Ex-Primeira Dama mente, em evento político, sobre atual governo perseguir comunidade LGBT

Circula em perfis de mídias sociais e sites de notícias trecho de  gravação em vídeo  com discurso da esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro,  Michelle Bolsonaro,  no qual ela afirma, em relação ao atual governo federal: “como que uma pessoa gay, apoia um governo que persegue e mata os homossexuais? eu só posso entender que isso é espiritual, que é uma enganação diabólica. E eles vestem a blusa, eles defendem, defendem Hamas…vai pra lá! vai pra lá fazer manifestação LGBT pra ver se sai um vivo”.

Fonte: Canal do Partido Liberal (YouTube)

Michelle Bolsonaro proferiu esta fala em evento, o Encontro Nacional do PL-Mulher, realizado no último 26 de julho, em Campina Grande (PB). O encontro  foi centrado na figura da ex-primeira dama e reuniu vários políticos que renderam homenagens a ela, destacando qualidades, segundo eles, que a colocam como modelo de mulher para o Brasil (mulher guerreira, forte).  

Tais discursos atendiam ao objetivo principal do evento, que foi o lançamento da candidatura de Michelle Bolsonaro ao Senado nas próximas eleições, sob o  perfil da mulher brasileira ideal

O governo federal mata “homossexuais”? 

Bereia checou a fala de Michelle Bolsonaro que atribui ao atual governo federal a responsabilidade pelo Brasil ser considerado um dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+.

Esta afirmação, no que diz respeito aos números, é correta. De acordo com o Dossiê Mortes e Violências contra LGBTI+ em 2023, produzido pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, 230 pessoas deste segmento social morreram de forma violenta no Brasil (assassinatos, suicídios, outras violências). De acordo com estes dados, em relação ao Censo 2022 (total de 203.080.756 habitantes), a média nacional é de 1,13 mortes a cada milhão de pessoas. O Brasil, de fato,  segue como um dos países com maior índice de mortes violentas de pessoas LGBTI+. 

No entanto, afirmar que o Brasil em “um governo que mata homossexuais” é falso. Bereia levantou que o atual governo recuperou políticas públicas de garantia de direitos da população LGBTQIA+, implementadas nos anos 2000, interrompidas no governo anterior. 

Entre os principais desenvolvimentos desde 2023 estão a formação de uma Secretaria Nacional LGBTQIA+ e a reativação do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ (desativado em 2019), sob a liderança de Symmy Larrat e Janaína Oliveira, respectivamente.

O presidente da Aliança Nacional LGBTI+ Toni Reis enfatiza, em entrevista, a criação de coordenações de participação social e diversidade em todos os ministérios do atual governo federal. Segundo agentes governamentais, essa iniciativa visa organizar discussões e assegurar a inclusão social na elaboração e implementação de políticas públicas.

De acordo com Reis, os editais de apoio à comunidade LGBTQIA+, lançados ao longo do primeiro ano do governo federal, são resultado dessa abertura para o diálogo. Foram os seguintes:

  • A Serpro, uma empresa pública que fornece soluções em tecnologia da informação para o governo federal, destinou recursos,  por meio de edital, com o objetivo de facilitar a inclusão de pessoas trans no setor tecnológico.
  • O Ministério da Cultura alocou recursos no orçamento para o reconhecimento e a valorização da produção cultural de idosos, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e aqueles que enfrentam sofrimento psíquico, por meio do Prêmio Diversidade Cultural.
  • O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, por meio de editais, destina recursos para projetos que promovam e defendem os direitos da população LGBTQIA+.
  • Esse ministério também divulgou o Prêmio Cidadania na Periferia, que disponibiliza recursos financeiros para projetos comunitários que incentivem a cidadania LGBTQIA+. 

O governo federal estabeleceu ainda um orçamento recorde de aproximadamente R$ 27,2 milhões para a promoção e defesa dos direitos LGBTQIA+, gerenciado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. A maior parte desse valor é composta por emendas parlamentares, enquanto uma parcela significativa é destinada a despesas discricionárias, sob controle do gestor. 

As limitações das ações governamentais

Apesar do avanço, representantes como a secretária nacional dos Direitos LGBTQIA+ Symmy Larrat e a presidente do Conselho Nacional LGBTQIA+ Janaina Oliveira afirmam que os valores orçamentários ainda são insuficientes para enfrentar o histórico de violência e promover efetivamente os direitos dessa população. 

