Circula em sites de notícias e portais de organizações religiosas que a iluminação vermelha do Cristo Redentor, na última semana de novembro, seria uma homenagem a cristãos perseguidos no mundo. A informação é falsa. A iluminação do Cristo Redentor se deve à campanha de doação de sangue dos hemocentros do Rio de Janeiro.
No site da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), instituição católica de apoio a projetos e missões sediada no Vaticano, a informação é de que “a ACN celebra na quarta-feira, 25 de novembro, a Red Wednesday (quarta-feira vermelha) – uma ação simbólica que ilumina de vermelho igrejas, edifícios públicos e monumentos em todo o mundo, como o Cristo Redentor, com o intuito de chamar a atenção para a situação dos cristãos perseguidos. A data marca também o lançamento do relatório “Presos em Nome da Fé”.”
No texto, o Cristo Redentor é citado como um exemplo dentre os monumentos que ACN teria intencionado iluminar, mas não diz que ele seria iluminado neste ano e nesta data em particular. A informação, portanto, foi tirada de contexto e usada pelos sites para repercutir que a iluminação que ocorreria esse ano seria em prol da causa da ACN.
No entanto, a ACN não controla a iluminação do Cristo Redentor – o órgão responsável é o Santuário Cristo Redentor, ligado à Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em seu site oficial, o Santuário Cristo Redentor afirma que a iluminação é para promover as doações para os hemocentros – o jogo de luz ilumina de vermelho a escultura de baixo para cima fazendo alusão a uma bolsa de sangue se enchendo.
Em entrevista ao portal G1, o reitor do Santuário Cristo Redentor, Padre Omar, afirma que “o objetivo dessa iluminação especial é reconhecer a importância daqueles que já são doadores de sangue, por seu gesto de generosidade, e incentivar aqueles que ainda não se tornaram doadores a darem esse passo, para que haja o constante abastecimento dos bancos de sangue.”
A ação conta ainda com o apoio de Diego Ribas, jogador do Flamengo, que atua como embaixador da campanha. Para a Agência Brasil, Ribas disse:
“Me senti muito honrado em ser convidado a fazer parte dessa campanha incrível. Doar sangue é algo que precisa ser reforçado todos os dias e estamos aqui para lembrar disso durante essa data tão importante”.
Diego Ribas
O Bereia classifica a informação como falsa. Ambas as instituições, ACN e CNBB, não têm autoridade para determinar a coloração do Cristo. A autoridade responsável é o Santuário Cristo Redentor, que responde à Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em seu site oficial, o Santuário Cristo Redentor afirma que a iluminação é uma campanha para os hemocentros da cidade, o que foi amplamente divulgada em mídias brasileiras. Portanto, a informação de que o Cristo Redentor seria iluminado de vermelho em homenagem aos cristãos perseguidos pelo mundo é falsa, servindo apenas para alimentar o uso político da ideia de que há perseguição a cristãos no continente.
Inúmeras igrejas ao redor do Brasil têm demonstrado que a ideia de culto vai muito além de reuniões ou encontros. Como afirmou o teólogo americano Paul Waitman Hoon em seu livro “The Integrithy of Worship”, em 1971 o “culto litúrgico também é vida”.
Vários pastores e pastoras acreditam que a sociedade precisa ser envolvida por este tipo de culto cristão, com caráter profundamente social e orgânico. Sendo assim, o Coletivo Bereia fez uma pesquisa nos 3 estados brasileiros mais populosos, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e verificou que muitas igrejas têm servido o seu Estado e às suas comunidades em nome do bem comum.
Confira:
SÃO PAULO
Igrejas assinam parceria com a Prefeitura
No estado de São Paulo, vários pastores e líderes se uniram sob a
liderança do Pastor e médico, Carlos Bezerra Júnior, para colocar suas igrejas
à disposição do poder público diante do cenário crítico de pandemia.
O termo de compromisso em parceria com a Prefeitura do Estado foi assinado dia 23 de março por 63 lideranças das mais diversas denominações. Mas segundo Bezerra ainda há igrejas interessadas na parceria.
Bereia entrevistou o
pastor Carlos Bezerra, que também é secretário-executivo da Prefeitura de São
Paulo.
Bereia: Nesta parceria com a Prefeitura de São Paulo, qual a contrapartida da Igreja?
Carlos Bezerra: Ceder espaços de acordo com as demandas específicas da Prefeitura, especialmente aquelas ligadas às Secretarias de Saúde e de Assistência e Desenvolvimento Social. As áreas do templo podem ser usadas para recebimento de doações, armazenamento de insumos como, por exemplo, testes para o coronavírus, medicamentos, espaços para vacinação, bem como para o acolhimento da população em situação de rua, que são os mais vulneráveis.
Bereia: Como o senhor analisa a responsabilidade social da igreja em um momento crítico como este?
Carlos Bezerra: A Igreja e os discípulos de Jesus têm um papel crucial nessa crise humanitária, de acolhimento e parcerias com o poder público, que são fundamentais. A Igreja também deve promover a paz na cidade e semear esperança. A Igreja é, sem dúvida nenhuma, hoje, um lugar de abrigo, mais do que nunca, para os cansados, aflitos, doentes… Um instrumento que Deus vai usar sinalizando a paz e a esperança em tempos de tanto desassossego.
Confira a relação de igrejas que assinaram o termo de compromisso com a Prefeitura de São Paulo:
PASTORES/AS
IGREJAS
Carlos Alberto de Quadros Bezerra
Comunidade da Graça
Ademario Inacio da Silva Júnior
Templo Batista em Vila São José – Zona Sul
Ademir Pereira Nunes
Igreja Batista Filadélfia – Lausane Paulista
Adilson de Souza Brandão
Primeira Igreja Batista em Vila Formosa
Aldo Gallo
Igreja Vida
Alexandre Passos
Batista Renovada Deus e Fiel
André Peri Alto
Ministério Curando as Nações
Antonio Pires
Igreja Primitiva Atos dos Apóstolos – IPAP
Arthur Cavalcante
Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade-Campos Elíseos
Atilio Cruz Neto
Primeira Igreja Evangélica Batista em Guaianases
Bruno Cesar Lopes Ramos
PIB Mogi das Cruzes
Clayton Rodrigues Da silva
Comunidade da Graça em José Bonifácio
Cyaton Nandes
Igreja Ap. Torre Forte
Daniel Antonio dos Santos
Comunidade Cristã na Zona Leste (Vila Formosa)
Daniel Checchio
Comunidade Evangélica do Bixiga
Diego Menin
Igreja Lírio dos Vales em AE Carvalho.
Ed René Kivitz
Igreja Batista de Água Branca
Edson Rebustini
Igreja Bíblica da Paz
Elaine Nicolau Vargas
Igreja Unida – Vila Carrão
Eliane Maria da Silva Ribeiro
Igreja Ev. Pent. Cristo Está Voltando
Elias Rodrigues de Moura
Igreja Somos um
Eliezer Victor Pereira Ramos
Primeira Igreja Batista da Penha
Evandro Braga da Costa
Igreja Unida – Vila Carrão
Franckie Duarte
Comunidade Cristã Figueira
Gabriel Cesario
Comunidade Bíblica para as Nações – Capão Redondo
Gilberto Maito Dias
Comunidade Evangélica Maanaim
Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez
Igreja Batista Betel
Igor Vilcinskas Dalpino Jr
Igreja Cristã Época da Graça – Vila Prudente
Igor Vilcinskas Junior
Igreja Cristã Época da Graça
Ivener Soler
Igreja Batista do Povo de Vila São José
Jefferson Mendes Chiovetto
Igreja Evangélica Cristã Pentecostal – São Mateus
Jefferson Modesto de Souza
Igreja Metodista em Vila Mazzei (Zona Norte)
Joel Cardoso Junior
Igreja Metodista Renovada
José Carlos dos Santos
Comunidade da Graça Jardim Iguatemi
Klaus Piragine
Igreja Kyrios
Leandro Menezes
Comunidade da Graça em Itaquera
Leonardo Meyer
Igreja Unida – Água Rasa
Lucia Bezerra
Assembleia de Deus Ministério da Restauração
Luciano Gonçalves Rosa
INSJC – Vila Formosa
Lucinéia Ap C. Souza
Igreja Evangélica Palavra Viva
Luiz Carlos
Libertação em Cristo
Marcelo dos Santos Oliveira
Igreja Batista da Graça
Marcos Paulo
Igreja Cristã Rocha Eterna – Sede
Maria Granado
Comunidade Caminho da Paz
Mario Jorge Castelani
Associação Batista da Penha – ABAPE
Moises Lopes da Silva
IBF – Mauá
Moisés Quirino da Silva
Igreja de Itaquera
Pereira Barreto
Igreja Metodista Renovada – S.Vicente
Odair B. Do Nascimento
Igreja Batista Philadelphia – Cidade Tiradentes
Paulo Jorge de Souza
Comunidade Apostólica da Cruz – CAC Jd. Noronha
Paulo Lutero de Mello
Grande Templo “O Brasil para Cristo” – Pompéia
Paulo Tércio Lopes da Silva
Igreja Apostólica Novidade de Vida
Pérsio Luiz de Moraes Santos
Igreja Batista da Lapa
Ricardo Gondim
Igreja Betesda
Rivanildo Segundo Guedes
Igreja Batista Unida do Brás
Robson Rojas Romero
Igreja Batista Central em Caieiras
Ronaldo Brandoles de Quadros Bezerra
Comunidade da Graça
Silas Domingues
Comunidade Batista Boa Vista
Wilson Oliveira da Silva
Igreja Videira São Paulo
Zé Bruno
A Casa da Rocha
Zé Liberio
Toca Comunidade Cristã- TCC – Butantã
Missão Belém, da Arquidiocese de São Paulo
A Missão Belém, sob a liderança do Padre Júlio Lancelotti, tem oferecido os espaços da sede da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, chamada Casa de Oração, para acolher pessoas em situação de rua que estiverem com coronavírus. O espaço, fundado há cerca de 30 anos, fica no centro da capital paulista e tem capacidade para isolar até 50 pessoas, mas a prefeitura não considerou o local adequado, foi o que afirmou Lancellotti para o Bereia. A decisão de oferecer o local teve o aval do Arcebispo Metropolitano, Dom Odilo Scherer, que também está preocupado com a situação.
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, afirmou em entrevista à Rede Brasil Atual, que avalia as medidas anunciadas até agora pelos governos municipal e estadual inacessíveis para a população mais vulnerável. “A doença é para todos, mas a prevenção é para alguns. Como vão higienizar as mãos constantemente, se nem nos centros de acolhida (os CTAs) tem sabão ou álcool gel disponível? Nesses locais você chega a ter 400 pessoas no mesmo espaço, sem ventilação, com condições de higiene precárias”, destacou.
São Paulo possui, em média, 24 mil pessoas em situação de rua segundo o censo municipal, sendo que 3.164 moradores tem mais de 60 anos. Tuberculose, má alimentação, más condições de higiene são alguns dos principais problemas. “A população também pode ajudar, abrindo espaço para que essas pessoas possam lavar as mãos, doando álcool gel. Vivemos um tempo de egoísmo, mas é preciso solidariedade”, afirmou Lancellotti.
Igreja Betesda, na Zona Sul de São Paulo
Essa igreja, localizada na Zona Sul, fechou as portas para cultos e
ofereceu suas instalações para servir à comunidade, e também como apoio às
demandas do governo.
Bereia conversou com o presidente da igreja, Ricardo Gondim, sobre a importância social da igreja diante do cenário de pandemia. “A Igreja Betesda está se organizando para coletar alimentos não perecíveis para atender não apenas as demandas de pessoas carentes da nossa comunidade, como também para fazermos parcerias com ONGs e instituições que, neste momento, atendem aos desvalidos, aos sem teto, às pessoas que estão desabrigadas e muito carentes. Também colocamos à disposição das autoridades governamentais as dependências da Igreja Betesda, tanto do templo como do nosso prédio de apoio para que possamos servir como apoio ou na logística que o governo precisar em todas as frentes, quaisquer que forem as mais prementes, nós estaremos à disposição”, afirmou Gondim.
RIO DE JANEIRO
Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca
O pastor Antonio Carlos Costa, que faz parte da equipe pastoral da Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca anunciou no seu twitter dia 19 de março que “o Conselho de IP Barra tomou a decisão de oferecer o templo da igreja à União, Estado e Município a fim de que sirva de hospital de campanha”.
Ele afirmou ao Coletivo Bereia que “a igreja está oferecendo todo seu espaço, inclusive o estacionamento e escritórios para receber pacientes, para armazenamento de cestas básicas ou para qualquer outra finalidade que o poder público quiser dar. Também estamos mobilizando pessoas para trabalho voluntário, especialmente quando a pandemia alcançar o seu pico no Brasil.”
