Como os grupos religiosos avaliam o ataque do governo Trump à economia do Brasil
Uma pesquisa realizada entre 11 e 13 de julho de 2025, pelo instituto Atlas Random Digital Recruitment (RDR) analisou a percepção da população brasileira sobre a taxação de 50% aplicada pelo ex-presidente dos Estados Unidos (EUA) Donald Trump, a produtos brasileiros. O levantamento também detalha como diferentes segmentos religiosos reagiram à medida adotada pelo atual presidente dos Estados Unidos.
Com base nos dados, Bereia realizou um balanço das respostas do público religioso, organizou as informações principais, e ressaltou as diferenças de opinião entre evangélicos, católicos e pessoas de outras religiões. Além disso, Bereia identificou na pesquisa os níveis de aprovação, rejeição e indecisão em relação à política tarifária dos Estados Unidos.
A metodologia utilizada na pesquisa Atlas, conta com uma tecnologia que dispensa contato direto entre entrevistador e entrevistado e garante maior anonimato e neutralidade nas respostas ao recrutar participantes de forma orgânica durante a navegação na internet, em qualquer dispositivo conectado.
Percepção da taxação de Trump por grupo religioso
A pesquisa Atlas, contratada pela empresa global de informações financeiras Bloomberg, foi realizada entre os dias 11 e 13 de julho de 2025 e está estruturada em quatro eixos temáticos: 1. Aprovação presidencial; 2. Política externa do governo Lula; 3. Tarifas de Trump; 4. Imagem dos Estados Unidos e de Donald Trump.
O foco do balanço do Bereia é o terceiro eixo, abordado a partir da página 24 do relatório divulgado. Os entrevistados foram questionados sobre a seguinte questão: “Na sua opinião, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% os produtos brasileiros, é justificada ou injustificada?”
As respostas revelam percepções distintas entre os grupos religiosos, como demonstram os dados a seguir:
Grupo religioso | Injustificada (%) | Justificada (%) | Não sei (%) |
Católicos | 66,9% | 32,1% | 1% |
Evangélicos | 44,9 | 53,1 | 2 |
Outra religião | 64,5 | 35 | 0,5 |
Crente sem religião | 52,3 | 47,6 | 0,1 |
Agnóstico ou ateu | 78,6 | 21,4 | 0 |
Injustificada (%) | Justificada (%) | Não sei (%) | |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 62,2 | 36,8 | 1 |
Os dados apresentados acima revelam diferenças marcantes entre os grupos religiosos quanto à percepção da taxação imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros. A maioria de católicos (66,9%), de pessoas com outra religião (64,5%) e especialmente agnósticos ou ateus (78,6%) consideram a medida injustificada, por ampla quantidade de respostas, com média de 70%, somados à maioria dos crentes sem religião que consideram o mesmo, com 52,3%, menor índice em relação aos demais.
Já os evangélicos se destacam como o único grupo em que a maioria (53,1%) considera a taxação justificada.
Este quadro chama a atenção por evidenciar a construção de uma possível afinidade maior deste grupo religioso, evangélicos, com políticas protecionistas radicais, caso da taxação imposta ao Brasil e outros países, e/ou com a figura do ex-presidente estadunidense. Já o índice de indecisos (os que responderam “Não sei”) foi baixo em todos os segmentos, com destaque para os agnósticos/ateus (0%) e crentes sem religião (0,1%), o que indica que a maioria dos entrevistados sabe do que se trata e tem opinião formada sobre o tema.
Veja os demais dados de cada pergunta do eixo três:
Na sua opinião, qual foi a principal motivação que levou Donald Trump a anunciar uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros?
