Pós-eleições municipais: por que alguns candidatos evangélicos “promissores” não foram eleitos?

Uma pastora de uma megaigreja, o filho de um pastor midiático ou o preferido da liderança candidatos a cargos públicos em 2024 perderam as eleições. Apesar de não apresentar aqui números sobre candidatos evangélicos eleitos e não eleitos nos últimos pleitos, já é percebido dentro das igrejas evangélicas a frustração por candidatos por elas indicados ou apoiados não obterem a desejada vitória eleitoral. E por que isso está acontecendo?

Em minha experiência evangélica já presenciei candidatos ao cargo de deputado ou de vereador não obterem o número de votos dos eleitores de suas próprias congregações, fato também observado na cidade que atualmente resido e na silenciosa insatisfação de evangélicos que são um membros frequentes em sua comunidade local.

Isso ocorre, basicamente, por dois motivos. Primeiro, o cansaço dos próprios membros com o uso dos púlpitos para estabelecer em quem devem votar. Todos sabem, embora não admitam, que muitos candidatos não estão ali para representar o povo e sim os interesses institucionais de determinadas igrejas. Silenciosamente as pessoas acabam votando no candidato que atua localmente e oferece mais sentido ao cargo.

Ainda pastores, ao subirem nos púlpitos, afirmem que todos possuem o direito de votar em quem quiserem, existe um discurso impositivo velado ao usar palavras que são marcadores da fé, como o fato de certos candidatos representarem “o propósito de Deus”, a “expansão do Reino de Deus na Terra”, o “projeto da Igreja da qual todos fazem parte”.

Um segundo motivo é que esses candidatos não possuem eleitorado orgânico. Estas pessoas acabam submetendo-se à lideranças das igrejas e ao discurso embasado na “teologia do domínio” (a que afirma que Deus governa nações quando cristãos consagrados são eleitos para representá-lo em cargos de poder) porque seu destaque como líder está dentro das paredes da igreja e não na comunidade que vive. Não existe atuação social, não existe causa, não existe presença em audiência pública ou qualquer atividade que coloque esse indivíduo no papel de líder comunitário ou de ativista político. Isto é percebido no intenso discurso moralizante da maioria dos candidatos e pelo desconhecimento técnico, jurídico ou social que a vida pública exige e é revelado nas campanhas. Assim, muitos candidatos não conseguem votos fora de seu “curral religioso” e não se consolidam em novos pleitos.

Esses aspectos não são regra absoluta, mas refletem a votação inexpressiva que muitos candidatos acabam recebendo. Alguns deles até conseguem algum sucesso devido ao apadrinhamento religioso, o que lhes confere uma atenção especial dentro do partido, mas o eleitorado se revela cansado desse jogo político que muitas megaigrejas adotam. Essa pressão, muitas vezes, recai sobre pastores locais que, para permanecerem no seu próprio cargo, precisam promover candidatos indicados pela cúpula da denominação religiosa.

Contudo, já observamos insatisfações nesse tipo de candidatura que não representa a realidade local. Isto porque evangélicos são, também, a mulher que precisa de iluminação pública quando chega do trabalho à noite, o pai que precisa de escola para seus filhos, os moradores de uma rua sem saneamento básico ou asfalto. Evangélicos são pessoas comuns que necessitam de atendimentos imediatos que são de responsabilidade do poder público local.

É claro que essa estrutura de poder que envolve igrejas e partidos não apresentam sinais de uma relação desgastada, mas sofrem uma resistência com a falência do jargão “irmão vota em irmão”. O que todo evangélico quer é a vida comunitária e o culto na forma devocional mais singela de viver a fé: algo ainda presente na periferia, sem a instrumentalização do discurso de sua fé.

** Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia.

Foto de capa: Mikhail Nilov/Pexels

Eleições 2024: as principais mentiras circulantes na reta final do segundo turno em três capitais

Na reta final das eleições municipais de 2024, a disseminação de informações falsas se intensificou, o que levanta reflexões para garantir a integridade de futuros processos eleitorais. Bereia checou o que circulou em ambientes digitais religiosos – tanto em mídias de notícias, perfis em mídias sociais e em grupos de WhatsApp. Foi verificado que, em Belo Horizonte, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) fez graves acusações contra o prefeito reeleito Fuad Noman (PSD), associando-o a conteúdos impróprios, o que levou a uma decisão judicial que determinou a remoção de um vídeo do parlamentar em campanha pelo oponente, Bruno Engler (PL), considerado enganoso. 

Em Fortaleza, alegações falsas sobre a substituição de urnas eletrônicas e a manipulação de áudios que envolveram compra de votos também circularam. Este cenário se agravou em São Paulo, onde mentiras sobre o apoio controverso a candidatos e promessas inexistentes permearam as redes digitais, o que evidencia a urgência de checagens rigorosas para combater as mentiras que podem influenciar a escolha dos eleitores.

Pânico moral disseminado em Belo Horizonte

O deputado federal de identidade evangélica Nikolas Ferreira (PL) divulgou, em seus perfis das redes digitais, em 24 de outubro, um vídeo com acusações ao prefeito candidato à reeleição de Belo Horizonte Fuad Noman (PSD). Na gravação, o parlamentar associa um livro escrito por Fuad a conteúdos de pornografia com “trechos explicitos de sexo que narram o estrupo de uma criança de 12 anos”. 

No vídeo, Nikolas Ferreira também criticou a realização do já tradicional 12° Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, e afirmou que o evento expõe crianças e adolescentes a material inapropriado. “O problema é quando a ficção vira realidade e, pior, chega até seu filho. Em maio deste ano, 2024, na gestão de Fuad, a prefeitura ajudou a realizar o evento”, declarou o deputado, ao insinuar a relação da prefeitura na divulgação de conteúdos inadequados no evento.

Para reforçar o ataque, o deputado recupera a antiga desinformação sobre a suposta distribuição de um “kit gay” pelo governo da presidente Dilma Rousseff  e afirma que escolas distribuem obras “que ensinam sobre a linguagem neutra e abordam a virgindade apenas como uma lenda para controle”. 

O livro criticado por Nikolas Ferreira, de autoria do candidato à reeleição à Prefeitura de Belo Horizonte Fuad Noman, é intitulado Cobiça. Na obra, é contada a história de Sueli em uma viagem ao interior de Minas Gerais, onde ela revive memórias familiares e descobre segredos do seu passado. O livro foi publicado em 30 de junho de 2020 e aborda a ganância humana e suas consequências sociais e políticas. O texto explora como o desejo insaciável por poder e recursos pode corromper indivíduos e instituições, gerando impactos negativos na sociedade.

Durante uma entrevista gravada para o Estado de Minas, Fuad Noman defendeu-se das acusações de Nikolas Ferreira, e afirmou que a divulgação de informações sobre o livro de ficção foi uma tentativa de desqualificá-lo. “Pegaram um livro de ficção, inventaram uma porção de coisa (…) ou leram outro livro, porque o meu livro não fala aquilo que eles tavam falando, mas livro é uma ficção, livro é um romance (…) então isso aí é desespero de quem não tem o que o apresentar, é desespero de quem não conseguiu descobrir nada que afete minha vida. Eu tenho 56 anos de vida pública, 77 anos de idade, minha vida é limpa, clara, transparente, sem nenhum escândalo, sem nenhum momento de nada, sem nenhuma corrupção, então ‘ah vou arrumar um escândalo’ ‘ah, vou inventar, inventaram o livro’”.

Imagem: reprodução/Instagram

Sobre a antiga desinformação sobre “kit gay”, desde 2019 Bereia tem checado o uso do termo, usualmente empregado por políticos ultraconservadores. Ele surgiu como um apelido dado por deputados federais ao material resultante da campanha “Brasil sem Homofobia”, lançada durante governo primeiro governo Lula (em 2004), aprovada no Congresso Nacional. 

O material direcionado a escolas, finalizado em 2011, seria dirigido aos professores e não a crianças e adolescentes. A cartilha explicava conceitos como gênero e sexualidade e sugeria atividades em sala de aula para os alunos refletirem sobre temas como comportamento preconceituoso e analisarem, por exemplo, expressões sexistas na língua portuguesa. Também havia sugestão de materiais audiovisuais para a sala de aula. Organizado por profissionais de educação, gestores e representantes da sociedade civil, o material era composto de um caderno, uma série de seis boletins, cartaz, cartas de apresentação para os gestores e educadores e três vídeos. A pressão dos deputados da base ultraconservadora na Câmara forçou o governo de Dilma Rousseff a suspender a distribuição. 

Desde as eleições de 2018, o caso tem sido usado com discurso enganoso, para criar pânico moral contra candidatos alinhados à esquerda. Afirma-se que o material foi distribuído em escolas para crianças, a fim de propagar uma “ditadura gay”.

A Justiça Eleitoral de Belo Horizonte determinou a remoção do vídeo de Nikolas Ferreira, em 25 de outubro. A decisão respondeu a um pedido de direito de resposta da Coligação BH Sempre em Frente. O juiz da 331ª Zona Eleitoral alegou que o conteúdo continha informações descontextualizadas e inverídicas, com a intenção clara de prejudicar a imagem do candidato. O magistrado esclareceu que o livro em questão, Cobiça, é uma obra de ficção e que o trecho utilizado por Nikolas foi retirado de seu contexto original, que não indica  apoio à violência sexual. 

Quanto ao festival de quadrinhos, a decisão ressaltou que as atividades com alunos da rede municipal foram realizadas sob supervisão pedagógica e que medidas foram implementadas para garantir a adequação do material exposto. A Justiça estabeleceu um prazo de 24 horas para a remoção do vídeo, sob pena de multa de R$ 5 mil por hora de descumprimento. Também foi garantido que a discussão da obra literária não seria censurada, mas a distorção de informações para fins eleitorais seria considerada propaganda disfarçada. A decisão visou combater a propagação de informações inverídicas. As plataformas Meta, X e YouTube também foram notificadas para excluir as publicações.

Em 27 de outubro, Fuad Noman foi reeleito prefeito de Belo Horizonte, com 53,73% dos votos válidos, o que equivale a 670.574 votos, enquanto seu adversário, Bruno Engler (PL), recebeu 577.537 votos, equivalente a 46,27%.

As três falsidades que agitaram a reta final do segundo turno em Fortaleza 

Candidato do PL acusa adversário por uso de IA 

Desinformação que circulou uma semana antes do segundo turno em Fortaleza (CE)  estava em um áudio disseminado em grupos e páginas favoráveis ao candidato de identidade católica Evandro Leitão (PT). Nele, uma voz semelhante à do candidato opositor, o de identidade evangélica André Fernandes (PL), sugere a compra de votos. Em resposta, Fernandes solicitou ao Ministério Público Eleitoral do Ceará e à Polícia Federal a abertura de um inquérito contra seu adversário e mais três pessoas. O candidato alegou que a campanha de Leitão disseminou “conteúdo sabidamente falso e alterado mediante emprego ardiloso de inteligência artificial”.

No áudio, que o candidato do PL afirma ser uma deepfake (técnica que utiliza inteligência artificial para criar vídeos ou áudios falsos, nos quais a imagem ou a voz de uma pessoa é manipulada), é dito: “Daqui pra domingo é derramar dinheiro na mão de pastor, líder comunitário, o que tiver”. Evandro Leitão negou qualquer envolvimento na disseminação do conteúdo e respondeu às acusações, por meio de um vídeo publicado em seu perfil no Instagram, alegando ser André Fernandes o “rei das fake news”, já tendo sido condenado por isto.

Imagem: reprodução/Instagram 

Os advogados de Fernandes apresentaram duas evidências para sustentar a responsabilidade de Leitão na produção do suposto áudio falso: a primeira é que o conteúdo foi inicialmente publicado em um grupo administrado pela campanha do candidato do PT, denominado Zap de Evandro #4; a segunda é que o áudio foi compartilhado no Instagram por um filiado do PT da cidade de Eusébio (CE). Porém, não foram apresentadas provas substanciais que comprovem que o áudio foi gerado por inteligência artificial. Além disso, não foram realizadas perícias sobre o áudio em questão.

Vídeo enganoso distorce reportagens para associar políticos do Ceará ao PCC

Outro conteúdo enganoso que circulou nas redes durante a reta final para o segundo turno em Fortaleza, foi um vídeo manipulado que utiliza imagens do programa Domingo Espetacular, da TV Record, para disseminar uma informação falsa. O conteúdo editado mostra imagens do apresentador Sérgio Aguiar e inclui um texto fictício que liga políticos associados ao governador Elmano de Freitas (PT) à facção criminosa de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC). A TV Record afirmou, em nota, que o vídeo é uma “manipulação digital” e que as informações nele contidas não foram exibidas em qualquer telejornal do canal.

O vídeo é nitidamente uma montagem: começa com conteúdo original do programa, mas apresenta cortes de áudio e imagem logo aos três segundos. A narração utilizada pertence a matéria, veiculada pela emissora em 2021,  sobre policiais civis e militares flagrados na prática de extorsão de traficantes. Diferente do vídeo falso, que sugere ligações com o PCC, a matéria original mostra a operação policial denominada Gênesis, e não menciona participação da Polícia Federal, como indicado no vídeo manipulado. Além disso, as marcas d’água da emissora desaparecem no terceiro segundo no vídeo falso. As imagens exibidas são diferentes das que constam na reportagem original da TV Record, que mostra gravações de entrevistas e mantém a logomarca da emissora. 

O conteúdo usa principalmente imagens estáticas, e incluem reproduções de portais da internet e fotos, o que é característico das montagens falsas. Além disso, apresenta uma única imagem em movimento da TV Bandeirantes, com sua marca d’água e logotipo. A narração do vídeo manipulado continua utilizando a imagem do apresentador do Domingo Espetacular Sergio Aguiar. 

Mentiras sobre manipulação de urnas eletrônicas no segundo turno 

Conteúdo que acusou a substituição de mais de mil urnas eletrônicas que retiraram votos de André Fernandes foi divulgado por apoiadores do candidato, que foi derrotado por Evandro Leitão. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relatou, no entanto, que das 5.274 urnas utilizadas no segundo turno em Fortaleza, somente três foram substituídas. A Corte informou, ainda, que nenhum voto computado foi perdido, pois os equipamentos possuem mecanismos de contingência que garantem a preservação dos votos. Dessa forma, é falso que mais de mil urnas tenham sido trocadas

Evandro Leitão (PT) venceu as eleições com 50,38% dos votos válidos, enquanto André Fernandes obteve 49,62%, uma diferença de 10.838 votos. 

São Paulo: campanha final pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) é marcada por disseminação de conteúdo falso 

Avaliado por analistas como o caso mais grave de disseminação de mentira em campanha nas eleições de 2024,  a declaração do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 27 de outubro, no dia das eleições para o segundo turno na capital do estado, gerou muitas reações. Freitas disse em entrevista, sem apresentar provas, que interceptações do serviço de inteligência do estado revelaram que membros de uma facção criminosa orientaram pessoas a votar em Guilherme Boulos (PSOL) para a Prefeitura de São Paulo. 

A informação já havia sido publicada na véspera das eleições, noite de sábado, 26 de outubro, em matéria do Metrópoles, que afirmava que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo teria interceptado, no mês de setembro, ao menos quatro bilhetes de membros da facção que orientavam voto na chapa do PSOL. “A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo interceptou pelo menos cinco comunicados assinados por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) orientando o voto da facção nas cidades, na capital paulista e em Santos. No ‘Salve das Eleições’, as ordens são destinadas a familiares, amigos e outros membros da facção”. No dia seguinte, o governador confirmou o fato à imprensa.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) informou que não recebeu qualquer relatório sobre o tema e que soube do assunto por meio da imprensa, enquanto a Secretaria de Segurança Pública confirmou que mensagens atribuídas a uma facção criminosa foram interceptadas, sugerindo a escolha de candidatos em várias cidades, inclusive São Paulo. Em defesa, Boulos publicou um vídeo no Instagram, no qual negou qualquer vínculo com o PCC e anunciou que entraria na Justiça para solicitar a cassação de Tarcísio e a inelegibilidade do candidato de identidade católica Ricardo Nunes (MDB), beneficiário da divulgação deste tipo de acusação no dia das eleições.

Imagem: reprodução/Instagram

O secretário nacional de Segurança Pública Mario Sarrubbo contradisse a afirmação de Tarcísio de Freitas, e informou que não houve, entre as investigações relacionadas às eleições, detecção de recomendações de facções para apoiar candidatos durante o segundo turno. Boulos protocolou uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) na 1ª Zona Eleitoral, com a alegação de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. O processo registrado é o de número 0601230-56.2024.6.26.0001. Ricardo Nunes conquistou a reeleição para o cargo de prefeito de São Paulo, com 59,35% dos votos válidos. Guilherme Boulos (PSOL) recebeu 40,65% dos votos. 

Houve, ainda, a propagação de outros conteúdos desinformativos nos últimos dias da campanha para a Prefeitura de São Paulo.

Apoio de  Pablo Marçal (PRTB) a Boulos 

Às vésperas do segundo turno para a eleição à Prefeitura de São Paulo, circulou nas redes conteúdo que afirmava que o candidato derrotado no primeiro turno, Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado, teria declarado apoio a Guilherme Boulos. Não foram identificados registros públicos de que Marçal tivesse manifestado tal apoio

Em entrevista em 25 de outubro, ele afirmou que pretendia anular o voto. As publicações enganosas, que acumularam 150 mil visualizações no TikTok e também circulam no Kwai, afirmaram incorretamente que Marçal apoiaria Boulos. Além disso, essas peças manipulam uma imagem de uma coletiva de imprensa, realizada em 8 de outubro, apresentando-a como um momento de apoio, o que não ocorreu. 

Implantação de linguagem neutra nas escolas por Guilherme Boulos 

Circulou também um conteúdo baseado em pânico moral, que alegava que Guilherme Boulos havia prometido implementar a linguagem neutra nas escolas municipais de São Paulo, caso fosse eleito prefeito. No entanto, tal projeto não consta em seu plano de governo nem em seus discursos, e o próprio candidato desmentiu essa informação durante a campanha. 

A assessoria de Boulos esclareceu que ele “não vai adotar linguagem neutra na rede municipal de ensino, nem nunca propôs algo semelhante”, conforme consta no programa de governo apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O plano incluiu ações para combater a violência e discriminação, expandir programas de apoio à comunidade LGBTQIA+ e melhorar o atendimento à saúde, mas não menciona a adoção da linguagem neutra.

Proposta de taxa para o enterramento de fios feita por Nunes em 2023 nunca foi colocada em prática

Ao final da campanha do segundo turno em São Paulo, a cidade foi atingida por uma forte tempestade que causou queda de árvores, danificou fiação elétrica e prejudicou o fornecimento de energia. O episódio gerou críticas e denúncias contra o atual prefeito, então em campanha pela reeleição Ricardo Nunes de descaso em relação à falta de poda das árvores e à infraestrutura urbana. 

Em meio à crise, o prefeito Ricardo Nunes fez declarações sobre um projeto de aterramento dos fios, e mencionou  uma possível contribuição voluntária de moradores interessados na melhoria. No entanto, emergiram informações que alegam que o prefeito havia sugerido a criação de uma taxa obrigatória na conta de luz para financiar esse projeto. Nunes desmentiu a informação, e esclareceu que a contribuição seria opcional, não obrigatória, e que em “hipótese nenhuma” haveria cobrança compulsória, conforme reafirmado após a repercussão negativa.

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É observada a consolidação do uso de desinformação como estratégia eleitoral. Este processo foi iniciado com as eleições de 2018 e continuou em 2020 e 2022 e nestas eleições municipais se mostra aperfeiçoado e mais intensificado. Bereia alerta leitores e leitoras para a importância da confrontação deste tipo de prática eleitoral que não apenas ameaça a democracia mas retira do eleitorado o direito à informação digna e construtiva. 

Referências:

O Fator. https://ofator.com.br/informacao/justica-determina-remocao-de-video-de-nikolas-ferreira-sobre-livro-de-fuad-noman/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Amazon. https://www.amazon.com.br/Kit-Gay-Vitorelo/dp/8595710805. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

G1.https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2024/10/25/justica-eleitoral-remocao-video-nikolas-ferreira-livro-fuad-noman.ghtml. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

G1.https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/eleicoes/2024/noticia/2024/10/27/fuad-noman-e-reeleito-prefeito-de-belo-horizonte.ghtml. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

G1. https://g1.globo.com/ce/ceara/eleicoes/2024/noticia/2024/10/27/evandro-leitao-e-eleito-prefeito-em-fortaleza.ghtml.  Acesso em: 29 de outubro de 2024.

G1. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2024/noticia/2024/10/27/tarcisio-diz-que-policia-interceptou-mensagem-de-faccao-orientando-voto-em-boulos-tre-nega-ter-recebido-relatorio.ghtml. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

G1. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2024/noticia/2024/10/27/ricardo-nunes-do-mdb-e-reeleito-prefeito-de-sao-paulo.ghtml. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/kit-gay-continua-sendo-alvo-de-politicos-de-direita/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Aos Fatos. https://www.aosfatos.org/noticias/falso-mil-urnas-substituidas-em-fortaleza/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Aos Fatos. https://www.aosfatos.org/noticias/segundo-turno-fortaleza-suposto-uso-de-ia/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Aos Fatos. https://www.aosfatos.org/noticias/falso-marcal-declarou-apoio-a-boulos/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Aos Fatos. https://www.aosfatos.org/noticias/boulos-nao-prometeu-implementar-linguagem-neutra-nas-escolas/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Aos Fatos. https://www.aosfatos.org/noticias/taxa-enterrar-fios-proposta-por-nunes-2023-nunca-foi-implementada/. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Folha de S.Paulo. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/10/boulos-pede-a-justica-cassacao-de-tarcisio-e-inelegibilidade-de-nunes-apos-fala-sobre-pcc.shtml. 29 de outubro de 2024.

Lupa. https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2024/09/23/ea38be68-9b61-4724-8c11-e5cd51dce62e. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Lupa. https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2024/10/27/fala-de-tarcisio-sobre-pcc-gera-onda-contra-boulos-e-impacta-170-mil-em-apps. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Nota pública. https://a.storyblok.com/f/134103/529×124/feec7059c5/nota-tvrecord.jpeg. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=O2bMyfsOHfM&ab_channel=DomingoEspetacular. Acesso em: 29 de outubro de 2024.

Uol. https://www.bol.uol.com.br/noticias/2024/10/27/declaracao-tarcisio-boulos.htm. Acesso em 04 de novembro de 2024.

Instagram. https://www.instagram.com/reel/DBfNjXAiNjo/?igsh=bHZwaXowbHIya2I2. Acesso em 29 de outubro de 2024.

Metrópoles.https://www.metropoles.com/colunas/paulo-cappelli/bilhetes-interceptados-mostram-indicacoes-de-voto-do-pcc-em-sao-paulo. Acesso em 04 de novembro de 2024. 

Imagem: Tara Winstead/Pexels

Eleições 2024: um balanço da desinformação circulante em ambientes digitais religiosos

As eleições municipais de 2024 foram marcadas pela disseminação de mentiras sobre candidatos e sobre a confiabilidade do sistema eleitoral. Mais uma vez, Bereia acompanhou o modo como as religiões e temas religiosos veicularam no ambiente digital e como a desinformação foi instrumentalizada por candidatos a prefeitos e vereadores, e também por seus apoiadores. 

Nesta matéria, Bereia elencou grupos das principais mentiras e enganos que marcaram a campanha eleitoral em 2024, para os cargos municipais, a partir das próprias checagens e das que foram produzidas por projetos como Lupa, Aos Fatos e Comprova. Os conteúdos levantados utilizam informações falsas, enganosas e imprecisas como estratégia de campanha para conquistar votos, elevar a reputação de candidatos ou prejudicar a imagem de adversários políticos. 

Destaques das checagens do Bereia

Na campanha eleitoral, muitos conteúdos desinformativos foram reaproveitados e publicados em mídias religiosas. O objetivo é sempre o mesmo: confundir eleitores, prejudicar ou contribuir para a eleição de determinado candidato. Bereia checou uma série de desinformações “requentadas” mostrando como esses conteúdos foram usados e reutilizados em contextos como o das eleições.

Entre os conteúdos não repetidos que circularam no período, os temas são os mais diversos e também já conhecidos de leitores e leitoras do Bereia, por serem recorrentes: pânico sobre perseguição aos cristãos, o aparelhamento do uso do termo “ideologia de gênero” para fomentar pânico moral e desinformação sobre vacinas contra covid-19, entre outros temas. A novidade ficou por conta das afirmações em torno do populismo prisional, que sugeriram preferência de presos por determinado candidato:

De outros projetos: desinformação sobre o sistema eleitoral

Ataques ao sistema eleitoral brasileiro estão entre os temas mais recorrentes em conteúdos falsos. Neste ano, mais uma vez, menções equivocadas ao código-fonte das urnas e alegações de fraude voltaram a circular nas mídias sociais, disseminando mentiras já desmascaradas. Informações erradas sobre cassação de candidaturas, resultados e divulgação de pesquisas também foram usadas para desinformar o eleitorado.

De outros projetos: inteligência artificial e manipulação de imagens

A manipulação de fotos, áudios e vídeos não é uma novidade no fenômeno da desinformação, mas recursos de inteligência artificial (IA) têm contribuído para que conteúdos falsos sejam mais sofisticados e difíceis de identificar. É o caso da deepfake, uma técnica que utiliza IA para copiar vozes e rostos, construindo imagens e sons falsos, mas muitos semelhantes ao real. Neste ano, o recurso foi usado em ataques misóginos à deputada federal Tábata Amaral (PSB), na disputa pela Prefeitura de São Paulo: o rosto da candidata foi colocado em fotos sensuais de uma produtora de conteúdo adulto.

De outros projetos: mentiras sobre relações com o crime organizado

As últimas eleições também foram marcadas por falsas imputações de crimes e acusações de relações de candidatos com facções criminosas. Conteúdo falso associou políticos do Ceará e de São Paulo ao PCC, enquanto a Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, foi atribuído apoio do Comando Vermelho.

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É observada a consolidação do uso de desinformação como estratégia eleitoral. Este processo foi iniciado com as eleições de 2018 e continuou em 2020 e 2022 e nestas eleições municipais se mostra aperfeiçoado e mais intensificado. Bereia alerta leitores e leitoras para a importância da confrontação deste tipo de prática eleitoral que não apenas ameaça a democracia mas retira do eleitorado o direito à informação digna e construtiva. 