O pastor Antonio Carlos também é líder da ONG RIO DE PAZ, que tem feito um trabalho de assistência às famílias em situação de vulnerabilidade das comunidades do Jacarezinho e Mandela, na zona norte do Rio. “O Rio de Paz está envolvido com a distribuição de cestas básicas nas favelas. Nossa meta é não permitir que nenhum morador de favela passe fome“, declarou.
O pastor ainda afirmou ao Coletivo Bereia que a Igreja não pode silenciar neste momento de crise. “Se ela se omite, perde sua autoridade profética. Quem vai levar a sério uma Igreja que, no momento da mais grave crise do século, não se faz presente como agente de transformação social? A Igreja está diante de uma grande oportunidade de manifestar o amor misericordioso de Cristo ao escolher tratar as pessoas com compaixão.”
Igreja Batista Betânia
Com o tema “AS REUNIÕES PARAM, A IGREJA, NÃO”, a comunidade, liderada pelo pastor Neil Barreto, continua atuante em suas atividades sociais durante a Quarentena. Evangelistas e missionários saíram pelas ruas do Rio de Janeiro atendendo a população em situação de rua, entregando refeições comunitárias, além de arrecadarem alimentos para pessoas em vulnerabilidade, por meio da Campanha “Amor em Forma de Alimento”.
O líder da congregação tem realizado lives e cultos com enfoque na prevenção e cuidados contra o coronavírus, levando os fiéis a reflexão do cenário de pandemia à luz das Escrituras.
O Coletivo Bereia recebeu informações que a PIB de Campo Grande, Igreja Metodista de Cascadura e Renas/Rio também estão agindo em solidariedade ao cenário de pandemia.
MINAS GERAIS
Arquidiocese de Belo Horizonte
Ainda em recuperação, o Estado de Minas Gerais, que acaba de vivenciar um período de “Calamidade Pública” decorrente das violentas enchentes que deixaram 56 pessoas mortas e 53 mil pessoas desabrigadas, agora enfrenta a pandemia do coronavírus.
A Arquidiocese de Belo Horizonte, em solidariedade e em combate ao crescente número de pessoas com o Covid19 disponibilizará 1.500 igrejas que devem se tornar hospitais de campanha. Os templos estão localizados na capital mineira e em 27 municípios da região metropolitana. A decisão foi tomada pelo arcebispo metropolitano da capital, Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Os templos também poderão ser utilizados como pontos de apoio a idosos, doentes e pessoas de maior vulnerabilidade social.
Os municípios beneficiados são: Belo Vale, Betim, Bonfim, Brumadinho, Caeté, Confins, Contagem, Crucilândia, Esmeraldas, Ibirité, Mário Campos, Nova União, Lagoa Santa, Moeda, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Piedade dos Gerais, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São José da Lapa, Sarzedo, Taquaraçu de Minas e Vespasiano.
Confira, abaixo, a íntegra da carta do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo:
Amado Povo de Deus, Saúde e paz
Paradoxalmente, a pandemia do COVID-19 coloca-nos em isolamento social, mas, ao mesmo tempo, florescem muitas iniciativas de generosidade. Mesmo distantes uns dos outros, não nos afastamos do compromisso cristão de ajudar. Exemplares são os empreendedores que dedicam parte de seus recursos para investir em equipamentos hospitalares, tão importantes para acolher quem mais sofre com o coronavírus. Também toca o coração a atitude dos que mesmo tendo pouco, procuram ajudar. São jovens que fazem compras para os idosos, profissionais que oferecem graciosamente serviços a partir das redes digitais. A força da solidariedade vai vencer a pandemia. Deus seja louvado pela vida dos que irradiam a generosidade. A Arquidiocese de Belo Horizonte fortalece a sua adesão a essa rede de solidariedade.
Nossos templos, cerca de 1500, na Capital Mineira e em outros 27 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Catedral Cristo Rei e o Centro Olímpico da PUC Minas estão sendo colocados à disposição do poder público para serem “hospitais de campanha”, espaços de acolhida, dedicados aos mais pobres. A Igreja está aberta para amparar os doentes, unindo esforços ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Sejam, pois, as nossas igrejas, grandes e pequenas, no ambiente urbano ou rural, templos da acolhida aos enfermos, a serviço da saúde, na tradição bonita da Igreja Católica de sempre amparar especialmente os mais pobres.
Peço a ajuda de todos os fiéis, cidadãos, homens e mulheres de boa vontade, na missão de acolhermos os enfermos. Com a intercessão de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, Cristo Rei nos guiará na tarefa de vencer a pandemia.
Igrejas e Entidades evangélicas levam auxílio a BH
Vários evangélicos e evangélicas, que fazem parte das mais diversas igrejas ao redor do Brasil, estão em campanha a favor de famílias mineiras que passam por necessidade devido ao cenário de pandemia que gerou desemprego e falta de renda para muitos brasileiros/as.
Um dos coordenadores da campanha afirmou ao Bereia que estão pedindo ajuda em dinheiro, uma vez que recolher donativos seria expor muita gente ao contágio.
A campanha é realizada pela Frente De Evangélicos pelo Estado de Direito, Rede Fale, O Reino em Pessoa e Evangélicxs pela Diversidade.
O Coletivo Bereia elaborou essa checagem de boas ações, das igrejas e entidades, para motivar pessoas de fé de todo o Brasil a caminhar na direção da solidariedade em tempos de luto e dor.
“Aprendemos que a Fé não precisa do templo, do domingo ou do clero. Ela precisa de algo que nos impulsione para aquilo que está além de nós mesmos. As estruturas religiosas jamais deveriam estar engessadas em fórmulas, hierarquias, calendários ou mesmo espaços sagrados. É preciso descobrir que não há nada mais sagrado que a vida, que santidade é cuidar da vida de tal modo que toda ela seja importante, que a grande sabedoria de viver é permitir que o outro desfrute das mesmas chances que eu tenho. A Fé se realiza no encontro com o outro e com o transcendente, com esse sentimento de pertença ao outro e ao transcendente, ao mesmo tempo.”
Irenio Chaves
Referências de Checagem:
HOON, P. W. The Integrithy of Worship. Abington Press, 1971.
No dia 23 de março de 2020, no Twitter, o Pastor Silas Malafaia publicou uma imagem (reproduzida abaixo) com texto, que dizia:“Leia isso!”. A mensagem tinha o objetivo de comparar e minimizar a cobertura da imprensa, profissionais de saúde e cientistas sobre a COVID-19 (nome oficial da doença provocada pelo coronavírus sars-cov2).
Malafaia tem defendido a postura do presidente da república frente à pandemia. A mesma tabela compartilhada por ele foi replicada em outros perfis:
CAMPANHA CONTRA A CHINA?
No mesmo dia, Silas Malafaia, também publicou em seu canal no Youtube um vídeo intitulado “BOLSONARO, CORONAVÍRUS E AS CRÍTICAS À CHINA”, que até o momento do fechamento dessa checagem contava com mais de 890 mil visualizações. No mesmo período, um dos filhos do presidente gerou um incidente diplomático com o maior parceiro comercial do Brasil.
TEXTO E CONTEXTO
Bereia checou as informações publicadas pelo presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) e verificou que as informações publicadas são enganosas por sua descontextualização. O post de Malafaia no Twitter recebeu “atualizações” como essa abaixo, divulgada em uma rede social, que endossam números descontextualizados:
Segundo o Informe Técnico de Influenza, do Ministério da Saúde, publicado em janeiro de 2012, a quantidade de casos registrados na pandemia de H1N1 no ano de 2009 foi de 50.482, em 2010 de 9.385 e em 2011 de 181, totalizando, nos três anos da série 60.048 casos. E foram registrados 2.060 mortes em 2009, 113 em 2010 e 21 em 2011, totalizando 2.194 casos no período.
Post de Silas Malafaia
Números oficiais
394 casos de COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
428 casos de COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
2 mortes por COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
4 mortes por COVID-19 no Brasil em 18/03/2020
58.178 casos de H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
60.048 casos de H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
2.101 mortes por H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
2.194 mortes por H1N1 no Brasil (considerando período de 2009 a 2011)
Fonte dos Dados: desconhecida
Fonte dos Dados: Ministério da Saúde
FONTE E DATA ERRADAS
Os dados apresentados no post de Malafaia, além de descontextualizados, apresentam comparação irregular, pois não observam períodos iguais. No primeiro mês de H1N1 no Brasil (isto é, desde a primeira confirmação de caso em maio), foram registrados 627 casos e a primeira morte aconteceu em junho, no Rio Grande do Sul. Se comparado ao coronavírus, no primeiro mês, de 26 de fevereiro até 26 de março, foram 2985 contaminados e 77 mortos. A primeira morte ocorreu dia 17 de março. O número de casos de coronavírus para o mesmo período é 152,5% maior que o da pandemia de H1N1.
REMÉDIO E VACINA
A epidemia de H1N1
alterou a política e a prática de vacinação no Brasil. Na época, a faixa etária era a partir de 60 anos de idade
e, por causa da pandemia de H1N1, a vacinação passou a ser indicada para grupos
prioritários com maior risco de complicações, visando contribuir para a redução
da morbimortalidade associada à influenza. O Ministério da Saúde também
recomendava o uso de antiviral (fosfato de oseltamivir) em todos os pacientes
com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e na infecção por influenza (SG),
independentemente da situação vacinal. A indicação impactou na redução das
mortes pela doença, já que o medicamento reduz a duração dos sintomas e
ocorrência de complicações da infecção pelos vírus da influenza. A COVID-19 não
tem vacina e nem remédio com eficácia comprovada, até o momento desta edição.
Vídeo
Bereia também checou as informações que Silas Malafaia publicou no vídeo. O pastor endossa os dados do post já analisado e afirma, a partir da descrição do vídeo no Youtube, que havia informações ocultadas pela imprensa, como se segue reproduzido abaixo:
Imperdível! Eu falo sobre #coronavírus, #Bolsonaro e as críticas à #China. E mostro também dados que a imprensa não deu.
De acordo com Malafaia, o percentual de infecção por H1N1 é de uma média de 8% enquanto a infecção por Covid-19, o novo coronavírus, seria de 4% da população exposta. O pastor não menciona, porém, que a taxa de mortalidade mundial por H1N1, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é de 0,01% enquanto a taxa de mortalidade por coronavírus é de 2,3%, segundo estudo feito pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CCDC). A infecção média de 8% da população, mencionada por Malafaia, é resultado de um estudo do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) que leva em consideração apenas a população dos Estados Unidos.
Malafaia também menciona que a tuberculose mata cerca de 125 mil pessoas por mês no mundo e reclama que não há uma preocupação da mídia similar à pandemia do coronavírus. O líder religioso não menciona, porém, que a tuberculose é uma doença com cura e que há tratamento disponível em todo o mundo. Também, não foi mencionado que houve, entre 2008 e 2018, uma redução de 8% dos casos de óbitos por tuberculose no Brasil, comprovando a eficácia do tratamento existente. Ainda no vídeo, Silas Malafaia menciona uma frase postada pelo presidente americano, Donald Trump, no Twitter:
Ao mencionar a frase, Malafaia indaga ao seus espectadores: “Vocês não acham que o caos social pode ser pior do que a consequência do coronavírus?”
Ele também criticou a realização de pesquisas de opinião para medir a popularidade do presidente brasileiro bem como o apoio da população às medidas restritivas em face do surto de coronavírus. Por fim, Malafaia parabeniza o deputado Eduardo Bolsonaro por ter dito que o coronavírus era uma conspiração chinesa, sem mencionar em nenhum momento provas a respeito. Também endossou apoio ao presidente Jair Messias Bolsonaro às medidas de flexibilização das restrições durante a quarentena.
CONCLUSÃO: ENGANOSO E PERIGOSO
Bereia conclui que citar dados fora de seu contexto, utilizar uma estratégia persuasiva e atacar os especialistas são práticas enganosas na apresentação de dados. O tratamento da Pandemia de COVID-19 é um tratamento científico. Somente vacinas e remédios poderão deter o coronavírus e reduzir a mortalidade dos pacientes. Essa tem sido uma das metas de todo o mundo, por isso, a estratégia de quarentena, isolamento e “achatamento da curva” são necessárias, além da ampliação do número de leitos em hospitais, leitos de UTI e respiradores.
#FiqueEmCasa – Cuide-se e cuide dos seus parentes.
Referências de Checagem:
Aos
fatos. É falso que início do surto de H1N1 foi mais
mortal que o de Covid-19. Disponível em: https://aosfatos.org/noticias/e-falso-que-inicio-do-surto-de-h1n1-foi-mais-mortal-que-o-de-covid-19/
Ministério
da Saúde. Informe Técnico de Influenza. Disponível
em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/22/informe-influenza-2009-2010-2011-220514.pdf
Ministério
da Saúde. Coronavírus: 4 mortes e 428 casos confirmados.
Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46556-coronavirus-4-mortes-e-428-casos-confirmados
Ministério
da Saúde. Brasil confirma primeiro caso da doença.
Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46435-brasil-confirma-primeiro-caso-de-novo-coronavirus
Templos católicos históricos em Santiago, no Chile, foram vandalizados durante uma marcha feminista no Dia da Mulher. A mobilização pichou as paredes dos templos com frases contra a igreja e a favor do aborto.
Mulheres policiais que faziam a segurança da marcha foram constantemente insultadas pelas feministas. As igrejas de São Francisco da Alameda e da Gratidão Nacional foram pichadas com frases como “fábrica de estupradores”, “aborto legal”, “igreja cúmplice”, entre outras.
De acordo com a agência ACI Prensa, as marchas no Chile começam pacificamente, mas acabam terminando em confrontos desde que a crise social foi desencadeada no país, como resultado do aumento do preço do metrô.
Medidas de segurança foram tomadas pelos templos cristãos para evitar entradas violentas, roubos ou outros ataques durante as manifestações.“Lamentamos que o templo seja alvo de ataques, é como um quadro-negro onde todos escrevem e expressam sua raiva e descontentamento com mensagens para o governo, os políticos e a Igreja”, afirmou padre
Bereia checou as informações publicadas por Gospel
Prime e verificou que o protesto, que aconteceu em 08 de março de 2020 na
cidade de Santiago, no Chile, reuniu cerca de dois milhões de mulheres segundo
a Coordenação 8 de Março, organização de coletivos feministas. Segundo a
polícia nacional chilena, o número de participantes da marcha foi de 125 mil
pessoas, o que foi contestado por especialistas através de imagens aéreas. Além
dos protestos na capital, houve outros protestos em outras cidades. Os
protestos ano a ano são comuns, no entanto, de 2019 para 2020 o número de
participantes saiu de 500 mil para dois milhões de mulheres.
Bereia buscou informações acerca do que motivou essa
escalada da participação feminina em protestos pelo país. De acordo com
reportagem do jornal O Globo, publicada em 03 de março de 2020, o
presidente do Chile, Sebastián Piñera, sancionou uma lei que amplia a punição
aos crimes de feminicídio, porém durante seu discurso culpou as mulheres pela
responsabilidade sobre a violência sofrida.
A reportagem de O Globo traz o seguinte trecho com a fala do presidente:
Às vezes não é apenas a vontade dos homens abusar, mas também a posição das mulheres a serem abusadas — disse o presidente em um discurso no qual ele apareceu acompanhado por sua esposa, Cecilia Morel, e a ministra das Mulheres, Isabel Plá.
De acordo com reportagem do jornal El País, publicada em 03/03/2020, também sobre o discurso de Piñera, não é a primeira vez que ele se envolve em polêmicas com o tema do machismo. Além disso, ocorre no Chile também uma discussão para a promulgação de nova Constituição que amplie os direitos sociais, resultado dos protestos que marcaram o país em 2019. O plebiscito, que ocorrerá em 26 de abril de 2020, definirá se a atual constituição, construída ainda à época do ditador Augusto Pinochet em 1980, será mantida ou renovada.
Bereia também checou que nenhum outro veículo de comunicação
mencionou ataques na forma de pichação aos templos católicos, como replicado
pelo Gospel Prime. Porém, além da imagem que ilustrou a matéria deste
portal, foram encontradas outras imagens, publicadas no dia 09 de março de 2020,
por uma usuária do Twitter identificada como Giselle Vargas, cuja descrição de
perfil a identifica como correspondente da ACI Prensa, veículo católico que
publicou a informação. Nas imagens, é possível ver que foram pichadas a porta
central e a lateral esquerda da Igreja de Gratidão Nacional e o Museu Colonial,
parte anexa da Igreja São Francisco de Alameda.
Bereia também checou que essa não é a primeira vez que as igrejas são atacadas com pichações e o ato parece ser mais político do que anti-religioso, devido ao próprio padre da Ordem Franciscana lamentar o ocorrido, mas entender que a pichação é uma mensagem, conforme traz o site Gospel Prime:
“Lamentamos que o templo seja alvo de ataques, é como um quadro-negro onde todos escrevem e expressam sua raiva e descontentamento com mensagens para o governo, os políticos e a Igreja”, afirmou padre.
Este assunto já havia sido objeto de checagem do Coletivo Bereia, durante os protestos de novembro de 2019, e a abordagem classificada como enganosa.
CONCLUSÃO: IMPRECISA
Portanto, é imprecisa a matéria do portal Gospel Prime,
uma vez que mantém elementos verídicos sobre as manifestações e sobre as
pichações praticadas na Igreja São Francisco de Alameda, mas não contextualiza os
fatos histórico-políticos que levam, há muito tempo, este tipo de manifestação a
acontecer. Também não leva em consideração que o país passa por um processo de
tensão social devido ao plebiscito constituinte que se aproxima e trata a
questão, equivocadamente, como um fato isolado.
A matéria de Gospel Prime, por conter partes de uma matéria de agência de notícias católica, identifica pontos verdadeiros, mas omite informações acerca do posicionamento político da Igreja Católica ao longo da História e da legislação chilena, que apenas permite o aborto em situações de risco de vida da mulher, inviabilidade fetal e estupro, após decisão do Congresso em 2017.
É importante lembrar que manifestações sociais, em especial de representatividade de pautas, sempre terão pessoas e instituições a favor e contra. Essa pluralidade de ideias é bem-vinda numa democracia. No entanto, o uso de desinformação para beneficiar aos interesses específicos de um grupo é danoso para a sociedade no geral, que recebe conteúdos das mídias, em especial àqueles que estão longe do epicentro dos protestos, como é o caso dos brasileiros.
O site de notícias Gospel Prime divulgou, em 12 de fevereiro, que Belo Horizonte receberá a “Marcha para Satanás” com o objetivo de defender o Estado laico por meio de uma crença que gera medo nas pessoas (satanismo). O site também declarou que “um dos organizadores do evento, que não foi identificado, criticou o cristianismo e sua influência na sociedade brasileira falando de “excessos cometidos em nome de algumas religiões” ao dizer que sua marcha não é adoração ao diabo, mas sim o enfrentamento da crença dominante no país. “
Ainda segundo Gospel Prime, a “Marcha para Satanás” imitaria o movimento Templo Satânico dos EUA, um grupo de pessoas que protestam contra o cristianismo abrindo processos contra monumentos com símbolos cristãos em áreas públicas, nomes de ruas ligados à religião, oração em escolas, entre outras manifestações cristãs.
Por fim, o site diz que, no Brasil, o evento pretende usar a blasfêmia em nome do combate à intolerância.
De acordo com informações publicadas no site BHAZ, citado na matéria de Gospel Prime como fonte, o cristianismo não é criticado. BHAZ ouviu um dos organizadores, que preferiu manter o anonimato, mas afirmou que a marcha é inspirada em formas de Satanismo Moderno, que são mais uma forma de protesto contra abusos cometidos em nome de algumas religiões do que a adoração ao Diabo em si. “Nosso protesto é principalmente a favor do Estado laico e das liberdades individuais”.
O evento “Marcha para Satanás” é um protesto pacífico, satírico e bem humorado, organizado por pessoas que não querem o mal para ninguém e nem acreditam no diabo, muito menos adoram a ele ou qualquer entidade.
Um dos principais propósitos da Marcha é mostrar que existem outros pontos de vista, que as religiões bíblicas não são soberanas, e que o Estado é Laico, portanto, todos podem ter voz e nenhuma religião deve dominar as outras.
Em tempos em que o nome de Deus tem sido usado por pessoas mal intencionadas para enganar multidões, para desfazer conquistas sociais, intensificar as divisões e discriminações, não podemos simplesmente deixar a coisa rolar solta sem deixar o nosso protesto.
A nossa Marcha é uma paródia da “Marcha para Jesus”, um evento que tem sim muita gente legal, mas que infelizmente é marcada por figuras que dizem defender a Família enquanto na verdade disseminam valores opostos ao amor e aceitação (que deveriam ser a base da Família), com atitudes de homofobia, ódio, exclusão, propagando mentiras e criando inimigos imaginários e teorias malucas da conspiração para perpetuar os seus projetos de poder.
Deus não está acima de todos, só de quem quiser.
E a sua religião com suas regras sangrentas pode parecer normal para você, mas pode ser assustadora para muita gente, que sofre ameaças explícitas ou implícitas a cada dia por simplesmente serem o que são.
E se você acha que a sua religião não pode ser assustadora, mas se a Marcha para Satanás te incomoda, talvez seja hora de refletir um pouco sobre empatia e aquela história de “Faça aos outros o que você gostaria que fizessem com você”.
“Nós todos precisamos de espelhos para lembrar quem somos” – (Amnésia, 2000)
Hail Satan!
Ave Satanás!
Um dos administradores da página do evento no Facebook também fez um
post com a declaração completa que deu ao portal BHAZ:
“A Marcha para Satanás é inspirada em movimentos como o Templo Satânico (TST) e conta com o apoio também do pessoal da Global Order of Satan (GO Satan). São formas de Satanismo Moderno, que tem mais a ver com uma forma de protesto aos abusos cometidos em nome de algumas religiões, do que com adoração ao diabo mesmo. Aliás, nem acreditamos no diabo, e eu particularmente não estaria do lado dele se acreditasse. Mas quem acredita também é bem vindo à Marcha, ela está aberta para todos. Nosso protesto é principalmente a favor do Estado Laico e das liberdades individuais. Vivemos tempos em que o Governo tentou colocar as pessoas para lerem o slogan “Deus Acima de Todos” em escolas públicas, onde projetos de leis absurdos são propostos, como, por exemplo, de usar dinheiro público pra pagar conta de luz das grandes igrejas, e onde pessoas têm suas artes censuradas, são espancadas por intolerância e mortas em nome de Deus. Sabemos que há muitas pessoas boas nas igrejas, mas como elas tendem a se silenciar em vez de confrontar os próprios irmãos corruptos, cabe a nós hereges levantarmos a nossa voz pra mostrar que esses abusos não devem continuar.Nossa proposta com a Marcha é provocar a reflexão de como seria ver uma outra religião, digamos, ‘assustadora’, tendo voz na sociedade. E com isso ajudar a controlar os limites do Estado Laico. Porque se as portas da política pública estão abertas pra uma religião, tem que estar abertas para todas. Se vai ter Jesus nas escolas públicas, vai ter Satanás nas escolas públicas. Se os imóveis de igrejas não pagam impostos, as casas daqueles que se declaram satanistas também tem que estar isentas. E sabe a sua religião pode parecer normal pra você, mas é de fato assustadora para muita gente. Muita gente é perseguida por não se adequarem aos padrões colocados pelas religiões. Homossexuais, travestis, pessoas de religiões de origem africana, são colocadas à margem da sociedade por causa desse conservadorismo medieval.Sabemos que naturalmente chocamos a sociedade com a Marcha para Satanás, e isso tem algumas vantagens, como a provocação desse exercício de empatia que eu falei. Mas o nosso foco nesse momento é menos de confrontar diretamente os cristãos, e mais de unir as pessoas que se identificam com a causa. Pessoas excluídas, que não precisam se intitular “satanistas” – a própria sociedade já coloca esse rótulo nelas só por não se adequarem aos padrões. Queremos unir essa galera e fazer um protesto divertido, satírico e “blasfêmico”, e convidar a sociedade a ter mais pensamento crítico, mais empatia e substituir a sua intolerância pelo amor, que é o que as religiões deveriam estar construindo.
Uma outra “Marcha para Satanás” já ocorreu na cidade de São Paulo, em janeiro de 2016. Segundo matéria da revista Veja SP, a marcha reuniu cerca de 150 pessoas na Avenida Paulista. Naquela ocasião, cinco mil pessoas confirmaram presença na divulgação pelo Facebook e outras 4,5 mil mostraram interesse em participar, no entanto, apenas 150 compareceram.
Algum tempo depois, durante o ano de 2018, surgiram boatos que ligavam partidos de esquerda a esta “manifestação”. Eles foram desmentidos pelo site de checagem Boatos.org.
Bereia classifica o conteúdo da notícia publicada pelo site Gospel Prime como ENGANOSO, pois a notícia oferece conteúdo de substância verdadeira, mas a apresentação deles é desenvolvida para confundir, ao afirmar que a marcha seria uma crítica ao cristianismo e usaria da blasfêmia para protestar.
Entretanto, ao buscar a página oficial do evento no Facebook, além da entrevista de um dos organizadores e matéria da marcha realizada na cidade de São Paulo em 2016, concluímos tratar-se de um evento/protesto baseado na sátira e com pautas bem definidas, como a defesa do Estado laico e respeito ás diversas religiões. O nome marcha para Satanás é utilizado como um meio de chamar a atenção do público e da mídia, sem promover adoração ao diabo, formas de satanismo ou ataques ao Cristianismo.
Desde o mês de janeiro circula em vários sites religiosos matéria que alega situação desumana vivida por cristãos/ãs perseguidos/as na Coreia do Norte, oficialmente conhecida como República Popular Democrática da Coreia (RPDC), localizada na Ásia.