Grupo religioso | Retaliação contra a participação nos Brasil na Brics (%) | Atuação da família Bolsonaro junto a Donald Trump (%) | Retaliação contra decisões do STF sobre redes sociais americanas (%) | Desejo genuíno de tornar o comércio com o Brasil mais favorável aos EUA (%) | Não sei (%) |
Católicos | 33,2 | 47,7 | 16,6 | 2,5 | 0 |
Evangélicos | 50,9 | 15,4 | 24,1 | 9,4 | 0,1 |
Outra religião | 37 | 36,2 | 12,5 | 6,4 | 7,8 |
Crente sem religião | 59,7 | 12,4 | 20,2 | 0,5 | 7,2 |
Agnóstico ou ateu | 36,6 | 54 | 9,4 | 0 | 0 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 40,9 | 36,9 | 16,8 | 3,5 | 1,9 |
A análise dos dados revela percepções bastante distintas entre os grupos religiosos sobre o que teria motivado Donald Trump a anunciar a taxação de 50% sobre produtos brasileiros. Entre católicos, pessoas de outra religião e agnósticos/ateus, prevalece a compreensão enfatizada no noticiário de que a medida foi influenciada pela articulação da família Bolsonaro com o governo dos EUA. O destaque expressivo é da avaliação de agnósticos e ateus (54%), que são seguidos por católicos (47,7%) e pessoas de outra religião (36,2%).
Já evangélicos (50,9%) e crentes sem religião (59,7%) acompanham majoritariamente a avaliação também exposta no noticiário, utilizada em publicações de políticos e comentaristas críticos ao governo federal, que atribui a taxação a uma retaliação dos EUA contra a participação do Brasil no grupo dos BRICS, foro de cooperação e articulação política de onze países do Sul Global, formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e seis novos membros.
A hipótese de retaliação dos EUA contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre responsabilização de redes sociais digitais na propagação de conteúdo ilícito aparece com quantidade de respostas moderada, especialmente entre evangélicos (24,1%) e crentes sem religião (20,2%), o que sugere uma afinidade destes grupos com esta abordagem disseminada nas redes digitais por políticos e comentaristas críticos à atuação da Corte neste quesito.
A opinião relacionada ao “desejo de favorecer os EUA comercialmente” teve poucas respostas em todos os grupos, o que afirma a percepção das pessoas com identidade religiosa entrevistadas de que a medida teve motivações mais políticas do que econômicas.
O número de indecisos é muito baixo entre a maioria dos grupos, o que demonstra um alto nível de engajamento e opinião formada sobre o tema, com exceção das pessoas das categorias “outra religião” (7,8%) e “crentes sem religião” (7,2%), nas quais a incerteza aparece de forma mais significativa.
Na sua opinião, as justificativas usadas por Donald Trump ao decidir taxar em 50% produtos brasileiros a partir de 1º de agosto podem ser consideradas uma ameaça à soberania brasileira?
Grupo religioso | Sim, configuram uma ameaça à soberania brasileira (%) | Não, não configuram uma ameaça à soberania brasileira (%) | Não sei (%) |
Católicos | 44,6 | 54 | 1,4 |
Evangélicos | 53,2 | 46,7 | 0,2 |
Outra religião | 53 | 38,4 | 8,6 |
Crente sem religião | 36,8 | 63,2 | 0 |
Agnóstico ou ateu | 75,8 | 24,2 | 0 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 50,3 | 47,8 | 1,8 |
Os dados mostram que a percepção sobre a taxação de produtos brasileiros por Donald Trump como uma ameaça à soberania nacional tem uma curiosa variação entre os grupos religiosos. Agnósticos ou ateus são os que mais veem a medida como uma afronta à soberania do Brasil, com 75,8% expressando essa visão, seguidos por pessoas de religiões não cristãs (53%).
O único grupo religioso destacado com maioria mais expressiva são os crentes sem religião. 63,2% desta categoria consideram que não há ameaça à soberania nacional, uma abordagem assumida por políticos, grupos da direita política e aliados, que procuram colocar a responsabilidade da taxação sobre o governo federal e sobre o STF, como indicado nas questão anterior.
Neste ponto católicos e evangélicos estão divididos de forma oposta. Entre os primeiros, uma pequena maioria (54%) não considera a taxação uma ameaça à soberania, enquanto evangélicos, também em maioria não muito ampla (53,2%), pensa o contrário, que, sim, representa uma intimidação. Nestes dois grupos a divergência vem de parcelas significativas: 44,6% de católicos acreditam que a soberania brasileira está ameaçada pelas tarifas, ao passo que 46,7% de evangélicos avaliam que não.
O número de indecisos permanece baixo em todos os grupos, com exceção das pessoas com outra religião (8,6%), o que evidencia que, no geral, os entrevistados têm acompanhado notícias sobre esta disputa.
