Brasil avança na vacinação infantil e deixa lista dos 20 piores países do mundo neste quesito

A notícia de que o Brasil havia avançado na imunização infantil e deixado a lista dos 20 piores países neste quesito movimentou as redes digitais do governo, órgãos oficiais e sites de esquerda, nos últimos dias. Além de exaltar o feito, dados divulgados por esses canais dão conta de que essa retomada só começou em 2023, no início do governo Lula. Bereia checou as informações divulgadas nesses veículos. 

Imagem: Site Agência Brasil

A Revista Fórum foi um destes veículos. Em 15 de julho, a publicação divulgou em seu site matéria com o título Efeito Lula: Brasil deixa a lista de países com piores índices de vacinação infantil do mundo”. Ao longo do texto, são apresentados dados sobre o aumento da vacinação infantil no país desde 2023, e atribui o sucesso ao governo do atual presidente Lula. o texto aponta ainda que o país está na contramão da tendência mundial de queda no número de crianças vacinadas.  

Imagem: Reprodução do site da Revista Fórum

Avanço real na imunização

A matéria da Fórum cita o documento publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), agência das Nações Unidas responsável por fornecer recursos humanitários e de desenvolvimento a crianças em todo o mundo. O documento comprova a veracidade dos dados divulgados pela revista progressista.  Além disso, o site da agência da ONU no Brasil também noticiou o feito brasileiro. 

Imagem: Site da Unicef no Brasil

Outros veículos de comunicação também deram destaque ao avanço brasileiro na imunização infantil. 

Imagem: Site R7

Imagem: Reprodução do site do Canal Saúde da Fiocruz

Imagem: Reprodução do site da Folha de S. Paulo

Imagem: Reprodução do vídeo do Jornal Hoje/Rede Globo

O relatório, publicado pela WHO/UNICEF Estimates of National Immunization Coverage (WUENIC), aponta que, em 2021, o Brasil ocupava o sétimo lugar na lista dos países com mais crianças não imunizadas no mundo. Enquanto em 2023, o país havia abandonado a lista com avanços em 14 dos 16 imunizantes considerados para o relatório.

“Após anos de queda nas coberturas vacinais infantis, a retomada da imunização no Brasil merece ser comemorada”, ressalta a Chefe de Saúde da Unicef no Brasil Luciana Phebo. Para ela, é fundamental continuar avançando, ainda mais rápido, para encontrar e imunizar as crianças que ainda não receberam as vacinas do PNI. “Esses esforços devem ultrapassar os muros das unidades básicas de saúde e alcançar outros espaços em que crianças e famílias, muitas em situação de vulnerabilidade, estão – incluindo escolas, CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e outros espaços e equipamentos públicos”.

Relação com o governo Lula

O relatório da WUENIC e a publicação nas páginas da Unicef não relacionam a melhora na vacinação diretamente ao governo Lula, como é feito no site Fórum. Contudo, eles destacam que o Brasil surpreendeu ao subir seus números de vacinação após anos em que apresentou alguns dos piores resultados no mundo.

Na plataforma da WUENIC é possível acessar os gráficos sobre vacinação de acordo com o imunizante e o país pesquisado. Em análise sobre o imunizante DTP3, que previne contra a difteria, o tétano e a coqueluche, por exemplo, é possível observar que, entre 2016 e 2022, o Brasil teve os piores indicadores de cobertura vacinal desde os anos 2000. Já em 2023 os números ficam próximos dos níveis de cobertura pré-pandemia.

Imagem: Site da WUENIC

Apesar dos índices de vacinação terem atingido números preocupantes em 2021, o Brasil apresenta queda na cobertura vacinal desde 2016, período de mudança política no País,  com o impeachment de Dilma Roussef e a posse do vice, Michel Temer. Matéria publicada no portal da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2022, destaca que a baixa na vacinação infantil fez com que doenças antes erradicadas voltassem para lista de doenças do país em 2018, como o sarampo. 

Além disso, o texto publicado pela Fiocruz enfatiza o papel da pandemia de covid-19 na baixa das coberturas vacinais.Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, “as recomendações das autoridades sanitárias de distanciamento social e outras medidas não farmacológicas afastaram a população das unidades de saúde para se vacinarem”. Bereia também publicou checagens a este respeito, e demonstrou a ampla propagação de campanhas de desinformação, com mentiras e enganos sobre vacinas, em especial contra a covid-19. 

A Unicef também já havia alertado para a queda da cobertura vacinal no País, desde 2015. Segundo dados da Busca Ativa Vacinal (BAV), uma iniciativa da Unicef Brasil para apoiar os municípios na imunização infantil, a cobertura da vacinação contra a poliomielite caiu de 98,3% em 2015 para 76,7% em 2022.

“Movimento Nacional pela Vacinação”

Em nenhuma das plataformas oficiais são encontradas afirmações de que a melhora da cobertura vacinal deve ser atribuída ao governo Lula. Entretanto, ao se analisar os dados disponíveis, fica evidente a relação do atual governo com o sucesso do Plano Nacional de Imunização.

O Ministério da Saúde lançou, em fevereiro de 2023, logo no início do atual governo, o Movimento Nacional pela Vacinação, o projeto tinha como objetivo a retomada das altas coberturas vacinais no país. O programa inclui vacinação contra a covid-19 e outros imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação. O governo credita os números positivos a esse programa idealizado pelo Ministério da Saúde.

Imagem: Reprodução do site do Ministério da Saúde

A volta do Zé Gotinha

Símbolo da vacinação no Brasil, o personagem Zé Gotinha surgiu pela primeira vez no fim da década de 80, encabeçando a luta pela erradicação da poliomielite nas Américas. Na época, a doença, provocada pelo poliovírus selvagem, só podia ser prevenida por meio de duas gotinhas aplicadas na boca das crianças. O esquema de vacinação atual, entretanto, vai além da vacina oral e utiliza ainda doses injetáveis para combater a chamada paralisia infantil.

O personagem desapareceu da cena pública, a partir de 2019, por conta do negacionismo e da aversão a  vacinas durante o governo passado, mas teve a importância retomada a partir do lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação. 

Desde sua criação, Zé Gotinha tem cumprido o papel de tornar a aplicação das vacinas, temidas por muitas crianças, algo lúdico e palatável para este público. 

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Bereia classifica a matéria publicada pela Revista Fórum como verdadeira. De acordo com a abordagem do veículo progressista e de outras grandes fontes da imprensa, os dados apresentados pelo relatório da WUENIC identificam a melhora na cobertura vacinal no Brasil, em especial no ano de 2023. O avanço é atribuído ao lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, programa que marca um novo momento das campanhas pela vacinação infantil, incentivada pelo atual governo. 

Contudo, é importante destacar que os relatórios oficiais da UNICEF e do próprio governo federal não atribuem o mérito a esta gestão e resgistram que as taxas de vacinação apresentavam queda significativa desde 2016, início do governo Temer. 

Bereia já havia identificado as causas para essa queda na cobertura vacinal em matéria anterior. Um dos problemas é o negacionismo, a descredibilização da eficácia dos imunizantes e a demonização de seus efeitos colaterais, com uso de publicações desinformativas, um fenômeno mundial que também aflige o Brasil e se tornou um desafio para autoridades e pesquisadores das áreas de saúde e comunicação.

Além do trabalho realizado pelo Bereia e outros projetos que integram a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), o próprio Ministério da Saúde realiza um trabalho de combate a descredibilização da eficácia dos imunizantes e de outras informações falsas que circulam nas mídias sociais. O projeto Saúde com Ciência, realizado pelo órgão público, aceita denúncias e realiza um trabalho extensivo de combate a desinformação.

Referências

Unicef. https://www.unicef.org/press-releases/global-childhood-immunization-levels-stalled-2023-leaving-many-without-life-saving. 16 de julho de 2024.

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/brasil-avanca-na-imunizacao-infantil-e-sai-da-lista-dos-paises-com-mais?utm_source=the_news&utm_medium=newsletter&utm_campaign=16-07-2024. 16 de julho de 2024

https://data.unicef.org/topic/child-health/immunization/?_ga=2.217669974.1785523346.1721161471-1076883676.1715083166&_gl=1*1hlw8ny*_gcl_au*NDYzMTM2MzczLjE3MTUwODMxNjc.*_ga*MTA3Njg4MzY3Ni4xNzE1MDgzMTY2*_ga_88Z86505FT*MTcyMTE2MjU3OC4xLjEuMTcyMTE2MzQ4OS42MC4wLjA.*_ga_ZEPV2PX419*MTcyMTE2MTQ3MS4yLjEuMTcyMTE2MzQ4OS41OS4wLjA. 16 de julho de 2024

https://www.unicef.org/brazil/busca-ativa-vacinal-bav. 19 de julho de 2024

WUENIC Trends. https://worldhealthorg.shinyapps.io/wuenic-trends/. 16 de julho de 2024

Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-07/brasil-deixa-lista-dos-20-paises-com-mais-criancas-nao-vacinadas. 16 de julho de 2024

Ministério da Saúde. https://www.gov.br/saude/pt-br/campanhas-da-saude/vacinacao. 16 de julho de 2024.

Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2023/11/03/brasil-tenta-recuperar-cobertura-vacinal-toda-populacao-pode-atualizar-imunizacoes. 16 de julho de 2024.