A notícia relata a persseguição a cristãos naquele país, e ainda conta a história da morte da coreana Younghee, treinada na agência cristã Cornerstone, localizada na China, para ser missionária em vários países.
Leia o texto na íntegra:
Younghee é uma mulher cristã que saiu da Coreia
do Norte e foi treinada na agência Cornerstone para pregar em diversos
países. Mas ela não decidiu ir para longe, e acabou retornando ao seu país
de origem em 2008, mesmo com todas as ameaças do regime ditatorial de Kim
Jong-un.
Ela criou uma igreja subterrânea para escapar da fiscalização ferrenha contra
religiosos no país, mas acabou sendo presa e enviada a um campo de
concentração, que abriga presos dessa natureza.
Peter Lee, diretor-executivo do Cornerstone
Ministries International, revelou que “os internos do campo morrem lá todos os
dias; muitos tentam escapar, mas a maioria é capturada e devolvida”.
Mas o fator que mais chamou a
atenção de todos é a brutalidade desumana com que os presos cristãos são
tratados no campo.
“Muitos dos apanhados são jogados a
cães famintos. Muitos são espancados ou perdem carne para os cães; muitos
prisioneiros recapturados morrem. Os oficiais da prisão querem que os presos
vejam o que acontece quando tentam escapar”, explicou.
A agência que treinou Younghee acabou
perdendo contato com ela após ela ser presa, em abril de 2019. Oficiais
informaram à família posteriormente que ela havia morrido e teve seu corpo
cremado.
Um dos oficiais que cuida da segurança
do campo de concentração chegou a conversar com uma das filhas de
Younghee, e contou que ela era uma mulher honesta que gostava de ajudar os
outros prisioneiros.
“Eu disse à sua mãe: ‘Eu não entendo
por que uma pessoa como você, que é inteligente e não tem nada, acredita em um
Deus que não podemos ver. Se você tivesse negado o seu Deus, não teria todo
esse sofrimento. Você não se arrepende de ser cristã?’ ‘Nunca me arrependi da
minha fé e nem me arrependo agora’”, relatou.
MINISTÉRIO CORNERSTONE
Cornerstone Ministries International (CMI), tem como objetivo apoiar a igreja perseguida em várias nações. A principal atividade do grupo é a distribuição de Bíblias, principalmente na Coreia do Norte e na China, onde o Cristianismo sofre restrições.
O ministério, após alguns anos de trabalho, iniciou um curso de formação de missionários, para que pudessem evangelizar seu próprio povo.
O CMI está sediado em Seul, Coreia, e possui escritórios no sul da Califórnia, Canadá e Pequim, China. Atualmente apoia 12 missionários de campo e suas famílias em países restritos.
Nossa equipe não encontrou relato sobre a missionária YOUNGHEE no site Cornerstone Ministries International (CMI), instituição que a teria preparado para o trabalho de campo.
MORTE DA MISSIONÁRIA YOUNGHEE
A matéria original sobre a história da missionária Younghee e a perseguição a cristãos nas prisões da Coreia do Norte veiculada no GOD Reports em 28 de janeiro deste ano, escrita por Mark Ellis, coordenador geral do site.
A matéria traz informações sobre perseguição e maus tratos mas não expõe qualquer relatório ou dado fundamentado.
God Reports declara-se existir desde 2004 com a finalidade de compartilhar histórias e testemunhos de atuações missionárias em forma de escrita e vídeo.
BRUTALIDADE NAS PRISÕES DA COREIA DO
NORTE
Na Lista Mundial de Perseguição 2020, divulgada pela Missão Portas Abertas – organização cristã internacional que atua em mais de 60 países em apoio aos cristãos perseguidos, a Coreia do Norte está em 1º lugar quando o assunto é opressão a este grupo religioso.
Já em 2014, em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), relatório pontuava crimes “generalizados e sistemáticos” cometidos pelo governo de Pyongyang. O documento de 400 páginas produzido pela Comissão de Inquérito da ONU sobre Direitos Humanos na Coreia Norte, descreve “atrocidades indescritíveis” cometidos no país como assassinatos, escravidão, tortura, estupro, fome e desaparecimentos forçados, que podem se constituir crimes contra a humanidade.
A Christian Solidarity Worldwide, organização de direitos humanos especializada em liberdade religiosa, que trabalha em nome daqueles perseguidos por suas crenças, vem realizando um extenso trabalho sobre a opressão religiosa na Coreia do Norte. Um de seus relatórios divulgado em 2016 fornece evidências de que a liberdade de religião ou crença é um direito humano “praticamente inexistente” na Coreia do Norte.
“O cristianismo é identificado como uma perigosa ameaça à segurança e uma ferramenta de ‘intervenção estrangeira’. Isto é, visto como um meio de conduzir espionagem e coleta de inteligência. Um ex-agente de segurança norte-coreano declarou que o cristianismo é perseguido porque basicamente, está relacionado aos Estados Unidos, pois foram os americanos que transmitiram o cristianismo e são eles que tentam invadir a Coreia, consequentemente aqueles que são cristãos são espiões, e os espiões são executados.”
Com base em 214 relatos em primeira mão de fugitivos reunidos pela equipe de Direitos Humanos da ONU na Coréia do Sul em 2017 e 2018, o relatório descreve como os direitos mais fundamentais das pessoas comuns na Coreia do Norte são amplamente violados por causa de má administração econômica e corrupção endêmica. “As pessoas costumam experimentar tratamento desumano e degradante nas detenções e às vezes são submetidas a tortura durante interrogatórios e procedimentos disciplinares.As pessoas não devem ser presas, detidas, processadas ou extorquidas simplesmente por tentar adquirir um padrão de vida adequado”, concluiu Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.”
Após verificar todas as informações, Bereia classifica como IMPRECISA (a informação tem dados verdadeiros, mas não são comprováveis) a matéria intitulada – “Coreia do Norte joga cristãos presos para cachorros comerem”, pois, apesar das fontes seguras relatarem ações desumanas por parte do governo daquele país, não há qualquer informação fundamentada sobre “jogar cristãos presos para cachorros comerem”.
Bereia também classifica como IMPRECISA a notícia sobre a morte da missionária Younghee, pois o site God Reports não traz informações com dados precisos sobre o fato. Bereia não encontrou informações sobre a morte de Younghee na fonte indicada pela matéria. Não há qualquer registro do caso no site do Cornerstone Ministries International (CMI), que a teria preparado para atuar no campo, e também não há registros desta morte da parte de outras organizações que acompanham estes casos.
New report on religious freedom in North Korea. Disponível em: https://www.csw.org.uk/2016/09/23/news/3266/article.htm
ONU pede que Coreia do Norte renove seu compromisso com os direitos humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-insta-renovacao-de-compromisso-com-a-coreia-do-norte-sobre-direitos-humanos/
North Koreans trapped in ‘vicious cycle of deprivation, corruption, repression’ and endemic bribery: UN human rights office. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2019/05/1039251
A reação do governo aumentou a polêmica sobre o filme, provocada depois de entrevista concedida por Petra Costa, diretora do documentário Democracia em Vertigem (Netflix), ao programa Amanpour and Company, do canal de televisão americano PBS, no dia 31 de janeiro.
Petra criticou as políticas do governo brasileiro sobre gays, mulheres, pessoas de cor, segurança pública e meio-ambiente. Na primeira notícia, veiculada às 9h25, o Pleno News destaca que as hashtags #PetraCostaLiar e #PetraMente ficaram entre os assuntos mais comentados do Twitter e traz a declaração do deputado federal, Eduardo Bolsonaro, publicada na mesma mídia, em que considera a atitude da cineasta como criminosa e menciona que ela é herdeira da empreiteira Andrade Gutierrez, que está ligada ao Petrolão.
Na sequência, divulgou-se o vídeo da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal em que a cineasta Petra Costa é acusada de difamar a imagem do Brasil no exterior e de divulgar fake news.
As declarações de Petra e da Secom foram checadas pela Agência Lupa na matéria intitulada “Governo Federal distorce dados ao acusar Petra Costa de espalhar fake news”.
PETRA MENTIU?
A afirmação de Petra “Desde que ele [Bolsonaro] foi eleito, a taxa de pessoas mortas por policiais no Rio [de Janeiro] cresceu 20%” foi classificada como Verdadeira. Segundo a checagem da Agência:
“Os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que o número de homicídios por intervenção de agentes do estado aumentou 18% entre 2018 e 2019 no estado do Rio de Janeiro. No ano passado, 1.810 pessoas foram mortas por policiais militares e civis no Rio, um recorde na série histórica do indicador, iniciada em 2003. Em 2018, foram 1.534 ocorrências. O número de mortes ocasionadas pelas forças policiais do estado vem aumentando progressivamente desde 2013. Naquele ano, foram 416 homicídios. O maior aumento percentual se deu entre os anos de 2015 e 2016, quando as ocorrências cresceram 43% – de 645 para 925”.
Em resposta, a Secom afirmou que “Em 2019, o número de homicídios no país teve uma queda de 20%”.
De acordo com a checagem:
“Até o momento, não há dados consolidados sobre o número de homicídios no Brasil para todo o ano de 2019. Os números parciais contemplam o período de janeiro a setembro de 2019 e mostram uma queda de cerca de 20% nesse indicador. Embora a redução esteja próxima à apontada pela Secom, não é correto afirmar que ela vale para todo o ano, já que as informações ainda não estão consolidadas.”
Esses dados, no entanto, não são os mesmos citados por Petra em sua entrevista. A cineasta menciona as mortes por intervenção de agentes do estado no Rio de Janeiro, enquanto a Secom se refere ao número de homicídios dolosos em todo o Brasil. A comparação é incorreta”
A PM DO RIO MATA MAIS?
A segunda afirmação da cineasta utilizada no vídeo da Secom “…O [estado] Rio [de Janeiro] tem mais pessoas mortas por policiais que o Estados Unidos inteiro” foi classificada pela Lupa como verdadeira.
“O número de mortes por intervenção de agentes no Rio de Janeiro supera o total registrado nos Estados Unidos. Segundo o ISP, 1.810 pessoas foram assassinadas pelas forças policiais fluminenses em 2019. Já nos Estados Unidos, o número de pessoas mortas por policiais foi de 980, de acordo com levantamento do jornal The Washington Post. O projeto Mapping Police Violence, que também acompanha os dados de mortes causadas por policiais, aponta que houve 1.099 casos deste tipo no país em 2019.
Na última segunda-feira (3), a Secom classificou a informação citada pela cineasta como “fake news”. Contudo, Petra Costa usou um dado correto.
A secretaria citou duas informações ao dizer que é “fake news” o que diz a cineasta: a primeira é de que o cenário de mortes por intervenção de agentes do estado é de responsabilidade do governo do Rio de Janeiro. De fato, essas mortes foram provocadas por ações de policiais militares e civis, subordinados ao governo do estado. Isso, no entanto, não significa que a informação é falsa.
Depois, a Secom cita uma suposta redução no número de mortes em confronto pelas Polícias Federal e Rodoviária Federal. Essa informação não aparece em relatórios públicos do governo ou de organizações externas que monitoram a segurança pública no país, além de não ter relação com o dado citado por Costa.
E A AMAZÔNIA?
A terceira declaração de Petra incluída no vídeo da Secom foi “[A Amazônia] Chegou a um ponto que pode virar uma savana a qualquer momento”.
A checagem concluiu que a afirmação é verdadeira, mas…
O chamado risco de savanização da Amazônia é apontado por várias pesquisas publicadas nos últimos 20 anos. No entanto, esse não é um processo que ocorre “a qualquer momento”, como menciona a cineasta. Ele já começou nas áreas mais degradadas, e, progressivamente, começa a afetar regiões mais preservadas, mas ainda não há áreas do bioma amazônico que, de fato, tenham se transformado em savana.
O processo de savanização consiste na transformação gradual
de uma floresta equatorial úmida, como a Amazônia, em um bioma similar ao
Cerrado brasileiro, que alterna entre estações secas e úmidas. A precipitação média na Amazônia é de entre 2,3 mil e
3,5 mil milímetros ao ano. No Cerrado, ela
oscila entre 1,2 mil e 1,8 mil, dependendo da região.
A Secom classificou a informação como “fake news”, e citou como motivo apenas que: “O compromisso do Governo Federal já foi reforçado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU”. As declarações do presidente, no entanto, não invalidam a ocorrência de um processo de savanização do bioma amazônico.
CULPA DOS EVANGÉLICOS?
Além dessas três afirmações de trechos da entrevista de Petra, que foram editadas pela Secom para classificá-las como notícias falsas, destacamos uma associação feita pela cineasta entre o que ela chama de “onda evangélica” e ideias de extrema direita.
Textualmente: “…e também devido a uma onda evangélica que tem se posicionado contra direitos dos gays, feminismo e pessoas de cor, todas essas ideias de extrema direita que estão crescendo na sociedade brasileira”.
