Acusação de antissemitismo é instrumentalizada para blindar o Estado de Israel de críticas

A campanha militar assimétrica travada pelo Estado de Israel contra os grupos políticos armados Hamas e o Hezbollah já levou à morte de mais de 43 mil pessoas, ao longo de um ano. O governo do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu tem sido acusado, por países, organizações e distintos fóruns internacionais, de promover, de forma deliberada, uma política de morte (necropolítica) e genocídio (ação para eliminação de determinada população). A indignação contra o uso da força perante grandes contingentes de civis já levou, inclusive, a acusações, lideradas pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), de que Israel promove o genocídio da população palestina.

Mesmo diante de todas estas manifestações críticas apoiadas, inclusive, por cidadãos israelenses, demonstradas nas ruas do país, surge, no entanto, uma reação contrária. A acusação de que tais oposições incorrem em uma expressão de antissemitismo, ódio racial e de perseguição ao povo judeu.

Reprodução: UN NEWS (faixa de Gaza, 2024)

Conflito de décadas 

O conflito entre Israel e a Palestina remonta à década de 1940, quando, na esteira do holocausto, a defesa da criação de um Estado nacional para o povo judeu ganhou força e resultou em uma migração em massa para a região onde estão Israel e Palestina. Em território partilhado com subvenção da Organização das Nações Unidas (ONU), couberam terras a árabes (Palestina) e judeus (Israel).

Logo em seguida à criação do Estado de Israel, em 1948, a Primeira Guerra Árabe-Israelense opôs o novo país às forças de Egito, Síria, Jordânia, Iraque e Líbano. Trata-se de uma primeira demonstração do conflito que se estende até os dias de hoje, motivado pela não aceitação da convivência pacífica entre os diferentes povos em uma mesma região. Já nos anos iniciais do conflito, novas divisões territoriais, promovidas por ocupações israelenses, levaram ao deslocamento forçado de milhares de palestinos – episódio conhecido como Nakba (“catástrofe”) pelos árabes.

Conflitos como a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973) foram marcos da relação tensa entre Israel e os povos árabes que, na Palestina, vêm sendo confinados a territórios cada vez menores, graças ao desrespeito aos tratados e seguidas invasões territoriais promovidos por Israel desde 1967. 

Em reação ao domínio israelense, a Primeira Intifada (1987-1993) e a Segunda Intifada (2000-2005) foram levantes palestinos contra as invasões. Em ambos os casos, as demandas populares levaram a conflitos violentos entre as duas partes, situação que ocorre até os dias atuais.

A comparação de mapas históricos permite ver como Israel tem avançado sobre territórios destinados à Palestina em 1947. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem alertado, ainda hoje, que os assentamentos israelenses sobre os territórios palestinos continuam a avançar.

Mapas mostram avanço da ocupação do Estado de Israel sobre o território destinado à Palestina em resolução da ONU em 1947 – Reprodução: UCCPIN

O mais recente capítulo do conflito teve início em 7 de outubro de 2023, quando o grupo armado palestino Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) entrou no território israelense e matou cerca de 1,2 mil pessoas, fez reféns e divulgou imagens de execuções.

Em resposta ao ataque que chocou o mundo, Israel, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, lançou uma ofensiva bélica contra o Hamas e o território palestino. Apesar do direito de retaliação, as ações militares levadas à cabo por Israel vêm sendo criticadas por serem desproporcionais ao ataque sofrido e atingirem de forma dramática civis inocentes.

Acusações de antissemitismo

As críticas à resposta militar israelense, porém, têm se chocado com acusações de antissemitismo, por parcela de judeus e seus apoiadores, que nem sempre têm o respaldo dos fatos. Nas redes, vozes contrárias às mortes promovidas pelo Estado de Israel são acusadas de estarem baseadas em ódio aos judeus e grupos à esquerda já foram acusados, de forma genérica, de antissemitas. Tais discursos desconsideram que até mesmo judeus manifestam-se nas ruas contra as ações israelenses. Houve um número deles presos, nos Estados Unidos, sob acusação de antissemitismo.