Referências:

Coletivo Bereia

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-site-gospel-recorre-a-populismo-prisional-ao-sugerir-preferencia-de-presos-por-boulos-em-sao-paulo/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/portal-gospel-desinforma-e-engana-com-materias-que-relativizam-caso-do-laudo-falso-publicado-por-marcal-contra-boulos/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-pastor-e-cantor-evangelico-waguinho-pl-propaga-conteudo-falso-em-campanha-para-vereador-no-rio-de-janeiro/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-damares-alves-desinforma-sobre-acoes-da-justica-eleitoral-contra-campanha-eleitoral-em-igrejas/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/candidatos-com-identidade-confessional-conhecidos-por-espalharem-desinformacao-divulgam-apoio-de-liderancas-religiosas/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/candidatos-cristaos-impulsionam-publicacoes-digitais-com-desinformacao-sobre-a-vacina-contra-covid-19/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-liderancas-catolicas-produzem-campanha-eleitoral-enganosa-em-forma-de-corrente-no-whatsapp/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/site-gospel-engana-sobre-suspeita-de-atentado-em-incidente-em-carreata-de-pablo-marcal/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-desinformacoes-requentadas-nas-redes-para-fins-politicos/ Acesso em 29 OUT 24

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-panico-sobre-plano-nacional-de-educacao-e-ideia-de-perseguicao-a-cristaos-preparam-terreno-para-eleicoes/ Acesso em 29 OUT 24

Aos Fatos

https://www.aosfatos.org/noticias/denuncias-sem-provas-de-ligacao-com-o-pcc/ Acesso em 29 OUT 24

https://www.aosfatos.org/noticias/boulos-nao-prometeu-implementar-linguagem-neutra-nas-escolas/ Acesso em 29 OUT 24

https://www.aosfatos.org/noticias/falso-marcal-declarou-apoio-a-boulos/ Acesso em 29 OUT 24

https://www.aosfatos.org/noticias/falso-boulos-selou-alianca-com-hamas/ Acesso em 29 OUT 24

https://www.aosfatos.org/noticias/falso-campanha-pablo-marcal-custo-zero/ Acesso em 29 OUT 24

https://www.aosfatos.org/noticias/falso-boulos-foi-cassado-marcal-disputara-segundo-turno/ Acesso em 29 OUT 24

Projeto Comprova

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Lupa:

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G1

https://g1.globo.com/fato-ou-fake/rio-de-janeiro/noticia/2024/08/23/e-fake-que-faccao-criminosa-realizou-convencao-para-apoiar-reeleicao-de-eduardo-paes.ghtml Acesso em 28 OUT 24

https://g1.globo.com/fato-ou-fake/sao-paulo/noticia/2024/08/23/e-fake-que-ricardo-nunes-tenha-recebido-bencao-de-padre-julio-para-reeleicao.ghtml   Acesso em 28 OUT 24

Metrópoles

https://www.metropoles.com/sao-paulo/marcal-posta-suposto-laudo-de-cocaina-de-boulos-que-nega-e-vai-pedir-prisao-de-rival  Acesso em 28 OUT 24

Terra Notícias

https://www.terra.com.br/noticias/eleicoes/sao-paulo/guilherme-boulos-ja-foi-preso-entenda-se-afirmacao-de-pablo-marcal-em-debate-e-verdadeira,78e49a8a1d2f7d8c05eac46306c5b6a41145wdwv.html?utm_source=clipboard  Acesso em 28 OUT 24

Estadão

https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/tabata-amaral-fotos-conteudo-adulto-falso/  Acesso em 28 OUT 24

Imagem de capa: Mohamed Hassan / Pixabay

O Fluminense: de ícone do jornalismo local a instrumento de propaganda da extrema-direita

Ao longo de sua história, O Fluminense, fundado em 1878 pelos majores da Guarda Nacional Francisco Rodrigues de Miranda e Prudêncio Luís Ferreira Travassos, foi muito mais que um jornal para os moradores de Niterói (RJ). Ele representou a tradição, a informação confiável e o compromisso com a transparência na comunicação. Historicamente manteve uma linha editorial conservadora, mas sem abandonar os princípios jornalísticos. Em 2018, após 140 anos de circulação impressa, o jornal deixou de ser publicado em papel, tendo se adaptado à era digital e passado a atuar exclusivamente online. 

O Fluminense foi dirigido pela família Rodrigues de Miranda até 1955, quando passou ao advogado e deputado estadual Alberto Torres. Em 2019, os herdeiros de Torres venderam o jornal ao empresário Lindomar Alves Lima.

Durante as eleições municipais de 2024, observou-se uma mudança na postura editorial de O Fluminense. O jornal, que historicamente prezava pela imparcialidade, passou a publicar uma série de matérias que favoreciam o candidato a prefeito de Niterói Carlos Jordy, do PL, enquanto adotava um tom crítico em relação a Rodrigo Neves, do PDT. Essa mudança levantou questionamentos sobre o comprometimento do veículo com os princípios éticos do jornalismo e a atuação como ferramenta de comunicação da campanha de Jordy 

Às vésperas do segundo turno, O Fluminense distribuiu gratuitamente pela cidade uma edição impressa extraordinária. As matérias divulgadas já haviam sido publicadas anteriormente na versão digital do Jornal.

A capa da versão impressa traz a pesquisa mais favorável ao candidato Carlos Jordy. Logo abaixo, uma imagem do candidato Rodrigo Neves e o título: Rodrigo Neves irá depor dia 30/10 por corrupção. O processo divulgado tramita em segredo de justiça e não pode ser consultado por Bereia

Em 28 de outubro, apenas na versão digital, O Fluminense divulgou que teve acesso exclusivo a outros dois processos que também tramitam em segredo de justiça e que supostamente incriminavam Rodrigo Neves.

Em 30 de outubro Rodrigo Neves emitiu nota oficial desmentindo a informação publicada pelo jornal:

O prefeito eleito de Niterói, Rodrigo Neves, não foi notificado pessoalmente, como determina o Código de Processo Civil, para a audiência, marcada para essa quarta-feira (30-10). Estava com agenda em Brasília em audiências com o Ministro da Defesa, José Mucio, o Vice-Presidente e Ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, o Ministro da Fazenda Fernando Haddad, e o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Cabe esclarecer que a audiência de hoje diz respeito a uma ação popular completamente improcedente do então vereador da oposição Bruno Lessa, cujo advogado é também advogado do candidato derrotado Carlos Jordy. E que essa ação judicial da oposição diz respeito ao mesmo assunto de outra ação arquivada após esclarecimentos de Rodrigo Neves e pedidos de arquivamento pelo Ministério Público e decisão do Tribunal de Justiça. Rodrigo Neves esclarece que irá participar da audiência prevista para dezembro e que confia na imparcialidade da Justiça em relação a essa ação judicial movida pela oposição. E que solicitou a condenação do autor da ação vereador Bruno Lessa por litigância de má fé com o único objetivo de fazer política e atacar o Prefeito eleito.”

Imagem: reprodução/O Fluminense – edição impressa extraordinária dias 26, 27 e 28 de outubro de 2024

A escolha de temas – pesquisa eleitoral favorável a Carlos Jordy e  associar Rodrigo Neves a uma suposta acusação de corrupção – reforça a percepção de possível força do candidato Jordy, enquanto subtrai elementos que poderiam equilibrar e suavizar a imagem de Rodrigo Neves.

Esse recorte, especialmente em um jornal de distribuição gratuita no dia da eleição, tende a consolidar as preferências dos eleitores mais vulneráveis à última impressão. A ausência de diversidade de fontes de pesquisa eleitoral e o foco em uma pesquisa isolada contribuem para sugerir um favoritismo não inteiramente sustentado por um conjunto mais amplo de dados.

 O uso de uma capa com informações negativas sobre Neves, como “irá depor dia 30/10 por corrupção”, coloca em evidência um ponto prejudicial à sua campanha, mesmo sem a confirmação oficial de um processo acessível ao público.

Imagem: reprodução/O Fluminense – edição impressa extraordinária dias 26, 27 e 28 de outubro de 2024

A capa do jornal reforça a narrativa editorial através de uma escolha visual estratégica: Rodrigo Neves é retratado em uma postura cabisbaixa, evoca desânimo ou até mesmo culpa, enquanto Carlos Jordy aparece de maneira expansiva, de braços abertos, discursando para o público feminino

Essa construção imagética, combinada com os textos, atua como um discurso não verbal que intensifica a percepção dos candidatos em direções opostas — Neves como vulnerável e enfraquecido, Jordy como um líder confiante e próximo do povo. A combinação de imagem e texto evidencia o alinhamento editorial do jornal, utilizando a fotografia para reforçar uma narrativa.

No interior da versão impressa, o jornal apresentou ainda a seguinte acusação: na manhã de 24 de outubro, a Polícia Federal prendeu dois homens em flagrante por transportarem R$500 mil em espécie no bairro de Icaraí, em Niteroi, juntamente com material de campanha do candidato Carlos Jordy. A Polícia não divulgou os nomes dos detidos, e outros jornais e portais de notícias também não identificaram os envolvidos. O Fluminense, no entanto, numa narrativa que destoava de todos os outros meios de imprensa, foi o único a divulgar os nomes dos suspeitos e, sem apresentar evidências, afirmou que Jordy seria vítima de uma armação, sugerindo que as suspeitas recaíam sobre Rodrigo Neves, que teria uma suposta “ligação” com os envolvidos.

Imagem: reprodução/O Fluminense – edição impressa extraordinária dias 26, 27 e 28 de outubro de 2024

A maneira como os títulos e manchetes são estruturados na capa e no interior enfatiza uma dicotomia entre “honestidade” e “corrupção”, onde Jordy surge como o candidato honesto, enquanto Neves é associado a processos sigilosos e suspeitas de ilegalidade. Isso cria um ambiente polarizado, no qual o eleitor é levado a ver Jordy como uma escolha segura em contraste com Neves.

Bereia acompanhou uma série de outras publicações que visavam enaltecer Jordy e desqualificar o então candidato Rodrigo Neves. Nelas, foram usadas  técnicas de manipulação e desinformação, como a insinuação indireta, a omissão de fontes confiáveis e a repetição constante da narrativa em múltiplas matérias para reforçar a associação negativa. 

Tal postura marcou um distanciamento preocupante dos princípios éticos do jornalismo, uma vez que, em várias ocasiões, o jornal promoveu narrativas que não correspondiam aos fatos.

Nos levantamentos realizados pelo Bereia nas últimas publicações do jornal, nos meses de setembro e outubro, 23 matérias criticavam o candidato Rodrigo Neves e nenhuma delas tecia comentários positivos à campanha ou sua gestão na cidade por Rodrigo Neves. Já com relação ao candidato Carlos Jordy, 14 matérias positivas e nenhuma desfavorável. 

Alguns exemplos:

Matérias Favoráveis a Carlos Jordy

“Carlos Jordy promete modernizar Centro, Alameda e mais 12 áreas” (02 de outubro de 2024)

“Carlos Jordy: Polo tecnológico irá gerar 8 mil empregos de qualidade” (03 de outubro de 2024)

“Carlos Jordy inicia campanha do segundo turno com caminhada empolgante em Icaraí” (14 de outubro de 2024)

“Partido Novo apoia Carlos Jordy no segundo turno em Niterói, reforçando valores conservadores” (15 de outubro de 2024) 

“Carlos Jordy promete cancelar contrato do Niterói Rotativo” (20 de outubro de 2024)

“Carlos Jordy cresce e apoio popular aumenta” (23 de outubro de 2024)

Além disso, encontros com representantes católicos e evangélicos foram destacados como um apoio formal destes segmentos ao candidato Jordy. Rodrigo Neves também recebeu o apoio de lideranças evangélicas locais, mão isto foi não mencionado pelo jornal. 

Imagens: reprodução/O Fluminense 

Matérias críticas a Rodrigo Neves

Das mais de duas dezenas de matérias negativas, quatro matérias publicadas poucos dias antes do segundo turno se destacam:

Carlos Jordy e Rodrigo Neves empatados tecnicamente”

A matéria afirma que: “A disputa pela prefeitura de Niterói chega à reta final em clima de virada. O candidato Carlos Jordy (PL) alcançou um empate técnico com Rodrigo Neves (PDT) nas intenções de voto, segundo o cientista político Bruno Soller, do Instituto de Pesquisa Real Big Data. A diferença, que antes era favorável a Neves, diminuiu rapidamente, e, se a tendência de crescimento de Jordy se mantiver, ele pode se tornar o próximo prefeito de Niterói”.

“Soller destaca que a crescente insatisfação dos eleitores com a atual gestão, apoiada por Axel Grael, tem sido um ponto-chave para o avanço de Jordy na corrida eleitoral. “A eleição em Niterói agora é sobre continuidade ou mudança, e Rodrigo Neves representa uma continuidade que não tem agradado aos niteroienses. Essa percepção tem feito com que a distância entre os candidatos praticamente desapareça, levando Jordy ao empate técnico e ao protagonismo na disputa”, analisa Soller”.

Imagem: reprodução/O Fluminense 

A pesquisa foi registrada no TSE, em 19 de outubro, com o número RJ-09627/2024, e divulgada em 25 de outubro. Entretanto, O Fluminense publicou apenas esta pesquisa mais favorável ao candidato Carlos Jordy; outras duas pesquisas, do mesmo período, foram omitidas. Há a pesquisa GERP divulgada em 24 de outubro de 2024:

Imagem: reprodução/GERP

Também há a pesquisa Atlas Intel divulgada em 26 de outubro de 2024.

Imagem: reprodução/Atlas Intel

Rodrigo Neves foi eleito no 2° turno  com 156.067 votos, ou 57,20% dos votos válidos , e derrotou Carlos Jordy , que terminou com 42,80% dos votos válidos, ou 116.796 eleitores.

PT invade Niterói para tentar salvar Rodrigo Neves” (26 de outubro de 2024)

A matéria afirma que: “Na véspera do segundo turno das eleições mais disputadas da história recente de Niterói, os moradores da cidade foram surpreendidos, neste sábado, por uma verdadeira invasão de petistas de várias cidades do estado e, até mesmo, da região do ABC paulista. São milhares de militantes profissionais da Baixada Fluminense, Maricá, São Gonçalo, da Capital e, até mesmo, de São Bernardo do Campo, onde o PT ficou de fora do segundo turno”.

O jornal afirma que a deputada federal Benedita da Silva esteve em Niterói para apoiar Rodrigo Neves, o que de fato aconteceu. Entretanto, as informações sobre uma suposta “invasão de militantes profissionais” não é corroborada por fontes ou informações confiáveis, nem qualquer movimento neste sentido foi noticiado por outros veículos .

“Medo de perder boquinhas une velha política de Niterói com Rodrigo Neves”,  em 26 de outubro de 2024.

A matéria afirma que “Niterói está assistindo a campanha mais agressiva de sua história. O gabinete do ódio, montado por Rodrigo Neves, tem de tudo. Uma verdadeira fábrica de fake news está produzindo as narrativas mais absurdas, numa tentativa desesperada de Rodrigo Neves para manter o poder, custe o que custar”.

O Fluminense cita uma suposta fábrica de fake news, mas durante o processo eleitoral, o candidato Carlos Jordy foi punido pelo TRE por “discurso ofensivo” e “campanha ilegal nas redes socias”, como checado pelo Coletivo Bereia. Ainda durante a campanha, a Justiça Eleitoral derrubou mais de 20 páginas com notícias falsas e ataques ao candidato Rodrigo Neves.

“Rodrigo Neves despeja dinheiro e torna segundo turno em Niterói o mais sujo do país” (27 de outubro de 2024)

Imagem: reprodução/O Fluminense 

Esta matéria afirma que: “Segundo cobertura da mídia e informações oficiais da Justiça Eleitoral, Niterói foi a cidade com maior número de presos por compra de votos em todo Brasil. São mais de 100 presos por boca de urna para o candidato do PDT, Rodrigo Neves. Até o momento dezenas de outros presos por corrupção eleitoral aguardam para serem indiciados. O abuso de poder econômico por parte da campanha de Rodrigo Neves ignorou completamente a legislação eleitoral.

Entretanto, de acordo com informações do TRE, 53 pessoas foram conduzidas à Delegacia da Polícia Federal por suspeita de prática de boca de urna, sendo que 20 foram autuadas. Além disso, não há qualquer menção oficial sobre o candidato que supostamente seria beneficiado com a prática. Curiosamente, apenas O Fluminense publicou a alegação de que a boca de urna estaria sendo realizada em favor de Rodrigo Neves, uma informação que não foi corroborada por outros veículos de comunicação.

*** O Fluminense produziu uma seleção tendenciosa de informações. Especificamente, ao publicar apenas a pesquisa eleitoral que favorecia o candidato Carlos Jordy, tendo omitido outras pesquisas realizadas no mesmo período que mostravam resultados diferentes, como as do GERP e Atlas Intel. Esta prática pode criar uma percepção distorcida da realidade eleitoral, e influenciar a opinião pública de maneira parcial.

Além disso, há omissão de fontes confiáveis ao afirmar que houve uma “invasão de militantes profissionais” do PT em Niterói. Sem apresentar fontes ou dados concretos para sustentar essa alegação, e sem que outros veículos de comunicação tenham corroborado a informação, a credibilidade da notícia é questionável. Esta falta de evidências concretas pode induzir o leitor ao erro e compromete a responsabilidade jornalística.

Observa-se também uma repetição de narrativas negativas direcionadas ao candidato Rodrigo Neves. Foram publicadas 23 matérias críticas a seu respeito, sem nenhum contraponto positivo, enquanto Carlos Jordy recebeu 14 matérias favoráveis e nenhuma crítica. A repetição contínua de conteúdos negativos sobre um candidato pode reforçar associações negativas no público, influenciando a percepção de maneira desequilibrada.

O uso de insinuações e linguagem emocional é evidente em termos como “gabinete do ódio”, “fábrica de fake news” e “campanha mais suja do país”, utilizados sem evidências concretas. Essas expressões têm o potencial de instigar emoções negativas e desacreditar Rodrigo Neves, desviando o foco de uma discussão objetiva e baseada em fatos.

Há também um distanciamento dos fatos e dados oficiais. A matéria que afirma que “Niterói foi a cidade com maior número de presos por compra de votos em todo Brasil” contradiz os dados oficiais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que registrou 53 conduções por suspeita de boca de urna, sem especificar envolvimento direto de qualquer candidato. Essa discrepância levanta preocupações sobre a precisão e veracidade das informações divulgadas.

As falhas na verificação de informações são preocupantes. Ao citar supostos eventos como a “invasão” de militantes e a existência de um “Gabinete do Ódio” sem apresentar provas ou fontes confiáveis, o jornal não cumpre com o dever básico de checar os fatos antes da publicação, o que compromete a qualidade e a ética jornalística.

Por fim, há um claro desbalanceamento na cobertura jornalística. A ausência de matérias críticas sobre Carlos Jordy e a falta de reconhecimento das ações positivas ou apoios recebidos por Rodrigo Neves indicam uma cobertura desequilibrada e parcial. Uma imprensa responsável deve buscar a imparcialidade para oferecer ao público uma visão equilibrada dos fatos e permitir que os leitores formem suas próprias opiniões com base em informações precisas e verificadas.

O Fluminense, um jornal com profunda ligação histórica com Niterói, desviou-se de seu compromisso com o jornalismo responsável, ao utilizar técnicas de desinformação que comprometem a integridade informativa e a confiança dos leitores. Ao enfatizar apenas aspectos positivos de um candidato e negativos de outro, sem embasamento em fontes confiáveis, o jornal desempenhou um papel mais próximo ao de um panfleto político do que ao de um veículo de comunicação comprometido com a verdade.

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TJ-RJ https://www3.tjrj.jus.br/consultaprocessual/#/consultapublica?numProcessoCNJ=0061380-23.017.8.19.2017 Acesso em: 29 Out 2024 

O Fluminense https://www.ofluminense.com.br/cidades/niteroi Acesso em: 29 Out 2024 

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TSE https://pesqele-divulgacao.tse.jus.br/app/pesquisa/detalhar.xhtml Acesso em: 29 Out 2024 

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O Dia. https://odia.ig.com.br/niteroi/2024/09/6915486-justica-derruba-mais-de-vinte-paginas-de-fake-news-contra-rodrigo-neves.html Acesso em: 29 Out 2024 

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-justica-eleitoral-pune-candidato-a-prefeito-autointitulado-cristao-deputado-carlos-jordy-pl/ Acesso em: 29 Out 2024 G1. https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/10/24/pf-apreende-dinheiro-em-niteroi.ghtml Acesso em: 29 Out 2024

ELEIÇÕES 2024: Candidatos a prefeito no segundo turno acionam religião para marcar posição ideológica

Candidatos a prefeito em quinze capitais que disputam o segundo turno nas eleições municipais de 2024, utilizam as mídias digitais para abordar temas religiosos em suas publicações, em busca de apoio de diferentes grupos. Eles se posicionam em questões como a relação entre religião e política, valores familiares e temas morais.

Reprodução: Facebook: Emilia Corrêa (PL-Aracaju) e Abilio Brunini (PL-Cuiabá)

O Bereia identificou três padrões: um grupo que adota postura mais combativa e ideológica associada a pautas conservadoras; outro que mantém abordagem institucional focada em parcerias com organizações religiosas; e um terceiro que busca equilíbrio entre sua identidade religiosa e propostas de gestão plural.

Publicações dos candidatos nas redes

O levantamento feito pelo Bereia verificou as páginas pessoais dos candidatos ao segundo turno no Facebook, Instagram, X e YouTube durante o ano de 2024 até 22 de outubro, considerando termos como “religião”, “Deus”, “fé”, “igreja”, “evangélico”, “católico” e registros de participação em eventos religiosos. 

O levantamento incluiu postagens, vídeos e transmissões ao vivo nas plataformas oficiais de campanha dos 30 candidatos que disputam o segundo turno nas quinze capitais. A seguir, apresentamos os principais destaques por cidade.

ARACAJU – SE:

– Emilia Correia (PL) se identifica como cristã evangélica e denuncia que igrejas evangélicas estariam espalhando mentiras sobre seu posicionamento. Mostra presentes recebidos de católicos e evangélicos e participou de eventos na Igreja Internacional da Graça.

– Luiz Roberto Dantas (PDT) fez uma única menção religiosa sobre o Domingo de Ramos, que caracteriza o laço católico.

BELÉM – PA:

– Delegado Éder Mauro (PL) promoveu evento evangélico na Igreja Lagoinha com Michelle Bolsonaro. Recebeu apoio em vídeo do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PL-SP) direcionado especificamente à “Comunidade Evangélica de Belém”.

– Igor Normando (MDB) reuniu-se com lideranças evangélicas, os pastores Philip Câmara e Samuel Câmara, e celebrou Corpus Christi, feriado católico.

BELO HORIZONTE – MG:

– Bruno Engler (PL) ataca cristãos que votaram em candidato adversário afirmando que têm “sangue nas mãos”. Acusa a prefeitura de promover “ideologia de gênero” por incluir campo de nome social em formulário escolar. Declara defender “valores cristãos” e participou de culto na Igreja Paz e Vida.

– Fuad Noman (PSD) dialogou com lideranças batistas, incluindo o Pastor Ramon Márcio da Convenção Batista Mineira. Declara devoção católica a Padre Eustáquio e visitou a Igreja Batista Getsêmani.

CAMPO GRANDE – MS:

– Rose Modesto (União Brasil) participou da Marcha para Jesus em 2024. Compartilha vídeos cantando louvores e defende-se de ataques que chama de “fake news”, afirmando que “tem alguém que vê tudo, esse alguém é Deus”.

– Adriane Lopes (PP) declara 20 anos de atuação na Igreja Assembleia de Deus Campo Grande. Participou do lançamento da Marcha para Jesus 2024 e usa citações bíblicas em suas comunicações.

CUIABÁ – MT:

– Abilio Brunini (PL) faz publicações atacando o PT e a esquerda ao afirmar que “cristão não vota em petista” e que “não tem como ser cristão e defender a esquerda”. Declara que padres e pastores que defendem a esquerda são “falsos”. Reuniu-se com Dom Mário, arcebispo católico de Cuiabá.

– Lúdio Cabral (PT) divulgou carta enfatizando sua “formação familiar cristã”, defendendo-se de acusações sobre “ideologia de gênero”, o que classifica como  mentiras. Propõem parcerias com igrejas em projetos sociais.

CURITIBA – PR:

– Eduardo Pimentel (PSD) utiliza repetidamente o slogan “Curitiba é de Jesus” em suas publicações. Declara ser “a favor da vida” e “da inocência das crianças”. Participou de cultos na Igreja Batista Bom Retiro e Assembleia de Deus Vila Americana. Relaciona sua candidatura a “valores que defende como cristãos”, incluindo “defesa da família” e “contra as drogas”.

– Cristina Graeml (PMB) se intitula como cristã,”direita raiz”, e declara defender “valores inegociáveis” para aqueles que “tratam a fé de forma inegociável”. 

FORTALEZA – CE:

– André Fernandes (PL) identifica-se como “evangélico, filho de Pastor da Assembleia de Deus” e afirma contar com o  apoio de “mais de 200 pastores”Acusa a Prefeitura de promover “ideologia de gênero” por meio de exposição artística, usando termos como “criança viada”.

– Evandro Leitão (PT) declara-se “católico praticante” e afirma que “não usa a fé como palanque”. Participou de missas nas igrejas católicas Santo Antônio e Nossa Senhora de Fátima.

GOIÂNIA – GO:

– Frederico Rodrigues (PL) publicou texto contrapondo “Militante Esquerdista” e “Cristão”, sugerindo incompatibilidade entre cristianismo e posições de esquerda.

– Sandro Mabel (Republicanos) encontrou-se com lideranças evangélicas: pastor Aluizio Silva da Igreja Videira e Bispo Oídes. Declara que sua “gestão vai ser para todos”.

JOÃO PESSOA – PB:

– Cícero Lucena (PP) celebrou o dia de Nossa Senhora Aparecida e declarou que sua “fé em Deus sustenta seu trabalho”. Em vídeos, afirma que “a fé e a justiça venceram” e que “a fé em Deus demonstrou a justiça”.

– Marcelo Queiroga (PL) usa discurso religioso para se posicionar contra o aborto e dizer ter atuado “em defesa da vida desde sua concepção”, quando ministro (da Saúde do governo Bolsonaro) “de uma das maiores nações cristãs do mundo”. Recebeu apoio da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, que declarou que ele “renunciou à sua vida porque Deus o chamou para mudar a realidade de João Pessoa”. Vincula sua candidatura à “defesa da família e valores cristãos”.

