Circula em mídias sociais de perfis religiosos um vídeo em que o diretor do Colégio Batista Getsêmani, pastor Jorge Linhares, líder da Igreja Batista Getsêmani, em Belo Horizonte (MG), afirma ter sido intimado a depor pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MP-MG). Em entrevista, 1a filha do pastor afirma que se trata de perseguição religiosa. O depoimento ocorreu na segunda-feira, 2 de agosto, e o vídeo, publicado pelo pastor em seu perfil de mídia social, torna público o documento de intimação e a interpretação dele e de sua comunidade evangélica de que estaria sendo objeto de perseguição religiosa.
“Pessoal aqui está o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, mandando a intimação para mim (sic) estar lá no dia 2 de agosto de 2021, as 15h, na condição de investigado por ter declarado, claramente, que, não somente eu, mas o Colégio Batista Getsêmani, minha igreja, todos nós e a Bíblia Sagrada, a palavra de Deus, declara que homem é homem, mulher é mulher e menino é menino e menina é menina. Ore para que no que sair da minha boca eu seja um instrumento para glória de Jesus. Ta aí o nome do promotor para que segunda, as 15h, estejamos todos em oração. Um beijão”
declarou o pastor.
A intimação é ligada à declaração registrada em vídeo produzido pelo Colégio Batista Getsêmani em Belo Horizonte e postado em mídias sociais, em 28 de junho de 2021, criticando os direitos de gênero. O conteúdo causou reação na comunidade LGBTQIA+. Nele, crianças da escola falam que a sua resposta à ideologia de gênero é: “O nosso Deus nunca erra! Ele me fez menina; Ele me fez menino.”
A origem da intimação e o depoimento
Como já apurado pelo Bereia, o vídeo, intitulado “Deus nunca erra!”, foi produzido para manifestar posicionamento contrário aos direitos LGBTQIA+, denominado por grupos religiosos como “ideologia de gênero”. A publicação nas mídias do Colégio Batista foi feita em resposta a uma campanha da rede de fast food Burger King com participação de crianças em apoio ao Dia do Orgulho LGBTQIA+, 28 de junho. O conteúdo, considerado ofensivo à comunidade LGBTQIA+, foi denunciado por organizações de defesa da causa ao MP-MG, que acolheu a denúncia. A instituição cumpriu seu papel de fiscalizador da lei, verificando se no vídeo divulgado existe algum crime de honra ou ódio contra alguém e, por isso, intimou o pastor a depor.
Ouvido por Bereia em matéria sobre o caso, Jorge Linhares havia explicado que o vídeo feito pelo colégio quis “marcar a posição de que Deus não erra e dar uma resposta à empresa Burger King – local onde a escola leva seus alunos para festas de conclusão de cursos e outras – e não ser conivente com a propaganda que utiliza crianças para apoiar práticas homossexuais”.
André Iana, do Centro de Jornalismo do MP-MG, explicou ao Bereia que a intimação de integrante do Colégio Batista para prestar informações, trata-se de procedimento padrão, que ocorre a partir de qualquer representação recebida pela instituição, com o objetivo de colher informações e dar a oportunidade de o representado se manifestar sobre o caso.
No dia do depoimento, diversos fiéis prestaram apoio ao pastor por meio de postagens em mídias sociais e correntes de WhatsApp. Alguns compareceram à entrada do prédio do MP-MG, o que foi amplamente divulgado pelo pastor em suas mídias.
Sobre o depoimento, Jorge Linhares registrou em vídeo:
“Foi maravilhoso! O promotor queria me conhecer, saber quem era o Jorge Linhares pessoalmente. (…) Eu fui muito bem tratado desde o primeiro momento. O promotor muito educado, e eu pude mostrar pra ele que não sou um oportunista. Ele pensou que fosse até um ato político, partidário, e não era. Ele tinha que cumprir o papel dele, [que era] me convocar. E o termo jurídico é intimação. Eu não poderia usar o termo ‘estou sendo convidado’; tinha que ser intimação. Mas, depois que ele me conheceu, ele ficou muito feliz, muito tranquilo. (…) E, agora, é aguardar”, relata.
Segundo o Doutor em Direito Marcus Vinicius Matos, que integra a Comissão Gestora da Rede Cristã de Advocacia Popular (RECAP), os vídeos divulgados pelo Colégio sobre a intimação recebida se configurar perseguição religiosa dizem muito pouco. “Na verdade, o Ministério Público cumpre ali seu papel de fiscalizador da lei ao verificar se há naquelas declarações do vídeo divulgado, algum crime contra a honra de alguém, ou um crime de ódio. E é preciso ser claro nisso, porque são coisas muito diferentes.”
O pastor e sua comunidade de fiéis afirmam ser este o caso de uma perseguição religiosa, mas Marcus Matos explica a situação: “Há uma abissal diferença entre um pastor, ou uma igreja, usando de sua liberdade de expressão, de sua liberdade religiosa, dizer que determinada conduta, de acordo com sua fé, é pecado. E o mesmo pastor, abusar dessa liberdade para acusar uma parte da população, através de ilações genéricas, de cometer crimes contra crianças – como ocorre quando alguém diz genericamente que ‘estão querendo perverter nossas crianças”.
Para o Dr. Matos, nesse último caso, o Ministério Público precisa realmente saber a resposta para a seguinte questão: “Quem está fazendo isso?” Para ele, se isso está ocorrendo de fato ocorrendo é necessário saber quem são essas pessoas para que estas possam tanto ser investigadas como se defenderem. “Inclusive se ofendidos, que possam também recorrer à lei. Ao propalar acusações genéricas à população LGBT+ se corre o risco, sim, de cometer um crime de ódio”, complementa.
“No mais, é importante lembrar também sobre o vídeo, que em Mateus 19.12, Jesus reconhece que além de meninos e meninas, há pessoas que nasceram eunucas, outras que se fizeram eunucas, e diz ainda que há outros que escolheram viver como eunucos para o Reino de Deus. Ou seja, o vídeo, por si só, é uma grave simplificação, nociva, de uma leitura bíblica séria sobre sexualidade”, finaliza Matos.
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Bereia conclui que a afirmação de que o pastor Jorge Linhares está sofrendo perseguição religiosa a partir da intimação do Ministério Público é falsa. A intimação é um procedimento padrão a partir de uma denúncia feita, e serve para que os envolvidos tenham a chance de apresentar a sua versão, conforme atestado no relato do próprio pastor. O procedimento possibilita que o MP-MG apure se outros crimes teriam sido cometidos (como o crime de ódio), para então iniciar – se for o caso – uma investigação. O MP agiu neste caso, como explica o especialista em Direito ao Bereia, pois o fato de uma pessoa ou um grupo ser religioso não permite que este use da liberdade de religião, prevista na Constituição, para se colocar contra o direito humano à diversidade, e propagar, publicamente, condenações que gerem ódio contra qualquer grupo social.
Circula nas mídias sociais um trecho do discurso do ex-presidente Lula atribuindo a ele a acusação de que as igrejas seriam culpadas pelas mortes da pandemia. O vídeo com uma tarja “Lula culpa as igrejas por mortes na pandemia” reproduz 20 segundos do pronunciamento de cerca de 90 minutos, mais a coletiva de imprensa realizada em seguida.
Recorte não reproduz toda a fala de Lula sobre igrejas
No trecho selecionado para as postagens críticas, Lula diz: “Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, muitas mortes. E que o papel das igrejas é ajudar para orientar as pessoas, não é vender grão de feijão ou fazer culto cheio de gente sem máscara, dizendo que tem o remédio pra sarar.”
Essa fala começa a partir dos 58 minutos e 20 segundos do discurso público e o recorte que viralizou não dá conta do contexto nem mostra a fala completa do ex-presidente sobre as igrejas. Pouco antes, Lula criticou o uso de fake news, atribui a elas a eleição de Donald Trump para presidência dos EUA. A seguir ele cita o exemplo do terraplanismo (crença sem base científica de que a terra é plana, e não esférica, como atesta a ciência).
A partir desse ponto, Lula começa a falar do papel das igrejas com o trecho reproduzido acima. No entanto, o vídeo que viralizou omite o que veio a seguir: “Eu acredito que Jesus pode salvar as pessoas, mas as pessoas precisam se ajudar. Se a pessoa for ignorante, não usar máscara, não fazer o isolamento, não fizer a lavagem das mãos necessária, Deus vai dizer: “Peraí, eu tenho muita gente pra cuidar meu filho. Se cuide”.
Venda de semente para cura da covid-19 e desinformação sobre remédios
A menção de venda de grão de feijão por Lula é uma referência indireta à iniciativa do Apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD). Bereia verificou como verdadeiro que em maio de 2020 o religioso ofereceu semente que teria o poder de curar da covid-19. Já em agosto de 2020, Bereia também reproduziu o anúncio de que o Ministério Público Federal (MPF) acionou Valdemiro Santiago e o Ministério da Saúde a respeito da falsa cura.
