Site de extrema direita dissemina desinformação e pânico sobre intervenção militar nas eleições 2022 – PARTE 2

O site de extrema direita Gente Decente, publicou uma série de informações falsas a respeito de uma suposta intervenção militar nas eleições deste ano. Bereia checou as informações em duas partes. (Leia aqui a parte 1)

A matéria de Gente Decente desinforma e propaga pânico neste já conturbado período pré-eleitoral.  O site afirma que todas as preocupações com o que pode acontecer com o Brasil em caso da derrota eleitoral do atual presidente estão sendo intensamente discutidas pelas FFAAs, como visto no Projeto de Nação – 2035. 

O encerramento da matéria “tranquiliza” os leitores, pois, segundo Gente Decente, “nossas FFAAs estão muito atentas e sabem, exatamente, o que deve ser feito para livrar o Brasil de uma desgraça chamada Lula”.

Governo Bolsonaro e Forças Armadas – Militarização da Burocracia

O conteúdo da publicação do site Gente Decente fomenta a ideia de um projeto de nação, no qual as Forças Armadas atuariam aparelhando o governo atual, militarizando a burocracia..

A suposta preocupação das Forças Armadas com o andamento do processo eleitoral é constantemente propagada por apoiadores do atual governo. A presença de militares no Executivo Federal aumentou desde o início do atual governo, como mostra a nota técnica divulgada em maio de 2022 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Com o objetivo de apresentar dados sobre a presença de militares na ocupação de cargos em comissão no Poder Executivo Federal Brasileiro, o Ipea apresenta estatísticas descritivas que permitem, de forma inédita, até onde foi possível ter conhecimento, observar longitudinalmente a trajetória da presença desse grupo especial de servidores na ocupação de cargos no Executivo Federal, entre os anos de 2013 e 2021. 

Constatou-se que a presença agregada de militares em cargos e funções comissionadas teve trajetória de aumento de 59% no período analisado, tanto pelo aumento do número de cargos e funções militares em si como pelo aumento da presença de militares em cargos e funções civis. Consideradas apenas funções de natureza civil, o número de militares nesses postos aumentou 193% no período analisado. 

No caso dos cargos de Natureza Especial os percentuais de militares no total de cargos são mais proeminentes, saindo de 6,3% em 2013 para quase 16% em 2021. A composição dos cargos ocupados se alterou no período, cabendo destaque para os níveis 5 e 6, de mais alto poder decisório, que passaram a ter percentuais mais significativos no conjunto de cargos ocupados a partir de 2019. 

A autora do estudo, a Técnica de Planejamento e Pesquisa em exercício na Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia do Ipea (Diest) Flávia de Holanda Schmidt, foi exonerada da Direção em março de 2022, pouco antes da publicação da nota técnica. Nessa oportunidade, além de Flávia de Holanda, o presidente do Instituto e outros seis diretores também perderam seus cargos. 

Militares e seu Projeto de Poder – Brasil 2035

O documento Projeto de Nação – O Brasil em 2035, citado na matéria de Gente Decente, foi apresentado em fevereiro de 2022 e produzido pelo Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicadas com a participação do Instituto Federalista e do Instituto General Villas Boas, think tanks conservadores e com diversos militares da reserva em seus quadros. 

O documento apresenta uma situação hipotética e desafios a serem vencidos no Brasil de 2035. De acordo com o Projeto de Nação, o Brasil de 2035 é ocupado por novas lideranças políticas surgidas dos movimentos de pressão popular das décadas anteriores. Estas lideranças ocuparam espaços onde antes “prevaleciam as antigas lideranças patrimonialistas e fisiológicas, em grande medida envolvidas em corrupção”. E mesmo que existam nichos onde estas nefastas antigas lideranças ainda tenham influência, o sistema democrático de 2035 está fortalecido. Muito deste avanço democrático se deve aos currículos da educação “desideologizados” durante os últimos anos. 

Dentre os cenários previstos, a influência do Movimento Globalista Mundial  nas decisões do Estado brasileiro aparece com um grande desafio ainda a ser vencido em 2035. O documento caracteriza o  globalismo como “um movimento internacionalista, cujo objetivo é massificar a humanidade, progressivamente, para dominá-la; determinar, dirigir e controlar, tanto as relações internacionais, quanto as dos cidadãos entre si, por meio de intervenções e decretos autoritários. No centro do movimento estaria a Elite Financeira Mundial, ator não estatal constituído por mega investidores, bancos transnacionais e outros entes mega capitalistas, com extraordinários recursos financeiros e econômicos.

Além disso, seria visível a união de esforços entre determinadas entidades brasileiras e o movimento globalista, inclusive com o apoio de relevantes atores internacionais, visando interferir nas decisões de governantes e legisladores, especialmente em pautas destinadas a conceder benesses a determinadas minorias, em detrimento da maioria da população, a exercer ingerência em nosso desenvolvimento econômico, usando pautas ambientalistas a reboque de seus interesses e não pela necessária preservação da natureza, e a provocar crises que enfraquecem a Nação em sua busca pelo desenvolvimento.

E ainda, o globalismo teria uma outra face, mais sofisticada, que, segundo o Projeto de Nação, pode ser caracterizada como “o ativismo judicial político-partidário”, pelo qual parcela do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública atuam sob um prisma exclusivamente ideológico reinterpretando e agredindo o arcabouço legal vigente, a começar pela Constituição brasileira. 

Alguns conflitos que no “Entorno Estratégico” abalariam o Brasil, como a “predatória” exploração de minerais na Guiana, que causará um conflito com os EUA após “forte reação de entidades ambientalistas internacionais e de direitos humanos, tendo em vista as condições degradantes dos empregados” . Uma nova pandemia, desta vez do “Xvírus” também seria, segundo o site,  um desafio logo superado entre 2027 e 2028. 

Globalismo

A teoria da conspiração conhecida como Globalismo e apresentada no Projeto de Nação é uma das bandeiras do atual governo e seus apoiadores. O documento segue a mesma linha dos pensamentos do guru conservador Olavo de Carvalho e do ex-chanceler Ernesto Araújo, “olavista” convicto. 

Olavo de Carvalho sempre teve um bom trânsito nos meios militares e suas teorias foram transmitidas de geração para geração. Piero Leirner conta em sua obra “ O Brasil no Espectro de uma Guerra Híbrida” como Carvalho, em grande medida, subsidiou as teses sustentadas pelos militares nos dias atuais, dentre estas, o Globalismo. 

O documento cita ainda “o ativismo judicial”, como uma outra face do Globalismo. Esta passagem serve de munição para os ataques ao judiciário brasileiro e alimenta falsas informações com as apresentadas pelo site Gente Decente. 

A referência à China como um fator de desestabilização da região com a “exploração predatório” na Guiana e maus tratos aos empregados durante este processo chama atenção pois, segundo Plano de Nação, a forte reação das “entidades ambientalistas internacionais e de direitos humanos” provocaram a intervenção dos EUA e aliados na região. De acordo com o Globalismo, estas entidades são ligadas aos metacapitalistas e elites mundiais na cruzada para estabelecer um governo mundial.  

Segundo as informações apresentadas , é possível caracterizar estes “acontecimentos” que fazem parte do “Projeto de Nação”, como uma “Grande Inversão”. O antropólogo Piero Leirner explica que se trata de um método dialético: uma constante projeção que certos agentes realizam nos seus inimigos invertendo suas posições. A ideologia, neste caso, que assume um tom de conspiração e pertence aos outros, revela mais sobre o documento produzido do que os processos e projeções que descreve. “Ela revela um uso consciente dessas inversões de realidade visando provocar reações inconscientes que afetam o real de forma programada. Militares chamam isso de “operações de bandeira falsa”. (O Brasil no Espectro de uma Guerra Híbrida. p.19) 

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Bereia concluiu na primeira parte da checagem que as informações apresentadas por Gente Decente não eram verdadeiras. Porém, reconhece que ao citar o Plano de Nação – Brasil 2035, o site buscou subsídios em um documento real, mas que faz exatamente o que afirma criticar: uma “ideologização” da visão de país, a construção de inimigos (China, Rússia e antigas lideranças políticas nacionais), teorias da conspiração (Globalismo) e uma retórica que captura termos como “democracia”e “liberdade de expressão” e as utiliza num contexto que quer dizer exatamente o contrário. No momento de publicação desta checagem, o site Gente Decente, bem como o canal de YouTube, encontram-se fora do ar.

