam ao medo e ao pânico, como a perseguição a cristãos, o aborto e a ideologia de gênero para criar um cenário alarmista que não reflete a realidade. A corrente divulgada por grupos evangélicos tem o mesmo viés.
O uso de temas religiosos para justificar posições políticas e convencer eleitores a votar em candidatos/as da direita extremista é feito de maneira distorcida, sem respaldo jurídico ou factual, como no caso das alegações de censura. O conteúdo visa influenciar o público com desinformação e apelos sensacionalistas, explorando pautas conservadoras e mobilizando o eleitorado por meio de argumentos exagerados e alarmistas.
A editora-geral Magali Cunha apresentou o trabalho do Coletivo Bereia na Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 21 de março. A aula fez parte da disciplina Seminários Especiais e contou com a participação de alunos de Jornalismo e Relações Públicas.
Para falar sobre o surgimento do Coletivo, ela trouxe dados do relatório “Caminhos da Desinformação”, do Instituto Nutes, ligado à UFRJ, que indicou uma alta disseminação de desinformação em grupos de WhatsApp ligados a igrejas evangélicas.
A pesquisa que resultou no relatório consistiu na aplicação de 1.650 questionários em congregações das igrejas Batista e Assembleia de Deus no Rio de Janeiro (RJ) e em Recife (PE), as duas maiores igrejas evangélicas e as duas cidades de maior concentração desses fiéis no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo concluiu que 49% dos evangélicos receberam conteúdo falso, e, destes, 77,6% disseram ter recebido desinformação em grupos de WhatsApp ligados à sua comunidade de fé. Bereia foi resultado dessas constatações, que impediriam um grupo de pesquisadores e pesquisadoras de concretizar ações de enfrentamento.
Para a editora-geral do Bereia, esse é um cenário preocupante: “A desinformação exerce um apelo sobre grupos religiosos, e isso tem a ver mais com crenças e valores e menos com fatos propriamente ditos”, destaca a pesquisadora. Ela também salientou que aspectos associados à prática da religião entre evangélicos interferem de modo significativo na difusão de desinformação. Magali Cunha comenta que o sentimento de pertencimento à comunidade gera uma imagem das lideranças e de outros membros como fontes confiáveis de notícias.
Apesar de serem caracterizados, histórica e culturalmente, pelo apego à Bíblia, evangélicos brasileiros têm desobedecido intensamente nos últimos anos uma das principais orientações do livro sagrado cristão: não mentir.
Nos muitos textos sobre o tema, é enfatizado que Deus abomina a mentira, como no trecho de Provérbios 6.16-19, que se torna uma síntese dos outros vários.
“Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos.”
Apesar da nítida orientação contida no livro tão amado e ressaltado por evangélicos, o que temos acompanhado no Brasil, pelo menos desde 2018, é um conjunto de posturas que favorece a circulação e a propagação de mentiras entre este grupo.
Estas posturas se configuram em um ponto inicial que é a formulação do conteúdo mentiroso dentro do próprio ambiente evangélico. Segundo o acompanhamento realizado desde a pesquisa Caminhos da Desinformação: Evangélicos, Fake News e WhatsApp no Brasil até o que é empreendido pelo Coletivo Bereia – Informação e Checagem de Notícias, pastores, pastoras, presidentes de igrejas, bispos e outra autoridades, influenciadores digitais, entre artistas gospel, políticos evangélicos e outras personagens que ocupam o espaço público e emergem como celebridades midiáticas, criam conteúdo falso e enganoso e o propagam em seus espaços nas mídias sociais dos aplicativos populares das big techs.
Nesta postura, parece haver uma intenção, ou seja, elaboração deliberada da mentira, para captar apoios de natureza demagógica nas comunidades evangélicas a temas e pautas de cunho ideológico. Entre elas esteve, por exemplo, a oposição a procedimentos científicos, como as medidas sanitárias aplicadas para a prevenção da covid-19 nos anos de 2020 e 2021. Está também a negação do valor da vacinação na proteção contra doenças e a aversão aos direitos de pessoas que não aplicam em suas vidas a orientação dos costumes evangélicos no tocante à sexualidade.
É possível contabilizar neste grupo material falso contra o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral e sobre fraudes em urnas eletrônicas, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro durante o processo eleitoral 2022, entre outros temas, como foi o caso da campanha contra o Projeto de Lei 2630/2020, denominado popularmente de Lei das Fake News. A noção de que a chamada Lei das Fake News é uma lei de censura criada pelo atual governo e pelas esquerdas e o STF para silenciar as igrejas e para impedir críticas públicas a políticos, foi fartamente disseminada por estas personagens citadas acima.
Outra postura é o alinhamento à mentira da parte deste grupo e de lideranças que estão em nível intermediário (pastores e pastoras e pessoas que têm funções de destaque nas diversas comunidades evangélicas do Brasil afora) com a replicação (o compartilhamento) de conteúdo produzido por terceiros. Boa parte destas mensagens não tem conteúdo religioso exclusivo, mas traz temas como o do suposto cerceamento de liberdade de expressão, o negacionismo em relação à ciência (em especial na área da saúde), a ameaça comunista e de ativistas feministas e LGTBI+, e são repercutidos por afinidade/alinhamento ideológico.
Produtores da indústria da desinformação, que não são religiosos, mas querem captação de apoio para interferir em temas de interesse público e obter vantagens (políticas ou financeiras), conseguem assessoria de lideranças e influenciadores evangélicos para produzirem material específico destinado ao grupo. Oferecem memes, cards, áudios, vídeos, com linguagem que cria vínculos emocionais, com textos bíblicos, por exemplo. No caso da desinformação em torno do PL 2630, tornou-se conhecido que a Câmara Brasileira de Economia Digital, associação brasileira que reúne empresas como Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), Google e TikTok produziu um documento entregue a deputados afirmando que o projeto de lei proibiria a livre expressão de cristãos nas mídias sociais, especialmente a publicação de certos versículos bíblicos. O conteúdo falso foi disseminado por personagens como o deputado federal da Igreja Batista Deltan Dallagnol.
A postura da assimilação, por evangélicos comuns, as pessoas que participam cotidianamente das igrejas, é a que torna este grupo um forte propagador, ou “traficante” de desinformação. Fiéis evangélicos são os destinatários de todo este conteúdo. Tanto as lideranças e influenciadores religiosos, como os produtores da indústria da desinformação, buscam afetar estas pessoas, como mencionado acima, lançando mão do imaginário evangélico sedimentado em quase dois séculos de pregação e atuação predominantes entre grupo religioso no Brasil.
Este imaginário é moldado por elementos-chave como a superação perseguição religiosa, algo que absolutamente não existe no país contra cristãos, mas que é acionado pela imagem bíblica da perseguição de Roma aos primeiros cristãos; o enfrentamento de inimigos, as hostes do mal (Satanás e seu séquito) que atuam contra a propagação do Evangelho e o crescimento das igrejas; a pureza do corpo, em especial no cultivo de uma sexualidade padronizada no ocidente como heteronormativa, guardada para o casamento monogâmico para a geração de filhos e prosseguimento no povoamento da Terra.
Além de assistirmos a esta instrumentalização da religião para campanhas públicas em bases falsas e enganosas, vemos também o uso da palavra, por parte de líderes, para perseguir e atacar quem se coloca em oposição a estas posturas dentro das igrejas. Não são poucas as pessoas classificadas como não cristãs, traidoras da igreja, simplesmente por denunciarem o uso da mentira para capturar apoios.
Fica o desafio de pessoas e grupos evangélicos retomarem a Bíblia tão amada e um dos destacados ensinamentos de Jesus sobre conhecer a verdade, tal como registrado no Evangelho de João, fartamente instrumentalizado em discursos políticos do ex-presidente que deixou o cargo em 31 de dezembro passado, a mentira é exposta como filha do inimigo de Deus, o Diabo. Jesus diz, aos que se colocavam em oposição às suas ações, e que apregoavam mentiras neste debate público: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44).
**Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia
Circula em grupos de Whatsapp de igrejas um documento assinado divulgado por uma suposta aliança empresarial das chamadas “Big Techs”, formada por Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify, denominada “Democracy Alliance” (Aliança Democracia, em inglês). Segundo a nota, com data de 2 de maio de 2023, as empresas de mídia teriam decidido suspender suas atividades no Brasil a partir de 4 de junho de 2023, caso a PL 2630/2020 seja aprovada.
O Projeto de Lei 2630/2020
Conhecido de forma simplista como “PL das Fake News”, o Projeto de Lei 2630/2020 diz institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. No texto, o PL cria medidas de enfrentamento a disseminação de conteúdo desinformativo (falso e enganoso), bem como de material que estimule o ódio, o extremismo e a violência (as chamadas fake news) nas mídias digitais, sejam os perfis públicos ou privados, bem como visa à responsabilização das plataformas que não somente publicam mas monetizam (ganham financeiramente) com tais conteúdos.
Os artigos 3° e 4° expõem estes princípios e objetivos:
Art. 3º Esta Lei será pautada pelos seguintes princípios:
I – liberdade de expressão e de imprensa;
II – garantia dos direitos de personalidade, da dignidade, da honra e da privacidade do indivíduo;
III – respeito ao usuário em sua livre formação de preferências políticas e de uma visão de mundo pessoal;
IV – responsabilidade compartilhada pela preservação de uma esfera pública livre, plural, diversa e democrática;
V – garantia da confiabilidade e da integridade dos sistemas informacionais;
VI – promoção do acesso ao conhecimento na condução dos assuntos de interesse público;
VII – acesso amplo e universal aos meios de comunicação e à informação;
VIII – proteção dos consumidores;
IX – transparência nas regras para veiculação de anúncios e conteúdos pagos.
Art. 4º Esta Lei tem como objetivos:
I – o fortalecimento do processo democrático por meio do combate ao comportamento inautêntico e às redes de distribuição artificial de conteúdo e do fomento ao acesso à diversidade de informações na internet no Brasil;
II – a defesa da liberdade de expressão e o impedimento da censura no ambiente online;
III – a busca por maior transparência das práticas de moderação de conteúdos postados por terceiros em redes sociais, com a garantia do contraditório e da ampla defesa;
IV – a adoção de mecanismos e ferramentas de informação sobre conteúdos impulsionados e publicitários disponibilizados para o usuário.
O projeto é de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e é uma resposta aos mais de 50 projetos de leis para combate à fake news que circularam no Congresso Nacional até o ano de 2020, ano em que o PL foi apresentado. O projeto foi aprovado no Senado, depois de três anos de debates e encaminhado à Câmara de Deputados, onde está em debate e pode ser acompanhado pelo portal da Câmara legislativa.
Em matéria detalhada, o portal Boatos.org aponta como falsas as informações contidas na nota em circulação e lembra que “ao olhar o texto, já é possível ficar muito desconfiado. A mensagem segue o velho roteiro das fake news na internet. Ela apresenta caráter vago, extremamente alarmista e tem muitos erros de ortografia”.
Quanto à Democracy Alliance, a instituição não tem relações com as empresas de mídia citadas na falsa nota oficial”. Em seu site, a rede Democracy Alliance defende ser uma rede de doadores que se dedica à promoção de uma agenda progressista durante as eleições estadunidenses; O site explica que esta comunidade de doadores, formada por agentes políticos ligados às pautas de gênero, raça e classe, torna possível que estas pessoas “troquem experiências e conhecimentos com outros e alinhem recursos e estratégias com sindicatos, fundações progressistas, bem como indivíduos e famílias comprometidos com a construção de uma democracia mais inclusiva e equitativa”.
Bereia classifica como falsa a informação de que as empresas META, Spotify e Google haviam se unido e redigido um documento/comunicado sobre o fim de suas atividades no Brasil. Algumas empresas citadas manifestaram-se a respeito, negando a autoria da nota, que tampouco se encontra no site da alegada organização responsável , a Democracy Alliance.
Importa considerar que essas empresas de plataformas de mídias digitais são conglomerados que comandam o mercado mundial de consumo de informações virtuais. Uma suposta retirada de um país do tamanho do Brasil – o terceiro país do mundo a consumir redes sociais, e o primeiro da América Latina – dificilmente seria cogitada, pois representaria um prejuízo muito significativo para o altamente lucrativo mercado que estes conglomerados disputam, arena em que há muita concorrência.
Bereia lembra leitores e leitoras que o PL segue em trâmite legal, e o processo pode ser acompanhado pelo portal da Câmara dos Deputados.
* Matéria atualizada às 23:27 para correção de informações
Em notícia de última hora, o colunista do jornal Metrópoles, Guilherme Amado, revelou que lobistas da Câmara Brasileira da Economia Digital entregaram a deputados evangélicos um documento com a tese de que o PL 2630/20 poderia censurar versículos bíblicos.
Leia a coluna completa de Guilherme Amado neste link. A jornalista Tatiana Dias fez uma thread no Twitter sobre a Câmara Brasileira da Economia Digital.
Os irmãos de Bereia foram considerados “mais nobres” que os de Tessalônica pelo espírito crítico ao examinar as doutrinas apresentadas a eles por Paulo. Queriam conhecer a Cristo, mas não se mostraram preguiçosos nessa busca: foram atrás para confirmar aquilo que o apóstolo lhes expusera.
Hoje, quando dizemos que uma igreja, ou um cristão, são “bereianos”, queremos, por extensão, elogiá-los, por possuírem a mesma atitude cautelosa, criteriosa, de julgar todas as coisas, passando tudo pelo crivo de uma acurada pesquisa.
Infelizmente, essa não tem sido a postura de parcela dos cristãos em nossos dias, que acabam sendo, na prática, “anti-bereianos”: abraçam tudo o que recebem… Não examinam… Não conferem a veracidade dos fatos nem a credibilidade das fontes.
49% informaram já ter recebido ‘fake news’ em seus grupos;
23% afirmam não checar as notícias que recebem pelo WhatsApp;
30% reconhecem compartilhar notícias falsas.
É assustador. Pois justamente aqueles que sempre tiveram em sua história a verdade como um dos pilares da sua fé, agora são complacentes com a mentira. E com um agravante: em tempos de pandemia, desinformação pode provocar mortes.
Contudo, esse descaso com a verdade não se trata de um fenômeno novo no meio evangélico. O advento da internet apenas ampliou a facilidade de, agora, atingir multidões.
Há pelo menos duas décadas, quando o “velho” e-mail tornou-se a forma mais usual de comunicação eletrônica, muitos cristãos – conscientemente ou não – replicavam para a sua lista de contatos, não apenas notícias ou informações, mas também inúmeros “hoaxes”… “Hoax” é uma palavra em inglês que significa “farsa”, aquilo que se faz com o propósito de levar ao engano o maior número de pessoas.
Alguns destes “hoaxes” se tornaram “clássicos” e têm resistido até hoje, ainda que desmascarados… Eis alguns:
– “Está faltando um dia no Universo” (computadores da Nasa teriam comprovado o texto de Josué que “o sol parou”)…
– “Boicote as Fraldas Pampers e o Sabão Ariel” (apregoava-se que a Procter & Gamble era satanista)…
– Até o inocente “Parabéns”, crentes já não cantavam mais, pois as palavras finais “Rá-Tim-Bum” seria uma “antiga maldição persa” imprecada contra o aniversariante…
– “Achada a ossada de um gigante que comprova a Bíblia”…
Todos eram “hoaxes”. Porém, com didatismo e boa vontade, eu pacientemente respondia aos irmãos qual a correta visão bíblica, e lhes recomendava não repassarem tais coisas… Que o mundo ria de nós… E que o Evangelho não precisava disseminar mentiras para propagar a fé… O resultado? Perdi amizades de irmãos que se sentiram ofendidos com a exposição da verdade.
Se lá no passado os nossos irmãos bereianos colocavam à prova alguém com a credibilidade de um Paulo, será que hoje eles iriam receber – sem checar – as coisas que aquele “tio”, ou aquela “tia” gostam de mandar no grupo da família?
Aquilo que não resiste ao exame não pode expressar a verdade.
Líder de jovens na congregação evangélica Assembleia de Deus do Amor, no bairro dos Bultrins, em Olinda (PE), Angélica Cruz, 29 anos, está em pelo menos quatro grupos da igreja no Whatsapp. Diz que a maioria serve para troca de mensagens devocionais entre membros e a liderança. “O aplicativo virou uma ferramenta principal de comunicação na pandemia. Serve pra gente trocar mensagens de apoio e informações entre os irmãos, como vagas de emprego e oportunidades”, contou à Agência Pública.
O uso intenso do Whatsapp para a prática religiosa fortalece redes de desinformação no segmento evangélico, segundo relatório de pesquisa “Caminhos da desinformação: evangélicos, fake news e WhatsApp no Brasil”, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicado em primeira mão pela Pública. A live de lançamento do relatório será no dia 30 de agosto, no canal do Youtube do Instituto de Estudos da Religião (ISER), às 14h.
A pesquisa mostra que 49% dos evangélicos da amostra receberam mensagens de conteúdo falso ou enganoso em grupos relacionados à sua religião. Isso quer dizer que praticamente a metade dos evangélicos entrevistados receberam notícias falsas enviadas em grupos da sua comunidade de fé.
Os dados consideram 1650 respostas coletadas em congregações Batistas e das Assembleias de Deus e grupos de diálogo do Rio de Janeiro e do Recife. Também foi aplicado formulário online com pessoas de todas as religiões e sem religião. Essa coleta aconteceu em 2019.