Como você avalia a reação do governo brasileiro diante das tarifas aplicadas pelo governo Trump sobre os produtos brasileiros?
Grupo religioso | Adequada (%) | Agressiva (%) | Fraca (%) | Não sei (%) |
Católicos | 41,7 | 27,2 | 28,2 | 2,8 |
Evangélicos | 20 | 39,1 | 40,1 | 0,3 |
Outra religião | 76,1 | 17 | 4,4 | 2,5 |
Crente sem religião | 38 | 44,4 | 15,6 | 2 |
Agnóstico ou ateu | 80 | 5,6 | 6 | 8,4 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 44,8 | 27,5 | 25,2 | 2,5 |
A avaliação da resposta do governo brasileiro às tarifas impostas por Donald Trump revela uma forte divergência entre os grupos religiosos. Agnósticos ou ateus (80%) e pessoas com outra religião (76,1%) consideram a reação adequada, demonstram alto grau de aprovação do governo federal e, possivelmente, uma visão mais institucional ou diplomática da postura do governo.
Em contraste, evangélicos se mostram mais críticos, com apenas 20% que consideram a resposta adequada, enquanto a maioria (79,2%) a percebe como fraca (40,1%) e agressiva (39,1%), o que sugere insatisfação com os posicionamentos adotados.
Entre os crentes sem religião, a avaliação é mais dividida, com 38% que tomam as ações do governo como adequadas, embora 44,4% as consideram agressivas e 15,6%, fracas, dados negativos que somam 60%. De igual modo, católicos se dividem entre 41,7% que veem a reação como adequada, 28,2% como fraca e 27,2% como agressiva, somando 55,4% de indicadores com denotação negativa.
Os índices de indecisão foram baixos na maioria dos grupos, exceto entre agnósticos ou ateus (8,4%).
Você acredita que o governo federal será capaz de negociar e chegar a um acordo com os Estados Unidos para reduzir as tarifas aplicadas sobre os produtos brasileiros?
Grupo religioso | Sim (%) | Não(%) | Não sei (%) |
Católicos | 50,2 | 34,6 | 15,2 |
Evangélicos | 18,8 | 65,1 | 16,1 |
Outra religião | 61,4 | 29 | 9,6 |
Crente sem religião | 43,6 | 42,9 | 13,4 |
Agnóstico ou ateu | 74,1 | 19,8 | 6,1 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 44,7 | 38,8 | 13,3 |
Os dados demonstram que a confiança na capacidade do governo brasileiro de negociar com os Estados Unidos para reduzir as tarifas varia significativamente entre os grupos religiosos. Agnósticos ou ateus (74,1%) e os com outra religião (61,4%) são os mais otimistas, e indicam maior confiança na atuação diplomática do governo federal.
Católicos também tendem ao otimismo, com 50,2% que acreditam na possibilidade de um acordo, embora uma parcela considerável (34,6%) demonstre ceticismo, com um número significativo de pessoas nesta categoria que não sabem ou não querem responder, 15%.
Já entre os crentes sem religião, as opiniões estão divididas, com 43,6% que confiam na negociação e 42,9% que não acredita no sucesso mais uma boa parcela que não sabe responder, 13,4%.
O grupo mais descrente das ações do governo federal é o dos evangélicos, com expressivos 65,1% que acreditam que o não conseguirá reverter as tarifas, e apenas 18,8% com confiança em um possível acordo, o menor índice entre todos os grupos, que divide a balança com os 16,1% que não sabem ou optaram por não responder. Tais respostas se mostram coerentes com a tendência de crítica ao governo federal presente nas demais registradas por este grupo.
Como você avalia o impacto econômico das tarifas de Trump na economia brasileira?
Grupo religioso | Alto impacto (%) | Baixo impacto (%) | Muito alto impacto (%) | Nenhum impacto (%) | Não sei (%) |
Católicos | 43,6 | 35 | 14,9 | 2,1 | 4,4 |
Evangélicos | 61,7 | 16 | 21,4 | 0 | 0,9 |
Outra religião | 55,1 | 32,1 | 6,8 | 0,4 | 5,6 |
Crente sem religião | 44,2 | 24,2 | 17,4 | 13,9 | 0,3 |
Agnóstico ou ateu | 42,1 | 45,2 | 9,9 | 0,9 | 1,9 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 48,6 | 30,8 | 14,9 | 2,4 | 3,2 |
Como você avalia o impacto da política de aumento de tarifas do governo Trump sobre a inflação e o crescimento econômico do Brasil especificamente?