Referências de checagem:

Coletivo Bereia.

https://coletivobereia.com.br/site-de-extrema-direita-dissemina-desinformacao-e-panico-sobre-intervencao-militar-nas-eleicoes/  Acesso em: 02 ago 2022

https://coletivobereia.com.br/e-alta-a-confianca-da-amostra-de-urnas-que-compoem-o-teste-de-integridade-do-tse/ Acesso em: 19 jul 2022

Folha de São Paulo. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/bolsonaro-repete-teorias-da-conspiracao-e-ataca-urnas-stf-e-tse-a-embaixadores.shtml Acesso em: 19 jul 2022

Ipea. Nota Técnica. https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/pubpreliminar/220530_publicacao_preliminar_presenca_de_militares_em_cargos_novo.pdf Acesso em: 19 jul 2022

Projeto de Nação. https://sagres.org.br/artigos/ebooks/PROJETO%20DE%20NA%C3%87%C3%83O%20-%20Vers%C3%A3o%20Digital%2019Mai2022.pdf  Acesso em: 02 ago 2022

Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=ERvuSep8Ric  Acesso em: 02 ago 2022 

Instituto Sagres. https://sagres.org.br/ Acesso em: 02 ago 2022 

Instituto Federalista. https://if.org.br/home-1/ Acesso em: 02 ago 2022

Instituto General Villas Boas. https://igvb.org/ Acesso em: 02 ago 2022

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Foto de capa: Flickr Palácio do Planalto

Direita e esquerda no Brasil: o imaginário, o digital, o caos

Novas formas de ativismo passaram a compor o cenário político brasileiro, traduzindo as mudanças significativas na organização e mobilização política  na era das novas tecnologias, mídias sociais, influenciadores digitais, disparos de mensagens em massa etc, conferindo à esfera pública digital e à opinião pública um papel fundamental sobre as mediações que realiza entre os cidadãos e o Estado. 

A pesquisa “Cara da Democracia no Brasil” realizada pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação fornece algumas pistas para tentar compreender estas e outras  importantes mudanças no comportamento, nas atitudes, nas crenças e valores dos cidadãos brasileiros com relação à democracia, temas que dominam o debate público desde a eleição de Jair Bolsonaro, como legalização do aborto, descriminalização das drogas e direitos das chamadas minorias. 

De acordo com a pesquisa, o dobro dos brasileiros se diz mais à direita do que  à esquerda no espectro político. Entretanto, devemos levar em conta que a compreensão do significado do que é pertencer à direita ou esquerda não alcança a maioria da população, e muitas percepções mudam ao longo do tempo. 

Direita e esquerda

Os termos direita e esquerda no campo político surgiram no turbulento período da Revolução Francesa de 1789. Durante os acalorados debates na Assembleia Constituinte a respeito do poder que o rei Luís 16 deveria ter a partir daquele momento, o grupo conservador, favorável à manutenção dos poderes da monarquia, ficaram à direita; enquanto os progressistas ou revolucionários, que defendiam diminuir os poderes do rei, sentaram-se à esquerda. 

Com o passar dos anos, as diferenças entre os grupos evoluíram para outros temas, além dos poderes da monarquia, que pouco tempo depois chegou ao fim. Com a direita em busca de uma república vinculada à Igreja e um Estado com mercado liberal e a esquerda lutando por um Estado laico e regulador na economia. Em alguns países os termos progressistas e reacionários, conservadores e liberais ou democratas e republicanos nomeiam esses espectros políticos opostos. No Brasil, mais de 200 anos depois das discussões na França,  os campos da esquerda e direita, com diversos tons entre os extremos de cada lado, continuam polarizando o debate político. 

A pesquisa “A Cara da Democracia”, para tentar compreender onde cada brasileira está posicionado neste debate, apresentou um questionário no qual os entrevistados deveriam marcar de 1 a 10, sendo 1 o máximo à esquerda e 10 o máximo à direita. 

Imagem: reprodução de O Globo

Entretanto, chama atenção na pesquisa – para além de uma direita sedimentada que convive com algumas opiniões progressistas pontuais – o grande número de brasileiros que acreditam em teorias da conspiração. Apresenta-se como um desafio compreender de que maneira essas bizarras teorias ocuparam o imaginário social, o conjunto de crenças, de parte da população.

É espantoso que 20% dos entrevistados acreditam que a Terra é plana, 21% que a cloroquina cura a covid-19, e 27%  não acreditam que o ser humano pisou na lua. No aspecto “ideológico” das conspirações, os números são ainda maiores,  49% acreditam que a China criou a covid-19 e uma das teorias mais difundidas pelo bolsonarismo, o globalismo (ideia de que  a globalização econômica passou a ser controlada pelo “marxismo cultural”), é acolhida por 44% dos entrevistados, que acreditam em uma conspiração global da esquerda para tomar o poder no mundo. O falecido guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho e o ex chanceler Ernesto Araújo difundiram o globalismo incansavelmente. 

Imagem: reprodução de O Globo

Como explica a jornalista e doutora em Ciências da Comunicação Magali Cunha, em seu artigo O lugar das mídias no processo de construção imaginária do “inimigo” no caso Marco Feliciano, “os seres humanos vivem de imagens, vivem de imaginação socialmente construída, o que forma e reforma suas crenças, sua linguagem e suas atitudes frente às demandas da vida e do outro”. 

Desta maneira, “o imaginário é, portanto, um componente da existência humana como experiência marcadamente social, que dá sentido à vida coletiva e é ressignificado por ela. Imaginário é a elaboração coletiva da coleção de imagens formada pelo ser humano, de tudo o que ele apreende visualmente e experencialmente do mundo.” 

O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leonardo Avritzer, afirma que Bolsonaro adota uma tática para (des)governar que está relacionada à ampla base constituída nas redes sociais e degrada as instituições a partir de uma rede impressionante de geração de fake news.   Especificamente a respeito da pesquisa “A Cara da Democracia” e número de brasileiros que acreditam em teorias da conspiração, Leonardo Avritzer destaca que há os dois caminhos para entender a adesão de brasileiros aos apelos conspiratórios: “Há, primeiramente, o nível baixo de escolaridade, especialmente em questões como se a terra é plana. Em outros temas, há um amplo processo de desinformação nas redes sociais, especialmente quando recebem informações das estruturas de confiança delas, como instituições religiosas, família, ou local de trabalho. 

Na campanha eleitoral de 2018, Jair Messias Bolsonaro reuniu os discursos conservador tradicional, neoliberal, populista e religioso em uma nova combinação e elaborou uma retórica sem precedentes no Brasil. Tal rearticulação discursiva materializa um projeto hegemônico para a constituição de uma nova base e agenda política, liberal na economia e conservadora nos costumes, que é uma das facetas de um projeto político mais amplo de reestruturação da hegemonia do bloco centrado na elite econômica e financeira do país em novas condições. 

De acordo com o sociólogo Jessé Souza, “distorcer o mundo social é parte do projeto das classes dominantes para subjugar os demais segmentos da sociedade e se apropriar da riqueza nacional e só a percepção adequada da dimensão cultural e simbólica da vida social nos permite uma compreensão mais profunda e verdadeira da vida que levamos como indivíduos”.  No Brasil de Bolsonaro, as pautas morais e o inimigo comunista alimentam o imaginário de grande parte da população. As mídias sociais são o caminho.

“Engenheiros do Caos”

Na obra “Os Engenheiros do Caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições, Giuliano da Empoli (2019) refaz os caminhos percorridos por figuras como Gianroberto Casaleggio _ cofundador do partido italiano Movimento Cinco Estrelas e um dos primeiros a utilizar a internet e as redes sociais para fazer política, Steve Bannon – guru de Donald Trump e um dos principais nomes da ultradireita no mundo, Milo Yiannopoulos – comunicador e “blogueiro” inglês, apoiador convicto da “liberdade de expressão” e crítico feroz do “politicamente correto” e Arthur Finkelstein – conselheiro de Viktor Orban, presidente ultraconservador da Hungria, que juntos “estão em vias de reinventar uma propaganda adaptada à era das selfies e das redes sociais, e, como consequência, transformar a própria natureza do jogo democrático”. Esses são os Engenheiros do Caos. 

O engajamento técnico: curtidas, comentários e compartilhamentos, tão buscados pelos executivos de marketing e publicidade das grandes empresas, é também o objetivo desses “profissionais” da esfera pública digital. Assim, colocam os algoritmos das redes sociais digitais ao seu favor, pois se os programadores do Facebook ou Instagram, por exemplo, trabalham para atrair e prender a atenção dos usuários pelo maior tempo possível, os algoritmos e ferramentas dos Engenheiros do Caos têm a mesma finalidade, capturar a razão dos indivíduos, neste caso, através da emoção, com iniciativas como o projeto Brasil Paralelo, produtora de conteúdo de extrema-direita, inspirado nas ideias de figuras como Olavo de Carvalho. Buscam “recontar” a História do Brasil,  e as teorias da conspiração são a matéria prima de suas produções e documentários. Um projeto que à primeira vista pode parecer independente e feito por alguns jovens conservadores com “uma ideia na cabeça”, é parte de um movimento bem orquestrado, organizado e muito bem financiado.                          