MANAUS – AM:

– David Almeida (Avante) declara-se “cristão conservador” e afirma dialogar com todas as religiões. Como atual prefeito, incluiu programação evangélica e católica no evento municipal “Sou Manaus”, com participação do Padre Fábio de Melo. Participou da Marcha para Jesus em 2024.

– Capitão Alberto Neto (PL) promoveu palestra “O Cristão e a Política” com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Compartilha versículos bíblicos e frequentou cultos evangélicos. Criticou os Jogos Olímpicos de Paris 2024 chamando de “profanação” a cena que aludia à Santa Ceia, já desmentida em publicação do Bereia.

NATAL – RN:

– Natália Bonavides (PT) denunciou distribuição de material  intitulado “13 motivos para os cristãos não votarem” em sua candidatura. Registra diálogos com diversas denominações: pastor Martim Alves (Assembleia de Deus), Dom João S. Cardoso (Igreja Católica), representantes de matriz africana e do Centro Islâmico.

– Paulinho Freire (União Brasil) visitou igrejas evangélicas Verbo e Vitória em Cristo. Como vereador, presentou Moção de Aplausos pelos 106 anos da Igreja Evangélica Assembleia de Deus na Câmara Municipal.

PALMAS – TO:

– Janad Valcari (Republicanos) realizou evento com Michelle Bolsonaro e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) caracterizado como “louvor e mulheres virtuosas”. Utiliza termos religiosos como “abençoado” em publicações rotineiras.

– Eduardo Siqueira Campos (Podemos) tem como vice o pastor da Assembleia de Deus Nação Madureira, Carlos Velozo (Agir), que cita a Bíblia (Primeira Carta aos Coríntios) para vincular experiência pastoral à gestão pública.

PORTO ALEGRE – RS:

– Maria do Rosário (PT) declara-se cristã e apresenta-se como a “prefeita da fé”. Enfatiza origem em “família cristã” e vincula fé à “reconstrução da cidade”.

– Sebastião Melo (MDB) dialogou com o Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos e divulgou parcerias com instituições religiosas em ações sociais.

PORTO VELHO – RO:

– Léo Moraes (Podemos) obteve apoio formal da Comunidade Cristã Shalom, por meio dos pastores Francisco Luna e Israel Cavalcante. Participou de momentos de oração com a Entidade Beneficente Sabedoria de Salomão.

– Mariana Carvalho (União Brasil) é vinculada à Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Porto Velho. Escolheu como vice o pastor Valcenir (União Brasil), presidente da Igreja Missionária Catedral da Família, que relaciona sua experiência pastoral à capacidade administrativa.

SÃO PAULO – SP:

– Guilherme Boulos (PSOL) encontrou-se com o pastor Ribamar Passos (Assembleia de Deus), que declarou buscar “quebrar muros” com o segmento evangélico. Recebeu apoio do pastor Uilian Corcino, que afirmou “não votar nele por ser de esquerda, mas por ser cristão”, e do católico  Frei Betto. 

  • Nesta semana houve reunião de evangelicos com Boulos. Houve outras.  Nao está nas redes dele? 

– Ricardo Nunes (MDB) é declaradamente católico mas fez apenas uma publicação com a participação da Marcha para Jesus em 2024. 

  • Nada nas redes dele sobre ida a igrejas? Foram muitas!

Distribuição dos padrões religiosos

A análise das redes digitais dos 30 candidatos que disputam o segundo turno em quinze capitais revela três padrões distintos no uso de temas religiosos durante a campanha eleitoral. 

O grupo mais expressivo, com nove candidatos (41%), adota postura combativa e ideológica, associando valores religiosos a pautas conservadoras. O segundo grupo, com sete candidatos (32%), mantém abordagem institucional focada em parcerias com organizações religiosas. Já o terceiro padrão, identificado em seis candidatos (27%), caracteriza-se pela busca de equilíbrio entre identidade religiosa e propostas de gestão plural. O levantamento indica predominância de candidatos do PL no primeiro grupo, enquanto o MDB tem maior presença no segundo e o PT no terceiro.

  • Bereia conclui que o acionamento da religião nas campanhas do segundo turno das eleições municipais de 2024 se apresenta de forma mais intensa entre candidatos autodeclarados conservadores. Estes utilizam predominantemente narrativas de confronto ideológico, associam valores religiosos a pautas específicas como “defesa da família” e combate à chamada “ideologia de gênero”.

A análise demonstra que candidatos alinhados a partidos de direita e extrema-direita tendem a adotar discurso mais combativo, que frequentemente sugere incompatibilidade entre o Cristianismo e posições de esquerda. Já candidatos de outros campos políticos optam por abordagem institucional, com privilégio ao diálogo inter-religioso e parcerias em projetos sociais.

Bereia alerta leitores e leitoras para a importância de distinguir entre o acionamento legítimo da identidade religiosa na política e a instrumentalização dela para fins eleitorais, com tom exclusivista-extremista. É fundamental verificar se as declarações sobre religião dos candidatos correspondem a propostas concretas de gestão e respeito à diversidade religiosa garantida pela Constituição Federal.

Referências de checagem:

Coletivo Bereia
https://coletivobereia.com.br/olimpiadas-paris-2024-polemicas-sobre-religiao-envolvem-surfista-brasileiro-e-cerimonia-de-abertura/ Acesso: 23 out. 2024

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-bereia-dedica-atencao-a-campanha-de-candidatos-as-com-identidade-religiosa-para-as-prefeituras-das-26-capitais/. Acesso: 19 out. 2024

Foto de capa: TRE-PE

Eleições 2024: site gospel recorre a populismo prisional ao sugerir preferência de presos por Boulos em São Paulo

Matéria do portal de notícias gospel Pleno.News, de 9 de outubro passado, destaca que o candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL-SP) foi o mais votado nos presídios e unidades socioeducativas no 1º turno das eleições municipais, realizado em 6 de outubro. De acordo com o site evangélico, o resultado divulgado foi apurado com base nos dados dos boletins de urna das unidades prisionais. 

Ainda segundo o Pleno.News, apenas 484 presos exerceram seu direito ao voto dentro dessas unidades, destes, 234 (48,3%) votaram em Guilherme Boulos (PSOL),124 (25,62%) em Pablo Marçal (PRTB), 74 (15,29%) em Tábata Amaral (PSB) e 46 (9,5%) no atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Também receberam votos em unidades prisionais o apresentador José Luiz Datena (PSDB), com quatro votos (0,82%), Marina Helena (Novo) e Ricardo Senese (Unidade Popular), com um voto cada (0,20%). 

Imagem: reprodução/Pleno.News

Bereia apurou que outros sites também noticiaram essa informação com títulos semelhantes ao do site gospel. O  portal de notícias da Rede Record R7, além de frisar a vitória do candidato psolista nas unidades prisionais, ressaltou no subtítulo que Marçal foi o mais votado no presídio Romão Gomes, onde policiais cumprem penas. 

Os sites do Poder 360 e da Rádio Bandeirantes, por sua vez, apresentaram dados ligeiramente diferentes. Segundo o primeiro,  veículo alinhado à direita política, Boulos obteve “mais de 50%” dos votos válidos (excluindo brancos e nulos) em 14 unidades de reclusão paulistanas, enquanto Pablo Marçal recebeu 22,91% dos votos válidos (107 votos). Tábata Amaral foi citada com 15,84% dos votos válidos, sem menção ao número exato de votos. Já o portal da Band não citou números absolutos, apenas porcentagens com pequenas diferenças percentuais.

Imagem: reprodução/Poder 360

Sob o título “Veja qual candidato à Prefeitura de SP obteve mais votos nos presídios”, o site Metrópolis, entretanto, é o que traz números mais divergentes. Para o portal, Boulos obteve 56% dos votos válidos, o equivalente a 110 dos 194 presos habilitados para votar. Pablo Marçal (PRTB) obteve 15%, equivalente a 30 votos; Tabata Amaral (PSB), 14%, equivalente a 28 votos; Ricardo Nunes (MDB) 11%, com 22 votos; enquanto José Luiz Datena (PSDB), com 2%, quatro votos.

Bereia checou os resultados 

Todos os sites citados alegaram que fizeram o próprio levantamento a partir de dados fornecidos pelo TRE-SP. A equipe do Bereia realizou uma apuração detalhada dos votos nas seções eleitorais instaladas em centros de detenção e unidades socioeducativas de São Paulo, com base nos dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Ao analisar os boletins de urna de cada unidade prisional, de acordo com as zonas e seções eleitorais, os resultados confirmam a liderança de Guilherme Boulos (PSOL) com um total de 234 votos. Pablo Marçal (PRTB) ficou em segundo lugar, tendo recebido 124 votos, enquanto Tábata Amaral (PSB) obteve 74 votos, ficando em terceiro lugar. Essa análise confirma os dados mencionados previamente pelo Pleno.News, reforçando a predominância de Boulos nas votações em unidades prisionais. 

O que diz o Tribunal Superior Eleitoral sobre votos de presos e internos?

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presos provisórios – aqueles que ainda não foram condenados por decisão judicial definitiva – e jovens internados em unidades socioeducativas, como a Fundação Casa, têm o direito garantido de participar das eleições. Isso ocorre porque, nesses casos, os direitos políticos não são suspensos, o que permite que esses eleitores votem normalmente, conforme estipulado pela legislação brasileira. 

No caso dos jovens internos, o direito de voto é previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que assegura a participação cívica de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de internação ou internação provisória. Já os presos provisórios mantêm seus direitos políticos intactos até que haja uma sentença judicial definitiva, o que permite sua inclusão no processo eleitoral. 

Os presos provisórios são aqueles que ainda não foram julgados e, portanto, não foram condenados. Estão aguardando o julgamento em regime fechado ou semiaberto. A prisão provisória, também conhecida como prisão cautelar, é uma medida excepcional e só pode ser decretada por um juiz em casos específicos. Ela serve para garantir a ordem pública, evitar a fuga do acusado, impedir a obstrução da justiça ou assegurar a aplicação da lei penal.  Como estes presos não possuem uma condenação transitada em julgado (sem possibilidade de recurso), podem votar. 

Vale ressaltar que presos condenados têm seus direitos políticos cassados, não têm direito ao voto. Só podem participar do pleito depois de cumprirem a pena imposta pelo juiz no fim do processo. Quando a pessoa sofre uma condenação, independente do seu regime (fechado, semiaberto ou aberto), ela tem os seus direitos políticos suspensos, não pode votar, nem ser votada, de acordo com o artigo 15 da Constituição Federal.

O processo de votação nessas unidades prisionais e de internação segue uma série de normas rigorosas para garantir a segurança e o sigilo do voto. A organização das seções eleitorais nestes locais é disciplinada pela Resolução TSE nº 23.736/2024, que especifica todos os procedimentos a serem seguidos. A instalação de urnas eletrônicas nas unidades depende de uma estrutura mínima, como a presença de, ao menos, 20 eleitores aptos. Além disso, as mesárias e mesários são escolhidos entre servidores do Ministério Público ou do sistema penitenciário (desde que não sejam agentes diretamente envolvidos na segurança), e advogados, para assegurar a neutralidade e a regularidade do processo.

Após o encerramento da votação, os resultados são registrados em Boletins de Urna (BU), que são documentos físicos impressos pela urna eletrônica, nos quais estão transcritos todos os votos computados naquela seção. Em seguida, o presidente da seção eleitoral retira a mídia do resultado da urna, que é um dispositivo eletrônico semelhante a um pendrive, contendo os dados de votação. Tanto o BU quanto a mídia de resultado são enviados ao cartório eleitoral local, onde os dados são conferidos e processados. A partir daí, as informações são transmitidas eletronicamente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, para a totalização e conferência final dos votos. Esse processo garante que a apuração seja segura, transparente e eficaz, mesmo em contextos como unidades prisionais e de internação, onde a logística é mais desafiadora.

Em todo o estado de São Paulo foram instaladas 51 seções eleitorais em estabelecimentos prisionais e unidades de internação, distribuídas em 27 municípios. Com isso, 2.729 presos provisórios e jovens internos tiveram direito ao voto no primeiro turno das eleições de 2024. Nas eleições realizadas em presídios, as mesárias e os mesários, três por seção, são selecionados entre servidores do Ministério Público ou do sistema penitenciário, desde que não sejam agentes, ou entre advogados.

Populismo penal como apelo político

São Paulo tem o maior colégio eleitoral do país, 22% dos eleitores brasileiros, 34.403.609, estão na cidade. O número de presos votantes, 484, é irrelevante se comparado com o total de presos que compõem o sistema carcerário paulistano, 30.170, de acordo com levantamento feito por Bereia, com base nos dados disponibilizados no site da Secretaria de Administração Penitenciária

Além disso, é importante ressaltar que apenas presos provisórios, que não foram condenados e ainda podem recorrer da sentença e, inclusive, serem inocentados, podem votar. Então, diante dos dados apresentados, matérias como a do Pleno.News e dos demais veículos têm um significado que leva a questionar a motivação das informações divulgadas nesses veículos. 

Bereia ouviu o coordenador da área de Direitos e Sistema de Justiça do Instituto de Estudos da Religião (ISER) Lucas Matos sobre a questão. Para ele, há a mobilização, ainda que velada, da ideia que liga todas as pessoas privadas de liberdade ao estereótipo racista do criminoso violento, organicamente associado a grupos do varejo de drogas.

 “As reportagens flertam com a conhecida tática da direita política de tentar criminalizar setores políticos por qualquer vinculação com a questão prisional, seja ela real, como no caso de ativistas que lutam pelos direitos humanos das pessoas privadas de liberdade, ou criada a partir de dados mobilizados de forma tendenciosa, como nesse caso”, explica Matos.

O advogado ressalta: “Em uma chave mais conjuntural, me parece que a quantidade de reportagens com esse destaque se insere na dinâmica específica da eleição da capital paulista, que está sendo marcada, entre outras coisas, por troca de acusações sobre supostas vinculações de candidatos, como o atual prefeito Ricardo Nunes, com o PCC”, afirma o coordenador referindo-se à organização criminosa Primeiro Comando da Capital. 

Matos destaca ainda que o caráter oportunista na divulgação desta informação nesse conjunto de reportagens está inserida em um grave quadro de desinformação em relação a temas como sistema prisional, sistema socioeducativo e segurança pública no Brasil. “Podemos falar, sem rodeios, que esses temas são tratados pela imprensa no Brasil, e não só pelos veículos estritamente conservadores, a partir da reprodução de estereótipos racistas e com pouco interesse por pesquisas sérias e independentes da lógica punitivista que naturaliza a violência de Estado”, disse Lucas Mattos.

De acordo com o coordenador do ISER, além da impropriedade metodológica de tratar números tão pequenos em uma chave estatística, existem questões de fundo que as reportagens nem cogitam discutir. “A população prisional (no Brasil) é composta basicamente por jovens negros das frações mais precarizadas da classe trabalhadora. A afirmação da seletividade desse sistema é um dado incontornável, demonstrado cientificamente, e consequência direta do fato de que toda a sociedade infringe regras e comete crimes, mas só uma parcela determinada é punida e encarcerada”, lamenta o advogado. 

Matos aponta ainda que chama a atenção que nenhuma das reportagens demonstra alguma curiosidade sobre o perfil das pessoas privadas de liberdade que votaram. “Isso contraria a própria lógica do debate eleitoral atual, muito preocupado sobre como dimensões como renda, território, faixa etária, raça, gênero e religião influenciam nos votos. Mais uma vez, estamos diante da reprodução de estereótipos que limitam essas pessoas ao rótulo de criminosas e encarceradas, o que seria suficiente para definir a sua preferência eleitoral. Esses estereótipos, vale dizer, compõem o quadro de desumanização produzida pelo Estado e pela sociedade contra as pessoas privadas de liberdade, seus familiares e suas sociabilidades”, finaliza.

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Bereia avalia a matéria do Pleno.News, bem como as dos demais veículos que publicaram na mesma temática, como enganosa. Além de usar em seu título dado estatístico para velar o pequeno e irrisório número de votos que foram computados nos presídios, 484, não deixa clara a situação real dos votantes, que o texto tenta relacionar ao candidato Guilherme Boulos. São presos que ainda não foram condenados e, portanto, ainda não podem ser caracterizados como criminosos. Apenas usam a linguagem jurídica para tanto “sem condenação criminal transitada em julgado” o que dificulta o entendimento do leitor.

Além disso, omite a informação de que a grande maioria dos presos, 30.170, estes sim julgados e condenados, não podem votar. Se considerarmos o universo eleitoral do município paulista, que tem o maior colégio eleitoral do país – 34.403.609 – e compararmos com o número de eleitores aptos a votar em presídios e unidades de internação, 484, verifica-se que é um percentual ínfimo e não reflete o eleitorado do candidato psolista que recebeu 1.776.127 (29,07% dos votos válidos) da população paulistana. Isto torna a classificação do título da matéria como sensacionalista, apesar de o veículo usar dados numéricos corretos. 

Referências de checagem:

Band
https://www.band.uol.com.br/radio-bandeirantes/noticias/com-48-dos-votos-boulos-foi-o-candidato-mais-votado-nos-presidios-de-sao-paulo-202410081235 – Acesso 18 de outubro 24

Metrópoles
https://www.metropoles.com/sao-paulo/veja-qual-candidato-a-prefeitura-de-sp-obteve-mais-votos-nos-presidios – Acesso 18 de outubro 24

TRE-SP
https://www.tre-sp.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Outubro/2-700-presos-provisorios-e-jovens-internos-poderao-votar-no-estado-de-sao-paulo – Acesso 18 de outubro 24

https://www.tre-sp.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Outubro/2-700-presos-provisorios-e-jovens-internos-poderao-votar-no-estado-de-sao-paulo – Acesso 18 de outubro 24

https://www.tre-sp.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Julho/eleicoes-2024-sp-tem-22-do-total-de-155-9-milhoes-de-eleitoras-e-eleitores-do-pais  – Acesso 18 de outubro 24

TSE
https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Outubro/ricardo-nunes-mdb-e-guilherme-boulos-psol-vao-disputar-o-2o-turno-para-a-prefeitura-de-sao-paulo – Acesso 18 de outubro 24

https://dadosabertos.tse.jus.br/dataset/?tags=Ano+2024 – Acesso 18 de outubro 24

https://resultados.tse.jus.br/oficial/app/index.html#/eleicao;e=e619;uf=sp;mu=71072;ufbu=sp;mubu=71072;zn=0001;se=0001;tipo=3/dados-de-urna/boletim-de-urna – Acesso 18 de outubro 24

Foto de capa: Câmara dos Deputados

Identidade religiosa está muito além do nome de urna utilizado nas eleições, defende editora-geral do Bereia

O nome de urna – aquele escolhido pelo candidato durante a campanha eleitoral – com indicação de título religioso não garante necessariamente vitória a quem o utiliza, pois a identidade está muito além dele. A avaliação foi feita pela editora-geral do Bereia, Magali Cunha, em entrevista à Agência Brasil em 7 de outubro. A reportagem tratou das candidaturas com viés religioso, incluindo aquelas pertencentes a expressões religiosas de matriz africana, além das cristãs (católicas e evangélicas).

A pesquisadora lembrou que nas eleições de 2020 e 2022 essa estratégia não saiu vitoriosa. Quem usa termos religiosos no nome de urna [como pastor/a, bispo/a, apóstolo/a, missionário/a] não é mais eleito do que religiosos que não colocam a identidade no nome”, afirmou.

Magali Cunha chamou a atenção para uma categoria genérica identificada como “cristã” que cresceu nas últimas eleições. Segundo ela, a estratégia é apropriada geralmente por candidatos conservadores, de direita, com o objetivo de se aproximar tanto de católicos quanto de evangélicos.

“Esses candidatos se apresentam como cristãos, e muitos deles têm uma vinculação específica, seja católica ou evangélica, mas não apresentam essa especificidade e querem ser identificados com a fé cristã de forma genérica”. 

A editora-geral do Bereia reforçou que não faz sentido também falar de voto religioso. “Isso não existe”. Magali Cunha defende que, apesar da dimensão religiosa que caracteriza a pessoa, ela também “é trabalhadora, desempregada, mãe, pai, heterossexual, homossexual, jovem ou idosa, e tudo isso compõe sua identidade e vai pesar nas suas decisões”.

Confira a íntegra da reportagem no site da Agência Brasil.

Foto de capa: TRE-CE

ELEIÇÕES 2024: Sites gospel desinformam com jornalismo declaratório partidário no conteúdo sobre eleições 

Levantamento realizado pela Agência Pública, em 25 de setembro passado, indica que Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, apresentou o maior número de citações  na cobertura da imprensa após as convenções partidárias, realizadas no final de julho. Marçal, que antes deste período tinha menor visibilidade, viu suas menções em reportagens quase quadruplicarem, o que corresponde ao maior crescimento de abordagens em relação aos demais candidatos. Este aumento pode estar ligado ao jornalismo declaratório, prática em que a imprensa reproduz e dá destaque a declarações de certas personagens públicas, muitas vezes em detrimento de outras ou da irrelevância de determinadas abordagens, aumentando a visibilidade de pessoas. O jornalismo declaratório, por dar ênfase às afirmações em vez de à relevância dos assuntos e à apuração e à checagem dos fatos, pode levar à desinformação e à simplificação de temas complexos bem como à imposição de pautas tendenciosas.

Imagem: reprodução/Folha de São Paulo

Marçal, que tinha 14% das intenções de voto no início de agosto de 2024, segundo pesquisa Datafolha, obteve 28,14% dos votos no primeiro turno, embora não tenha avançado para o segundo. A maior cobertura do noticiário  foi um fator que contribuiu para o crescimento de sua popularidade.

Em entrevista à Agência Pública, o cientista político Fábio Vasconcellos, afirma que Marçal rompeu a bolha do digital ao transferir sua popularidade do meio online para o ambiente institucional da política. “É aquela velha máxima: falem mal, mas falem de mim. (…) Ao invés da imprensa estar falando das propostas de Nunes, Boulos, de Tábata, a imprensa está ocupando energia e espaço para falar de Pablo Marçal”, declarou.

Jornalismo Declaratório: o que é?

Para o autor do livro “Jornalismo Declaratório”, Israel Oliveira, este estilo de reportagem é caracterizado pela ênfase em declarações. O termo ganhou destaque em 2011, quando o jornalista Caco Barcelos criticou essa prática no programa “Em Pauta”, da GloboNews, quando expressou preocupação com a imprensa brasileira, ao pontuar que muitas críticas à mídia, que eram proferidas à época, pareciam baseadas em declarações de certas fontes.

Esse modelo foca em declarações e opiniões, em vez de análises ou investigações. Reproduz falas de figuras públicas, como políticos, muitas vezes sem contexto ou checagem, simplificando temas e contribuindo para a desinformação. Prioriza citações em detrimento da investigação. Muitas vezes tais declarações são proferidas por figuras irrelevantes na cena pública ou dizem respeito a assuntos irrelevantes ou tendenciosos no debate público. 

Imagem: reprodução/X

Imagem: reprodução/X

Impacto do Jornalismo Declaratório

A professora e pesquisadora de Jornalismo Marli dos Santos, consultada pelo Bereia, destacou que a prática é comum nas redações pela agilidade na publicação. Segundo Santos,  “As declarações,  quando antagonizam pontos de vista, são mais atraentes, geram cliques ao serem utilizadas em títulos, especialmente se forem polêmicas (durante a pandemia, muitas declarações de Bolsonaro estiveram presentes em títulos)”. Ela observa que o jornalismo declaratório gera superficialidade pela falta de contexto e checagem.

Jornalismo Declaratório em sites gospel durante as eleições

Conforme a Resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)  nº 23.738, de 27 de fevereiro de 2024, o período de campanha para as eleições municipais de 2024 começou em 16 de agosto. A partir dessa data, os candidatos puderam solicitar votos de forma explícita e realizar propaganda eleitoral. 

Nesse contexto, Bereia realizou um levantamento de dados em portais de notícia gospel, com dados sobre a cobertura dos três candidatos mais votados no primeiro turno no pleito à prefeitura de São Paulo. O objetivo foi verificar o recurso ao jornalismo declaratório por esses veículos na cobertura das eleições para a Prefeitura de São Paulo.

O levantamento foi conduzido por meio de busca direta, tomando-se os nomes dos candidatos como palavras-chave. Os dados foram compilados e categorizados por data, tema e candidato. No total, foram 96 menções a Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) nos sites Gospel Mais, Pleno News, Conexão Política e Gospel Prime, no período entre 1º de julho e 15 de outubro, que compreendeu as convenções partidárias, o início da campanha e o decorrer do segundo turno.   


O gráfico “Evolução Temporal das Menções por Candidato” mostra a variação das citações aos nomes. As menções a Pablo Marçal, Guilherme Boulos e Ricardo Nunes aumentaram com a aproximação do primeiro turno, realizado em 6 de outubro.

O gráfico “Tópicos Principais por Candidato” destaca os temas mais frequentes de cada candidato. Para Ricardo Nunes, os tópicos mais abordados são “Pesquisa eleitoral” e “Apoio político”. No caso de Pablo Marçal, predominam os temas “Acusações” e “Evangélico”. Já para Guilherme Boulos, os principais tópicos são “Acusações” e “Embate político”.

O gráfico “Menções de Cada Candidato por Site” mostra a distribuição das menções entre os candidatos. No site Pleno News, as menções a Pablo Marçal e Guilherme Boulos foram as mais numerosas e praticamente iguais, enquanto Ricardo Nunes teve menos destaque. No Conexão Política, as menções a todos os três candidatos foram bastante equilibradas, com Guilherme Boulos recebendo um pouco mais de atenção. Já nos sites Gospel Prime e Gospel Mais, Pablo Marçal se destacou como o candidato com mais menções.

O gráfico de “Menções Positivas e Negativas por Candidato nos Sites” revela que, no Conexão Política, Guilherme Boulos teve o maior número de menções negativas, com oito citações, enquanto Pablo Marçal se destacou com oito menções positivas. No Gospel Mais, Boulos e Marçal receberam sete menções negativas cada. No Gospel Prime, Marçal teve cinco menções positivas, o maior valor entre os candidatos. No Pleno News, tanto Nunes quanto Marçal foram mencionados positivamente oito vezes cada, enquanto Boulos e Nunes receberam três menções negativas.