Grupo religioso | Inflação: Vai aumentar? (%) | Inflação: Não terá impacto? (%) | Inflação: Vai diminuir? (%) | Inflação: Não sei (%) |
Católicos | 70,9 | 15,3 | 5,8 | 8,1 |
Evangélicos | 85,4 | 11 | 1,2 | 2,4 |
Outra religião | 66,3 | 19,3 | 10,2 | 4,2 |
Crente sem religião | 72,5 | 17,5 | 4,8 | 5,5 |
Agnóstico ou ateu | 49,3 | 33,5 | 14,7 | 2,5 |
Dados gerais do total de 2841 respondente | 70 | 18 | 6 | 6 |
Grupo religioso | Crescimento econômico: Vai aumentar? (%) | Crescimento econômico: Não terá impacto?(%) | Crescimento econômico: Vai diminuir? (%) | Crescimento econômico: Não sei (%) |
Católicos | 6,9 | 15,1 | 70,1 | 8 |
Evangélicos | 3,2 | 8,9 | 85,7 | 2,1 |
Outra religião | 5,5 | 23,3 | 64,9 | 6,4 |
Crente sem religião | 11,9 | 7,9 | 77,5 | 2,7 |
Agnóstico ou ateu | 15,2 | 24 | 58,9 | 1,9 |
Dados gerais do total de 2841 respondente | 8 | 15 | 72 | 5 |
Estas respostas foram obtidas de uma mesma pergunta na pesquisa sobre o impacto econômico das tarifas impostas por Donald Trump na economia brasileira. A grande maioria de todos os grupos religiosos avalia que ele existirá e que será alto e muito alto.
Os evangélicos são os que mais avaliam que a medida impactará a economia, com total de 83,1% entre alto (61,7%) e muito alto (21,4%). O grupo mais dividido é o de agnósticos ou ateus com 52% que acreditam que haverá impacto entre alto, 42,1%, e muito alto, 9,9%, e 45,2% que percebem que ele será baixo.
De forma geral, os diferentes grupos religiosos veem a política tarifária dos EUA como negativa tanto para a inflação quanto para o crescimento econômico do Brasil, embora existam nuances importantes entre eles.
A percepção de que a inflação vai aumentar, é majoritária em todos os segmentos, com destaque para evangélicos (85,4%), crentes sem religião (72,5%) e católicos (70,9%), o que sinaliza uma preocupação ampla com o impacto direto nos preços. Já entre agnósticos ou ateus, este índice é bem menor (49,3%), com uma parcela expressiva (33,5%) que afirma que não haverá impacto.
Em relação ao crescimento econômico, o pessimismo é ainda mais acentuado. A avaliação de que ele vai diminuir é predominante em todos os grupos, especialmente entre evangélicos (85,7%), crentes com outra religião (77,5%) e católicos (70,1%). Mesmo entre os agnósticos ou ateus, grupo que mostrou mais moderação quanto à inflação, 58,9% acreditam e retração econômica, embora também sejam os mais propensos a enxergar estabilidade (24%) e crescimento (15,2%).
As respostas demonstram uma percepção generalizada de que a medida tarifária terá consequências inflacionárias e recessivas, com variações na intensidade da percepção a depender da identidade religiosa.
Você acha que o governo federal deveria retaliar os Estados Unidos diante da decisão de Trump de taxar os produtos do Brasil?
Grupo religioso | Sim (%) | Não (%) | Não sei (%) |
Católicos | 58,7 | 39,7 | 1,6 |
Evangélicos | 16,2 | 63,2 | 20,6 |
Outra religião | 64,3 | 24,9 | 10,8 |
Crente sem religião | 34,4 | 48,2 | 17,4 |
Agnóstico ou ateu | 78,5 | 20,9 | 0,6 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 51,2 | 40,9 | 7,9 |
Os dados revelam posições contrastantes entre os grupos religiosos quanto à ideia de o governo federal retaliar os EUA após a taxação dos produtos brasileiros por Donald Trump. Agnósticos ou ateus são os mais favoráveis à retaliação, com expressivos 78,5% que defendem essa postura, seguidos por pessoas de outras religiões (64,3%) e católicos (58,7%), o que demonstra uma forte adesão à ideia de uma resposta firme e simétrica.