R7. 

https://noticias.r7.com/saude/brasil-deixa-lista-dos-20-paises-com-os-menores-indices-de-vacinacao-infantil-diz-unicef-15072024/. 18 de julho de 2024

Abril. https://saude.abril.com.br/medicina/mais-de-400-mil-criancas-brasileiras-nao-tomaram-vacinas-basicas-em-2022. 18 de julho de 2024

G1. https://g1.globo.com/saude/noticia/2022/07/24/brasil-nao-atinge-metas-da-vacinacao-infantil-e-tem-taxas-abaixo-da-media-mundial-entenda-em-6-graficos.ghtml. 18 de julho de 2024

Uol. https://drauziovarella.uol.com.br/pediatria/brasil-ocupa-segunda-posicao-entre-paises-com-a-pior-taxa-de-vacinacao-em-bebes-da-america-latina/. 18 de julho de 2024

Fiocruz. https://portal.fiocruz.br/noticia/vacinacao-infantil-sofre-queda-brusca-no-brasil. 18 de julho de 2024

Foto de Capa: José Cruz/Agência Brasil

Evangélicos estão entre os que mais compartilham conteúdo falso sobre vacinas no Brasil

Pessoas identificadas como evangélicas, entre 35 e 44 anos, com grau de instrução até o ensino médio, integrantes das classes de renda mais baixa (D e E), usuários do Telegram, do TikTok e audiência do Jornal da Record, formam o perfil de quem mais compartilha conteúdo falso sobre vacinas no Brasil. A descoberta é parte do estudo “A comunicação no enfrentamento da pandemia de Covid-19”, produzido pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública, da Universidade de Brasília. O levantamento foi realizado em agosto passado, com 1.845 pessoas que têm acesso à internet, e os resultados foram divulgados no último 22 de outubro, pela Agência Brasil.

Para seleção dos entrevistados, os pesquisadores utilizaram um cadastro online com mais de 500 mil inscritos, no qual foram aplicadas cotas de gênero, idade, região e classe social para representar adequadamente a população brasileira. Os participantes selecionados responderam um questionário online, no qual foram convidados a compartilhar 12 notícias sobre vacinas, identificadas apenas pelo título, divididas igualmente entre verdadeiras e falsas.

De todos os pesquisados, 11,3% informaram que compartilhariam ao menos uma das notícias falsas e 3,7% informaram que compartilhariam cinco das seis notícias inverídicas.

O coordenador do CPS da UnB, e líder do estudo, Prof. Wladimir Gramacho, fez um destaque, com a Agência Brasil, sobre o perfil dos que mais propagam estes conteúdos:

“não quer dizer que pessoas que têm essas características são pessoas que automaticamente compartilham notícias falsas, mas o contrário: que pessoas que compartilham esses tipos de desinformação sobre vacinas costumam ter essas características”.

O professor acrescenta que outros estudos que tratam do tema da desinformação na internet indicam que o comportamento de pessoas que divulgam informações incorretas, ou notícias falsas, variam conforme o tema. Gramacho explica quando o tema em questão é político, há uma tendência de pessoas idosas compartilharem desinformação mais facilmente, mas quando o assunto é vacina este padrão é diferente no Brasil, inclusive quando comparado a pesquisas realizadas em outros países.

“A principal explicação para isso talvez seja o fato de pessoas mais velhas terem sido socializadas em uma época em que o país viveu grandes conquistas no seu Programa Nacional de Imunizações”, conclui o pesquisador.

Imagem: Agência Brasil

Telegram, TikTok e Jornal da Record em destaque na propagação de falsidades

Na pesquisa também foram analisados os hábitos de uso de mídias das pessoas que afirmaram que compartilhariam as notícias falsas. Foi observado que as pessoas que mais espalhariam desinformação são as que têm as mídias digitais como principal fonte de informação. “São usuários mais frequentes de plataformas como Telegram e Tik Tok que têm maior tendência de compartilhar notícias falsas sobre as vacinas”, indicou o Prof. Wladimir Gramacho à Agência Brasil.

Ao analisarem o uso da televisão, principal meio de informação no país, pesquisadores compararam entrevistados que declararam ser audiência do Jornal Nacional e os que declararam ser audiência do Jornal da Record. Os telespectadores do Jornal Nacional demonstraram compartilhar menos notícias falsas do que os da Record: os primeiros tiveram a metade das chances de divulgarem falsidades sobre vacinas.

Uma possível justificativa para esse comportamento, segundo Wladimir Gramacho, é um processo de exposição seletiva das pessoas entre esses dois telejornais. “A audiência mais frequente do Jornal da Record reúne pessoas simpatizantes do governo Jair Bolsonaro, que foi um governo que difundiu muitas informações incorretas sobre as vacinas e que, ele próprio, fez campanha contra a vacinação”, destaca o pesquisador.

As conclusões da pesquisa do CPS da UnB reafirmam os resultados da pesquisa que originou e o Coletivo Bereia e orienta suas ações: “Caminhos da Desinformação: Evangélicos, Fake News e WhatsApp no Brasil”. Realizada de 2019 a 2020, a pesquisa foi conduzida pelo Grupo de Estudos sobre Desigualdades na Educação e na Saúde (Gedes), do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ, sob a coordenação dos professores Dr. Alexandre Brasil e Dra. Juliana Dias, colaboradores do Bereia, com relatório publicado em 2021. 

Foto de capa: Agência Brasil

Desinformação sobre vacinas contra Covid-19 atribui falsa afirmação a líder política canadense

Circula nas redes digitais que a primeira-ministra da província de Alberta, no Canadá, Danielle Smith, teria se desculpado com pessoas que não se vacinaram contra a covid, falando em nome das lideranças políticas em tom de equívoco e dando razão aos que optaram por não se imunizar. As publicações atribuem a Smith falas sobre a ineficácia da vacina em conter o vírus.

Imagem: reprodução do Gettr

Perfis na plataforma digital Gettr, criada após o ex-presidente norte-americano Donald Trump ter suas contas banidas do Twitter, do Facebook e do Youtube, compartilham a suposta fala da premiê de Alberta. No Telegram, grupos antivacina também compartilham a suposta fala de Danielle Smith. Bereia checou informações sobre o caso.

Conteúdo original usado para desinformação

Danielle Smith é primeira-ministra da província de Alberta pelo Partido Conservador Unido (UCP na sigla em inglês United Conservative Party), cargo equivalente a governadora de estado no Brasil. Smith afirmou, em coletiva de imprensa, em 11 de outubro de 2022, que as pessoas que optaram por não se vacinar eram o grupo mais discriminado que ela já tinha visto em toda sua vida. Posteriormente Danielle Smith se desculpou com grupos minoritários amplamente discriminados historicamente.

A fala da líder política canadense é distorcida nas publicações compartilhadas nas mídias sociais. As afirmações feitas por Smith durante a coletiva foram em resposta a uma das últimas perguntas, aos 53 minutos da transmissão ao vivo, e não se tratam de um pedido de desculpas sobre a possibilidade das imunizações causarem danos à saúde. Portanto, não é verdade que grupos que optaram por não se imunizar estariam corretos em suas decisões. Um dos argumentos utilizados por pessoas contrárias à vacinação era a ineficácia de vacinas em fase de teste.

Imagem: site da província de Alberta, Canadá


Polêmicas envolvendo Danielle Smith

Smith é alvo de uma investigação independente solicitada pelo partido de oposição Novo Partido Democrata (NDP na sigla em inglês de New Democratic Party) para saber se ela teria interferido nas decisões da justiça ligadas a processos relacionados a covid. As apurações começaram depois da divulgação de um vídeo em que a primeira-ministra do estado de Alberta estaria em ligação telefônica com o pastor Artur Pawlowski, da congregação multidenominacional Street Church, apenas algumas semanas antes do início do julgamento dele em fevereiro.

Pawlowski foi condenado por não respeitar medidas restritivas contra covid-19, em 2021. Na conversa por telefone vazada, a líder política  tranquiliza o pastor de que ela estaria em contato com ministro da Justiça semanalmente para discutir processos relacionados a covid-19, o que incluiria o caso dele.

Além disso, após tomar posse do cargo em 2022, Smith teve de se retratar com 75% dos albertanos que se imunizaram quando veio à tona o vídeo com  uma entrevista dela a um podcast  em 2021, onde a primeira ministra afirma que os imunizados eram seguidores de Hitler. Smith já provocou outras polêmicas, como quando afirmou possuir antepassados indígenas, o que se provou falso segundo informações oficiais do censo norte-americano, e quando fez comentários controversos sobre a guerra da Ucrânia, pelos quais, mais tarde, se desculpou.

Desinformação sobre vacina

A desinformação sobre vacinas, em geral, continua ocorrendo nas redes digitais. Grupos no aplicativo de mensagens Telegram, por exemplo, dedicam-se a compartilhar conteúdos contra a vacinação, sendo constantes as publicações sem embasamento científico e com informações fragmentadas, omitindo dados relevantes para a completa compreensão sobre o assunto.

Conforme Bereia já publicou, o tema da covid-19, em especial, foi um dos temas com mais desinformação em espaços religiosos durante as eleições gerais de 2022. Em outras duas checagens, Bereia revelou que um deputado católico veiculou informações enganosas sobre vacina e, também, que sites religiosos enganavam ao alegar perseguição a cristãos relacionada à vacinação.

A desinformação relacionada às vacinas é um dos fatores que tem gerado a diminuição da cobertura vacinal no Brasil. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em abril deste ano, apontam que cerca de 26% da população infantil não recebeu nenhuma dose vacinal em 2021. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, os índices de cobertura vacinal, em 2015, retornaram aos níveis de 1987. Segundo a Fiocruz, a queda na vacinação tem levado ao reaparecimento de doenças que haviam sido extintas.