Não importa se as posições apresentadas são absurdas, mentirosas ou fantasiosas, pois estão pautadas em uma questão numérica de engajamento e não são baseadas em valores éticos. A meta é identificar e hackear as aspirações e os temores dos usuários das mídias sociais digitais e fazer com que interajam com outros que defendem as mesmas posições e com as páginas ou perfis que apresentam estes conteúdos.

Magali Cunha explica que exércitos precisam de inimigos e a Teologia de um Deus guerreiro e belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade de identificação de inimigos a serem combatidos, através dos tempos estes inimigos foram, em maior ou menor grau, a Igreja Católica, as religiões afro-brasileiras, os comunistas e mais recentemente, a população LGBTQIA+. Parte das estratégias no quadro das disputas político-ideológicas baseadas no enfrentamento de inimigos estabelecidos simbolicamente é criar uma “guerra” pela visibilidade, que comumente envolve números e exposição nas mídias. 

As consequências na política nacional

 Jair Bolsonaro e os seus próprios Engenheiros do Caos deram ainda uma nova roupagem a esse discurso, unindo a ameaça aos valores tradicionais da família e da ameaça comunista. Esses temas não são novos, mas a utilização das redes sociais digitais é a novidade.

Jessé Souza afirma que “colonizar o espírito e as ideias de alguém é o primeiro passo para controlar seu corpo e seu bolso”.  De nada adianta os Engenheiros do Caos proclamarem as virtudes do governo atual e demonizar os governos de esquerda se ninguém acreditar nisso. E essa lavagem cerebral, ou melhor, privação sensorial, é turbinada pelas notícias falsas, teorias da conspiração, manipulação de dados e desinformação, turbinados pelas mídias sociais digitais e legitimadas por políticos, religiosos e influenciadores digitais. Algumas vezes, um indivíduo representa tudo isso, como o pastor presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia. 

Nessa bolha sinistra que comporta as mais inusitadas ideias e conspirações, os indivíduos em busca de acolhimento, reconhecimento e alguma explicação para seus anseios, parecem cada vez mais presos e hipnotizados. As teorias da conspiração, preconceitos e ódio sempre estiveram entre nós, no entanto, as redes sociais digitais conectaram pessoas com interesses em comum, inclusive os mais negativos. Os Engenheiros do Caos perceberam este poder das mídias sociais digitais e a utilizaram para manipulação da informação com fins políticos. 

Derrotar Jair Bolsonaro é, para muitos analistas, fundamental para estancar esse processo do que podemos chamar de privação sensorial. Temos o componente religioso e conservador, um grande número de evangélicos e católicos representados por líderes políticos e influenciadores digitais nada cristãos, além de um grande contingente, independentemente de classe social ou nível de escolaridade, que lê cada vez menos, escreve cada vez menos, interpreta cada vez menos e tem nas mídias sociais digitais sua única fonte de informação. 

Contudo, mesmo derrotando o atual presidente nas urnas, esse grupo extremista e seus métodos continuarão em atuação na esfera pública, buscando provocar uma ruptura no sistema democrático. Estes seres não estão mais nas sombras, são métodos e táticas são debatidos em artigos, livros e documentários, mas como um espectro sinistro, são difíceis de abalar ou capturar.

Imagem de capa: Gerd Altmann por Pixabay

Notícias sobre cristofobia em portais gospel não contextualizam questão ao redor do mundo

O Portal Folha Gospel publicou em 24 de setembro de 2020 a matéria “Falar de cristofobia incomoda, mas vamos chamar a atenção para isso, diz Ernesto Araújo”.

O texto reproduz matéria do Portal Guia-me, que sintetiza a entrevista que o Ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo deu à rede de TV CNN, em 22 de setembro passado. Araújo defendeu a relevância do discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, no qual abordou o combate à cristofobia. Na entrevista, o ministro afirmou que o conceito existe e o presidente não foi o primeiro a usar.

Araújo acrescentou à CNN que existe uma conscientização pequena ao redor do mundo acerca da cristofobia e chama a atenção para essa realidade em países cuja maioria da população é cristã e onde, às vezes, o cristianismo é atacado e outras religiões não são.

Ele se referiu ao discurso de Bolsonaro na ONU que incluiu o tema da liberdade religiosa e mencionou o conceito de cristofobia, em defesa dos cristãos que sofrem perseguição.

De acordo com a matéria, parte da imprensa teria repercutido negativamente o discurso do presidente do Brasil, alegando a inexistência de cristofobia no Brasil. Folha Gospel destaca que o ministro acredita que o Brasil é um país majoritariamente cristão, por isso tem responsabilidade em defender os cristãos perseguidos ao redor do mundo (em torno de 260 milhões, número apontado pela ONG Cristã Portas Abertas e reproduzido no Folha Gospel).

Na edição publicada pela Folha Gospel, o ministro Araújo avalia que, em um país como o Brasil, que apresenta a porcentagem de 90% de cristãos, o cristianismo é responsável por parte da sua identidade e da sua essência, o que levaria as autoridades brasileiras a assumirem a responsabilidade de chamarem a atenção para a questão.

A matéria traz a citação do ministro à CNN, referente a um estudo enviado ao Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, que aponta que 80% dos perseguidos por religião no mundo são cristãos. Araújo, segundo a síntese publicada pela Folha Gospel, defende o uso do termo “cristofobia”, já que islamofobia é utilizado para definir a perseguição aos muçulmanos. “Isso precisa ter um nome, para que as pessoas se conscientizem disso”, destacou, de acordo com a edição da Folha Gospel.

Ernesto Araújo afirmou à CNN, segundo a matéria reproduzida, que o discurso do presidente nas Nações Unidas não se limitou à diplomacia, mas foi “relevante, inovador e corajoso”. “Falar de cristofobia pode incomodar algumas pessoas, mas vamos chamar atenção para isso”, disse o ministro na entrevista.

A síntese publicada pela Folha Gospel destaca que o ministro foi questionado por jornalistas da CNN sobre o discurso de Jair Bolsonaro não ter contemplado brasileiros de outras religiões, e ele esclareceu que o presidente não deixou de olhar para as outras religiões, pois defende a liberdade religiosa para todos. A matéria destacou, novamente, que Araújo ressaltou que, pelo fato do Brasil ser um país cristão, as autoridades se sentem responsáveis por chamar a atenção sobre a intolerância religiosa. “Não excluímos ninguém, mas queremos recuperar a identidade nacional, não queremos ser um país genérico”, afirmou o ministro à CNN.

O discurso do presidente Bolsonaro na ONU

Em seu discurso de abertura da 75° Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que durou pouco mais de quatorze minutos, o presidente Jair Bolsonaro destacou a covid-19 e o desemprego, como dois problemas a serem resolvidos e apontou a imprensa brasileira como agente disseminador de pânico entre a população. Falou sobre as medidas tomadas pelo governo federal no âmbito da pandemia, como o auxílio emergencial.

Bolsonaro falou ainda sobre a Amazônia e o Pantanal e a propagação de “desinformação” sobre os incêndios que devastaram os dois ecossistemas, que segundo o presidente, começaram na área em que índios e caboclos mantém plantações, sendo que estas áreas já se encontram desmatadas e comentou sobre o derramamento de óleo venezuelano em 2019 na costa brasileira.

Ao afirmar que “a liberdade é o bem maior da humanidade”, Bolsonaro faz uso do tema da liberdade religiosa e do combate à cristofobia e afirma que “o Brasil é um país cristão e conservador, e tem na família a sua base”.

Sobre o conteúdo do discurso do presidente Bolsonaro na ONU, o projeto Aos Fatos verificou 41 afirmações, tendo avaliado 12 delas como verdadeiras e 29 como desinformação, entre 11 falsas, 7 imprecisas, 6 insustentáveis, 4 contraditórias e uma exagerada. O tema da cristofobia não foi verificado.

A doutora em Ciências da Comunicação, pesquisadora sobre religião e política, jornalista e editora-geral do Coletivo Bereia Magali Cunha afirma que o discurso de Bolsonaro na ONU se revelou recheado de falácias, ou seja, informações falsas, estrategicamente utilizadas para passar a impressão de serem verdadeiras.