Em contraposição, os evangélicos são majoritariamente contrários à retaliação, com 63,2% que rejeitam a medida e apenas 16,2% favoráveis, o menor índice entre todos os grupos analisados. Tal posição é coerente com a questão em que a maioria deste grupo respondeu que as medidas impostas pelos EUA se justificam.
Os crentes sem religião também tendem a ser mais contrários à retaliação (48,2%), embora com uma divisão mais equilibrada. O alto índice de indecisos entre evangélicos (20,6%) e crentes sem religião (17,4%) é significativo, indicando, possivelmente, dúvidas sobre as consequências de tal ação.
Como você acha que o governo deveria retaliar os Estados Unidos? Escolha a opção que você considera mais adequada.
Grupo religioso | Aumentar tarifas sobre produtos americanos (%) | Reforçar relações diplomáticas e comerciais com rivais dos EUA, como a China (%) | Reduzir a dependência do dólar americano (%) | Suspender pagamentos de direitos autorais e patentes de medicamentos americanos (%) | Impor restrições a investimentos norte- americanos (%) | Outra medida (%) |
Católicos | 51,8 | 33,9 | 9,7 | 1,9 | 0,8 | 2 |
Evangélicos | 56,1 | 14,1 | 29,1 | 0,1 | 0 | 0,2 |
Outra religião | 51,8 | 25,3 | 16,1 | 1,1 | 3,6 | 2,1 |
Crente sem religião | 35,8 | 33,7 | 18,7 | 1,7 | 5,8 | 4,3 |
Agnóstico ou ateu | 54,8 | 19,1 | 19,4 | 6,3 | 0,3 | 0 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 51,2 | 28,6 | 14,5 | 2,4 | 1,5 | 1,8 |
Os dados indicam que, entre os diferentes grupos religiosos, há uma preferência clara por medidas econômicas diretas como forma de retaliação à taxação imposta pelos Estados Unidos. A opção mais escolhida por todos os grupos foi “aumentar tarifas sobre produtos americanos”, com destaque entre evangélicos (56,1%), agnósticos ou ateus (54,8%), católicos (51,8%) e pessoas de outras religiões (51,8%), o que revela um consenso em torno de uma resposta comercial simétrica.
Posteriormente, aparece a estratégia de reforçar relações com rivais dos EUA, como a China, com maior adesão entre católicos (33,9%) e crentes sem religião (33,7%).
Chama a atenção que os evangélicos tenham sido os que mais rejeitaram esta opção, com apenas 14,1% de escolhas dela no grupo.
A proposta de reduzir a dependência do dólar americano também tem algum apelo, especialmente entre evangélicos (29,1%) e crentes sem religião (18,7%), o que sugere coerência com as respostas relacionadas à defesa da soberania nacional. Medidas mais radicais, como suspender o pagamento de patentes de medicamentos e de impor restrições a investimentos estadunidenses tiveram baixíssima adesão.
As relações entre Brasil e Estados Unidos ficarão mais fortes ou mais fracas com a política de aumento de tarifas do governo Trump?
Grupo religioso | Ficarão mais fracas (%) | Ficarão iguais (%) | Ficarão mais fortes (%) | Não sei (%) |
Católicos | 74,6 | 17,6 | 1,5 | 6,2 |
Evangélicos | 86,1 | 10,1 | 3,2 | 0,6 |
Outra religião | 80,4 | 19,2 | 0 | 0,4 |
Crente sem religião | 67,1 | 27,6 | 0,1 | 5,3 |
Agnóstico ou ateu | 67,5 | 22,6 | 0,7 | 9,3 |
Dados gerais do total de 2841 respondentes | 75,7 | 18,2 | 1,5 | 4,7 |
A percepção geral entre os grupos religiosos é de que a política de aumento de tarifas implementada por Donald Trump fragilizou as relações entre Brasil e Estados Unidos. A maioria em todos os segmentos acredita que os laços diplomáticos e comerciais ficaram mais fracos, com destaque para os evangélicos (86,1%) e pessoas de outras religiões (80,4%), seguidos por católicos (74,6%).