Essas lideranças reconhecem que há necessidade de aumentar o orçamento discricionário e de garantir maior transparência e acompanhamento dos recursos destinados a ações específicas, sobretudo considerando a vulnerabilidade de muitos indivíduos LGBTQIA+. Elas avaliam que a criação e a gestão de políticas públicas específicas são essenciais para assegurar a efetividade dos recursos e ações neste setor, que ainda enfrenta desafios na alocação de recursos devido à falta de previsão orçamentária dedicada na LOA.

Um exemplificar é que a  Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023, formulada no último ano do mandato do governo anterior,  previa R$ 325.841 para ações de prevenção e enfrentamento à violência LGBTfóbica, administrados pelo extinto Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Contudo, a secretaria responsável pelas políticas LGBTQIA+ gastou R$ 11.748.341,46, em 2023, primeiro ano do atual governo  aproximadamente 96% a mais do que o valor inicialmente previsto na Lei Orçamentária Anual.

A 4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, que acontecerá de 21 a 25 de outubro de 2025, em Brasília, buscará avançar na discussão sobre a Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ e na ampliação da participação social em torno da agenda LGBTQIA+.​​

O evento contará com 1.212 delegados, conselheiros e convidados, visando institucionalizar políticas públicas para a proteção e promoção dos direitos LGBTQIA+, refletindo a diversidade da comunidade.

Quem ameaça os direitos LGBTQIA+?

Um estudo da Aliança Nacional LGBTI+ identificou 437 Projetos de Lei, tanto na Câmara dos Deputados quanto nas Assembleias Legislativas dos estados, que seriam prejudiciais à população LGBTQIAPN+. A maioria dessas propostas, segundo o relatório, usa o pretexto de “proteger a infância” para esconder motivações ideológicas contra direitos deste grupo.

O estudo aponta que esses PLs, muitos facilmente identificados como inconstitucionais, são influenciados por grupos de extrema direita e conservadores religiosos que atuam nos parlamentos e seguem um padrão. Entre as propostas mencionadas, estão a proibição de símbolos religiosos em Paradas LGBTQIAPN+ e a restrição da presença de menores nesses eventos. Outros projetos visam impedir a participação de atletas trans em competições e proibir publicidade com crianças em contextos LGBTQIAPN+.

Em contrapartida, parlamentares progressistas estão propondo leis para proteger a comunidade, como na Câmara Federal, com a criação do Estatuto da Diversidade, que trata de temas como o reconhecimento de identidade de gênero e o acesso a serviços públicos. Há também uma proposta de cotas de 2% em concursos para pessoas trans. No Senado, um projeto busca garantir direitos básicos para pessoas trans e travestis que estão presas.

Apesar dos esforços legislativos de proteção, a violência contra a população LGBTQIAPN+ continua a ser um problema grave. Um relatório recente do Grupo Gay da Bahia (GGB) mostrou que o Brasil registrou 291 mortes violentas em 2024, um aumento de 8% em relação ao ano anterior, mantendo o país como líder global nesta categoria.

Os estudos do Observatório mostram que as causas desta violência estão diretamente relacionadas à intolerância, ao preconceito e à discriminação contra a diversidade de orientação sexual. Muitas práticas de agressão são estimuladas discursos de ódio em diferentes espaços presenciais e digitais, entre eles os religiosos. É o caso de falas discriminatórias como as da pastora e artista da Igreja da Lagoinha Ana Paula Valadão e do pastor da mesma igreja André Valadão, ambas checadas pelo Bereia.  

A fala de Michelle Bolsonaro, no  evento PL Mulheres, realizado na Paraíba, em julho passado, reforça esta violência verbal. No discurso ela recorre à noção demonização de LGBTQIA+, atribuindo a postura política mais à esquerda desta população como “algo diabólico”.

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Bereia chama a atenção de leitores e leitoras para discursos genéricos da parte de pessoas públicas em campanha política, baseados em falsidades, desprovidos de dados comprobatórios, que servem para reforçar intolerâncias.

Referências

CNN Brasil

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/eleicoes-2026-bolsonaro-quer-michelle-flavio-e-eduardo-no-senado/ Acesso em 30 de JUL 25

 Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania  

https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/lgbt#:~:text=%C3%89%20miss%C3%A3o%20do%20Minist%C3%A9rio%20dos,%2C%20(LGBTQIA+)%20e%20outras. Acesso em 30 de JUL 25

https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/lgbt#:~:text=%C3%89%20miss%C3%A3o%20do%20Minist%C3%A9rio%20dos,%2C%20(LGBTQIA+)%20e%20outras. Acesso em 30 de JUL 25

https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/marco/mapeamento-das-politicas-publicas-para-a-populacao-lgbtqia-lancado-no-mdhc-reune-dados-das-27-unidades-federativas#:~:text=Tamb%C3%A9m%20apoiam%20o%20programa%20a,Brasileiro%20de%20Transmasculinidade%20(Ibrat).&text=Foram%20criados%20indicadores%20a%20fim,hist%C3%B3ricas%20no%20enfrentamento%20da%20LGBTIfobia Acesso em 30 de JUL 25

https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/lgbt Acesso em 30 de JUL 25