A apresentação do tema da “cristofobia” como uma das grandes questões a serem enfrentadas no mundo, representou, para Magali Cunha, um forte aceno aos apoiadores do presidente, tanto católicos quanto evangélicos brasileiros e não é dirigida como “apelo à comunidade internacional”, como faz parecer.

De acordo com a editora-geral do Coletivo Bereia, o termo “cristofobia” não se aplica ao Brasil, por conta dos cristãos serem ampla maioria religiosa e, não haver nesse contexto, perseguição à religião cristã, como ocorre em outros países. Casos de perseguição religiosa a este grupo no país são pontuais, reflexos da ignorância e do preconceito contra evangélicos e de situações, como atentados a símbolos e templos católico-romanos por extremistas evangélicos.

São as religiões de matriz africana que sofrem perseguição religiosa recorrente no Brasil, conforme apontam relatórios elaborados pelo governo federal, fruto de histórica demonização destas religiões por conta da hegemonia cristã exclusivista e do racismo estrutural, por serem expressões de fé da cultura negra. Segundo Magali Cunha, a estratégia discursiva adotada pelo presidente visa a ampliação de forças fundamentalistas anti-direitos de minorias sociais. Para isso, o governo brasileiro tem buscado assessoria de juristas fundamentalistas entre católicos e evangélicos. A atuação da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE) com o ministro Ernesto Araújo em pautas internacionais, é um exemplo.

O professor da Universidade de Brasília (UNB) e coordenador do grupo de pesquisa sobre Filosofia da Religião na instituição, Agnaldo Cuoco Portugal, afirmou em entrevista ao Portal Congresso em Foco que o discurso de combate ao ódio contra cristãos não é necessariamente novo. “Já vi o Papa Francisco falando desta perseguição. O patriarca de Moscou também. Aí faz sentido a estas autoridades falar contra a perseguição de cristãos”, disse, referindo-se ao líder da Igreja Católica Apostólica Romana e a Cirilo I, líder da Igreja Ortodoxa Russa.

O discurso bolsonarista mostra que não se trata apenas da interferência da religião na política, mas também da interferência da política na religião. Qualquer uma das duas manobras, pondera Agnaldo, é perigosa. “O chefe de nação defender determinada religião incorre no perigo de aumentar sua legitimidade política. E é algo perigoso numa democracia por conta de sua laicidade- o Estado não pode tomar uma posição religiosa, em detrimento de uma ou outra expressão”, explicou.

O conceito de cristofobia

Em entrevista ao Coletivo Bereia, o teólogo e pastor batista Irenio Chaves analisou o uso do termo “cristofobia”.

Não existe cristofobia no Brasil. Esse termo foi usado para descrever a perseguição a cristãos em países dominados por outros fundamentalismos e regimes extremistas, muitas vezes com martírio, desterro e violência. Não é o nosso caso. Não resta a menor dúvida de que há uma herança histórica de preconceito a protestantes, que vem diminuindo e quase desaparecendo, que é aquele que diz que todo o crente é sem entendimento e de classes sociais inferiores.

Irenio Chaves

Ouvida por Bereia, a professora de Antropologia da Religião na Unicamp Brenda Carranza explica que o uso do termo “cristofobia” pode estar relacionado às falas do Deputado Marco Feliciano em reação à Parada Gay em São Paulo. “Utilizar pública e aleatoriamente o termo Cristofobia é pavimentar a ideia de que existe um ódio contra o cristianismo. Tal ódio, segundo os disseminadores do termo, é nutrido por minorias sociais, étnicas e demográficas (entre elas comunidades LGBTQ+, movimentos sociais, indígenas, negros, pobres e feministas) que ameaçam o moral e costumes cristãos e acalentam desejos de atacar os cristãos”, afirma a pesquisadora. Em 2015, o então Presidente da Câmara Eduardo Cunha tentou votar com urgência um projeto de lei sobre cristofobia. O PL se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e teve relatório favorável em 2019.

No entanto, o pastor Irênio Chaves interpreta que o aumento de antipatia a segmentos fundamentalistas do evangelicalismo brasileiro acontece devido a um alinhamento deles a uma mensagem política e social imbuída de discurso de ódio, obscurantismo e negacionismo.

“Infelizmente, esse discurso é assumido por lideranças que têm acesso a grandes somas de dinheiro, a uma grande quantidade de pessoas e ao uso de mídias e redes sociais. Infelizmente, essa realidade tem favorecido o fortalecimento da extrema direita, como sinônimo de ‘conservadorismo’, e a divisão nas comunidades, com perseguição e ataques aos que pensam diferente. Se podemos falar em alguma ‘cristofobia’ no Brasil, é o que parte de fundamentalistas contra esses cristãos que querem colocar em prática a mensagem de amor e acolhimento de Jesus no contexto atual.”

Irênio Chaves

O pesquisador e mestre em Ciência das Religiões, Nelson Lellis, ouvido por Bereia, explica que o conceito é impossível de ser aplicado no Brasil:

O conceito Cristofobia diz sobre intolerância religiosa aos cristãos, o que é impossível sua aplicação no Brasil. Cristãos católicos ainda são a maioria; os evangélicos, em crescimento constante, protagonizarão esse cenário em 2032. O atual governo possui vários atores cristãos no poder. O presidente se declara cristão e frequenta missas e cultos. Como o Brasil pode ser cristofóbico? O fato é que as religiões de matriz africana continuam em primeiro lugar como foco de intolerância religiosa. Os principais “perseguidores” são evangélicos. Além de demonizarem sua teologia, destroem terreiros e apedrejam membros desses segmentos. O uso do termo “cristofobia” faz parte de uma tarefa propagandista política conservadora do atual governo. Seu intento é garantir a pauta “Deus, pátria e família”, um mote já bastante conhecido e defendido por igrejas bolsonaristas.

Nelson Lellis

Em entrevista ao Portal O Povo o padre Rafhael Maciel, sacerdote eleito pelo Papa Francisco como Missionário da Misericórdia, disse que o termo cristofobia se refere à aversão ou ridicularização pública de uma pessoa, em razão de sua fé em Jesus Cristo. “A igreja é repleta de mártires, vários santos no passado foram perseguidos porque acreditavam em Cristo. Naqueles primeiros tempos, não chamávamos de cristofobia”, esclarece o padre, recordando que a perseguição contra os cristãos se tornava testemunho de fé.

O sacerdote reconhece que o termo também é empregado para mascarar discursos que negam o extremismo religioso por parte de cristãos. O padre Rafhael salienta que assim como existem preconceitos de raça ou sexual, existem preconceitos ligados à questão religiosa.

Também entrevistado pelo portal O Povo, Christian Dennys, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e estudioso sobre religião há 25 anos, afirma que o conceito de cristofobia tem sido utilizado por supremacistas de direita para afirmar que maiorias cristãs são vítimas “das esquerdas”. Segundo o pesquisador, o termo ganhou novo significado com a midiatização (via mídias sociais) e a judicialização (através de bancadas evangélicas).

“‘Cristofobia’ não existe: mas pode virar uma lei para incriminar, de forma hedionda, quem atente contra a pregação de um ‘neopentecostal’- ultimamente tornado sinônimo do verdadeiro evangélico cristão”, comenta o professor. No entendimento de Dennys, o discurso da cristofobia é instrumento de revanchismo usado por grupos de extrema direita.

Dentro das esferas evangélicas o termo cristofobia tem sido utilizado para se referir a perseguições sofridas por adeptos do cristianismo em diversos países, principalmente onde são minoria. Há inúmeros relatos de prisões, violência e assassinatos de cristãos na Ásia, em países do Oriente Médio e da África.

No Brasil o termo tem sido usado para se referir a episódios de preconceito e discriminação contra evangélicos, embora não exista no país um sistema estruturado de perseguição violenta contra esse segmento religioso.

Entrevistado pela BBC Brasil, Marco Cruz, secretário-geral da ONG Portas Abertas, disse que não dá para falar em “cristofobia” no Brasil. “Há casos isolados de preconceito, mas, no nosso contexto, não consideramos que exista no Brasil uma perseguição estruturada e sistemática contra cristãos, como em outros países. Nós podemos expressar nossa fé livremente, ninguém é expulso de algum local por ser cristão, nenhuma pessoa morre ou é presa no Brasil por ser cristã”, afirma.

Magno Paganelli, doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), disse à BBC Brasil que embora as religiões afro-brasileiras sofram mais com a discriminação, acredita que de fato existe cristofobia no Brasil, “se você considera o rigor do conceito de islamofobia, lgbtfobia e afins”, afirma.

Liberdade religiosa e perseguição de cristãos ao redor do mundo

A liberdade religiosa ou de crença faz parte dos direitos humanos, como afirma o artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

“Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.”