Bereiaclassifica o conteúdo das notícias publicadas pelo site Pleno News como IMPRECISO por apresentar apenas as argumentações do governo, que foram checadas como falsas pela Agência Lupa.
Bereia também classifica como IMPRECISA a declaração de Petra sobre os evangélicos, ao relacioná-los diretamente com a extrema direita, sugerindo nesta generalização que há um consenso, sem apresentar dados (percentuais) que indiquem o que é predominante e quais as diferentes perspectivas dos evangélicos brasileiros. Sobre esse tipo de afirmação, Bereia verificou uma postagem do Pastor Henrique Vieira publicada no seu Instagram esta semana, que não está diretamente relacionada com a fala de Petra, mas colabora para evitar a reprodução de estereótipos.
Na opinião de Henrique Vieira (que desfilará na Mangueira, Escola de Samba do Rio de Janeiro, por causa de um enredo sobre Jesus Cristo), “o conservadorismo presente na base evangélica não é tão diferente do que existe na sociedade brasileira. É preciso perceber e reconhecer que o campo evangélico (plural e não monolítico) é majoritariamente popular, composto por trabalhadores, mulheres e negros”.
Oscar Nominee Petra Costa on Threats to Democracy in Brazil. Disponível em: https://www.pbs.org/wnet/amanpour-and-company/video/oscar-nominee-petra-costa-on-threats-to-democracy-in-brazil/
A divulgação da taxa de desemprego de 2019, pelo IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua/PNAD Contínua) em 31 de janeiro passado, gerou matérias celebrativas em diversos órgãos de imprensa sobre possíveis avanços na economia do Brasil, e alvoroço nas redes entre apoiadores do governo federal.
Segundo o noticiário,
a taxa de desemprego caiu em 2019 na comparação com o ano anterior, passando de
11,6 para 11% da população ativa, a segunda queda anual consecutiva, de acordo
a pesquisa divulgada pelo IBGE.
O quadro comparativo
que o IBGE apresenta, desde 2012, passou a ser o seguinte:
No entanto, uma leitura completa dos dados apresentados, mostra que, neste índice, está incluído o trabalho informal e foi, justamente, o crescimento da informalidade que determinou a baixa do número de desempregados.
A informalidade, pelo
IBGE, é a soma das pessoas que trabalham sem carteira assinada, dos trabalhadores
domésticos sem carteira, de empregadores sem CNPJ, de conta própria sem CNPJ e de
trabalhador familiar auxiliar. E ela atingiu, em 2019, um número recorde: 41,1%
da população ocupada, o equivalente a 38,4 milhões de pessoas, o maior número
desde 2016, quando a informalidade foi de 39,1% (35,056 milhões de pessoas).
Ou seja, o acréscimo do número de pessoas ocupadas tem sido causado, mais da metade, por ocupações informais, num ritmo de crescimento da informalidade que tem se mantido nos últimos anos. Foi o que afirmou Adriana Beriguy, analista da PNAD, em reportagem ao DW.
Na mesma reportagem, a analista declara ver dificuldades na reversão deste quadro: “O que a gente percebeu é que no segundo semestre de 2019 houve um pouco mais de reação na carteira de trabalho, mas ainda muito pequena frente ao quantitativo de carteira que já tivemos em 2014. Para reverter esse contingente grande de informalidade, a gente teria que ter uma mudança estrutural muito acentuada no mercado, e tivemos uma pequena mudança, muito concentrada no final do ano.”
As matérias dos sites Pleno News e Canção Nova não mencionaram esta questão primordial do aumento da
informalidade para se compreender a nova taxa de desemprego que, ao ser
comparada com outros anos, tem que ser levada em consideração. A matéria
produzida pelo Conexão Política
menciona os dados, mas não indica os efeitos desta questão na realidade
socioeconômica do País.
Efeitos negativos na Previdência Social e na
Produtividade
É o próprio IBGE que
explica que o aumento da informalidade, além de representar instabilidade e
precarização do trabalho, resultado do próprio avanço do desemprego, provoca
ainda a queda no percentual da população ocupada que contribui para a
Previdência Social. Em 2019, 62,9% dos trabalhadores contribuíam para a
aposentadoria, o que representa o menor número desde 2013. O único ano na série
histórica do IBGE em que esse dado foi menor, foi em 2012, com 61,9%.
“Em 2014, a população ocupada crescia 1,5%, e a população ocupada contribuinte crescia a uma taxa de 4,2%. Em 2019, a população ocupada cresceu 2%, e a população contribuinte aumentou a uma taxa de 1,1%. Tem todo esse desdobramento da informalidade”, explica Beriguy.
Para o professor do Instituto de Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia (Insper), Sergio Firpo, em declaração à reportagem do DW, um outro problema gerado pela ocupação informal é a redução da produtividade. “A perpetuação do emprego informal contribui para que a gente permaneça com produtividade muito pequena na economia, e a produtividade é um elemento fundamental para que a gente consiga crescer, e a longo prazo”.
Em sua conta no Twitter, o professor e pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, segue o mesmo raciocínio: “A leve queda no desemprego em 2019 refere-se, em grande medida, à substituição dos empregos de qualidade pela fragmentação de atividades precárias de sobrevivência cuja a baixa produtividade termina sendo acompanhada por insuficiente renda gerada para sair da condição de pobreza”.
Pochmann explica ainda: “Com a economia operando abaixo do alcançado em 2014, percebe-se o quanto a gradual ocupação da capacidade ociosa e a lenta e parcial reincorporação da força de trabalho nas atividades encontram-se contaminadas pela substituição da produção local de manufaturas por importados”.
De fato, segundo o IBGE, a indústria, teve o pior desempenho na geração de empregos em 2019. O setor, que já foi responsável por 20% do emprego com carteira em 2004, 2006 e 2010, gerou apenas 2,8% dos postos em 2019, um saldo líquido de 18,3 mil vagas. Isto é reflexo da crise na atividade industrial, que chegou a ensaiar uma recuperação em 2018 mas voltou a ter desempenho negativo em 2019, com recuo de 1,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O efeito “uberização”
A analista do IBGE, Adriana Beringuy, também afirmou ao DW que o maior incremento das vagas informais ocorre no setor de transportes. “O que a gente tem notado é que tem crescido muito esse perfil dentro da atividade de transporte, muito relacionado ao crescimento de condutores no transporte terrestre de passageiros, que pode ter aí a questão do Uber.”
A reportagem do DW apresenta o levantamento das pesquisadoras Ana Claudia Moreira Cardoso, docente do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Karen Artur, professora de Direito da mesma universidade, com base em dados da PNAD. O estudo mostrou que entre 2017 e 2018 houve aumento de 29,2% no número de brasileiros ocupados como motoristas de aplicativos, taxistas ou cobradores de ônibus – como é definida a subcategoria pelo IBGE. “A gente sabe que o aumento não veio de taxistas e cobradores de ônibus, mas dos motoristas de aplicativo”, frisa Cardoso.
O professor Marcio Pochmann (UNICAMP) também trata deste tema, relacionando-o à queda da produção industrial: “Avanço da uberização nos serviços é a antecipação consequente da generalizada desindustrialização precoce. A destruição do sistema de proteção social e trabalhista de Temer e Bolsonaro aprofunda o grau de exploração da força de trabalho na economia de contida produtividade”.
Consequências da “Reforma Trabalhista” e do seu
projeto de ampliação
Ao falar da destruição
do sistema de proteção social e trabalhista de Temer e Bolsonaro, Pochmann
refere-se à “Reforma Trabalhista”, promovida no governo Temer, em 2017, e à
ampliação dela, que vem sendo desenvolvida pelo atual Ministério da Economia,
desde 2019. A “Reforma Trabalhista”
completou dois anos em novembro de 2019 sem cumprir a principal promessa feita
para a sua aprovação: gerar dois milhões de empregos até 2019. Antes dela,
havia 12,7 milhões de desempregados; em 2019 eram 12,6 milhões. Das 1,8 milhão
de vagas geradas em 2019, 446 mil foram sem carteira assinada; e a maior parte,
958 mil, são ocupações de trabalhadores por conta própria, dos quais 586 mil
sem CNPJ. No total, 644.079 postos com carteira assinada foram gerados, destes,
cerca de 106 mil vagas (16,5%) resultam das novas modalidades da “Reforma
Trabalhista”: trabalho intermitente e o trabalho parcial.
Matéria da BBC Brasil, baseada no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, explica bem as novas modalidades e as características dela. O contrato parcial, com jornada reduzida, já existia, mas foi flexibilizado com a “Reforma Trabalhista”. O intermitente é aquele em que a empresa registra o funcionário em carteira, mas não estabelece salário ou jornada fixa. Nesse caso, o trabalhador pode ser convocado por alguns dias ou mesmo horas no mês, a depender da demanda por parte do contratante.
A reportagem da BBC Brasil recorda que este foi um dos
pontos mais polêmicos da “Reforma Trabalhista” e é frequentemente apontado por estudiosos
como uma “formalização do bico”. Os que o defendem afirmam que ele
tem servido muitas vezes de porta de entrada para o contrato em tempo integral.
A reportagem ainda lembra que, desde que foi instituída, a modalidade é
questionada em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo
Tribunal Federal. O argumento é de que ela violaria princípios constitucionais
como o da dignidade humana e do valor social do trabalho. O tema está na pauta
do Supremo para maio.
A pesquisa divulgada pelo IBGE, em 31 de janeiro de 2020, mostra alto número de trabalhadores que consideram que trabalham horas insuficientes. A população subutilizada na força de trabalho – que inclui os desempregados, aqueles que gostariam de trabalhar mais horas e quem poderia trabalhar, mas desistiu de procurar um emprego – chegou a 27,6 milhões em 2019, o maior valor da série, e 79,3% acima do menor patamar, registrado em 2014. A taxa de subutilização era de 23,7% antes da “Reforma Trabalhista”; hoje está em 24,2%.
O governo Bolsonaro criou, em setembro de 2019, um grupo de trabalho para propor novas mudanças nas leis do trabalho – uma nova “reforma trabalhista” para reduzir direitos. Durante a campanha eleitoral, em 2018, Jair Bolsonaro já afirmava que o brasileiro precisa escolher entre “ter muitos direitos e pouco emprego, ou menos direitos e mais empregos”. Ele ainda declarou que “é horrível ser patrão no Brasil” e que a “Reforma Trabalhista” deveria ser aprofundada para favorecer mais os empregadores para que gerem mais vagas.
Entre os pontos projetados pelo grupo de trabalho está o fim da unicidade sindical, que prevê a existência de um único sindicato por categoria, cidade, estado ou região, redução dos encargos para empresas que contratarem jovens entre 18 e 29 anos, o fim da multa de 10% sobre o saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) que as empresas pagam ao governo em caso de demissão de funcionários. Hoje, as empresas pagam 50% de multa na rescisão: 40% para o trabalhador e 10% para a União.
Em participação no quadro Silas Malafaia Entrevista, publicado no Canal do Youtube do pastor neste 3 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro repetiu a compreensão de que no Brasil se tem muitos “privilégios” e que “é um país que tem mais direitos”, e “não adianta ter direitos, se não tem emprego”.
O Pastor Malafaia sustenta a compreensão do
presidente com a afirmação gravada na entrevista: “Essa visão esquerdopata, de
só pensar em privilégio acabou prejudicando os próprios trabalhadores. Rapaz,
em que lugar é esse no mundo em que você paga multa. O cara tem fundo de
garantia, todos os direitos, e ainda tem que pagar uma multa pra mandar o cara
embora”. O Presidente da República completa: “Ninguém vai mandar embora um bom
empregado. Eles mandam embora quem não tá correspondendo”.
Ao final, em tom irônico, Jair Bolsonaro
disse que vai lançar o programa “minha primeira empresa” para quem reclama que
não tem emprego: “Eu tenho falado para o Paulo Guedes: Paulo lance o programa
minha primeira empresa. O cara que reclama que não tem emprego, ele vai ter
meios de abrir a empresa dele. Daí ele abre a empresa dele. Paga R$ 5 mil por
mês para todo mundo, pra ninguém reclamar do salário e vai ser feliz. Vai dar
certo, oh, Malafaia?”, indagou, sob risos junto com o pastor (minuto 10:10 a
11:30).
Uma esclarecedora matéria do UOL Economia, nos dois anos da “Reforma Trabalhista” (novembro de 2019), expõe a avaliação e as projeções para o futuro do trabalho e do emprego com o quadro de fragilização do sistema de proteção social e trabalhista desenvolvido desde 2017.
Outros efeitos da fragilização social relacionada
ao trabalho
A fila e a redução do Bolsa
Família
Em 2019, um problema
vivido no passado pelo Programa Bolsa
Família voltou a existir: o aumento da fila de pessoas aguardando o
benefício. Desde junho de 2019, a fila de pessoas aguardando saltou de zero,
patamar que se encontrava desde 2018, para 494.229 famílias. A espera é a maior
desde 2015, quando mais de 1,2 milhão de famílias aguardavam o auxílio. São
famílias que empobreceram a um perfil de renda que as tornam aptas para o programa,
já estão cadastradas mas continuam na miséria e sem a ajuda de R$ 89,00 por
pessoa.