Na pesquisa online, com abrangência nacional, participaram pessoas de diferentes religiões e com nível superior – o segmento que possui maior percepção em relação à circulação da desinformação. Nesse grupo, os dados sobre o recebimento de notícias falsas em grupos ligados à religião foram ainda maiores, com 77,6% dos evangélicos tendo afirmado receberem desinformação por grupos ligados à sua religião no Whatsapp. Em comparação, a coleta de dados online mostrou que 38,5% dos católicos, 35,7% dos espíritas e 28,6% de fiéis de religiões afro-brasileiras afirmaram ter recebido mensagens falsas nos grupos de suas religiões.
Sobre o uso do Whatsapp especificamente, a pesquisa aponta que entre os evangélicos, 92% participam de grupos ligados à sua religião no WhatsApp. Em comparação, 71% dos católicos, 57% dos espíritas e 66,7% dos fiéis de outras religiões entrevistados, disseram fazer o mesmo. “Não é a religião que interfere na maior presença de desinformação nos grupos de WhatsApp dos evangélicos, mas elementos relacionados à prática da religião, como o uso das redes sociais”, apontou o coordenador da pesquisa, o sociólogo e diretor do Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ, Alexandre Brasil.
Um desses elementos mapeados pelos pesquisadores seria a confiança interpessoal. Para 33,3% dos evangélicos entrevistados, pessoas conhecidas são mais consultadas como fontes de informações do que veículos jornalísticos e/ou mecanismos de busca na internet. E 13,2% disseram que os pastores e irmãos da igreja representam a fonte mais confiável de notícias. “É importante lembrar que onde circula informação também circula desinformação. Não há como evitar que esses fluxos de mensagens circulem de forma separada, pois o intuito é que tenha aparência de informação confiável. O uso intenso do WhatsApp, somado à uma forte presença da confiança interpessoal são fatores que parecem sim tornar os evangélicos, em algum nível, suscetíveis à desinformação”, explicou Alexandre Brasil.
Não checam e não se incomodam
O pesquisador explica que a pesquisa partiu da hipótese de que grupos onde há maior organicidade e confiança entre os participantes, são potencialmente espaços em que há maior circulação de desinformação. O grupo religioso, no caso o evangélico, foi escolhido por ter o perfil de uma “intensa vida comunitária, pela presença de laços de confiança e pela realização de reuniões regulares.” “Também se considerou a existência de reportagens que indicavam sites e influenciadores ligados ao segmento evangélico como destacados disseminadores de fake news”, acrescentou.
O relatório também ressalta que os evangélicos têm uma grande representatividade nas decisões eleitorais, considerando que 31% da população brasileira se declara evangélica, segundo Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), realizado em 2018.
Entre os respondentes, 23,6% dos evangélicos disseram não ter o costume de checar notícias. De acordo com o relatório, quase 30% dos evangélicos entrevistados admitiram que já compartilham notícias falsas, sendo que 8,1% fizeram “mesmo sabendo que era mentira, mas por concordarem com a abordagem”.
“Os menos preocupados seriam pessoas de mais idade, menor escolaridade, menor renda e com menores habilidades no uso de dispositivos eletrônicos (capacidade de editar conteúdos de vídeo, áudio e imagens ou administrar perfis). Por outro lado, não é possível afirmar, a partir dos nossos dados, que pessoas com maior renda, maior escolaridade e com maior habilidade para o uso de dispositivos eletrônicos veiculem menos mensagens falsas”, explicou Alexandre.
A confiança na pessoa que enviou a mensagem basta para que se encaminhe a notícia falsa a outras pessoas, diz o pesquisador. “Entre os evangélicos entrevistados, identificamos que, para um terço, a confiança no emissor é o fator que consideram para validar uma mensagem recebida como autêntica”
Com relação aos conteúdos, 61,9% dos evangélicos entrevistados disseram que notícias falsas com temas políticos são as mais recorrentes. Alexandre Brasil conta que quando o projeto de pesquisa foi apresentado, ainda “não se tinha percepção da escala e da centralidade que a disseminação de desinformação tomaria no Brasil durante o pleito eleitoral”, quando os eleitores evangélicos foram fundamentais para a vitória de Jair Bolsonaro.
A saúde foi outro tema indicado como recorrente. Contudo, os dados não se relacionam diretamente com o quadro de “desinfodemia”, ou seja, desinformação específica sobre a covid-19 e a crise de saúde pública, porque foram colhidos antes da pandemia.
A Pública vem mostrando as conexões entre essas redes de desinformação, tanto com evangélicos conservadores quanto com outros segmentos aliados ao governo. As reportagens revelam que grupos de WhatsApp e de outras redes sociais continuam sendo utilizados para fazer circular conteúdos falsos, como propagandas antivacina e discursos negacionistas na pandemia. Também para reverberar ataques à democracia, a defesa do voto impresso e outras narrativas bolsonaristas.
O combate à desinformação nas redes evangélicas também tem sido feito pelo Coletivo Bereia, pioneiro no Brasil em verificações de fakes news nesse segmento. A iniciativa de jornalistas cristãos faz parte da Rede Nacional de Combate à Desinformação. “O Coletivo Bereia foi criado em outubro de 2019 (ano da coleta de dados da pesquisa) a partir da demanda de ação que os resultados da pesquisa da UFRJ impôs. Consideramos o projeto uma prestação de serviço identificada como jornalismo colaborativo de checagem de conteúdo especializado em religião. Desde o primeiro mês de atuação os resultados de público e parcerias foram altamente positivos, o que atribuímos ao ineditismo e a extrema relevância desta atividade”, diz Magali Cunha, jornalista e pesquisadora de Comunicação e Religiões, que coordena o coletivo.
O pesquisador da UFRJ, Alexandre Brasil diz que não é possível fazer uma associação direta entre os resultados da pesquisa e as redes de desinformação bolsonaristas, mas acredita que há “um direcionamento e um investimento do presidente em relação ao público evangélico”, que representa uma base importante do seu governo e “tem mobilizado tempo e manifestações concretas de atenção, tanto em seus discursos (de Bolsonaro), nas nomeações ou sinalizações ao eleitorado e suas lideranças como no caso da indicação ao STF (do advogado geral da União e pastor presbiteriano André Mendonça), ou ainda na presença de personalidades ligadas ao segmento evangélico nos ministérios”.
Grupo de WhatsApp é o novo ir à igreja
O relatório da UFRJ mostra ainda que a tríade da vida cristã digital é composta por aplicativos para leitura da Bíblia, WhatsApp e Google. São esses os principais aplicativos usados pelos evangélicos entrevistados. E, se a ida frequente à igreja é algo que caracteriza os evangélicos, o envolvimento com a comunidade de fé via grupos de WhatsApp passou a ser um diferencial desse segmento em relação aos outros segmentos religiosos e à média da população brasileira. “Esse achado é anterior à pandemia, mas certamente se ampliou nesse novo contexto. O ponto central que o relatório indica é que grupos com níveis de organização semelhantes, com forte vida comunitária e laços fortes de confiança também são mais suscetíveis às fake news”, diz Alexandre, que aponta para a necessidade de uma ação intencional de formação de usuários que atuem de forma crítica em relação às mídias digitais. “A busca de uma leitura crítica implica em ir além da capacidade de uso das ferramentas digitais e envolve uma perspectiva ampla sobre a realidade e as implicações prejudiciais que representam a disseminação das mentiras. Suas ameaças à saúde pública, à integridade das pessoas e mesmo à democracia representam uma realidade preocupante”, alerta.
Um texto sobre uma suposta encomenda de 100 touros para serem “sacrificados para Satanás em favor do babuê Luiz Inácio Lula da Silva” circulou nas mídias sociais na última semana. Apesar de não haver identificação de quem fala, a seguinte mensagem foi encaminhada:
ATENÇÃO PASTORES E SERVOS QUE AINDA CREEM NA INTERVENÇÃO DIVINA.
“É HORA DE ORAR E JEJUAR PELO BRASIL”.
Não posso dar a fonte. Mas já está encomendado daqui de Novo Hamburgo-RS, 100 touros para serem sacrificados para Satanás em favor do babuê Luiz Inácio Lula da Silva, bruxo, pela perturbação das eleições, e para favorece-lo.
Crianças tb serão sacrificadas no altar de Belzebu. Não vamos brincar, não faça aquela oração de preguiçoso, vamos jejuar e orar por nossa Pátria. Existem acordos firmados por esses governantes do PT entregando a Nação nas mãos do Diabo com a autoridade delegada por nós qdo demos a eles através do nosso voto. O que vamos viver nessas próximas eleições é uma tomada de poder no Reino Espiritual.
Não é só o voto, a Igreja de Cristo precisa tomar posição de guerra, porque o mundo espiritual entrará em batalha 00hs do dia 07, a batalha será campal…Orem, orem! O Brasil nunca precisou tanto que a igreja dobre os seus joelhos em favor dele .
Muito sério isso.
Publicado no Grupo da Ordem de Pastores Batistas DF.
Que Deus tenha misericórdia de nós e de nossas crianças, e nos livre a nós e a elas também, em nome de Jesus. Ora Brasil, chora Brasil, clama Brasil. (II Crôn. 7:13 a 15 e Jer. 33:3) 🙏🇧🇷
R E P A S S A N D O !!!
O site Boatos.org já havia feito checagem a respeito do fato em 2018, quando o texto foi distribuído pelas mídias sociais pela primeira vez. Ou seja, trata-se de mensagem antiga. Além disso, a apuração mostrou que “a mensagem tem todas as principais características conteúdos falsos pela rede: vaga, alarmista, com erros de português, pedido de compartilhamento e sem citar fontes confiáveis”.
Após a recente circulação da mensagem, a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB) emitiu nota oficial no dia 26 de maio desmentindo o texto e reprovando a divulgação de notícias falsas no grupo de WhatsApp da OPBB (imagem abaixo). Por meio do número de contato no seu site, via WhatsApp, a entidade confirmou que a nota oficial foi distribuída a todos os seus afiliados.
Até o fechamento desta nota, Bereia não conseguiu confirmar o significado do título “babuê” com fontes seguras, apenas menções em sites dedicados ao ocultismo sobre ser um título relacionado a “magia negra”. No entanto, é importante advertir que o uso do termo “magia negra” tem conotação racista, frequentemente utilizada em contextos de intolerância religiosa ou de forma pejorativa para com religiões de matriz africana. Além disso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é publicamente declarado católico, o que foi confirmado ao Bereia por lideranças da Igreja Católica consultadas.
É importante que leitores e leitoras redobrem a atenção quanto a não compartilharem conteúdos sem antes verificarem a veracidade deles. Em tempos em que as mídias já exploram possíveis disputas eleitorais, ações de disseminação de conteúdos para destruição da reputação de pessoas públicas serão frequentes.
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Bereia classifica, portanto, a mensagem como FALSA, por trazer informações já verificadas como igualmente falsas, desmentidas pela única possível fonte mencionada. Bereia também recomenda atenção para toda e qualquer mensagem em que a pessoa que fala não se identifica, pois tais condições são comuns a conteúdo falso ou conteúdo criado para causar desinformação, podendo gerar consequências graves para a vida das pessoas associadas a esses conteúdos.
Circulam pelo WhatsApp mensagens anônimas que acusam a Rede Católica de Rádio (RCR) de inflar números de mortos por covid-19 para causar um caos no país e violar direitos constitucionais. As mensagens têm versões diferentes, uma delas tendo sido publicada por um suposto “engenheiro”. Ele diz que sabe fazer contas sobre a população atingida pela covid-19, e mostra números diferentes do que seriam os informados em notícias sobre a pandemia veiculadas pela RCR.
O engano promovido
A mensagem apresenta uma série de números, sendo alguns deles defasados e outros que são analisados de forma equivocada. O principal erro é considerar a taxa de mortalidade da covid-19 (número de mortes por covid-19 pelo total de habitantes do Brasil) e não a taxa de letalidade (o número de mortes por covid-19 em relação ao número total de contaminados pela doença). Quando observada apenas a taxa de mortalidade e não a de letalidade, os números numa população continental como a do Brasil ficam bastante baixos, não mensurando o impacto real da pandemia no país. Mais detalhes sobre o cálculo de taxa de mortalidade e taxa de letalidade podem ser encontrados no espaço dedicado ao coronavírus do blog da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (Sesau).
Bereia checou os números informados na mensagem, conforme indicações abaixo:
“Até a presente data, 10 de abril de 2021, 352.693 pessoas morreram de covid-19.”
Aqui também há números defasados e não consta a fonte a que o autor ou autora recorreu. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, em 10 de abril de 2021 o Brasil tinha 351.334 mortos por covid-19.
3. “X= 352.693×100/209.500.000 X= 0,17%” e “Dos 209.500.000 habitantes no País apenas 13.493.317 pessoas pegaram o Covid-19, isso representa 6,4% da população.”
Ainda que sejam usados os números defasados, o cálculo feito para evidenciar a porcentagem de contaminação e mortes por coronavírus no Brasil é correto e correspondem, respectivamente a número próximo de 0,17% e 6,35% da população.
Entretanto, o cálculo mais indicado nesta estatística é o de letalidade. A letalidade do coronavírus no Brasil chegou, em 10/04, a 2,61%. No fechamento desta matéria, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins em 20/04, a taxa de letalidade do coronavírus no mundo era de 2,13% e o Brasil acumulava o segundo lugar no mundo em mortes absolutas e a 10ª posição no ranking de mortes por milhão de habitantes, superando inclusive Estados Unidos e Índia, que somados têm número de casos confirmados três vezes maiores que o Brasil.
Considerando ainda os dados do monitor do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças, obtidos em 20/04, a média móvel de novas mortes nos últimos sete dias no Brasil é de 2.866 pessoas, mais que o dobro da Índia que vem em segundo lugar com 1.353 mortes diárias e quatro vezes maior que o número dos Estados Unidos que teve 714 mortes por dia nos últimos sete dias. É importante ressaltar que a Índia é um país com mais de 1,3 bilhão de habitantes e os Estados Unidos com mais de 330 milhões de pessoas.
Argumento em favor da economia é descontextualizado
O texto que circula, em pergunta retórica, menciona “justifica travar toda a economia, cercear os direitos fundamentais de ir e vir, do lazer, do trabalho, da educação e da dignidade humana?”. A indagação traz afirmações falsas.
Na ocasião da declaração da OMS, a entidade emitiu uma declaração considerando que “em certas circunstâncias específicas, medidas que restringem o movimento de pessoas podem ser temporariamente úteis, como em ambientes com capacidades de resposta limitadas ou onde há alta intensidade de transmissão entre populações vulneráveis”. No Brasil as restrições só começaram a acontecer em Estados e municípios após a publicação da Lei nº 13.979/2020 que dispôs sobre as medidas de enfrentamento à pandemia.
O posicionamento da Rede Católica de Rádio
A Rede Católica de Rádio publicou, em 14 de abril de 2021, nota esclarecendo o assunto.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Diante de publicação que circula em redes sociais e outras plataformas, citando a Rede Católica de Rádio, viemos a público esclarecer que:
1. É FALSO que o referido texto foi escrito, articulado ou assinado pela RCR e que, usando cálculos simplistas, busca descredibilizar e minimizar a gravidade e informações sobre números de mortos pela pandemia de Covid-19. 2. As informações prestadas pelos veículos da RCR sobre a pandemia, incluindo o Jornal Brasil Hoje, sobre a pandemia, são frutos de rigorosa apuração jornalística e baseadas nas fontes oficiais de dados. 3. A Rede Católica de Rádio está investigando origem deste conteúdo com o intuito de adotar as medidas cabíveis, inclusive judiciais. 4. Quaisquer questionamentos sobre decisões, dados ou outras informações oficiais sobre pandemia, por parte da Rede Católica de Rádio, são feitos por meio de sua produção jornalística e de suas afiliadas e, divulgadas através das respectivas emissoras, do JBH e de seus canais oficiais na internet. 5. A RCR defende a adoção das medidas de saúde e segurança preconizadas pelas autoridades competentes, como o uso de máscaras, do distanciamento social e do avanço da vacinação para o controle da pandemia de Covid-19.
A Rede Católica de Rádio é uma associação vinculada a SIGNIS Brasil e baseia suas ações nas orientações e Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana.
Pedimos a todos que receberam esse falso texto, que não o difundam e desconsiderem seu conteúdo.
Nós, cristãos e meios de comunicação de inspiração católica, temos compromisso com Jesus Cristo, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14, 6)
São Paulo, 14 de abril de 2021.
Angela Morais Presidente da Rede Católica de Rádio
Joelma Viana / Jorge Teles Vice-presidentes
Nota da RCR
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Bereia conclui, portanto, que o conteúdo sobre a RCR que circula pelo Whatsapp é enganoso. Apesar de conter um raciocínio e cálculos corretos, os números são defasados, sem indicação de fonte e com desprezo ao formato adequado de cálculos para mensurar o impacto da pandemia. Os números também desconsideram a situação de outros países, como a Índia com uma população de 1,3 bilhão de pessoas e que tem letalidade e média móvel mais baixas que a do Brasil. Conteúdos como este promovem desinformação, desestimulam medidas de proteção e higienização frente ao coronavírus e, por conseguinte, minimizam o impacto da pandemia que já ceifou mais de 378 mil vidas de brasileiros.
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A apuração contou com o auxílio do matemático Marcio Medeiros para a interpretação e análise dos dados.
Um vídeo em que um homem é levado pela correnteza durante um batismo às margens do Rio Guandu viralizou nas mídias sociais. A gravação tem pouco mais de três minutos e a partir de dois minutos e treze segundos, uma corrente no rio interrompe a cerimônia, que conta com cinco participantes na água. Eles tentam voltar para margem do rio, mas nos últimos segundos do vídeo o celebrante fica debaixo d’água enquanto pessoas que assistiam ao batismo em terra correm em socorro dos participantes.