Declaração Universal dos Direitos Humanos

A ONU já publicou diversas resoluções e documentos a respeito da questão, desde a relação da liberdade religiosa com grupos vulneráveis até a intersecção desse direito com outros direitos humanos. Além disso, 22 de Agosto é o Dia Internacional contra a Violência baseada na religião e outras crenças.

Além de instituições religiosas como Porta Abertas e Ajuda à Igreja que Sofre, que colocam atenção à perseguição de cristãos, há organizações, como Pew Research Center, órgão de pesquisa estadunidense, que olham a questão de forma ampla, para além do Cristianismo, e têm publicado levantamentos anuais a respeito das restrições à liberdade de qualquer crença ao redor do mundo.

O pesquisador Brian Grim expôs a metodologia do estudo do Pew Research Forum em um TEDx: mede-se tanto as restrições governamentais quanto as hostilidades sociais relacionadas à liberdade religiosa ou de crença. De forma geral, 52 países (26% do total) impunham grandes ou muito grandes restrições governamentais à crença em 2017. Já os países com grandes ou muito grandes hostilidades sociais relacionadas à religião somavam 56.

Ao separar por religião, o estudo aponta o Cristianismo como confissão mais alvo de restrições em 2017. São 143 países em que cristãos sofrem alguma forma de assédio (termo usado pela pesquisa). Logo atrás vêm o islamismo, com 140 países em que restrições são impostas a seus praticantes. A pesquisa nota que essas religiões são mais alvejadas porque também são os maiores grupos religiosos do mundo.

Cristãos sofrem restrições em todos os 20 países do Oriente Médio e Norte da África e em 75% dos países da região Asiática do Pacífico. Já muçulmanos têm algum tipo de restrição em 95% do Oriente Médio e Norte da África e 93% da Europa. Vale lembrar a explicação de Grim: esses dados levam em conta todo tipo de restrição (governamental ou social): desde a prefeitura de Moscou restringir a 4 o número de mesquitas em seu território até o Paquistão punir o crime de blasfêmia com prisão ou pena capital. Ainda que o estudo avalie a gravidade das restrições por país, não o faz por religião.

Por último, é importante notar que o tema da liberdade religiosa voltada para cristãos faz parte de uma das prioridades da política externa estadunidense sob Donald Trump, como um aceno político ao apoio que recebe desse segmento religioso . A Casa Branca já publicou uma Ordem Executiva tratando do tema em 2020 e o Departamento de Estado dos EUA deixa público relatórios sobre o assunto produzidos desde 2017. A menção de Bolsonaro à liberdade religiosa e à cristofobia faz parte de um alinhamento brasileiro à política externa norte-americana nessa questão, buscando acenar também a seus apoiadores cristãos. inserir esta referência

O cristianismo como elemento formador da identidade brasileira

Em seu discurso, Bolsonaro disse que o Brasil é um país cristão, ponto reafirmado por Ernesto Araújo. No entanto, esta afirmação é enganosa, pois, apesar da predominância numérica cristã, o Brasil é um país com ampla pluralidade de religiões, e não pode ser chamado de cristão.

O Pew Research Center aponta que o país tem a maior população católica absoluta do mundo, apesar da queda nas últimas décadas. De acordo com dados do Censo Demográfico de 1970, os seguidores do Vaticano eram 91,8%. Hoje a população cristã tornou-se mais diversa. O Censo de 2010 aponta que evangélicos são 22,2% de todos os brasileiros e, somados aos católicos, os cristãos correspondem a 86,8% da população brasileira.

A predominância cristã tem relação com a colonização por Portugal, uma nação que esteve no regime do Padroado. De acordo com Eduardo Navarro, livre-docente do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo, nesse regime, a Igreja Católica assistia o direito ou incumbia o dever aos reis de Espanha e Portugal de evangelizar as terras colonizadas. Além disso, os patronos também podiam nomear bispos e comandar missionários em seu território.

Durante o Império de Pedro I e Pedro II, o Brasil manteve o Catolicismo Romano a religião oficial do Estado, ainda que permitisse outras práticas (como a protestante muitas vezes trazida por imigrantes como alemães luteranos na região sul ou ingleses anglicanos), sem autorização de erguer-se templos. Foi apenas com a Proclamação da República em 1889 que o país tornou-se laico, o que não mudou o caráter hegemônico do catolicismo entre os brasileiros. Os símbolos tradicionais dessa vertente do cristianismo ainda se fazem presentes no espaço público, como os crucifixos em prédios da Justiça.

No entanto, o cristianismo não é o único elemento formador da identidade brasileira. A cultura indígena tem marcas profundas na religiosidade popular e a cultura africana dos que foram trazidos como escravizados durante séculos também se faz presente entre os brasileiros, seja na culinária, música e também na religião. Em 2010, 0,3% da população brasileira se declarava umbandista ou candomblecista. Além disso, 8% da população se diz sem religião, 2% segue o espiritismo e há uma pluralidade de religiões de diferentes origens presentes no país, conforme o Censo de 2010.

Nesse sentido, ainda que cristãos sejam a maioria, o Estado é laico e, portanto, não favorece nem persegue credos específico e deve garantir que todos tenham plena liberdade de crer e de não crer , conforme definem os Artigos 5º e 19 da Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

VI – e inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Art. 19 “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II – recusar fé aos documentos públicos; III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.”

Constituição Federal de 1988

O Coletivo Bereia classifica a matéria da Folha Gospel como imprecisa. O texto que reproduz matéria de outro veículo gospel, o Portal Guiame, faz uma edição de conteúdos da entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil à CNN que atua como promoção da fala do político e, por sua vez, do tema da cristofobia, na linha de uma assessoria de imprensa, sem contextualização das diversas afirmações do político apresentadas de forma imprecisa. Além disso, a matéria da Folha Gospel ainda acusa veículos de imprensa de repercutirem negativamente o discurso de Jair Bolsonaro na ONU, sem informar quais foram estes veículos e o que disseram exatamente. Com isso, Folha Gospel (e o Portal Guia-me) produz desinformação e animosidade do público contra veículos de imprensa em geral, tendo transformado o tema, tratado pelo ministro de forma vaga, em título da matéria.

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Foto de capa: Pixabay/Reprodução

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Referências

CORREIO BRAZILIENSE, https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2020/01/15/interna_mundo,820607/mais-de-250-milhoes-de-cristaos-foram-perseguidos-no-mundo-em-2019.shtml. Acesso em: 29 set. 2020.

BBC BRASIL: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54254309. Acesso em: 27 set. 2020

PLANALTO (YOUTUBE): https://youtu.be/821wal-DuEA. Acesso em: 27 set. 2020

RELATÓRIO INTOLERÂNCIA E VIOLÊNCIA RELIGIOSA BRASIL: https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/RelatorioIntoleranciaViolenciaReligiosaBrasil.pdf. Acesso em: 27 set. 2020.

EXAME: https://exame.com/brasil/em-video-feliciano-ataca-cristofobia-na-parada-gay/. Acesso em: 30 set. 2020.

PORTAL CONGRESSO EM FOCO: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/cunha-quer-urgencia-para-projeto-da-%e2%80%98cristofobia%e2%80%99/. Acesso em: 29 set. 2020.

CÂMARA DOS DEPUTADOS, https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1302214. Acesso em: 30 set. 2020.

PORTAL CONGRESSO EM FOCO: https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/o-que-e-cristofobia-e-por-que-faz-pouco-sentido-bolsonaro-falar-sobre-isso/. Acesso em: 27 set. 2020

UNITED NATIONS HUMANS RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER: https://www.ohchr.org/en/udhr/documents/udhr_translations/por.pdf. Acesso em: 28 set. 2020.

UNITED NATIONS HUMANS RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER: https://www.ohchr.org/en/issues/freedomreligion/pages/standards.aspx#20. Acesso em: 28 set. 2020.

UNITED NATIONS: https://www.un.org/press/en/2019/ga12147.doc.htm. Acesso em: 28 set. 2020.

PEW RESEARCH CENTER: https://www.pewforum.org/2013/04/30/the-numbers-of-religious-freedom-brian-j-grim-at-tedxviadellaconcilizaione/. Acesso em: 28 set. 2020.

PEW RESEARCH CENTER, https://www.pewforum.org/2019/07/15/harassment-of-religious-groups-steady-in-2017-remaining-at-10-year-high/. Acesso em: 28 set. 2020.

WHITE HOUSE: https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/executive-order-advancing-international-religious-freedom/#:~:text=Policy.,and%20vigorously%20promote%20this%20freedom. Acesso em: 28 set. 2020

U.S. STATE DEPARTMENT: https://www.state.gov/international-religious-freedom-reports/. Acesso em: 28 set. 2020.