No Brasil, o jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi, especializado na cobertura de temas internacionais, foi alvo de ataques e ameaças de grupos pró-Israel ainda em outubro de 2023. Altman, que é judeu, publica conteúdos críticos à postura de Israel e ao sionismo (movimento político-religioso, de várias correntes, que defende o direito à autodeterminação da totalidade do povo judeu sobre o território considerado judaico).

Em outubro de 2023, pouco tempo após os ataques do Hamas a Israel, o Opera Mundi revelou o recebimento de mensagens no WhatsApp que sugeriam “arrancar os dentes da boca desse fdp e cortar os dedos fora para parar de escrever e falar merda”. De acordo com o site, algumas publicações nas redes digitais comparavam Altman a um “kapo” – os judeus que atuavam como agentes nazistas em campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial.

Os ataques também atingiram outro judeu crítico da política israelense, o doutor em História Social, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Michel Gherman que, ao contrário de Altman, é um sionista da corrente que defende o direito a um Estado Palestino. Em palestra na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em outubro de 2023, o professor, que também é pesquisador do Centro de Estudos do Antissemitismo da Universidade de Jerusalém, foi acusado de praticá-lo.

Em vídeo publicado em seu canal no YouTube, Gherman avalia: “A capacidade que essas pessoas têm de não escutar o que eu digo e produzir, sobre mim, acusações mentirosas é cruel. Eu estudo antissemitismo, sou vítima de antissemitismo. E fui chamado, por essas pessoas, de um judeu antissemita. Isso é cruel.”

As acusações de ódio ao povo judeu também recaíram sobre o presidente da República Luis Inácio Lula da Silva (PT). Em evento público, em 23 de fevereiro de 2024, Lula criticou as ações militares levadas a cabo por ordens de Netanyahu e afirmou que “o que o governo de Israel está fazendo não é guerra, é genocídio, porque está matando mulheres e crianças (…) se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio”.

A crítica, feita à condução das práticas militares, foi interpretada por apoiadores de Israel como “antissemitismo explícito”. No X/Twitter, o senador Sérgio Moro (União-PR) publicou: “Nenhuma palavra sobre os reféns de Israel, nem sobre a invasão da Ucrânia, nem sobre a ditadura venezuelana. Antissemitismo explícito. Quem quiser que acredite no “democrata”.

Na sequência dos ataques de 7 de outubro de 2023, porém, Lula havia dito, por meio de seu perfil no X/Twitter, que ficou “chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas”.

Criminalização de críticas como estratégia

Conforme apontado por Bereia, em matéria publicada em maio de 2024, as alegações de antissemitismo são uma estratégia discursiva de grupos conservadores teologica e politicamente e de apoiadores do governo de Israel para impedir críticas. A checagem classificou como enganosa publicações que declararam protestos estudantis contra o massacre de palestinos, nos Estados Unidos, realizados meses atrás,  como antissemitas.

Como exemplo disto, a doutora em sociologia e professora da Universidade de Brasília (UnB) Berenice Bento cita a ação judicial da Confederação Israelita do Brasil (Conib) contra Breno Altman. “É um dos muitos exemplos dessa grave ofensiva. Israel passou a tomar para si a totalidade da representação judaica e, ao fazê-lo, busca igualar todas as críticas às suas políticas coloniais e genocidas em expressão do antissemitismo”.

Antissemitismo é a intolerância contra judeus, por características étnicas e religiosas que os constituem como povo. É fato que ataques antissemitas foram registrados na Europa e fora do continente após as ações bélicas de Israel na Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023. Países como França, Áustria e Reino Unido anunciaram aumento considerável de ataques contra judeus nos meses seguintes ao conflito. 