Cinco meses depois, a Justiça determinou pela segunda vez que o Ministério da Saúde informasse se a semente vendida por Valdemiro cura a covid-19. A IMPD afirma em nota que a semente não é promessa de cura, “mas sim um início de um propósito com Deus”.
No dia seguinte, culto com o pastor Silas Malafaia em Curitiba também recebeu denúncias. Porém, a equipe da Polícia Militar verificou que o local estava com menos da metade da capacidade ocupada. O MP notificou a igreja e pediu explicações sobre autorização para realização do evento.
Respostas de religiosos ao pronunciamento de Lula
Tanto o Pastor Silas Malafaia quanto o Apóstolo Valdemiro Santiago reagiram ao discurso de Lula. As principais críticas dos religiosos é de que Lula fez generalizações. O pastor assembleiano respondeu em vídeo que o ex-presidente teria feito uma “acusação leviana” ao atribuir às igrejas aumento de número de mortes por covid-19. Malafaia afirmou que as igrejas estão sujeitas às normas sanitárias assim como estabelecimentos comerciais, o que é verdade. Ele também afirmou que a resposta para charlatanismo como venda de curas para covid-19 está no código penal e que esse tipo de postura “não representa nem 1% da igreja evangélica no Brasil”.
Ambos aproveitaram para criticar escândalos de corrupção ocorridos nos governos petistas. Malafaia afirmou que Lula e Dilma são responsáveis por mortes ao usar dinheiro para corrupção quando poderiam ter investido em saúde e educação. Já Santiago, entre outras críticas e acusações, citou que há dois anos o atual Governo não tem escândalos de corrupção.
Voz da Verdade
O pastor José Luiz Moisés, do Ministério Voz da Verdade, repercutiu o discurso de Lula e desinformação sobre lockdown em uma pregação transmitida em 11 de março, que viralizou nas redes sociais e em portais cristãos como Gospel Prime.
Na ocasião, além de criticar a fala do ex-presidente, o pastor se posicionou contra o fechamento de igrejas no pico da pandemia, como determinou o governador do estado de São Paulo João Dória, e afirmou que não há comprovação científica para o lockdown (recolhimento da população em suas casas e restrição de circulação em espaços públicos), pois supostamente “em Nova York a maioria em isolamento pegou”. O pastor ainda comparou o lockdown ao nazismo.
Lockdown é medida recomendada em situações de colapso
A afirmação sobre Nova York é enganosa, mas vem sendo reproduzida para sustentar a mentira de que medidas de isolamento social não funcionam para combater o novo coronavírus, como demonstra a agência de checagem Aos Fatos. O dado foi retirado de uma entrevista com o governador de Nova Iorque Andrew M. Cuomo em maio de 2020, que levava em consideração uma pesquisa realizada com 1.289 pacientes que foram internados ao longo de três dias em 113 hospitais de Nova York. Segundo a pesquisa, 84% das pessoas estavam evitando sair de casa antes de serem infectadas. Isso não significa, no entanto, que foram infectadas em casa. Na ocasião, o estado de Nova York adotava medidas de lockdown que se mostraram eficazes no combate ao novo coronavírus. O governador explicou que, mesmo assim, era importante que as pessoas, além de permanecer em casa quando pudessem, utilizassem medidas de prevenção como usar a máscara e higienizar as mãos quando tivessem que sair de casa, como explica em um outro trecho da entrevista:
“[Essa pesquisa] reforça aquilo que a gente vinha falando, que muito depende de como você se protege. Tudo está fechado. O governo fez tudo o que podia. A sociedade fez tudo o que podia. Agora cabe a você. Você está usando uma máscara? Você está fazendo a higiene das mãos? Se você tem pessoas mais jovens que o visitam, estão saindo por aí e podem ser menos diligentes com o distanciamento social, vocês estão se mantendo afastados das pessoas mais velhas?”
Andrew M. Cuomo, governador de Nova York
Segundo a reconhecida instituição Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil enfrenta o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, visto que em 17 de março de 2021, 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%.
O lockdown é uma estratégia a ser considerada em situações mais críticas e medidas de distanciamento físico e social, além do uso de máscaras em larga escala e aceleração da vacinação, são indispensáveis. O boletim da Fiocruz ainda elogia as medidas de lockdown adotadas em Araraquara:
“As medidas restritivas de isolamento social adotadas pela Prefeitura em fevereiro, incluindo o bloqueio ou lockdown, deram resultado e fizeram cair, ao menos preliminarmente, o número de novos casos confirmados de Covid-19 e a média móvel diária neste início de março. Entre 21 de fevereiro e 10 de março (17 dias), a média móvel diária de novos casos de Covid-19 caiu de 189,57 para 108, uma redução de 43,02%.”
Boletim da Fiocruz
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Bereia conclui que é enganoso que o ex-presidente Lula tenha culpado as igrejas pelas mortes na pandemia. Em seu discurso, o líder político criticou grupos que desrespeitam as medidas preventivas contra a contaminação, reconheceu que as igrejas deveriam orientar as pessoas sobre a pandemia e não promover supostas curas e cultos fora das determinações sanitárias (“cheio de gente sem máscaras”). As referências indiretas que o ex-presidente fez em seu pronunciamento a respeito da venda de sementes para cura para covid-19 e cultos aglomerados sem máscaras de fato ocorreram, inclusive tiveram punições da justiça. Além disso, as críticas do Pastor José Luiz Moisés às políticas de lockdown são enganosas. Os dados sobre Nova York não significam que pessoas foram infectadas em casa. De acordo com a Fiocruz, o lockdown é medida indicada para situação de colapso em conjunto com outras atitudes como uso de máscaras e distanciamento social. A eficácia da medida foi destacada pela entidade científica ao abordar o exemplo de Araraquara (SP).
A Campanha da Fraternidade que, em 2021, é ecumênica tem sido alvo de desinformação e ataques de grupos católicos fundamentalistas nos últimos dias. Os ataques têm como vítima principal a pastora luterana, secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) Romi Márcia Bencke, que está à frente da realização da campanha 2021. A pastora admitiu ter sofrido agressões pelas mídias sociais, o que tem gerado, inclusive denúncias judiciais.
Romi Bencke acredita que a campanha de difamação contra ela também tenha motivação para além da religião. “Avalio que esses ataques têm muita relação com o pedido de impeachment que a gente protocolou na Câmara algumas semanas atrás”, diz a secretária-geral do CONIC. Ela foi uma das lideranças religiosas que esteve em Brasília para protocolar o documento que pede o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), assinado por um grupo de 380 líderes católicos e evangélicos.
O que é a Campanha da Fraternidade Ecumênica?
A Campanha da Fraternidade ocorre no cerne da Igreja Católica do Brasil há mais de 50 anos, sob responsabilidade da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Desde os anos 2000 a campanha é realizada de forma ecumênica, a cada cinco anos, e conduzida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), reunindo diversas denominações cristãs e movimentos.
A campanha de 2021 tem como tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, com o objetivo principal: “Através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo, convidar comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual”.
Em 2021, participam da campanha, organizada pelo CONIC, a Igreja Católica Apostólica Romana, por meio da CNBB; Aliança de Batistas no Brasil; Igreja Episcopal Anglicana; Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Presbiteriana Unida; Sirian Ortodoxa de Antioquia; Igreja Betesda (igreja convidada); e CESEEP, organismo ecumênico. O Papa Francisco enviou uma mensagem em apoio à CFE 2021 bem o secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas.
Desinformação sobre a CFE e ataques à coordenação
Entre os vários conteúdos de ataque à CFE 2021 e à coordenação da Pastora Romi Bencke e da CNBB, está um vídeos de grande repercussão, publicado pelo pregador e influenciador católico Anderson Reis. As declarações de Anderson Reis em seu canal do Youtube disseminam desinformação sobre o tema.
Os ataques à pastora Romi Márcia Bencke e à CNBB se baseiam em afirmações falsas. No vídeo, o autor afirma:
“Essa pastora é a favor do aborto, feminista e a favor da ideologia de gênero. Isso é uma agenda que vem sendo imposta para nós e depois dessa pandemia avançou com uma velocidade supersônica. E o dever da igreja que deveria ser uma resistência profunda contra essas trevas do quinto dos infernos está permitindo no Brasil um documento cuja alma desse documento é a favor de tudo isso”
Anderson Reis
“Essa pastora é a favor do aborto” diz o influenciador aos 0:43 segundos do vídeo. Anderson Reis realiza aqui prática comum na desinformação, que é mudar o contexto de declarações e favorecer interpretações rasas do conteúdo.
A pastora Romi Márcia Bencke, registra sua posição sobre o tema no artigo para a Open Society Foundation: é a favor da legalização do aborto, o que diz respeito a uma posição distinta de ser a favor do aborto.
A legalização do aborto é a existência de uma legislação que ampare a mulher que opte por abortar. Envolve acompanhamento psicológico das gestantes, condições específicas para seu cumprimento, e tem um papel relevante no combate às clínicas clandestinas.