RELIGARE, https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/religare/issue/view/2439. Acesso em: 29 set. 2020.

PEW RESEARCH CENTER, https://www.pewforum.org/2013/02/13/the-global-catholic-population/. Acesso em: 28 set. 2020.

IBGE, https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/137. Acesso em: 28 set. 2020

IBGE, https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/69/cd_1970_v1_br.pdf. Acesso em: 28 set. 2020.

EDUARDO NAVARRO, http://www.revistas.usp.br/teresa/article/download/116738/114296/. Acesso em: 28 set. 2020.

PLANALTO, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso em: 28 set. 2020.

PLANALTO, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso em: 28 set. 2020.

CONSULTOR JURÍDICO, https://www.conjur.com.br/2007-mai-29/uso_simbolo_nao_fere_carater_laico_estado_cnj. Acesso em: 28 set. 2020.

BRASIL ESCOLA, https://brasilescola.uol.com.br/cultura/cultura-africana.htm. Acesso em: 28 set. 2020.

IBGE, https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/14244-asi-censo-2010-numero-de-catolicos-cai-e-aumenta-o-de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao. Acesso em: 28 set. 2020.

PLANALTO, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 28 set. 2020.

É enganosa informação que a transmissão de Covid-19 é rara em pacientes assintomáticos

O site Pleno News publicou em 09 de junho a notícia “Transmissão de Covid-19 por paciente sem sintomas é rara” que destaca a declaração de Maria Van Kerkhove, infectologista e chefe do departamento de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a propagação da Covid-19 a partir de pacientes assintomáticos ser “muito rara”. De acordo com a porta-voz da OMS, os dados levantados mostraram que pessoas que não apresentam sintomas do vírus têm pouco potencial infectológico para contaminar indivíduos saudáveis. Esse pronunciamento foi feito em 08 de junho. Devido à polêmica causada pela declaração, logo em seguida, a infectologista Maria Van Kerkhove, justificou que ainda não há definição de quantas pessoas são assintomáticas.

Matéria publicada pelo Pleno.News (Foto: Reprodução/Internet)

No dia seguinte (09/06), a OMS corrigiu a declaração informando que há transmissão e é preciso que iniciativas de isolamento social continuem a vigorar para evitar a proliferação do Coronavírus. A matéria no Pleno News foi publicada à meia-noite do dia 09/06 e atualizada às 8h40 na mesma data. Mesmo depois da correção da declaração pela OMS, o Pleno News não atualizou a notícia, que permanece no site desatualizada.

A Folha de S. Paulo publicou na mesma data matéria com o título “Assintomático transmite coronavírus e, sem teste e rastreamento, quarentena é necessária, diz OMS”. A matéria enfatizou as recomendações da OMS sobre a transmissibilidade do vírus e o apelo para testagem, rastreamento e isolamento de sintomáticos.

No Twitter, também em 09 de junho, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cobrou transparência da Organização Mundial da Saúde com relação a pandemia e chamou a atuação da OMS de “papel problemático”.

Fonte: Reprodução/Twitter

A distorção das declarações da OMS

Não é incomum a distorção ou retirada de contexto das declarações da Organização Mundial da Saúde para permitir diversas interpretações. Em 06 de maio, por exemplo, o site UOL publicou matéria com o título “Fala da OMS é tirada de contexto para dizer que órgão é contra isolamento”. Segundo o site, a informação foi divulgada através do blog Estibordo que tem um viés de política de direita, sendo posteriormente compartilhado uma fala da OMS baseado na entrevista de Margaret Harris, porta-voz da organização para o jornal The Sydney Morning Herald, sobre o afrouxamento da quarentena na Austrália.

O canal da UOL no Youtube publicou em 09 de junho o vídeo “Bolsonaro distorce dado da OMS sobre transmissão de Covid-19 por assintomáticos” no qual o presidente afirma que deve haver uma “reabertura mais rápida” a partir do momento que a OMS realizou divulgação que a disseminação do Coronavírus por pessoas assintomáticas é considerada rara. Durante a Reunião dos Conselhos, Bolsonaro apresentou críticas à OMS no qual reforça o “pânico” causado pelos meios de comunicação.

Assintomático, sintomático ou pré-sintomático?

O canal do portal de notícias O Antagonista, no Youtube, publicou o vídeo “O Erro Sintomático da OMS” em 09 de junho, que esclarece os conceitos de assintomático, sintomático e pré-assintomático. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o pré-assintomático, por exemplo, seria o indivíduo que ainda não apresentou sintomas do Covid-19 e que inclusive pode haver uma contaminação antes do aparecimento dos sintomas. O assintomático é aquele que ainda não desenvolveu os sintomas, ainda. Os sintomáticos são os indivíduos com os sintomas já desenvolvidos.

Em 10 de junho, o Correio Braziliense publicou notícia com o título “Ignorar pacientes assintomáticos é ”mal-entendido’, diz OMS”, na qual há a afirmação de que milhares de pessoas podem ser infectadas e o vírus pode estar presente em qualquer um, inclusive naqueles que não apresentam os sintomas da covid-19, os chamados assintomáticos.

De acordo com Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências da OMS:

“Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto, saber qual é a contribuição relativa de cada grupo para o número total de casos”.

Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências da OMS

Na tentativa de elucidar a declaração do dia 08/06, Maria van Kerkhove afirmou que há um subgrupo de pessoas que não desenvolvem sintomas, e não há uma resposta concreta para entender esse grupo, que gira entre 6% e 41% da população mundial. “Mas sabemos que as pessoas que não têm sintomas podem transmitir o vírus”, ressaltou.

Ainda sobre o mesmo assunto, o portal de notícias G1 publicou em 09 de junho notícia com o título “OMS esclarece que assintomáticos transmitem coronavírus: ‘a questão é saber quanto’”. A matéria esclarece que uma pessoa com o Sars CoV-2 assintomática nunca deverá desenvolver os sintomas da Covid-19, sendo que os mais comuns são febre, tosse e dificuldade para respirar. Um paciente pré-sintomático também está com o vírus em circulação no corpo, mas no período de incubação, prestes a desenvolver os sintomas dentro de alguns dias.

Bereia conclui que é enganosa a notícia publicada no site Pleno News sobre as possibilidades de transmissão de Covid-19 por paciente sem sintomas, após verificar notícias e vídeos publicados em 09/06, mesma data da notícia do Pleno News, contendo a correção da fala de Maria Van Kerkhove e da OMS sobre a da declaração proferida em 08 de junho.

Foto de Capa: Pixabay/Reprodução

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Referências de Checagem

Correio Braziliense. Ignorar pacientes assintomáticos é ”mal-entendido”, diz OMS. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2020/06/10/interna_ciencia_saude,862588/ignorar-pacientes-assintomaticos-e-mal-entendido-diz-oms.shtml>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Folha de S. Paulo. Assintomático transmite coronavírus e, sem teste e rastreamento, quarentena é necessária, diz OMS. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/06/assintomatico-transmite-coronavirus-e-sem-teste-e-rastreamento-quarentena-e-necessaria-diz-oms.shtml>. Acesso em: 16 jun. 2020.

G1. OMS esclarece que assintomáticos transmitem coronavírus: ‘a questão é saber quanto’. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/06/09/transmissao-por-casos-assintomaticos-esta-ocorrendo-a-questao-e-saber-quanto-diz-oms.ghtml>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Pleno News. Transmissão de Covid-19 por pacientes sem sintomas é rara. Disponível em: <https://pleno.news/saude/coronavirus/transmissao-de-covid-19-por-assintomaticos-e-rara-diz-oms.html>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Twitter. Ernesto Araújo. Disponível em: <https://twitter.com/ernestofaraujo/status/1270409485270552576>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Uol. Fala da OMS é tirada de contexto para dizer que órgão é contra isolamento. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/comprova/ultimas-noticias/2020/05/06/fala-da-oms-e-tirada-de-contexto-para-dizer-que-orgao-e-contra-isolamento.htm>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Uol. Governo Bolsonaro muda o tom em reunião ao vivo e evita palavrões e ataques. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/06/09/governo-bolsonaro-muda-o-tom-em-reuniao-ao-vivo-e-evita-palavroes-e-ataques.htm>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Youtube. BOLSONARO DISTORCE DADO DA OMS SOBRE TRANSMISSÃO DE COVID-19 POR ASSINTOMÁTICOS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WLY7rEEmBk8>. Acesso em: 16 jun. 2020.

Youtube. O Erro Sintomático da OMS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=t6DSpnvlxe4>. Acesso em: 16 jun. 2020.