No entanto, críticas e manifestações contra decisões políticas do Estado de Israel e ações bélicas abusivas praticadas por ele são direitos civis garantidos, como liberdade de expressão. Entre outras situações, o verbete do Dicionário de Política cita explicitamente a “oposição à política israelense ou ao movimento sionista” como uma das situações que não podem ser consideradas como antissemitas.

Em entrevista ao Bereia, o professor de Teologia e doutorando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) Wallace Góis reconhece que o próprio governo israelense em defesa de suas ações adota o discurso de “antissemitismo”, pelo mesmo motivo que a extrema direta anuncia uma “ameaça comunista”, como uma propagação de pânico.  

Ações de ONG sionista conservadora e campanhas diversas pro-Estado de Israel

Grupos sionistas e organizações pró-Israel atuam intensivamente nas mídias sociais, quer para impedir críticas, quer para promover uma boa imagem do governo israelense. Dentre essas organizações, uma das mais ativas é a organização internacional de promoção do Estado de Israel “Stand with Us”. A ONG se define como “uma instituição educacional sobre Israel sem fins lucrativos” que declara “ensinar pessoas de todas as idades sobre Israel e a combater o extremismo e o antissemitismo”.

Com sede em Los Angeles, a organização tem dezoito escritórios nos Estados Unidos, além de bases no Canadá, em Israel, no Reino Unido e, desde 2018, no Brasil. A instituição conta também com o Centro de Educação, emblemático, no coração de Jerusalém e hospeda programas na América Latina, África do Sul, China, Europa e Austrália.

As mídias sociais são espaço privilegiado para conteúdo promotor de apoio às políticas do Estado de Israel como sinônimos de simpatia com o povo judeu. Isto é reforçado pela apropriação de símbolos religiosos – uma tendência judaizante de parte dos evangélicos (o fenômeno denominado em pesquisas acadêmicas como “Sionismo Cristão”).

Há grupos evangélicos no Tik&Tok, no Telegram e no Facebook, programas de viagens para Israel , notícias de campanhas de oração, mobilizações diversas, combate ao que é classificado como terrorismo islâmico com base religiosa e campanhas comunicacionais. Na pesquisa do Bereia foram identificadas 854 hashtags, como, por exemplo, “#oremporisrael”, e o incentivo ao uso da bandeira israelense nos perfis das mídias sociais.

Bereia coletou, ao longo de um ano, 2.789 postagens diferentes, similares aos links já relatados a favor das ações bélicas contra a Palestina e pró-Israel. Nesta busca também foram encontrados conteúdos pró-Estado de Israel em mídias alinhadas à extrema direita, como a Gazeta do Povo e o portal Brasil Paralelo, o que referenda a tese de suporte e articulação de grupos ultraconservadores com o governo Netanyahu.

Em todos esses casos, há um apagamento da situação desumanizada em que se encontra a população palestina, especialmente a cristã, que é invisibilizada, para se fazer crer que palestinos são islâmicos violentos.

Uso do imaginário judaico pela direita fundamentalista brasileira

A negação das críticas à política de morte do Estado de Israel, com atribuição de “antissemitismo”, pode ser explicada por dois elementos: desconhecimento do processo de reconstituição do Estado de Israel, em 1948, e dos conflitos políticos em torno dele, e o fator ideológico-político do alinhamento ao sionismo conservador. 

O movimento sionista, denominado por inspiração do Monte Sião, em Jerusalém – a representatividade bíblica da terra prometida ao povo hebreu – surgiu ainda no fim do século 19. Uma das correntes ideológicas do movimento defendeu a criação de um Estado judaico na antiga Terra de Israel.