Ministério da Saúde

https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/equidade-em-saude/populacao-lgbtqiapn#:~:text=cuidado%20%C3%A0%20sa%C3%BAde.-,Servi%C3%A7os,Conecte%20SUS%20(cidad%C3%A3o)%E2%80%9D. Acesso em 30 de JUL 25

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf Acesso em 30 de JUL 25

Presidência da República

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/d11471.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%2011.471%2C%20DE%206,%E2%80%9Ca%E2%80%9D%2C%20da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%2C Acesso em 30 de JUL 25

Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil

https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/wp-content/uploads/2024/05/Dossie-de-Mortes-e-Violencias-Contra-LGBTI-no-Brasil-2023-ACONTECE-ANTRA-ABGLT.pdf Acesso em 07 AGO 25

https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/dossie/mortes-lgbt-2023/ Acesso em 07 AGO 25

Coletivo Bereia

https://coletivobereia.com.br/pastora-e-cantora-evangelica-ana-paula-valadao-e-condenada-por-falas-publicas-discriminatorias-contra-pessoas-lgbtqia/ Acesso em 07 AGO 25

https://coletivobereia.com.br/pastor-andre-valadao-profere-possivel-discurso-de-odio-durante-culto/ Acesso em 07 AGO 25

Diadorim

https://adiadorim.org/reportagens/2024/01/politica-lgbtqia-avanca-em-2023-mas-direitos-trans-e-educacao-patinam/ Acesso em 07 AGO 25

4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+

https://www.conflgbtqia.org/_files/ugd/c6872b_23212d20990b43d290eb3dca8c3a4635.pdf  Acesso em 07 AGO 25

https://www.conflgbtqia.org/ Acesso em 07 AGO 25

Manual de Direitos e LGBTI+

https://aliancalgbti.org.br/wp-content/uploads/2024/05/Manual-Direitos-LGBTI.pdf Acesso em 07 AGO 25

Senado Federal

https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7651070&disposition=inline Acesso em 07 AGO 25

Focus Brasil (Fundação Perseu Abramo)https://fpabramo.org.br/focusbrasil/2025/06/24/direitos-lgbtqiapn-sob-ataque-no-congresso/ Acesso em 07 AGO 25

Checagens feitas por Bereia subsidiam estudo que avalia desinformação sobre gênero e sexualidade

A investigação de histórias falsas sobre gênero e sexualidade compartilhadas em 2019 é o foco principal de artigo elaborado pelos pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) Thales Vilela Lelo e Lorena Caminhas e publicado na revista MATRIZes (n. 2, edição de maio/agosto de 2021).

Os autores investigaram fake news e boatos relativos a esses dois aspectos disponíveis em bancos de dados de agências de checagem de notícias e fatos. Eles identificaram pelo menos 65 peças de desinformação focadas em gênero e sexualidade.

Bereia, ao lado de duas importantes agências de fact-checking (Aos Fatos e Pública), foi fonte de informação para a análise realizada pelos pesquisadores, que examinaram, por exemplo, o formato de publicação e os canais de divulgação das fake news, além do apelo moral dirigido ao público receptor. 

Clique aqui e confira o artigo, intitulado “Desinformação sobre gênero e sexualidade e as disputas pelos limites da moralidade”.

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Foto de capa: Alexander Grey/Pexels

As faces da desinformação de gênero

O termo “gênero” foi impulsionado nos últimos anos. Com a disseminação das chamadas fake news, que conquistou espaço nas eleições que elegeram Donald Trump nos Estados Unidos em 2016, termos como ideologia de gênero, aborto, direitos da mulher, LGBTQIA+ foram colocados sob um guarda-chuva que, junto à violência política, culminou no que passou a ser chamado de desinformação de gênero. Esta junção passou a servir como instrumento para aterrorizar e criar pânico moral, costumeiramente mobilizado pela ultradireita no Brasil.

Considerando esse cenário, o objetivo desse artigo é elencar as matérias que foram produzidas pelo Coletivo Bereia relacionadas ao tema “gênero”, como maneira de apontar como a desinformação potencializou a produção de notícias falsas, em diferentes segmentos, vislumbrando fornecer ao leitor uma visão ampla sobre o termo Desinformação de gênero. Desinformação é entendida aqui, na linha do conceito construído em documento da Comissão Europeia, como informação comprovadamente falsa ou enganadora que é criada, apresentada e divulgada para obter vantagens econômicas ou para enganar deliberadamente, podendo prejudicar o interesse público. 