O levantamento foi feito por reportagem do jornal O Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação, após quatro meses de solicitações ao Ministério da Cidadania, que só liberou a informação depois de determinação da Controladoria-Geral da União (CGU).
A reportagem informa
que, entre janeiro de 2018 e maio de 2019, a média mensal de novos benefícios
concedidos era de 261.429. Desde junho de 2019, esse número caiu drasticamente,
e hoje esse número está em 5.667 novos benefícios concedidos. Essa redução fez com que a entrada de
famílias no Bolsa Família, que deveria ocorrer em até 45 dias após a inclusão e
análise dos dados inseridos, passasse a até mais de seis meses, segundo
técnicos que trabalham nesse setor.
Em nota para a
reportagem de O Globo, o Ministério
da Cidadania afirma que a redução de benefícios se deu por questões
orçamentárias e combate a fraudes, e cita ainda uma reformulação do programa,
em curso.
A volta da fila no
principal programa de erradicação da pobreza do país é resultado da redução de
beneficiários pelo governo Jair Bolsonaro. Até maio de 2019, primeiro ano do
governo, o Bolsa Família havia atingido o maior número de assistidos desde
2004, quando foi criado: eram 14,2 milhões de famílias que recebiam um
rendimento médio de R$ 190. Desde então, apesar de o governo ter anunciado a
concessão do 13º salário para essas famílias, o programa vem diminuindo a cada
mês, tendo atingido, em dezembro de 2019, o menor patamar de famílias
beneficiárias desde 2011: 13,1 milhões.
A volta da fila acontece em um momento crítico no combate à pobreza no país. Em 2018, o número de miseráveis (considerados aqueles que vivem com menos de R$ 145 por mês) bateu recorde: 13,5 milhões, segundo o IBGE. A partir de 2015, mais de 4,5 milhões de brasileiros foram empurrados para essa situação, um aumento de 50% em quatro anos. Nesse período, “seis milhões de pessoas passaram a viver com renda de trabalho zero. E o Brasil encurtou a rede de proteção quando ela era mais necessária”, afirmou à reportagem de O Globo, Marcelo Neri, diretor do FGV Social.
Entre 2015 e 2018,
mais de 2,2 milhões de pessoas retornaram ao programa. Para quem já recebe o
Bolsa Família, há o problema da queda no poder de compra, corroído pela
inflação. Desde 2018, o benefício está congelado em R$ 89, pois, diferentemente
de outros programas do governo, não há reajuste automático pois não está
indexado à inflação.
Em 2020, a limitação orçamentária de R$ 30 bilhões — o mesmo valor de 2019 — não permite grandes alterações no cenário a curto prazo, por causa do teto de gastos. A pesquisadora Renata Mirandola Bichir, do Centro de Estudos da Metrópole, declarou à reportagem de O Globo: “Não faz sentido cortar (o Bolsa Família), é um programa que custa 0,5% do PIB. Os efeitos podem ser a piora dos indicadores de pobreza e um impacto nos indicadores de segurança alimentar. Precisamos de articulação com outras iniciativas, mas não vemos isso na agenda“.
O crescimento da população de rua
Quem anda pelas ruas
das grandes cidades do Brasil não pode deixar de ter a atenção voltada para a
explosão do número de moradores de rua. Dados do Censo da População em Situação
de Rua, realizado pela Prefeitura de São Paulo, lançado no mesmo dia da
divulgação dos dados sobre São Paulo chegou a 24.344 pessoas em 2019 — um aumento
de 60% em quatro anos. Em 2015, os moradores nesta situação eram 15,9 mil.
O levantamento da
Prefeitura de São Paulo mostra a relação entre o aumento no número de moradores
de rua e a alta na taxa de desemprego —que era de 13,2% na cidade em 2015 e em
2019 chega a 16,6%. A pesquisa indica os
motivos relatados por essas pessoas para terem sido levadas à situação de rua:
perda de trabalho, conflitos familiares, falecimento de parentes, drogas,
problemas de saúde (como depressão). Alguns são egressos do sistema prisional.
Desinformação
Bereia avalia que matérias sobre a queda na taxa de desemprego em 2019 que omitem a questão do crescimento do trabalho informal e promovem a mera comparação com números de anos anteriores que não incluíam esta realidade, e, ainda, desconsideram os efeitos da fragilização social relacionados ao trabalho, apresentam, em síntese, desinformação, com conteúdo enganoso.
Referências de Checagem:
Agência IBGE Notícias. PNAD Contínua: taxa de desocupação é de 11,0% e taxa de subutilização é de 23,0% no trimestre encerrado em dezembro. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/26740-pnad-continua-taxa-de-desocupacao-e-de-11-0-e-taxa-de-subutilizacao-e-de-23-0-no-trimestre-encerrado-em-dezembro
Mota, Camila Veras. Caged: o que os números do emprego dizem sobre o primeiro ano da economia sob Bolsonaro. BBC Brasil, 24 janeiro 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51214335
O portal Gospel Prime anunciou na última terça, 17, que Jair Messias Bolsonaro havia “aceitado Jesus” durante culto de ação de graças realizado pela Frente Parlamentar Evangélica no Palácio do Planalto, em Brasília. A notícia viralizou nas principais mídias sociais depois de algumas horas. Bereia recebeu inúmeros pedidos de checagem e decidiu verificar a autenticidade da matéria.
Fonte: gospelprime.com.br
Bolsonaro “aceitou a Jesus?”
A pedido do Bereia, a assessoria da Presidência
enviou por e-mail o conteúdo da fala de Bolsonaro no culto de ação de graças
realizado no Palácio do Planalto. Um
trecho contém a afirmação:
“A todos vocês, nesse momento, é motivo de honra, de
orgulho e de satisfação vê-los, juntamente comigo, publicamente, aceitando
Jesus nessa Casa, que estava carente da Sua Palavra”.
Para muitos evangélicos, a afirmação veio como uma “nova
conversão”, já que uma primeira teria se dado no Rio Jordão, em 2016, quando Bolsonaro
foi batizado pelo pastor assembleiano Everaldo Dias Pereira.
Bereia checou a trajetória de Jair Messias Bolsonaro, no tocante a religião, ao longo dos seus 65 anos e verificou que há muitas ambiguidades.
Início da caminhada
Fonte: jornalggn.com.br
Bolsonaro é um ítalo-brasileiro, criado no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. A região foi estruturada a partir de vários grupos étnicos, dentre eles os italianos. As colônias italianas são marcadas pela religiosidade popular católico-romana, pela agricultura tradicional e por fortes laços familiares. Bolsonaro nasceu neste cenário, em março de 1955, no povoado de Glicério, fundado pela família italiana de Castillho. A torcida pelo Palestra Itália (atual Palmeiras) e a festa de Nossa Senhora de Aparecida são especialmente importantes para a colônia ítalo-brasileira e seus descendentes.
Em 1966,
ainda criança, mudou-se com a família para Eldorado, uma das regiões mais
pobres de São Paulo e com forte predominância católica, 80% de sua população. Aos
18 anos deu início à carreira militar, da qual se aposentou aos 33 anos devido a
eleição de 88, da qual elegeu-se como vereador do Rio de Janeiro.
Durante sua caminhada no exército, não se envolveu e nem participou de nenhuma Associação de Oficiais Cristãos .
Primeiros passos na carreira política
Fonte: arquivo da câmara dos deputados.
Em 1988 Bolsonaro foi eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Seu mandato foi discreto e pouco participativo, usado principalmente para dar visibilidade às causas militares. Manteve-se, nessa época, distante da Frente Parlamentar Evangélica. Ainda pelo PDC, elegeu-se como deputado federal em 1990, também pelo Rio de Janeiro. Nos anos seguintes conseguiu se reeleger como Federal transitando por 8 partidos – PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL.
Gostaria de saber se o deputado segue algum tipo de religião. Suzana Marques, RJBolsonaro: “Acredito em Deus, essa é a minha religião. Sou um católico que, por 10 anos, frequentou a Igreja Batista”.
Casamento
Fonte: último segundo/IG
Em 2013, Jair Messias Bolsonaro, católico, consolidou um terceiro casamento, este com Michelle de Paula Firmo Reinaldo, evangélica, por meio de cerimônia religiosa realizada pelo pastor Silas Malafaia, da Igreja Vitória em Cristo. Michelle foi membro da igreja de Malafaia até 2016, depois passou a frequentar a Igreja Batista Atitude em 2018, localizada na Barra da Tijuca, no Rio. A primeira-dama desenvolve naquela igreja, até hoje, projetos sociais com surdos.
Rumo à Presidência / Parte 1
Fonte: contextolivre
Em março de 2016 Bolsonaro filiou-se ao Partido Social Cristão (PSC), do qual foi apresentado como pré-candidato à Presidência da República para 2018, inclusive pelo presidente nacional do partido, Pastor Everaldo, o mesmo que iria batizá-lo posteriormente no Rio Jordão.
“Recebo a indicação como pré-candidato à Presidência da
República pelo PSC como missão. Vamos afinar o discurso, mas pode ter certeza
que o direcionamento será para a direita”, disse Bolsonaro.
No evento de filiação, as bancadas evangélica e da bala prestigiaram a admissão de Bolsonaro ao novo partido.
Desde 2013 Bolsonaro já vinha se aproximando de Feliciano (PSC-RJ), e também do senador Magno Malta (PL-ES), defensores de pautas e alianças políticas.
PSC e Pastor
Everaldo
O PSC era historicamente um “partido de aluguel” e, a partir de 2003 foi ocupado pela Assembleia de Deus, em certa concorrência com a Igreja Universal do Reino de Deus, que havia ocupado o PRB (Partido Republicano do Brasil). A partir daí passou a mobilizar a pauta conservadora. A fórmula, “conservador nos costumes e liberal na economia” passou a definir a legenda e seus candidatos.
O atual
presidente do PSC, Everaldo Dias Pereira, registrado na política como “Pastor
Everaldo”, é oriundo da Assembleia de Deus – por meio da qual entrou na
política, tendo exercido o cargo de Secretário da Casa Civil (1999 – 2002) no
Governo de Anthony Garotinho (PDT).
A conexão entre os evangélicos e a política foi potencializada com a formação da bancada evangélica no Congresso Nacional em 1986, consolidada ao longo das décadas seguintes com força maior entre pentecostais, especialmente políticos ligados à Assembleia de Deus e à Universal do Reino de Deus. A eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Câmara Federal em 2015-2016 foi o resultado da potencialização deste poder.
Bolsonaro e o Batismo no Rio Jordão
Após
filiar-se ao PSC, em março de 2016, Jair Bolsonaro foi batizado dois meses
depois, no dia 12 de maio de 2016, no Rio Jordão, em Israel, pelo Pastor
Everaldo. O ato
foi realizado enquanto acontecia o impeachment de Dilma no Senado.
Antes
de ser mergulhado nas águas do Jordão, Bolsonaro respondeu às perguntas do
pastor Everaldo, reconhecendo a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
– Jair Bolsonaro, você acredita que Jesus é o filho de Deus?
– Acredito.
– Você crê que Ele morreu na cruz?
– Sim.
– Que Ele ressuscitou?
– Sim.
– Está vivo para todo o sempre?
– Sim
– É o salvador da humanidade?
– Sim.
– Mediante a sua confissão pública, eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
“Aceitar a Cristo” é um ato simbólico característico da cultura de fé dos evangélicos, que significa alguém aceitar vincular-se a uma confissão cristã e abraçar seus dogmas e costumes. A pessoa que “Aceita Jesus” declara isto publicamente em momento específico nos cultos e reuniões religiosas após atender a um apelo dos líderes para a “conversão” (assumir as regras de fé cristãs e da confissão e viver uma “nova vida” pautada por elas). A confissão de fé tem sido institucionalizada, normatizando-se a padrões denominacionais. Neste cenário a conversão é também confissão a uma verdade e não a uma pessoa ou divindade.
“Bolsonaro não é evangélico. O batismo não significa que ele se tornou um, aquilo tinha o objetivo simples, de ventilar nas redes/mídias sociais uma aproximação simbólica com o meio evangélico.”
Rumo à Presidência – Parte 2
Em 2017 Bolsonaro começa a movimentação para conseguir uma legenda que permitisse sua candidatura à Presidência da República em 2018. Houve o rompimento com o PSC naquele ano por vários motivos. Uma delas foi a aliança que o partido fechou com o PCdoB no Maranhão nas eleições municipais de outubro de 2016. Bolsonaro não admitia que o PSC apoiasse legendas relacionadas a “comunismo” ou à esquerda. A aliança comuno-cristã em São Luiz possibilitou a eleição de três vereadores comunistas e um evangélico. O ex-capitão considerava que o programa político do PCdoB, que defende bandeiras como a descriminalização do aborto e do consumo de maconha e apoia o casamento gay, seriam incompatíveis com o que o PSC prega.