Com base no levantamento realizado pelo Bereia sobre o recurso ao jornalismo declaratório em sites gospel, foi identificado que os portais Gospel Mais, Pleno News, Conexão Política e Gospel Prime, durante a corrida eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, dedicaram níveis distintos de atenção aos principais candidatos, com diferenças na cobertura mais evidentes à medida que se aproximava a data da eleição. 

Além disso, a análise aponta para possíveis preferências editoriais ou alinhamentos políticos desses sites, com o oferecimento de mais espaço a determinados candidatos por alguns em relação a outros. Tal cenário ressalta o papel significativo que esses portais desempenham na formação da opinião pública do segmento evangélico durante campanhas eleitorais, podendo influenciar a visibilidade e a percepção dos eleitores sobre os candidatos em disputa.

Bereia alerta leitores e leitoras para que permaneçam atentos ao uso do jornalismo declaratório nesses portais. É fundamental que o público faça a leitura as informações de forma cuidadosa e crítica, e questione a imparcialidade e a falta de profundidade do conteúdo apresentado. Essa conscientização é essencial para garantir que o consumo de notícias se dê de maneira digna e responsável, para assim promover um entendimento mais claro e equilibrado sobre os temas abordados no contexto religioso.

Referências:

Agência Pública. https://apublica.org/nota/levantamentos-indicam-que-jornalismo-declaratorio-beneficia-marcal/. Acesso em: 14 de outubro de 2024. 

Jornalismo declaratório. https://livro-reportagem.com.br/o-que-e-jornalismo-declaratorio/.  Acesso em: 14 de outubro de 2024. 

Tribunal Superior Eleitoral. https://www.tse.jus.br/legislacao/compilada/res/2024/resolucao-no-23-738-de-27-de-fevereiro-de-2024.  Acesso em: 14 de outubro de 2024. 

g1. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2024/noticia/2024/08/08/eleicoes-2024-em-sao-paulo-nunes-tem-23percent-e-boulos-22percent-diz-datafolha-numeros-indicam-empate-tecnico.ghtml.  Acesso em: 16 de outubro de 2024. 

Foto de capa: Mohamed Hassan / Pixabay

Identidade confessional nas eleições 2024: veja quais candidatos checados por Bereia foram eleitos

Ao menos dez candidatos das eleições municipais de 2024 – dois candidatos a prefeito, quatro candidatos a vereador e quatro candidatas a vereadora – de identidade confessional e perfil desinformativo já tiveram algum discurso checado por Bereia. Entre estes, seis conseguiram eleger-se. Confira quais candidatos foram ou não eleitos, quais tiveram apoio de lideranças religiosas e quais são elas, quantos votos receberam e quais afirmações os tornaram alvo das checagens.

Prefeitos

Rodrigo Manga

Imagem: reprodução TSE

Rodrigo Maganhato (Republicanos), conhecido como Rodrigo Manga, foi reeleito prefeito de Sorocaba com 263.063 votos. Em 2020, Manga, que é missionário da Igreja Mundial do Poder de Deus e próximo do apóstolo Valdemiro Santiago, foi eleito em segundo turno com 153.228 votos. 

O prefeito, que já teve seu nome citado em casos midiáticos como o “resgate” de brasileiros em Israel e a divulgação de um “estudo” preliminar pela Prefeitura de Sorocaba, durante sua gestão, que teria apontado 99% de eficácia do tratamento precoce contra a Covid-19, com o chamado ‘kit Covid’, também já teve afirmações checadas por Bereia.

Bereia conclui que a narrativa de que cristãos estavam sendo perseguidos, propagada pelo prefeito Rodrigo Manga, em vídeos divulgados entre janeiro e março deste ano, é enganosa. As declarações de Manga foram feitas após o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) declarar inconstitucional a Lei Municipal 7.205/04, que torna obrigatória a inclusão de Bíblias nas Bibliotecas Municipais. 

Capitão Nelson

Imagem: reprodução TSE

Capitão Nelson (PL, de identidade confessional católica) foi reeleito prefeito de São Gonçalo(RJ) com 387.914 votos. Antes de se tornar prefeito, foi vereador em São Gonçalo e deputado estadual suplente. Em 2020, venceu a disputa pela prefeitura, pelo Avante, no segundo turno com 189.719 votos. 

Durante a campanha municipal de 2020, Capitão Nelson tinha como principal adversário Dimas Gadelha, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) em clara vantagem, segundo estudo divulgado à época

Na ocasião, o candidato do Avante estruturou sua campanha sobre o pânico moral de que “a esquerda é contra a família, a favor da ‘ideologia de gênero’ e da erotização de crianças nas escolas”. Segundo checagem realizada por Bereia em novembro de 2020, uma das mentiras propagadas era a de que o candidato do PT iria instalar banheiros unissex nas escolas.

Segundo turno

Cristina Graeml 

Imagem: reprodução TSE

Cristina Graeml (PMB, que se identifica como cristã não determinada) é candidata à prefeitura de Curitiba(PR) e disputa o cargo com Eduardo Pimentel (PSD), atual vice-prefeito do município, no segundo turno, no domingo, 27 de outubro. 

Graeml é jornalista e foi colunista da Gazeta do Povo, portal de notícias alinhado à extrema direita e diversas vezes checado por Bereia, onde também apresentava um programa sobre temas relacionados às Convicções da Gazeta do Povo.

Durante a pandemia da covid-19, Graeml, que se autointitula cristã e direita raiz, publicou um vídeo intitulado “O pico da pandemia no Brasil”, em que manipula números oficiais de cartórios para desvalidar números do Ministério da Saúde e a gravidade da covid-19. Bereia classificou o conteúdo do vídeo da jornalista e candidata como falso.

Em entrevista ao jornal Plural Curitiba, em 24 de junho, a candidata questionou a eficácia da vacina contra a Covid, defendeu os golpistas do 8 de janeiro, se posicionou a favor do voto impresso e disse não se considerar de extrema direita.

Vereadores

Guilherme Kilter

Imagem: reprodução TSE

Guilherme Kilter (Novo) foi eleito vereador em Curitiba (PR). Com 16.664 votos, ele será o quarto vereador mais jovem da capital paranaense e o mais novo da candidatura 2025-2028.

Apadrinhado pelo ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo) – que teve o mandato cassado em maio de 2023 -, Kilter se denomina cristão, de direita e a favor da família.

Com 228 mil seguidores no Instagram, o futuro vereador costuma publicar conteúdos que reproduzem pautas da direita como armamento de guardas municipais e a enganosa “ideologia de gênero”.

Ele é membro da Primeira Igreja Batista de Curitiba e contou com o apoio do tio e pastor Paschoal Piragine, que se destacou como propagador de pânico moral contra as esquerdas em processos eleitorais anteriores. Kilter já publicou conteúdos mentirosos sobre legalização do aborto e sobre a presença de uma atleta trans nas Olimpíadas. 

Pastor Dinho Souza

Imagem: reprodução TSE

Dinho Souza (PL) é pastor da Igreja Evangélica Povo da Cruz e foi eleito vereador no município de Serra (ES). Evandro de Souza Ferreira Braga teve 5.616 votos e recebeu apoio do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), do pastor Anderson Silva e do padre Kelmon.

Em 2022, no intuito de reformar um cômodo destinado às crianças, Dinho Souza promoveu a venda de rifas cujo prêmio seria uma espingarda calibre 12, polêmica que contribuiu para sua projeção na política.

Além de seu posicionamento a favor das armas, o pastor capixaba promove discurso contra a diversidade de gênero, contra o aborto – mesmo em casos de estupro – e já atacou a própria comunidade evangélica.

Sonaira Fernandes

Imagem: reprodução TSE

Sonaira Fernandes (PL, que se identifica como cristã não determinada) foi reeleita vereadora em São Paulo (SP), desta vez com 33.957 votos. Em 2020, ela havia sido eleita pelo Republicanos, mas, em 2024, filiou-se à legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Desde 2014, Fernandes trabalha junto à família Bolsonaro e, durante a campanha para vereadora em 2024, a candidata ostentou nas redes sociais o apoio do ex-presidente e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL).

Em 30 de maio de 2024, Sonaira Fernandes participou do evento Marcha para Jesus, organizado pela Igreja Renascer em Cristo, dos pastores Estevam e Sônia Hernandes. Na ocasião, a vereadora repercutiu discurso enganoso sobre perseguição religiosa no Brasil, episódio checado por Bereia à época.

Não foi a primeira vez que a vereadora compartilhou informações falsas. Durante a campanha presidencial de 2022, Fernandes disse que o então candidato Lula (PT) havia vendido a alma para vencer a eleição e compartilhou conteúdo enganoso sobre perseguição a cristãos.

Debora Palermo 

Imagem: reprodução TSE

Débora Palermo (PL) foi reeleita vereadora de Campinas(SP) com 7.690 votos. A vereadora foi eleita em 2020 como candidata do PSC e em 2022 tornou-se presidente em exercício da Câmara Municipal de Campinas, após afastamento do então presidente Zé Carlos (PSB). 

Palermo, que é membro da Igreja do Nazareno, filiou-se ao PL em 2023, depois do PSC ter sido incorporado pelo Podemos. Em 7 de junho de 2024, a vereadora publicou um vídeo em sua página no Instagram sobre uma discussão do Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara Municipal de Campinas, com a chamada “Educação em perigo” e a hashtag “ideologia de gênero não”.

A vereadora de Campinas afirmou que o PNE “é contra as escolas cristãs, é uma ideologia, uma manipulação de nossas crianças e isso não pode ocorrer”.  O discurso de Palermo também associa o termo LGBTQIAP+ a um perigo para crianças. Bereia checou e classificou como falsas as declarações de Débora Palermo (PL) no vídeo. 

Não eleitos

Quatro candidatos com identidade confessional já checados por Bereia não foram eleitos como pessoas que propagam desinformação. Todos eram candidatos a vereador(a). São eles: Alana Passos (PL-RJ, da Igreja Batista Atitude), no Rio Janeiro (11.046 votos); Waguinho Cantor (PL-RJ, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias), no Rio de Janeiro (9.523 votos); Dentinho (PL-MG, evangélico de igreja não determinada), em Passos (830 votos); e Marisa Lobo Psicóloga Cristã (PL-PR, da Igreja Batista), em Curitiba (2.517 votos).

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Foto de capa: TSE

Eleições 2024: TSE registra mais de 80 mil denúncias de irregularidades eleitorais em 2024

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até a véspera das eleições municipais de 2024, em 5 de outubro, registrou 80.684 denúncias de irregularidades eleitorais por meio do aplicativo Pardal. O número representa uma queda de 23,5% em relação ao pleito municipal de 2020, quando foram contabilizadas 105.543 ocorrências. Em comparação com as eleições gerais de 2022, que receberam 38.747 denúncias, houve um aumento de 108%.

Lançado em 2014, o Pardal permite que eleitores denunciem diversas irregularidades durante o período eleitoral, como propaganda antecipada, compra de votos, uso da máquina pública e abuso de poder econômico ou político.

Fonte: Sistema Pardal TSE

Denúncias por estados

São Paulo liderou o ranking de denúncias nos três períodos levantados. Em 2020, o estado registrou 23.323 denúncias, número que caiu para 5.748 em 2022 e subiu para 15.151 em 2024. Minas Gerais e Rio Grande do Sul também estão entre os estados com maior número de denúncias nos três anos, com 12.642 e 7.879 casos em 2024, respectivamente.

No outro extremo, estados como Roraima, Amapá, Acre e Tocantins apresentaram os menores números de denúncias nas últimas eleições. Em Roraima, por exemplo, foram registradas 129 denúncias em 2020, 99 em 2022 e 72 em 2024.

Fonte: Sistema Pardal TSE

Denúncias registradas em 2024

As estatísticas disponibilizadas pelo TSE no sistema Pardal indicam que as denúncias contra vereadores lideram com 41.910 casos, seguidas por denúncias contra prefeitos com 22.567 ocorrências. Partidos, coligações ou federações são alvo de 15.699 denúncias, enquanto vice-prefeitos recebem 508 denúncias.

Quanto aos tipos de irregularidades, o uso de banner, cartaz ou faixa lidera com 14.164 denúncias. Em seguida, vêm as denúncias relacionadas a bem público com 11.599 casos e irregularidades na internet com 9.698 ocorrências. O uso indevido de bem particular resulta em 6.808 denúncias.

Outras categorias incluem o uso de alto-falante/amplificador de som (5.342 denúncias), adesivos (5.283), outdoors (3.751) e confecção, utilização ou distribuição de brindes (2.147). Comícios ou showmícios geram 1.709 denúncias, enquanto a omissão de informações obrigatórias resulta em 1.625 casos.

Folhetos, volantes, santinhos e impressos são alvo de 1.622 denúncias. Irregularidades envolvendo jornal, revista ou tabloide somam 437 casos. A conduta vedada à emissora de rádio/televisão gera 301 denúncias, e problemas relacionados à boca de urna resultam em 47 denúncias.

Como haverá 2° turno neste pleito 2024, em 27 de outubro, para Prefeituras em cidades com mais de 200 mil eleitores, onde não foram alcançados mais de 50% dos votos válidos, Bereia chama a atenção de leitoras e leitores para o papel cidadão com denúncias de campanhas irregulares. Elas podem ser feitas por meio do aplicativo do TSE Pardal Móvel, que pode ser baixado lojas virtuais Apple Store e Google Play.

Na denúncia deverão constar o nome e o CPF do cidadão/cidadã que as encaminhou, além de elementos que indiquem a existência do fato, como vídeos, fotos ou áudios, ficando assegurado ao denunciante o sigilo de suas informações pessoais.

Para acompanhamento das denúncias, acesso a dados estatísticos ou orientações sobre o que é permitido e vedado para propaganda eleitoral, o cidadão poderá acessar o Pardal Web, por meio do endereço https://pardal.tse.jus.br/pardal-web/.

Referências

TSE.

https://pardal.tse.jus.br/pardal-web/pages/estatisticas/dashboard.faces. Acesso: 5 out 2024.

Agência Brasil.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/geral/audio/2024-10/pardal-recebe-mais-de-69-mil-denuncias-sobre-propaganda-irregular. Acesso: 5 out 2024.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2024-08/eleitores-podem-denunciar-irregularidades-pelo-aplicativo-pardal. Acesso: 5 out 2024.

Capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Eleições 2024: Portal gospel desinforma e engana com matérias que relativizam caso do laudo falso publicado por Marçal contra Boulos

O portal gospel Pleno.news publicou uma notícia, no dia 4 de outubro, que divulga um falso laudo médico exposto, no mesmo dia, nas mídias sociais pelo candidato à Prefeitura de São Paulo, autoidentificado como cristão não determinado, Pablo Marçal (PRTB). O falso documento buscou levar eleitores a crerem que o também candidato Guilherme Boulos (PSOL) havia sido internado em uma clínica médica por conta do consumo de drogas.

A notícia publicada pelo Pleno.news, ainda disponível no site até o fechamento desta nota, detalha o documento médico que foi rapidamente desmentido por Boulos, especialistas e pela própria imprensa na mesma noite.

Imagem: Reprodução/Pleno.news

O laudo, datado de 2021, carece de autenticidade devido a elementos discrepantes e inconsistentes, como o número errado do RG de Boulos, o nome incorreto da clínica onde ele teria sido atendido, além de uma assinatura falsa de um médico já falecido. Também, Boulos tem provas de que não foi atendido ou internado nas datas que constam no laudo divulgado. A secretária e a filha do médico também já declararam que a assinatura no documento é falsa, e a imprensa identificou que o dono da clínica, que teria emitido o laudo, é apoiador da campanha de Pablo Marçal e já foi processado e condenado por falsificação de diploma.

Ainda na noite de 4 de outubro, a campanha de Guilherme Boulos tomou medidas contra Pablo Marçal, com uma representação por crime eleitoral no Tribunal Regional Eleitoral-SP (TRE-SP) e uma denúncia de crime, com pedido de prisão na Justiça comum. O Instagram já havia suspendido a publicação de Marçal devido ao filtro de conteúdo falso. Em 5 de outubro, véspera das eleições, o TRE-SP suspendeu a publicação nas outras mídias de Marçal, mas o conteúdo já havia sido acessado e compartilhado por centenas de milhares de seguidores.

Análise das publicações do portal

O texto do Pleno.news foi publicado às 22h52, cerca de uma hora após a publicação de Pablo Marçal. A matéria utiliza, no título e na linha fina, os termos “suposto laudo” e “supostamente internado”, o que oferece o benefício da dúvida ao que já é publicamente comprovado como falso. Além disso, a publicação é ilustrada com uma foto-montagem dos candidatos lado a lado, extraída de um dos debates eleitorais, com Pablo Marçal em destaque, fazendo o gesto acusatório de “cheirar cocaína” contra Boulos.

A matéria do site gospel reproduz a imagem do falso laudo e detalha todo o conteúdo, mencionando o nome da substância tóxica citada, que teria sido encontrada no paciente, e caracterizando a contaminação por drogas como causadora de surto, com necessidade de internação.

O texto é encerrado com a afirmação de que o candidato Boulos não havia se manifestado sobre o caso. 

Às 23h, dez minutos após a publicação, várias mídias sociais já repercutiam os desmentidos de Boulos, com textos e vídeos, e a imprensa já publicava matérias com as suspeitas em torno da veracidade do documento.

Além dessa matéria permanecer publicada, sem alterações, até o fechamento desta checagem, o Pleno.news publicou uma nova, na manhã de 5 de outubro, às 10h50, que não destaca a falsidade já comprovada do documento.

Imagem: Reprodução/Pleno.news

A chamada está centrada no tom acusatório de que Boulos pediu à Justiça a suspensão das redes de Marçal. Apenas na linha fina o Pleno.news afirma, ainda impondo dúvida: “Laudo exposto por Marçal em suas redes sociais seria falso.” No entanto, o foco da matéria é a busca de Boulos pela suspensão dos perfis de Marçal nas redes. O motivo, segundo o site gospel, foi a publicação de “suposto laudo em que aponta o uso de cocaína pelo deputado federal.” O Pleno.news repete a falsidade proferida por Pablo Marçal com destaque, sem reproduzir os desmentidos de Boulos, mencionando apenas o que seus advogados afirmaram.

Às 12h43, no dia 5 de outubro, véspera das eleições, o Pleno.news publicou uma nova matéria, desta vez em contraposição ao pedido de suspensão das contas de Marçal nas mídias sociais, feito por Boulos. Nessa última publicação, o site gospel apresenta um texto favorável a Pablo Marçal, retratando-o como líder de popularidade nas redes, sem oferecer a fonte das informações. O título diz: “Marçal atrai mais seguidores do que todos seus adversários juntos”, com a linha fina: “Empresário é considerado um fenômeno nas redes sociais.”

Imagem: Reprodução/Pleno.news

Essa construção de matérias segue sem informar sobre o crime eleitoral praticado por Marçal. De fato, articula a conclusão de que o pedido de suspensão dos perfis de Marçal nas redes sociais, feito por Boulos, estaria relacionado à popularidade do candidato, “que atrai mais seguidores do que todos os candidatos juntos.”

Bereia classifica as publicações do site gospel Pleno.news, que tratam do falso laudo médico usado por Pablo Marçal contra Guilherme Boulos, como enganosas. O veículo religioso omite do público informações e apurações que comprovam a falsidade do documento, continuando a tratá-lo como “suposto laudo médico”. Além disso, publicou matéria que atribui uma imagem negativa a Boulos, insinuando que ele busca suspender as redes de Marçal por concorrência.

Bereia participa da campanha Bote Fé no Voto. Votar é um direito que alerta sobre este tipo de má-fé nas eleições.  Saiba mais.

Eleições 2024: Pastor e cantor evangélico Waguinho (PL) propaga conteúdo falso em campanha para vereador no Rio de Janeiro

Durante a última semana de eleições, panfletos alarmantes e sensacionalistas foram distribuídos em diversos bairros do Rio de Janeiro, atribuídos a candidatos com identidade religiosa. Um desses materiais, enviado ao Bereia por leitor, intitulado  “Estamos vivendo o tempo dificílimo”, circula na cidade e afirma que todos os partidos de esquerda apoiam a ideologia de gênero, a liberação das drogas e o aborto. 

Imagem: Reprodução do planfleto impresso

A mensagem afirma explicitamente, sem qualquer base factual, que “todos os candidatos de esquerda” querem  erotizar crianças e deslegitimar a autoridade dos pais na educação. O apelo final incentiva que se vote no pastor e cantor da Assembleia de Deus, candidato a vereador, Waguinho (PL). 

Este apelo reflete as falsidades e enganos frequentemente veiculados em publicações políticas alarmantes, que associam a defesa da justiça de gênero e a educação sexual a ameaças à família tradicional e à moralidade cristã. Este tema também foi utilizado nas campanhas eleitorais municipal de 2020 e estadual-nacional de 2022 para convencer  eleitores por meio do pânico,  como Bereia checou, pois são objeto de verificação recorrente.  Todas as checagens foram identificadas como falsas e enganosas.

Bereia  já publicou que  “ideologia de gênero” é um tema amplamente explorado em períodos eleitorais, especialmente em espaços digitais religiosos. O termo surgiu no contexto católico e foi adotado também por grupos evangélicos, com o intuito de deslegitimar a discussão científica sobre identidade de gênero e justiça de gênero. 

O termo é falsamente apresentado como uma estratégia marxista, de grupos de esquerda, supostamente destinada a destruir a “família tradicional” por meio de “escolha do sexo que se deseja” e de uma educação sexual que levaria à depravação, homossexualidade e defesa do aborto e da pedofilia. Tal discurso gera pânico e medo entre os grupos religiosos.

Junto com este tema também é utilizado o pânico em torno da liberação tanto do aborto e das drogas, que também são frequentes objetos de checagem do Bereia. Todas as matérias mostram distorção das abordagens destes temas por lideranças religiosas, com omissão de informações e invenção de outras sobre o que se discute publicamente em torno deles.

***

Bereia afirma que os panfletos distribuídos pelo candidato a vereador Waguinho (PL, Rio de Janeiro), intitulados “Estamos vivendo um tempo dificílimo” contêm conteúdo falso. O candidato, que é pastor e cantor da Assembleia de Deus, usa temas sensíveis como “ideologia de gênero” e as discussões em torno de drogas e do aborto para convencer eleitores que “todos os candidatos de esquerda” ameaçam crianças e seus pais. Waguinho faz campanha com conteúdo negativo contra outras candidaturas, sem oferecer qualquer referência que o justifique. 

Essa estratégia de disseminação de desinformação busca gerar pânico moral e repulsa a opositores entre os eleitores, semelhantemente ao que foi observado em campanhas de pleitos anteriores. Por isso, é crucial que os eleitores desconfiem de candidatos que atuam com conteúdo negativo e não com propostas  verifiquem a veracidade das informações antes de repercuti-las, a fim de evitar a propagação de discursos falsos.

Bereia participa da campanha Bote Fé no Voto. Votar é um direito que alerta sobre este tipo de má-fé nas eleições.  Saiba mais.

Referências: 

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/panico-moral-sobre-ideologia-de-genero-aborto-erotizacao-de-criancas-e-defesa-da-familia-e-usado-para-disputa-eleitoral-com-base-em-desinformacao/. Acesso em: 4 de outubro de 2024.

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/ideologia-de-genero-e-um-dos-temas-explorados-por-quem-produz-desinformacao-em-espacos-religiosos-nestas-eleicoes/.  Acesso em: 4 de outubro de 2024.

Wikipedia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Waguinho_(cantor).  Acesso em: 4 de outubro de 2024.

Eleições 2024: Damares Alves desinforma sobre ações da Justiça Eleitoral contra campanha eleitoral em igrejas

Nas últimas semanas de setembro foi divulgada uma série de casos de propaganda irregular e abuso de poder religioso em campanhas eleitorais. Um grupo de políticos com identidade religiosa têm atribuído à aplicação da lei eleitoral nessas situações a perseguição a cristãos. Bereia checou alguns desses casos, cujas notícias circulam em espaços digitais religiosos.

Senadora Damares Alves promove pânico 

A senadora evangélica Damares Alves publicou vídeo em seu perfil no Instagram com conteúdo relacionado à temática checada pelo Bereia. Nele, a parlamentar  alerta “candidatos conservadores” a serem cuidadosos porque “os seus inimigos estão de olho” e todo cuidado é pouco ao realizarem campanha eleitoral em igrejas.. De acordo com a senadora, o simples ato de ir a um culto pode causar a impugnação de uma candidatura como teria ocorrido, na avaliação dela,com a candidata à reeleição e prefeita de Votorantim, no interior de São Paulo, Fabíola Alves (PSDB). 

Acabei de receber uma notícia de que uma jovem candidata em Votorantim, no estado de São Paulo, teve a sua candidatura impugnada porque ela foi no culto. Já faz um tempo no Brasil, que estão falando do tal de ‘abuso de poder religioso’ de que o cristão, durante o período eleitoral não pode ir numa igreja. Então cuidado, porque os seus inimigos, conservadores, estão de olho. (…) não vamos dar nenhuma brecha para que essa esquerda faça a impugnação dos candidatos conservadores”,  disse Alves no vídeo.

Imagem: Reprodução/ Instagram

Bereia verificou que, conforme a denúncia recebida pela Justiça Eleitoral, a candidata Fabíola Alves, o vice-prefeito em sua chapa, Lourival César Silva (PSDB) e o candidato a vereador Pastor Lilo (MDB) participaram de culto na Igreja Quadrangular do Reino de Deus da cidade, em 10 de agosto, “onde realizaram atos típicos de propaganda eleitoral, com o apoio da autoridade religiosa que conduzia a celebração”. Ambos teriam recebido abertamente apoio de pastores para suas campanhas e de outros candidatos ali presentes. Durante o culto, o líder da congregação fez comentários sobre a importância de eleger políticos ligados ao projeto de cidadania da igreja, o que foi interpretado pela Justiça Eleitoral como uma forma de angariar votos.

A ação movida pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), entretanto, não se baseia apenas na propaganda política dentro da igreja que, por si só, já configura crime eleitoral, segundo o artigo 37 da Lei nº 9.504/97. A denúncia inclui ainda a suspeita de um aumento de 34,10% no valor pago pela Prefeitura à Igreja Quadrangular, pela locação de um imóvel de propriedade da instituição religiosa. Esse aumento foi uma parte importante da denúncia. Originalmente estipulado em R$14.541,06, o aluguel sofreu um aumento abrupto para R$19.500,00, o que levantou suspeitas de abuso do poder político. A Justiça alega que não houve justificativas claras para a elevação do valor e considerou que houve uma utilização inadequada do erário.