Um estudo publicado em 2013, por Karla Ferraz dos Anjos, Vanessa Cruz Santos, Raquel Souzas e Benedito Gonçalves Eugênio, expõe a realidade das mulheres que realizam abortos clandestinos: tem maiores taxas de mortalidade, se encontram desamparadas e geram custos sociais e econômicos para os sistemas de saúde do país. Outro estudo, de Wendell Ferrari e Simone Peres, mostra como a falta de amparo leva a tomadas de decisão trágicas entre jovens que recorrem ao aborto clandestino.
Desta forma, ser a favor da legalização do aborto é se colocar contra o aborto clandestino, e não a favor de que se aborte. A questão é recorrente em debates feministas e busca esclarecer essa diferença primordial entre o direito a se tomar uma atitude e o apoio à atitude.
“O aborto não é um tema bíblico. Como apontou a Pra. Lusmarina Campos Garcia em audiência ao STF existem apenas dois textos no Primeiro Testamento que fazem referência à prática do aborto. O primeiro, em Êxodo 21:22- 23, determina que se uma mulher, por estar envolvida na briga entre o seu marido e outro homem, for ferida e abortar, o agressor deve pagar uma indenização para o marido. Isto significa que, à época, a perda do feto em decorrência de uma agressão sofrida não era considerada grave e passível de penalidade maior, uma vez que o feto não era considerado um “ser vivo”, diz a pastora Romi Bencke no seu artigo.
A segunda situação é ainda mais marcante: “Números 5:11-34, que relata um aborto ritual praticado pelo sacerdote. Se a mulher abortasse estava comprovado que ela tinha sido infiel e o marido podia puni-la, inclusive com a morte por apedrejamento. Ressalte-se que a punição era por causa da infidelidade e não por causa do aborto realizado”, conclui a pastora, destacando que o debate em torno do aborto comumente se pauta pelo mandamento “não matarás”. “Como pode-se ver, não era considerado vida”, conclui.
Anderson Reis usou de um conteúdo descontextualizado em relação à pastora Romi Bencke para agredi-la, atacando também a CFE.
O fantasma da ideologia de gênero
Anderson Reis também acusa a CFE 2021 de ser a favor da falaciosa “ideologia de gênero”. Ao acessar o texto base da campanha, Bereia verificou que a palavra “gênero” aparece três vezes no documento, nos itens 67 e 125, destacando a questão da violência contra a mulher:
“Os dados nos mostram quem são as pessoas atingidas pelo sistema de violência. As mulheres, em especial as negras e indígenas, são impactadas em todas as dimensões da sua existência. Observar esta realidade evidencia a necessidade de se discutir as questões de gênero, não se limitando à igualdade entre os sexos, mas, compreendendo que a libertação das mulheres da situação histórica de opressão passa pela discussão da propriedade privada, da divisão sexual do trabalho, da laicidade do Estado e da Teologia quando impõe um patriarcado como modelo divino de hierarquia social. Além disso, é importante salientar que as relações sociais de classe, de gênero, de raça, de etnia estão historicamente interligadas.”
“(…) Efésios (2,1-10) alerta para a necessidade premente de se aceitar plenamente as pessoas, que são diferentes, e ver nas diferenças a riqueza do corpo de Cristo. Não é possível estar com Deus e, ao mesmo tempo, discriminar e desrespeitar as outras pessoas por causa das suas diferenças étnicas, religiosas ou de gênero.”
Texto-base da CFE
O texto também se manifesta contra a violência contra pessoas LGBTQI+ no item 68:
“Outro grupo social que sofre as consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos, é a população LGBTQI+. O já citado Atlas da Violência de 2020, mostra que o número de denúncias de violências sofridas pela população LGBTQI+ registradas no Dique 100 no ano de 2018 foi de 1685 casos. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia apresentados no Atlas da Violência 2020, no ano de 2018, 420 pessoas LGBTQI+ foram assassinadas, destas 164 eram pessoas trans. Percebe-se que em 2011 foram registrados 5 homicídios de pessoas LGBTQI+. Seis anos depois, em 2017, este número aumentou para 193 casos. O aumento no número de homicídio de pessoas LGBTQI+, entre 2016 e 2017, foi de 127%. Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis.”
Texto-base da CFE
A defesa da vida de mulheres e da população LGBTQI+ é relacionada, pelo influenciador católico, como uma “ideologia” em sentido negativo, sendo, portanto, desqualificada.
Bereia já publicou em verificação anterior sobre o fantasma da “ideologia de gênero”, termo falacioso que é objeto de muita desinformação, especialmente entre grupos religiosos. Como demonstra a matéria, líderes políticos e outros grupos de tendência conservadora têm se apropriado dessa pauta para ganhar adesão política, por meio de pânico moral
Consultada por Bereia, a coordenadora nacional do movimento Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG) professora Valéria Vilhena explica que não existe e nunca existiu uma “ideologia de gênero”. “Essa narrativa foi construída para se opor aos direitos da mulher e da população LGBT. Eles constroem esse discurso para mais uma vez se posicionarem e reforçarem a negação da dignidade humana. Essa é a questão. Porque não existe uma “ideologia de gênero” – algo que se referem como uma “crença”, uma crença que se impõe para destruir a família (…) O que há é a construção de uma narrativa se utilizando do conceito “gênero” que vem dos estudos de gênero, mas que não tem nada a ver com o que dizem”, declara.
Texto-base não foi redigido por uma só pessoa
Outra acusação de Anderson Reis, no vídeo que circula nas mídias sociais, é que o texto-base da CFE 2021 é de autoria de uma só pessoa, não tendo a participação da CNBB.
“A redação do Texto-Base foi resultado de um processo coletivo de construção, que iniciou no final de 2019. Teve participação direta de pessoas de diferentes áreas do conhecimento, em especial, sociologia, ciência política e teologia. A parte bíblica do Texto contou com a colaboração de biblistas de diferentes igrejas cristãs. Todas pessoas com profundo conhecimento bíblico. Depois de escrito, o Texto-Base foi amplamente discutido por uma Comissão Ecumênica formada por 8 pessoas, sendo 6 indicadas oficialmente pelas igrejas-membro do CONIC, uma igreja convidada e um organismo ecumênico.”
Nota do CONIC
A CNBB publicou nota em que ressalta que a CFE é marca e riqueza da Igreja Católica no Brasil e diz que lhe cabe “cuidar dela, melhorá-la sempre mais por meio do diálogo, assim como nos cabe cuidar da causa ecumênica, um ideal que se nos impõe”.
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Bereia conclui que as informações do vídeo sobre a CFE são enganosas e buscam gerar pânico moral em torno dos temas do aborto e do fantasma da “ideologia de gênero”. O texto-base da campanha, na verdade, defende o fim da violência contra mulheres e pessoas LGBTQI+.
A Campanha da Fraternidade ocorre desde 1964 e tem como objetivo promover a união entre pessoas de diversas manifestações de fé, tendo apoio do próprio Papa Francisco e de outros líderes religiosos mundiais.
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Matéria atualizada em 11 de março de 2021 às 9h14 para correção de dado sobre ano de início da CFE.
* Investigado por Luciana Petersen, do Coletivo Bereia, em parceria com Estadão e Marco Zero Conteúdo. Verificado por Jornal do Commercio, Band News FM e Rádio Noroeste.Publicado originalmente no Comprova.
É enganoso um vídeo publicado no Facebook que sugere que uma idosa morreu após ser vacinada contra a covid-19. A postagem usa somente um trecho de uma reportagem, veiculada na TV Record em 2018, com a legenda “mulher morre imediatamente depois da vacina”. A matéria trata da morte de uma mulher de 71 anos por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), naquele mesmo ano (e antes do surgimento da covid-19), na cidade de Goiânia (GO).
O vídeo que viralizou nesta semana corta propositalmente os trechos em que as palavras “gripe” e “H1N1” são mencionadas.
A matéria original foi veiculada em 18 de abril de 2018, e em determinado momento da reportagem, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo de óbito não indica relação entre a morte da idosa e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse à equipe de TV. Em outra reportagem, um membro da família também descarta a correlação.
Como verificamos?
Analisando o vídeo, notamos que as pessoas não utilizam máscara na rua nem no posto de saúde, dando a impressão de que se trata de um material antigo. Para verificar a data do vídeo, o Comprova foi atrás do conteúdo original e de outras notícias que tratassem sobre o mesmo caso.
Algumas informações disponíveis no vídeo são o sobrenome da vítima, “Batista da Silva”, narrado pelo jornalista no começo do vídeo, e o bairro “Ville de France”, que também aparece na placa do posto de saúde.
Ao buscar no Google os termos “batista da silva ville de france”, o Comprova encontrou uma notícia do Jornal Opção de 19 de abril de 2018 como quinto resultado.
Na notícia, conseguimos mais informações sobre o caso, como o nome completo, “Maria Batista da Silva”, a data e a informação de que o óbito teria ocorrido após a vacinação contra H1N1.
Outra informação disponível no vídeo é a tarja animada da matéria, em azul na parte inferior do vídeo: “Outra mulher morreu depois de tomar vacina”. Procurando pela frase no YouTube, o primeiro resultado é o vídeo completo no canal da Record TV Goiás.