O fenômeno levou o Conselho Nacional de Saúde (CNS) a lançar a campanha “Saúde sem Boato”, com o objetivo de combater a desinformação sobre temas de saúde. A plataforma Susconecta fornece orientações sobre como identificar, checar e denunciar conteúdos falsos, além de disponibilizar conteúdo digital para compartilhamento nas redes digitais e grupos de mensagem.

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Bereia classifica o conteúdo como falso. Apesar de as afirmações partirem de um pronunciamento que de fato ocorreu, foi acrescentado ao discurso da primeira-ministra da província de Alberta, no Canadá, Danielle Smith, palavras que não foram ditas por ela. Mesmo se tratando de um pedido de desculpas direcionado à parte da população que optou por não se imunizar, a líder política,  em nenhum momento, se desculpou pelo uso de vacinas para o combate à covid, nem mesmo afirmou que a postura dos não imunizados estaria correta. 

Smith não afirmou que as vacinas trouxeram danos ao invés de benefícios à população imunizada, como as publicações sugeriram. Parte do conteúdo atribuído ao pronunciamento de Danielle Smith não oferece substância factual. As informações apresentadas como fatos destoam do que de fato ocorreu. 

Referências da checagem:

The People’s Voice https://thepeoplesvoice.tv/first-major-world-politician-apologizes-to-the-unvaccinated-you-were-right-we-were-wrong/?s=08 Acesso em: 28 jun 2023

YouTube https://www.youtube.com/watch?v=xEAzE-HOtQY&ab_channel=GlobalNews Acesso em: 28 jun 2023

CTV News https://calgary.ctvnews.ca/alberta-premier-not-apologizing-for-saying-unvaccinated-are-the-most-discriminated-group-1.6106136 Acesso em: 28 jun 2023

CBC https://www.cbc.ca/news/canada/edmonton/new-alberta-premier-says-unvaccinated-most-discriminated-against-group-after-swearing-in-1.6612767 Acesso em: 28 jun 2023

https://www.cbc.ca/news/canada/calgary/alberta-danielle-smith-irfan-sabir-ndp-1.6806047 Acesso em: 28 jun 2023

https://www.cbc.ca/news/canada/calgary/danielle-smith-art-pawlowski-alberta-politics-1.6805596 Acesso em: 28 jun 2023

https://www.cbc.ca/news/canada/calgary/calgary-pastor-appeal-sanctions-pawlowski-1.6234743 Acesso em: 28 jun 2023

https://www.cbc.ca/news/canada/calgary/danielle-smith-apology-ukraine-remarks-1.6621165 Acesso em: 28 jun 2023

Bereia https://coletivobereia.com.br/covid-19-e-um-dos-temas-com-mais-desinformacao-em-espacos-religiosos-nestas-eleicoes/ Acesso em: 28 jun 2023

https://coletivobereia.com.br/deputado-catolico-compartilha-tuite-sobre-complicacoes-relacionadas-a-vacina/ Acesso em: 28 jun 2023

https://coletivobereia.com.br/sites-e-lideres-religiosos-apontam-suposta-perseguicao-religiosa-em-decreto-sobre-comprovante-vacinal/ Acesso em: 28 jun 2023

Marie Claire https://revistamarieclaire.globo.com/Noticias/noticia/2021/09/pastor-canadense-que-se-recusou-fechar-igreja-na-pandemia-e-preso-no-canada.html Acesso em: 28 jun 2023

The Star https://www.thestar.com/news/canada/2022/11/19/her-indigenous-heritage-questioned-was-danielle-smith-also-wrong-about-her-ukrainian-great-grandfathers-journey.html Acesso em: 28 jun 2023

Global News https://globalnews.ca/news/9683595/danielle-smith-covid-vaccine-nazi-comments/ Acesso em: 28 jun 2023

Cheknews https://www.cheknews.ca/ethics-probe-finds-alberta-premier-danielle-smith-violated-conflict-of-interest-rule-1152919/ Acesso em: 28 jun 2023

Calgary Herald https://calgaryherald.com/news/politics/online-posts-show-premier-danielle-smith-questioned-who-was-at-fault-in-russia-ukraine-conflict Acesso em: 28 jun 2023

UOL https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/09/09/saiba-mais-sobre-a-gettr-rede-social-que-deu-o-que-falar-esta-semana.htm Acesso em: 28 jun 2023

APTN News https://www.aptnnews.ca/national-news/alberta-premier-danielle-smith-says-she-has-cherokee-roots-but-the-records-dont-back-that-up/ Acesso em: 28 jun 2023

Reuters https://www.reuters.com/world/americas/populist-premier-danielle-smith-overcomes-gaffes-win-close-fought-alberta-2023-05-30/ Acesso em: 28 jun 2023

Lupa https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2023/06/26/e-falso-que-primeira-ministra-de-alberta-no-canada-disse-que-nao-vacinados-pela-covid-estavam-certos Acesso em: 28 jun 2023

Boatos.org https://www.boatos.org/saude/governo-do-canada-admite-que-nao-vacinados-estavam-certos-na-pandemia.html Acesso em: 28 jun 2023

Susconecta https://susconecta.org.br/saude-sem-boato/ Acesso em: 28 jun 2023

Calgary Herald https://calgaryherald.com/news/crime/street-church-minister-artur-pawlowski-cleared-of-causing-disturbance-at-post-office Acesso em: 04 jul 2023

Fiocruz https://portal.fiocruz.br/noticia/projeto-indica-como-reverter-queda-na-cobertura-vacinal Acesso em: 04 jul 2023

Street Church https://www.streetchurch.ca/what-we-do/ Acesso em: 04 jul 2023

Government of Alberta. https://www.alberta.ca/index.aspx Acesso em: 04 jul 2023

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Foto de capa: Wikikommons

Diretor da OMS elogia gestão brasileira no andamento da vacinação, segundo deputado evangélico

Circulam pelas mídias sociais comentários sobre o elogio do atual Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) Tedros Adhanom, ao andamento da vacinação no Brasil. 

Nas redes, apoiadores do governo federal procuram atribuir o sucesso da vacinação à gestão do Presidente da República. Em seu perfil oficial no Twitter, o deputado federal e também Presidente da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento Pastor Marco Feliciano (Republicanos-SP) afirmou que Adhanom encontrou um meio de “calar” a oposição: “Só foi elogiar a vacinação no Brasil e afirmar que deveria ser replicado no mundo todo, e zázz… silêncio total dos esquerdopatas!”

Imagem: reprodução do Twitter

O encontro de Bolsonaro e Tedros Adhanom

Imagem: reprodução do Twitter

A fala de Adhanom ocorreu em conversa informal com o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido)  na ocasião da Cúpula do G20, realizada nos dias 30 e 31 de outubro, emRoma, Itália. Os dois estiveram juntos no domingo (31), também na companhia dos Ministros Marcelo Queiroga (Saúde) e Carlos França (Relações Exteriores).

Adhanom e Bolsonaro debateram sobre a pandemia da covid-19 e a vacinação.  Bolsonaro iniciou a conversa questionando as medidas de lockdown recomendadas pela OMS. Em resposta, Tedros elogiou o andamento da vacinação no Brasil, ressaltando que o uso de máscaras aliado à vacina e medidas de distanciamento social poderá impedir a adoção de novas medidas restritivas.

Durante o bate-papo, Bolsonaro ainda declarou que respeita aqueles que não querem se vacinar. Em sua fala, ele voltou a questionar a eficácia da vacina, argumentando que muitos vacinados foram contaminados, ao que Tedros replicou evidenciando que a vacina não previne a contaminação, mas sim casos graves e mortes. O Presidente do Brasil ainda afirmou não ter controle sobre as ações contra a pandemia por conta de decisão do STF que deu autonomia aos estados e municípios para fazê-lo, o que já foi amplamente desmentido, e disse em tom jocoso ser o único Chefe de Estado acusado de genocida. As críticas levam em conta o negativismo de Bolsonaro frente à gravidade da pandemia e às medidas de contenção

Em seu perfil no Twitter, Tedros escreveu: “discutimos o potencial do Brasil para a produção local de vacinas e tratamentos, o que também poderia atender às necessidades da América Latina e do mundo”. A conversa de Bolsonaro e Adhanom pode ser conferida na íntegra aqui.

Contradição nas bases do Governo 

No momento em que os indicadores apontam para um recuo da covid-19 no Brasil, membros e apoiadores do governo buscam exaltar a gestão de Jair Bolsonaro, atribuindo-lhe o sucesso no combate à pandemia.

No entanto, na própria conversa com o Diretor-Geral da OMS, Bolsonaro buscou se eximir de responsabilidade quanto às ações contra a pandemia da covid-19. O diálogo teve a gravação postada no canal do YouTube do filho nº 2 do presidente, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e mostra também o pai questionando a eficácia da vacina. 

Em discurso no encontro do G20 que ocorreu em 30 de outubro, Bolsonaro destacou a vacinação no Brasil, apesar de ser o único Chefe de Estado do Grupo que alega não ter se vacinado, e teve o seu cartão de vacinação colocado sob sigilo.  Desde o início da pandemia, o presidente e seus aliados se colocam contra as medidas preventivas indicadas pela OMS: criticam o uso de máscara, promovem aglomerações e recomendam o uso de drogas contra a covid-19 cuja eficácia não é comprovada cientificamente .