O Estado de Israel foi criado em 1948, por intermédio da Organização das Nações Unidas, após a aprovação da Resolução 181/1947. O documento sugeriu a divisão da Palestina em um Estado Árabe e um Estado Judeu. Os sionistas garantiram 55% do território palestino para 600 mil imigrantes judeus, enquanto os outros 45% foram destinados a 1,2 milhões de palestinos, por uma campanha que envolveu compra de terras e imigração ilegal fortalecida pela ideia de reparação da culpa pelo Holocausto.

O Reino Unido foi um facilitador na imigração judaica para a Palestina, por ter exercido controle sobre a região depois da Primeira Guerra Mundial. A enciclopédia Britannica indica que entre os anos finais do século 19 e os iniciais do século 20, a região vivia um “renascimento árabe geral”. Em 1914, a população da Palestina era de 690 mil habitantes, destes 535 mil eram muçulmanos, 70 mil cristãos, a maioria árabes e 85 mil judeus.

Quanto ao alinhamento ideológico, o professor Michel Gherman aponta, no artigo O Judeu imaginário no Bolsonarismo: Um Caso de Conversão e Desconversão e seus oponentes, publicado na plataforma Religião e Poder, do Instituto de Estudos da Religião (ISER), a importância das articulações de grupos conservadores com setores religiosos para o fortalecimento de pautas da extrema direita brasileira, e afirma: “A recuperação do vínculo com os judeus brasileiros é, na perspectiva dessa direita, um dos elementos determinadores de uma nova brasilidade, religiosa e conservadora; judaica e cristã”.

No texto, o historiador também apresenta o conceito de Judeu Imaginário. Segundo ele, seria a visão de Israel como um país branco, armado, capitalista e cristão. “A barreira necessária contra a invasão da esquerda, dos comunistas, da ‘ditadura gay’ ”, pontua Gherman.

Imagem: reprodução/X

O cientista social, mestre e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) Matheus Alexandre, em artigo para o jornal Le Monde Diplomatique Brasil, ressalta que “o Estado de Israel imaginado por essa direita evangélica é uma reconstrução imaginária do antigo Reino de Judá e, portanto, incongruente com o que, de fato, é Israel hoje”.

Alexandre destaca ainda que, especificamente após a liderança de Benjamin Netanyahu, a direita conservadora, principalmente a cristã com raízes pentecostais, se tornou apoiadora do Estado de Israel.

Em seu texto, o cientista social critica, sobretudo, a simplificação de temas complexos e polarizados, como a guerra entre Israel e o Hamas – Movimento de Resistência Islâmica -, no ambiente virtual, sem que haja espaço para a compreensão de nuances e diferentes posições que sejam capazes de considerar as vidas humanas em ambos os lados.

Política militar do governo de Israel

No início da resposta aos ataques de 7 de outubro, um dos principais objetivos de Netanyahu era a morte de líderes do Hamas. Após a execução do mentor dos ataques, no entanto, o primeiro-ministro reforçou que iria “continuar com toda a força” os ataques contra o grupo que é considerado terrorista por Israel,  União Europeia e mais três paises.

Desde outubro do ano passado, Israel matou aproximadamente 43,6 mil pessoas na região palestina da Faixa de Gaza. De acordo com um relatório produzido pelo Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), quase 70% das vítimas são mulheres e crianças, o que indica um desrespeito sistemático aos princípios do Direito Humanitário Internacional. O relatório aponta, ainda, que 80% das mortes ocorreram em edifícios residenciais, hospitais e habitações semelhantes.

Mesmo em situações de guerra declarada, em que a violência é parte da realidade local, há regras a serem seguidas, para a proteção de civis. Porém, as ações militares perpetradas pelo Estado de Israel têm explicitado o desrespeito a tais regras.

Sem ter alcançado o resgate de todos reféns israelenses, a política de guerra contra a Palestina implementada por Netanyahu passou a ser, cada vez mais, parte de um cálculo que também tem como objetivo determinar o próprio futuro político e jurídico do primeiro-ministro.