Vídeo editado
Nota-se que o vídeo original tem 4:40 minutos de duração, e o que viralizou, 2:47 minutos. Comparando as duas versões, notamos que o vídeo foi editado para excluir referências à vacina contra H1N1 e informações sobre o laudo de óbito de Maria Batista da Silva, que indica morte por infarto.
O Comprova ainda entrou em contato com a autora da postagem por meio do Messenger do Facebook, mas não obteve retorno.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de fevereiro de 2020.
Verificação
A reportagem original foi exibida pela Record TV Goiás em 18 de abril de 2018, e está disponível no canal da emissora no YouTube. A matéria trata da morte de Maria Batista da Silva, aos 71 anos, por infarto, após a vacinação contra a gripe Influenza A (H1N1), em 2018. Não há, portanto, relação com a vacina contra o coronavírus, como tenta indicar o vídeo que viraliza no Facebook.
Em reportagem do jornal O Popular, de 20 de abril de 2018, o filho de Maria Batista da Silva, Paulo Henrique da Silva, afirmou que não associava a morte da mãe ao fato dela ter tomado o imunizante. Segundo ele, a mãe se vacinava todos os anos e não apresentava reações. “A vacina é de extrema importância”, afirmou na época.
No vídeo completo da TV Record, a então coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Grécia Pessoni, ressalta que o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) não indica relação entre a morte de Maria Batista da Silva e a vacina contra a gripe. “A suspeita é de um infarto agudo do miocárdio”, disse.
Por que investigamos?
Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida.
Compartilhamentos como este visam desacreditar a vacinação ao redor do mundo, colocando em xeque a eficácia das vacinas, cientificamente comprovadas no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, a conta que publicou o vídeo fora de contexto teve mais de 43 mil compartilhamentos de uma única postagem.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
O portal Gospel Prime publicou, em 08 de dezembro, a matéria “EUA: Supostas malas secretas de cédulas foram encontradas na Geórgia”. O texto afirma que “Um vídeo sobre a eleição presidencial no condado de Fulton, na Geórgia, que mostram imagens da câmera de vigilância de funcionários eleitorais, ao que tudo indica carregando em segredo milhares de votos misteriosos, está sendo usado pela defesa de Donald Trump sobre possíveis fraudes eleitorais.”
O vídeo em questão foi compartilhado no canal do YouTube do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, derrotado para reeleição ao cargo em pleito de novembro passado. Trata-se de um trecho recortado de um vídeo maior que exibe uma pessoa que atuou no processo de apuração de votos retirando objetos debaixo de uma mesa.
Segundo nota publicada pelo investigador-chefe da secretaria de estado da Geórgia Frances Watson, o vídeo não mostra qualquer irregularidade. Ele afirma ter assistido o vídeo inteiro, não apenas o trecho viralizado, e concluiu que a apuração ocorreu de acordo com as normas. Ele afirma que não foram trazidas maletas misteriosas com votos e escondidas embaixo da mesa, como alguns têm noticiado. O que aconteceu foi que os fiscais guardaram maletas com votos que não tinham sido contados embaixo de uma mesa, para abrirem mais tarde e retomarem a contagem de votos, cena que foi foi mostrada no vídeo.
Como funciona a contagem na Geórgia
O estado americano da Geórgia passou por uma recontagem de votos no dia 1 de dezembro, a pedido do candidato perdedor, Donald Trump, finalizada às 8h30 da manhã, com resultado compatível com o das eleições regulares. No processo de votação, os cidadãos do estado se dirigem a uma urna eletrônica, digitam seu voto, e a urna imprime um papel confirmando o voto. Os eleitores depois se dirigem até um local para validarem o voto: confirmam, por meio de biometria e da assinatura manual, que concordam com o que está escrito no voto impresso. O voto impresso é então inserido nas urnas (os “ballotts”) e esse voto impresso é contado depois manualmente.
O primeiro era um pedido de recontagem. Segundo Wood, os membros do Partido Democrata haviam firmado um acordo com o Secretário de Estado da Georgia Brad Raffensperger, que os beneficiaram. A informação, no entanto, era falsa, como verificado pelo jornal The New York Times. A denúncia era uma mentira (fake news) disseminada pelo presidente Trump em seu perfil no Twitter. O juiz Grimberg rejeitou as denúncias classificando-as como “sem base”.
O segundo processo é o que está relacionado ao vídeo publicado pelo Gospel Prime no Brasil: o Processo Kraken, que conta com os advogados Sidney Powell e Lin Wood novamente como autores, e foi impetrado. O texto apresentava uma teoria conspiracionista na qual votos do candidato Donald Trump não teriam sido levados em conta, como vídeo em questão indicado como prova. O processo pedia anulação de todos os votos enviados por correio mas foi negado pelo juiz Timothy Batten no dia 7 de dezembro. No dia seguinte, Powell apelou para a Suprema Corte.
O terceiro processo, o Trump/David Shaffer Suit (Processo de Trump/David Shaffer) fez alegações similares às do Processo Kraken, porém sem apelar para teorias conspiracionistas. Diferente deste, porém, não apresenta nenhuma evidência pública das alegações que faz. Outra diferença é na jurisdição do processo – os dois primeiros foram registrados em esfera federal, enquanto o último, em esfera estadual. O distrito da comarca, Fulton County, é o mesmo dos vídeos já desmentidos.
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O Coletivo Bereia conclui que a matéria do site Gospel Prime é falsa. Nenhuma das malas no vídeo é uma “mala secreta”: o vídeo expressa um dia normal de apuração. O processo apresentado no vídeo foi revisado integralmente por duas cortes, que confirmaram que o conteúdo do vídeo representa uma apuração cotidiana, e não apresenta irregularidades. O veículo gospel brasileiro torna-se reprodutor dessa disseminação de fake news, alinhada com os últimos processos levantados pela defesa de Donald Trump que visam mobilizar a opinião pública favoravelmente, para pressionar os juízes a seu favor. Até então, tudo sem sucesso.
Em 13 de julho, o presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, publicou, em seu perfil no Twitter, um vídeo ao lado do pastor da igreja pentecostal Assembleia de Deus e deputado federal pelo Rio de Janeiro, Otoni de Paula (PSC/RJ). Na legenda, ele inseriu: “Deputado Federal Otoni de Paula. Grande guerreiro de Cristo. Tenho orgulho de ser seu amigo. Pensando o Rio de Janeiro e o Brasil”.
Com mais de 24 mil visualizações até a redação desta matéria, o vídeo apresenta Otoni de Paula enaltecendo Roberto Jefferson:
Sempre foi sinônimo de austeridade e acima de tudo sempre foi sinônimo de responsabilidade. Roberto Jefferson sempre assumiu no peito os seus acertos e erros e hoje tem moral para ensinar a minha geração qual o caminho que nós temos que trilhar, porque já passou por lá e pode hoje dizer: esse é o caminho correto. Por isso, como eu faço parte dessa nova geração de políticos no Brasil, nada melhor do que estar diante do nosso mestre
Otoni de Paula, na gravação de 46 segundos publicada.
No último dia 14 de julho, Otoni de Paula foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal pelos supostos crimes de difamação, injúria e coação de vídeos com ataques e ofensas ao ministro Alexandre Moraes, do STF. Na denúncia, a PGR afirma que o deputado fez duas transmissões ao vivo pela internet, nos dias 16 de junho e 5 de julho, nas quais “imputou fatos afrontosos à reputação do ministro [do STF] Alexandre de Moraes”, além de ofender a dignidade do ministro. No vídeo, o deputado chama o ministro de “lixo”, “tirano” e “canalha”, entre outras ofensas. Na ocasião, o deputado era um dos vice-líderes do governo Bolsonaro. Os fatos são investigados no inquérito que apura ataques às instituições.
A denúncia será analisada pelo tribunal e, se aceita, o deputado se tornará réu em uma ação penal. Em mensagem publicada em mídias sociais, no mesmo dia 14 de julho, o parlamentar afirmou que ainda não tinha conhecimento sobre a denúncia feita pela PGR. “Ainda não conheço o teor das denúncias da PGR contra mim, mas uma coisa prometo, lutarei até o fim contra a tirania da toga”. Nas gravações, o deputado criticou Moraes por ter libertado o blogueiro Oswaldo Eustáquio, mas proibindo-o de usar as redes sociais digitais.
Segundo a matéria do Bereia, entre as alianças religiosas de Jefferson está o ex-deputado Carlos Rodrigues, ex-bispo da Igreja Universal, um dos operadores do “Mensalão”, acusado de comandar a cobrança de uma mesada de R$10 mil a R$15 mil de todos os deputados federais e estaduais do país ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, através do esquema chamado “Dízimo do Legislativo”.
Jefferson: de volta à cena via bolsonarismo
Desaparecido da cena política desde sua prisão, em 2005, Roberto Jefferson voltou a ganhar destaque na mídia quando o presidente Jair Bolsonaro, neste 2020, em crise na relação com o Congresso Nacional, e na iminência de sofrer um processo de impeachment, recorreu ao apoio do Centrão, que tem o presidente do PTB como um dos líderes. Apoiador de Bolsonaro, Jefferson já havia atuado em 1992 como líder da “tropa de choque” que tentou impedir o impeachment do então presidente Fernando Collor.