Outro problema com o PSC tem relação com a campanha do filho Flávio, deputado estadual e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016. Bolsonaro foi repreendido pelo pastor Everaldo porque recusou, aos gritos, a ajuda da deputada Jandira Feghalli (PCdoB), que é médica, quando Flávio desmaiou durante um debate na TV e a concorrente foi ajudá-lo. A repreensão de Everaldo irritou Bolsonaro.
Um terceiro desentendimento entre o deputado e o PSC ocorreu quando ele gravou um vídeo recusando as doações, em dinheiro, para a campanha do filho no Rio de Janeiro, pedidas pelo partido. A direção da legenda se queixou que o parlamentar não aceita orientação partidária, não gosta de trabalhar em conjunto e é considerado personalista. Bolsonaro avisou que pretendia criar um sistema pessoal de arrecadação para a campanha, o que é proibido por lei, e ao qual PSC é contra.
A simpatia dos evangélicos sempre foi alvo de Bolsonaro. Ao lado da esposa evangélica e com o apoio das principais lideranças religiosas do Brasil – Silas Malafaia (Vitória em Cristo), Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus) e José Wellington Bezerra da Costa (Ministério Belém, da Assembleia de Deus), ancorava sua candidatura.
Decidiu por um slogan cristão em sua campanha presidencial – “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, confrontando o Estado Laico, e defendeu pautas conservadoras para conquistar seu eleitorado – 40 milhões de fiéis em todo o país.
Para os pesquisadores na área da Religião, Ana Keila Mosca Pinezie Andrew Chesnut,“Bolsonaro toca o arsenal simbólico não só de evangélicos, mas de cristãos católicos que o reconhecem como a melhor e única saída para as mazelas do país, ou seja, estabelece-se uma relação entre a figura do candidato e o forte messianismo do catolicismo popular e evangélico do pentecostalismo. É importante lembrar que católicos e evangélicos uniram-se à bancada evangélica, na Câmara dos Deputados, em uma só voz contra pautas relacionadas à descriminalização do aborto e o casamento gay.”
Bolsonaro,
Presidente católico, mas politicamente evangélico
Após vitória nas urnas, em novembro de 2018, Bolsonaro concedeu entrevista à TV Aparecida à qual afirma que é católico,apostando assim na “ambiguidade religiosa”.
Em maio de 2019, o país foi “consagrado ao Coração de Maria”. Na celebração, realizada no Salão Leste do Palácio do Planalto, o presidente assinou o ato de consagração do Brasil, que foi “um pedido da Frente Parlamentar Católica”, representada pelo Deputado Eros Biondini (PROS-MG).
Nesta checagem Bereia analisou a trajetória de Jair Messias Bolsonaro e suas relações com o contexto evangélico, ao qual pertence o ato simbólico de adesão denominado “aceitar Jesus”. Conclui-se que Bolsonaro tem uma postura política-eclesiástica muito irregular e ambígua.
Oficialmente, o perfil religioso do presidente anuncia sua vinculação ao catolicismo, porém, politicamente, acena para os evangélicos.
Em contato com a assessoria da Presidência da República na última quinta, 19, Bereia perguntou sobre a religião de Bolsonaro. Em resposta, a assessoria afirmou que não comenta sobre a religião do Presidente, mantendo, oficialmente, a posição de ambiguidade.
Bereia classifica, portanto, a matéria publicada pelo site Gospel Prime sobre a “conversão de Bolsonaro” como imprecisa, pois o texto não inclui a “aceitação a Jesus”, tornada pública no ato de batismo no Rio Jordão em 2016. A matéria faz uso, apenas, de uma frase do discurso do Presidente no culto realizado no Palácio do Planalto. Até o presente momento, Jair Bolsonaro não comprovou adesão a uma denominação evangélica.
Pastor Everaldo recebeu R$ 6 milhões para favorecer Aécio,
diz Odebrecht. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/pastor-everaldo-recebeu-6-milhoes-para-favorecer-aecio-diz-odebrecht-21210969
Bolsonaro deixará o PSC e negocia candidatura ao Planalto por outro partido. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/bolsonaro-deixara-o-psc-e-negocia-candidatura-ao-planalto-por-outro-partido/
Bolsonaro rompe com Pastor Everaldo e vai disputar eleição por outro partido. Disponível em: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/11/bolsonaro-rompe-pastor-everaldo-eleicao-outro-partido.html
Sou católico e não vou acabar com o feriado de 12 de Outubro, diz Bolsonaro em entrevista. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FC5LvU98-pg
Bolsonaro junto com Dom Rifan fará um ato de consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria. Disponível em: https://www.tercalivre.com.br/bolsonaro-junto-com-dom-rifan-fara-um-ato-de-consagracao-do-brasil-ao-imaculado-coracao-de-maria/
Notícia publicada pelo site de notícias Gospel+, em 7 de dezembro, afirma que uma decisão tomada pelo governo das Filipinas incluiu o Conselho Nacional de Igrejas das Filipinas (NCCP, sigla em inglês) na lista de “organizações de frente de grupos terroristas comunistas locais”.
Gospel+ se baseia em notícia publicada pelo site de notícias Evangelical Focus, que afirma que o NCCP foi informado da decisão pelo major-general Reuben Basiao, vice-chefe de gabinete de inteligência das Forças Armadas das Filipinas, em 5 de novembro. A matéria informa também que, em nota, o NCCP pediu ao governo filipino uma revisão da decisão, a qual a entidade disse ser incompatível com o trabalho do grupo. Segundo o Evangelical Focus, uma vez que o NCCP foi classificado como grupo terrorista, seus membros podem ser autuados, acusados de crime contra o Estado e outras violações, tendo suas liberdades ameaçadas até por discordâncias no âmbito político-administrativo.
Bereia checou a informação. De fato, no site do NCCP consta uma declaração sobre o caso, publicada em 6 de novembro, que confirma que o conselho de igrejas “foi uma das várias organizações humanitárias e de serviço da lista [de ‘organizações de frente de grupos terroristas comunistas locais (CTG)’] apresentada pelo Major-General Reuben Basiao, Vice-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas das Filipinas durante a reunião do comitê da Câmara em 5 de novembro”.
Corrigindo a
informação do Gospel+ de que a
decisão do governo filipino “colocou em alerta um grupo de igrejas evangélicas
do país, pertencente ao Conselho Nacional de Igrejas (NCCP)”, todas as
igrejas-membro do NCCP (nove protestantes e uma católica não-romana) , por meio
de seus representantes, assinam a declaração que “rejeita a inclusão infundada
e sem base de seu nome na lista de ‘organizações de frente de grupos terroristas
comunistas locais (CTG)’ pelo Departamento de Defesa Nacional (DND)”.
O organismo ecumênico das Filipinas denuncia que a acusação é “uma afronta ao trabalho e ministério do NCCP, suas igrejas membros, membros associados e parceiros locais e internacionais” e também a classifica como “extremamente alarmante e perigosa”. O documento pede “respeitosamente ao governo que reveja e revise seriamente as acusações infundadas e se envolva na construção da paz, começando com o reatamento das negociações de paz com a Frente Democrática Nacional das Filipinas”. Veja aqui a declaração completa.
O Bispo da Diocese Episcopal da Filipinas Central, Rex Reyes, ex-Secretário Geral do NCCP, emitiu uma declaração, apoiada pela Igreja Episcopal do país, chamando a ação do governo filipino de “irresponsável e maliciosa”. Na declaração, o bispo Rex Reyes afirma que o NCCP nunca se envolveu em atos ocultos e se opôs à lei marcial e à violação dos direitos humanos que têm vigorado no país. Ele disse: “Os esforços pioneiros do NCCP por paz e justiça neste país também são um livro aberto. Tenho orgulho de dizer que, entre os conselhos das igrejas em todo o mundo, o NCCP ainda é considerado uma formação ecumênica vibrante, duradoura, líder e reconhecida. Isso ocorre porque o NCCP vê sua vida e seu trabalho da perspectiva dos vulneráveis, oprimidos e marginalizados.”
O bispo Reyes destacou a corrupção na alta liderança do país e disse: “Não há nada errado quando os cristãos apontam que há tanta corrupção… O que está errado, se não totalmente subversivo, é quando uma mentalidade que mata, persegue e xinga suprime aqueles que defendem oposição e ativismo de princípios. Deve-se saber como a oposição e o ativismo de princípios tornaram este mundo mais pacífico e justo. … O que é certo é defender os direitos humanos, a justiça e a paz. Eu estou com o NCCP”.
Uma parte da matéria do
site Evangelical Focus, que não foi utilizada
pelo Gospel+, confirma a denúncia do
Bispo Reyes. A matéria destaca que, em junho de 2019, o governo filipino
rejeitou o pedido das Nações Unidas de uma investigação sobre violações dos
direitos humanos no país, resultante das políticas do governo contra o tráfico
de drogas, argumentando que era uma “interferência”. Segundo dados
oficiais, 5.300 suspeitos foram mortos pela polícia desde 2016, quando Rodrigo
Duterte assumiu a Presidência da República. Mas, segundo os defensores dos
direitos humanos, o número seria três vezes maior.
Na declaração oficial de 6 de novembro, o NCCP afirmou: “nos últimos dias, testemunhamos ataques contra organizações da sociedade civil que são críticas às políticas e programas do governo. Houve ataques, prisões ilegais e difamação. Antes disso, é claro, houve até assassinatos de ativistas e defensores dos direitos humanos. (…) O NCCP considera essas medidas como tentativas desesperadas das autoridades de criminalizar a oposição e armar a lei contra o povo”.
O Conselho Nacional de Igrejas das Filipinas
O NCCP é uma organização
ecumênica formada por nove igrejas protestantes e uma católica não-romana – A
Igreja Católica Apostólica, a Convenção de Igrejas Batistas das Filipinas, a
Igreja Episcopal nas Filipinas, a Igreja Evangélica Metodista nas Ilhas
Filipinas, a Igreja Filipina Independente, a Igreja Unida Ecumênica, a Igreja
Luterana nas Filipinas, o Exército da Salvação, a Igreja Unida de Cristo nas
Filipinas, a Igreja Metodista Unida.
Fundado em 1963, o
NCCP afirma suas bases na missão de Cristo, e no oferecimento às igrejas
oportunidades de testemunho comum como resposta conjunta às necessidades e
preocupações das pessoas. O NCCP declara-se comprometido com a unidade e a
reconciliação e a promoção e proteção dos direitos humanos, por isso trabalha
com igrejas e comunidades, independentemente de sua religião ou crenças, a fim
de fornecer ajuda humanitária digna e outros serviços sociais para as pessoas,
especialmente para irmãs e irmãos considerados minorias.
Em sua declaração contra
a acusação de “terrorismo” pelo governo filipino, o NCCP teme que tal situação possa
atrasar ou até impedir a prestação de serviços tão necessários às comunidades
marginalizadas, especialmente em meio a desastres.
O caso no contexto filipino
Em seu compromisso com
a informação coerente e responsável, Bereia
acrescenta que o caso do NCCP se dá no contexto da grave situação que envolve o
atual governo das Filipinas. Desde a
posse de Rodrigo Duterte, em 2016, o país enfrenta extenso número de execuções
sumárias de suspeitos de crimes e repressão política a opositores. A situação
vem sendo acompanhada internacionalmente pela ONU e por organizações de defesa
de direitos humanos, incluindo várias instituições cristãs, que têm pressionado
o governo a uma mudança de atitude.
Duterte foi eleito presidente em 2016 com um recorde de 16,6 milhões de votos. Seus níveis de popularidade chegavam a 88% em meados de 2018, mas no final daquele ano desceram para 75%, segundo a Pulse Asia Research. Durante sua campanha, o filipino prometeu uma guerra incessante contra traficantes e dependentes químicos. O discurso antidrogas agrada parte significativa da população.
“Esqueçam as leis sobre direitos humanos. Se eu for eleito presidente, farei como quando fui prefeito. Traficantes, ladrões armados e vadios, melhor sumirem, porque vou matá-los”, Duterte disse em um comício. “Vou jogá-los na Baía de Manila e engordar os peixes.”
Ao celebrar sua vitória, encorajou civis armados a matarem traficantes que resistissem à prisão. “Fiquem à vontade para nos ligar ou faça você mesmo, se tiver uma arma”, afirmou em discurso transmitido nacionalmente. “Atirem neles e lhes darei uma medalha.”
Críticos de Duterte temiam que assassinatos extrajudiciais se espalhassem pelas Filipinas. Poucas semanas após a sua posse, quase 2 mil indivíduos supostamente ligados ao tráfico foram mortos por policiais ou grupos de vigilantes. Atualmente, de acordo com a Human Rights Watch, já são mais de 12 mil – o que inclui inocentes e vítimas atacadas por engano.