O Coletivo Bereia tem como missão checar notícias que circulam pela internet, que fazem parte do universo religioso, e que possuem interfaces com outros meios, como por exemplo, o acadêmico e político. 

Neste artigo, os temas foram separados por blocos, para viabilizar a compreensão, bem como a identificação do comportamento que opera na desinformação.

Nesse contexto, a denominada “ideologia de gênero” surge como um dos temas mais explorados pelas fake news que circulam em ambientes digitais religiosos. De acordo com o pesquisador Rogério Junqueira, o termo é um maquinário discursivo (persuasivo e retórico) fabricado e inventado pelo Vaticano nos anos de 1990 para questionar os avanços e transformações em relação ao gênero, sexo e sexualidade. 

O pânico moral em torno de “ideologia de gênero”, aborto, erotização e a defesa da família são, geralmente colocados juntos, como tática sutil, que faz com que as pessoas acabem associando um tema ao outro, sem conseguir identificar as fontes.  

Bereia fez um levantamento de todas matérias realizadas cuja palavra gênero foi usada em mensagens, declarações e publicações que exploraram o pânico moral e a desinformação, no período de 2019 a setembro de 2023.

No campo da religião, observa-se que a chamada “ ideologia de gênero” é usada em diferentes frentes religiosas conservadoras, e também por sites religiosos:

Política nacional 

 Educação

Referências:

Coletivo Bereia

https://coletivobereia.com.br/panico-moral-sobre-ideologia-de-genero-aborto-erotizacao-de-criancas-e-defesa-da-familia-e-usado-para-disputa-eleitoral-com-base-em-desinformacao/ Acesso em: 04 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/acao-proposta-pelo-psol-nao-exige-que-ideologia-de-genero-seja-obrigatoria-nas-escolas/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/o-presidente-do-brasil-e-a-falaciosa-ideologia-de-genero/  Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/e-enganoso-que-decreto-do-governador-witzel-foi-revogado-por-favorecer-ideologia-de-genero/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/e-verdade-que-deputada-evangelica-confronta-damares-sobre-ideologia-de-genero/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/ecumenismo-neoconservador-pacto-programatico-religioso-na-defesa-da-agenda-anti-genero/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/projeto-de-lei-rejeitado-pela-comissao-de-educacao-da-camara-federal-nao-pretende-fortalecer-ideologia-de-genero/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/deputado-federal-evangelico-nikolas-ferreira-promove-desinformacao-em-discurso-na-camara-dos-deputados/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/ministra-carmen-lucia-teria-assinado-carta-pro-aborto/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/sites-religiosos-e-politicos-exploram-caso-de-suposto-afastamento-de-diretor-de-escola-de-sorocaba-por-transfobia/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/a-sabatina-de-andre-mendonca-pelo-senado-parte-1-violencia-de-genero/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/video-divulga-informacoes-falsas-sobre-educacao-sexual-em-escola-publica-de-marica-rj/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/site-religioso-afirma-que-lego-vai-lancar-brinquedos-com-ideologia-de-genero/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/site-desinforma-contra-relatorio-apresentado-a-onu-sobre-abusos-da-liberdade-de-religiao-contra-direitos-lgbt/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/site-gospel-desinforma-sobre-remocao-de-video-do-youtube-contendo-pregacao-de-odio-contra-pessoas-lgbti/ Acesso em 05 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/sites-e-politicos-religiosos-enganam-sobre-governo-federal-defender-maconha-e-aborto/ Acesso em 05 SET 2023

https://religiaoepoder.org.br/artigo/ofensivas-antigenero-e-antifeminismo/ Acesso em 11 SET 2023

https://religiaoepoder.org.br/artigo/para-alem-de-uma-estrategia-eleitoral-as-fake-news-na-pauta-dos-poderes-da-republica/ Acesso em 11 SET 2023

https://coletivobereia.com.br/parlamentares-de-extrema-direita-articulam-desinformacao-sobre-banheiros-unissex-em-oposicao-ao-governo-federal/ Acesso em 02 OUT 2023

**Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia.

***Imagem de capa: Pixabay/Buffik

Desinformação de gênero: violência política em perspectiva

De acordo com a pesquisa publicada no site no Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, a desinformação de gênero vem ganhando cada vez mais espaço nas mídias, sendo um ataque direto à democracia de uma nação.