No final de abril de 2020, Jefferson reapareceu como aliado do governo Bolsonaro com críticas ao STF. Em postagem no Twitter, em 9 de maio, ele pedia ao presidente “para atender o povo e tomar as rédeas do governo”.
Na decisão que determinou a busca e apreensão nas casas do ex-deputado, o ministro Alexandre de Moraes determinou a apreensão de armas e também mandou bloquear as mídias sociais do ex-parlamentar e afirmou que há indícios da prática de sete crimes. Os agentes da PF realizaram buscas em dois endereços do ex-deputado federal, um na cidade de Comendador Levy Gasparian e outro em Petrópolis, ambas no Rio de Janeiro.
Ainda segundo conteúdo do Bereia, após a Operação, o partido de Jefferson, o PTB, que declarou apoio a Bolsonaro em 2018, em nota, se pronunciou à Nação brasileira: “Não vamos permitir que ministros do STF calem o Presidente”, fazendo menção a Roberto Jefferson.
Em apoio ao pai, a deputada Cristiane Brasil (PTB/RJ), que não conseguiu se reeleger depois de ser investigada, em 2018, por envolvimento em fraudes no Ministério do Trabalho, participou das manifestações pró-Jair Bolsonaro no dia 31 de maio.
Em matéria publicada pela Folha de S. Paulo, em 21 de abril, o jornalista Fábio Zanini apresentou a nova “roupagem bolsonarista” de Jefferson, salientada a partir de 19 de abril, em uma transmissão pela internet em que o ex-deputado federal criticou o congresso, tendo como alvo principal o presidente da Câmara Rodrigo Maia, por supostamente articular o esvaziamento dos poderes presidenciais.
A live, conduzida pelo jornalista Oswaldo Eustáquio, preso pelo mesmo inquérito das fake news contra o STF, até o momento da redação desta matéria contabilizava mais de 2,1 milhões de visualizações, tendo sido compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro e diversos integrantes de sua base de ativistas digitais.
Na transmissão, Jefferson denunciou um suposto golpe que estaria sendo arquitetado com a participação de governadores e líderes para aprovar o impeachment de Bolsonaro ou instituir um parlamentarismo branco. O mesmo tom seguiu se repetindo nas redes sociais e demais entrevistas.
À Folha, ele afirmou que uma tentativa de tirar Bolsonaro da Presidência poderia gerar violência. “Está chegando um momento de radicalização. A pressão é tão grande que se tentarem, num movimento de rua, sustentar um pedido de impeachment, vão ter que enfrentar a turma do Bolsonaro. E aí o pau vai cantar. Quando você enfrenta a força, você tem que opor a força a ela. Não tem saída”, declarou. Ainda segundo a publicação, desde o agravamento da pandemia do novo coronavírus, o presidente nacional do PTB tem demonstrado apoio a Jair Bolsonaro. Seria, de acordo com Jefferson, em razão de ambos partilharem dos mesmos valores. “Eu não tenho proximidade pessoal com o Bolsonaro. Eu tenho as mesmas convicções. Ele empunha a bandeira dos ideais que eu sustento”, disse à Folha de S. Paulo, que afirma que a aliança, para além do cenário nacional, ainda coincide com o da política carioca.
Neste 21 de julho, Roberto Jefferson voltou à cena nas mídias sociais. Em uma live, transmitida pelo canal do Youtube “Questione-se”, o apoiador do governo Bolsonaro, quando entrevistado por um blogueiro, o presidente nacional do PTB fez comentários homofóbicos contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nas declarações, o político diz que dois magistrados “são sodomitas” e que “usam saia pela opção sexual”.
“Tem dois ministros lá que tem esses gostos (…) tem dois ministros que são meninas. Tem ministros de rabo preso e dois de rabo solto, conhecidos. Um é o (sic) Carmen Miranda, e o outro é Lulu boca de veludo (…) e eles querem fazer pauta de gênero, porque eles ainda não encontraram o deles (…) tem dois sodomitas ministros”, afirmou Roberto Jefferson. Em um determinado momento da live, o ex-deputado afirma que seria vergonhoso que dois ministros assumissem que “são enrab… por um negão”.
O jurista Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, manifestou-se sobre a live de Roberto Jefferson. “O desrespeito, a agressão e a calúnia aos ministros do Supremo Tribunal Federal, no contexto em que foram proferidos e veiculados, são claras tentativas de desgaste do próprio Tribunal que integram, e, assim, de 1 dos mais importantes pilares do Estado de Direito. A reação tem que ser firme, rápida, contundente e pedagógica”, afirmou.
Otoni de Paula: fidelidade ao bolsonarismo
O vídeo em que Otoni de Paula exalta Roberto Jefferson foi produzido por conta do contexto eleitoral em que o país está se inserindo. Definido o calendário da realização das eleições municipais para o final do ano, partidos e candidatos começam a se manifestar publicamente com articulações para candidaturas.
O deputado federal Otoni de Paula, filho do famoso e histórico cantor evangélico, da Assembleia de Deus, Ozeias de Paula, estreou na política institucional como vereador pelo PSC do Rio de Janeiro, de 2017 a 2018. Em 2018 foi eleito deputado federal pelo mesmo partido, na aliança com o PSL de Jair Bolsonaro, que elegeu o governador Wilson Witzel. Otoni de Paula logo se tornou um dos vice-líderes do governo federal na Câmara.
O pastor evangélico e deputado federal produziu o vídeo exaltando o presidente do PTB, Roberto Jefferson, neste mês de julho, no contexto em que foi convidado a se filiar ao partido. No acordo, ele apoiará a candidatura da ex-deputada federal Cristiane Brasil, filha de Jefferson, à prefeitura. Por outro lado, ele terá o apoio do PTB para disputar o governo do Rio de Janeiro em 2022.
Saiu uma matéria no site O Antagonista e em alguns veículos de comunicação dando conta da minha filiação ao PTB, de Roberto Jefferson, o grande guerreiro Roberto Jefferson. Bem, queria esclarecer algo muito importante. Eu tive a honra de sentar com o deputado Roberto Jefferson, tive a honra de ter uma longa conversa com esse grande patriota, antes desse dia, na semana passada, eu não tinha tido nenhum contato pessoal com o Roberto Jefferson. Nunca tinha tido antes. Mas, resolvi me aproximar de Roberto Jefferson por conta da sua brilhante defesa à pátria brasileira e sua brilhante defesa ao presidente Bolsonaro. E eu disse que quem defende o meu amigo, meu amigo passa a ser. Realmente nós estamos construindo uma boa amizade que queremos que transcenda as questões políticas. Roberto Jefferson sempre foi um sujeito homem, e eu gosto de sujeitos corajosos, que assumem os seus acertos e assumem os seus erros também. Por isso é que eu não tenho vergonha nenhuma, nenhuma, nenhuma de estar ao lado de Roberto Jefferson, porque tem se demonstrado um grande patriota. E os erros que ele cometeu lá atrás ele pagou por todos eles e, graças a ele, nós começamos a quebrar o império do PT no Brasil. Bem, portanto, nós conversamos sim, conversamos sobre uma possível ida nossa para o PTB. Recebi esse convite do próprio Roberto Jefferson, que disse que o PTB está aberto para que eu me candidate para 2022 ao governo do estado do Rio de Janeiro ou ao senado federal, já que estamos em uma batalha imensa lá em Brasília e também outra aqui no estado do Rio de Janeiro. Contudo, é bom que fique claro que eu ainda estou no PSC, eu ainda estou filiado no PSC e eu só poderia sair hoje do PSC através de um acordo que dificilmente haverá ou através do TSE, me liberando, liberando a minha saída do PSC. Do contrário eu corro o risco de perder o meu mandato e, ao perder o mandato, eu perco o meu maior patrimônio, a minha voz, em poder estar cerrando fileiras ao lado do Brasil, pela nossa pátria amada Brasil. Portanto, me senti muito honrado, mas muito honrado mesmo por esse convite do Roberto Jefferson, da sua filha Cristiane Brasil. Porém, ainda continuo filiado no PSC, ok? Só para colocar claro tudo isso para todos vocês. O convite para vir para o governo do Rio de Janeiro pelo PTB, o convite de poder decidir se em 2022 vamos vir governador ou senador pelo PTB muito nos honrou. Agora, quem vai decidir isso, se eu serei candidato a governador do Rio de Janeiro ou se eu serei candidato ao Senado Federal é o povo da minha terra, é o povo do meu Rio de Janeiro. São eles. Caso eu perceba que não há essa vontade do povo que a gente venha ao governo do estado ou ao Senado Federal , que a única casa que pode mudar isso que está acontecendo o STF , então nós vamos colocar o nosso nome novamente à disposição da população do Rio de Janeiro para uma reeleição a deputado federal se essa for a vontade do papai do céu. Porque o dia do amanhã só pertence a Deus. Estamos vivos agora, hoje, nesse momento, não sabemos se estaremos vivos amanhã. Mas, se estivermos, e se estivermos com saúde, não vamos recuar da batalha porque não nos faltará a coragem de continuar lutando pelo nosso Brasil. Um abraço ao presidente Roberto Jefferson, à Cristiane Brasil. Obrigado pelo convite que muito me honrou. Estar no PTB, quem sabe, de acordo com a vontade de Deus, será uma honra muito grande. Mas isso está na vontade de Deus porque eu ainda estou filiado ao PSC. Um abraço a todos. Esclarecido? É sempre assim, é olho no olho. Eu falando com você e você falando comigo. Quem puder compartilhar, compartilha. Beijo no coração. Deus abençoe. Cheguei no Rio agora. Estou indo agora para Iguaba visitar minha querida Iguaba, a cidade praiana aqui no Rio de Janeiro. Mas não é para tomar banho de praia não, é para levantar a bandeira da direita conservadora lá na cidade de Iguaba, ao lado do meu amigo Juninho Negão. Júnior Negão, um abraço. Deus abençoe o Júnior Negão e Deus abençoe sua esposa Jéssica e toda a sua família. Estamos chegando aí na querida Iguaba. Um abraço, pessoal. Deus abençoe!”.