A candidata à Prefeitura da cidade Fabíola Alves, Pastor Lilo e Lourival César Silva tiveram seus registros de candidatura cassados e foram declarados inelegíveis por oito anos. 

Caso em Nova Friburgo (RJ)

Em Nova Friburgo (RJ), o Ministério Público Eleitoral (MPE) também investiga caso de abuso de poder religioso por parte de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador do município da região serrana fluminense. 

A investigação foi motivada por uma denúncia enviada através do Sistema Pardal (aplicativo criado pelo Tribunal Superior Eleitoral que permite o envio de denúncias de práticas indevidas ou ilegais no âmbito da Justiça Eleitoral), que indicou propaganda eleitoral irregular em um culto religioso em algumas congregações da Igreja do Evangelho Quadrangular na cidade. 

Na denúncia os pastores responsáveis teriam promovido o candidato a vereador Jorge Leite (PL) durante um culto. Ainda de acordo com o relato enviado pelo aplicativo do TSE, houve a exibição de vídeo com conteúdo eleitoral explícito, pedindo votos para candidatos, o que viola o artigo 37 da Lei Eleitoral (Lei nº 9.504/97), que proíbe propaganda em templos religiosos. Comunicações oficiais do MPE afirmam que o próprio candidato aparece em gravações realizadas durante as cerimônias, o que reforça as suspeitas de abuso de poder religioso. 

As ações resultaram na notificação de Jorge Leite, dos pastores envolvidos, e do prefeito Johnny Maycon (PL), também relacionado à propaganda irregular. A investigação segue sob a responsabilidade da 222ª Zona Eleitoral, que avalia possíveis sanções, incluindo a cassação da candidatura de Jorge Leite.

Caso em São Fidélis

Em São Fidélis, também no Rio de Janeiro, mais um caso de abuso religioso. A propaganda irregular ocorreu em uma igreja, que não pode ser identificada pelo Bereia, no município da região norte fluminense. Segundo a denúncia do MPE, o pastor Abner Abreu “pediu votos, declaradamente, para o candidato a Vereador ‘Jeffinho’, e para o candidato a prefeito e seu vice, Higor Porto e Eduardo Raposo”. O documento diz ainda que o pedido foi registrado em vídeo e serviu como evidência para a punição. 

O pastor alegou que o vídeo havia sido editado e retirado de contexto, e que a denúncia seria uma tentativa de intimidação por parte de seus opositores. Apesar da argumentação, o MPEl considerou o vídeo uma prova clara de propaganda irregular, uma vez que as leis brasileiras proíbem a utilização de púlpitos e espaços religiosos para promover candidatos. 

O que diz a Legislação Eleitoral sobre campanha em igrejas

A Legislação Eleitoral Brasileira (Lei nº 9.504/97) estabelece normas para a publicidade eleitoral, visando garantir a transparência e a igualdade de oportunidades entre os candidatos. O artigo 37 determina que a propaganda deve ser feita de forma a respeitar os direitos dos concorrentes e proíbe práticas enganosas, como a divulgação de informações falsas sobre candidatos ou partidos.  

O artigo 37 também busca evitar que aconteça o abuso de poder religioso durante o período eleitoral. O abuso religioso acontece quando líderes de instituições religiosas influenciam suas comunidades em favor de determinados candidatos ou partidos, utilizando sua posição de autoridade para direcionar votos. Essa prática pode ocorrer de várias formas, como declarações públicas em cultos, distribuição de materiais de campanha dentro das igrejas e até mesmo a pressão direta sobre os fiéis para que votem em candidatos específicos. O enfrentamento do abuso de poder religioso é fundamental para garantir que todos os cidadãos possam exercer seu direito ao voto de maneira livre e consciente.

***

Bereia chama a atenção de leitores e leitoras para os casos de campanha por busca de votos nas igrejas, o que não é permitido pela Lei Eleitoral, por ser classificado como abuso de poder religioso. Por isso, Bereia classifica o conteúdo publicado pela senadora Damares Alves (PL) em relação à aplicação da lei em Votorantim (SP), como enganoso. Ela distorce o contexto dos acontecimentos classificados judicialmente como abuso de poder religioso em campanhas eleitorais. 

A senadora sugere que o simples ato de participar de um culto poderia resultar na impugnação de candidaturas, mas omite que, no caso mencionado, a cassação foi motivada por uso político da cerimônia religiosa, não pela simples presença da candidata e seus pares na igreja. Além da suspeita de crime contra o erário público com o repasse de valores financeiros à instituição religiosa. Ao apresentar essa informação de forma distorcida, o vídeo propaga discurso que confunde os seguidores e desvia o foco do que levou à punição eleitoral.

Essa distorção dos fatos reforça a falsa ideia de perseguição de esquerdas a  candidatos conservadores, e cria um cenário alarmista que não corresponde à realidade, tema já tratado pelo Bereia. Ao insinuar que há uma vigilância injusta sobre políticos cristãos, Damares Alves desvia a atenção das infrações eleitorais cometidas por estes, e sugere que todos os segmentos agem da mesma forma sem sofrer penalidades. A desinformação apresentada no vídeo confunde o eleitorado e deslegitima ações legais que buscam combater abusos de poder religioso nas campanhas.

Referências:

Ministério Público do Rio de Janeiro. https://www.mprj.mp.br/visualizar?noticiaId=154902. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

G1. https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/eleicoes/2024/noticia/2024/08/28/justica-eleitoral-multa-candidato-a-vereador-de-votorantim-por-propaganda-de-pre-candidatura-durante-culto-religioso.ghtmlhttps://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/eleicoes/2024/noticia/2024/09/19/justica-eleitoral-cassa-registro-da-candidatura-de-fabiola-alves-por-participar-de-culto-em-votorantim.ghtml. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

ttps://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/eleicoes/2024/noticia/2024/08/28/justica-eleitoral-multa-candidato-a-vereador-de-votorantim-por-propaganda-de-pre-candidatura-durante-culto-religioso.ghtmlhttps://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/eleicoes/2024/noticia/2024/09/19/justica-eleitoral-cassa-registro-da-candidatura-de-fabiola-alves-por-participar-de-culto-em-votorantim.ghtml. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

SF Notícias. https://sfnoticias.com.br/eleicoes-pastor-e-multado-em-r-2-mil-por-pedir-votos-no-pulpito-de-igreja-em-sao-fidelis#google_vignetteCaso. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

Gazeta do Povo. https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/entrelinhas/damares-alerta-candidatos-conservadores-sobre-riscos-de-impugnacao-nas-eleicoes/. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

TSE. https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2020/Agosto/tse-rejeita-instituir-abuso-de-poder-religioso-em-acoes-que-podem-levar-a-cassacoes. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

Planalto. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm. Acesso em: 02 de outubro de 2024.

MPRS

https://www.mprs.mp.br/media/areas/eleitoral/arquivos/guia_intranet.pdf Acesso em: 04 de outubro de 2024.

Bereia

https://coletivobereia.com.br/a-mentira-que-nao-quer-calar-sobre-perseguicao-a-cristaos-no-brasil/  Acesso em: 04 de outubro de 2024.

Eleições 2024: Candidatos com identidade confessional, conhecidos por espalharem desinformação, divulgam apoio de lideranças religiosas

Ao longo da campanha para as eleições municipais, lideranças religiosas têm se mobilizado para prestar apoio público a candidaturas que se mostram alinhadas com suas pautas e ideais. Tal prática é uma estratégia comum na política, que se repete a cada pleito.

Nesta matéria, Bereia verifica candidatos com histórico de publicar desinformação que estão entre os que recebem a benção de pastores e outras figuras de destaque no meio cristão. Do monitoramento da equipe Bereia em mídias sociais, são destacados os casos de Guilherme Kilter (Curitiba/PR), Dentinho (Passos/MG), Alana Passos (Rio de Janeiro/RJ), Pastor Dinho Souza (Serra/ES) e Sonaira Fernandes (São Paulo/SP). 

Esses candidatos e candidatas fazem uso de sensacionalismo e desinformação para mobilizar eleitores e se apoiam na retórica religiosa e na proximidade, em algum grau, com lideranças eclesiásticas, para validar sua candidatura. 

Guilherme Kilter

O influenciador digital evangélico e candidato a vereador de Curitiba, pelo Novo, Guilherme Kilter, 22 anos, se apresenta nas mídias como cristão, de direita e a favor da família. 

Imagem: Reprodução/Facebook

Membro da Primeira Igreja Batista de Curitiba, Kilter conta ter sido “convidado a entrar na política” pelo ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR, cujo mandato foi cassado em 2023), que também é evangélico batista e mantém relações com lideranças eclesiásticas. Ele também se compara com o destacado político extremista de direita, deputado federal  Nikolas Ferreira (PL-MG), pela pouca idade e semelhança de posicionamentos, por ter iniciado a carreira política como vereador. Kilter declara querer  se tornar “o Nikolas Ferreira do Paraná“.

Entre as lideranças evangélicas, Guilherme Kilter conta com o apoio do pastor Paschoal Piragine Jr., que também é seu tio. Ele é presidente da Convenção Batista Brasileira, pastor emérito da Primeira Igreja Batista de Curitiba, e pastor interino da Primeira Igreja Batista de Niterói. Pirajine Jr. se destacou nas mídias sociais, em 2010, ao empreender ferrenha campanha contra a eleição da candidata do Partido dos Trabalhadores a presidente da República Dilma Rousseff, com uso de discursos de pânico moral e terrorismo verbal. Em outras campanhas eleitorais, o pastor também atuou na mesma direção.

Imagem: Gazeta do Povo, 29/09/2016

Na comunicação em redes digitais, além de frequentemente publicar imagens com essas figuras mais conhecidas de políticos com os quais quer ser relacionado, Guilherme Kilter utiliza também fotos de si mesmo na igreja para se afirmar como cristão e conservador. 

Além disso, também faz publicações sobre as polêmicas atuais, alinhado com os demais perfis e influenciadores ligados à extrema direita. Ele se engajou recentemente, por exemplo,na onda de difamações contra a boxeadora olímpica argelina Imane Khelif, que foi checada por Bereia. Também publicou desinformação sobre a legalização do aborto pelo governo Lula, que foi verificada como falsa pelo G1

Imagem: Reprodução/Instagram

Dentinho

Luis Carlos do Souto Junior, mais conhecido como Dentinho, se apresenta como um vereador com princípios de direita e está no terceiro mandato como parlamentar no município de Passos (MG). Em seu perfil no Instagram, o candidato do Progressistas (PP), à reeleição, ostenta fotos com grandes nomes do seu campo político, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Nikolas Ferreira, que prestou apoio ao candidato por meio de um vídeo para sua campanha. 

Em 2023, Dentinho virou notícia ao ser indiciado, em apenas 15 dias, por xenofobia, racismo e produção de fake news. De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o vereador cometeu o primeiro crime em novembro de 2022, após o fim do segundo turno das eleições, ao afirmar, em uma publicação nas mídias sociais, que “Bolsonaro também é f*da, foi falar na Bahia que ia gerar um milhão de empregos… Assustou o povo!”. A declaração insinua que a população baiana não votou em Bolsonaro por não gostar de trabalhar. O delegado Felipe Capute, que assina o indiciamento, entendeu que a fala de Dentinho é ofensiva ao povo da Bahia e resulta em uma exposição discriminatória.

A segunda denúncia também está relacionada com o último pleito eleitoral: Dentinho teria usado panfletos para divulgar conteúdo falso contra o então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a PCMG, o vereador cometeu crime eleitoral previsto no art. 323 de Lei 4737, que dá pena de detenção de dois meses a um ano para quem “Divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado”. Em resposta ao G1, o vereador negou que tenha cometido os crimes dos dois casos.

Imagem: Reprodução/Instagram

Alana Passos 

Alana Passos é militar do Exército e foi deputada estadual do Rio de Janeiro de 2018 a 2022. Em sua entrada na política, pelo PSL, recebeu 106.253 votos (1,38% do total) e foi a mulher mais votada do estado, um sucesso que não se repetiu no pleito seguinte: a candidata recebeu apenas 0,45% dos votos e ficou fora da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) porque o seu então novo partido, PTB, não teve quociente eleitoral.

Nas eleições municipais deste ano, Alana Passos é candidata a vereadora na capital fluminense pelo Partido Liberal (PL) e ostenta o apoio do pastor Joel Serra, idealizador do Movimento Cristão Conservador, em fotos e no vídeo de sua campanha. A militar também esteve no gabinete do pastor da Igreja Batista Atitude Josué Valandro Jr e posou ao seu lado em uma publicação no Instagram.

Imagem: Reprodução/Instagram

A primeira vez em que Alana Passos foi associada à propagação de conteúdo falso foi

em julho de 2020, quando o Facebook excluiu, dentre outras contas, os perfis AlanaOpressora, artilhariadobem, tvanticomunismobrasil e Fabio Muniz por “criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias”.

De acordo com a rede social, as contas seriam ligadas a um ex-assessor de Alana Passos, que afirmou, em nota à BBC News Brasil, que “Quanto a perfis de pessoas que trabalharam no meu gabinete, não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade. Estou à disposição para prestar qualquer esclarecimento, pois nunca orientei sobre criação de perfil falso e nunca incentivei a disseminação de discursos de ódio”.

Em buscas no perfil da candidata no Facebook, Bereia identificou a propagação de conteúdo falso e enganoso sobre “ideologia de gênero”, um dos termos mais explorados nos materiais de desinformação que circularam em espaços digitais religiosos nas últimas eleições. Em junho de 2018, Alana publicou um vídeo que, retirado de contexto, deixa a entender que a deputada federal Erica Kokay (PT-DF) confessa que defende o incesto e a destruição da famiilia patriarcal. 

Imagem: Reprodução/Facebook

O site Boatos.org já havia checado o vídeo em 2017, e chamou a atenção para o sentido da fala da deputada petista: segundos antes do recorte que viralizou ela diz “Por isso, eles querem romper a laicidade do Estado e implementam uma construção de ideologia de gênero, que ela é uma tentativa de sair do discurso essencialmente religioso e fazer a ponte com o discurso ideológico da extrema direita neste país. Porque aí eles dizem…”. Dessa forma, a candidata divulgou um conteúdo que tem elementos verdadeiros, mas foi apresentado de forma distorcida para produzir no receptor uma percepção da fala que é enganosa.

Já em 2021, a então deputada estadual usou a mesma rede para compartilhar a informação falsa de que um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) sugeriu que a exposição à pornografia poderia ser positiva para crianças. A imagem usada na publicação exibe a logo do R7, portal de notícias do Grupo Record, como forma de gerar credibilidade para a afirmação, que já foi verificada pela coluna Fato ou Fake, do portal G1. Por meio de um comunicado, o UNICEF reafirmou sua posição de que nenhuma criança deve ser exposta a conteúdo nocivo, e explicou que um artigo publicado em abril de 2021 teve interpretações incorretas e diferentes do que a instituição defende.

Imagem: Reprodução/Facebook

Pastor Dinho Souza 

Evandro De Souza Ferreira Braga, conhecido como Dinho Souza, é pastor da igreja evangélica Povo da Cruz, no município de Serra (ES). É filiado ao PL e concorre a vereador nas eleições deste ano. Ganhou destaque na imprensa nacional por um fato polêmico: em abril de 2022, a igreja que pastoreia promoveu a rifa de uma espingarda calibre 12  a fim de reformar a sala das crianças. A “ação entre irmãos”, como dizia o informativo, foi celebrada pelo pastor, que declarou sentir orgulho do ato. 

O fato serviu para projetar Souza para as mídias e noticiários. Ele seguiu a cartilha da desinformação religiosa monitorada pelo Bereia ao propagar ideias de perseguição religiosa contra cristãos no Brasil e de eleger as esquerdas como inimigas da fé cristã.  

Imagem: reprodução/ Instagram

O pastor, que concorre a vereador da Câmara de Serra, alinhou discurso com  a extrema-direita e ficou marcado pela sua posição pró-armas, pelo discurso contra diversidade de gênero e pela defesa contra o aborto, até mesmo em casos de estupro, direito assegurado por lei.

Além disso, Dinho Souza atacou setores do segmento evangélico. No domingo em que se comemorava a Páscoa, o religioso xingou o artista Timóteo Oliveira, membro da igreja Anglicana, e o acusou de ser um “black block gospel”, devido a representação da figura de Jesus negro em uma de suas artes. O caso rendeu uma nota de repúdio assinada pela coordenação do Movimento Negro Evangélico Nacional.

Instituições evangélicas ligadas ao campo conservador também estiveram na mira do pastor. Em 2023, Dinho Souza atacou a Associação de Pastores Evangélicos da Serra (APES) em um dos seus discursos. Apesar de toda polêmica, os episódios não o impediram de ganhar apoiadores do mundo político e religioso como pastor Anderson Silva,  padre Kelmon, o senador Magno Malta (PL-ES), a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o pastor da Igreja Batista Vale da Benção e desembargador aposentado Sebastião Coelho.

Sonaira Fernandes

Ex-secretária da Mulher do estado de São Paulo, Sonaira Fernandes é evangélica e busca seu segundo mandato como vereadora na capital paulista. Muito próxima do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua família (com quem começou a trabalhar em 2014), a candidata é a principal indicação do ex-presidente nestas eleições. Sonaira também é apoiada pelo governador Tarcísio de Freitas e chegou a ser cotada para vice de Ricardo Nunes na sua busca pela reeleição, mas acabou ficando fora da chapa.

Sonaira Fernandes é muito atuante nas mídias sociais e exibe visitas a igrejas e fotos com pastores de diferentes denominações. Em apuração no perfil da candidata no Instagram, Bereia verificou que a candidata visitou 24 igrejas evangélicas desde o início de agosto, ostentando o apoio de líderes da Igreja Renascer em Cristo e de diferentes Assembleias de Deus, dentre outras igrejas.

A forte influência de Fernandes no meio evangélico a levou ao “palco” da Marcha para Jesus deste ano e uma de suas falas sobre o evento foi checada pelo Bereia. A candidata repercutiu a declaração do líder da Igreja Renascer em Cristo apóstolo Estevam Hernandes, de que exista uma perseguição às igrejas no Brasil. Em seu perfil no X, Sonaira publicou que “Em plena época de Igreja perseguida, a 32ª Marcha para Jesus ficou marcada como uma das maiores da história”.  

Imagem: reprodução/X

A retórica do medo da perseguição religiosa é comum em conteúdo desinformativo, e na referida apuração Bereia concluiu que “que é falsa a afirmação de que haja perseguição aos cristãos no Brasil, e que as alegações de fechamento de igrejas e perseguição são estratégias de desinformação usadas por políticos e líderes religiosos para manipular o medo e influenciar o eleitorado, distorcendo a realidade e criando uma falsa sensação de vitimização.”

No mesmo sentido, dois meses antes das eleições presidenciais de 2022, Sonaria compartilhou um vídeo de imagens editadas do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva em um encontro de lideranças religiosas de matriz africana. Na legenda, a vereadora disse:

“Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição. Não lutamos contra a carne nem o sangue, mas contra os principados e potestades das trevas. O cristão tem que ter a coragem de falar de política hoje, para não ser proibido de falar de Jesus amanhã.”

O caso foi abordado pelo Bereia na reportagem “Cristofobia e intolerância religiosa: as fake news como estratégia política para enganar cristãos na campanha eleitoral 2022”, que destaca que o conteúdo publicado pela vereadora não se trata apenas de desinformação, mas é também um uso da intolerância religiosa para campanha política. A matéria ressalta, ainda, que a tentativa de associar Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) ao fechamento de igrejas evangélicas e a perseguição religiosa acontece desde 1989, e tais “notícias” nunca apresentam fontes ou informações factíveis.

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Bereia alerta leitores e leitoras a atentarem a candidaturas que mobilizam identidade religiosa e lançam mão de desinformação, conteúdo com base em mentiras e falsidades, como estratégia de campanha.

Referências

Boatos.org

https://www.boatos.org/politica/erika-kokay-defende-incesto.html . Acesso em 11 set 2024

BBC News Brasil

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53354358. Acesso em 11 set 2024

O Globo

https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2024/09/eleicoes-sp-cla-bolsonaro-opera-envios-no-zap-a-favor-de-candidata-favorita-a-vereadora.ghtml . Acesso em 23 set 2024

G1

https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2021/06/10/e-fake-que-unicef-sugira-em-relatorio-que-pornografia-e-positiva-para-criancas.ghtml. Acesso em 11 set 2024

https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2023/03/01/policia-civil-indicia-vereador-de-mg-por-financiar-panfletos-com-fake-news-durante-eleicoes-contra-lula.ghtml Acesso em 18 set 2024

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/eleicoes/2018/noticia/2018/10/08/deputados-estaduais-sao-eleitos-no-rj-veja-lista.ghtml . Acesso em 12 set 2024

UNICEF

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/e-fake-noticia-que-circula-no-whatsapp-e-em-sites-sobre-unicef-e-pornografia Acesso em 12 set 2024

Poder 360

https://www.poder360.com.br/governo/facebook-exclui-contas-falsas-ligadas-a-gabinetes-da-familia-bolsonaro/. Acesso em 12 set 2024

Estado de Minas

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/03/02/interna_politica,1463688/vereador-mineiro-e-indiciado-por-produzir-fake-news-contra-lula.shtml. Acesso em 18 set 2024

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/02/18/interna_politica,1459294/policia-civil-indicia-vereador-de-passos-por-racismo-e-xenofobia.shtml. Acesso em 18 set 2024

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/03/02/interna_politica,1463688/vereador-mineiro-e-indiciado-por-produzir-fake-news-contra-lula.shtml. Acesso em 18 set 2024

Instagram

https://www.instagram.com/dentinhovereador/. Acesso em 18 set 2024

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TSE

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Youtube

https://www.youtube.com/watch?v=gPrpqkJMTyM. Acesso em 11 de set 2024

UOL

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Bereia

https://coletivobereia.com.br/ideologia-de-genero-e-um-dos-temas-explorados-por-quem-produz-desinformacao-em-espacos-religiosos-nestas-eleicoes/ . Acesso em 12 set 2024

https://coletivobereia.com.br/cristofobia-e-intolerancia-religiosa-as-fake-news-como-estrategia-politica-para-enganar-cristaos-na-campanha-eleitoral-2022/ . Acesso em 24 set 2024

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-religiosos-e-politicos-usam-falsa-perseguicao-a-igrejas-no-brasil-como-tema-de-campanha-durante-marcha-para-jesus-de-sp/ . Acesso em 24 set 2024

Eleições 2024: Candidatos cristãos impulsionam publicações digitais com desinformação sobre a vacina contra covid-19

Candidatos a cargos municipais têm impulsionado publicações com desinformação sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19 e disseminam informações falsas de que a imunização seria prejudicial à saúde. Este é o tema de matéria da agência de checagem Lupa, publicada, em 20 de outubro. O conteúdo falso foi publicado em mídias sociais da Meta por candidatos de diferentes regiões do Brasil (Instagram e Facebook), com o alcance de milhares de pessoas.. 

Imagem: Site A Lupa

Os conteúdos foram impulsionados (publicados com pagamento à Meta para alcançar mais pessoas) ilegalmente,pois violam a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe a veiculação de informações falsas durante campanhas eleitorais. Apesar de a vacinação ser segura e fundamental para o controle da pandemia, conforme inúmeras checagens já efetuadas pelo Bereia e demais agências, como a própria Lupa, candidatos como Douglas França e Alberto Barreto espalham mentiras sobre supostos riscos. Estas alegações  ignoram dados científicos que comprovam os benefícios da imunização e das medidas sanitárias, como o uso de máscaras.

A matéria publicada pela plataforma de checagem destaca que estudos, como os publicados pelo The New England Journal of Medicine e o Centers of Disease Control and Prévention (CDC), reforçam que a vacinação infantil e as medidas de distanciamento social foram cruciais para reduzir o risco de hospitalizações e salvar milhões de vidas durante a pandemia. 

Segundo o TSE, candidatos que violam as normas eleitorais podem ser multados ou até perderem seus mandatos.

Bereia checou se os candidatos citados na matéria da Lupa têm identidade religiosa.

Douglas do Tiro

O primeiro nome citado na matéria é de Douglas França da Silva, o Douglas do Tiro, da cidade de Gaspar, interior de Santa Catarina, candidato pelo Partido Social Democrático (PSD). De acordo com a matéria da Lupa, o candidato impulsionou um anúncio com alcance estimado em 100 mil usuários, para um vídeo em que se posiciona contra a obrigatoriedade da vacina para covid-19 em crianças.  Bereia já checou mentiras em torno da vacinação de crianças com este imunizante.

O vídeo ainda está no ar e não foi bloqueado pela Meta, empresa que administra as redes, nem há um aviso de “Informação falsa. Checada por verificadores de fatos independentes”. Esta inscrição é aplicada pela Meta em material deste tipo, em cumprimento às normas que ela própria declara assumir.  

Como o próprio nome de urna do candidato já diz, o político é ligado a clubes do tiro e a questões de segurança pública como armar a guarda municipal. O feed de suas redes digitais é repleto de armamentos, instruções sobre como atirar, Douglas é instrutor de tiro e violência. O slogan da campanha dele é “Deus, Pátria, Família, Segurança, Educação e Liberdade”. 

Apesar do acionamento da religião cristã com o uso da palavra “Deus” no bordão e no jingle da campanha, não há referência à Bíblia ou temas religiosos em seus perfis, mesmo  em publicações mais antigas, não há referência à filiação confessional. Há sim, uma ou duas publicações que criticam igrejas pentecostais e a forma delas arrecadarem ofertas.. 

Imagem: Instagram

Alberto Barreto

O candidato a vereador de Taubaté (SP), pelo Partido Renovação Democrática (PRD),  Alberto Barreto, segundo a Lupa, impulsionou um vídeo com alcance estimado de até 500 mil usuários. Barreto criticou as medidas sanitárias adotadas durante a pandemia, como o isolamento social e o uso de máscaras neste material.. 

O vereador é candidato à reeleição e já divulga inverdades sobre vacinas há algum tempo. Ele têm em seu perfil no instagram um destaque com stories sobre a pandemia de covid-19 com muita desinformação, falsidades já checadas e desmentidas por inúmeras agências.