Família pede que vídeo seja denunciado
Diante da viralização, posts em mídias sociais e portais de notícias oferecem relatos conflitantes sobre qual igreja teria realizado o batismo registrado em vídeo e onde a cerimônia teria acontecido. Há menções de que as congregações seriam localizadas nos bairros do Campo Grande, na capital fluminense, ou Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias.
Bereia contatou uma pessoa próxima da família da vítima e confirmou que, na verdade, trata-se de igreja da denominação Casa da Bênção na cidade de Seropédica (RJ). No último 28 de março, a igreja realizava um batismo no Rio Guandu quando o pastor foi arrastado pela correnteza e veio a falecer. O fato marcou a comunidade, que pede que não se compartilhe o vídeo. “Eles [a família da vítima] desejam que parem de postar o vídeo, porque nesse momento de perda é muito difícil falar, já que não tem quem culpar, foi uma fatalidade. Esse rio é perigoso. Do nada, dá o redemoinho e puxa”, explicou uma pessoa próxima da família.
Em um grupo do Facebook, a reportagem encontrou um post relacionado ao vídeo em que uma das pessoas da família da vítima pede ajuda para denunciar a gravação. Bereia optou por não citar nomes para preservar a identidade da família e de conhecidos atingidos pelo ocorrido.
Rio Guandu é perigoso e constantemente usado para batismos
O Rio Guandu tem grande importância para o Estado do Rio de Janeiro, sendo responsável pelo abastecimento de água do Grande Rio. A Estação de Abastecimento de Água da Cedae no Rio Guandu tem passado por reformas após o aparecimento de geosmina, substância que deixa a água das residências da região com gosto e odor ruins.
O processo de tratamento de água, somado à correnteza natural do rio, tornam o Guandu um local arriscado e impróprio para banho, apesar da aparência tranquila. O local, entretanto, atrai banhistas e pescadores, sendo um dos poucos lugares considerados de lazer por moradores da região. O rio também é constantemente local de batismos realizados por igrejas evangélicas. O guia Edson Monteiro alerta para os perigos da correnteza e dos buracos no local, que podem causar acidentes. “Na Prainha temos um buraco com três metros de profundidade. Para uma mãe que não conhece o local, um minuto é o tempo de a criança afundar e a correnteza a arrastar. E vai descer o rio”, afirmou em entrevista ao G1.
Em 2020, após o afogamento de Guilherme Souza, 10 anos, o grupo Mulheres da Lagoinha, realizou uma ação voluntária para sinalizar trechos do Rio Guandu em Nova Iguaçu quanto aos riscos de afogamento. Elas também cobram do poder público a fiscalização e a construção de uma área de lazer como um piscinão para que as crianças não vão para as áreas de correnteza.
Diretrizes de comunidade no Facebook e no Youtube
A gravação do ocorrido espalhou-se por mídias sociais como Facebook e Youtube. Ambas têm diretrizes de comunidade para tratar de conteúdos sensíveis, como é o caso do vídeo verificado nesta reportagem. O Facebook tem uma política de perfil memorial que afirma o seguinte: “Para apoiar o enlutado, em algumas instâncias podemos remover ou alterar certo conteúdo quando o contato herdeiro ou os membros da família fizerem uma solicitação nesse sentido.” A rede pede que vídeos de morte prematura não sejam postados.
Já o Youtube tem regulação acerca de conteúdo violento ou explícito. A plataforma pede que não sejam postadas, entre outras coisas, feridos ou mortos em um acidentes, acompanhados de título como “Acidente inacreditável” ou “Aviso: muito sangue”. A plataforma reafirma que esta não é uma lista completa e tem canais para denúncia.
Por outro lado, o aplicativo de mensagens Whatsapp – outro ambiente por onde o vídeo pode viralizar com facilidade – tem criptografia de ponta a ponta. Isso significa que apenas quem manda e recebe as mensagens conhece seu conteúdo. O aplicativo não tem acesso a elas. Na seção de Avisos Legais e Isenções, os Termos de Serviço do Whatsapp dizem o seguinte:
“NÃO CONTROLAMOS E NÃO NOS RESPONSABILIZAMOS PELO CONTROLE DE COMO OU QUANDO NOSSOS USUÁRIOS UTILIZAM OS NOSSOS SERVIÇOS OU OS RECURSOS, OS SERVIÇOS E AS INTERFACES FORNECIDAS POR ESSES SERVIÇOS. NÃO NOS RESPONSABILIZAMOS E NÃO NOS OBRIGAMOS A CONTROLAR AS AÇÕES OU AS INFORMAÇÕES (INCLUINDO O CONTEÚDO) DE NOSSOS USUÁRIOS OU DE TERCEIROS.”
Termos de Serviço do WhatsApp
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Bereia conclui que o vídeo da tragédia durante um batismo da Igreja Casa da Bênção, de Seropédica (RJ), é verdadeiro. O caso ocorreu em 28 de março de 2021. Entretanto a imagem foi compartilhada sem o consentimento da família da vítima, que pede que se interrompa a circulação do conteúdo por respeito à dor desse momento. Bereia recomenda a leitores e leitoras que nunca compartilhem vídeos, imagens ou qualquer outro conteúdo de acidentes sem autorização das pessoas envolvidas e sem o objetivo de prestar um serviço com a informação. Além de desrespeitoso com as vítimas e familiares, o artigo 212 do Código Penal Brasileiro define como crime vilipêndio ao cadáver, o que segundo juristas inclui tirar e compartilhar fotos e vídeos de acidentes.
Circula nas mídias sociais um vídeo em que a presidente do partido Avante no Estado do Paraná, Marisa Lobo, apresenta uma operação policial na Igreja Assembleia de Deus Madureira em Curitiba. No material, é possível ver nove veículos policiais de diferentes forças de segurança e um guincho. No entanto, Marisa Lobo desinforma ao classificar o ato como “intolerância religiosa”, ao dizer que atividades religiosas eram serviço essencial e ao mostrar o vídeo como sendo recente.
A operação policial ocorreu em 12 de julho de 2020 na capital paranaense, quando então vigorava o Decreto Municipal nº 870/2020, que determinava que se mantivessem as medidas estabelecidas no artigo 5º do Decreto no 470/2020, publicado em 26 de março. O documento elenca as atividades essenciais no município, e cultos religiosos não estavam inclusos. Foram listadas 51 atividades, como serviços médicos, de transporte e de mercados/feiras, mas celebrações religiosas não foram consideradas essenciais.
Além disso, a operação não pode ser classificada como “intolerância religiosa” ou “perseguição a cristãos” pois para se caracterizar como tal uma situação deve conter ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo, escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar com a intenção de deliberadamente inviabilizar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso (Código Penal art. 208). Mesmo a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) emitiu em seu “caso 33” nota informando que a denúncia de aglomeração no culto tinha sido anônima e que não se perpetuaram violações ou danos à igreja.
“Após o ocorrido, o Prefeito de Curitiba, o Governador do Paraná e o Comandante da Polícia Militar do Estado buscaram contatar a liderança do Ministério Madureira, para obter mais informações e esclarecer o ocorrido. Tendo conhecimento das circunstâncias, as autoridades se desculparam pelo transtorno gerado pela denúncia falsa e reafirmaram o direito das igrejas de realização das cerimônias virtuais”
Comunicado da ANAJURE
O vídeo voltou a circular com frequência em mídias digitais religiosas no fim de fevereiro e início de março deste ano, porém não se refere a uma ação ocorrida em 2021. Foi exibido originalmente no perfil do YouTube de Marisa Lobo, que era então pré-candidata à Prefeitura de Curitiba-PR pelo Avante. A publicação foi feita em 13 de junho de 2020, e pode-se observar que a gravação que passa na TV às suas costas tem 20 segundos de duração, com repetição automática, dando a impressão de um vídeo mais longo. Marisa Lobo não foi eleita, tendo recebido apenas 0,51% dos votos válidos.
Em 26 de fevereiro de 2021, a Resolução nº 221 da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná classificou as atividades religiosas como essenciais desde que haja o cumprimento das medidas sanitárias determinadas por ela. A resolução está em vigor hoje no município, e pode ser conferida na íntegra aqui. Portanto, à época em que o vídeo foi produzido, celebrações e cultos religiosos não figuravam como atividade essencial.
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O Coletivo Bereia classifica como falsas as afirmações de perseguição religiosa e de culto porque igrejas não foram classificadas como atividade essencial pela Prefeitura de Curitiba em 2020: não há perseguição religiosa, tal como tipificado na lei brasileira nesse caso. Na ocasião do vídeo as igrejas estavam fechadas como medida de saúde pública (prevenção da contaminação por covid-19). A igreja Assembleia de Deus Madureira em Curitiba foi autuada porque estava funcionando, desrespeitando o decreto municipal. O vídeo publicado em 13 de junho de 2020 não representam o momento atual da cidade, que permite as atividades essenciais, desde que cumpridos os protocolos de segurança.
O vídeo a que se refere esta verificação chegou até o Coletivo Bereia por meio de seu WhatsApp oficial e de parceiros da Rede Nacional de Combate à Desinformação. Sempre que você encontrar um conteúdo suspeito, envie para WhatsApp ou Telegram do Coletivo Bereia – (38) 98418-6691.
*Verificado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia, em parceria com Correio, A Gazeta e UOL. Investigado por Estadão. Publicado originalmente no Comprova.
É falso que o general Joaquim Silva e Luna, novo indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o comando da Petrobras, tenha demitido mais de 300 funcionários do prédio central da companhia, como sugere vídeo viral no Facebook. O conteúdo mistura trechos de uma reportagem veiculada no Jornal Nacional e um áudio inverídico que circula no WhatsApp.
A matéria original não menciona demissões de funcionários da Petrobras e destaca que o nome de Silva e Luna ainda precisa ser “referendado” pelo conselho administrativo da estatal. O general ainda não assumiu o comando da petroleira, uma vez que sua indicação deve passar pela análise de órgãos internos da empresa. Ele não teria como, portanto, ter demitido ninguém.
O vídeo verificado também apresenta um boato infundado de que 3,2 mil funcionários ligados ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (2003-2005), do PT, teriam criado empresas paralelas para revender o combustível da Petrobras a preços elevados no Brasil. Não há registros públicos ou notícias na imprensa profissional que sustentem essa alegação.
Em nota ao Comprova, a Petrobras negou que as afirmações contidas no post sejam verdadeiras. A empresa ainda desmentiu mensagens semelhantes segundo as quais o general Silva e Luna desocupou um andar inteiro do edifício da Petrobras e empregou a inteligência do Exército e a Polícia Federal na companhia. A PF disse em nota que a corporação não havia sido informada sobre esse tipo de operação.
Além disso, o post confunde a localidade do edifício-sede da Petrobras, que fica no Rio de Janeiro, e não em Brasília.
Como verificamos?
O Comprova entrou em contato por e-mail e telefone com a assessoria de imprensa da Petrobras, que nos informou que as alegações do vídeo eram falsas. A reportagem também conversou com a assessoria da Polícia Federal para esclarecer se de fato a corporação foi acionada para ocupar um andar do prédio da estatal.
Buscamos por notas oficiais da Petrobras para entender o patamar do processo de indicação do general Silva e Luna ao comando da companhia. No site da empresa também acessamos conteúdos com explicações sobre a composição do preço dos combustíveis e acerca da possibilidade da prática de valores mais baixos em outros países.
A fim de confirmar a localização do edifício sede da Petrobras, o Comprova buscou pelo estabelecimento na ferramenta Google Maps e verificou que a central da empresa está no Rio de Janeiro. Também buscamos por notícias ou artigos que pudessem sustentar a acusação sobre o uso de empresas estrangeiras por funcionários da Petrobras, mas não encontramos qualquer registro que comprovasse o boato.
Verificação
O vídeo mostra inicialmente um trecho de uma reportagem ao vivo do Jornal Nacional. O repórter lê uma nota à imprensa do Ministério das Minas e Energia sobre a indicação do general Joaquim Silva e Luna ao comando da Petrobras, reproduzida pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais.
Na sequência, o clipe emenda um trecho em que o repórter descreve o currículo do militar, mas suprime uma parte anterior com a informação de que o nome de Silva e Luna ainda seria analisado por um conselho da empresa. Então entra a voz do autor do áudio falso que diz ter recebido informações de que “o negócio está fervendo em Brasília com o negócio da Petrobras”.
“Botaram o presidente novo, um general. Disse que até 11 horas da manhã, ele tinha demitido, do prédio central da Petrobras, 300 fucionários”, afirma a gravação. Indicado na sexta-feira, 18, porém, o general Joaquim Silva e Luna ainda não assumiu a presidência da companhia.
Nesta terça-feira, 23, o Conselho de Administração da Petrobras autorizou a convocação de uma assembleia para substituir o atual diretor da empresa, Roberto Castello Branco. Em nota, a Petrobras afirma que a indicação de Silva e Luna ainda “será submetida ao processo de análise de gestão e integridade da companhia” e ao Comitê de Pessoas da empresa. O artigo lembra ainda que o mandato do conselho hoje presidido por Castello Branco perdura até o dia 20 de março de 2021.
Não há evidências sobre ‘maracutaia’ de funcionários
O autor afirma que Bolsonaro teria descoberto uma rede de 3,2 mil funcionários “ligados” a José Dirceu responsáveis por uma “maracutaia” para aumentar o preço da gasolina. Segundo o boato enganoso, esses funcionários usam empresas estrangeiras para comprar o petróleo brasileiro no exterior e revender mais caro no Brasil.
A assessoria da Petrobras disse ao Comprova que as “as informações das mensagens não procedem, não possuem qualquer fundamento”. Também não havia registros na imprensa ou em canais oficiais sobre esse suposto esquema até o fechamento desta reportagem. Os recentes reajustes no preço dos combustíveis se devem ao alinhamento da política de preços da empresa ao mercado internacional.
Desde dezembro, o barril de petróleo acumula alta de 35%. De acordo com a estatal, esse alinhamento é “fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros refinadores, além da Petrobras.”.
A companhia ressalta ainda que a cotação do combustível vendido às refinarias representa apenas uma parcela do preço cobrado nas bombas de abastecimento. Como mostra figura publicada no site da empresa, a política da Petrobras incide em cerca de 34% do preço que chega ao consumidor. O restante reflete impostos federais e estaduais, assim como custos de distribuição e revenda.
Combustível é mais barato no Paraguai?
A gravação alega ainda que o novo presidente da Petrobras teria revisado as notas fiscais de todos os produtos exportados para o Paraguai, Argentina e Uruguai. A mensagem exagera ao insinuar que a gasolina chegaria aos consumidores desses países pelo preço de R$ 1,62.
Uma reportagem do Estado de Minas, publicada em 2017, mostra que o litro do combustível chegou a ser comercializado no Paraguai por R$ 2,62. O site da filial paraguaia da Petrobras, porém, mostra que o preço recomendado da gasolina da empresa atualmente varia de 4700 a 7950 guaranis, o equivalente a R$ 3,87 e R$ 6,54 em conversão direta. Em 2019, a Petrobras licenciou o uso da sua marca pela empresa Nextar.
Apesar do tom alarmista do vídeo, a própria Petrobras explica que o valor do combustível da empresa praticado no Brasil pode ser maior do que em outros países. “O preço cobrado no Brasil pela gasolina que sai da refinaria equipara-se aos preços de outros países que possuem mercados de derivados abertos e competitivos. No entanto, há uma grande variação na lógica de formação de preços de bomba em cada país”, justifica.
De acordo com a companhia, além de diferenças nos preços de produtores, distribuidores e revendedores, o ambiente regulatório de cada nação, como impostos e subsídios, também impactam no preço dos produtos.
Por que investigamos?
Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre Covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.
O vídeo verificado foi publicado em 23 de fevereiro de 2020 por um perfil no Facebook e, até a publicação da reportagem, acumulava 99 mil compartilhamentos e 72 mil reações na plataforma. O conteúdo circula também nos formatos de imagem, texto e áudios nas redes sociais e, segundo verificações de outros veículos, é amplamente difundido no Whatsapp.
Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Esta verificação contou com apoio do programa de estágio em jornalismo firmado entre o Comprova e a FAAP.
*Investigado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia, em parceria com Estadão, Amazônia Real, A Gazeta e Alma Preta. Verificado por UOL, Rádio Noroeste, Correio e Poder 360. Publicado originalmente no Comprova.
Em vídeo publicado no Facebook, um caminhoneiro diz que está numa estrada asfaltada que liga Comodoro, no Mato Grosso, a outros quatro municípios do estado e que isso seria obra do governo Bolsonaro. Ele diz também que os caminhoneiros precisam propagar, porque “a mídia não vai divulgar o que o presidente está fazendo”. O vídeo, que já foi compartilhado 56 mil vezes desde sua publicação em 29 de agosto de 2020 no perfil de uma pastora da Assembleia de Deus que mora no Pará, é enganoso.
O trajeto mencionado pelo narrador tem cerca de 582 km e usa três rodovias, somente uma delas federal, a BR-364. E, embora alguns trechos tenham recebido obras de restauração durante o governo Bolsonaro, a pavimentação já havia sido feita bem antes do atual presidente ser empossado.
Procurado pelo Comprova, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) informou que, em 2020, foram restaurados 78,8 quilômetros da BR-364/MT, com investimento de R$ 37 milhões, mas não precisou quando os trechos mencionados no vídeo foram pavimentados. O órgão argumentou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira (SP) e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota.