A própria OMS e seu diretor-geral já foram desacreditados e criticados por Bolsonaro e por Marco Feliciano durante a pandemia. O Presidente da República desdenhou das orientações do órgão justificando que Adhanom não era médico. Feliciano chegou a sugerir em artigo, publicado em site gospel, a saída do Brasil da OMS e também já havia apoiado argumento de outro deputado, que creditava a recessão econômica que o país enfrenta às orientações da organização: 

Imagem: reprodução do Facebook

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Bereia conclui que a postagem do deputado Pastor Marco Feliciano é enganosa, pois busca levar seguidores a acreditarem que o governo e sua base sempre seguiram as orientações da OMS, chegando ao avanço na vacinação. Porém, o próprio deputado, bem como o Presidente da República, repudiaram anteriormente e seguem não cumprindo as orientações do órgão mundial de saúde e as manifestações de seu diretor-geral em meio à pandemia, além de terem questionado (e continuarem questionando) a validade da vacinação.

Referências:

G1. https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/30/entenda-o-que-e-o-g20.ghtml Acesso em:  16 nov 2021.

YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=zCqFpvYc06U Acesso em:  16 nov 2021.

G1. 

https://g1.globo.com/saude/coronavirus/noticia/2021/10/31/diretor-da-oms-se-encontra-com-bolsonaro-e-discute-potencial-do-brasil-para-producao-de-vacinas.ghtml Acesso em: 16 nov 2021.

https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/10/30/bolsonaro-cobra-esforcos-adicionais-do-g20-na-producao-de-vacinas-contra-covid-presidente-ja-disse-que-nao-vai-se-vacinar.ghtml Acesso em: 16 nov 2021

Jovem Pan.

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Imagem de capa: reprodução Twitter Tedros Adhanom Ghebreyesus

Bolsonaro repete mentiras em pronunciamento com tom religioso

No dia que o Brasil atingiu um novo recorde de mortes diárias pela covid-19, com 3.158 óbitos, o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em cadeia nacional a respeito da pandemia no país. Apesar de mudar o discurso em relação às declarações anteriores e passar a defender a vacinação, o chefe do executivo fez declarações imprecisas, enganosas e também falsas em suas declarações.

Mentiras sobre as ações do Governo Federal contra a covid-19

Após reconhecer que o país sofre com a circulação de uma nova variante do coronavírus, o Presidente Jair Bolsonaro afirmou o seguinte: “Desde o começo, eu disse que tínhamos dois grandes desafios: o vírus e o desemprego. E, em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome.”

Apesar de ter afirmado que o Brasil tinha que combater o vírus e o desemprego, o Governo Federal deixou, desde o início da pandemia, de tomar medidas para conter a propagação da doença no país. Em primeiro lugar, o Presidente, diversas vezes, minimizou a gravidade da doença. Em março de 2020, ele chegou a dizer que, devido a seu histórico de atleta, não teria nada além de uma “gripezinha”. Já no começo de março de 2021, com mais de 260 mil mortos no país, Bolsonaro criticou as políticas de distanciamento social e questionou: “Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando?” Temos que enfrentar os problemas”.

Outra reclamação de Bolsonaro era de que o Supremo Tribunal Federal (STF) o teria deixado de “mãos atadas” para agir contra a pandemia. Bereia já verificou como falsa essa afirmação, que já foi desmentida também pelo STF. Além disso, o auxílio emergencial adotado em 2020 foi aprovado depois de pressões  no Congresso que levou o Governo Federal a determinar o valor de R$ 600. Inicialmente, a equipe econômica pretendia distribuir um valor menor, de R$ 200.

Presidente engana a respeito do ritmo de vacinação no país

Em seguida, o Presidente afirmou que o Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo e completou: “Temos mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados da Federação, graças às ações que tomamos logo no início da pandemia.” Mencionar que o Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo sem ponderar este dado com a proporção da população vacinada é uma forma enganosa de transmitir a informação. O site Our World in Data informa que o Brasil chegou ao quinto lugar absoluto, mas ocupa a 71ª posição de vacinação proporcional à população (6,64%), em 22 de março. O melhor exemplo de vacinação na America Latina até agora é do Chile

Bolsonaro também é impreciso ao falar do número de vacinados e doses distribuídas para os estados. De acordo com o próprio Ministério da Saúde, já foram distribuídas 29,9 milhões de doses da vacina contra a covid-19 e o número de pessoas imunizadas com a primeira dose chegam a 11,7 milhões, além de 3,6 milhões já receberam a segunda dose até 22 de março.

Verdades e omissões sobre a aquisição das vacinas

Em seguida, o presidente elencou os investimentos de seu governo para aquisição das vacinas: “Em julho de 2020, assinamos um acordo com a Universidade Oxford para a produção, na Fiocruz, de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca e liberamos, em agosto, 1 bilhão e 900 milhões de reais. Em setembro de 2020, assinamos outro acordo com o consórcio Covax Facility para a produção de 42 milhões de doses. O primeiro lote chegou no domingo passado e já foi distribuído para os estados. Em dezembro, liberamos mais 20 bilhões de reais, o que possibilitou a aquisição da CoronaVac, através do acordo com o Instituto Butantan. Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa. E assim foi feito.”

É verdadeiro que o Governo Federal assinou termos para produção de doses da vacina AstraZeneca/Oxford em julho de 2020. Também é verdade que em agosto o Governo editou Medida Provisória para liberação de R$ 1,9 bi a respeito da vacina. Em dezembro essa MP foi aprovada e virou lei. 

Quanto ao Covax Facility, é correto que o Governo Federal assinou acordo em setembro para ingresso no consórcio. O que o Presidente omitiu no seu discurso é que o Governo optou por adquirir vacinas para 10% da população em vez de 20%, o que corresponderia a 84 milhões de doses. Conforme o pronunciamento de Bolsonaro, o primeiro lote vindo do consórcio chegou ao Brasil no domingo  21 de março. 

A respeito da compra da CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan), a liberação de R$ 20 bilhões de fato veio em 17 dezembro de 2020. No entanto, a declaração a respeito da aprovação da Anvisa é falsa porque desconsidera a campanha contra a CoronaVac promovida pelo próprio Presidente.

Em 21 de outubro, em entrevista à Rádio Jovem Pan, no programa Os Pingos nos Is, Jair Bolsonaro negou que compraria o imunizante após pergunta do jornalista sobre o que seria feito caso a vacina fosse aprovada pela Anvisa. “A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população”, afirmou o Presidente.

O discurso mudou depois do Governador de São Paulo João Dória (PSDB) anunciar, em 7 de dezembro, que começaria a vacinação em 25 de janeiro de 2021. Em 13 de janeiro, o Presidente ironizou a eficácia do imunizante mas afirmou que compraria a CoronaVac. Dois dias depois, o Governo Federal solicitou as seis milhões de doses do imunizante. Porém, logo após a aprovação emergencial pela Anvisa, a vacinação começou em São Paulo

Por fim, ao afirmar que pediu antecipação das doses da vacina fabricada pela Pfizer, o Presidente também omitiu a recusa do Governo às propostas anteriores da farmacêutica feitas em setembro de 2020. Assim como no caso da CoronaVac, foram três recusas. Em uma das ofertas da Pfizer três milhões de doses poderiam ter sido entregues até fevereiro de 2021. O Governo Federal chegou a justificar a recusa pela “frustração” que um acordo causaria aos brasileiros. Em fevereiro de 2021, o imunizante teve aprovação definitiva pela Anvisa.

Exageros sobre cronograma de vacinação

Ao final do discurso, Bolsonaro afirmou: “Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas. Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal.”

Além da necessária aprovação pela Anvisa sem a qual os imunizantes não são aplicados, o cronograma de entregas de doses tem sido constantemente redimensionado. O Ministério da Saúde confirma que garantiu 562 milhões de imunizantes para 2021. No entanto, no último dia 23 de março a previsão de vacinas entregues em abril caiu de 57,1 milhões para 47,3 milhões. A pasta justifica que as mudanças são feitas de acordo com a produção dos fabricantes.

Declaração de solidariedade às famílias enlutadas

Alterando a postura zombeteira com a doença, com pessoas doentes e com mortos, o pronunciamento de Bolsonaro teve manifestação de condolências àqueles que perderam familiares por conta da pandemia. Logo no início, reconheceu que a nova variante da covid-19 tem tirado a vida de muitos brasileiros. Na parte do final do discurso, o Presidente afirmou em tom religioso: “Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em suas famílias. Que Deus conforte seus corações!”

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Bereia conclui que o discurso do Presidente Jair Bolsonaro no dia 23 de março foi enganoso. Ele enganou sobre dados referentes à vacinação e omitiu pontos importantes do processo de compra de vacina a fim de transmitir a mensagem de que a situação brasileira quanto às vacinas é melhor do que de fato está. Por fim, ele mente quanto à sua postura na condução da pandemia e exagera a respeito do cronograma de vacinação, que tem sofrido reduções.

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Foto de Capa: Youtube/Reprodução

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Referências

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Discurso de Damares à ONU engana a respeito de ações do Governo na pandemia

Por meio de um pronunciamento gravado, a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves participou da reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) em 22 de fevereiro. O portal gospel Pleno News noticiou o evento e destacou a afirmação da ministra em defesa da família. No entanto, a matéria não aponta a desinformação contida no discurso de Damares Alves, que abordou desde o combate à pandemia até o orçamento para os direitos das mulheres.

O governo não apresentou planos estruturados contra da covid-19

Logo na abertura de seu discurso, a ministra afirmou: “A Covid-19 impôs ao mundo inteiro grandes desafios na área dos direitos humanos, especialmente entre os grupos mais vulneráveis. Para enfrentar essa realidade, o governo brasileiro apresentou planos de contingência estruturados nos eixos saúde, proteção social e proteção econômica.”