Imagens: Instagram

Em seu perfil nas redes sociais, o político se declara cristão e possui diversos conteúdos em que está realizando ações junto a organizações da igreja católica, ou imagens que remetem ao Catolicismo. Além disso, o candidato se declara conservador de direita, defensor de “Deus, Pátria Família e Liberdade”. Em seus destaques no Instagram, é possível ver conteúdos sobre a pandemia e saúde, além de vídeos que propagam o uso e porte de armas.

Imagem: Instagram

Thiago Xavier Kozak

O candidato a vereador, pelo Novo,  Thiago Xavier Kozak, da cidade de Cascavel (PR), por sua vez, impulsionou um conteúdo, com alcance estimado em 5 mil usuários, que defende o cumprimento da Lei Estadual nº 21.015/2022, que proíbe a exigência da vacinação da covid-19 no Paraná, de acordo com a Lupa. 

Nas mídias sociais, o candidato também se declara conservador de direita e cristão. Têm duas publicações no feed do Instagram com presença na Nova Igreja Batista de Cascavel, quando não estava em campanha. Não há publicações em outras igrejas evangélicas, o que supõe que pertence a essa denominação, mas a ausência de conteúdo sobre isto torna o dado impreciso.

No perfil do Instagram de Kozak, assim como nos dos demais candidatos relatados na matéria da Lupa, é possível encontrar outros conteúdos com desinformação sobre a pandemia de covid-19 e as vacinas, além de outroe relacionados a proibição do aborto e liberação do uso de armas.

Imagem: Instagram

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Bereia identificou, portanto, que dois dos citados na matéria da Lupa se autoidentificam cristãos, Thiago Xavier Kozak e Alberto Barreto, enquanto um terceiro, Douglas do Tiro, aciona religião em campanha, por meio do mote cristão da direita extremista “Deus, Pátria, Família”.

Bereia alerta leitores e leitoras a atentarem a candidaturas que mobilizam identidade religiosa e são propagadoras de desinformação não apenas para chamar a atenção mas com temas que podem causar mal, como a contestação de políticas públicas de saúde e propagação de violência. 

Referências: 

Lupa
https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2024/09/20/candidatos-propagam-ataques-e-desinformacao-antivacina-em-anuncios-ilegais-na-meta 

https://lupa.uol.com.br/busca/vacina%C3%A7%C3%A3o%20infantil

Leis estaduais
https://leisestaduais.com.br/pr/lei-ordinaria-n-21015-2022-parana-assegura-a-plena-liberdade-e-o-direito-de-ir-e-vir-em-todo-territorio-do-estado-do-parana-e-veda-qualquer-exigencia-de-documento-certidao-atestado-declaracao-ou-passaporte-sanitario#:~:text=de%20uso%20coletivo.-,Art.,vacinar%20contra%20a%20Covid%2D19 

Bereia
https://coletivobereia.com.br/a-descredibilizacao-da-vacinacao-por-governantes-extremistas-no-brasil-os-processos-judiciais-que-denunciam-as-ameacas-a-saude-publica/ 

https://coletivobereia.com.br/?s=Vacina

NEJM
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2202826 

TSE
https://www.tse.jus.br/legislacao/compilada/res/2024/resolucao-no-23-732-de-27-de-fevereiro-de-2024#:~:text=ou%20difunda%20dados%20falsos%2C%20not%C3%ADcias%20fraudulentas%20ou%20fatos%20notoriamente%20inver%C3%ADdicos%20ou%20gravemente%20descontextualizados%2C%20ainda%20que%20ben%C3%A9ficas%20%C3%A0%20usu%C3%A1ria%20ou%20a%20usu%C3%A1rio%20respons%C3%A1vel%20pelo%20impulsionamento 

Eleições 2024: Lideranças católicas produzem campanha  eleitoral enganosa em forma de corrente no WhatsApp

*Atualizada em 15/09 para acréscimo de informações

Um vídeo com informações controversas já checadas e desmentidas pelo Bereia circula desde a última semana em grupos de WhatsApp de igrejas e entidades religiosas cristãs brasileiras. Com a legenda: Vamos fazer uma campanha. Cada um que receber esse vídeo, enviar para 10 contatos, no mínimo. Posso contar com você? O material em tom alarmista traz personalidades católicas versando sobre qual seria o candidato ideal para ganhar o voto de um cristão. 

Imagem: Reprodução de grupo no WhatsApp

Campanha eleitoral na Internet

Segundo o TSE, atualmente o Brasil tem mais de 155 milhões de eleitores aptos a votar em 2024, sendo que para 135 milhões o voto é obrigatório. Em contrapartida, o número de brasileiros com acesso a mídias sociais se aproxima do número de eleitores: o Instagram acumula mais de 113,5 milhões de usuários brasileiros, já o Facebook alcançou a marca de 109 milhões brasileiros neste ano.

A presença de brasileiros nas mídias sociais torna esse espaço um alvo para divulgação de campanha pró-candidaturas . De forma a evitar possíveis abusos quanto ao uso dessas plataformas, o TSE realizou alterações na Resolução nº 23.610/2019, para garantir o uso correto da internet na campanha eleitoral. As principais mudanças indicam a obrigatoriedade de repositórios públicos sobre as propagandas impulsionadas por candidatos/as em cada campanha, a proibição de propaganda eleitoral paga além da impulsionada legalmente e a remoção de conteúdos somente sob ordem judicial.

Contudo, a resolução publicada pelo TSE não indica a fiscalização de conteúdos produzidos por eleitores/as, que abordam o tema das eleições ou temáticas importantes para esse debate, tais como citações a projetos de leis. Desta forma, vídeos, textos e outros conteúdos que circulam pelas mídias sociais e em grupos religiosos, propagam desinformação sobre temas importantes para as eleições e apresentam um papel apelativo para reforçar pautas ultraconservadoras como a proibição do aborto legal, a criminalização do consumo de drogas, a falsa perseguição sistemática a cristãos no Brasil e a ameaça da “ideologia de gênero”, temas que aparecem no vídeo checado pelo Bereia.

Perseguição a cristãos e à igreja 

“Não podemos orar pedindo a Deus a expansão do evangelho e depois votar em candidatos que querem fechar as igrejas e que são contra os valores evangélicos!”, disse no vídeo o cantor católico Diácono Júlio Neto. O alerta do cantor, entretanto, é infundado. Bereia já checou várias publicações sobre a mesma temática e verificou que não há qualquer projeto ou movimento de fechamento de igrejas no Brasil, porque a liberdade de culto é garantida na Constituição Brasileira

Além do alarde sobre o falso projeto de fechamento de igrejas, logo na abertura do vídeo, o fundador da Associação do Senhor Jesus e idealizador do canal de TV Rede Século 21 Pe. Eduardo Dougherty chama a atenção para a perseguição a cristãos por governos comunistas. “O sofrimento da perseguição religiosa por governos comunistas, não pode deixar de despertar nossa consciência nesta hora tão dramática das eleições!”, frisou o padre. 

O uso do tema da perseguição a cristãos pelas esquerdas e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em campanha eleitoral não é novo, remonta às eleições de 1989, quando o PT lançou Lula candidato pela primeira vez, usado por apoiadores de Fernando Collor de Mello. Usava-se o imaginário da ameaça comunista relacionada ao PT e o discurso de que fecharia as igrejas para apoiar Collor, que as protegeria. Este é um trecho de matéria do Bereia, publicada em 7 de setembro de 2022, na ocasião da última eleição presidencial. 

Imagem: Site do Bereia

Bereia tem verificado que o discurso em torno de uma suposta perseguição aos fiéis evangélicos no país tem sido muito repetido e reafirmado por lideranças cristãs, especialmente em períodos eleitorais. Bereia publicou este trecho em matéria, em 7 de junho de 2024.

Imagem: Site do Bereia

Liberação do aborto

Um dos pontos abordados pelas personalidades católicas foi a questão do aborto, tema muito sensível para a comunidade cristã e muitas vezes checado pelo Bereia, por conta da enxurrada de desinformação que circunda o assunto. Um homem, cantor, pregador, missionário e apresentador Dunga foi quem falou sobre o tema. “Aborto não é uma questão de saúde pública. Aborto é crime”, apontou. 

Apesar de ser classificado de fato como crime no Brasil, o aborto é sim uma questão de saúde pública, por isso, as exceções para a prática no país estão ligadas à condição de saúde física e mental da mulher.  Trata-se do aborto legal, previsto em lei, desde 1940, nos casos de gravidez por estupro, e em resoluções da Supremo Tribunal Federal para salvar a vida da mãe, quando há gravidez de risco de morte, ou interromper a gestação de fetos anencéfalos, que nascerão sem vida.

Em junho passado foi estabelecida uma tentativa, no Congresso Nacional, de tipificar como criminosa estas exceções previstas no Código Penal Brasileiro. O Projeto de Lei 1.904/2024, de autoria do deputado federal evangélico Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e mais 33 parlamentares, equipara a interrupção da gravidez após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio e propõe aumentar a pena máxima para até 20 anos de prisão para os responsáveis pelo procedimento. 

A aceleração da tramitação do Projeto de Lei 1.904/2024 na Câmara dos Deputados desencadeou uma onda de comentários e postagens nas mídias sociais, muitos deles com base em desinformação. (…) A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o aborto um procedimento de saúde seguro e descomplicado quando realizado adequadamente. Segundo a OMS, “as complicações são raras tanto com o aborto farmacológico como no cirúrgico, quando os abortos são seguros – o que significa que são realizados utilizando um método recomendado pela OMS, adequado à idade gestacional, e por alguém com as competências necessárias” Trecho de matéria publicada na página do Bereia, em 28 de junho de 2024.  

Ideologia de gênero

Outro assunto frequentemente disseminado nas mídias digitais cristãs, com viés desinformativo, é a questão dos direitos de gênero e a educação sexual nas escolas. Foi uma mulher a escolhida para tratar o tema no vídeo de lideranças católicas, a cantora Eliana Ribeiro. “Não podemos orar pedindo a Deus pelos filhos e votar em quem quer impor ideologia de gênero e imoralidade sexual para nossas crianças”, afirmou Ribeiro. O tema já foi checado pelo Bereia em várias matérias, mas é em períodos eleitorais que ele surge com mais força. 

Esta associação de pedofilia a movimentos de esquerda e grupos LGBTQIA+ é uma prática comum em conteúdos disseminados pela extrema direita, e explorada em espaços religiosos, como Bereia já checou. De forma semelhante, a noção inventada de “ideologia de gênero” é um dos temas mais usados por quem produz desinformação em espaços religiosos. Estes temas emergem com mais intensidade em períodos eleitorais, como estratégia de campanha. Texto publicado em 3 de junho de 2024, em matéria no site do Bereia

Censura e controle dos meios de comunicação

“Não devemos orar por liberdade e democracia e depois votar em quem deseja a censura e o controle dos meios de comunicação”, é a afirmação da atriz e apresentadora de televisão Myrian Rios. O controle dos meios de comunicação e a censura são também tema de destaque em publicações do extremismo conservador, especialmente após os acontecimentos recentes que envolveram a proibição da rede X no Brasil.

Imagem: Site do Bereia

Outras notícias sobre a suposta censura praticada no País, já foram checadas pelo Bereia anteriormente envolvendo pessoas políticas, veículos e instituições religiosas. Nesses casos, a notícia não se aprofunda nas causas da proibição de divulgação ou atuação de determinadas organizações, como o caso do X. Também, as publicações neste tema se baseiam no direito à liberdade de expressão de forma irrestrita, sem limites éticos ou legais, e negam o lugar das instituições e da sociedade civil na regulação do que se veicula nas mídias, o que classificam como “censura”. 

Preservação da moral e dos bons costumes

Além dos temas de vieses ultraconservadores e extremistas, o vídeo também apresenta, no final, uma palavra do cantor católico Luiz Felipe sobre menção  escatológica do Papa João Paulo II. “O santo papa João Paulo II nos alertou: “Sabemos que estamos na luta final entre igreja e anti-igreja, evangelho e antievangelho, entre cristão e o anticristão”, e ainda, que a última batalha do anticristo será contra a família”.

A fala de Luiz Felipe reforça os temas apresentados pelas personalidades católicas que aparecem antes dele. Ao citar a “anti-igreja”, “anti-evangélio”, “anticristão” e dizer que “a última batalha será contra a família” ele reforça o pânico em torno da perseguição aos cristãos  em torno da “família”, de forma genérica. A “proteção da família” é tema frequentemente usado por extremistas conservadores  em processos eleitorais, diante do apelo emotivo que provoca, como mostram estudos de especialistas, como Fernanda Marina Feitosa Coelho.

Evangélicos

Lideranças evangélicas também não deixaram de lado o hábito das “Correntes de WhatsApp” para fazer política. Assim como no vídeo católico, circula nos grupos gospel uma mensagem que aponta os partidos de esquerda como os “inimigos” do país e dos cristãos, mantendo o terror alegando que o Brasil iria se “transformar em uma Venezuela”, caso os partidos de esquerda permaneçam no poder. 

Vamos tirar os Comunista e Socialista do Brasil ,vote no partido de direita. Quando o justo governa o povo se alegra, quando o ímpio governa o povo chora. Por isso estão criando muitos impostos para cobrir as corrupções e os rombos nos cofres públicos provérbios 29.2. Divulgue, compartilhe para que o Brasil não possa empobrecer como a Venezuela e (outros) países comunistas que tiram a liberdade do povo fazendo deles escravo não livre”, diz o texto acompanhado de uma imagem com o número de urna de cada partido progressista existentes no país. 

Bereia já verificou exaustivas vezes publicações falsas e enganosas ligadas ao aumento de impostos e sobre países com ditaduras em vigor no mundo.

Imagem: Reprodução do WhatsApp

***

Bereia verificou e tem verificado as informações do vídeo que circula nas mídias sociais.  O conteúdo da produção é   enganoso, pois distorce informações sensíveis, que apelam ao medo e ao pânico, como a perseguição a cristãos, o aborto e a ideologia de gênero para criar um cenário alarmista que não reflete a realidade.  A corrente divulgada por grupos evangélicos tem o mesmo viés.

O uso de temas religiosos para justificar posições políticas e convencer eleitores a votar em candidatos/as da direita extremista é feito de maneira distorcida, sem respaldo jurídico ou factual, como no caso das alegações de censura. O conteúdo visa influenciar o público com desinformação e apelos sensacionalistas, explorando pautas conservadoras e mobilizando o eleitorado por meio de argumentos exagerados e alarmistas.

Referências

Bereia. https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-panico-sobre-plano-nacional-de-educacao-e-ideia-de-perseguicao-a-cristaos-preparam-terreno-para-eleicoes/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/eleicoes-2024-religiosos-e-politicos-usam-falsa-perseguicao-a-igrejas-no-brasil-como-tema-de-campanha-durante-marcha-para-jesus-de-sp/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/prefeito-de-sorocaba-produz-videos-enganosos-ao-afirmar-perseguicao-aos-cristaos/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/mais-falsidades-espalhadas-por-deputados-e-midias-gospel-sobre-pl-que-retira-direitos-sobre-aborto/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/deputados-e-midias-gospel-espalham-falsidades-sobre-projeto-de-lei-que-retira-direitos-sobre-aborto-no-brasil/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/para-defender-projeto-contra-o-aborto-deputado-evangelico-mente-e-espalha-o-terror/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/apoiadores-da-reeleicao-de-jair-bolsonaro-continuam-a-enganar-sobre-suposta-ameaca-do-pt-as-igrejas/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/site-gospel-desinforma-ao-noticiar-que-cidades-ignoram-decreto-presidencial-sobre-abertura-de-igrejas/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/o-lobby-dos-evangelicos-contra-o-fechamento-das-igrejas/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/panico-moral-sobre-ideologia-de-genero-aborto-erotizacao-de-criancas-e-defesa-da-familia-e-usado-para-disputa-eleitoral-com-base-em-desinformacao/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/deputada-catolica-repercute-afirmacao-do-papa-sobre-ideologia-de-genero-ameacar-a-humanidade/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/ideologia-de-genero-e-um-dos-temas-explorados-por-quem-produz-desinformacao-em-espacos-religiosos-nestas-eleicoes/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/sites-e-politicos-religiosos-enganam-sobre-governo-federal-defender-maconha-e-aborto/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/influenciador-cristao-propaga-conteudo-enganoso-no-youtube-sobre-descriminalizacao-de-pedofilia-e-drogas/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/universidades-publicas-nao-produzem-drogas-em-suas-dependencias/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/midias-sociais-viralizam-desinformacao-sobre-censura-da-assembleia-de-deus-do-bras-a-conferencia/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/jornal-desinforma-ao-tratar-censura-conservadora-a-pastor-como-punicao-por-posicionamento-politico/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/alarde-sobre-suposta-saida-da-rede-x-twitter-do-brasil-se-espalha-em-ambientes-digitais-religiosos/. Acesso em: 12 de setembro de 2024. 

https://coletivobereia.com.br/deputados-e-midias-gospel-espalham-falsidades-sobre-projeto-de-lei-que-retira-direitos-sobre-aborto-no-brasil/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/acao-proposta-pelo-psol-nao-exige-que-ideologia-de-genero-seja-obrigatoria-nas-escolas/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://coletivobereia.com.br/deputado-evangelico-nikolas-ferreira-nao-fez-discurso-nas-nacoes-unidas/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

Instituto de Estudos da Religião. https://religiaoepoder.org.br/artigo/familias/. Acesso em: 13 de setembro de 2024.

Rádio Senado. https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/08/15/conheca-as-regras-para-propaganda-eleitoral-nas-redes-sociais. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

RD Station. https://www.rdstation.com/blog/marketing/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

Serpro. http://intra.serpro.gov.br/tema/noticias-tema/eleicoes-e-redes-sociais-empoderamento-ou-onda-de-internet. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

Tribunal Superior Eleitoral. https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Julho/brasil-tem-mais-de-155-milhoes-de-eleitoras-e-eleitores-aptos-a-votar-em-2024. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Marco/eleicoes-2024-confira-as-novidades-para-a-propaganda-eleitoral-na-internet. Acesso em: 12 de setembro de 2024.

Eleições 2024: pastor recebe e faz oração por candidatos concorrentes à Prefeitura do Rio no mesmo dia

Nos primeiros dias de setembro, a imprensa divulgou informações sobre o pastor da Igreja Batista Atitude Josué Valandro Junior ter recebido e orado, no mesmo dia, por dois candidatos que disputam a Prefeitura da capital fluminense: o atual prefeito Eduardo Paes (PSB) e Alexandre Ramagem (PL).

As relações do pastor da Igreja Batista Atitude, que tem sede no bairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), com a política não são recentes. Desde, ao menos, a eleição presidencial de 2018, Valandro Junior tem recebido políticos em sua igreja e participado de eventos oficiais, como a posse do ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Bereia checou informações sobre o assunto.

Imagens: reprodução/Instagram

No domingo, 1 de setembro, as relações do pastor Josué Valandro Junior com a política mais uma vez vieram à tona. No mesmo dia, ele recebeu e orou por dois concorrentes na corrida à prefeitura do Rio de Janeiro. Horas após ter recebido e orado pelo atual prefeito e candidato Eduardo Paes (PSB), Valandro recebeu e orou por Alexandre Ramagem (PL), candidato apoiado pela família Bolsonaro.

A newsletter Ebulição, que é produzida pela Agência Lupa e tem destacado os temas mais frequentes em aplicativos de mensagens durante as eleições municipais no Rio de Janeiro e em São Paulo, destacou, na última edição, a ida de Paes e Ramagem à Igreja Batista Atitude.

De acordo com a Ebulição, “grupos que fazem oposição ao atual prefeito e ao deputado federal não tardaram em preparar montagens apontando o possível paradoxo do líder religioso e espalhá-las por grupos públicos de WhatsApp e Telegram. Para essas pessoas, Paes e Ramagem são ‘dois lados da mesma moeda’. Suas relações – até mesmo com a fé – precisam ser denunciadas e combatidas.”

Pastor Josué Valandro Junior e relações com a política

Filho de um pastor da Igreja Batista do Tauá, na Ilha do Governador, bairro do Rio, Josué Valandro Junior ganhou destaque na imprensa nos últimos anos, por suas relações com a família Bolsonaro. 

Segundo informações do jornal O Globo, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, frequentadora e intérprete de libras na Igreja Batista Atitude antes da mudança para Brasília, em 2017, após se casar com o ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentou o marido ao pastor Valandro Junior. Uma semana após a vitória nas eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro participou de um culto na igreja. Na ocasião, ele se ajoelhou no púlpito, chorou e agradeceu a Deus pela vitória.

Imagem: reprodução/Facebook

Até hoje, no perfil de Josué Valandro Junior no Instagram, há publicações do pastor durante a posse de Jair Bolsonaro como Presidente da República. Nelas, ele aparece com o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) e diz que está feliz com o resultado da eleição. Ao lado da esposa, o pastor diz: “Estamos caminhando aqui para a posse do nosso presidente Jair Bolsonaro. Tempo de esperança. Estamos muito felizes com as possibilidades de uma nação melhor, mais justa, mais abençoada”.

A relação com a família Bolsonaro rendeu visibilidade e um crescimento que a Igreja Batista Atitude ainda não havia experimentado. “Hoje, mais gente está sabendo da igreja em função de a Michelle ser membro, sem sombra de dúvidas” disse o pastor ao O Globo.

Nas eleições de 2022, a igreja liderada por Valandro Junior promoveu uma campanha de jejum, com incentivo aos fiéis a se privarem de refeições por até 18 horas enquanto oravam pelo futuro do país, o que denotava a reeleição de Jair Bolsonaro e a eleição de parlamentares alinhados ao então presidente. Naquele ano, oito candidatos a cargos políticos receberam orações na Batista Atitude. Um deles foi Otoni de Paula (MDB-RJ), reeleito deputado federal. As informações foram publicadas pela revista Piauí.

Igreja Batista Atitude no Rio de Janeiro

A Igreja Batista Atitude (IBA) foi fundada no Rio de Janeiro, nos anos 2000. A sede da denominação fica na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, povoada por moradores de classe média e alta. Ao todo, são 47 unidades da igreja, seis fora do Brasil. No país, a IBA está presente em 12 estados brasileiros, 14 cidades do estado do Rio de Janeiro e, em pelo menos, 15 bairros da capital fluminense.

A denominação se tornou conhecida, principalmente em 2017, por meio de Michele Bolsonaro, então membro da igreja-sede, e a aproximação com Jair Bolsonaro, então deputado federal pelo PSC, já delineando alianças para a candidatura à Presidência. Outros políticos, artistas, atletas e ex-atletas também já compuseram o quadro de membresia da IBA.

A igreja coordena a Supere, uma rede de igrejas com o intuito de ensinar sobre crescimento de igrejas, por meio da formação de líderes, denominado pela IBA de Modelo de Pastoreio Simplificado. A rede dirige ainda a Universidade Corporativa da Igreja Batista Atitude, voltada para o ensino da Bíblia.

A IBA também administra o Instituto Assistencial Atitude, que coordena ao menos três projetos: a creche Novos Sonhos, o Centro de Tratamento Integrado da Família (CETIF) – que oferece atendimento psicológico, fonoaudiológico, psiquiátrico, nutricional e jurídico gratuito ou por valores sociais – e o centro de recuperação Mais que Vencedores, voltado para homens dependentes químicos.

Emendas parlamentares e apoio político 

Em agosto, o jornal O Globo revelou que o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje candidato à Prefeitura do Rio, destinou uma verba de R$ 500 mil à Igreja Batista Atitude. Segundo informações apuradas pelo jornal, a quantia teria sido destinada a um projeto esportivo do centro de recuperação Mais que Vencedores, em maio.

Anteriormente, o Instituto Assistencial Atitude já havia sido beneficiado por emendas parlamentares do deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ). Lopes direcionou R$ 1,3 milhão para projetos do instituto, inclusive o programa Mais que Vencedores, em Itaboraí.

Em 2018, com o apoio dos vereadores do Rio Inaldo Silva (então PRB, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus), Felipe Michel (PSDB) e Marcelo Siliciano (PHS), a Igreja Batista Atitude conseguiu autorização para construir um novo prédio, com cinco andares. Para o andamento da obra foi necessária a aprovação de uma nova lei na Câmara Municipal, já que o número de pavimentos estava acima do permitido na legislação vigente anteriormente. 

***

Bereia classifica a informação propagada acerca do pastor da Igreja Batista Atitude (Barra da Tijuca, Rio) Josué Valandro Junior  e candidatos opostos à Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro como verdadeira. Os conteúdos relacionados aos encontros do pastor Josué Valandro Junior com os candidatos à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PSB) e Alexandre Ramagem (PL), correspondem aos fatos. 

De acordo com os relatos, ambos os candidatos estiveram presentes na sede da denominação, no mesmo dia, foram recebidos pelo pastor da igreja e receberam orações.

Referências de checagem: 

O Globo

https://oglobo.globo.com/epoca/o-senhor-meu-pastor-23379979 Acesso em: 4 set 2024

https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/09/01/horas-apos-paes-ramagem-tambem-recebe-bencao-de-pastor-de-michele-bolsonaro.ghtml Acesso em: 4 set 2024

https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/09/03/a-evangelicos-vice-de-paes-diz-que-ninguem-volta-a-ser-prefeito-do-rio-se-nao-for-vontade-de-deus.ghtml Acesso em: 4 set 2024

Folha de São Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/11/nao-ha-homem-perfeito-diz-pastor-da-familia-bolsonaro.shtml Acesso em: 4 set 2024

Poder 360
https://www.poder360.com.br/poder-congresso/ramagem-destinou-emenda-a-pastor-de-michelle-bolsonaro/ Acesso em: 4 set 2024

Mídia Ninja
https://midianinja.org/opiniao/valandro-junior-cavaleiro-tradicional-do-cristofascismo-brasileiro/ Acesso em: 4 set 2024

Metrópoles
https://www.metropoles.com/colunas/rodrigo-rangel/guru-de-michelle-pastor-e-acusado-de-abafar-golpe-contra-fieis Acesso em: 4 set 2024

https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/igreja-de-michelle-bolsonaro-tera-templo-de-5-andares-no-rio Acesso em: 6 set 2024

Ilha Notícias
https://ilhanoticias.com.br/noticia/gente-da-ilha-ed1550 Acesso em: 4 set 2024

Revista Piauí
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/misericordia/ Acesso em: 4 set 2024

Veja Rio
https://vejario.abril.com.br/cidade/pastor-familia-bolsonaro Acesso em: 4 set 2024

Igreja Batista Atitude
https://igrejabatistaatitude.com.br/home Acesso em: 6 set 2024

Instituto Assistencial Atitude

https://institutoassistencialatitude.com/projetos/ Acesso em: 6 set 2024

Diário do Centro do Mundo

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/nao-fui-a-unica-vitima-diz-fiel-que-processa-igreja-frequentada-por-michelle-bolsonaro-por-sumico-de-r-700-mil-1/ Acesso em: 6 set 2024

Observatório da Imprensa

https://www.observatoriodaimprensa.com.br/eleicoes-2018/justica-recebeu-mais-de-200-denuncias-de-propaganda-religiosa-irregular-nas-ultimas-eleicoes/ Acesso em: 6 set 2024

Revista Fórum

https://revistaforum.com.br/brasil/2024/8/19/guru-de-michelle-bolsonaro-quem-pastor-que-recebeu-verba-milionaria-de-ramagem-helio-lopes-164104.html Acesso em: 6 set 2024

Site gospel engana sobre suspeita de atentado em incidente em carreata de Pablo Marçal

O site gospel Pleno News publicou, em 1º de agosto de 2024,  matéria sobre um incidente ocorrido durante carreata do candidato autoidentificado como cristão à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB-SP), no bairro do Tatuapé. O título e o conteúdo da matéria indicam, sem evidências, um suposto envolvimento da candidata a vereadora Carol Iara (PSOL-SP) no episódio.