Parte dos homicídios é executada por assassinos de aluguel atuando sob o comando de autoridades locais. Em 2016, a BBC News entrevistou uma mulher que disse receber cerca de US$ 430 (cerca de R$ 1660) por cada execução de traficantes.
Para a Anistia Internacional, trata-se de uma guerra aos pobres e de uma “indústria da morte” que afeta populações carentes urbanas. A polícia também é acusada de matar suspeitos para ganhar recompensas, além de plantar evidências e roubar vítimas.
No ano passado, o presidente filipino voltou a atrair atenções do mundo ao propor a criação de um grupo civil armado para fazer frente ao Novo Exército Popular, um grupo comunista rebelde criado no final da década de 1960 e ativo até os dias atuais. Duterte afirmou que a milícia que ele pretende criar vai ser chamar “Esquadrão da Morte de Duterte” e terá poderes para matar suspeitos de serem revolucionários, dependentes químicos e até pessoas que vaguem sem propósito pelas ruas.
O presidente filipino frequentemente causa espanto com suas declarações. Em setembro de 2016, por exemplo, comparou-se a Adolf Hitler em um discurso em Davao. “Hitler massacrou 3 milhões de judeus. Agora há 3 milhões de viciados em drogas nas Filipinas. Eu ficaria feliz em massacrá-los.”
Bereia teve acesso à Declaração “Justiça e responsabilidade pelas violações de direitos humanos nas Filipinas”, aprovada pela 25ª Convenção Geral do NCCP (25 a 28 de novembro de 2019). O texto denuncia as violações que estão ocorrendo diante das políticas do governo e confirma o que a matéria da BBC News Brasil aborda
O documento do NCCP diz: “De acordo com inúmeros relatos, na guerra contra as drogas, cerca de 27 mil pessoas foram mortas em relação com a campanha contra drogas ilegais. Principalmente nas comunidades pobres, o número de mortes, tanto pelas mãos da polícia quanto por indivíduos desconhecidos, não foi adequadamente investigado; a adequação da conduta policial não foi determinada; e os assaltantes desconhecidos não foram presos. Raramente ouvimos falar de grandes traficantes de drogas que enfrentaram a barreira da justiça. A guerra contra as drogas tem sido implacável, e a situação só se intensificará se continuar sendo tratada como um problema criminal e não como um problema de saúde. Para piorar a situação,existem os ‘policiais ninjas’ que reciclam drogas apreendidas, tornando toda a campanha profundamente suspeita. Havia esperança de que houvesse mudanças positivas na condução da campanha do governo sobre drogas ilegais após a nomeação do vice-presidente Leni Robredo como czar antidrogas. Infelizmente, ela foi demitida da posição após apenas três semanas”.
O texto do NCCP prossegue afirmando que: “Além da guerra às drogas, mais de 2 mil defensores dos direitos humanos foram atacados por vários métodos, incluindo ameaças, intimidação, assédio, acusações falsas e assassinatos extrajudiciais. Atualmente, existem mais de 200 casos de assassinatos extrajudiciais de defensores dos direitos humanos, incluindo pessoas das igrejas, algumas das quais pertencentes às igrejas-membros do NCCP. A maioria das vítimas das várias violações de direitos é crítica aos programas e políticas do governo que desconsideram os direitos das pessoas. Até o Conselho foi incluído na lista de ‘organizações de frente de grupos terroristas comunistas locais’ pelo Departamento de Defesa Nacional”.
O NCCP declara que não vai se intimidar com a acusação e continuará seu compromisso com a justiça:
“Mas chegará o tempo do acerto de contas, Deus “[…] rolará a justiça como as águas e a retidão como uma corrente que flui sempre” (Amós 5:24). O NCCP continuará a defender o dom da dignidade humana de Deus, trabalhará com outros defensores dos direitos e maximizará todos os locais e plataformas nacionais e internacionais, para que aqueles que violam e comprometem os direitos humanos enfrentem justiça e responsabilidade por suas transgressões. Afirmamos nosso compromisso de continuar a busca por justiça e paz, por mais árduo que possa parecer o caminho. Exigimos o julgamento dos responsáveis por crimes contra o povo filipino. Rejeitamos a solução militarista e repressiva para o conflito armado e o problema das drogas”.
Aproximações com Jair Bolsonaro
A matéria da BBC News Brasil destaca ainda que o estilo de governo do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, atraiu comparações com Rodrigo Duterte em espaços internacionais. Tanto a revista americana The New Yorker quanto o Council on Foreign Relations (CFR), organização que publica a conceituada revista Foreigner Affairs, destacam as semelhanças entre discursos dos dois governantes, em particular no endosso à truculência policial e a execuções extrajudiciais.
As plataformas políticas
do brasileiro e do filipino baseiam-se no forte discurso anticrime, incluindo a
defesa da violência policial para reestabelecer a ordem. Duterte, contudo, tem
ido além: seu governo prega o assassinato de traficantes e usuários de drogas
como política de Estado, além de encorajar abertamente policiais e civis a
cometerem esses homicídios.
O CFR também aponta
que, apesar de os líderes serem diferentes ideologicamente (Duterte vem de uma
origem à esquerda e Bolsonaro está na direita), ambos apelam para os cidadãos
com promessas de respostas duras ao crime e à corrupção por meio da força e
também admitem a repressão violenta à oposição política.
Vale registrar que o presidente do Brasil Jair Bolsonaro já usou o termo “terrorismo” para acusar a ONG Greepeace e avaliar os protestos populares no Chile. No primeiro caso, a acusação se deu frente à atuação do Greenpeace na denúncia do vazamento de óleo no litoral do Nordeste e na limpeza das praias. “Olha, pra mim isso [o vazamento] é um ato terrorista. Eu… esse Greenpeace só nos atrapalha. O que ele [o ministro do meio-ambiente Ricardo Salles] falou, não pude conversar com ele pra entrar em detalhe, mas o Greenpeace só nos atrapalha.”, afirmou em entrevista.
Em relação ao Chile, Bolsonaro chamou de “atos terroristas” os protestos que passaram a ocorrer naquele país desde outubro deste ano e resultaram em dezenas de mortos, centenas de feridos e milhares de detidos. Bolsonaro afirmou também que as tropas brasileiras têm que estar preparadas para fazer a manutenção da lei e da ordem no Brasil em caso de protestos de rua. No Chile, o presidente Sebastian Piñera mobilizou as Forças Armadas para reprimir as manifestações, o que não ocorrida desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). “Praticamente todos os países da América do Sul tiveram problemas. O do Chile foi gravíssimo. Aquilo não é manifestação, nem reivindicação. Aquilo são atos terroristas. Tenho conversado com a Defesa nesse sentido. A tropa tem que estar preparada porque ao ser acionada por um dos três Poderes, de acordo com o artigo 142, estarmos em condição de fazer manutenção da lei e da ordem.”, declarou na mesma entrevista.
Em agosto passado, Jair Bolsonaro criticou a realização do Sínodo da Amazônia da Igreja Católica Romana. Em almoço com jornalistas disse que o Sínodo seria um evento político. “Tem muita influência política lá sim”. Questionado se o evento estaria sendo monitorado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Bolsonaro confirmou e disse que a agência monitora todos os grandes grupos.
Bereia classifica, portanto, a matéria publicada pelo site Gospel+ sobre a acusação do governo filipino ao NCCP, taxando-o de “organização terrorista”, como verdadeira.
BONIS, Gabriel. Rodrigo
Duterte: quem é o presidente das Filipinas comparado a Bolsonaro no exterior
que quer criar ‘esquadrão da morte’. BBC News Brasil, 28 nov 2018. Disponível
em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45863030
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitucionalidade da prisão em segunda instância gerou uma onda de notícias falsas, em que o argumento principal gira em torno da soltura de presos condenados por assassinatos, pedofilia, estupros e crimes hediondos. No dia 10/11, o site Pleno News divulgou que “Decisão pode soltar médico que estuprou 37 mulheres”.
A notícia informa que a decisão do STF pode beneficiar 4.800 presos, dentre os quais, “Gil Rugai, acusado de matar o pai e madrasta, o DJ Renan da Penha e o médico Roger Abdelmassih. especialista em reprodução humana, Abdelmassih foi condenado a 181 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres”.
Dentre os três exemplos
citados na matéria, o foco é o médico estuprador. Consta a informação de que
desde outubro deste ano Roger Abdelmassih cumpre pena no hospital penitenciário
em São Paulo, depois da juíza Andréa Barreira Brandão, da 3ª Vara de
Execuções Criminais da Comarca de São Paulo, atestar que o réu tinha condições
de fazer seu tratamento de saúde em regime fechado.
Em 2014, ele teve autorização para cumprir pena
em regime domiciliar, pois a defesa havia alegado que o regime carcerário
poderia agravar seu estado de saúde. No entanto, esse benefício foi revogado em
2019 e Abdelmassih retornou para o regime fechado.
A notícia do Pleno News apresenta uma
informação falsa na chamada e com conteúdo controverso, em que o próprio
exemplo citado (o médico estuprador) permanece preso, após pedidos de vista
em 2019. Ao invés de aprofundar o debate
sobre a prisão em segunda instância, a nota encerra com a informação de que o
caso inspirou a série Assédio, lançada pela GloboPlay, em 2008.
A checagem do UOl Confere (09/11) sobre “Decisão que libertou Lula e outros presos gera enganos e fake news na rede” entrevistou o advogado criminalista Leonardo Pantaleão para falar sobre esse argumento que circula nas redes e aparece também no Pleno News. Segundo Pantaleão, é um equívoco afirmar que a decisão do STF impacta, de uma forma geral, em pessoas que cometeram este tipo de crime.
“A decisão encerrou a execução provisória da pena após a segunda instância. Ou seja, aquelas pessoas que não têm os requisitos de prisão preventiva têm o direito para aguardar o trânsito em julgado em liberdade para, então, começarem a cumprir a pena”, explica Pantaleão.
A advogado explica que pedófilos, homicidas e estupradores não
serão impactados pois eles têm contra si a prisão preventiva. Para que não
sigam praticando crimes, eles são colocados no sistema penitenciário
independentemente do trânsito em julgado. Para esses casos, a decisão contrária
à prisão de Segunda Instância não altera a atual condição deles.
Sobre a
decisão do STF
Na última sexta-feira (07/11), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é constitucional a
regra do Código de Processo Penal (CPP) que prevê o esgotamento de todas as
possibilidades de recurso (trânsito em julgado da condenação) para o início do
cumprimento da pena.
De acordo com o artigo 283
do CPP, “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”. O artigo está
de acordo com o princípio da presunção de inocência, garantia prevista no
artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal.
Segundo informações do STF, a decisão não veda a prisão antes do esgotamento dos recursos, mas estabelece a necessidade de que a situação do réu seja individualizada, com a demonstração da existência dos requisitos para a prisão preventiva previstos no artigo 312 do CPP – para a garantia da ordem pública e econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal.
A decisão permitiu que o ex-presidente Lula fosse solto depois de 580 dias preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A liberação para que ele recorra em liberdade da condenação em duas instâncias no caso do tríplex em Guarujá foi feita com a autorização do juiz Danilo Pereira Junior.
A soltura do ex-presidente mobilizou seus opositores a empreenderem uma campanha em favor da prisão em segunda instância, sem considerar o contexto do que representa essa decisão, mas focando apenas na permanência ou não de Lula na prisão. No dia 09/11, houve convocação de manifestação no aumentou a pressão para que o Congresso aprove a mudança na Constituição para autorizar a prisão em segunda instância.
O site de notícias Gospel Prime usou um título impreciso para noticiar a tramitação de um projeto de lei da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) sobre atletas transexuais no esporte. O autor da matéria usou o título: “Projeto de Lei quer limitar atletas trans no esporte” para falar do PL 346/2019, de autoria do deputado Altair Moraes (Republicanos).
A chamada dá a entender que a proposta estimula a diminuição de transexuais em esportes de forma geral.
No texto do projeto de lei, porém, o que o autor propõe é que o sexo biológico seja a única maneira de definir a participação de um atleta em times masculinos ou femininos.
A própria ementa do PL já deixa clara a intenção do deputado: “Estabelece o sexo biológico como o único critério para definição do gênero de competidores em partidas esportivas oficiais no estado”.
Ou seja, pelo teor da proposta, jogadores trans poderiam atuar em partidas oficiais e não teriam, necessariamente, que deixar o esporte.
Categorias também não teriam que reduzir em seus quadros o número de atletas com identidade de gênero distinta da biológica, como faz crer o título da matéria. Mesmo na justificativa do projeto, não há qualquer menção clara à “diminuição”.
A despeito dos possíveis futuros resultados do projeto de lei enquanto política pública de questões de gênero, o modo como o texto foi destacado no site leva a um entendimento enganoso do projeto de lei.
O texto veiculado pelo site Gospel Prime, também não oferece a informação completa veiculada pelo Gazeta do Povo, do qual obtém notícia original e mais completa sobre atemática.