Deputado Otoni de Paula
O deputado, que rompeu com o PSC por conta de críticas ao governador Wilson Witzel, confirmou o convite e comentou a denúncia do MPF: “Aceitei o convite do PTB com a convicção de que essa ação é feita para me intimidar e intimidar protestos e manifestações populares. A mensagem é: ‘Se a gente faz isso com um deputado, que tem imunidade (parlamentar), imagina o que não podemos fazer com vocês’”.
O fracasso na criação do partido do presidente Jair Bolsonaro Aliança Pelo Brasil, com previsão atualizada para sair do papel apenas no fim de 2021, quase dois anos após o planejamento, fez com que muitos deputados bolsonaristas desistissem do projeto. Além de Otoni de Paula, festejado pela militância bolsonarista no evento de lançamento do Aliança, que irá para o PTB, os deputados Luiz Lima (RJ) e Coronel Chrisóstomo (RO) decidiram permanecer no PSL, enquanto Flávio e Carlos Bolsonaro foram para o Republicanos.
A debandada pode ser ainda maior: o PSL, partido que saiu do anonimato com o bolsonarismo, planeja uma reunião com todos os deputados e, diante da reaproximação com o Palácio do Planalto, tentará convencer mais bolsonaristas a não se desfiliarem. No grupo de WhatsApp do Aliança, 90% dos políticos que atuam para fundar a legenda estão, hoje, no PSL.
No Twitter, Otoni reclamou recentemente da postura moderada de Bolsonaro, que reatou pontes com Judiciário e Legislativo: “Estou tendo a sensação de que combinaram algo e não me avisaram. Fui chamado para uma guerra pela minha pátria, mas tô tendo a sensação de que há um acordo de paz com o inimigo, que eu não participei e não participaria”.
Já no dia 20 de julho de 2020, Otoni de Paula criticou o Ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, General Luiz Ramos, também evangélico (batista), dizendo que ele será o responsável por tornar Jair Bolsonaro refém do Centrão, liderado por Roberto Jefferson.
O inquérito do STF não é o primeiro envolvimento do deputado federal evangélico em investigações pela justiça. Em julho de 2018, três meses antes das eleições, Otoni de Paula publicou um vídeo convidando fiéis de sua igreja para comparecerem ao lançamento de sua pré-candidatura e passou a ser investigado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado. No vídeo, o pastor e candidato agradece a disposição de “alguns irmãos em alugar um ônibus” para levar fiéis ao evento. Na sequência do vídeo, Otoni pede “palmas para Jesus” e diz que “vivemos um momento de guerra por conta do golpe do impeachment contra o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. O pedido de impeachment de Crivella, também evangélico, havia sido processado por alguns vereadores por ter o prefeito oferecido vantagens a fiéis de sua igreja em um evento reservado a pastores na sede da prefeitura. Em outros vídeos, Otoni critica a atuação do juíz que mandou Crivella “parar de usar a prefeitura para favorecer seu grupo religioso”
Bereia classifica o conteúdo do vídeo do deputado federal pastor Otoni de Paula (PSC/RJ), publicado pelo presidente do PTB Roberto Jefferson, como material de campanha, com divulgação imprecisa da figura pública de Jefferson. Atributos como “sempre sinônimo de responsabilidade” e “moral para ensinar esta geração” não correspondem ao histórico do envolvimento do ex-deputado federal, que preside o PTB, com ilegalidades, culminando na atual investigação do seu papel como disseminador de fake news e de discurso de ódio, que é omitido na divulgação do deputado Otoni de Paula.
O site CPAD NEWS divulgou, em 3 de junho, matéria com o título “Brancos se ajoelham em oração pedindo perdão a negros por anos de racismo”. Segundo o site, ato ocorreu em 31 de maio no bairro Terceira Ala, na cidade de Houston, no Texas (EUA), durante protestos após a morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por policial branco em 25 de maio durante ação policial em Minneapolis (EUA).
O ato solidário contra o racismo reuniu um grupo de pessoas brancas, que ajoelhadas diante de pessoas negras, pedia perdão por anos de preconceito.
Além de sinal pela luta por justiça social, dobrar um dos joelhos faz referência à imagem de terror que mostra George Floyd sendo asfixiado por um policial. Floyd foi detido após o funcionário de uma mercearia chamar a polícia e acusar o homem de tentar pagar as compras com uma nota falsa de US$ 20.
Atos em protesto contra o racismo aconteceram em escala global após a morte de Floyd. Milhares de pessoas saíram às ruas para dizer
“basta de racismo, fascismo e violência policial”.
Houve manifestações pelo mundo. As mais numerosas aconteceram nos Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e na França. Em Paris, inclusive, um ato com mais de 15 mil pessoas também relembrou a morte do jovem francês Adama Traoré.
O Coletivo Bereia verificou as imagens e vídeos de ato de perdão e confirma a veracidade das informações destacando o conteúdo como VERDADEIRO.
Inúmeras manifestações, inclusive nas mídias sociais, continuam a protestar contra séculos de racismo. Bereia reafirma que a publicação de informação responsável é fundamental para reforçar e legitimar a luta social e evangélica em favor do direito à vida e à justiça de todos os negros e negras do Brasil e do mundo.
Publicado originalmente pela BBC News Brasil por Vinicius Lemos, em 15/05/2020*
O vídeo é angustiante: uma idosa deitada sobre uma maca de hospital respira com dificuldades. Ela usa máscara e não tem nenhum tipo de aparelho de ventilação mecânica para auxiliá-la. A mulher está dentro de um saco plástico, o mesmo utilizado para carregar corpos de pessoas mortas.
Desde a semana passada, a gravação viralizou. Inúmeros compartilhamentos do vídeo afirmam que se trata do caso de uma paciente idosa encaminhada ao necrotério. Segundo esses textos, que não possuem autoria clara, ela seria enterrada viva para inflar os números de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, no país.
A cena da idosa ofegante em uma maca tem se espalhado pelo mundo. Também fora do Brasil, o vídeo é acompanhado pela afirmação de que a paciente foi levada viva ao necrotério e foi resgatada pela própria família, que teria invadido o local.
A gravação tem sido compartilhada em outros países para ilustrar a situação do Brasil, que enfrenta o crescimento exponencial de casos e tem subido na lista de regiões do mundo com mais registros de covid-19 — os números atuais, divulgados n quinta-feira (14), mostram que o país tem mais de 202 mil casos confirmados e 14 mil mortes.
Algumas publicações dizem que o vídeo da idosa na maca foi gravado em Belém (PA). Outras, porém, afirmam que a filmagem é em um hospital de Manaus (AM), uma das primeiras regiões brasileiras a enfrentar colapso no sistema de saúde em razão da pandemia do coronavírus.
Em razão das polêmicas, o governo do Pará emitiu uma nota para informar que o vídeo foi gravado no distrito de Icoaraci, em Belém. As autoridades locais negam que a mulher estivesse em um necrotério. “Em nenhum momento a paciente foi encaminhada para o necrotério enquanto viva“, diz comunicado da Secretaria Estadual de Saúde do Pará. A divulgação do vídeo se tornou alvo de investigação policial.
As publicações que afirmam que a mulher foi encaminhada com vida para um necrotério são fake news. Elas têm viés negacionista em relação ao novo coronavírus, assim como outras notícias falsas que têm sido usadas para impor a ideia de que os números referentes à covid-19 no Brasil são inflados por autoridades — como histórias mentirosas sobre caixões enterrados vazios ou com pedras.
À espera de atendimento
As imagens da idosa, que não teve a identidade divulgada, foram feitas enquanto ela estava no setor de observação do Hospital Abelardo Santos. Conforme comunicado do Governo do Pará, a mulher esperava por um leito na unidade de saúde, que é referência no combate ao novo coronavírus no Estado.