O Comprova encontrou registros da pavimentação nos trechos mencionados no vídeo. O Diário de Cuiabá já mencionava obras de pavimentação da BR-364 na região em 2001. Outra notícia, publicada em 2006 no site do governo de Mato Grosso, relata a inauguração de três trechos da estrada, entre Comodoro e Diamantino, da qual participaram o então presidente Lula e o governador do MT à época, Blairo Maggi.
As rodovias MT-170 e MT-235, que estão no trajeto entre Comodoro e Juína, são estaduais. O governo do Mato Grosso afirmou que realizou obras de restauração de 75,5 quilômetros entre o entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis.
O Comprova entrou em contato com a pastora Agricola Neta de Aquino Carrera, autora da primeira postagem do vídeo no Facebook. Ela reside na cidade paraense de Ananindeua, localizada ao norte de Belém. Em entrevista por WhatsApp, ela contou que recebeu o vídeo de um caminhoneiro que conheceu em um grupo de Facebook e que ele seria o autor. Agricola, no entanto, diz não lembrar do nome, que já teria apagado o registro e a gravação de seu celular e que não tem certeza da veracidade do conteúdo, pois apenas compartilhou o vídeo.
Como verificamos?
Entramos em contato com as prefeituras das cidades citadas, com o governo do estado do Mato Grosso e com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT).
Analisamos as imagens para verificar se as placas poderiam auxiliar na identificação dos trechos mostrados da gravação, com ajuda do Google Maps e outras ferramentas.
Utilizamos o Google Maps para ver se os trechos citados no vídeo conferiam com o posicionamento do governo de Mato Grosso.
Com os locais informados e identificando alguns elementos no vídeo que pudessem auxiliar na localização em que a gravação foi realizada, como a ponte com placas pela qual o motorista passa, próximo a um campo aberto, chegou-se a um possível local no Google Maps e confirmando que o vídeo foi gravado na BR-364.
Captura de um trecho do vídeo
Captura do Google Maps da ponte sobre o Rio Juína, na BR-364
Captura de um trecho do vídeo, após o motorista passar pela ponte
Captura do Google Maps do trecho logo após a ponte sobre o Rio Juína, na BR-364
Verificação
O vídeo verificado mostra um homem dirigindo e exibindo uma estrada à sua frente. Ele afirma que a rodovia é obra da administração de Jair Bolsonaro e faz agradecimentos à gestão, citando também o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O homem menciona ainda que a estrada garante acesso do município de Comodoro até Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, todos no estado do Mato Grosso. Na legenda, o post critica a imprensa por não mostrar a obra, e reforça que Bolsonaro está garantindo auxílio e fortalecendo o agronegócio.
As estradas
Para ir de Comodoro a Juína, passando por Campos de Júlio, Sapezal e Campo Novo, municípios citados no vídeo, é necessário utilizar três rodovias, uma delas federal e as outras duas, estaduais.
O trajeto entre Comodoro e Campos de Júlio é feito pela BR-364 e tem 74 km.
Para ir de Campos de Júlio a Sapezal são 57 km, também pela BR-364.
De Sapezal a Campo Novo do Parecis são 108 km feitos pela MT-235.
De Campo Novo a Juína são 344 km e para fazer esse trajeto, o motorista deve transitar por 242 km da MT-170 e outros 103 km da BR-364.
É possível conferir o mapa clicando aqui.
O que dizem os governos
Em contato com os governos estadual e federal, o Comprova confirmou que houve obra de recuperação em 2020 em trechos citados no vídeo, mas as intervenções não foram feitas exclusivamente pela administração de Bolsonaro.
O DNIT informou, em nota, que o trecho da BR-364 tem um serviço de manutenção contratado por licitação, que realiza as obras à medida que surgem demandas para garantir condições de trafegabilidade e segurança. E que, quando o contrato está próximo de ser encerrado, é realizado outro processo de licitação para sempre ter uma empresa responsável pelos trechos das rodovias sob sua administração. A rodovia federal é uma das estradas que liga as cidades de Comodoro, Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, citadas no vídeo. Em 2020, foram realizadas obras de restauração de 78,8 km da BR-364/MT, com investimentos de R$ 37 milhões.
Questionado sobre a pavimentação da estrada, o DNIT informou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira [SP] e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota.
Já entre Sapezal e Campo Novo do Parecis a rodovia é a MT-235, sob responsabilidade do governo de Mato Grosso. A administração estadual afirmou em nota, que nessa rodovia foi realizada a restauração de 75,5 km do entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis. Os serviços foram entregues em maio de 2020, com investimento de R$ 4,34 milhões. A MT-235 foi pavimentada em 2009, na gestão do então governador Blairo Maggi (2003-2010).
Quem é a autora da publicação
Agricola Neta de Aquino Carrera tem 47 anos, é pastora da Assembleia de Deus no Pará e foi candidata a vereadora em 2020 pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), do vice-presidente Hamilton Mourão, na cidade de Ananindeua, no Pará.
Em entrevista por WhatsApp, ela contou ao Comprova que um caminhoneiro em um grupo de Facebook do Mato Grosso do Sul pediu apoio para compartilhar o vídeo. A pastora garante que foi o próprio autor quem enviou o vídeo para o seu celular. Mas ela não lembra o nome do homem e apagou os registros do aparelho.
Perguntada se poderia confirmar a veracidade do conteúdo que publicou, ela disse não ter certeza, pois apenas compartilhou o vídeo.
Por que investigamos?
Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre Covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.
O vídeo verificado pelo Comprova foi publicado em agosto de 2020 por um perfil pessoal no Facebook. Desde então foi compartilhado 56 mil vezes. Recentemente foi compartilhado pelo grupo de Facebook Fechados com Bolsonaro 2022 e nele alcançou 5,8 mil curtidas e 3,2 compartilhamentos na rede social.
Tem circulado em grupos de WhatsApp um vídeo em que o padre católico de São Paulo, Carlos Maria de Aguiar, vice-presidente da Liga Cristã Mundial, espalha desinformação a respeito da vacinação contra o novo coronavírus. No vídeo, segundo o clérigo, alguns líderes estariam abusando de seus poderes e transgredindo a Constituição em vez de ajudar o presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, Aguiar diz que alguns chamam a pandemia de “Fraudemia”, porque ela seria uma manipulação ideológica do difícil momento que o Brasil vive. Nesse sentido, o padre traz a seguinte mensagem a respeito da vacinação:
“O emprego é o único meio digno de alguém para manter sua sobrevivência e subsistência. Privar um ser humano disso é desumano e vai contra toda ordem moral, ética e do direito natural. Usar a ameaça de vacinar-se em garantia de cura sob a pena de perder o emprego é perverso e brutal. Isso, na verdade, é uma escravidão. Ou agimos de forma violenta porque eles são violentos conosco física e psicologicamente, ou iremos acabar em novo tipo de campo de concentração. É lutar para não morrermos. E se morrermos, vamos morrer lutando dignamente. E que Deus abençoe a todos.”
Carlos Maria de Aguiar, padre e vice-presidente da Liga Cristã Mundial
A obrigatoriedade constitucional da vacinação
No vídeo, o Padre menciona suposta ameaça de demissão por parte de um empregador a um funcionário que se recusa a tomar a vacina. No entanto, é preciso primeiro compreender qual é a situação da vacinação contra a covid-19.
Bereia já publicou uma matéria em dezembro de 2020 para explicar que a vacinação obrigatória é constitucional e já praticada no Brasil, isso porque a vacinação é uma estratégia de imunização coletiva capaz de erradicar doenças. Segundo a Fiocruz, doenças como varíola e poliomielite foram erradicadas no Brasil graças à vacinação. A obrigatoriedade da vacinação, como explica a reportagem, está prevista desde 1975 pela Lei 6.259 daquele ano, que estabelece o Plano Nacional de Imunização (PNI). Já em fevereiro de 2020, a Lei 13.979 listou a vacinação como uma das medidas para combater a pandemia.
Por fim, foi em 17 de dezembro de 2020 que o STF firmou entendimento a favor da obrigatoriedade também da vacina contra a covid-19, como noticiou a revista Consultor Jurídico. A decisão também diz que pais sejam obrigados a levar seus filhos para vacinação, conforme o calendário de imunização, mesmo quando contra as suas convicções. Isso porque o direito à saúde coletiva das crianças e dos adolescentes não se sobrepõe à liberdade de pensamento dos responsáveis, defendeu o ministro Luis Roberto Barroso. A Corte considerou que a vacina pode ser também compulsória, situação na qual restrições são aplicadas a quem não se vacinar.
Vale lembrar que não cumprir o Calendário Nacional de Vacinações já implica sanções. A Portaria 597 de 2004 já estabelece que a não vacinação gera impedimento de se alistar no exército, receber benefícios sociais do governo ou se cadastrar em creches ou se matricular nas demais instituições de ensino. Também é importante reconhecer que a obrigatoriedade de vacinação é prática comum em outros países e nas relações internacionais, como por exemplo, a antiga exigência de comprovação de vacinação contra algumas doenças para permissão de entrada no território de vários países, como a da febre amarela e da da H1N1.
Vacinação e o ambiente de trabalho
O debate que se coloca é se empresas podem exigir a vacinação de seus funcionários e, se isso for permitido, se a recusa de um funcionário em vacinar-se contra a covid-19 poderia resultar em demissão com justa causa. A decisão do STF deixou o estabelecimento de limitações aos não-vacinados a cargo tanto da União quanto de estados e municípios. Isso significa que as restrições dependerão de cada localidade.
O portal de temas jurídicos JOTA ouviu especialistas na área trabalhista a respeito da questão. A professora do IDP e procuradora do Trabalho Lorena Porto considera que o empregador pode exigir a vacinação de seus funcionários para a volta do trabalho presencial, uma vez que o empregador é responsável por garantir um ambiente de trabalho saudável. Em entrevista ao portal, ela cita o exemplo de profissionais de saúde:
“Para o empregador cumprir todas essas exigências, ele teve de adotar uma série de medidas, como a implementação de equipamentos de proteção individual, os EPIs, o trabalho remoto, notadamente os de grupo de risco. Para os que estão trabalhando presencialmente, medidas sanitárias de controle interno. Neste contexto, para evitar o contágio de um trabalhador e a contaminação dos demais, se inseriria a vacina e podem ser estabelecidas restrições dos direitos”.
Lorena Porto, procuradora do Trabalho e professora do IDP
No entanto, para Porto, a demissão por justa causa não deveria acontecer, uma vez que essa forma de desligamento depende de requisitos definidos por lei para ser caracterizada. Ouvido pela mesma reportagem, o sócio do Bichara Advogados Jorge Gonzaga Matsumoto vai no sentido contrário:
“A empresa pode exigir a vacinação e demitir por justa causa, com certeza. Isto porque ela tem responsabilidade direta pela saúde dos empregados ao seu redor. É uma responsabilidade constitucional de zelar pela saúde, o que traz o direito de exigir que o trabalhador tome todas as medidas cabíveis”.
Jorge Gonzaga Matsumoto, sócio do Bichara Advogados
Por outro lado, a sócia responsável pela área trabalhista do Porto, Miranda e Rocha Advogados Karen Viero destaca a atual falta de definição sobre o assunto. “O empregador está desamparado neste momento, pois, se os empregados se recusarem a tomar vacina e o empregador desligá-lo sem justa causa, poderá configurar dispensa discriminatória. Se pensar em desligamento por justa causa, a recusa do empregado em tomar a vacina não se enquadra nas hipóteses do artigo 482 da CLT. Portanto, a meu ver, a empresa não pode em nenhuma hipótese desligar o empregado por este motivo”, afirma à revista Consultor Jurídico.
Para ela, se a legislação municipal e estadual exigir vacinação obrigatória para o trabalho de determinado colaborador, a empresa pode deixá-lo em home office. Já em caso de novas contratações, a exigência da vacinação também dependerá da legislação local e da disponibilidade do imunizante.
Posicionamento do Ministério Público do Trabalho
No dia 8 de fevereiro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) se pronunciou sobre o tema por meio do procurador-geral do órgão, Alberto Balazeiro. O procurador disse em entrevista ao Estadão Conteúdo publicada pelo jornal O Estado de São Paulo e reproduzida pela Revista Exame que as empresas devem investir em conscientização e seguir um roteiro de sanções que podem levar à demissão por justa causa como última alternativa, caso um funcionário se recuse a tomar a vacina sem apresentar razões médicas documentadas.
Balazeiro diz que um guia interno feito pela área técnica do MPT segue a decisão do STF. Ele também considera os argumentos de que o empregador tem a obrigação de garantir a segurança do ambiente de trabalho e da importância do interesse coletivo sobre o individual. “E sem uma recusa justificada, a empresa pode passar ao roteiro de sanções, que incluem advertência, suspensão reiteração e demissão por justa causa. A justa causa é a última das hipóteses. O guia do MPT não é um convite à punição, mas à negociação e à informação. O que não pode é começar com justa causa nem obrigar ninguém a trabalhar em condições inseguras”, afirmou o procurador-geral.
Fraudemia?
Segundo dados do Ministério da Saúde até o fechamento desta matéria, o Brasil já acumula mais de 230 mil mortos pela Covid-19 e mais de 9,5 milhões de casos da doença. No mundo inteiro, já são mais de 2,3 milhões de vítimas do coronavírus. Estes números e o caos na saúde pública por conta deles demonstram concretamente que não é verdade que a pandemia de coronavírus é uma “fraudemia” criada com fins ideológicos. Segundo o Panorama Humanitário Mundial da ONU, a crise causada pelo coronavírus fez com que a extrema pobreza e a fome aumentassem e projeções para 2021 indicam que cerca de 235 milhões de pessoas ao redor do mundo precisarão de ajuda humanitária neste ano.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) já autorizou o uso emergencial das vacinas CoronaVac e Oxford-Astrazeneca no Brasil, que estão sendo produzidas pelo Instituto Butantan e Fiocruz e já começaram a ser aplicadas nos grupos prioritários. Outras vacinas estão em processo de avaliação. O país sofre, entretanto, com a falta de doses e insumos para a fabricação das outras necessárias, além das disputas políticas e ideológicas em torno da vacina.
Quem é o Padre Carlos Maria de Aguiar?
Padre Carlos Maria de Aguiar se declara vice-presidente da Liga Cristã Mundial. Em uma página na internet, a Liga se descreve como “Instituição sem fins lucrativos que tem como objetivo combater o Terrorismo Islâmico, o Comunismo e promover permanentemente a defesa da Fé Cristã: defender os cristãos, seus direitos, símbolos e cultos”.
A Liga Cristã Mundial participou da organização da 2ª Marcha Cristã pelo Brasil, em 15 de outubro de 2018. O ato teve inspiração na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrida entre 19 de março e 8 de junho de 1964, manifestações de setores conservadores da sociedade em defesa da ditadura militar.
Na ocasião, segundo a Revista Época, o padre Carlos Maria de Aguiar subiu em um trio elétrico e bradou: “Intervenção para salvar nossa nação!” e qualificou a ditadura militar como “gloriosa e querida”.
Em um perfil em rede social, o pároco se declara “incardinado como diácono” na Diocese de Santo Amaro, em São Paulo. Procurada por Bereia, a Diocese de Santo Amaro declarou:
“Informamos que o Sr. Carlos Valério Batista de Aguiar é clérigo incardinado na Diocese de Santo Amaro. Ele não tem uso de ordens e não exerce o seu ministério no território desta diocese. As suas declarações são de cunho exclusivamente pessoal”.
Diocese de Santo Amaro
O termo “incardinado”, conforme o Pequeno Dicionário Católico, se refere à admissão de um clérigo (padre, bispo, etc.) em uma diocese diferente da qual ele foi ordenado.
Religiosos seguem criando pânico moral com desinformação sobre vacinas
Na verdade, as linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos servem como “pequenas fábricas” para que os vírus atenuados possam se multiplicar e não fazem parte da composição do produto final. Trata-se do uso de linhagens derivadas de tecidos de dois abortos legais realizados em 1972 e 1985. Postagens enganosas foram feitas sobre este assunto para induzirem pessoas a acreditarem que bebês foram abortados para que a vacina fosse produzida.O uso dessas células não provoca novos abortos. O próprio Vaticano aceita o uso de vacinas produzidas nessas condições diante da falta de alternativas. Para a Igreja Católica, o uso dessas vacinas não constitui legitimação da prática do aborto, mesmo que indireta.
“A Diocese tem sido muita clara em suas orientações ao longo de toda a pandemia: sempre de acordo com as determinações das autoridades sanitárias e no melhor cuidado com a vida; A posição continua a mesma, em nada mudou; A vacina, pela qual esperamos tanto, é um dom em favor da vida . A recomendação da Diocese, com toda a Igreja, é que se acolha a vacina com a maior boa vontade e que se motivem as pessoas para isso. Quem tiver dificuldades, siga as orientações do seu médico. Não devem ser divulgadas notícias desvirtuadas ou falsas. Ninguém está autorizado a passar ao povo, em nome da Igreja, orientações diferentes, nem mesmo que seja um padre; O que o Pe. Claudemir Serafim disse é de sua responsabilidade pessoal. Foi repreendido e exortado a corrigir suas declarações e atitudes, o que se dispôs a fazer.”
Dom João Francisco Salm, bispo diocesano
O Coletivo Bereia avalia que é enganoso que o mundo esteja vivendo uma “fraudemia”, como indica o padre Carlos Maria Aguiar no vídeo amplamente disseminado pelas mídias sociais. A vacinação obrigatória está prevista há muitas décadas na lei brasileira e é muito importante para a erradicação de doenças, inclusive a covid-19.