É enganosa a ideia de que há um plano comunista sendo instalado no Brasil

No dia 22 de abril, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, publicou em seu Twitter a seguinte mensagem:

No texto do seu blog, Ernesto combate 12 trechos do livro Virus: Catastrofe e solidarietà , do filósofo Slavoj Zizek, lançado em abril deste ano, pela editora Ponte alle Grazie, de Milão.

Os 12 trechos selecionados pelo ministro foram traduzidos por ele mesmo, do italiano. O livro, no total, contém 79 páginas e expõe a visão de Zizek sobre a insustentabilidade do atual modelo econômico evidenciado pelo coronavírus. O filósofo afirma que o atual momento exige um pensamento para além do mercado financeiro e do lucro.

Ernesto, em sua crítica, além de fragmentar a ideia de Zizek, afirma que há um “plano comunista”, do qual intitula como “comunavírus”, que iria tirar proveito da pandemia de Covid-19 para implementar sua ideologia por meio de organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde. A coordenação global realizada pela OMS para fazer frente à crise, segundo ele, seria “o primeiro passo em direção ao comunismo” de um “projeto globalista”.

Para Araújo, essa e outras organizações são responsáveis por difundirem os ideais comunistas em forma de solidariedade.

“Transferir poderes nacionais à OMS, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente, é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária”, disse.

O Filósofo, ao ler a crítica do ministro das Relações Exteriores do Brasil, afirmou:

“O chanceler brasileiro me acusou de usar a epidemia do coronavírus como uma desculpa para introduzir outro vírus, o ‘comunavírus’. Infelizmente, ele não entendeu a questão.

Não quero impor nada, apenas observo que até governos conservadores estão lidando com a crise sanitária e econômica provocada pela epidemia. Estão introduzindo medidas que, seis meses atrás, seriam inimagináveis e vistas como um sonho comunista.

Esses governos estão violando as regras básicas do mercado, distribuindo gratuitamente bilhões para que os novos desempregados sobrevivam. Estão ordenando o que a indústria deve produzir (equipamentos de saúde) e admitindo que precisamos não apenas de um serviço universal de saúde como também de um serviço global de saúde. Estão pensando em como prever fome maciça como uma consequência da pandemia…

Em que outra época se viu conservadores se sentindo compelidos a agirem como comunistas, dando preferência ao bem comum em vez dos mecanismos do mercado?”

Teoria da Conspiração e Plano comunista

O professor Wilson Gomes, autor de “A democracia no mundo digital: história, problemas e temas”, explica que a teoria da conspiração é um modelo de narrativa de muita eficiência na política:

“Na comunicação política, grande parte da energia é despendida para fornecer interpretações da realidade na forma de histórias ou narrativas e para convencer o maior possível número de pessoas a adotá-las como forma de explicar o mundo, de compreender o que com elas se passa e de justificar os próprios sentimentos e atitudes.

Primeiro, porque as pessoas adoram grandes narrativas que explicam tudo, e o complô junta a pluralidade dos fatos em um encadeamento em que tudo ganha sentido, mesmo que para isso seja preciso forçar os dados e arranjar os fatos. O complô dá ordem ao caos. Segundo, porque uma vez compartilhadas as grandes premissas da maquinação, as pessoas vão completando as lacunas e produzindo narrativas derivadas, fabricando elas mesmas suas próprias teorias da conspiração, algumas ainda mais radicais do que as matriciais, produzidas pelo partido ou movimento. Muita gente, em suma, se põe a cooperar para tornar a história plausível e indisputável.”

Gomes ainda ressalta que as teorias de conspiração passaram a funcionar como matriz básica das decisões, prioridades e declarações de Bolsonaro, a começar da sua seleção de ministros para a guerra contra o comunismo.

Ernesto Araújo é o general que irá lutar contra o globalismo, o “marxismo cultural” e a dominação comunista da ONU, alinhando-nos estrategicamente ao lado de países livres como Afeganistão e Uzbesquistão. Damares Alves é a comandante das tropas que desmantelarão a epidemia decorrente da infecção de boa parte da população brasileira pela “ideologia de gênero” e pelos “direitos humanos”, que são evidentes mutações da cepa do vírus comunista. O major Abraham Weintraub foi destacado para neutralizar a infiltração comunista nas universidades, tratando os vermelhos a pão, água e chicote, além de “desideologizar” os currículos brasileiros a fim de recuperar as criancinhas de anos de “doutrina ideológica”. O General de Brigada Ricardo Salles, por sua vez, colocará tropas em solo para liquidar de vez a infiltração do marxismo ambiental.”

A teoria do chanceler Ernesto Araújo sobre a OMS – “plano comunista em curso pretende utilizar a OMS como primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária”, não é nova. Várias teorias da conspiração sobre a ONU já foram publicadas, como esta aqui de Portinari Greggio.

Há um plano comunista sendo instalado no Brasil?

Sob ideias de viés ideológico conservador, o comunismo vem sendo “combatido” no país através do atual Governo liderado pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, que desde sua atuação parlamentar contesta a instalação ideológica e partidária de deputados da esquerda brasileira considerados “comunistas”, acusando sobretudo, o Partido dos Trabalhadores (PT) como responsável por uma Ditadura Comunista no país. Em vários dos seus pronunciamentos realizados durante a campanha, que marcaram o pleito eleitoral, o Presidente chamava seus adversários de “corruptos comunistas” e prometia “varrer os comunistas do Brasil ”, encenando que iria “metralhá-los” politicamente.

Durante o seu mandato, políticas públicas de programas sociais realizados pelo governo petista sofreram cortes significativos, como o “Fome Zero”, “Minha Casa, Minha Vida”, “Bolsa Família” e “Mais Médicos”, têm sido considerados programas comunistas que solaparam a economia do país. Sob o aval do antipetismo, o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) protocolou um projeto de lei (PL 5358/2016) que visa criminalizar o comunismo/socialismo no Brasil, inibindo manifestações e protestos.

Não obstante, de acordo com o livro “Anarquistas e Comunistas no Brasil” (Editora Brazil Publishing, 2018), as influências e ideias comunistas chegaram ao país no final do século XIX. Desde então, movimentos emancipatórios, sindicalistas e operários com agremiações de diversas matizes tiveram formação no Brasil, como ocorre também em outros países. Todavia, segundo o historiador doutor em história e professor do Departamento de História da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta, “O Brasil nunca esteve perto do comunismo, nem mesmo em 1964, ano de início da ditadura militar no Brasil.

Ainda de acordo com entrevista à Carta Capital pelo professor e coordenador do Núcleo de Pesquisas da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Prof. Dr. Paulo Silvino Ribeiro, o Brasil não sofre nenhum tipo de ameaça comunista ou socialista:

“Não é, não foi e creio que tão pouco será futuramente. Atualmente, o socialismo recuou no mundo todo, principalmente na Europa onde teria nascido. No caso brasileiro, ao se considerar nosso processo de formação social e econômica pautado principalmente na manutenção das estruturas que reproduzem o privilégio, a desigualdade, o racismo, as fobias todas, lamentavelmente o socialismo está um horizonte infinitamente longínquo.

A fala do presidente recentemente empossado, ao dizer que vai “libertar o país do socialismo”, não tem nenhuma relação com a realidade do presente ou do passado do país. Trata-se de uma fala ainda pautada no discurso eleitoral, e que busca produzir efeito por entre seus apoiadores os quais, a meu ver, também não conseguem compreender o que é o socialismo. (..) Associam o socialismo aos governos do PT, os quais evidentemente não foram socialistas, embora tenham promovido avanços sociais. Os governos petistas teriam esta pecha (de socialista), portanto, por terem defendido um Estado maior e mais presente, bem como por terem promovido políticas sociais como o Bolsa Família, o qual para os mais desavisados seria uma afronta à meritocracia.

A Lei do Brasil é clara quanto ao regime político-econômico que conduz o país. Segundo a Constituição Federal, o artigo 170 estabelece que a ordem econômica do Brasil tem como princípios a propriedade privada e a livre concorrência, duas características básicas de regimes capitalistas. O parágrafo único deste mesmo artigo diz:

“é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”.

O cientista político, diretor do programa MIT Brazil e autor de “Hierarchical Capitalism in Latin America: Business, Labor, and the Challenges of Equitable Development” (Cambridge, 2013), Ben Ross Schneider, ressalta que a política econômica adotada no Brasil por governos petistas foi marcada por uma contradição entre discurso e ações: “aumentaram o uso de subsídios estatais, uma política que poderia ser vista com traços socialistas, mas para apoiar as empresas privadas, a propriedade privada”.