Imagem: Reprodução/Pleno News

O título da matéria, “Incidente em carreata de Marçal envolveu candidata do PSOL”, sugere uma associação entre a candidata e a ameaça de atentado de morte que o candidato afirma ter recebido. O texto detalha que a polícia foi chamada após a observação de um indivíduo supostamente armado, que fugiu em um veículo com outras pessoas ao ser identificado pelos seguranças. E a matéria insinua um envolvimento da candidata Carol Iara no incidente, com base apenas na presença dela no evento, sem fornecer provas que sustentem tal associação.

Pleno News também não menciona que Marçal, ao prestar depoimento, afirmou não ter visto nenhuma pessoa armada, informação que contradiz a narrativa de ameaça apresentada inicialmente.

O incidente 

O caso ocorreu na Zona Leste de São Paulo, durante um ato de campanha do candidato Pablo Marçal. Vídeos compartilhados nas mídias digitais mostram a movimentação de um veículo, enquanto seguranças do candidato se aproximam, mas não há evidências claras de arma ou ameaça, o que enfraquece a suspeita. 

Como precaução, o candidato se dirigiu a uma padaria para vestir um colete à prova de balas, medida que já havia utilizado anteriormente em sua campanha.

Imagem: Reprodução/X

Reprodução/X

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, a Polícia Militar foi acionada às 15 horas e 18 minutos do dia 30 de agosto, para verificar uma “atitude suspeita”. Policiais do 8º Batalhão foram ao local após receberem relatos de que um indivíduo em um Ford Ka parecia estar armado. 

Viaturas foram enviadas à área, mas não conseguiram localizar o veículo. O Ford Ka foi gravado em um vídeo, por apoiadores de Marçal, que mostra Carol Iara entrando no carro com dois membros de sua equipe. Um homem tentou abordar o veículo, que seguiu seu trajeto.

Versões dos candidatos

Pablo Marçal, em vídeos postados em seu perfil no Instagram, sugere ter sofrido uma ameaça de morte. Ele relata ter percebido, ao chegar ao local, uma tentativa de hostilização e informou ao policial que fazia a segurança do evento que algo estava errado. 

Após o episódio, Marçal foi ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) no início da noite para dar prosseguimento ao caso. O candidato prestou depoimento e registrou um boletim de ocorrência por ameaça. Marçal afirmou não ter visto nenhuma pessoa armada e minimizou a repercussão do caso. Seu advogado declarou que a polícia deve ouvir todos os envolvidos.

Apesar disso, o candidato capitalizou o caso em campanha ao mencionar que, em sua comunicação com a polícia, usa a expressão “treze” para se referir a pessoas que causam problemas. “A gente gosta de falar que gente que dá problema é treze, nem imagina o porque né (…) falei ó esse aí é treze, cuidado ai ó, cê já sabe que treze é um número que você não pode cagar na urna eletrônica” declara o candidato em um dos vídeos.

Reprodução/Instagram

Carol Iara apresenta uma versão diferente dos eventos. Em nota divulgada no seu perfil no Instagram, em 30 de agosto, a candidata a vereadora afirma que Marçal utilizou termos enganosos para disseminar desinformação sobre o caso. “As acusações de Marçal são infundadas e completamente falsas”, declara Iara.

No vídeo divulgado junto à nota, Iara se diz “totalmente chocada” com a divulgação de imagens onde aparece sendo perseguida por um segurança de Marçal. Ela afirma: “Não acreditem nessa mentira, gente. Eu passei o dia fazendo campanha eleitoral e vim entregar um presente pro Pablo Marçal, que era esse isoporzinho, um meme de Pinóquio pro candidato mais mentiroso dessa eleição”.

A candidata a vereadora explica que o objeto que Marçal supôs ser uma arma era um boneco de isopor em forma de emoji do Pinóquio, simbolizando, segundo ela, as “mentiras” contadas pelo empresário.

Reprodução/Instagram

Em entrevista ao O Globo, Iara afirmou que o boneco com nariz de Pinóquio foi retirado de suas mãos por apoiadores e seguranças de Marçal antes que ela e seus assessores pudessem se aproximar do candidato. Segundo Iara, a intenção era fazer uma entrega pacífica, mas os seguranças a hostilizaram e a forçaram a se retirar para evitar agressões. 

Ela explicou que o carro usado foi alugado de um militante do PSOL, que não estava presente no local do episódio. Além disso, Iara se mostrou disponível para esclarecer qualquer questão aos órgãos competentes e declarou que está avaliando com sua equipe jurídica a necessidade de se apresentar à polícia.

Apesar do relato da candidata a vereadora, Marçal foi ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) no início da noite para dar prosseguimento ao caso. Sua equipe afirmou que “aparentemente os suspeitos foram identificados”, mas essa informação não foi confirmada pelas forças de segurança. 

Repercussão

Veículos de comunicação repercutiram o caso com abordagens diversas. O portal da CBN relatou que o candidato teria sido alvo de uma tentativa de homicídio: “um indivíduo armado e disfarçado tentou assassinar o candidato antes de uma carreata no Tatuapé”, afirma o texto. 

A Gazeta do Povo adotou uma abordagem similar: “Depois da ocorrência, o candidato do PRTB passou a usar um colete à prova de balas e deu continuidade ao evento político”.

A Jovem Pan apenas menciona que a polícia foi acionada após “atitudes suspeitas” e que Marçal adotou o uso do colete.

Imagem: Reprodução/Gazeta do Povo

Imagem: Reprodução/Jovem Pan

Imagem: Reprodução/CBN

Bereia classifica a notícia do Pleno News como enganosa. A matéria do site gospel apresenta o caso e sugere, sem evidências concretas, um envolvimento da candidata Carol Iara (PSOL-SP) em um suposto incidente armado durante a carreata de Pablo Marçal (PRTB-SP).

A checagem revela que não há provas de ameaça armada. O próprio Marçal, em depoimento à polícia, afirmou não ter visto nenhuma pessoa armada, informação omitida pela matéria original.

O portal Pleno News faz associações infundadas e omite informações cruciais, induzindo os leitores a uma interpretação equivocada dos fatos para martirização do candidato. A presença de Carol Iara no local e o acionamento da polícia são usados para construir um discurso que não se sustenta com as evidências disponíveis.

O caso demonstra como fatos isolados podem ser manipulados para criar uma impressão enganosa, especialmente em contextos eleitorais. A omissão de detalhes importantes e a sugestão de conexões não comprovadas são táticas comuns em conteúdos desinformativos.

Bereia alerta leitores e leitoras sobre a importância da busca de múltiplas fontes ao se deparar com notícias sobre incidentes políticos. É fundamental verificar se as alegações são respaldadas por evidências concretas e se todas as partes envolvidas tiveram a oportunidade de se manifestar.

Referências:

O Globo

.https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/08/30/pm-e-acionada-apos-campanha-de-marcal-relatar-presenca-de-homem-armado-em-ato.ghtml. Acesso: 2 set 2024

CBN.
https://www.cbnrecife.com/artigo/pm-e-acionada-apos-campanha-de-marcal-relatar-presenca-de-homem-armado-em-ato. Acesso: 3 set 2024

https://cbn.globo.com/politica/noticia/2024/08/30/pm-e-acionada-apos-campanha-de-marcal-relatar-presenca-de-homem-armado-em-ato.ghtml

Jovem Pan.
https://jovempan.com.br/noticias/politica/eleicoes-2024/pablo-marcal-usa-colete-a-prova-de-balas-durante-ato-em-sao-paulo.html. Acesso: 4 set 2024

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Foto de capa: reprodução/Pleno.News

Eleições 2024: Nos primeiros dias da campanha, religiosos repetem mentiras e pedem favores para igrejas

* Matéria atualizada às 16:17 para ajuste de informações

O início das eleições municipais deste ano já está marcado por uma onda de desinformação e tentativas de obtenção de favores para igrejas, que envolvem candidatos com identidade religiosa cristã. O candidato a prefeito na cidade de São Paulo Pablo Marçal (PRTB-SP) e o deputado federal evangélico Eli Borges (PL-TO), pastor da Assembleia de Deus, estão entre os principais nomes em destaque. Marçal enfrenta investigações após insinuar o uso de drogas pelo seu adversário, enquanto Borges, em apoio a uma candidatura, propagou informações falsas e pediu facilitações para igrejas evangélicas em sua cidade.

Pablo Marçal

O ex-coach, empresário e influenciador digital, que se tornou político, Pablo Marçal passa por uma investigação solicitada pela Justiça Eleitoral à Polícia Federal (PF) por insinuar o uso de substâncias ilícitas pelo também candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) durante debate eleitoral transmitido na emissora Bandeirantes, em 8 de agosto. Na ocasião, Marçal simulou com as mãos o ato de cheirar cocaína e divulgou vídeos no Youtube  que insinuam o uso de drogas pelo candidato psolista. 

Imagem: reprodução/UOL

A campanha de Guilherme Boulos acionou a Justiça Eleitoral e, no domingo, 18 de agosto, o Tribunal Regional Eleitoral de SP (TRE-SP) concedeu a Boulos três direitos de resposta nas redes sociais do adversário do PRTB por difamação. A decisão atende ao pedido do promotor eleitoral Nelson dos Santos Pereira Júnior que solicitou investigação pelos crimes de calúnia, difamação e divulgação de fatos inverídicos, além da remoção dos vídeos das mídias sociais de Marçal. Em 22 de agosto, entretanto, o TRE-SP suspendeu temporariamente os três direitos de resposta concedidos anteriormente a Boulos. De acordo com o desembargador Encinas Manfré, o efeito suspensivo foi concedido à Marçal até que o mérito da ação de difamação movida por Boulos seja apreciado pelo tribunal

Uma outra ação contra Marçal foi movida pelo Ministério Público Eleitoral de São Paulo (MPE-SP), com base no pedido inicial de impugnação que havia sido apresentado pelo PSB de São Paulo, da adversária no pleito, Tábata Amaral. Os advogados do PSB alegaram que o estatuto do partido de Pablo Marçal determina que postulantes interessados em representar o partido em uma eleição devem estar filiados há pelo menos seis meses na data da convenção. Marçal se filiou ao PRTB em 5 de abril e a convenção aconteceu em 4 de agosto. 

O secretário-geral do PRTB Marcos André de Andrade, e a empresária filiada Lilian Costa Farias também ingressaram com uma ação de impugnação da candidatura de Pablo Marçal, com a denúncia de outras questões relativas à convenção. Andrade alegava que a convenção partidária que oficializou o candidato, no início do mês, teria ocorrido de forma irregular. Este pedido foi negado, em 21 de agosto passado. 

Na decisão, o juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz afirmou que não pode suspender a candidatura até a análise do mérito. “Desse modo, desrespeitar o rito do registro de candidatura previsto na legislação supramencionada violaria o princípio do devido processo legal previsto na Constituição”. A ação de impugnação prossegue imposta pelo MPE-SP, aguarda julgamento.

Outro revés enfrentado pela campanha do candidato do PRTB ocorreu em 22 de agosto. A Justiça Eleitoral determinou a suspensão temporária dos perfis de Marçal nas redes sociais usados para monetização. A ação foi movida pelo PSB, partido da candidata Tabata Amaral. A legenda solicitou a abertura de um inquérito contra Marçal por pagar seguidores para que estes distribuam cortes de seus vídeos nas redes sociais. A campanha de Marçal criou, então, contas reservas no Instagram, TikTok, Youtube, Whatsapp, Telegram e Gettr. De acordo com a nota divulgada pelo candidato no dia 25, a liminar não “impede a presença do candidato nas plataformas digitais”.

Em oito minutos, deputado evangélico faz inúmeros pedidos e espalha mentiras

Bereia recebeu, por seu grupo de Correspondentes, um vídeo em que o deputado federal Eli Borges (PL-TO), pastor das Assembleias de Deus, fez diversas afirmações falsas e enganosas durante um evento de apoio à candidatura à Prefeitura de Palmas (TO) de Janad Valcari (PL), deputada estadual em Tocantins. O parlamentar presidiu a Frente Parlamentar Evangélica nos últimos meses, mas deixou o cargo, logo após assinar o polêmico Projeto de Lei que equipara o aborto em casos de estupro a homicídio.

Imagem: Reprodução/Youtube

Logo no início do discurso, o deputado mentiu ao mencionar o Projeto de Lei 2630/2020, que propõe responsabilização das plataformas de mídias quanto ao conteúdo que publicam. O deputado federal pastor se referiu à proposta que veio do Senado Federal para a Câmara, como um projeto cujo objetivo é  “instalar o comunismo no Brasil”. Borges, para inflamar a audiência, faz uso de um tema comumente utilizado em campanhas eleitorais por religiosos da direita: o fantasma do comunismo.

Além disso, ao abordar o tema da liberdade religiosa em seu discurso, Eli Borges afirmou que a Resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que regulamenta a atuação religiosa em presídios, impediria que evangélicos fizessem apelos para que os presos “aceitem a Jesus”. O deputado enganou a audiência com a distorção do conteúdo da Resolução, publicada em abril, desinformação que tem sido usada pela Bancada Evangélica, e já foi checada pelo Bereia

Ao final do discurso, o deputado do PL por Tocantins, mencionou um terceiro tema de desinformação bastante acionado em espaços religiosos: a “doutrinação ideológica dentro das escolas”. Ele elegeu esta suposta ação como “pior inimigo”, porque acredita que educadores estão ensinando ideologias contra a “família judaico-patriarcal”. Bereia também já checou vários conteúdos em torno desta temática explorada em tempos de campanha eleitoral.

Além dessas declarações, Eli Borges também fez uma série de pedidos à candidata a prefeita, caso eleita. Entre eles, solicitou que a Prefeitura facilite a regularização de igrejas evangélicas instaladas em terrenos públicos e que sejam eliminadas as medidas de ordenamento urbano, como a limitação de decibéis, sob o argumento de preservar a “liberdade religiosa”.

Janad Valcari é evangélica, sem explicitar a igreja da qual faz parte, conforme Bereia apurou a partir de levantamento da identidade confessional dos candidatos/as às Prefeituras das 26 capitais. Mídias locais já haviam noticiado, meses atrás, o apoio declarado das Assembleias de Deus em Palmas à candidata do PL.



Imagem: Reprodução/ Palmas aqui

Janad trava uma briga na Justiça com as mídias noticiosas. Em 7 de agosto, o Tribunal de Justiça do Tocantins determinou a retirada do ar do site de notícias Diário do Centro do Mundo (DCM) após um processo movido pela deputada. A ação foi motivada por uma reportagem publicada em novembro de 2023, que alegava que Janad teria faturado R$ 23 milhões em um esquema envolvendo prefeituras e a banda Barões da Pisadinha. A Justiça mencionou “tentativas infrutíferas” de contato com o DCM e uma “impossibilidade técnica” de suspender apenas o link da matéria como razões para a derrubada completa do site.

Em nota, a Coalizão em Defesa do Jornalismo classificou a decisão como uma violação à liberdade de imprensa e pediu o restabelecimento do site. “A decisão que levou o site inteiro do DCM a sair do ar expõe a situação precária de segurança jurídica a que estão submetidos jornalistas e meios de imprensa. A decisão tem também um efeito intimidatório e inibe o trabalho da imprensa em todo o país”.

Atento à propagação de informações falsas no meio religioso, o Coletivo Bereia participa da campanha de combate à desinformação nas igrejas durante o período eleitoral, chamada “Bote fé no Voto! Votar bem importa”, realizada em parceria com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC).

Referências:

Veja https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/justica-nega-pedido-de-ala-do-prtb-que-queria-barrar-candidatura-de-marcal/  Acesso 23 de agosto 2024

Bereia

https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/justica-nega-pedido-de-ala-do-prtb-que-queria-barrar-candidatura-de-marcal/  Acesso 23 de agosto 2024

BOL

https://www.bol.uol.com.br/noticias/2024/06/19/silas-camara-assume-comando-bancada-evangelica-e-diz-que-continuara-sem-alinhamento-ao-governo.htm  Acesso 23 de agosto 2024

UOL https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2024/08/20/justica-manda-pf-abrir-inquerito-contra-pablo-marcal-por-calunia-a-guilherme-boulos.htm  Acesso 23 de agosto 2024

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Foto de capa: montagem a partir de reprodução de YouTube, Câmara dos Deputados e Facebook

Eleições 2024: Bereia dedica atenção à campanha de candidatos/as com identidade religiosa para as Prefeituras das 26 capitais

O início oficial do período de propaganda eleitoral  para Prefeituras e Câmaras de Vereadores, em todo o país, ocorreu em 16 de agosto. Durante as sete semanas deste período de campanha por votos, Bereia vai acompanhar a forma como as religiões e temas religiosos são propagados, para verificar se há uso de desinformação. Em 2020 e 2022, Bereia identificou farta utilização de conteúdo falso, enganoso e impreciso como estratégia de campanha de candidatos e seus apoiadores para convencer eleitores ou para destruir a imagem de opositores e de partidos.

Aumento de candidaturas religiosas

Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa e Reputação de Imagem (IPRI), da FSB Holding, as candidaturas com Identidades Religiosas aumentaram 225% nas últimas sete eleições municipais. Os dados foram coletados a partir de um levantamento com dados disponíveis no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao qual Bereia também recorreu. A análise realizada pelo IPRI aponta que o número de candidaturas com identidade religiosas saltou de 2.215 em 2000 para 7.206 em 2024.

Em entrevista para a plataforma Agência Brasil, o sócio-diretor do IRPI Marcelo Tokarski afirma que o aumento apresentado nos últimos 24 anos demonstra também um crescimento do apelo da religião na política. Sobre o tema, a Agência Brasil também ouviu a coordenadora da área de Religião e Política do Instituto de Estudos da Religião (ISER) Lívia Reis, que indica existirem candidatos não religiosos que passam a se declarar como cristãos de modo genérico para comunicar um conjunto de valores ou pedir por voto em instituições religiosas.

“Se, por um lado, as candidaturas oficiais apoiadas por igrejas evangélicas continuam tendo bons resultados nas urnas, nem sempre elas mobilizam nome religioso nas urnas. Por outro lado, candidatos que não são religiosos passaram a se identificar como cristãos – assim, de modo genérico –, para comunicar ao eleitorado o conjunto de valores com os quais ele se identifica ou então para pedir voto em igrejas de pequeno e médio portes, que não têm suas candidaturas oficiais. Também é importante lembrar que, nas eleições municipais, as dinâmicas locais nos territórios são muito valorizadas e, muitas vezes, precisam ser combinadas com uma identidade religiosa para que aquela candidatura seja vencedora no pleito”, Lívia Reis disse à Agência Brasil.

O avanço do segmento evangélico no cenário político brasileiro tem raízes históricas, intensificada após a redemocratização e a Constituição de 1988, como aponta o estudo da pesquisadora da Religião e editora-geral do Bereia Magali Cunha. Outro fato significativo é o sucesso da campanha de religiosos nas eleições. A pesquisa do IPRI indica que candidaturas que mobilizam a religiosidade tendem a ser mais bem-sucedidas nas urnas, e ocupam, em média, mais de 51% das cadeiras nas Câmaras Municipais nas eleições de 2020.

Candidaturas com identidade religiosa nas capitais do Brasil 

O levantamento do Bereia sobre as candidaturas com identidade confessional para as Prefeituras das 26 capitais brasileiras, em 2024, levou em conta os dados fornecidos pelo TSE. Foi contabilizado um total de 192 candidatos e candidatas, de 28 partidos. Para verificar quais deles têm identidade confessional, foi utilizada a base de dados do Instituto de Estudos da Religião (ISER) sobre as eleições de 2020 e 2022,  para obter dados de candidaturas à reeleição e outras reapresentadas. Para as novas candidaturas, a equipe Bereia seguiu a metodologia do ISER de tomar por base as mídias sociais dos candidatos para conhecer como se autoidentificam e como expõem, ou não, uma confessionalidade, além da consulta a outros registros públicos.  

Os dados levantados pelo Bereia mostram que 84 candidatos/as a prefeitos/as de capitais do país expõem publicamente sua confissão religiosa: 46 são católicos, 21 se identificam como cristãos de forma não determinada, 16 são evangélicos e um é espírita. 

Este grupo que pleiteia as Prefeituras das capitais está dividido em 19 partidos: a maioria é da direita, com 41 candidatos, sendo 14 do PL, oito do União Brasil e 29 de outros nove partidos; são 21 candidatos com identidade confessional em cinco partidos ao centro. Já a esquerda tem 19 candidatos entre PT, PDT, PSB e PSOL. 

Entre estas candidaturas, 13 tentam a reeleição e dois são vereadores que almejam Prefeituras. Há 15 deputados federais que se licenciaram para concorrer, dois senadores e 17 deputados estaduais.    

Destaca-se o dado de que 25% dos candidatos às Prefeituras das capitais se identificam como cristãos de forma não determinada. As pesquisas do ISER mostram que a exposição de uma identidade cristã não determinada tem sido uma prática expressiva em campanhas eleitorais desde 2020. 

Porém, 38% deste grupo de cristãos não determinados têm algum tipo de vínculo com uma igreja (dois católicos e cinco evangélicos) e até mesmo com uma outra religião. Como já citado na análise de Lívia Reis, estes candidatos optam por comunicar certos valores cristãos às suas bases eleitorais. 

Chama a atenção o caso do candidato a prefeito de Fortaleza (CE) senador Eduardo Girão (Novo), conhecido por sua vinculação ao Espiritismo Kardecista, e por ações em torno desta religião, se apresentar nestas eleições como um cristão não determinado.

Imagem: Perfil de Eduardo Girão no Instagram

Um exemplo destacado neste grupo é o do candidato na cidade de São Paulo Pablo Marçal (PRTB). Em entrevista ao canal Antagonista, Marçal diz ser cristão, mas não se considera evangélico nem católico. Para ele o Cristianismo é um estilo de vida (lifestyle), não uma religião. Porém, mesmo negando um vínculo confessional, o acionamento de símbolos e discursos evangélicos e a aproximação do influenciador com pastores do segmento é bastante visibilizado.

Ex-coach, o influenciador digital atraiu uma legião de seguidores ao falar sobre fé, pensamento positivo e prosperidade financeira, marcas relevantes do discurso da Teologia da Prosperidade, bem conhecido entre os evangélicos brasileiros. Isto proporcionou que ele participasse de conferências e cultos ao lado dos pastores midiáticos Claudio Duarte, Josué Valandro Junior e André Valadão.

Imagem: reprodução/Youtube

Imagem: reprodução/Youtube 

Imagem: reprodução/Facebook

Em uma palestra voltada para pastores, Pablo Marçal cita a frase “Um monte de gente vai te criticar em nome de Jesus, manda esse povo se f*”, arrancando risos do público.

Durante a pandemia, o candidato paulistano participou de live com o também pastor midiático Caio Fábio, que é reconhecido no cenário do evangelicalismo brasileiro como progressista. Sobre a live, o pastor se diz crítico do ex-coach e explicou que se tratou de um pedido feito por amigos próximos e que não o conhecia previamente.

Acesse aqui a lista dos candidatos com identidade religiosa

Propagadores de desinformação 

Além da identidade religiosa e do vínculo confessional, também foi verificado pelo Bereia se os candidatos já foram checados por terem propagado desinformação.

Dos 84 candidatos às Prefeituras das 26 capitais, quatro já foram checados pelo Bereia por propagarem desinformação. São eles, Cristina Graeml (PMB, Curitiba/PR, cristã não determinada), Assumção (PL, Vitória/ES, evangélico da Igreja Maranata), Pablo Marçal (PRTB, São Paulo/SP, cristão não determinado) e Eduardo Girão (Novo, Fortaleza/CE, cristão com vínculo espírita kardecista). Girão, que é senador da República (Novo-CE), teve várias verificações do Bereia, com destaque para a atuação dele com falsidades na CPMI da Covid e contra a política de vacinação, também na divulgação de conteúdos falsos sobre o Q-Anon e de informações falsas sobre o aborto legal.

Imagem: reprodução/site Bereia

Entre os 84 candidatos/as às Prefeituras das capitais com confissão religiosa identificada pelo Bereia, alguns também se destacam por menções negativas no noticiário, seja por checagens de mentiras divulgadas, seja por discurso de ódio ou por corrupção. É o caso do deputado federal licenciado para concorrer à Prefeitura de Cuiabá Abílio Brunini (PL-MT), conhecido como “Rei das Fake News”.

Imagem: reprodução/Diário de Cuiabá 

Evangélico e neto de pastor das Assembleias de Deus, Abílio Brunini ganhou notoriedade durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos Golpistas, em 2023, de onde teve, por várias vezes, a saída ordenada pela presidência da Comissão por conta de atitudes indecorosas. Eleito vereador de Cuiabá, pelo PSC, em 2016, ele teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar, e naquele mesmo ano concorreu à Prefeitura da cidade, saindo derrotado no segundo turno.

A campanha de Abílio Brunini já foi multada na primeira semana do período eleitoral de 2024, por propagação de mentiras contra o candidato concorrente. 