Sobre a obrigatoriedade em ambientes de trabalho, as restrições dependem de cada localidade e de cada empresa. O padre Aguiar, no entanto, tenta gerar um pânico moral em torno da vacinação e inferir que há um clima de perseguição sobre as pessoas que assumem postura antivacina. Mesmo com as diretrizes do MPT, a demissão por justa causa é a última alternativa de uma série de negociações.
Já a respeito da produção das vacinas contra a Covid-19, é também enganoso afirmar com utilização religiosa que sejam usados fetos abortados para a produção dos imunizantes. O próprio Vaticano não considera que vacinar-se com imunizantes que utilizam essas linhagens seja legitimação da prática do aborto.
*Investigado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia, em parceria com Amazônia Real e Marco Zero Conteúdo. Verificação por Estadão, UOL, Correio, Poder 360 e NSC Total. Publicado originalmente no Comprova.
Em vídeo compartilhado em grupos de WhatsApp e no Facebook, um homem, que se apresenta como um brasileiro de mais de 50 anos que acabara de se vacinar, afirma que o governo de Joe Biden está distribuindo ivermectina e leite condensado para quem for vacinado contra a covid-19 nos EUA. Essa afirmação é falsa.
Usando ferramentas de verificação de imagens, o Comprova descobriu o lugar onde foi realizada a gravação, um condomínio em Miami Beach, e entrou em contato com a prefeitura de Miami, responsável pela vacinação no local. A administração da cidade norte-americana informou que o vídeo se trata de uma farsa, que não há distribuição de ivermectina ou leite condensado e que a faixa etária para grupo de risco é acima de 65 anos.
A agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), informa em seu site que embora existam usos aprovados para ivermectina, a droga não foi aprovada para a prevenção ou tratamento da covid-19.
No final do vídeo, de quase seis minutos, o homem diz “desculpa aí a brincadeira”, dando a entender que se trata de uma peça de humor. Mas como o Comprova não conseguiu contato com o autor do vídeo e muitas das páginas que o reproduziram levaram o conteúdo a sério, consideramos o conteúdo como falso.
Como verificamos?
Inicialmente, buscamos informações sobre o autor da postagem no Facebook e o homem que aparece no vídeo.
Para identificar o local onde o video foi gravado, foi feita uma captura de tela do vídeo verificado para começar a busca do local de gravação. Depois, utilizamos o aplicativo do Google Fotos e uma das ferramentas disponíveis para o usuário, o Google Lens, que oferece a possibilidade de selecionar um pedaço da foto para fazer uma busca mais detalhada.
Utilizando essa ferramenta, chegamos ao campo de pesquisa do Google Imagens, que trouxe uma foto que se assemelhava muito ao local onde fora feito o vídeo verificado.
O resultado da busca era uma imagem com o detalhe da fachada do prédio que nos permitiu identificar a construção.
Abaixo da imagem, havia o nome do lugar – North Beach Senior Center / Unidad of Miami Beach – com um link que nos levou para um site que exibia novamente a mesma fachada, mas agora ampliada. A foto trazia, no entanto, a inscrição “ em breve” (coming soon em inglês), o que poderia indicar se tratar apenas de uma imagem feita no computador.
Uma busca semelhante no Google retornava, no entanto, um texto informando sobre a inauguração deste centro, em julho de 2010.
Na sequência, tomamos dois caminhos. Primeiro, buscamos no Google Maps o endereço disponível na imagem: 7251 Collins Ave, Miami Beach, FL 33141, EUA. Utilizando a ferramenta do Google Street View, encontramos o prédio, mas a partir de um local mais distante.
Fotos do local disponíveis no Google Street View traziam, no entanto, indícios de que realmente era esse o prédio.
O Google Street View mostrou, também, que havia uma longa faixa de areia bem à frente do condomínio. Isso era consistente com o reflexo nos óculos escuros do homem responsável pelo vídeo, que aparentava mostrar areia.
Em paralelo, jogamos no Google o nome do local e chegamos ao site da Plaza Constructions, uma construtora com sete escritórios nos Estados Unidos. No site da construtora é possível ver uma série de imagens do empreendimento, mas de ângulos que não permitiam uma confirmação com certeza a respeito do local da gravação.
O site da construtora trazia, no entanto, uma outra informação importante, o nome do escritório responsável pelo projeto – Rene Gonzalez Architects. No Google, encontramos a página do escritório no Instagram e, buscando nas imagens disponíveis, encontramos uma imagem do local publicada em 13 de março de 2020, que mostra a fachada e traz elementos que permitem a confirmação do prédio como sendo aquele em que a pessoa no vídeo estava.
A imagem abaixo mostra as diversas imagens que encontramos e a comparação com as capturas de tela do vídeo verificado:
Consultamos também o site da Itambé, marca do leite condensado exibido no vídeo, e entramos em contato com o departamento de marketing da indústria, para confirmar se o produto é exportado para os Estados Unidos.
Por fim, entramos em contato com o departamento de comunicação e marketing da prefeitura de Miami, que nos retornou informando que o vídeo se trata de uma farsa, que não há distribuição de ivermectina e que a faixa etária para grupo de risco é acima de 65 anos.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2020.
Verificação
Houve vacinação no local em que o vídeo foi gravado?
Nas imagens mais recentes, é possível encontrar uma foto que mostra bombeiros de Miami vacinando pessoas. A imagem foi postada por Michael C. Gongora, commissioner (o equivalente a vereador, representa um distrito determinado nas comissões que administram os condados nos Estados Unidos) de Miami Beach.
Ao divulgar a mesma coleção de fotos, o Twitter de Gongora, marcou diversas contas que divulgam notícias de Miami. Uma delas era a @MiamiBeachNews, conta oficial da cidade de Miami Beach. Um dos tweets divulgados por esta conta nos levou a um vídeo de 6 minutos postado em 1º de fevereiro por Dan Gelber, prefeito da cidade. Aos 2min40s, Gelber destaca que o posto de vacinação no “Unidad” foi montado pela prefeitura comandada por ele.
Por email, Melissa Berthier, uma das responsáveis pelo departamento de comunicação e marketing da prefeitura de Miami Beach, confirmou que a cidade está realizando a vacinação, com o imunizante da Moderna, e informou que não há distribuição de ivermectina ou leite condensado pela prefeitura da cidade. Além disso, ela destacou que o suprimento de vacinas é limitado e que, portanto, apenas pessoas com mais de 65 anos estão sendo vacinadas no momento.
Os EUA com Biden anunciaram o chamado “tratamento precoce” com ivermectina e cloroquina?
Segundo as últimas atualizações das diretrizes do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos publicadas no dia 14 de janeiro de 2021, sobre o uso de ivermectina para o tratamento da covid-19, os estudos realizados com a ivermectina em pacientes infectados se mostraram inconclusivos e foi determinado que não há dados suficientes para recomendar a favor ou contra o uso de ivermectina para o tratamento da doença.
Assim como a FDA avisa em seu site que “embora existam usos aprovados para a ivermectina em pessoas e animais, ela não está aprovada para a prevenção ou tratamento de covid-19. Você não deve tomar nenhum medicamento para tratar ou prevenir covid-19, a menos que tenha sido prescrito por seu médico e obtido de uma fonte legítima”.
No site criado especificamente para informar sobre a pandemia, o estado da Flórida também não indica a ivermectina ou qualquer outro medicamento como tratamento precoce em caso de infecção pelo vírus. O medicamento sequer é mencionado na página.
Leite condensado, kiwi e uvas
No vídeo o homem afirma que o “novo protocolo do novo presidente dos EUA, que é o Biden” inclui a entrega de um kit com uma marmita com camarão, além de frutas como kiwi e uva. Na sequência, o homem mostra a marmita, sem mostrar seu conteúdo, e diz que, com a marmita, veio uma caixinha do “ivermedicina, o remédio do Bolsonaro”. A caixa do remédio é, no entanto, um genérico de fabricação brasileira.
O homem diz que, após receber a vacina, foi chamado por um oficial das Forças Armadas (ele menciona que havia militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na sala de vacinação) que lhe entregou o brinde. Ele exibe também, como sendo um dos itens do kit, uma lata de leite condensado da Itambé com rótulo bilíngue, com inscrições em português e em inglês. Segundo o site da Itambé, a marca exporta o produto regularmente para os Estados Unidos e pode ser comprado com facilidade pela Amazon ou em lojas especializadas em produtos brasileiros.
Por que investigamos?
Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, que tenham alcançado grande repercussão nas redes sociais.
O vídeo sobre o suposto kit de ivermectina e leite condensado, oferecido após a vacinação em um posto de Miami, nos Estados Unidos, foi compartilhado no WhatsApp e em milhares de páginas, grupos e perfis do Facebook. Segundo a ferramenta de monitoramento CrowdTangle, o vídeo teve mais de 736 mil visualizações até o dia 9 de fevereiro. Uma das páginas que publicou o vídeo, cujo post foi compartilhado 24 mil vezes, acrescentou um texto fazendo referência ao presidente Jair Bolsonaro: “veja nesse vídeo pq o homem (presidente) mais uma vez tem razão!!”
Apesar do conteúdo apresentar elementos de uma sátira, o vídeo foi compartilhado por muitas páginas como informação verdadeira. E como o Comprova não localizou o homem que aparece na gravação para apurar a intenção do autor, considerou as informações apresentadas na gravação como falsas.
Falso, para o Comprova, é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Esta verificação contou com o apoio de estudantes de jornalismo do programa de estágio Comprova/FAAP.
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Vídeo atribui a Bolsonaro obras em estradas no MT feitas também por outros governos
*Investigado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia, em parceria com Estadão, Amazônia Real, A Gazeta e Alma Preta. Verificado por UOL, Rádio Noroeste, Correio e Poder 360. Publicado originalmente no Comprova.
Em vídeo publicado no Facebook, um caminhoneiro diz que está numa estrada asfaltada que liga Comodoro, no Mato Grosso, a outros quatro municípios do estado e que isso seria obra do governo Bolsonaro. Ele diz também que os caminhoneiros precisam propagar, porque “a mídia não vai divulgar o que o presidente está fazendo”. O vídeo, que já foi compartilhado 56 mil vezes desde sua publicação em 29 de agosto de 2020 no perfil de uma pastora da Assembleia de Deus que mora no Pará, é enganoso.
O trajeto mencionado pelo narrador tem cerca de 582 km e usa três rodovias, somente uma delas federal, a BR-364. E, embora alguns trechos tenham recebido obras de restauração durante o governo Bolsonaro, a pavimentação já havia sido feita bem antes do atual presidente ser empossado.
Procurado pelo Comprova, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) informou que, em 2020, foram restaurados 78,8 quilômetros da BR-364/MT, com investimento de R$ 37 milhões, mas não precisou quando os trechos mencionados no vídeo foram pavimentados. O órgão argumentou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira (SP) e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota.
O Comprova encontrou registros da pavimentação nos trechos mencionados no vídeo. O Diário de Cuiabá já mencionava obras de pavimentação da BR-364 na região em 2001. Outra notícia, publicada em 2006 no site do governo de Mato Grosso, relata a inauguração de três trechos da estrada, entre Comodoro e Diamantino, da qual participaram o então presidente Lula e o governador do MT à época, Blairo Maggi.
As rodovias MT-170 e MT-235, que estão no trajeto entre Comodoro e Juína, são estaduais. O governo do Mato Grosso afirmou que realizou obras de restauração de 75,5 quilômetros entre o entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis.
O Comprova entrou em contato com a pastora Agricola Neta de Aquino Carrera, autora da primeira postagem do vídeo no Facebook. Ela reside na cidade paraense de Ananindeua, localizada ao norte de Belém. Em entrevista por WhatsApp, ela contou que recebeu o vídeo de um caminhoneiro que conheceu em um grupo de Facebook e que ele seria o autor. Agricola, no entanto, diz não lembrar do nome, que já teria apagado o registro e a gravação de seu celular e que não tem certeza da veracidade do conteúdo, pois apenas compartilhou o vídeo.
Como verificamos?
Entramos em contato com as prefeituras das cidades citadas, com o governo do estado do Mato Grosso e com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT).
Analisamos as imagens para verificar se as placas poderiam auxiliar na identificação dos trechos mostrados da gravação, com ajuda do Google Maps e outras ferramentas.
Utilizamos o Google Maps para ver se os trechos citados no vídeo conferiam com o posicionamento do governo de Mato Grosso.
Com os locais informados e identificando alguns elementos no vídeo que pudessem auxiliar na localização em que a gravação foi realizada, como a ponte com placas pela qual o motorista passa, próximo a um campo aberto, chegou-se a um possível local no Google Maps e confirmando que o vídeo foi gravado na BR-364.
Captura de um trecho do vídeo
Captura do Google Maps da ponte sobre o Rio Juína, na BR-364
Captura de um trecho do vídeo, após o motorista passar pela ponte
Captura do Google Maps do trecho logo após a ponte sobre o Rio Juína, na BR-364
Verificação
O vídeo verificado mostra um homem dirigindo e exibindo uma estrada à sua frente. Ele afirma que a rodovia é obra da administração de Jair Bolsonaro e faz agradecimentos à gestão, citando também o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O homem menciona ainda que a estrada garante acesso do município de Comodoro até Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, todos no estado do Mato Grosso. Na legenda, o post critica a imprensa por não mostrar a obra, e reforça que Bolsonaro está garantindo auxílio e fortalecendo o agronegócio.
As estradas
Para ir de Comodoro a Juína, passando por Campos de Júlio, Sapezal e Campo Novo, municípios citados no vídeo, é necessário utilizar três rodovias, uma delas federal e as outras duas, estaduais.
O trajeto entre Comodoro e Campos de Júlio é feito pela BR-364 e tem 74 km.
Para ir de Campos de Júlio a Sapezal são 57 km, também pela BR-364.
De Sapezal a Campo Novo do Parecis são 108 km feitos pela MT-235.
De Campo Novo a Juína são 344 km e para fazer esse trajeto, o motorista deve transitar por 242 km da MT-170 e outros 103 km da BR-364.
É possível conferir o mapa clicando aqui.
O que dizem os governos
Em contato com os governos estadual e federal, o Comprova confirmou que houve obra de recuperação em 2020 em trechos citados no vídeo, mas as intervenções não foram feitas exclusivamente pela administração de Bolsonaro.
O DNIT informou, em nota, que o trecho da BR-364 tem um serviço de manutenção contratado por licitação, que realiza as obras à medida que surgem demandas para garantir condições de trafegabilidade e segurança. E que, quando o contrato está próximo de ser encerrado, é realizado outro processo de licitação para sempre ter uma empresa responsável pelos trechos das rodovias sob sua administração. A rodovia federal é uma das estradas que liga as cidades de Comodoro, Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo e Juína, citadas no vídeo. Em 2020, foram realizadas obras de restauração de 78,8 km da BR-364/MT, com investimentos de R$ 37 milhões.
Questionado sobre a pavimentação da estrada, o DNIT informou que, como uma rodovia nunca é entregue ao tráfego de uma só vez, não tem o histórico. “Os trechos são pavimentados ao longo de muitos anos. Esta rodovia, especificamente, tem 4.141,5 km de extensão, com início em Limeira [SP] e final na fronteira com o Peru”, descreveu o órgão, na nota.
Já entre Sapezal e Campo Novo do Parecis a rodovia é a MT-235, sob responsabilidade do governo de Mato Grosso. A administração estadual afirmou em nota, que nessa rodovia foi realizada a restauração de 75,5 km do entroncamento da MT-249 até o município de Campo Novo do Parecis. Os serviços foram entregues em maio de 2020, com investimento de R$ 4,34 milhões. A MT-235 foi pavimentada em 2009, na gestão do então governador Blairo Maggi (2003-2010).
Quem é a autora da publicação
Agricola Neta de Aquino Carrera tem 47 anos, é pastora da Assembleia de Deus no Pará e foi candidata a vereadora em 2020 pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), do vice-presidente Hamilton Mourão, na cidade de Ananindeua, no Pará.
Em entrevista por WhatsApp, ela contou ao Comprova que um caminhoneiro em um grupo de Facebook do Mato Grosso do Sul pediu apoio para compartilhar o vídeo. A pastora garante que foi o próprio autor quem enviou o vídeo para o seu celular. Mas ela não lembra o nome do homem e apagou os registros do aparelho.
Perguntada se poderia confirmar a veracidade do conteúdo que publicou, ela disse não ter certeza, pois apenas compartilhou o vídeo.
Por que investigamos?
Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre Covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.
O vídeo verificado pelo Comprova foi publicado em agosto de 2020 por um perfil pessoal no Facebook. Desde então foi compartilhado 56 mil vezes. Recentemente foi compartilhado pelo grupo de Facebook Fechados com Bolsonaro 2022 e nele alcançou 5,8 mil curtidas e 3,2 compartilhamentos na rede social.
Voltou a circular em grupos religiosos no WhatsApp um áudio que já havia sido desmentido em maio deste ano pelo Boatos.org. O áudio tem quase dez minutos e nele uma mulher não identificada pede para avisar a população para não comprar melancias, pois todas elas estariam vindo da China contaminadas com o coronavírus.
Conforme outra checagem, realizada pela agência Lupa em setembro, que também declarou como falsas as informações contidas no áudio, o Ministério da Saúde afirma que não há qualquer evidência de que produtos enviados da China para o Brasil tragam o vírus.
Segundo o Boatos.org, o áudio tem características alarmistas, não apresenta qualquer fonte confiável e, além da questão das melancias, mente sobre uma série de outras informações falsas, como supostas vacinas que envenenariam a população e inexistência do coronavírus.