O cientista político e autor do livro “Presidencialismo de coalizão” (Companhia das Letras, 2018), Sérgio Abranches, indica que muitas características apontadas por Bolsonaro como marcas do “socialismo” nos últimos governos, como estatismo e poder centralizado no Governo Federal, existiram em outros períodos da História brasileira, inclusive no regime militar, época enaltecida pelo presidente. Foi no regime militar, principalmente nos anos 70, no governo do general Ernesto Geisel, que o Estado teve o maior controle da economia nacional.

O Coletivo Bereia conclui que: não há plano comunista sendo instalado no Brasil ou no mundo via OMS e que a abordagem do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é enganosa, pois revela uma tática manipulativa por meio de teorias da conspiração para desinformar a população dos reais problemas que a nação enfrenta. Ao nomear o livro do filósofo esloveno como uma “obra-prima de naïveté canalha”, o chanceler revela uma defesa ideológica e religiosa alienante, além de anacrônica frente às respostas necessárias para a atual problemática do mundo: a pandemia do novo coronavírus.

Referências de Checagem:

A Pública – 1964: “O Brasil não estava à beira do comunismo”, diz historiador.Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://apublica.org/2019/04/1964-o-brasil-nao-estava-a-beira-do-comunismo-diz-historiador/

Brasil 247 – Comunismo vai derrotando coronavírus e mundo aplaude China. Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://www.brasil247.com/mundo/comunismo-vai-derrotando-coronavirus-e-mundo-aplaude-china

Boitempo – Pandemia. Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/e-pandemia-covid-19-e-a-reinvencao-do-comunismo-961

Carta Capital – “Partimos para o socialismo”, diz Carlos Bolsonaro sobre crise do coronavírus – Acessado em 24 de abril às 12h03. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/partimos-para-o-socialismo-diz-carlos-bolsonaro-sobre-crise-do-coronavirus/>

Carta Capital. Ernesto Araújo diz que pandemia é usada para implementar o “comunavírus”. Acessado em 24 de abril às 12h03. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/ernesto-araujo-diz-que-pandemia-e-usada-para-implementar-o-comunavirus/

Coletivo Bereia – O Partido Comunista Chinês não avança no Brasil, mercado chinês, sim. Acessado em 24 de abril às 12h03. Disponível em: https://coletivobereia.com.br/o-partido-comunista-chines-nao-avanca-no-brasil-mercado-chines-sim/

Carta Capital – Ele não entendeu a questão”, disse autor do livro citado por Araújo. Acessado em 24 de abril às 18h09. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/ele-nao-entendeu-a-questao-disse-autor-do-livro-citado-por-araujo/

Catraca – Chanceler brasileiro diz que comunistas usam OMS para dominar o planeta. Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/chanceler-brasileiro-diz-que-comunistas-usam-oms-para-dominar-o-planeta/

Diário do Centro do Mundo – As mortes por coronavírus aumentam e a preocupação do chanceler Ernesto Araújo é com o “comunismo”. Acessado em 27 de abril. Disponível em: <https://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-mortes-por-coronavirus-aumentam-e-a-preocupacao-do-chanceler-ernesto-araujo-e-com-o-comunismo/>

Diário de Contagem – A Constituição de 1988: comunismo ou fascismo à brasileira.Acessado em 27 de abril. Disponível em: http://www.diariodecontagem.com.br/Materia/10576/16/artigo-a-constituicao-de-1988-comunismo-ou-fascismo-a-brasileira/

El País – Ai Weiwei: “O capitalismo chegou ao seu fim”. Acessado em 27 de abril. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/ideas/2020-04-05/ai-weiwei-o-capitalismo-chegou-ao-seu-fim.html>

Estado de Minas – COVID-19: Ministro Ernesto Araújo diz que mundo enfrenta ‘comunavírus’ Acessado em 27 de abril. Disponível em: < https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/04/22/interna_politica,1140845/covid-19-ministro-ernesto-araujo-diz-que-mundo-enfrenta-comunavirus.shtml >

Estado de Minas – Pompeo: Partido Comunista chinês faz campanha de desinformação sobre coronavírus. Acessado em 27 de abril. Disponível em <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/03/25/interna_internacional,1132328/pompeo-partido-comunista-chines-faz-campanha-de-desinformacao-sobre-c.shtml>

Folha de S. Paulo – Ernesto alerta para suposta ameaça comunista na América Latina em artigo – Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/12/ernesto-alerta-para-ameaca-comunista-na-america-latina-em-artigo-para-blog-bolsonarista.shtml

Folha de São Paulo – Em blog, Ernesto Araújo escreve que coronavírus desperta para ‘pesadelo comunista’ -Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/em-blog-ernesto-araujo-escreve-que-coronavirus-desperta-para-pesadelo-comunista.shtml>

G1 – Covid-19: Ernesto Araújo denuncia ‘comunavírus’ e ataca OMS. Acessado em 22 de abril às 18h12. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/covid-19-ernesto-araujo-denuncia-comunavirus-ataca-oms-24387155?utm_source=Facebook

G1- Jornal Nacional – Ministro das Relações Exteriores afirma que coronavírus é um plano comunista – Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/04/22/ministro-das-relacoes-exteriores-afirma-que-coronavirus-e-um-plano-comunista.ghtml

Intercept*– O GOLPE DE 64 NÃO SALVOU O PAÍS DA AMEAÇA COMUNISTA PORQUE NUNCA HOUVE AMEAÇA NENHUMA. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: <https://theintercept.com/2018/09/21/farsa-historia-ditadura-militar-comunista/>

Istoé– O vírus comunista. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://istoe.com.br/o-virus-comunista/

Jovem Pan – Ernesto Araújo: coronavírus ‘nos faz despertar para pesadelo comunista’.Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: <https://jovempan.com.br/noticias/brasil/blog-ernesto-araujo-coronavirus-despertar-pesadelo-comunista.html>

Justificando – O fantástico mundo das teorias de conspiração – Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em:https://www.justificando.com/2020/03/26/o-fantastico-mundo-das-teorias-de-conspiracao/

Metapolítica 17– Chegou o Comunavírus. Acessado em 22 de abril às 18h02. Disponível em: https://www.metapoliticabrasil.com/post/chegou-o-comunavírus

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Outras Palavras – Zizek: O nascimento de um novo comunismo. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: <https://outraspalavras.net/outrasmidias/zizek-o-nascimento-de-um-novo-comunismo/>

Piauí – A HIPÓTESE COMUNISTA DEVE SER ABANDONADA? Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-hipotese-comunista-deve-ser-abandonada/

Pleno News – Ernesto Araújo ataca OMS e denuncia “comunavírus”. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: < https://pleno.news/brasil/politica-nacional/ernesto-araujo-ataca-oms-e-denuncia-comunavirus.html>

Poder360 – Ernesto Araújo diz que há ‘plano comunista’ se beneficiando da covid-19. Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: < https://www.poder360.com.br/coronavirus/ernesto-araujo-diz-que-ha-plano-comunista-se-beneficiando-da-covid-19/>

Politize – Marxismo cultural: o que é isso? Acessado em 27 de abril de 2020. Disponível em: https://www.politize.com.br/marxismo-cultural/

Revista Cult – O complô comunista como matriz governamental de Bolsonaro. Acessado em 27 de abril às 15h38. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-complo-comunista-como-matriz-governamental-de-bolsonaro/

Super Interessante – Mito: os militares impediram um golpe comunista em 1964.Acessado em 27 de abril. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/mito-os-militares-impediram-um-golpe-comunista-em-1964/

Twitter Ernesto Araújo – Acessado em 22 de abril às 16h57. Disponível em: https://twitter.com/ernestofaraujo/status/1252811093405122566

UOL – Pandemia: ministro denuncia “plano comunista”, cita China e questiona OMS. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponivel em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/04/22/diante-da-pandemia-chanceler-alerta-contra-plano-comunista-e-questiona-oms.htm

UOL – Brasil esteve à beira do comunismo nos anos 1960? História não mostra isso. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/10/01/brasil-esteve-a-beira-do-comunismo-nos-anos-1960-historia-nao-mostra-isso.htm

UOL – Bolsonaro está convencido de que coronavírus é um plano do governo chinês. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/tales-faria/2020/03/16/bolsonaro-esta-convencido-de-que-coronavirus-e-plano-do-governo-chines.htm

Veja – Coronavírus já formou mais comunistas que Mao e Stalin, diz historiador. Acessado em 27 de Abril de 2020. Disponivel em: https://veja.abril.com.br/blog/sensacionalista/coronavirus-ja-formou-mais-comunistas-que-mao-e-stalin-diz-historiador/