O Pará tem registrado crescimento exponencial em casos do novo coronavírus. Até a quinta-feira (14) eram mais de 10,8 mil casos e 1.063 mortes. É o sexto Estado com mais casos e mortes no país.
Diante do aumento de registros no Estado, o Hospital Abelardo Santos, que até então era destinado a procedimentos de alta complexidade, passou a atender somente pacientes com o novo coronavírus. Profissionais da unidade relatam que o volume de pacientes se tornou muito grande desde então.
Dias antes do vídeo da idosa deitada na maca viralizar nas redes, um outro caso na mesma unidade de saúde repercutiu em todo o país: uma família abriu o caixão da parente que teria morrido e descobriu que o corpo era de outra pessoa. Mesmo com certidão de óbito, os familiares descobriram que a idosa, de 68 anos, permanecia viva no hospital Abelardo Santos, com suspeita de ter contraído o novo coronavírus. A mulher segue internada.
O caso da família que descobriu que enterraria um corpo desconhecido foi considerado um exemplo do colapso na saúde pública no Pará. A Secretaria de Saúde do Estado classificou a situação como uma consequência da falta de estrutura, em meio ao crescimento no número de doentes e mortos pelo novo coronavírus.
Diretor técnico do Hospital Abelardo Santos, o neurocirurgião Milton Bonny afirma à BBC News Brasil que a unidade de saúde enfrenta um grave problema de superlotação. “O Pará inteiro vem pra cá. No ambulatório é uma média de 1,2 mil pessoas. Era uma unidade de alta complexidade e, de repente, abriu para toda a população” diz.
Em meio à lotação do hospital, a idosa que aparece no vídeo que viralizou nas redes sociais estava à espera de um leito na sala vermelha da unidade de saúde.
Ela era uma paciente antiga da unidade de saúde, segundo Bonny. O neurocirurgião detalha que a idosa havia sido internada no local outras vezes, antes da pandemia. Ele conta que, em uma das internações, ela teve de amputar uma perna, em razão da diabetes.
Segundo a Direção da Santa Casa de Pacaembu, Organização Social em Saúde (OS) responsável pelo Abelardo Santos, a idosa deu entrada na unidade na noite de 4 de maio, em estado gravíssimo. Ela apresentava quadro de intensa falta de ar e fraqueza. A direção afirma que a paciente “recebeu assistência médica adequada pela equipe de plantão” logo que chegou.
O quadro dela foi considerado suspeito do novo coronavírus, em razão dos problemas respiratórios e do comprometimento nos pulmões, apontado por meio de tomografia. Os profissionais de saúde fizeram o teste RT-PCR, para identificar se ela havia sido infectada pelo vírus — o resultado ainda não ficou pronto. “Os exames são encaminhados para o Laboratório Central do Estado e têm demorado para chegar, pois são muitos casos“, diz Bonny.
Ao longo do dia 5 de maio, de acordo com a direção do hospital, o quadro de saúde da idosa se agravou enquanto aguardava internação. À espera de um leito, ela respirava com dificuldades, sem ventilação mecânica.
Segundo o diretor técnico do hospital, muitos pacientes precisam esperar por um leito na unidade de saúde, em razão da grande demanda no local.
Enquanto aguardava, foi colocada na maca, dentro de um saco que também é utilizado para levar cadáveres. “É um saco que pode ser usado para várias coisas e estava ali forrando a maca“, argumenta Bonny. O diretor justifica que o aparato iria ajudar a carregar a idosa para uma outra maca, em razão da fragilidade do estado de saúde dela.
“É uma prática comum em hospitais, ainda mais (em) épocas de pandemia ou epidemia, que mudam os nossos conceitos e precisamos fazer adaptações“, diz o diretor. Ele afirma que, em razão da grande demanda, são necessárias algumas alternativas mais rápidas no atendimento aos pacientes, como o uso do saco para a transferência entre macas — comumente, o procedimento é feito com um lençol.
A direção do hospital não informou por quanto tempo a idosa ficou sem respiradores, à espera de um leito. A nota emitida pela Organização Social em Saúde diz que a idosa, posteriormente, foi avaliada por dois médicos e encaminhada para a sala vermelha, que atende pacientes graves. Depois, não resistiu e morreu.
O vídeo
Após a morte da idosa, a direção do hospital foi informada sobre o vídeo que mostra a paciente à espera de atendimento. Para apurar os responsáveis pelo vazamento das imagens, o caso foi denunciado à polícia.
No entanto, posteriormente, segundo Bonny, uma filha, que acompanhava a idosa no hospital, disse ter sido a responsável pela filmagem.
“Ela contou que mandou aquele vídeo para o irmão ver como a mãe estava e não sabe como a gravação vazou para outros grupos de WhatsApp“, diz o diretor. Segundo ele, os familiares da paciente não sabem como surgiu a fake news de que ela foi levada viva para o necrotério. A reportagem não conseguiu contato com os parentes da idosa.
O diretor lamenta as notícias falsas que circularam no Brasil e em outros países. “Isso confundiu a população. Essa situação é muito chata“, comenta.
Em nota, representantes da OS que administra o Hospital Abelardo Santos lamentaram “a má utilização da imagem da paciente por pessoas que não respeitaram a dor da família“. A direção da unidade classificou a divulgação do vídeo como “uma atitude antiética, desumana e passível de punição penal”.
A Polícia Civil do Pará abriu inquérito para apurar o vazamento do vídeo e também para investigar os responsáveis pela fake news que afirma que a idosa foi levada viva para o necrotério. Os familiares dela e os profissionais de saúde envolvidos no atendimento à paciente devem ser ouvidos nos próximos dias.
Circula em grupos de WhatsApp um vídeo, gravado em 12 de maio de 2020, com imagens do centro comercial de Maringá, afirmando (segundo o narrador) que a cidade localizada no sul do país (Paraná) é um exemplo no combate ao coranavírus no Brasil. O homem que faz a gravação enquanto dirige, mostra as lojas da cidade abertas e pessoas e carros circulando pelas ruas.
A narração minimiza a ação da covid19 na cidade e diz que todas as pessoas usam máscara, todos os estabelecimentos oferecem álcool-gel para atender o público e, com isso, a cidade tem vida normal. O narrador anônimo afirma que o vídeo tem que “correr o mundo” para “o Doria vagabundo e esse Witzel, do Rio de Janeiro, outro vagabundo que fica fechando o comércio, aterrorizando a população” (sic). O homem completa dizendo que Maringá “tem vida normal e só teve seis mortes até agora desde quando começou o coronavírus” e que “não tem caso de morte em Maringá faz um mês já”. Ele admite que morreu uma pessoa na “semana passada” mas era “um caminhoneiro que veio de fora, que nem de Maringá era”.
O autor do vídeo diz que “Maringá é uma cidade exemplo para o Brasil ” e pede aos receptores que “façam correr este vídeo pelo Brasil todo, chegar até aquela população do Rio de Janeiro e de São Paulo… aqui ninguém transmite vírus pra ninguém, exemplo. É a coisa mais fácil do mundo você fazer o comércio voltar ao normal. É só a população ter consciência do que fazer. E estes governadores corruptos estão aí que não deixam o Brasil voltar ao normal”.
O Coletivo Bereia entrou em contato com o ex-prefeito de Maringá, Silvio Barros, na manhã de quinta, 14 de maio, para averiguar a veracidade das informações compartilhadas no vídeo. Ele afirmou que o vídeo, apesar de conter informações verdadeiras, também desinforma:
“A pessoa que gravou esse vídeo, a probabilidade é muito grande de que ele não seja de Maringá. Ele passou aqui em um determinado horário e viu o comércio aberto. A verdade é a seguinte, o comércio aqui abre às 10h e fecha às 16h. Se ele tivesse passado aqui 16h30 ele não teria feito esse vídeo. Os comerciantes têm lá as duas restrições. Maringá fechou muito cedo, além do toque de recolher, que funciona até hoje, foi extremamente rigorosa e isso criou um problema muito sério. Esta abertura do comércio começou esta semana. Então eu acho que precisa ponderar, não é de todo falso, não é todo verdadeiro.”
Bereia também colheu o depoimento dos diretores do Jornal “O Fato”, de Maringá, Ligiane Ciola e José Carlos Leal, em 14 de maio. O casal afirma que as informações são parcialmente verdadeiras.