Confira a abaixo a reprodução, na íntegra, da checagem realizada pelo Boatos.org.
Melancia vendida no Brasil foi contaminada por chineses com coronavírus #boato
Caramba! O que não tem faltado na internet são informações malucas (talvez esse seja o melhor termo) relacionadas à Covid-19. A mais nova delas fala de uma “denúncia bombástica” que envolve caminhoneiros, chineses, coronavírus e… melancia.
De acordo com um áudio que está circulando no WhatsApp, uma mulher denuncia que “os chineses” estão contaminando todas as melancias no Brasil com o “vírus” (presume-se que seja o coronavírus), que os caminhoneiros estão sabendo, mas não podem fazer greve e que é preciso deixar de comprar a fruta. O áudio ainda fala que não existe Covid-19 e a pessoa que o narrou pede para ela não seja identificada. Leia a transcrição do áudio em questão:
Por favor, só não divulgue nome de quem te passar por favor, mas avisa toda população que puder. Não compre melancia no Brasil. as as melancias tá entrando. Já nos comércios todas contaminadas. Os caminhoneiros não pôde para greve, porque só tem eles para transportar as melancia os que tão os governantes que tão saindo de Brasília que tão pedindo as contas porque não tão concordando e tão correndo risco de vida, já foi vazado um áudio os chineses tão invadindo o Brasil. Eles querem o Brasil, Estados Unidos a qualquer custo. Só que eles querem comer na população já foi dado ordem. Para o presidente Assinar o decreto espichar mais três meses de seiscentos reais e se depender precisar espichar, mais seis meses que é pra não pegar a população indo trabalhar pa, pegar eles encurralado em casa pra aplicar as vacinas que já tão chegando no Brasil, quem não tomou a vacina vai ser ameaçada de ser preso. Outra por que que os cadeeiro não pode sair porque lá dentro eles vão ter que consumir a melancia após as refeição e tomar as vacinas e as pessoas idosas vão pegar mais rápido o vírus porque as melancias tão contaminadas todas as melancia entendeu por favor, avisa o Máximo de população que puder porque vão ser obrigado também a tomar vacina todo pessoal da área de saúde até os que tão em casa e eles não tão conseguindo conter as pessoas em casa. Então, eles vão começar a multar quem tiver na rua Só vai poder sair de acordo com a data do seu aniversário, então por favor. Avisa a população que o problema não é máscara. O problema é a injeção que eles tão injetando até mesmo nos hospitais. Quem morre não pode ter direito ao corpo de delito. Eles tão jogando pro Covid-19 não tem Covid-19. é o veneno que eles tão injetando nas pessoas pra diminuir a população pra passar o Brasil Brasil. Dívida alta pra passar o Brasil por cima acontece que o nossoPresidente não queria usar máscara porque ele já sabia. Eles obrigaram o presidente usar máscara pra poder incentivar as pessoas, usa máscara e ficar em casa porque em casa que eles vão querer as pessoas pra vacinar por favor a vacina que tá chegando. Toda contaminada, as pessoas que se escaparem vai ter problema sério mentais em depressão. por favor, avisa o máximo que você puder não consumir as melancia daqui pra janeiro que tão todas contaminadas os governantes que estão ainda em Brasília, porque tão concordando em contaminar Todas as melancia, os caminhoneiro é obrigado a trabalhar na rua pra entregar as melancias pra ir pro comércio. por favor avisem o máximo que puder.
Melancia vendida no Brasil foi contaminada por chineses com coronavírus?
Caraca! Como tem gente maluca (ou mau caráter). Você notou que a pessoa que gravou o áudio pediu para não ser identificada? Sabe por que? Porque o áudio em questão é MUITO falso. Vamos aos fatos.
Como é possível ver, a mulher do áudio em questão faz acusações gravíssimas que envolvem tentativas de matar muitas pessoas dolosamente, contaminar alimentos, promover uma quebra de mercados e outras coisas. E sabe quantas provas ela apresenta? Nenhuma! Isso mesmo. A mensagem em questão vomita acusações e não apresenta nenhuma prova.
É importante citar que o áudio, além de ter características de boatos online, como ser vaga, alarmista, com erros de português e falta de citação de fontes confiáveis, tem diversas contradições que derrubam a tese. Vamos listar algumas só para vocês terem uma ideia.
1) A “contaminação massiva de melancias” cobraria uma logística gigantesca. Em 2014, o Brasil produziu 111 milhões de toneladas de melancia. Imagina só como seria o trabalho de infectar cada melancia. Isso demandaria uma mão de obra e matéria-prima (o vírus) que, com certeza, chamaria atenção. Mas sabe o que sabemos além do áudio da “agente secreta” do áudio? Nada. Não há uma referência sobre o assunto em fontes confiáveis.
2) Mesmo que a ação fosse realizada, não há garantia de que as pessoas fossem contaminadas. O vírus não se multiplicaria na melancia e, se o tempo de infecção até o consumo fosse longo (alguns dias), o vírus já estaria morto. Ou seja: não seria um “plano maléfico” tão eficaz.
3) A mulher fala que “os governantes que não concordam” saíram de Brasília. Com exceção de alguns ministros (como Mandetta, Moro e Teich), não houve nenhuma “renúncia”. Detalhe: nenhum dos três citados saíram por causa de “melancia”.
4) A mulher fala que a China vai invadir o Brasil. Essa tese não só é falsa como também já foi desmentida no Boatos.org. Leia aqui.
4) A mulher chega a falar que vão dar vacinas infectadas nas pessoas e que a Covid-19 não existe. De novo, mais duas informações que não procedem. Primeiro, porque ainda não foi homologada uma vacina para Covid-19. Segundo, porque está mais do que claro que o coronavírus existe.
5) Para terminar, não faz nenhum sentido a tese de que o governo vai prender as pessoas em casa para “se contaminarem”. Se houvesse um plano desses, o que faria sentido seria soltar as pessoas na rua para se contaminarem e morrer muita gente. Ainda bem que ninguém quer isso, não é?
Pela falta de provas apresentadas pela mulher que narra o arquivo e pelos absurdos apresentados, podemos dizer que a informação que circula na internet é falsa. As melancias não foram infectadas com o coronavírus por chineses que querem “invadir o Brasil”.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
Se a desinformação transborda em meio às mídias sociais, o jornalismo profissional feito por jornais impressos, portais de notícias e programas de TV e rádio continua sendo a fonte mais confiável para os eleitores quando o assunto são as notícias sobre as eleições municipais. Pesquisa do Instituto Datafolha revela, entre outros dados, que a desconfiança em relação a mídias sociais como o WhatsApp pode chegar a 78%. Confira maiores informações na matéria publicada por O Globo e reproduzida, na íntegra, abaixo.
População aponta jornalismo profissional como a fonte mais confiável para se informar sobre eleição, diz Datafolha
RIO — Jornais impressos, sites de notícias, programas de rádio e televisão foram apontados como os meios mais confiáveis para obter informações sobre as eleições municipais. Os eleitores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife avaliam as as redes sociais como o meio com menos credibilidade. Facebook e WhatsApp são os principais canais onde conteúdos sobre política são compartilhados. Essas são algumas das conclusões da pesquisa Datafolha realizada nos dias 5 e 6 de outubro, encomendada pela “Folha de S. Paulo” e pela TV Globo. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Entre os eleitores da capital paulista, 41% confiam mais em jornais para se informar sobre o pleito municipal que ocorre em novembro deste ano. Os programas de televisão possuem a mesma taxa de confiança. Das 1.092 pessoas entrevistadas na cidade, 35% disseram que confiam parcialmente nos jornais e 20% disseram que não confiam. Em relação aos programas de TV, 33% não confiam e 24% confiam parcialmente.
Quando se trata das redes sociais, apenas 6% dos entrevistados em São Paulo afirmaram que confiam no Whatsapp, e 7% no Facebook. A taxa de desconfiança é de 78% e 74%, respectivamente. Já os que confiam parcialmente no Facebook são 11% e no WhatsApp, 13%.
No Rio de Janeiro foram ouvidas 900 pessoas. A confiança nos jornais impressos está em 35%, no mesmo patamar que em São Paulo se considerado o limite da margem do erro. Entre os respondentes no Rio, os programas de rádio são os mais confiáveis para 37%, seguidos pelos televisivos, com 36%.
Assim como os paulistas, os cariocas também manifestaram descrença em relação aos conteúdos que circulam nas redes sociais. Apenas 6% afirmaram que confiam nas informações sobre as eleições veiculadas pelo WhatsApp,enquanto 13% disseram acreditar em parte. O grau de desconfiança no WhatsApp é de 74%, enquanto apenas 6% informaram não utilizar o aplicativo de mensagens. Em relação ao Facebook, só 8% confiam, 16% confiam em parte, 67% não confiam e 9% não usam a plataforma.
Os números de Belo Horizonte e Recife apresentam a mesma tendência observada em Rio e São Paulo, com pequenas variações. Nas duas cidades, 67% dos eleitores afirmaram que não acreditam no que leem sobre a eleição na rede social.
De acordo com os dados da pesquisa, à medida que cresce a idade do entrevistado, maior a desconfiança nos meios de comunicação profissionais. A índice de maior confiança nos jornais foi registrado entre jovens de 16 a 24 anos de São Paulo (57%).
Durante a pandemia da covid-19, circulam nas mídias sociais muitos conteúdos de pessoas que se dizem médicos e especialistas oferecendo recomendações de saúde e até mesmo desafiando os protocolos das organizações internacionais. Essas informações, quando sua veracidade não é verificada, podem provocar além de pânico, graves danos à saúde da população.
O Coletivo Bereia verificou dois vídeos que viralizaram em mídias sociais nos últimos dias, especialmente no WhatsApp. O primeiro mostra um suposto médico que fala contra a testagem e vacinação em massa, pois segundo ele são um projeto de redução da população mundial. O segundo vídeo trata da aferição de temperatura na testa, que supostamente atinge a chamada glândula pineal e pode prejudicar o funcionamento do corpo.
Vídeo 1: Vacinas são um plano de controle da população?
O primeiro vídeo circula na internet desde junho e exibe um idoso, não identificado, vestido como um médico, que se expressa em italiano e é legendado em inglês, portanto, foi produzido fora do Brasil. A versão que circula nas mídias sociais do Brasil tem áudio sobreposto com tradução simultânea. O homem lê um texto que, segundo ele, nenhum lugar da grande imprensa ousou exibir. Ele cita, então, alguns argumentos contrários à vacinação. Bereia checou, identidade do autor e a veracidade do vídeo e dos argumentos.
Confira o vídeo abaixo:
Segundo o jornal O Globo, o homem que aparece no vídeo é Roberto Petrella, médico ginecologista aposentado e militante antivacina. Ele foi suspenso de suas atividades na Itália em 2019 por ser contra a obrigatoriedade da vacina contra o papilomavírus.
O vídeo é repleto de teorias da conspiração, entre elas de que a covid-19 é um plano internacional de controle e redução da população em até 80%, que foi desenvolvido nas últimas décadas e lançado em 2020. Para ele, covid significa “Certificado de Identificação de Vacinação com Inteligência Artificial”. O autor do vídeo traz argumentos de teor pseudocientífico para afirmar que se deve evitar a testagem e vacinação em massa, afirmando que esse será o modo de controle da população, e que vacinas reduzem a imunidade.
Movimento Antivacina
A fala do médico aposentado faz eco com o movimento antivacina, listado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos dez maiores desafios de saúde para 2019, porque ameaça reverter o progresso já alcançado no combate a doenças evitáveis por vacinação, como o sarampo e a poliomielite.
Os motivos de cada pessoa evitar a vacinação variam desde falta de confiança e complacência até motivos religiosos e teorias da conspiração, como a de que vacinas são um método de controle populacional e teriam objetivo de fragilizar a imunidade e matar a população.
Nada disso tem veracidade comprovada. A produção de vacinas passa por diversos testes rigorosos até que sejam realmente seguras para aplicação na população, e regularmente reavaliada. Segundo a Fiocruz, “Vacinas são preparações que, ao serem introduzidas no organismo, desencadeiam uma reação do sistema imunológico (semelhante à que ocorreria no caso de uma infecção por determinado agente patogênico), estimulando a formação de anticorpos e tornando o organismo imune a esse agente e às doenças por ele provocadas”. As vacinas são mais úteis, efetivas e tem maior custo-benefício para a saúde pública do que medicamentos, pois atuam na prevenção de doenças chegando até ao ponto da sua erradicação, caso grande parte da população esteja vacinada.
A Fiocruz explica que a primeira vacina foi criada em 1796, pelo inglês Edward Jenner, que conseguiu imunizar um garoto de 8 anos contra varíola ao aplicar soro de varíola bovina. Desde então, a ciência teve diversos marcos importantes com a criação de vacinas que impediram a propagação de doenças graves, como vacina contra raiva, inventada em 1885 por Louis Pasteur, ou a contra a paralisia criada em 1960 por Albert Sabin. No Brasil, a vacinação começou no século XX, quando epidemias de febre amarela, varíola e outras doenças eram comuns devido à ausência de saneamento básico. O sanitarista Oswaldo Cruz comandou campanhas de vacinação obrigatória da população, que na época desconhecia os benefícios da medida. Desconfiando das intenções do governo e acreditando em uma possível medida de controle da população, a população protestou contra as vacinas, na que ficou conhecida como “Revolta da vacina”.
Campanhas de vacinação já foram capazes de prevenir até três milhões mortes por ano contra diversas doenças, incluindo sarampo, poliomielite e difteria. Vacinas não são um plano de controle ou extermínio da população, mas sim de redução da mortalidade.
A pesquisadora Luisa Massarani, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), alerta para o perigo das fake news a respeito de vacinas, especialmente nas mídias sociais, pois podem auxiliar o crescimento do movimento antivacina. “O movimento antivacina pode estar atuando prioritariamente em grupos fechados no Facebook e no WhatsApp, e não em espaços públicos do Twitter e do Facebook. Nesse sentido, é necessário direcionar novas pesquisas que levem em consideração esses outros espaços midiáticos”, afirma.
O professor Túlio Batista Franco, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que fatores políticos podem ter interferido na baixa cobertura vacinal. “O governo federal desorganizou todo o equilíbrio técnico que havia no Ministério da Saúde. Houve duas alterações de ministros, e hoje há um ministro militar que não conhece dos aspectos da Saúde, do funcionamento da máquina do SUS, e que levou para as áreas técnicas militares que também não conhecem”, afirmou em entrevista para o G1.
Esta reflexão do professor Túlio Franco pode ser corroborada pelo episódio de 31 de agosto, quando, em resposta a uma apoiadora que o abordou em frente ao Palácio Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que ninguém pode obrigar pessoas a tomarem vacina. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República institucionalizou a afirmação de Bolsonaro por meio de um tuíte no dia seguinte.
Bereia conclui que o vídeo do médico italiano aposentado propaga diversas mentiras sobre a vacinação, pois não é verdade que vacinas reduzem imunidade, ou que são um método de controle da população. Pelo contrário, vacinas podem salvar a população, de acordo com a orientação de órgãos oficiais de saúde nacionais e internacionais.. Covid-19 também não significa “Certificado de Identificação de Vacinação com Inteligência Artificial”, e sim é a abreviação de “Coronavirus Disease”, ou doença do coronavírus, conforme estabelecido pela OMS. O número 19 diz respeito ao ano em que o vírus começou a circular. O fato de o vídeo ocultar a identificação do médico, punido em seu país por promover mau uso de seu título profissional, já é fonte de desconfiança quanto à intencionalidade da promoção de tal material. Leitores e leitoras devem estar sempre atentos/as a isto quando submetidos a este tipo de conteúdo.
Vídeo 2: Aferição da temperatura e glândula pineal
O segundo vídeo que viralizou em mídias sociais nos últimos dias foi gravado no Brasil. Um homem está à porta de um estabelecimento e pede para a atendente que não meça a temperatura na testa (prática que vem sendo frequentemente adotada como medida preventiva com a flexibilização do isolamento social) para não atingir a glândula pineal, e sim no pulso. Ele, então, incentiva as pessoas a fazerem o mesmo. Na segunda parte do vídeo, um áudio orienta novamente que as pessoas peçam que a temperatura no pulso para não atingir a pineal. A tela exibe uma imagem de cérebro, a frase “é melhor prevenir do que remediar” e um endereço de e-mail para saber mais.
Assista o vídeo abaixo:
A pineal – ou conarium – é uma pequena glândula, localizada no centro da cabeça de animais vertebrados, como o ser humano, que é responsável por produzir melatonina, hormônio responsável pela regulagem do sono e pelo controle biológico.
O vídeo citado circula pelas mídias sociais desde o mês passado e, apesar das afirmações feita pelo homem no vídeo, não há qualquer tipo de comprovação científica a respeito delas, pelo contrário, assim como os outros termômetros existentes, a ciência atesta a importância e necessidade dos medidores infravermelhos.
Em um tempo de pandemia, em que as organizações de saúde indicam o distanciamento social como forma à evitar a contaminação, os termômetros infravermelhos se mostram importantes ferramentas para que pessoas contaminadas não acessem determinados ambientes e contamine outras pessoas.
Além disso, quando comparado a outros métodos de aferição de temperatura, o infravermelho é o mais preventivo, pois permite a leitura da temperatura a uma distância considerada, reduzindo o risco de contágio de quem faz o controle de entrada e saída dos espaços públicos.