De fato, a pandemia atinge com maior gravidade grupos mais vulneráveis. Uma nota técnica publicada em maio de 2020 pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que reúne acadêmicos da PUC-Rio, FioCruz, USP e IDOR,  concluiu que a taxa de letalidade da covid-19 é maior entre pretos e pardos em relação aos brancos. O estudo levou em conta cerca de 30 mil casos encerrados, ou seja, que já tiveram desfecho: óbito ou recuperação (alta). Destes, 37,9% dos brancos faleceram. Essa taxa sobe para 54,7% entre pretos e pardos. Essa taxa também é maior conforme o grau de escolaridade das pessoas diminui. Cerca de sete em cada dez dos casos daqueles sem escolaridade terminaram em óbitos. Entre aqueles com Ensino Superior, o índice cai para 22,5%. .

No entanto, apesar do Governo Federal ter custeado até dezembro de 2020 o Auxílio Emergencial, promovido o Programa de Manutenção do Emprego e Renda, não houve um plano estruturado para o combate à pandemia. Pelo contrário, o presidente Jair Bolsonaro minimizou diversas vezes a gravidade da doença em prol da prioridade às  atividades econômicas. Além disso, o presidente também agiu contra a vacinação no país.. 

Bereia já havia verificado como falsa a afirmação – repetida pelo próprio presidente – de que o Supremo Tribunal Federal teria impedido o Governo Federal de agir contra a pandemia. O STF determinou que União, Estados e Municípios têm responsabilidade concorrente diante da crise sanitária.

Cestas básicas citadas pela ministra são cumprimento de obrigação (e não iniciativa) do Governo

No pronunciamento à reunião da ONU, Damares Alves citou que mais de 700 mil cestas básicas foram distribuídas para indígenas e quilombolas. Entretanto, em setembro de 2020, a Justiça Federal exigiu do Governo a distribuição de cestas básicas e kits de higene para indígenas do médio do Xingu, no Pará, por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) enquanto durar a pandemia. 

À reportagem da Rádio Agência, a Funai esclareceu que cumpriria a decisão depois da apresentação de alguns critérios de identificação pelo juiz federal. A Fundação afirmou que já faz ações do tipo. De fato, entregas de cestas básicas e kits de higiene fazem parte do Plano de Enfrentamento e Monitoramento da Covid-19. O plano revisado foi entregue em setembro ao STF por determinação do ministro Luís Roberto Barroso. A versão, no entanto, não foi homologada por Barroso, que demandou um novo plano. Entre os argumentos da negativa está a consideração, por parte do ministro, que a redação foi genérica e vaga. 

Apenas 2,7% do valor empenhado às políticas para mulheres foi gasto

Damares Alves também disse à ONU que o orçamento de 2020 para os direitos das mulheres foi o maior dos últimos cinco anos. É o que divulga o site do Governo Federal sobre o trabalho da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM). No entanto, um levantamento da agência Gênero e Número aponta que apenas 2,7% do valor empenhado para o Direitos das Mulheres foram gastos pelo governo.

Nesse sentido, destaca-se o baixo investimento na Casa da Mulher Brasileira. O levantamento da Gênero e Número mostra que de R$ 61 milhões de reais empenhados foram gastos apenas R$ 66 mil, pouco mais de 0,1% Em junho de 2020, um pronunciamento do Governo Federal explicou que a execução de verba só tinha sido autorizada em maio daquele ano por conta da pandemia.

Um estudo da consultoria da Câmara dos Deputados, divulgado em junho, apontou que o Governo tinha gastado, até aquele momento, apenas R$ 5,6 milhões dos R$ 126,4 milhões previstos para políticas direcionadas aos direitos das mulheres, menos de 5%. A situação estava no contexto de um aumento de denúncias de violência contra mulher. Abril de 2020 apresentou um aumento de 35% dessas denúncias em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Defesa dos idosos e vacinação

A matéria do site gospel Pleno News ainda relata que a ministra destacou ações pelos idosos, como combate à violência e prioridade na vacinação no contra covid-19. É verdade que os números de denúncias de violência a idosos aumentaram. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação demonstram que foram feitas 25.533 denúncias ao Disque 100 entre março e junho de 2020. Esse número representa um aumento de 59% em relação ao mesmo período do ano passado. 

Além disso, é também verdadeiro que o Governo Federal agiu para investigar e punir a violência contra idosos. A fala da ministra se refere à Operação Vetus, uma cooperação do Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos e do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A ação aconteceu no DF e nos 26 estados e desde o início, em 1 de outubro, até 4 de dezembro, 567 pessoas foram detidas.

Já sobre a prioridade na vacinação contra a covid-19, idosos, de fato, fazem parte dos grupos prioritários, como divulgou o Ministério da Saúde, seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). A ordem pela qual os diferentes perfis de idosos (por idade, por exemplo) serão imunizados fica a cargo de estados e municípios. 

A prioridade aos idosos tem sido padrão em outros países que já iniciaram a vacinação. No Reino Unido, profissionais de casas de cuidados com este grupo de pessoas são a primeira prioridade, seguidos daqueles com 80 anos ou mais e os profissionais de saúde e assistência social. Os próximos da fila são outros grupos de idosos. Israel também priorizou idosos, como mostram os dados coletados pelo Our World In Data.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomenda que profissionais de saúde e de asilos sejam a primeira prioridade, seguidos de profissionais de atividades essenciais e pessoas com 75 anos ou mais. Nos EUA, cada estados define seu próprio plano de vacinação. Fica não-dito no pronunciamento da ministra, a não priorização da compra de vacinas por parte do governo do Brasil, que centralizou o processo e não tem um plano efetivo, diferentemente de outros países

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Bereia conclui que a matéria do site Pleno News é enganosa ao tratar do discurso da ministra Damares Alves. O texto apenas reproduz o que disse a ministra sem verificar se o pronunciamento condiz com as ações do governo federal. É verdadeiro que tem havido combate à violência contra idosos e que há prioridade a essa parcela da população na campanha de vacinação, o que significa seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde, o que tem já sido feito por muitos países.

Por outro lado, é impreciso afirmar que o governo federal foi responsável pela distribuição de kits de higiene e cestas básicas para indígenas, sem considerar que uma parcela dessas ações estiveram negligenciadas e, por isso, foram determinadas pela Justiça. Além disso, o plano da Funai para combate à covid foi mal elaborado e não foi homologado pelo STF.

De igual forma, as afirmações de Damares Alves quanto ao investimento pelos direitos das mulheres e sobre a iniciativa estruturada do Governo Federal contra a pandemia não se sustentam – a primeira pode ser confrontada com dados oficiais do próprio Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos  e a segunda, pela postura do presidente Jair Bolsonaro, que minimiza permanentemente a gravidade da situação e tem agido contra a vacinação.

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Foto de Capa: Print do vídeo/Reprodução

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Referências

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G1, https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/10/29/cresce-59percent-o-numero-de-denuncias-de-violencia-contra-o-idoso-no-brasil-durante-a-pandemia-da-covid-19.ghtml. Acesso em: 01 de março de 2021.

G1, https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/12/04/operacao-combate-crimes-de-violencia-contra-idosos-em-todo-pais.ghtml. Acesso em: 01 de março de 2021.

Governo Federal, https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/entenda-a-ordem-de-vacinacao-contra-a-covid-19-entre-os-grupos-prioritarios. Acesso em: 01 de março de 2021.

Nações Unidas, https://news.un.org/pt/story/2020/12/1735372. Aceso em: 02 de março de 2021.

Gov. UK, https://www.gov.uk/government/publications/covid-19-vaccination-care-home-and-healthcare-settings-posters/covid-19-vaccination-first-phase-priority-groups. Acesso em: 01 de março de 2021.

Our World In Data, https://ourworldindata.org/vaccination-israel-impact. Acesso em: 01 de março de 2021.

CDC, https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/recommendations.html. 01 de março de 2021.

É enganoso post no Facebook sobre morte de médico por covid-19 após tomar a vacina

* Investigado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia. Verificado por Poder360, Jornal do Commercio, Correio 24 horas e Amazônia Real. Publicado originalmente no Comprova.

Publicação feita na página do Facebook do site Pleno News induz a um engano ao atrelar a morte de um médico à vacina contra covid-19. No Facebook, o post traz apenas uma foto, o título e uma linha de texto que coloca em dúvida a eficácia da vacina. Nos comentários do post, diversos leitores interpretaram a publicação como uma evidência de que as vacinas não funcionam, o que não é verdade.

O post em questão se refere ao caso do médico Fernando Ramalho Diniz, diretor do Hospital Santa Isabel, na cidade de João Pessoa, na Paraíba. Ele morreu em 13 de fevereiro, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em decorrência da covid-19. O cirurgião-geral tomou apenas a primeira dose da CoronaVac no dia 20 de janeiro. A aplicação da segunda dose em profissionais de saúde no hospital em que ele trabalhava estava prevista para os dias 15 e 16 de fevereiro, seguindo as recomendações da bula da CoronaVac.

O fato de Diniz ter tomado uma dose da vacina e ter sido vítima de covid-19 não significa que a vacina não funcione. Especialistas procurados pelo Comprova reiteram que a CoronaVac precisa de uma segunda dose e destacam que, mesmo assim, é preciso manter as medidas de proteção até que haja a imunização coletiva, ou de rebanho, da população. Com apenas uma dose, portanto, o médico não estava protegido.

Após a aplicação da primeira dose, a produção de anticorpos no organismo é mais intensa a partir do décimo-quarto dia e, após a segunda dose, o auge dessa produção é atingida também depois de 14 dias, totalizando, em média, 36 dias para a proteção primária contra a covid-19. Mesmo depois da vacinação é, no entanto, necessário manter o distanciamento físico, o uso de máscaras e a higienização frequente das mãos. Isso porque a imunização contra uma doença como a covid-19 se dá de maneira coletiva e não individual.