Ao definir a desinformação de gênero, o estudo refere-se à junção de abuso misógino e violência contra mulheres, que se utiliza de falas falsas ou enganosas, e narrativas com base em sexo onde muitas vezes são usadas estrategicamente pretendendo impedir mulheres de participar da esfera pública.

Essa lógica perversa também tem sido perpetrada por atores estatais estrangeiros e não estatais, usando coordenadamente a desinformação de gênero com o objetivo de silenciar as mulheres, desestimular o discurso político on-line e moldar as percepções em relação ao gênero e ao papel da mulher nas democracias.

A pesquisa Malign Creativity How gender, sex, and lies are weaponized Against Women online [Criatividade Maligna. Como gênero, sexo e mentiras se tornam armas on line contra mulheres] elencou algumas conclusões relevantes sobre o tema. São elas:

  • Dentre os perpetradores de desinformação de gênero voltada contra mulheres estão atores estatais estrangeiros; 
  • A desinformação muitas vezes tem como alvo mulheres com identidades interseccionadas; 
  • Os perpetradores costumam disseminar desinformação de gênero por meio de atividades coordenadas de redes sociais que são espontâneas ou pré-mediadas em várias plataformas; 
  • Atores estatais estrangeiros mobilizam a desinformação de gênero a fim de atingir uma variedade de indivíduos, grupos e legislação; 
  • O objetivo final da desinformação de gênero é baseada no ataque à identidade, desencorajando o exercício da liberdade de expressão e minando a democracia.

Violência Política no Brasil

Neste mês de julho, a agência Lupa publicou uma reportagem na qual reflete a temperatura na qual as parlamentares brasileiras estão inseridas.

A bola da vez foi a senadora evangélica Eliziane Gama (PSD-MA) , que atualmente exerce a função de relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito de 8 de janeiro. Na reportagem, relata-se que a senadora é frequentemente chamada de ‘burra’ e ‘analfabeta’, como forma de descredibilizar sua competência e logo, o lugar que ocupa.

Essa prática, que aqui chamamos de Desinformação de Gênero, não é nova e podemos identificá-la ao longo da História, mas a roupagem que tem usado é recente e vem ganhando força com o alcance cada vez maior das mídias por todo o mundo.

Em matéria publicada pelo Coletivo Bereia, foram mostradas as ofensivas em ambientes digitais religiosos contra a ex-presidente Dilma, como tentativa para justificar o golpe sofrido.

Além desse episódio, o Coletivo Bereia também identificou o ataque do deputado federal evangélico Nikolas Ferreira (PL-MG), que profere um discurso misógino, em que diz para que as mulheres “retomem sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade, formem a sua família porque, dessa forma, vocês colocarão luz no mundo e serão, com certeza, mulheres valorosas”. A fala foi proferida pelo deputado quando usava uma peruca loira. Nikolas Ferreira valeu-se do Dia Internacional da Mulher para, ditar às mulheres como proceder em suas vidas, a partir de suas crenças pessoais.

Em janeiro desse ano, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, também evangélica, foi hostilizada em um restaurante de Brasília, por pessoas que se opunham ao governo do presidente Lula. No local, a ministra foi defendida e aplaudida por clientes.

É de extrema importância que o tema da desinformação de gênero seja amplamente discutido e que haja meios de identificá-la. Além de contribuir para a corrosão da democracia, as fake news – popularmente chamadas – impedem o avanço dos direitos das mulheres e da sociedade em geral.

A desinformação já é vista como um problema crônico com o qual as sociedades têm lidado com dificuldade. A violência de gênero na política vislumbra a piora do cenário, onde a pouca representatividade no legislativo, a dissonância das bancadas sobre temas importantes, o tradicionalismo e fundamentalismo da maioria dos parlamentares, entre outros fatores, corroboram para que a desinformação se torne uma prática cada vez mais comum.

Referências:

Departamento de Estado dos Estados Unidos da América. https://www.state.gov/gendered-disinformation-tactics-themes-and-trends-by-foreign-malign-actors/desinformacao-de-genero-taticas-temas-e-tendencias-de-atores-estrangeiros-malignos/  Acesso em 20 JUL 2023

Coletivo Bereia.

https://coletivobereia.com.br/genero-politica-e-desinformacao-as-mulheres-sob-ataque/ Acesso em 20 JUL 2023

https://coletivobereia.com.br/deputado-federal-evangelico-nikolas-ferreira-promove-desinformacao-em-discurso-na-camara-dos-deputados/  Acesso em 20 JUL 2023

Correio Braziliense. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/01/5063318-marina-silva-e-atacada-em-restaurante-mas-e-defendida-por-clientes-veja.html  Acesso em 20 JUL 2023

**Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia.

***Foto de capa: Pixabay

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