Imagem: reprodução/Diário de Cuiabá 

Outro destaque no quesito desinformação é Janad Valcari (PL, Palmas/TO, evangélica de vinculação não identificada), com caso recente reportado pela plataforma Conjur. O veículo aponta que a candidata, licenciada como deputada estadual para concorrer à Prefeitura de Palmas (TO), moveu um processo para a retirada do site Diário do Centro do Mundo (DCM) do ar, que publicou reportagem que expunha ganhos milionários da deputada em contratos com Prefeituras para shows musicais. A juíza Edssandra Barbosa da Silva Lourenço, da 4ª Vara Cível da Comarca de Palmas, determinou o cumprimento do processo e o site foi suspenso. A medida foi criticada por juristas, lideranças políticas e jornalistas como censura prévia e um grave atentado à liberdade de imprensa e ao direito à informação.

Em eleições anteriores, Bereia identificou que candidatos propagaram desinformação de forma deliberada como estratégia de campanha, com imposição de medo, pânico moral, mentiras sobre opositores e partidos. Os temas mais explorados foram a falsa perseguição sistemática a cristãos no Brasil (“cristofobia”)sexualidade/ideologia de gênero, o fantasma do comunismo, negacionismo sobre vacinas e outros temas de saúde.

Imagem: reprodução/Bereia

Bereia seguirá no acompanhamento destas candidaturas com identidade religiosa confessional e de outras que acionarem temas religiosos como estratégia. Leitores e leitoras podem contribuir com o envio de materiais para checagem por meio dos canais de contato indicados no site Bereia.

A partir deste compromisso, foi lançada pelo Bereia em parceria com a CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, o CEBI – Centro de Estudos Bíblicos e o CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs a campanha “Bote fé no Voto! Votar é um direito!” , com o objetivo de combater a desinformação nos meios e mídias religiosos durante as eleições municipais de 2024. A campanha ocorre ao longo de sete semanas e apresentará reflexões e dicas para ajudar os eleitores a fazer valer seu voto de forma consciente.

Referências de checagem:

Diário de Cuiabá

https://www.diariodecuiaba.com.br/cuiaba-urgente/rei-das-fake-news-abilio-e-condenado-por-chamar-fiscais-de-corruptos/681289 Acesso 26 Agosto 2024

https://www.diariodecuiaba.com.br/politica/justica-multa-assessor-de-abilio-acusado-de-produzir-fake-news/688996 Acesso 26 Agosto 2024

G1
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/09/26/sessao-da-cpi-e-suspensa-apos-deputado-se-recusar-a-se-retirar-da-sala.ghtml Acesso 26 Agosto 2024

UOL

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/05/23/abilio-brunini-quem-e-deputado-que-discutiu-com-haddad.htm  Acesso 26 Agosto 2024

Conjur

https://www.conjur.com.br/2024-ago-07/especialistas-criticam-decisao-de-juiza-do-to-que-tirou-site-dcm-do-ar/ Acesso 26 Agosto 2024

Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2024-08/candidaturas-com-identidade-religiosa-crescem-225-em-24-anos Acesso 26 Agosto 2024

Revista FAMECOS – PUCRS

https://revistaseletronicas.pucrs.br/revistafamecos/article/view/30691 Acesso 26 Agosto 2024

ELEIÇÕES 2024: Bereia participa da campanha “Bote fé no voto! Votar é um direito!”

* Matéria atualizada em 25/08/2024 para ajuste no link ao final da página

As eleições municipais chegaram e o Bereia, em parceria com a CESE –  Coordenadoria Ecumênica de Serviço, o CEBI – Centro de Estudos Bíblicos e o CONIC –  Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, lançam, nesta quarta-feira (21), a campanha “Bote fé no Voto! Votar é um direito!”. Uma iniciativa de enfrentamento à desinformação nos meios e mídias religiosos, durante a caminhada até a escolha de prefeitos/as e vereadores/as que governarão os municípios brasileiros nos próximos quatro anos.

Esta já é a segunda campanha de combate à desinformação nas eleições promovida por uma parceria CESE, Bereia e CONIC. Ao longo das eleições presidenciais de 2022, as três organizações se reuniram para trazer dicas de como identificar conteúdos desinformativos e apresentar checagens de alguns que já amplamente difundidos. No ano de 2024, o CEBI se soma a iniciativa.

Desta vez, ao longo das 7 semanas em que candidatos/as estarão em campanha para as eleições municipais em 2024, a campanha “Bote fé no Voto! Votar é um direito!” trará 7 reflexões e dicas sobre como fazer valer o nosso voto para além da urna. 

Acompanhe a campanha e os materiais no perfil do Bereia e das demais organizações promotoras no Instagram.

Eleitores querem punições severas para candidatos que espalham notícias falsas

O 16º levantamento Observatório Febraban, realizado pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), apontou que 88% dos brasileiros apoiam punições severas para candidatos que utilizam notícias falsas durante as eleições. 

A impugnação da candidatura é a punição mais defendida, com 52% dos entrevistados favoráveis a essa medida.Outros tipos de punição incluem multas (14%), suspensão da campanha (12%) e suspensão total da propaganda eleitoral (10%) .

A religião se destaca como um dos fatores de influência nas eleições de outubro, de acordo com a pesquisa. Perguntados sobre a importância da religião do candidato ou candidata a prefeito, 36% das pessoas consideram a identidade religiosa como fator importante na escolha. No segmento evangélico, 43% consideraram importante, enquanto que para os católicos o percentual é 31%.

A pesquisa também identificou que a televisão e as redes sociais são os principais meios de informação sobre as eleições, com 37% e 30% de utilização, respectivamente.

O levantamento realizado entre os dias 4 e 10 de julho de 2024, com 3 mil pessoas nas cinco regiões do País, abordou o interesse do brasileiro nas eleições municipais, suas preferências e expectativas sobre os perfis dos próximos prefeitos.

A íntegra do 16º levantamento Observatório Febraban, pesquisa Febraban-IPESPE pode ser acessada aqui.

Capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil

ELEIÇÕES 2024: Desinformações “requentadas” nas redes para fins políticos

Não é novidade, e esse parece ser o espírito da coisa: muitos conteúdos desinformativos costumam ser reaproveitados em mídias e meios religiosos a cada ano de eleição para prejudicar ou favorecer determinado candidato ou corrente política. Bereia já checou (e provavelmente ainda vai checar) inúmeros casos.

Acompanhe conteúdos que tanto Bereia como outras iniciativas de checagem já abordaram e voltam a circular frequentemente nas mídias sociais, conforme nos mostram solicitações enviadas por leitores e leitoras:

É falso que Senado Federal analise lei para proibir pregações religiosas

Voltou a circular nas últimas semanas em mídias religiosas uma mensagem que se refere a uma suposta “lei de proteção doméstica” em debate no Senado Federal que proibiria a pregação religiosa. O conteúdo é falso e já foi checado por Bereia em 2019 e em 2022.

Não existe Projeto de Lei em discussão denominado “Proteção Doméstica”. O mais próximo texto em tramitação que Bereia encontrou, o PL 524/2015, também não diz respeito a “prisão religiosa”, proibições de pregações e visitas religiosas ou de leitura da Bíblia. A proposta refere-se, sim, a controle de volume de som exagerado em horários noturnos, o que já é feito por meio de diversas leis municipais e estaduais.

Além do Bereia, a informação já foi checada por Boatos.org, Agência Lupa e desmentida também pelo próprio Senado Federal uma, duas, três, quatro vezes. O desmentido foi publicado ainda pelo site religioso Folha Gospel.

Comunismo e “ameaça” comunista x patriotismo

Diversas checagens abordando suposta “ameaça” comunista em contraposição ao patriotismo costumam circular de tempos em tempos, mais ainda em ano eleitoral. Veja aqui o que Bereia já checou a respeito.

“Cristofobia” e perseguição a cristãos

Apesar de ser uma das religiões majoritárias do Brasil e com ampla liberdade de culto, reunião e até proselitismo em rádio e TV, a ideia de uma perseguição aos cristãos no país é tema de diversos conteúdos desinformativos. Bereia já checou vários, inclusive neste ano, confira

Covid-19 e vacinas

Bereia surgiu a partir de uma pesquisa acadêmica sobre desinformação na área da saúde em meios religiosos. O tema nunca deixou de estar presente até hoje. É o que mostram as diversas checagens do Bereia a respeito.

“Ideologia de gênero”

A sexualidade nas formas não-normativas é prato cheio para o pânico moral via desinformação, e um dos temas campeões em ano eleitoral. Acompanhe o que Bereia já apurou em suas checagens.

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Foto de capa: Andrea Piacquadio/Pexels

ELEIÇÕES 2024 -“PL da Fome” em SP: método de extremistas nos Legislativos

* Matéria atualizada em 10/07/24 às 10:30 para ajuste de título

Consentido em apenas 24 segundos, o Projeto de Lei (PL) Municipal 445/2023 tornou-se assunto nas mídias digitais e na imprensa. Aprovado pela Câmara de Vereadores de São Paulo, em primeiro turno, em 27 de junho, sob autoria do vereador Rubinho Nunes (União Brasil), o projeto visa estabelecer protocolos de segurança alimentar para doações de alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade social na capital paulista. 

A proposta busca regulamentar as atividades de Organizações Não Governamentais (ONGs), entidades assemelhadas e cidadãos que deverão seguir uma série de requisitos ao realizarem esse tipo de ação assistencial. O texto determina que as doações só podem ser realizadas em locais e horários agendados e autorizados pelas secretarias municipais, com a apresentação de um plano detalhado de distribuição. Caso não sejam cumpridas as determinações, o PL propõe uma multa superior a R$17.000 e a possibilidade de descredenciamento por três anos em caso de reincidência. 

Imagem: Reprodução X (antigo Twitter)

O projeto, que necessitaria passar por uma segunda votação na Câmara e pela sanção do prefeito da cidade de São Paulo Ricardo Nunes para se tornar lei, depois da repercussão negativa, por conta de fortes críticas da sociedade civil e de autoridades públicas,  foi retirado da pauta da casa legislativa pelo próprio autor,  em 2 de julho. 

Já com as primeiras manifestações de repúdio, o projeto havia sido  suspenso por Rubinho Nunes, em 28 de junho. De acordo com o comunicado do parlamentar, a suspensão havia sido realizada para ouvir a sociedade civil e entidades, a fim de “melhorar o texto” para que o objetivo fosse alcançado. “Considerando a repercussão do PL 445/23, que estabelece protocolos e diretrizes de distribuição alimentar na cidade de São Paulo, informo que o projeto terá sua tramitação imediatamente suspensa”, informou o autor do projeto.

Porém, dias depois, o vereador optou pela retirada do PL da pauta da Câmara. No entanto, um levantamento do portal de notícias G1 mostra que, apesar da declaração da assessoria do político sobre a retirada da pauta, a pedido do autor, e que o PL não tramitará mais, tal encaminhamento não seguiu o protocolo da Câmara de Vereadores para que isto ocorra.

Para um PL deixar de tramitar, é preciso seguir um rito de arquivamento, o que não foi encaminhado pelo vereador. Portanto, o que existe é apenas um discurso de retirada e a votação para aprovação definitiva pode ser realizada a qualquer momento.

Entenda o PL 445/2023

O Projeto de Lei 445/2023 apresentado pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), em 10 de agosto de 2023, à Câmara Municipal dede São Paulo, prevê uma série de exigências para ONGs, entidades e cidadãos que desejam realizar doações de alimentos. 

O PL estabelece requisitos para doação de alimentos por pessoas físicas, incluindo:

  • Limpeza da área de distribuição e fornecimento de infraestrutura necessária;
  • Obtenção de autorização da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e da Secretaria Municipal de Subprefeituras;
  • Cadastro de todos os voluntários junto à SMADS.

Para entidades e ONGs, os requisitos incluem:

  • Registro e reconhecimento da razão social por órgãos competentes do município;
  • Apresentação de documentação atualizada sobre o quadro administrativo;
  • Cadastro e atualização de informações sobre pessoas em situação de vulnerabilidade social;
  • Autenticação em cartório ou atestado de veracidade das documentações;
  • Identificação dos voluntários com crachá da entidade.

O PL prevê multas em 500 UFESP (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo), aproximadamente R$17.680,00, e o descredenciamento do doador por três anos, em caso de reincidência. Estas medidas foram aprovadas em diversas comissões da Câmara Municipal, incluindo a Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa (CCJ), com o vereador Thammy Miranda (PSD), na relatoria da matéria. Ele apresentou um substitutivo para adequar a redação do projeto à técnica legislativa e substituir a multa em UFESP por o valor fixo em reais. 

Nessa tramitação, apenas o vereador Hélio Rodrigues (PT) registrou voto contrário na Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher, bem como o vereador Professor Toninho Vespoli (PSOL), na Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa . 

O autor do PL, Rubinho Nunes (União Brasil), justificou que a proposta tem o objetivo de garantir segurança, qualidade e transparência nas ações assistenciais. Ele argumenta que o município tem a responsabilidade de fiscalizar e tentar reincluir a população em situação de rua na sociedade. 

O Projeto de Lei foi aprovado em primeira votação, em 27 de junho, em um processo de apenas 24 segundos, devido a um acordo entre vereadores para desafogar a pauta de votações. Somente as bancadas do PT e do PSOL registraram o voto contrário à proposta. 

A Frente Parlamentar Cristã da Câmara Municipal de São Paulo, foi unânime em aprovar o PL 445/2023. Seus membros incluem: 

  • André Santos (Republicanos)
  • Atílio Francisco (Republicanos)
  • Ely Teruel (Podemos)
  • Fernando Holiday (Republicanos)
  • Gilberto Nascimento (PSC)
  • Isac Felix (PL)
  • João Jorge (PSDB)
  • Jorge Wilson Filho (Republicanos)
  • Marcelo Messias (MDB)
  • Marlon Luz (MDB)
  • Rinaldi Digilio (União)
  • Rute Costa (PSDB)
  • Sansão Pereira (Republicanos)

Além desses, outros vereadores também aprovaram o PL, incluindo todos os membros dos partidos Novo, União Brasil, MDB, PL, PSD, PP e PV, com um total de  35 vereadores favoráveis à proposta.

Reações da sociedade civil e política

A aprovação,  em primeiro turno, do PL 445/2023 gerou forte reação contrária da sociedade civil e de autoridades públicas especialmente em setores que atuam com a assistência social de pessoas em situação de vulnerabilidade.

A ativista, pré-candidata a vereadora de São Paulo e assessora da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), Amanda Paschoal, tomou medidas legais contra o projeto. Ela acionou o Conselho Nacional de Direitos Humanos, o Ministério Público e a Defensoria Pública de São Paulo, com a alegação de que o projeto é inconstitucional, imoral, restringe o acesso a um direito básico à alimentação.

O Projeto Mãos na Massa, iniciativa sem fins lucrativos, que se dedica à assistência habitacional e também atua na distribuição de cestas básicas e alimentos, divulgou uma nota de repúdio em sua página no Instagram. A organização argumenta que as exigências burocráticas do PL inviabilizam a atuação de voluntários e colocam em risco a sobrevivência de milhares de pessoas que dependem dessas ações. O projeto defende que a solução da fome e da pobreza está em políticas públicas eficazes e não na penalização de quem ajuda.

Imagem: Reprodução Instagram

O padre Júlio Lancellotti, conhecido pelos atos de caridade e pela defesa de pessoas em situação de rua na capital paulista, publicou em sua página no Instagram um vídeo em que afirma que, assim como Jesus o fazia, a partilha do pão, do alimento, é um direito de todos e que essa ação “tem gosto de amor e não de multa”. 

Imagem: Reprodução Instagram

Em 30 de junho, em uma entrevista, o líder religioso comentou sobre o PL 445/2023. Ele enfatizou a importância da caridade e da doação de alimentos como atos revolucionários e sugeriu que os vereadores que apoiaram o projeto leiam o capítulo 25 do Evangelho de Mateus, que fala sobre alimentar os famintos e cuidar dos necessitados. Ele os convida a participar da distribuição matinal de pão aos moradores de rua.

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) , ao ser questionado sobre o PL, afirmou que os vereadores têm autonomia para apresentarem projetos de lei que acreditem ser corretos e que a aprovação do texto em primeiro turno, sem maiores discussões, são práticas comuns da Câmara Municipal. Ele deixou em aberto se vetaria a proposição caso seja definitivamente aprovada e submetida para sanção. 

Em meio às críticas, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) concedeu entrevista ao jornal Morning Show, da emissora de TV Jovem Pan, para repercutir o Projeto de Lei, em 28 de junho. O canal e seus jornalistas, conhecidos pelo apelo conservador e alinhados com as pautas da extrema direita, foram incisivos nos questionamentos ao político. Os membros da bancada do noticiário, enfatizaram a importância da caridade como um valor cristão,  e questionaram se o projeto proposto era verdadeiramente cristão no sentido da caridade e do auxílio aos pobres. Os jornalistas também expressaram preocupação sobre como o PL poderia desestimular atos donativos devido à burocracia e às multas elevadas. 

Diante da repercussão negativa, o vereador afirmou a necessidade de aperfeiçoar o texto do projeto, e alegou que houve uma “má interpretação” na sua redação inicial.

Imagem: Reprodução YouTube

 Quem é o autor do projeto?

O vereador da cidade de São Paulo pelo União Brasil, Rubinho Nunes, tem se destacado por proposições legislativas controversas, como o PL 445/2023. Em seu em seu primeiro mandato, o parlamentar tem levantado suspeitas sobre a assistência aos necessitados na capital paulista, gerando polêmicas e destaque.

Imagem: Reprodução Câmara Municipal de São Paulo

Conhecido por ser um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), alinhado ao extremismo de direita no País, Nunes ganhou visibilidade nacional ao participar da convocação e da organização das manifestações ocorridas em 2016, em prol da aprovação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). 

O parlamentar é advogado e protocolou petições judiciais polêmicas. Entre elas, em 2023, as tentativas de barrar as nomeações do governo federal de Jean Paul Prates, para a chefia da Petrobras, e de Aloizio Mercadante, para o BNDES. Em outros períodos, já  solicitou que o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fosse classificado como organização criminosa e foi o primeiro a entrar com um pedido de impeachment contra um membro do Superior Tribunal Federal (STF), o ex-ministro Marco Aurélio Mello.

No final de 2023, Nunes protagonizou outra polêmica, já checada pelo Bereia. O vereador foi autor de um pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação de ONGs na região da Cracolândia, em São Paulo. A iniciativa gerou ampla repercussão e foi fonte de desinformação sobre o trabalho das ONGs, especialmente, do padre Júlio Lancellotti, que atua na assistência a essa população e ideologicamente está mais próximo das esquerdas.

A articulação para a criação da CPI é investigada pela Polícia Civil de São Paulo, que abriu um inquérito contra Rubinho Nunes. A polícia investiga se o vereador cometeu abuso de autoridade para impedir o trabalho do padre Lancellotti por meio de uma CPI, sem indicativos claros de conduta ilegal por parte do líder religioso.   

Extremismo nas casas legislativas

A polarização extremista que tem caracterizado o cenário político brasileiro na última década se intensifica com a aproximação das eleições municipais de 2024. Vereadores e seus aliados políticos, que atuam como  cabos eleitorais no Congresso Nacional, têm intensificado a apresentação e a tramitação de projetos de lei controversos, que geram repercussão nas redes digitais e na imprensa nacionais.

Extremistas alinhados à direita política, têm utilizado propostas legislativas que atacam princípios dos direitos humanos e afetam grupos sociais vulneráveis. De acordo com o Instituto de Estudos e Religiões (ISER) em maio, questões relacionadas aos direitos humanos, como esse projeto que propõe estabelecer protocolos de segurança alimentar para doações de alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade social na capital paulista, estão se tornando alvo de projetos de lei. Estas iniciativas legislativas buscam regulamentar práticas que afetam diretamente a garantia de dignidade e acesso a recursos básicos para grupos vulneráveis da sociedade.

Nos últimos meses, Bereia abordou algumas delas, como é o caso do PL 1.904/2024, o PL do Aborto, que tramita na Câmara Federal, e da desinformação sobre as alterações nas regras de saídas temporárias de detentos em regime semiaberto, contidos no PL 2.253/2022, na mesma casa.

Além disso, outros projetos com o mesmo caráter estão em tramitação, como o 2.706/2024, da senadora Rosana Martinelli (PL-MT), que propõe a concessão de anistia aos acusados e condenados pelos atos golpistas ocorridos em 8 de janeiro de 2023 em Brasília; a retomada da análise na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ) de dois projetos de lei que propõem a criação de um cadastro público de “invasores de propriedade privada” e a retirada de invasores sem mandato judicial, por conta própria do proprietário ou da polícia militar. 

O método

O caso do PL 445/2023 em São Paulo ilustra uma estratégia cada vez mais comum entre políticos de extrema-direita, e também dos cristãos, nos legislativos brasileiros: a proposição de pautas polêmicas que afetam diretamente a agenda progressista e de direita, com o objetivo de gerar controvérsia e ocupar espaço na mídia.

A antropóloga e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER), em Religião e Política, Livia Reis, ouvida pelo Bereia, afirmou que é uma tática que vai além da simples aprovação de leis”. Mesmo quando projetos como o “PL da Fome” são retirados após forte reação negativa, o objetivo principal já foi alcançado, que é capturar a atenção do eleitorado, polarizar o debate, forçar seus opositores a adotarem uma postura defensiva e desviar o debate público para temas moralistas.

Reis considera que a retirada dos projetos do vereador Rubinho Nunes e em outras casas legislativas, não podem ser vistas apenas como fracasso dos conservadores ou vitória da pressão popular, pois fazem parte de uma metodologia mais abrangente. Ao proporem medidas extremistas e depois recuarem, diz a antropóloga, os políticos conseguem se apresentar como “abertos ao diálogo”, enquanto mantêm os temas em evidência e consolidam suas bases de apoio mais radicais.

A pesquisadora do ISER alerta que o padrão é claro e essa estratégia tem se repetido em diversos níveis legislativos. A escolha de temas sensíveis, propor medidas extremas, gerar reação nas redes e na mídia, e então modular o discurso conforme a reação pública. Livia Reis reconhece que o desafio para a esquerda e os movimentos progressistas é a resistência a esses projetos sem cair na armadilha de aumentar a visibilidade dos proponentes, e ao mesmo tempo ter espaço para apresentar suas alternativas e propostas.

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O episódio do “PL da fome” em São Paulo serve como alerta a leitores e leitoras do Bereia, para o uso de uma movimentação tática com temas controversos que ganhem espaço nas mídias,  para campanha nas eleições municipais de 2024 e projeções para o pleito nacional de 2026.  

Referências:

Câmara Municipal de São Paulo.

https://www.saopaulo.sp.leg.br/vereador/rubinho-nunes/. Acesso em 2 de julho de 2024.

https://splegisconsulta.saopaulo.sp.leg.br/Pesquisa/DetailsDetalhado?COD_MTRA_LEGL=1&COD_PCSS_CMSP=445&ANO_PCSS_CMSP=2023. Acesso em 1 de julho de 2024.

https://app-plpconsulta-prd.azurewebsites.net/Forms/MostrarArquivo?ID=17771&TipArq=1 Acesso em 3 de julho de 2024.

https://www.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/justificativa/JPL0445-2023.pdf. Acesso em 2 de julho de 2024.

https://www.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/parecer/CONJ0754-2024.pdf. Acesso em 2 de julho de 2024.

https://www.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/parecer/JUSTS0487-2024.pdf. Acesso em 2 de julho de 2024.

https://www.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/projeto/PL0445-2023.pdf. Acesso em 1º de julho de 2024.

G1.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/06/28/pl-que-preve-multa-de-r-17-mil-e-restringe-doacao-de-comida-para-a-populacao-de-rua-em-sp-e-inconstitucional-aponta-oab.ghtml. Acesso em: 1 de julho de 2024.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/07/03/mesmo-apos-promessa-vereador-que-propos-multa-de-r-17-mil-para-doacao-de-comida-nao-se-moveu-na-camara-para-arquivar-projeto.ghtml. Acesso em 6 de julho de 2024.

Poder 360. https://www.poder360.com.br/brasil/pl-preve-multa-de-r-17-680-a-quem-doar-comida-na-rua-em-sp/. Acesso em: 1 de julho de 2024.

Carta Capital.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/ativista-aciona-o-ministerio-publico-contra-pl-que-impoe-multa-por-doacao-de-comida-em-sp/. Acesso em 4 de julho de 2024.

https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/policia-abre-investigacao-contra-rubinho-nunes-vereador-que-tentou-instaurar-cpi-contra-padre-julio-lancellotti/. Acesso em 4 de julho de 2024. 

Instagram. https://www.instagram.com/p/C8veUgoNo6O/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==. Acesso em 4 de julho de 2024. 

YouTube. 

https://www.youtube.com/live/RwTzQwwviaE?si=7c8_gy_NYUrXb9Ed&t=5112. Acesso em 1º de julho de 2024.

https://www.youtube.com/watch?v=m82mKsRxn_A. Acesso em: 4 de julho de 2024.

Uol.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/01/06/quem-e-rubinho-nunes-cpi-ongs-cracolandia.htm. Acesso em: 4 de julho de 2024.

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2024/06/28/projeto-que-multa-quem-doar-marmita-e-suspenso-por-vereador-em-sp-apos-criticas.amp.htm. Acesso em: 3 de julho de 2024.

Coletivo Bereia.

https://coletivobereia.com.br/balanco-janeiro-2024-padre-julio-lancellotti-e-alvo-de-ataques-nas-midias-sociais/. Acesso em: 4 de julho de 2024.

https://coletivobereia.com.br/deputados-e-midias-gospel-espalham-falsidades-sobre-projeto-de-lei-que-retira-direitos-sobre-aborto-no-brasil/. Acesso em: 4 de julho de 2024.

https://coletivobereia.com.br/site-e-politicos-religiosos-desinformam-sobre-projeto-de-saidas-temporarias-da-prisao/. Acesso em: 4 de julho de 2024.

Senado Federal. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/07/04/rosana-martinelli-propoe-projeto-para-anistiar-acusados-do-8-de-janeiro. Acesso em 4 de julho de 2024.

Revista Fórum. https://revistaforum.com.br/politica/2024/6/28/avano-do-pl-da-fome-com-ajuda-da-base-aliada-de-ricardo-nunes-na-cmara-constrange-prefeito-de-sp-161321.html. Acesso em 4 de julho de 2024.

ISER. https://religiaoepoder.org.br/artigo/tragedia-com-chuvas-no-sul-e-rechaco-a-politicas-publicas-federais-marcam-pls-apresentados-em-maio/. Acesso em 6 de julho de 2024. 

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Foto de capa: André Bueno/Câmara Municipal de São Paulo