Exemplo disso é a demissão, no último 5 de novembro, do ministro da Defesa Yoav Gallant, que passou a ser alvo de desconfiança por parte do chanceler israelense. Conforme informou a rede Al Jazeera, Benjamin Netanyahu, anunciou a decisão acompanhada da declaração de que desentendimentos entre o primeiro-ministro e o agora ex-ministro da Defesa foram conhecidos pelos inimigos e interferiram na gestão da ação bélica.

A notícia também traz à luz as divergências entre os objetivos de Netanyahu, de eliminar o grupo Hamas, e Gallant. No mesmo dia, o ex-ministro da Defesa declarou, em seu perfil no X, que a sua prioridade foi “a segurança do Estado de Israel”. Gallant já havia criticado a condução das ações militares e outros posicionamentos do primeiro-ministro israelense.

Necropolítica do Estado de Israel

A necropolítica pode ser entendida como o “uso do poder político e social, especialmente por parte do Estado, de forma a determinar quem pode permanecer vivo ou deve morrer”. A definição é da Academia Brasileira de Letras (ABL), baseada nas formulações do intelectual camaronês Achille Mbembe. A ABL ressalta que esta determinação de vida ou morte pelo Estado pode ser feita por ação, ou omissão.

No caso em questão, as ações militares que levaram à quase completa destruição da Faixa da Gaza – antes local de residência de cerca de 2,2 milhões de pessoas – podem ser creditadas à ação do Estado de Israel. Mesmo diante de seguidos apelos da comunidade internacional por tréguas na matança de civis implementada em nome da destruição do Hamas, as decisões do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apontaram, ao longo de mais de um ano, sempre na direção de mais violência.

O próprio Mbembe, no ensaio “Necropolítica”, em que explica as manifestações desta forma de exercer o poder, usa o exemplo da relação Israel-Palestina para explicitar o fenômeno. “A forma mais bem sucedida de necropoder é a ocupação colonial contemporânea da Palestina”, afirma. Em outro trecho, o autor diz que “a ocupação colonial contemporânea [da Palestina] é uma concatenação de vários poderes: disciplinar, biopolítico e necropolítico. A combinação dos três possibilita ao poder colonial dominação absoluta sobre os habitantes do território ocupado”.

No entanto, embora a destruição da Faixa de Gaza – que teve mais de 128 mil edifícios destruídos, entre residências  escolas, universidades e hospitais – e a morte de inocentes sejam noticiadas rotineiramente pela imprensa internacional, o olhar crítico sobre a postura de Israel continua a ser deliberadamente confundido com antissemitismo.

Ataques a templos religiosos também fazem vítimas cristãs 

No início da ação bélica de Israel, em outubro de 2023, 18 pessoas de uma comunidade cristã, abrigadas em um edifício da Igreja Ortodoxa Grega de São Porfírio, no norte da Faixa de Gaza, morreram após um ataque aéreo israelense. Durante o bombardeio de Gaza, hospitais evangélicos e escolas cristãs também foram atingidas.

Imagem: Igreja cristã ortodoxa de Gaza, atingida pelos bombardeios israelitas

Organizações cristãs internacionais como o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e o Vaticano têm se pronunciado contra o estado israelense. Além de denunciar publicamente, o CMI  produziu uma declaração conjunta (de protestantes, católicos e ortodoxos) condenando a escalada de violência por parte de Israel no Oriente Médio, atingindo igrejas, escolas e hospitais religiosos, bem como civis indiscriminadamente. O Vaticano também denunciou a destruição de santuários, escolas e unidades de saúde

No Brasil, 27 igrejas, organizações cristãs e  271 assinaturas lideranças de diferentes igrejas cristãs também se pronunciaram em condenação à ação militar israelense. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), também “rompeu o silêncio” denunciando a “guerra, que já ceifou a vida de 17 mil crianças, além de médicos, profissionais da ONU, estudantes e mulheres”.