Embora a gravação em vídeo tenha sido realizada em um estabelecimento e por uma pessoa que não se identifica, o vídeo completo tem parte com a fala de um homem não identificado, que, com seus argumentos técnicos, leva muitos a acreditarem que se trata de um biólogo, médico ou até um cientista.
Durante a explanação, este suposto especialista exibe uma tela com a imagem do cérebro humano e a localização da glândula pineal. Junto à imagem, há um endereço de e-mail para que pessoas saibam mais informações sobre o assunto. Por meio deste endereço, o Coletivo Bereia identificou o homem. Ele é Tarcísio Silva e se apresenta como psicoterapeuta, massoterapeuta clínico, personal trainer e especialista em estética e atividade física. No entanto, a única informação encontrada sobre sua formação foi um suposto número de cadastro no CRT-RJ. Oficialmente, o CRT é o Conselho Regional de Técnicos Industriais, que não tem relação com as formações informadas por Tarcísio.
Entretanto, Bereia verificou que há uma outra organização que se autonomeia CRT: o Conselho de Auto Regulamentação da Terapia Holística. Sediada em São Paulo, a organização afirma desenvolver padrões técnicos, éticos e qualitativos, aos quais os Profissionais voluntariamente assumem o compromisso contratual de cumprimento.
“O Profissional zeloso que espontaneamente se dispõe a seguir as boas práticas, firma o Termo de Compromisso e passa a identificar-se publicamente com a Marca Registrada, consagrada e respeitada pela sociedade, composta pelo Símbolo da Terapia Holística e sigla CRT, seguida de uma numeração exclusiva”, afirma o site do Conselho.
O Coletivo Bereia tentou contato com Tarcísio inúmeras vezes, mas não obteve resposta.
Este é mais um vídeo em que pessoas que se apresentam como especialistas que oferecem orientação em saúde não são identificadas. Como Bereia afirma acima, esta é uma fonte de desconfiança sobre as verdadeiras intenções da divulgação de tal conteúdo.
Teorias da conspiração – Chip da besta
Os dois vídeos verificados nesta matéria, fazem coro com uma teoria da conspiração que não é nova em espaços cristãos, a de que determinadas tecnologias como cartão de crédito, código de barras, microchip ou vacina seriam o sinal da besta descrito no Apocalipse.
Desde março circula no WhatsApp uma corrente dizendo que a vacina contra o coronavírus seria aplicada com um microchip para controlar a população mundial. Essas teorias da conspiração são falsas e podem ter graves riscos à saúde da população quando desincentivam a adesão às campanhas de vacinação.
Teoria da conspiração – QAnon
Além disso, outra teoria da conspiração que se mistura a esses temas é a QAnon. Esse movimento tem origem nos Estados Unidos e se destaca por fazer crer que existe uma luta satânica no mundo e que o presidente Donald Trump foi escolhido para ser um soldado “do bem” nesta guerra.
Esse grupo é visto como potencial ameaça terrorista pelo FBI, o serviço de inteligência estadunidense, e se hospeda em espaços não públicos da internet, o submundo digital, a conhecida deep web.
Nas eleições dos EUA de 2016, o grupo veiculou uma notícia falsa dizendo que a candidata Hillary Clinton, que era de oposição a Trump, fazia parte parte de um esquema de pedofilia e tráfico infantil, e que tudo isso era promovido dentro de uma pizzaria em Washington, capital federal. Movido pela mentira e armado, um cidadão americano foi até o suposto local e o metralhou. Por sorte, ninguém ficou ferido e o caso ficou conhecido como pizzagate.
No Brasil, o movimento foi adaptado por bolsonaristas que encontraram no presidente Jair Bolsonaro a figura desse soldado que luta contra a tal guerra satânica. Por aqui, o grupo segue as mesmas regras da versão estadunidense: ataques às instituições e disseminação de informações comprovadamente falsas.
Por isso, no começo deste mês de setembro, após uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo, o Facebook excluiu diversas páginas ligadas ao movimento conspiratório no Brasil. Antes disso, o Twitter também já havia feito a derrubada de algumas páginas ligadas ao grupo e que violavam as regras das redes.
Bereia conclui que os vídeos sobre vacinação como controle populacional, e aferição de temperatura como forma de cauterizar a glândula pineal, são falsos, baseados em teorias da conspiração com fundo religioso, mas que não se comprovam com dados científicos. Este tipo de conteúdo tem sido disseminado em mídias sociais para causar pânico, alimentar a relativização da gravidade da pandemia de coronavírus e diminuir o engajamento nas medidas preventivas, podendo causar prejuízos graves à população.
Voltou a circular nas mídias sociais de grupos católicos e evangélicos, um áudio atribuído ao Padre Marcelo Rossi, no qual ele declara apoio ao governo Jair Bolsonaro. O áudio é antigo, circulou durante a campanha eleitoral de 2018, e foi desmentido pelo próprio Padre Marcelo e verificado como falso por várias agências de checagem de notícias.
Comprova: Padre Marcelo Rossi não divulgou áudio com apoio a Bolsonaro
É falsa a informação de que o padre Marcelo Rossi apoia o candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro. Um áudio atribuído ao religioso que circula no WhatsApp e no YouTube diz que o candidato do PSL é “pró-família, pró-Deus e pró-valores”. “E quando vejo quem são os inimigos do Bolsonaro, eu falo ‘eu to escolhendo o cara certo para votar’”, diz o homem em trecho final do áudio. O padre Marcelo Rossi negou que a voz na gravação seja dele.
No WhatsApp, uma corrente com o áudio é compartilhada seguida de um texto que chama Marcelo Rossi de porta-voz da igreja.
O Comprova localizou versões do áudio que variam de 9 a 18 minutos —é possível ouvir aplausos em determinados momentos. A informação falsa da peça está no texto que acompanha o áudio, atribuindo o discurso a Marcelo Rossi. Em nenhum momento do áudio viral o dono da voz, também vítima da informação falsa, diz seu nome.
“Além do que não é a minha voz. Infelizmente foi viralizado. Eu não me meto em política. A minha função é orar pelo Brasil”
Padre Marcelo Rossi
Em comentários nas mídias sociais, internautas afirmaram que o autor da voz é Rinaldo Seixas Pereira, o Apóstolo Rina, da igreja Bola de Neve, que não faz imitações de Marcelo Rossi e que seria tão vítima do boato falso quanto Marcelo Rossi. O Comprova tentou contato com Rina pelo telefone da igreja, sem sucesso. Até a publicação deste texto, Rina também não tinha respondido às solicitações feitas por e-mail pelo Comprova.
O Projeto Comprova é uma coalizão de 24 veículos de imprensa que visa combater a desinformação durante as eleições presidenciais.
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Bereia alerta leitoras/es: não compartilhem conteúdo que chegue por Whatsapp e peça a quem recebe: “Repasse para seus contatos”, “Compartilhe, o país está nas nossas mãos”. Este tipo de mensagem é, frequentemente, falsa e o apelo é feito justamente para usar as pessoas como propagadoras de material falso.
Sempre desconfie; antes de compartilhar, verifique a veracidade do conteúdo. As agências e projetos de checagem de conteúdos como o Comprova, Aos Fatos, Lupa, Fato ou Fake?, Boatos.org, E-Farsas e o Coletivo Bereia, com sua especialidade em verificar conteúdo de cunho religioso ou que circula em mídias religiosas, fazem verificações de boatos que circulam na internet. Nosso WhatsApp está disponível para receber indicações de checagem: (38) 98418-6691.
Publicado originalmente pela BBC News Brasil por Vinicius Lemos, em 15/05/2020*
O vídeo é angustiante: uma idosa deitada sobre uma maca de hospital respira com dificuldades. Ela usa máscara e não tem nenhum tipo de aparelho de ventilação mecânica para auxiliá-la. A mulher está dentro de um saco plástico, o mesmo utilizado para carregar corpos de pessoas mortas.
Desde a semana passada, a gravação viralizou. Inúmeros compartilhamentos do vídeo afirmam que se trata do caso de uma paciente idosa encaminhada ao necrotério. Segundo esses textos, que não possuem autoria clara, ela seria enterrada viva para inflar os números de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, no país.
A cena da idosa ofegante em uma maca tem se espalhado pelo mundo. Também fora do Brasil, o vídeo é acompanhado pela afirmação de que a paciente foi levada viva ao necrotério e foi resgatada pela própria família, que teria invadido o local.
A gravação tem sido compartilhada em outros países para ilustrar a situação do Brasil, que enfrenta o crescimento exponencial de casos e tem subido na lista de regiões do mundo com mais registros de covid-19 — os números atuais, divulgados n quinta-feira (14), mostram que o país tem mais de 202 mil casos confirmados e 14 mil mortes.
Algumas publicações dizem que o vídeo da idosa na maca foi gravado em Belém (PA). Outras, porém, afirmam que a filmagem é em um hospital de Manaus (AM), uma das primeiras regiões brasileiras a enfrentar colapso no sistema de saúde em razão da pandemia do coronavírus.
Em razão das polêmicas, o governo do Pará emitiu uma nota para informar que o vídeo foi gravado no distrito de Icoaraci, em Belém. As autoridades locais negam que a mulher estivesse em um necrotério. “Em nenhum momento a paciente foi encaminhada para o necrotério enquanto viva“, diz comunicado da Secretaria Estadual de Saúde do Pará. A divulgação do vídeo se tornou alvo de investigação policial.
As publicações que afirmam que a mulher foi encaminhada com vida para um necrotério são fake news. Elas têm viés negacionista em relação ao novo coronavírus, assim como outras notícias falsas que têm sido usadas para impor a ideia de que os números referentes à covid-19 no Brasil são inflados por autoridades — como histórias mentirosas sobre caixões enterrados vazios ou com pedras.
À espera de atendimento
As imagens da idosa, que não teve a identidade divulgada, foram feitas enquanto ela estava no setor de observação do Hospital Abelardo Santos. Conforme comunicado do Governo do Pará, a mulher esperava por um leito na unidade de saúde, que é referência no combate ao novo coronavírus no Estado.
O Pará tem registrado crescimento exponencial em casos do novo coronavírus. Até a quinta-feira (14) eram mais de 10,8 mil casos e 1.063 mortes. É o sexto Estado com mais casos e mortes no país.
Diante do aumento de registros no Estado, o Hospital Abelardo Santos, que até então era destinado a procedimentos de alta complexidade, passou a atender somente pacientes com o novo coronavírus. Profissionais da unidade relatam que o volume de pacientes se tornou muito grande desde então.
Dias antes do vídeo da idosa deitada na maca viralizar nas redes, um outro caso na mesma unidade de saúde repercutiu em todo o país: uma família abriu o caixão da parente que teria morrido e descobriu que o corpo era de outra pessoa. Mesmo com certidão de óbito, os familiares descobriram que a idosa, de 68 anos, permanecia viva no hospital Abelardo Santos, com suspeita de ter contraído o novo coronavírus. A mulher segue internada.
O caso da família que descobriu que enterraria um corpo desconhecido foi considerado um exemplo do colapso na saúde pública no Pará. A Secretaria de Saúde do Estado classificou a situação como uma consequência da falta de estrutura, em meio ao crescimento no número de doentes e mortos pelo novo coronavírus.
Diretor técnico do Hospital Abelardo Santos, o neurocirurgião Milton Bonny afirma à BBC News Brasil que a unidade de saúde enfrenta um grave problema de superlotação. “O Pará inteiro vem pra cá. No ambulatório é uma média de 1,2 mil pessoas. Era uma unidade de alta complexidade e, de repente, abriu para toda a população” diz.
Em meio à lotação do hospital, a idosa que aparece no vídeo que viralizou nas redes sociais estava à espera de um leito na sala vermelha da unidade de saúde.
Ela era uma paciente antiga da unidade de saúde, segundo Bonny. O neurocirurgião detalha que a idosa havia sido internada no local outras vezes, antes da pandemia. Ele conta que, em uma das internações, ela teve de amputar uma perna, em razão da diabetes.
Segundo a Direção da Santa Casa de Pacaembu, Organização Social em Saúde (OS) responsável pelo Abelardo Santos, a idosa deu entrada na unidade na noite de 4 de maio, em estado gravíssimo. Ela apresentava quadro de intensa falta de ar e fraqueza. A direção afirma que a paciente “recebeu assistência médica adequada pela equipe de plantão” logo que chegou.
O quadro dela foi considerado suspeito do novo coronavírus, em razão dos problemas respiratórios e do comprometimento nos pulmões, apontado por meio de tomografia. Os profissionais de saúde fizeram o teste RT-PCR, para identificar se ela havia sido infectada pelo vírus — o resultado ainda não ficou pronto. “Os exames são encaminhados para o Laboratório Central do Estado e têm demorado para chegar, pois são muitos casos“, diz Bonny.
Ao longo do dia 5 de maio, de acordo com a direção do hospital, o quadro de saúde da idosa se agravou enquanto aguardava internação. À espera de um leito, ela respirava com dificuldades, sem ventilação mecânica.
Segundo o diretor técnico do hospital, muitos pacientes precisam esperar por um leito na unidade de saúde, em razão da grande demanda no local.
Enquanto aguardava, foi colocada na maca, dentro de um saco que também é utilizado para levar cadáveres. “É um saco que pode ser usado para várias coisas e estava ali forrando a maca“, argumenta Bonny. O diretor justifica que o aparato iria ajudar a carregar a idosa para uma outra maca, em razão da fragilidade do estado de saúde dela.
“É uma prática comum em hospitais, ainda mais (em) épocas de pandemia ou epidemia, que mudam os nossos conceitos e precisamos fazer adaptações“, diz o diretor. Ele afirma que, em razão da grande demanda, são necessárias algumas alternativas mais rápidas no atendimento aos pacientes, como o uso do saco para a transferência entre macas — comumente, o procedimento é feito com um lençol.
A direção do hospital não informou por quanto tempo a idosa ficou sem respiradores, à espera de um leito. A nota emitida pela Organização Social em Saúde diz que a idosa, posteriormente, foi avaliada por dois médicos e encaminhada para a sala vermelha, que atende pacientes graves. Depois, não resistiu e morreu.
O vídeo
Após a morte da idosa, a direção do hospital foi informada sobre o vídeo que mostra a paciente à espera de atendimento. Para apurar os responsáveis pelo vazamento das imagens, o caso foi denunciado à polícia.
No entanto, posteriormente, segundo Bonny, uma filha, que acompanhava a idosa no hospital, disse ter sido a responsável pela filmagem.
“Ela contou que mandou aquele vídeo para o irmão ver como a mãe estava e não sabe como a gravação vazou para outros grupos de WhatsApp“, diz o diretor. Segundo ele, os familiares da paciente não sabem como surgiu a fake news de que ela foi levada viva para o necrotério. A reportagem não conseguiu contato com os parentes da idosa.
O diretor lamenta as notícias falsas que circularam no Brasil e em outros países. “Isso confundiu a população. Essa situação é muito chata“, comenta.
Em nota, representantes da OS que administra o Hospital Abelardo Santos lamentaram “a má utilização da imagem da paciente por pessoas que não respeitaram a dor da família“. A direção da unidade classificou a divulgação do vídeo como “uma atitude antiética, desumana e passível de punição penal”.
A Polícia Civil do Pará abriu inquérito para apurar o vazamento do vídeo e também para investigar os responsáveis pela fake news que afirma que a idosa foi levada viva para o necrotério. Os familiares dela e os profissionais de saúde envolvidos no atendimento à paciente devem ser ouvidos nos próximos dias.
Circula em grupos de WhatsApp um vídeo, gravado em 12 de maio de 2020, com imagens do centro comercial de Maringá, afirmando (segundo o narrador) que a cidade localizada no sul do país (Paraná) é um exemplo no combate ao coranavírus no Brasil. O homem que faz a gravação enquanto dirige, mostra as lojas da cidade abertas e pessoas e carros circulando pelas ruas.
A narração minimiza a ação da covid19 na cidade e diz que todas as pessoas usam máscara, todos os estabelecimentos oferecem álcool-gel para atender o público e, com isso, a cidade tem vida normal. O narrador anônimo afirma que o vídeo tem que “correr o mundo” para “o Doria vagabundo e esse Witzel, do Rio de Janeiro, outro vagabundo que fica fechando o comércio, aterrorizando a população” (sic). O homem completa dizendo que Maringá “tem vida normal e só teve seis mortes até agora desde quando começou o coronavírus” e que “não tem caso de morte em Maringá faz um mês já”. Ele admite que morreu uma pessoa na “semana passada” mas era “um caminhoneiro que veio de fora, que nem de Maringá era”.
O autor do vídeo diz que “Maringá é uma cidade exemplo para o Brasil ” e pede aos receptores que “façam correr este vídeo pelo Brasil todo, chegar até aquela população do Rio de Janeiro e de São Paulo… aqui ninguém transmite vírus pra ninguém, exemplo. É a coisa mais fácil do mundo você fazer o comércio voltar ao normal. É só a população ter consciência do que fazer. E estes governadores corruptos estão aí que não deixam o Brasil voltar ao normal”.
O Coletivo Bereia entrou em contato com o ex-prefeito de Maringá, Silvio Barros, na manhã de quinta, 14 de maio, para averiguar a veracidade das informações compartilhadas no vídeo. Ele afirmou que o vídeo, apesar de conter informações verdadeiras, também desinforma:
“A pessoa que gravou esse vídeo, a probabilidade é muito grande de que ele não seja de Maringá. Ele passou aqui em um determinado horário e viu o comércio aberto. A verdade é a seguinte, o comércio aqui abre às 10h e fecha às 16h. Se ele tivesse passado aqui 16h30 ele não teria feito esse vídeo. Os comerciantes têm lá as duas restrições. Maringá fechou muito cedo, além do toque de recolher, que funciona até hoje, foi extremamente rigorosa e isso criou um problema muito sério. Esta abertura do comércio começou esta semana. Então eu acho que precisa ponderar, não é de todo falso, não é todo verdadeiro.”