“Hoje a cidade está realmente toda aberta. O comércio funciona com horário especial, das 10h – 16h, e realmente há um decreto que prevê medidas de higiene e de distanciamento social. Pois bem, tais medidas foram implementadas depois que a cidade ficou fechada totalmente por 30 dias, no período entre 20 de março e 20 de abril. Com o lockdown (trancamento das ruas) preventivo foi possível reduzir cerca de 85% o número de contágios e consequentemente diminuiu também a circulação do vírus. A pressão da associação comercial e bolsonaristas, que com vergonha admito, são mais de 80%, o Prefeito começou a ceder. De 20 a 30 de abril ele flexibilizou algumas atividades e enfim, há sete dias decidiu correr atrás do prejuízo político e mandou abrir tudo. As consequências dessas medidas conheceremos nos próximos dias … Na verdade do dia 1º de maio em diante registrou-se 60 novos casos, mas há cerca de 300 pessoas isoladas em suas próprias casas aguardando o resultado do exame. A estrutura hospitalar é muito boa e o SUS aqui funciona melhor do que os convênios, coisa óbvia, já que muitos dos serviços são prestados pela estrutura sanitária privada. Em resumo: ‘nosso amigo’ que fez as imagens só conta uma parte da história. O frio será um agravante e o Governador já tem um plano para fechar todo o Estado se for o caso. Ter optado por fechar tudo imediatamente propiciou uma condição favorável. Se o Brasil inteiro tivesse feito isso, hoje teríamos menos de 2000 mortos e no máximo 20 mil contagiados.”
Os relatos do ex-prefeito e do casal de jornalistas podem ser confirmados com o Decreto da Prefeitura de Maringá n. 445/20, que determinou isolamento severo a partir de 20 de março. Coincidem ainda com o Decreto Municipal 566/2020, de 18 de abril, que autorizou o funcionamento do comércio, das 10 às 16h, e o uso obrigatório de máscaras nas ruas da cidade. A partir de 7 de abril, a Prefeitura liberou o funcionamento de oficinas mecânicas e o atendimento presencial em clínicas e consultórios médicos (Decreto Municipal 502/20). Em 13 de abril, o município abriu para o funcionamento de lotéricas e indústrias (Decreto Municipal 544/20). Os depoimentos também estão relacionados ao Decreto 637/20, que autorizou a reabertura de shoppings, academias, restaurantes, bares, celebrações religiosas e outros estabelecimentos, com controle de atendimentos, distanciamento, horário e medidas de higiene e limpeza, a partir de 7 de maio de 2020.
Sob pressão para afrouxar as medidas de março, a Prefeitura havia se manifestado pela manutenção do isolamento severo, em 9 de abril, por meio de texto no seu site oficial, com o título “Continuar o isolamento social é a melhor opção; confira”;
Levantamento do Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag), com apoio da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mostrou que a média diária de casos notificados de pessoas que apresentaram sintomas de coronavírus em Maringá aumentou 263% entre 31 de março e 30 de abril, com média de 36 casos por dia. O aumento de notificações coincide com a publicação de decretos municipais que flexibilizaram o isolamento social e permitiram a retomada de algumas atividades do setor econômico.
O boletim diário sobre coronavírus da Prefeitura de Maringá indica 5 novos casos em 14 de maio. O registro geral agora é de 129 casos confirmados de covid-19, com quatro pacientes confirmados internados, dois em UTI e dois na enfermaria. São 267 pacientes suspeitos em situação de isolamento domiciliar. Outros 15 pacientes estão internados com suspeita. Os óbitos permanecem seis.
No dia em que o isolamento foi extinto por decreto, em 8 de maio, Maringá não havia tido novo caso de coronavírus por 24h. O município registrava 110 casos positivos de pacientes com COVID-19. Casos suspeitos em situação de isolamento domiciliar eram 305 e dez pacientes estava internados com suspeita e os óbitos permaneciam seis.
Diante das informações checadas, Bereia conclui que o vídeo anônimo que circula em mídias sociais é enganoso. O conteúdo, que exalta bons resultados em Maringá, não explica que eles foram alcançados depois de um isolamento total (lockdown) implementado pela Prefeitura em março, com afrouxamento em abril, após um mês. O autor do vídeo não se refere aos horários restritos de abertura do comércio e outros estabelecimentos, decretados pela Prefeitura, o que não condiz com a ideia de “vida normal” que insiste em ressaltar. A publicação também omite que após a flexibilização do isolamento tem ocorrido um crescimento do número de casos que tem alarmado as autoridades municipais.
Soma-se a isto a campanha explícita que o autor do vídeo empreende contra os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo, classificando-os como “vagabundos” e “corruptos” por conta das medidas de isolamento social que permanecem em vigor nesses estados. Pode-se concluir que, dada a ênfase neste aspecto e a omissão de informações relevantes, o autor anônimo produziu as imagens com finalidade política contra as medidas de prevenção à Covid-19 orientadas pela Organização Mundial de Saúde e assumidas não só em boa parte do mundo, como também pelo Ministério da Saúde do Brasil, e seguidas por estados e municípios.
O Coletivo Bereia alerta seus leitores e leitoras para a circulação de material anônimo pelas mídias sociais, que, frequentemente não apresenta embasamento e fontes, tendo, por isso, altas chances de ser falso ou enganoso e fazer uso de receptores para interferir negativamente em temas de interesse público.
Fonte original TSE, publicado no O Documento por Redação* dia 04/05/2020
Lançada no dia 4 de outubro de 2019, um ano antes das Eleições de 2020, a série Minuto da Checagem chega ao seu oitavo e último vídeo. A mais nova edição, publicada nesta segunda-feira (4), destaca que divulgarfake news é crime. A Lei nº 13.834/2019 criminaliza a desinformação por denunciação caluniosa com finalidade eleitoral, com penalidade de dois a oito anos de prisão, além de multa.
A exemplo dos anteriores, o vídeo tem duração aproximada de um minuto, e conta com veiculação no canal oficial da Justiça Eleitoral no YouTube, nos intervalos da programação da TV Justiça e por mais mil emissoras parceiras que retransmitem o conteúdo audiovisual produzido pelo Núcleo de Rádio e TV da Assessoria de Comunicação (Ascom) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em breve, todos os oito episódios contarão com um intérprete de Libras e serão veiculados também em TV aberta.
Segundo a assessora-chefe da Ascom do TSE, Ana Cristina Rosa, a série de vídeos foi criada porque a experiência no enfrentamento das fake news durante as Eleições Gerais de 2018 deixou claro que o melhor antídoto para a desinformação é a divulgação de informação correta, em linguagem e formato acessíveis. “Nosso objetivo é conscientizar as pessoas sobre a importância da verificação da veracidade dos conteúdos antes de compartilhar qualquer tipo de mensagem. Com o programa, acredito que tenhamos conseguido contribuir, de forma efetiva, para o enfrentamento do fenômeno da desinformação, que é mundial, e, no caso específico da Justiça Eleitoral, representa uma ameaça à democracia”, avalia Ana Cristina.
A coordenadora de Rádio e TV da Ascom/TSE, Ana Paula Ergang, explica que a ideia de fazer vídeos curtos, leves e animados buscou chamar a atenção dos mais diversos públicos, de todas as idades, para o fenômeno da desinformação. “Utilizamos uma linguagem clara para que o maior número de pessoas pudesse receber e entender a mensagem. Alguns dos nossos vídeos alcançaram mais de um milhão de visualizações”, destaca Ana Paula.
Edições
A primeira edição do programa explica que a desinformação pode vir de todos os lados, até mesmo de um familiar. Por isso, é importante ficar com o radar ligado e sempre checar a veracidade de conteúdos recebidos por aplicativos de celular e redes sociais, bem como de notícias veiculadas pela internet, antes de compartilhá-los.
Na segunda edição, o programa fala sobre como os criadores de informações falsas utilizam manchetes apelativas para chamar a atenção e levar as pessoas a repassarem conteúdos antes de checá-los.
O terceiro vídeo destaca que algumas pessoas usam notícias antigas – que até podem ser verdadeiras – como se fossem novas. Fique atento para não espalhar informações desatualizadas.
Já o quarto vídeo do programa ressalta que é preciso desconfiar de notícias que parecem boas demais para ser verdade, e fala da necessidade de confirmar a veracidade das informações recebidas ou acessadas em redes sociais, aplicativos de celular e sites antes de compartilhá-las. Com as redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, qualquer notícia é facilmente disseminada.
O quinto vídeo do Minuto da Checagem explica o que é deepfake. A tecnologia utiliza a inteligência artificial para criar vídeos falsos que parecem verdadeiros. Assim, a deepfakepode ser considerada uma nova forma de desinformação.
O sexto programa, veiculado em março, explica que, neste período de pandemia, provocada pelo novo coronavírus, é necessário ficar atento para não acreditar em notícias falsas. Seja prudente não só com a prevenção de doenças, mas também com a desinformação.
Por sua vez, a penúltima edição fala da importância de checar quem é a fonte da informação ou notícia recebida nas redes sociais antes de compartilhá-las.
Os vídeos do Minuto da Checagem representam mais uma ação criada e desenvolvida pela Assessoria de Comunicação do TSE, por meio do Núcleo de Rádio e TV, para auxiliar a Justiça Eleitoral no enfrentamento da desinformação sobre a segurança do processo eleitoral brasileiro.
Além da série, em 2018, a Ascom/TSE, no âmbito do projeto “TSE Contra Fake News”, desenvolveu e divulgou 14 vídeos de esclarecimento de informações falsas. O projeto foi premiado com menção honrosa na 16º edição do Prêmio Innovare.
Também foram produzidas e veiculadas a série “Eleições 2020”, composta de cinco vídeos, e a série “Quem te Representa”, com sete vídeos.