Mesmo entre os mais críticos a medidas de retaliação, como os crentes sem religião (67,1%) e agnósticos ou ateus (67,5%), essa percepção de enfraquecimento das relações também predomina.
A parcela que considera as relações inalteradas é minoritária, variando de 10,1% (evangélicos) a 27,6% (crentes sem religião). Já a ideia de que os laços tenham se fortalecido após a medida tarifária é praticamente inexistente, com índices residuais em todos os grupos.
Para buscar compreender este quadro
A forma como a resposta de grupos religiosos, em especial de evangélicos, aparece neste levantamento da pesquisa Atlas/Bloomberg reflete mais conteúdos circulantes em redes sociais digitais do que o noticiário, seja para justificar a tarifação imposta pelos EUA ao Brasil, seja para responsabilizar o governo federal por esta ação… (as conclusões que elenquei acima).
Esta constatação retoma o dado já levantado em pesquisa de que as pessoas se informam mais pelas redes digitais do que por meios tradicionais. De acordo com o Relatório Desigualdades Informativas: Entendendo os caminhos informativos dos brasileiros na internet 2024, de autoria da Aláfia Lab, mais da metade da população brasileira (51,6%) recorre às redes sociais como principal fonte de informação. Entre as plataformas, o Instagram lidera com 68,8% dos entrevistados afirmando utilizá-lo para se manter informados. Na sequência, aparecem o YouTube (55,9%) e o Facebook (43,7%).
Isto significa que o que as pessoas consomem nas redes digitais é fundamental para a formação da opinião que elas têm sobre determinados assuntos, entre eles, o caso da taxação do Brasil pelos EUA. A questão é que entre estes conteúdos, como o Bereia mostra, está uma considerável parcela de desinformação, parte dela embasada no medo.
Bereia buscou referências para apontar caminhos de compreensão deste quadro. A doutora em Comunicação e Informação Sandra Bitencourt, que também é jornalista e atua como coordenadora da Região Sul da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), indica: “As agendas geopolíticas têm funcionado como espelho ideológico e vêm posicionando grupos no debate interno do país. Há questões práticas que afetam cotidianos, como a imigração, o emprego e as consequências de uma chantagem comercial, mas também há preocupações que unificam segmentos, como a liberdade religiosa e o sempre acionado tema do aborto.”
Sandra Bittencourt ainda observa que a extrema-direita, tanto nos EUA quanto no Brasil, tem explorado essas pautas com eficiência. “A extrema-direita, mundialmente, tem sido muito hábil em colocar essas posições como uma luta ‘civilizatória’ em defesa da família e dos seus valores, o que acaba por direcionar, mesmo com contradições, percepções e escolhas. É uma estratégia, obviamente, que cria divisões, não apenas na sociedade, mas no interior das denominações religiosas, pois muitos fundamentam sua fé e seus valores religiosos com uma missão política.”
Em artigo sobre a relação de evangélicos com os governos Lula 1, 2 e 3, a cientista política diretora-executiva do Instituto de Estudos da Religião (ISER) Ana Carolina Evangelista reflete que a parcela da população identificada como evangélica tem sido mais blindada por mensagens diárias, dentro e fora dos templos, e se tornado refratária a tudo que venha da política no espectro progressista. “O bolsonarismo se amalgamou com o campo evangélico nos territórios, não apenas na política palaciana”, avalia e acrescenta: “quem está falando sistematicamente e com muita desenvoltura [com este grupo] são lideranças religiosas e comunitárias bolsonarizadas. Tudo isso imerso num ambiente político mais violento e intolerante, como um todo, na sociedade”.
Referências:
BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1k8lp00xe4o. Acesso em 18 de julho de 2025.
BRICS Brasil 2025. https://brics.br/pt-br/sobre-o-brics. Acesso em 18 de julho de 2025.
Revista Forum. https://revistaforum.com.br/u/archivos/2025/7/15/Pesquisa%20Atlas_Bloomberg%20-%20Tarifas%20de%20Trump%20sobre%20o%20Brasil.pdf. Acesso em 17 de julho de 2025.Uol. https://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2024/03/13/evangelicos-e-os-governos-lula-o-que-mudou.htm. Acesso em 18 de julho de 2025.