Confusões como a causada pela postagem verificada são comuns nas redes sociais. Elas ocorrem quando os títulos não são fiéis ao conteúdo de notas e reportagens ou quando valorizam apenas uma parte do conteúdo, provocando interpretações erradas ou enviesadas especialmente naqueles leitores que não acessam os links para obter informação mais detalhada e o devido contexto.

Como verificamos?

Procuramos informações sobre a morte de Fernando Ramalho Diniz em portais como G1 e Paraíba Online, além do site da prefeitura de João Pessoa (PB), que confirmam a causa como AVC em decorrência da covid-19, bem como a internação do médico pela doença 10 dias antes do falecimento. Consultamos o Vacinômetro da cidade paraibana, que confirmou que Fernando Ramalho recebeu a primeira dose da vacina em 20 de janeiro.

Por WhatsApp, entramos em contato com o Pleno News. Os responsáveis pelo site fizeram diversos comentários sobre iniciativas de verificação de informações, mas não entraram no mérito do post verificado.

Retomamos verificação anterior do Comprova e falas de especialistas sobre a necessidade de tomar os cuidados de prevenção contra o coronavírus antes da segunda dose e até que se atinja a imunidade de rebanho.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de fevereiro de 2021.

AVC em decorrência da covid-19

O médico Fernando Ramalho Diniz faleceu no dia 13 de fevereiro, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em decorrência da covid-19. Segundo o jornal Paraíba Online, o médico ficou internado durante 10 dias no Hospital Unimed, após ser diagnosticado com covid-19. O mesmo veículo afirma que ele recebeu a primeira dose da CoronaVac em janeiro.

Primeira dose da CoronaVac

A prefeitura de João Pessoa disponibiliza no portal de transparência um “Vacinômetro”, com dados dos vacinados no município. Os dados confirmam que Fernando Ramalho Diniz recebeu a primeira dose da vacina no dia 20 de janeiro no Hospital Santa Isabel.

Outra matéria no site da Prefeitura de João Pessoa confirma que o Hospital Santa Isabel, do qual Fernando era diretor, recebeu doses da vacina CoronaVac nos dias 20 e 21 de janeiro para aplicação nos profissionais de saúde. O texto fala ainda da importância de não “baixar a guarda” após a vacinação.

A segunda dose da CoronaVac começou a ser aplicada em João Pessoa no dia 15 de fevereiro, conforme o cronograma de vacinação do município. Segundo a Secretaria de Saúde de João Pessoa, a previsão para administração da segunda dose no Hospital Santa Isabel ocorre entre 16 e 17 de fevereiro. O cronograma segue as recomendações da bula da CoronaVac, que indica que a segunda dose pode ser aplicada entre 2 e 4 semanas após a primeira.

Imunização individual e coletiva

Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vacina tem o papel de reduzir o risco de contágio de uma doença por meio da indução de uma defesa natural do corpo humano. A partir do momento em que a vacina é aplicada, inicia-se um ciclo de imunização que passa por três etapas principais: o reconhecimento do antígeno, podendo ser um vírus ou uma bactéria; a produção de anticorpos para atacar o corpo estranho; e o desenvolvimento de uma memória celular no sistema imunológico que seja capaz de inocular a doença da próxima vez em que o indivíduo seja exposto àquele vírus ou bactéria.

Isso acontece porque o sistema de defesa humano trabalha com mecanismos de memória celular. Uma vez expostos a uma ou mais doses de uma vacina, uma pessoa pode, a depender da vacina, ficar protegida contra uma doença durante anos, décadas ou mesmo uma vida inteira. No lugar de tratar os sintomas de uma doença após sua ocorrência, as vacinas impedem que o corpo adoeça. Esse procedimento é válido para todas as vacinas, e não somente contra a covid-19.

As células que indicam essa proteção são chamadas de IgG (imunoglobulina G). Trata-se de uma classe de anticorpos que, quando detectados, indicam contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se é recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso do coronavírus, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer, segundo informações de Weissmann.

Somente a partir do décimo-quarto dia da aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19, o organismo começa com mais intensidade o anticorpo IgG. No caso da CoronaVac, ministrada no médico Fernando Ramalho Diniz, a segunda dose é aplicada com intervalo de 2 a 4 semanas da primeira dose, conforme a bula do fabricante disponível no site do Ministério da Saúde . Após esse período, a produção de IgG também terá seu auge a partir do décimo quarto dia. O processo completo de imunização dura 36 dias, em média, a partir da aplicação da primeira dose.

De acordo com Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), “a imunidade primária só ocorre após a segunda dose. Mas já há uma proteção parcial após duas semanas da primeira dose”, explica. Essa proteção primária não exclui a necessidade de se manter as medidas de prevenção, seja durante a imunização individual, ou durante a imunização coletiva.

Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também afirma que a imunização está relacionada a uma proteção individual e coletiva. “Nenhuma vacina tem 100% de eficácia e protege todas as pessoas”, afirmou ele em uma verificação publicada pelo Comprova neste mês. Deste modo, uma parte das pessoas vacinadas não desenvolverá a proteção individual e só estará protegida com o acúmulo de pessoas vacinadas, o que, com o passar do tempo, reduzirá a circulação do vírus. Por isso, ele recomenda manter as demais regras de prevenção enquanto não se alcança a imunidade coletiva (ou de rebanho): distanciamento físico, uso de máscara e higienização frequente das mãos.

Weissmann explica ainda que a imunidade coletiva é configurada quando um grande percentual de uma população se torna imune a um determinado agente infeccioso. Tradicionalmente, isso ocorre através de vacinação.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A publicação analisada teve mais de 800 compartilhamentos e 600 comentários, a maioria colocando em dúvida a eficácia da vacina.

Os imunizantes e a vacinação contra a covid-19 são alvos frequentes de desinformação. Compartilhamentos como este visam desacreditar a estratégia de imunização e colocar em xeque a eficácia das vacinas, algumas cientificamente comprovadas, como a CoronaVac.

O Comprova já desmentiu um post que afirmava haver risco da imunogenicidade da CoronaVac, e um outro que utilizava vídeo de 2018 para enganar sobre morte de idosa após vacinação.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

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Foto de Capa: Projeto Comprova/Reprodução

Vacinação obrigatória não é ilegal e já é prática no Brasil

Postagens que afirmam que a vacinação obrigatória é ilegal têm circulado em perfis e páginas religiosas em mídias sociais. Uma delas diz que o artigo 15 da Lei 10.406, de 2002, ampara aqueles que se opõem à obrigatoriedade da vacina.

Reprodução/Instagram

Vacinas precisam ter eficácia comprovadas para serem administradas

A postagem se refere ao seguinte trecho da lei que estabelece introdução às normas do Direito Brasileiro: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”. 

Pela interpretação que faz da lei, o conteúdo leva à compreensão de que a vacina gera risco de morte e, portanto, uma campanha obrigatória de imunização entraria em conflito com o direito de um cidadão de se negar a tratamento médico ou intervenção cirúrgica. Vale lembrar que as vacinas aprovadas em diversos países ao redor do mundo têm sua eficácia comprovada. Além disso, é parte do protocolo nacional que a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisa autorizar o uso dos imunizantes para a vacinação acontecer no país, como Bereia já checou em outra reportagem.

Decisão do STF diz que vacinação obrigatória é constitucional

Entretanto, a leitura que evoca o trecho da Lei 14.006 não foi sustentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em decisão recente sobre a vacinação obrigatória. Em 17 de dezembro de 2020, o STF declarou que a vacinação obrigatória é constitucional. A decisão também diz que pais sejam obrigados a levar seus filhos para vacinação, conforme o calendário de imunização, mesmo quando for contra as suas convicções. Isso porque o direito à saúde coletiva das crianças e dos adolescentes não se sobrepõe à liberdade de pensamento dos responsáveis, defendeu o ministro Luis Roberto Barroso.

Além de Barroso, o ministro do STF Ricardo Lewandowski também relatou a decisão e defendeu a constitucionalidade da vacina obrigatória, levando em conta também a possibilidade de vacinação compulsória, quando são aplicadas restrições a quem não se vacinar.

A Corte também fixou uma tese em que explicou que vacinação compulsória não é vacinação forçada e ainda determinou alguns parâmetros para sua aplicação. Entre eles estão aspectos como: a necessidade de base científica, ampla informação sobre eficácia e contraindicação, distribuição universal e gratuita. Por fim, a tese diz que a implementação pode ser feita por todos os entes da federação, respeitadas suas esferas de competências.

O que significa vacinação obrigatória

A obrigatoriedade da vacinação no Brasil está prevista na Constituição desde 1975. A Lei 6.259 promulgada naquele ano já apontava para a obrigatoriedade de imunização da população por vacinas e nela são previstas até mesmo medidas estaduais para o cumprimento das vacinações.

O fato de ser obrigatória instituiu o calendário nacional, que é atualizado conforme as vacinas necessárias destinadas a cada faixa etária específica que estiverem disponíveis à população através do Programa Nacional de Imunizações (PNI). 

O não cumprimento das vacinas previstas no Calendário Vacinal Nacional implica em sanções, como o impedimento de se alistar no exército, receber benefícios sociais do governo ou se cadastrar em creches ou se matricular nas demais instituições de ensino, previstas na  Portaria nº 597.

Além disso, a Lei 13.979, de 2020, sancionada pelo presidente Bolsonaro para enfrentamento da pandemia, estabelece a vacinação como uma das medidas de combate ao coronavírus.