Bereia também colheu o depoimento dos diretores do Jornal “O Fato”, de Maringá, Ligiane Ciola e José Carlos Leal, em 14 de maio. O casal afirma que as informações são parcialmente verdadeiras.
“Hoje a cidade está realmente toda aberta. O comércio funciona com horário especial, das 10h – 16h, e realmente há um decreto que prevê medidas de higiene e de distanciamento social. Pois bem, tais medidas foram implementadas depois que a cidade ficou fechada totalmente por 30 dias, no período entre 20 de março e 20 de abril. Com o lockdown (trancamento das ruas) preventivo foi possível reduzir cerca de 85% o número de contágios e consequentemente diminuiu também a circulação do vírus. A pressão da associação comercial e bolsonaristas, que com vergonha admito, são mais de 80%, o Prefeito começou a ceder. De 20 a 30 de abril ele flexibilizou algumas atividades e enfim, há sete dias decidiu correr atrás do prejuízo político e mandou abrir tudo. As consequências dessas medidas conheceremos nos próximos dias … Na verdade do dia 1º de maio em diante registrou-se 60 novos casos, mas há cerca de 300 pessoas isoladas em suas próprias casas aguardando o resultado do exame. A estrutura hospitalar é muito boa e o SUS aqui funciona melhor do que os convênios, coisa óbvia, já que muitos dos serviços são prestados pela estrutura sanitária privada. Em resumo: ‘nosso amigo’ que fez as imagens só conta uma parte da história. O frio será um agravante e o Governador já tem um plano para fechar todo o Estado se for o caso. Ter optado por fechar tudo imediatamente propiciou uma condição favorável. Se o Brasil inteiro tivesse feito isso, hoje teríamos menos de 2000 mortos e no máximo 20 mil contagiados.”
Os relatos do ex-prefeito e do casal de jornalistas podem ser confirmados com o Decreto da Prefeitura de Maringá n. 445/20, que determinou isolamento severo a partir de 20 de março. Coincidem ainda com o Decreto Municipal 566/2020, de 18 de abril, que autorizou o funcionamento do comércio, das 10 às 16h, e o uso obrigatório de máscaras nas ruas da cidade. A partir de 7 de abril, a Prefeitura liberou o funcionamento de oficinas mecânicas e o atendimento presencial em clínicas e consultórios médicos (Decreto Municipal 502/20). Em 13 de abril, o município abriu para o funcionamento de lotéricas e indústrias (Decreto Municipal 544/20). Os depoimentos também estão relacionados ao Decreto 637/20, que autorizou a reabertura de shoppings, academias, restaurantes, bares, celebrações religiosas e outros estabelecimentos, com controle de atendimentos, distanciamento, horário e medidas de higiene e limpeza, a partir de 7 de maio de 2020.
Sob pressão para afrouxar as medidas de março, a Prefeitura havia se manifestado pela manutenção do isolamento severo, em 9 de abril, por meio de texto no seu site oficial, com o título “Continuar o isolamento social é a melhor opção; confira”;
Levantamento do Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag), com apoio da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mostrou que a média diária de casos notificados de pessoas que apresentaram sintomas de coronavírus em Maringá aumentou 263% entre 31 de março e 30 de abril, com média de 36 casos por dia. O aumento de notificações coincide com a publicação de decretos municipais que flexibilizaram o isolamento social e permitiram a retomada de algumas atividades do setor econômico.
O boletim diário sobre coronavírus da Prefeitura de Maringá indica 5 novos casos em 14 de maio. O registro geral agora é de 129 casos confirmados de covid-19, com quatro pacientes confirmados internados, dois em UTI e dois na enfermaria. São 267 pacientes suspeitos em situação de isolamento domiciliar. Outros 15 pacientes estão internados com suspeita. Os óbitos permanecem seis.
No dia em que o isolamento foi extinto por decreto, em 8 de maio, Maringá não havia tido novo caso de coronavírus por 24h. O município registrava 110 casos positivos de pacientes com COVID-19. Casos suspeitos em situação de isolamento domiciliar eram 305 e dez pacientes estava internados com suspeita e os óbitos permaneciam seis.
Diante das informações checadas, Bereia conclui que o vídeo anônimo que circula em mídias sociais é enganoso. O conteúdo, que exalta bons resultados em Maringá, não explica que eles foram alcançados depois de um isolamento total (lockdown) implementado pela Prefeitura em março, com afrouxamento em abril, após um mês. O autor do vídeo não se refere aos horários restritos de abertura do comércio e outros estabelecimentos, decretados pela Prefeitura, o que não condiz com a ideia de “vida normal” que insiste em ressaltar. A publicação também omite que após a flexibilização do isolamento tem ocorrido um crescimento do número de casos que tem alarmado as autoridades municipais.
Soma-se a isto a campanha explícita que o autor do vídeo empreende contra os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo, classificando-os como “vagabundos” e “corruptos” por conta das medidas de isolamento social que permanecem em vigor nesses estados. Pode-se concluir que, dada a ênfase neste aspecto e a omissão de informações relevantes, o autor anônimo produziu as imagens com finalidade política contra as medidas de prevenção à Covid-19 orientadas pela Organização Mundial de Saúde e assumidas não só em boa parte do mundo, como também pelo Ministério da Saúde do Brasil, e seguidas por estados e municípios.
O Coletivo Bereia alerta seus leitores e leitoras para a circulação de material anônimo pelas mídias sociais, que, frequentemente não apresenta embasamento e fontes, tendo, por isso, altas chances de ser falso ou enganoso e fazer uso de receptores para interferir negativamente em temas de interesse público.
* Matéria atualizada em 11/04/2022(correção de etiqueta)
Está circulando em vários grupos de WhatsApp, católicos e evangélicos, um link que oferece livre acesso a 471 livros da Editora [Católica] Paulus . O Coletivo Bereia verificou, porém, que não se trata de um material promocional da editora, mas, sim, um furto intelectual.
Martha Bispo, assessora do Centro de Estudos Biblícos do Maranhão e secretária-executiva da CNBB Região IV, conta que recebeu o link suspeito via WhatsApp e logo percebeu que havia algo errado. A assessora imediatamente consultou um padre,- que já sabendo sobre o ocorrido, solicitou que ela excluísse a mensagem recebida.
“Eu abri porque recebi de um WhatsApp seguro, mas logo percebi que era vírus”, disse Martha Bispo. Ela conta que, em seguida, recebeu uma mensagem de um dos funcionários da Paulus confirmando tratar-se de algo ilegal:
“Prezados/as,
infelizmente o link acima que dispõe as obras da Paulus gratuitamente foram fruto de roubo intelectual, o que é previsto no Código Civil por crime.Fazer o download, segundo alguns especialistas, não constitui crime. Mas a apropriação indébita de uma obra, fruto de roubo, é crime.
Verifiquei com o Jurídico da Editora Paulus, que já foi acionado.No Brasil, há mais de 1000 casos de roubos de propriedade intelectual ou privada.As obras que constam ali são supostamente verdadeiras, mas podem conter vírus que prejudicam computadores, celulares, tablets ou leitores de livros digitais, e, muitas vezes não se manifestam logo de início, mas ao longo do tempo, pois ficam alojados nos arquivos baixados.Portanto, se baixarem, pode ser que em algum momento informações confidenciais de seus computadores sejam roubados também da mesma forma que as obras foram.
É bom que se tenha um antivírus muito bom em sua máquina ou celular.A Paulus, provavelmente não sabe como isso ocorreu.Os livros, revistas e outras obras que são dispostos digitalmente, podem ser baixados diretamente no site da Paulus, como a Revista Vida pastoral, por exemplo.É o que sabemos no momento”
Euri Ferreira
O Coletivo Bereia também entrou em contato com Francisco Galvão, religioso Paulino e escritor da Paulus. Ele confirmou, então, que houve furto do material da Editora. Também, confirmou que a editora ainda não conseguiu compreender como o fato ocorreu. Francisco Galvão lamenta o “roubo de quase 500 obras” e, também, informou que a área jurídica da instituição está trabalhando quanto às medidas jurídicas que a editora poderia tomar.
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Referências de Checagem
Link oficial da Editora Paulus: https://www.paulus.com.br/portal/conteudo-gratuito/
Um vídeo que circula desde o último 22 de abril em grupos de Whatsapp de igrejas e de pessoas cristãs, no Youtube e em perfis do Facebook e do Twitter, denuncia que uma enfermeira de nome Sandra M. Guerra teria sido demitida do Hospital Couto Maia em 21 de abril, porque publicou na internet um vídeo que mostra instalações da UTI de Referência para Tratamento de Coronavírus naquele hospital vazias.
A mensagem de Whatsapp que circula é:
No Youtube, o vídeo foi publicado, em 22 de abril, no Canal Jorvideo News, com a mesma chamada:
“A enfermeira Sandra M. Guerra, foi demitida no início da noite por ter ingenuamente divulgado imagens da UTI Referência Do Vírus Chinês do Hospital Couto Maia no dia de hoje, 21/04/2020. Não foi por exposição dos pacientes (ela teve essa preocupação). Foi simplesmente por mostrar as instalações vazias”.
No Twitter, o vídeo foi publicado, em 22 de abril, pelo perfil C18H26CIN3 @semfronteira64, com bio redigida em hebraico אלוהים הוא בשליטה [Deus está no controle]. A postagem tem a mesma chamada:
“A enfermeira Sandra M. Guerra, foi demitida no inicio da noite por ter ingenuamente divulgado imagens da UTI Referência Do Vírus Chinês Do Hospital Couto Maia no dia de hoje, 21/04/2020. Não foi por exposição dos pacientes Foi simplesmente por mostrar as instalações vazias”.
O Hospital Couto Maia
O Instituto Couto Maia, da rede pública do Estado da Bahia, passou a atender exclusivamente pacientes com suspeita de coronavírus, desde março passado. Em 23 de março, a diretora-geral do Couto Maia, a médica-infectologista Ceuci Nunes, declarou que ao todo, a unidade dispõe de 120 leitos, mais doze de observação: “E todos agora são dedicados ao coronavírus. Nós fizemos várias modificações na unidade, para comportar esse atendimento. Fizemos modificação de fluxo de entrada e saída de pacientes, modificações na estrutura para instalar leitos de UTI”, disse ao site de notícias da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.
A diretora, na entrevista, completou que é importante que haja hospitais dedicados exclusivamente ao coronavírus. “Como a gente viu, pela experiência internacional, o Covid-19 é muito transmissível e nós teremos um grande número de pessoas contaminadas. A maioria dessas pessoas, cerca de 80%, não ficará em estado grave e não vai precisar de ficar em respiradores. Mas muita gente vai precisar de leitos de UTI e isso pode levar a grandes problemas no sistema de saúde e é por isso que a gente dedicou esse hospital, assim como outros, ao coronavírus”. Ela também destaca que, como a transmissão é muito grande e o ICOM era um hospital de doenças infecto-contagiosas, “os pacientes de outros diagnósticos estão com a imunidade baixa e não podem ser expostos ao coronavírus”.
Em 21 de abril, em entrevista ao Jornal da Manhã (Rede Globo Bahia), o secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas Boas, afirmou que o sistema de saúde do estado deve ter capacidade para receber pacientes até o início de junho, caso a curva de contágio se mantenha com crescimento de 9% ou 10% ao dia.
Até essa data, o governo do estado havia disponibilizado 1.135 leitos exclusivos para o tratamento da doença, sendo 429 deles de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A promessa é de que o número total chegará, nas próximas semanas, a 2.418 leitos de referência. Destes, 1.399 estarão localizados em Salvador, com outros 1.019 distribuídos pelo interior do estado.
A taxa de crescimento está abaixo dos 15%, de modo que Tereza Paim, subsecretaria de saúde do estado, considera o estado da Bahia como um exemplo positivo de combate ao vírus no país.
Na noite do mesmo dia, 22 de abril, em que o vídeo-denúncia de que havia leitos vazios na UTI passou a ser divulgado, a diretora-geral do Instituto Couto Maia, Dra. Ceuci Nunes, publicou em seu perfil do Facebook uma mensagem desmentindo o conteúdo:
“Estão mandando este vídeo gravado dia 21/03 por uma enfermeira nossa, mostrando a primeira ampliação de leitos da uti que fizemos. Abaixo uma informação com um nome que não corresponde ao nome da enfermeira, dizendo que foi demitida por mostrar leitos vazios. Hoje os leitos estão todos cheios. Fake absurda. Se recebeu desminta por favor. Grata, Ceuci Nunes – Diretora do ICOM”
O jornalista Angelo Ringon, do Maringá News, checou o nome da enfermeira que fez o vídeo quando o hospital havia terminado de preparar o aparato para atender pacientes, em 21 de março. É a enfermeira Maria das Graças Santos e não foi demitida.
Nesta checagem o Coletivo Bereia conclui que as mensagens que circulam em mídias sociais com vídeo que mostram leitos vazios na UTI do Instituto Couto Maia em Salvador são enganosas. Uma mensagem padrão foi produzida e alcançou vários grupos e perfis, fazendo uso de um vídeo publicado na rede em 21 de março, um mês antes desta divulgação. A postagem enganosa expôs um nome de pessoa que não corresponde à autora das imagens, mostra leitos que, de fato estavam vazios pois ainda não estavam em operação, e inseriu a falsa informação de que a enfermeira que fez o vídeo foi demitida por divulgá-lo. Este conteúdo desinforma pois busca induzir os receptores a desacreditarem da gravidade da Covid-19 e desconsiderarem os números divulgados, o que pode custar a saúde e a vida de muitas pessoas.
A diretora-geral do Couto Maia Dra. Ceuci Nunes publicou no dia 23 de abril um desabafo em seu perfil no Facebook:
Bereia alerta leitores e leitoras sobre a importância de se verificar sempre, antes de compartilhar, mensagens que não têm autoria, não indicam a fonte (quem produziu e deve se responsabilizar pela informação). O perfil do Twitter que divulgou este material enganoso, C18H26CIN3 @semfronteira64, com bio redigida em hebraico אלוהים הוא בשליטה [Deus está no controle], é exemplo significativo de perfis criados exclusivamente para divulgação de material desinformativo: não se identifica, aparece como um número, tem username genérico e simbólico (64), foi criado em 2019 e só publica notícias, todas desinformativas.
Já o canal do Youtube Jorvideo News não se identifica no
aplicativo e não tem um histórico de exibição que corresponda a “news”
(notícias). Este canal está inscrito no Youtube desde 2007, não tem vídeos
próprios e tem apenas nove vídeos desde 1 de outubro de 2019, oito relacionados
a filmes de entretenimento na língua inglesa, uma comédia completa e sete
trailers de filmes de ação, mais a postagem sobre a “enfermeira demitida”. O
nome “news” dá caráter de seriedade ao canal (notícias) e inspira pessoas
afeitas a receber desinformação de fontes não credenciadas.
Bereia classifica estas fontes do Twitter e do Youtube como não confiáveis.
Atualização do caso em 27 de abril de 2020
O jornal Folha de S. Paulo publicou em 27 de abril de 2020, reportagem sobre este caso, com foco na atuação da enfermeira do hospital Couto Maia (Salvador/BA) Ana Cássia Tupiniquim, de 51 anos, que fez o vídeo originalmente divulgado em 21 de março. Ana Cássia não foi demitida e relata o incômodo de ter o vídeo que produziu para animar pessoas no enfrentamento da pandemia ser usado para espalhar mentiras para negar a gravidade da situação que ela enfrenta diariamente.
Referências de Checagem:
Instituto Couto Maia já atua exclusivamente para pacientes com coronavírus. Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Estado de Saúde. Notícias, 23 mar 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/03/23/instituto-couto-maia-ja-atua-exclusivamente-para-pacientes-de-coronavirus/ Acesso em 23 abr 2020
Bahia tem 1.645 casos confirmados de Covid-19. Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Estado de Saúde. Notícias, 22 abr 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/04/22/bahia-tem-1-645-casos-confirmados-de-covid-19/. Acesso em 23 abr 2020
Hospitais Couto Maia e Ernesto Simões têm 54% dos leitos de UTI ocupados: ‘Ficar em casa ajuda a evitar óbitos’, diz subsecretária. G1 BA, 20 abr 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/04/20/com-70percent-dos-leitos-de-uti-ocupados-na-bahia-subsecretaria-de-saude-faz-alerta-ficar-em-casa-ajuda-a-evitar-obitos.ghtml Acesso em 23 abr 2020
Bahia terá 2.418 leitos de referência para atendimento exclusivo a pacientes com coronavírus. Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Estado de Saúde. Notícias, 22 abr 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/04/18/bahia-tera-2-418-leitos-de-referencia-para-atendimento-exclusivo-a-pacientes-com-coronavirus/ Acesso em: 23 abr 2020
Coronavírus: Secretário de saúde do estado fala sobre taxa de ocupação dos leitos de UTI. Jornal da Manhã, Vídeos G1. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/edicao/2020/04/22/videos-jm-de-quarta-feira-22-de-abril-de-2020.ghtml. Acesso em 23 abr 2020
Pura maldade. Blog do Angelo Rangoni. Maringá News, 22 abr 2020. Disponível em https://angelorigon.com.br/2020/04/22/pura-maldade-2/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=pura-maldade-2. Acesso em 23 abr 2020