Por “obrigatoriedade da vacinação” entende-se que, caso a imunização contra a Covid-19 seja estabelecida como obrigatória no Brasil, o seu não cumprimento implicaria em sanções e restrições. Elas não significam medidas extremas como prisões ou restrições severas, como algumas pessoas têm divulgado, espalhando pânico pelas redes. 

Conforme comparação feita por autoridades no assunto, a obrigatoriedade da vacina, à qual a população está acostumada, se assemelha à obrigatoriedade do voto no Brasil. O voto político é obrigatório no país, mas sem condicionar isso a punições severas como prisões, multas exorbitantes ou sanções severas.

Bereia classifica as postagens em mídias sociais que informam que a vacinação obrigatória é ilegal, e evocam o artigo 15 da Lei 10.406, de 2002, como falsas. A obrigatoriedade de imunização da população por vacinas é prática antiga no país e está amparada por leis com vistas à proteção da saúde de cidadãos e cidadãs. Conteúdos que insistem neste tema da ilegalidade da obrigatoriedade da vacinação são desinformativos e colocam a vida de pessoas que nele acreditam em risco. 

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Referências

Planalto, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 22 dez. 2020.

Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/vacina-da-pfizer-nao-causou-mortes-anvisa-tem-prazo-para-avaliar-uso-de-imunizantes-no-brasil/https://coletivobereia.com.br/vacina-da-pfizer-nao-causou-mortes-anvisa-tem-prazo-para-avaliar-uso-de-imunizantes-no-brasil/. Acesso em: 22 dez. 2020.

Consultor Jurídico, https://www.conjur.com.br/2020-dez-17/stf-decide-vacinacao-obrigatoria-constitucional. Acesso em: 22 dez. 2020.

PORTARIA Nº 597, DE 08 DE ABRIL DE 2004 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2004/prt0597_08_04_2004.html Acesso em 22 de dezembro de 2020

LEI No 6.259, DE 30 DE OUTUBRO DE 1975. B http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6259.htm Acesso em 22 de dezembro de 2020

Planalto, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13979.htm. Acesso em: 22 dez. 2020.

O que a lei e a ciência afirmam sobre a vacinação obrigatória no Brasil.

https://www.aosfatos.org/noticias/o-que-lei-e-ciencia-afirmam-sobre-vacinacao-obrigatoria-no-brasil/ Acesso em 22 de dezembro de 2020

Com anúncio de testes no país, vacina contra Covid-19 continua sendo alvo de desinformação nas redes sociais

Mais uma vez, a deputada católica Bia Kicis (PSL/DF) desponta nas mídias sociais digitais com discursos que ratificam sua militância antagônica à obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19.

No último dia 16 de outubro, ela retuitou o post do perfil Médicos pela Liberdade, autointitulado como “grupo em prol das liberdades individuais e contra o totalitarismo disfarçado de ciência”.

Fonte: Perfil Bia Kicis no Twitter

A publicação, que parabeniza a ação do grupo, gerou 3,4 mil curtidas, 769 retuítes e 61 comentários. Já o conteúdo original, publicado no perfil Médicos pela Liberdade, angariou 6,9 mil curtidas, 2,3 mil retuítes e 190 comentários.

Fonte: Perfil Médicos pela Liberdade no Twitter

O post foi motivado após o governador de São Paulo, João Doria, no mesmo dia, se pronunciar sobre a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 em todo o estado paulista, caso ela seja aprovada nos testes e tenha o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo Doria, em entrevista à Agência Brasil, apenas pessoas com atestado médico serão liberadas de receber o imunizante.

“Em São Paulo a vacinação será obrigatória, exceto para quem tenha orientação médica e atestado médico de que não pode tomar a vacina. E adotaremos medidas legais se houver contrariedade nesse sentido”, disse Doria, em entrevista coletiva em São Paulo.

O governador revelou ainda que os testes com a vacina chinesa CoronaVac deveriam ser finalizados no final da semana e os resultados desses testes deveriam ser anunciados em coletiva à imprensa na segunda-feira, 19. Contudo, matéria do UOL, publicada no dia 19 de outubro, noticiou que Doria recuou e adotou um tom mais cauteloso, dizendo que ainda não seria possível precisar quando as doses estarão disponíveis. Anteriormente, o governador Doria havia dito que a Coronavac, vacina contra o coronavírus que será produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, poderia começar a ser aplicada em profissionais de saúde a partir de 15 de dezembro, caso fosse aprovada em todos os testes. Contudo, durante a entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes na tarde do dia 19, ocasião do recuo de Doria, o diretor do Instituto Butantan Dimas Covas explicou que “as perspectivas são otimistas, mas não podemos dar data precisa de quando isso vai acontecer. Esperamos que até o final desse ano”.

Na ocasião da coletiva, Doria também disse que a vacina do Butantan é a que está em estágio mais avançado entre todas as que estão em produção no mundo. “Os primeiros resultados do estudo clínico comprovam que, entre todas as vacinas, a Coronavac é a mais segura e a que apresenta melhores índices e mais promissores. É, de fato, a vacina mais avançada neste momento”, declarou. O governo do estado divulgou hoje os resultados dos testes da Coronavac com nove mil voluntários no país. De acordo com Covas, a vacina teve poucos efeitos colaterais e os resultados no Brasil comprovam que a vacina é segura.

Segundo a matéria do UOL, os resultados apresentados mostraram que 35% dos voluntários apresentaram algum tipo de efeito colateral após a aplicação da vacina, sendo dor no local de aplicação a mais comum, relatada por 18% dos que receberam a dose. Não foram apresentadas reações de grau 3, que são mais graves. Apenas 0,1% dos voluntários tiveram febre. “As outras reações foram insignificantes do ponto de vista estatístico. O mais frequente foi dor de cabeça, que pode ter relação com vacina ou não. Os outros sintomas foram muito baixo”, afirmou Covas. “Portanto é a vacina mais segura não só no Brasil, mas no mundo”.

Nas mídias sociais, grupos antivacina seguem usando o espaço para dar eco a conteúdo enganoso e gerar desconfiança sobre futura campanha de vacinação. No caso do perfil Médicos pela Liberdade, a postagem mostra a resistência dos profissionais frente à suposta obrigatoriedade de vacina contra o vírus, classificado como “vírus chinês’, e ainda aponta que esta foi produzida “a toque de caixa, sem nenhum estudo a médio e longo prazo”, fato que dividiu a opinião entre os usuários e seguidores.

Entenda o movimento antivacina

Em 2019 o movimento antivacina passou a figurar na lista das dez maiores ameaças à saúde global, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) A informação consta no Repositório Institucional da Fiocruz. Segundo a organização, o movimento seria um dos fatores responsáveis pelo aumento de 300% no número de casos de sarampo no mundo todo, sendo que, a doença havia sido oficialmente erradicada no Brasil em 2016.

Desconfiança em relação às formas de imunização oferecidas pelo governo e teorias da conspiração sobre os efeitos das vacinas são elementos que sustentam o movimento antivacina pelo mundo. O fenômeno não é recente, tanto é que, a mais de um século, em 1904 ocorreu a revolta da vacina no Rio de Janeiro, movimento de motim popular que rejeitava a obrigatoriedade da vacina contra a varíola. No entanto, a comunidade médica acredita que os movimentos mais recentes e organizados foram desencadeados por um estudo publicado pelo médico britânico Andrew Wakefield na renomada revista de ciência Lancet, em 1998.

Nesse estudo, Wakefield relacionava a vacina tríplice viral, que previne contra caxumba, sarampo e rubéola, à manifestação de quadros de autismo. O médico teria examinado 12 crianças para seu artigo, das quais oito supostamente manifestaram autismo duas semanas após receberem a vacina. Segundo ele, o sistema imunológico das crianças havia sofrido uma sobrecarga com a imunização.

O estudo foi descartado após descobertas de que Wakefield, estava envolvido com advogados que queriam lucrar a partir de processos contra fabricantes de vacinas. Além disso, ele utilizou dados falsos e alterou informações sobre os pacientes.

Portanto, observa-se que dados falsos, mesmo hoje, são um dos principais argumentos utilizados pelo movimento antivacina, que relaciona não só a tríplice viral, como várias outras vacinas à manifestação do autismo.

Outro sistema de imunização que também foi e ainda é alvo de boatos e fake news é a vacina que previne contra o papilomavírus humano (HPV). Ela começou a ser distribuída em 2014 tendo como público-alvo garotas adolescentes entre nove e 14 anos e visa combater o vírus, sexualmente transmissível e causador de doenças como câncer no colo do útero. Na época em que surgiu a vacina contra o HPV, o boato circundante era o que o produto causaria paralisia, segundo matéria publicada no UOL. Contudo, tais alegações foram checadas e comprovadamente declaradas falsas por pesquisadores da área.

No que tange o combate à pandemia de Covid-19, a elaboração e distribuição de uma vacina eficaz no combate ao vírus é a principal esperança das autoridades e da população, mas, mesmo diante desse cenário de expectativa, movimentos antivacinas se fortalecem a partir das incertezas e inseguranças fomentadas pela pandemia e ganham visibilidade, fazendo circular diversos conteúdos falsos ou desinformativos, que atribuem mortes em decorrência de vacinações e substâncias tóxicas que comporiam as vacinas.

Exemplo de conteúdo enganoso sobre vacinação (Fonte: Internet)

O caminho da desinformação sobre a vacina contra o vírus

A cada novo fato sobre os testes de vacinação contra a Covid-19, um turbilhão de desinformação avança por todo o país, invadindo as redes sociais digitais e dividindo as opiniões na sociedade. Percebe-se que, para além da pandemia de uma grave e mortal doença, outra ainda mais sutil e tanto quanto perigosa vem se desenvolvendo: a onda de notícias falsas, desinformativas e enganosas.

A constatação pode ser justificada pelos números levantados pela União Pró-Vacina – UPVacina, um grupo de instituições ligadas à Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto, cujo objetivo é esclarecer informações falsas sobre vacinas. Segundo o levantamento, houve um aumento de 383% em postagens contendo postagens com conteúdos falsos ou distorcidos envolvendo o tema, o que aponta que a desinformação quase quintuplicou em apenas dois meses.

De acordo com informações apresentadas pela UPVacina, a análise foi feita com base em postagens dos dois principais grupos antivacina brasileiros no Facebook, os quais já haviam sido objeto de outro estudo da entidade em março. Entre os dias 1º de maio e 31 de julho, foram identificadas no total 155 postagens ligadas à vacina em desenvolvimento contra a covid-19. O volume de interações chama a atenção: foram 3.282 reações, 1.141 comentários e 1.505 compartilhamentos.

A rapidez com que o número de postagens cresce no decorrer do tempo impressiona. Durante todo o mês de maio, apenas 18 postagens abordavam assuntos ligados à vacina contra a covid-19. Em junho, elas chegaram a 50 e, em julho, a 87.

Fonte: União Pró-Vacina

A análise, apresentada no mês de agosto, também levou em conta os números por períodos. Assim, percebeu-se que em dois há uma frequência maior na disseminação de conteúdo falso: entre 11 e 20 de junho e entre 21 e 31 de julho. Os picos coincidem com informações bastante difundidas pela imprensa e ligadas à temática. Entre elas estão o anúncio da parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac Life Science para a produção de uma vacina contra a covid-19; o início dos testes dessa vacina no País; e os primeiros testes, no Brasil, de outra vacina para combater a doença, desenvolvida pela Universidade de Oxford.

Assim como na análise anterior da UPVacina nos mesmos grupos, há um pequeno número de pessoas produzindo a maior quantidade das postagens. De acordo com a pesquisa, 56 autores foram responsáveis por todas as 155 postagens. Cinquenta deles publicaram 52% (81) do total e os outros seis, 48% (74).

Os resultados apontaram também que a grande maioria das postagens gira em torno de possíveis perigos e ineficácia das vacinas (24,52%), além de uma variada gama de teorias da conspiração (27,10%). Contudo, outras temáticas também se destacam pelo grau de desinformação que trazem. Uma delas já era bastante citada pelos grupos antivacina: a de que vacinas podem alterar o DNA dos seres humanos, que aparece em 14,84% das postagens.

Até mesmo o empresário americano Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft, está sendo alvo de grupos antivacina, segundo dados da pesquisa da UPVacina. No rol das notícias enganosas, que aparece em 14,19% das postagens, está a informação enganosa de que ele também fomenta pesquisas e o desenvolvimento de vacinas, patrocinando estudos por meio da Fundação Bill and Melinda Gates. As postagens geralmente associam essa atividade a um possível controle populacional realizado a partir das vacinas ou até mesmo a teorias da conspiração envolvendo o controle da mente humana usando chips implantados com a aplicação dos imunizantes.


Fonte: União Pró-Vacina

De acordo com a análise de UPVacina, um dos vídeos com informações falsas e alarmistas sobre as vacinas, que apresentou maior engajamento entre os usuários, foi produzido pelo jornalista e servidor público da Câmara dos Deputados, Cláudio Lessa, que ganhou destaque pela publicação no site Jornal da Cidade Online, citado na CPMI das Fake News, e pelo compartilhamento na página da deputada Bia Kicis (PSL-SP), investigada em inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo financiamento de notícias falsas.

Fonte: YouTube

No vídeo, Lessa afirma que vacinas modificam o DNA do ser humano e contêm “nanopartículas de controle social” – argumentos recorrentes entre grupos antivacina e que têm tido maior alcance devido ao alto volume de buscas pelas vacinas em fase de testes. O servidor ainda se refere à vacina como “lixo que está sendo produzido” contra a “peste chinesa” e, sem citar quaisquer referências e atribuindo as afirmações a “opiniões” de “várias pessoas”, apresenta informações falsas sobre a imunização. Na ocasião, agências de checagem de informações, como Projeto Comprova, Agência Lupa e Aos Fatos classificaram as alegações do vídeo como falsas.

De acordo com matéria publicada na Carta Capital em 08 de outubro, Lessa consta como Analista Legislativo da Câmara dos Deputados e, segundo o Portal de Transparência da Câmara, ganha mais de 34 mil reais mensalmente como salário bruto. Ele chegou à Casa por indicação política do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que atualmente cumpre pena domiciliar por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Já a deputada católica Bia Kicis Kicis recebe mais de 33 mil reais como deputada federal.

Carta Capital traz ainda outros números importantes para se entender a dimensão da questão. As publicações no site e na página de Kicis, juntas, tiveram 232,3 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos no Facebook, sendo feitas respectivamente em 24 e 25 de setembro, segundo a análise da UPVacina. Os estudos mostraram também que o post e a matéria foram compartilhados por 79,7 mil usuários, enquanto as outras sete notícias provenientes de sites jornalísticos com maior engajamento no mesmo mês, como Carta Capital, G1 e Folha de S. Paulo, tiveram 79,6 mil compartilhamentos em conjunto.

Seguindo a mesma proposição de checagem, em setembro, o Coletivo Bereia verificou dois vídeos que viralizaram em mídias sociais no referido mês, especialmente no WhatsApp . O primeiro apresenta um suposto médico que fala contra a testagem e vacinação em massa, pois segundo ele são um projeto de redução da população mundial. O segundo vídeo trata da aferição de temperatura na testa, que supostamente atinge a chamada glândula pineal e pode prejudicar o funcionamento do corpo. Ambos foram categorizados como falsos, baseados em teorias da conspiração com fundo religioso, mas que não se comprovam com dados científicos. Este tipo de conteúdo tem sido disseminado em mídias sociais para causar pânico, alimentar a relativização da gravidade da pandemia de coronavírus e diminuir o engajamento nas medidas preventivas, podendo causar prejuízos graves à população.

No caso da nova postagem checada, que trata sobre a total resistência do grupo Médicos pela Liberdade à vacinação contra a Covid-19, chancelada pela deputada Bia Kicis, o Coletivo Bereia a categoriza como enganosa. O conteúdo traz o rótulo de“vírus chinês” para o coronavírus, tipificação descartada por organismos internacionais e descabida para qualquer organização reconhecida. Apresenta também, a afirmação de que a vacina teria sido produzida “a toque de caixa”, argumento falso, uma vez que as instituições de pesquisa seguem os protocolos internacionais no tocante a processos e prazos. Da mesma forma, dizem que não foi oferecido estudo a médio e longo prazo, argumento que, por si só, não aponta qualquer informação precisa e devidamente apurada.

É importante ressaltar que no dia 21 de outubro, o presidente em exercício, Jair Bolsonaro, causou polêmica no Twitter ao afirmar que o governo só irá disponibilizar a vacina se comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela ANVISA, ratificando que não é possível justificar um aporte financeiro bilionário em um medicamento que “sequer ultrapassou sua fase de testagem”. Tal proposição adiciona mais um fator desinformativo que circula nas mídias envolvendo o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 no Brasil.

Fonte: Twitter/Reprodução

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Foto de Capa: Youtube/Reprodução

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Referências de checagem

Covid-19: vacina será obrigatória em SP quando estiver disponível. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-10/covid-19-vacina-sera-obrigatoria-em-sp-quando-estiver-disponivel Acesso: 19 de outubro de 2020.

Notícia falsa associa vacina da Covid a ‘nanopartículas de controle social’. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/saude/vacina-da-covid-19-noticia-falsa-e-a-mais-vista-sobre-o-tema-no-facebook-em-setembro/ Acesso: 19 de outubro de 2020.

Vídeos falsos alegam vacinação e medição de temperatura como forma de controle da população https://coletivobereia.com.br/videos-falsos-alegam-vacinacao-e-medicao-de-temperatura-como-forma-de-controle-da-populacao/ Acesso em 20 de outubro de 2020.

“Entenda o que é o movimento antivacina” Guia do Estudante, Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/entenda-o-que-e-o-movimento-antivacina/ Acesso em 20 de outubro de 2020

“O movimento antivacina e suas ameaças”. Disponível em: https://periodicos.fiocruz.br/pt-br/content/sarampo-o-movimento-antivacinas-e-suas-amea%C3%A7as Acesso em 20 de outubro de 2020

“Universo antivacinas se expande em plena Pandemia e aumenta desinformação”. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/06/25/universo-antivacina-se-expande-em-plena-pandemia-e-aumenta-desinformacao.amp.htm#aoh=16032411954849&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&amp_tf=Fonte%3A%20%251%24s Acesso em: 20 de outubro de 2020

“Vacina de HPV pode causar paralisia”. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2017/12/06/vacina-de-hpv-pode-causar-paralisia-ela-pode-passar-o-virus.htm. Acesso em: 20 de outubro de 2020

“Movimento antivacina: como surgiu e quais consequências ele pode trazer”. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/movimento-antivacina-como-surgiu-e-quais-consequencias-ele-pode-trazer/. Acesso em 20 de outubro de 2020

“Movimento antivacina e suas ameaças”. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/33659. Acesso em 26 de outubro de 2020.

União Pró-vacina. Disponível em: https://sites.usp.br/iearp/uniao-pro-vacina/. Acesso em 11 de outubro de 2020.

“Nota do Gabinete do Ministro Alexandre de Moraes”. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=444198&ori=1. Acesso em 26 de outubro.