Após um ano do início do atual conflito, os ataques bélicos de Israel se estenderam a um país vizinho, o Líbano. Segundo a Cruz Vermelha, um bombardeio matou 21 pessoas em uma vila de maioria cristã no norte do Líbano, em outubro desse ano, o setor cristão de Beirute também foi bombardeado. A Cruz Vermelha também enviou reforços para a equipe libanesa e emitiu comunicados sobre o Direito Humanitário Internacional, que vem sendo desrespeitado. Além da crise recente, no Líbano, desde maio de 2024, as organizações internacionais vêm denunciando as violações de direitos humanos ocorridas na faixa de Gaza

Em 21 de novembro de 2024, após aceitar denúncias de crimes de guerra, o Tribunal Penal Internacional (TPI),  de Haia (Holanda) emitiu mandado de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o seu antigo ministro da Defesa, Yoav Gallant. Também foram condenados, no mesmo tribunal, os comandantes do Hamas – Mohamed Deif, Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar. O TPI decidiu que “cada um tem responsabilidade criminal como superiores civis pelo crime de guerra de dirigir intencionalmente um ataque contra uma população civil”. O estado israelense não reconhece nem a sentença, nem a jurisdição do tribunal. 

Benjamin Netanyahu se pronunciou e argumentou que a decisão do TPI é antissemita. O chanceler israelense comparou a condenação ao caso emblemático do judeu e capitão do exército francês Alfred Dreyfus, vítima de uma falsa acusação e um julgamento injusto em 1894. Para corroborar sua versão, Netanyahu responsabiliza “um juiz francês” ao correlacionar à história do século 19. Em sua defesa, o primeiro-ministro diz fazer de tudo para evitar mortes de civis e defende uma “guerra justa” contra o Hamas. A realidade pelas telas de TV, computadores e smartphones mostra outra postura.

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Bereia alerta leitores e leitoras para o engano de se classificar como “antissemitismo” manifestações críticas ao massacre da população palestina imposto pela ação bélica de Israel no Oriente Médio.

É preciso repudiar sempre preconceito, discriminação e ódio contra judeus, a cultura e a religião judaicas, o que, de fato, consiste em antissemitismo. Porém, é preciso garantir o direito à crítica respeitosa, justa e construtiva a qualquer injustiça cometida da parte de qualquer pessoa, grupo, autoridade, governo, ancorada em dados da realidade que a estimulam. 

Referências:

TikTok.

https://www.tiktok.com/@historiascretasdabiblia/video/7288348707668446470?is_from_webapp=1&sender_device=pc&web_id=7438967406414562871 Acesso em: 25 nov 2024.

https://www.tiktok.com/@js_jesus7/video/7289065431971974406?is_from_webapp=1&sender_device=pc&web_id=7438967406414562871 Acesso em: 25 nov 2024.

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Instituto Brasileiro de Direito e Religião. https://www.ibdr.org.br/publicacoes/2023/10/8/nota-de-repdio-aos-ataques-terroristas-do-hamas-ibdr-e-unigrejas Acesso em: 25 nov 2024.

Gazeta do Povo. https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/guilherme-de-carvalho/preconceito-esquerda-evangelicos-israel Acesso em: 25 nov 2024.

Coalizão pelo Evangelho. https://coalizaopeloevangelho.org/article/chamado-a-oracao-por-israel-e-pela-paz-no-oriente-medio/ Acesso em: 25 nov 2024.

Religião e Poder. https://religiaoepoder.org.br/artigo/sionismo-cristao/ Acesso em: 25 nov 2024.

BBC.

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Enciclopédia do Holocausto. https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/introduction-to-the-holocaust Acesso em: 25 nov 2024.

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X. https://twitter.com/michel_gherman/status/1860696385311392126?t=lmgEHaCnTqHhCstGn2LWKg&s=19 Acesso em: 25 nov 2024.

USP. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2938561/mod_resource/content/1/BOBBIO. Dicion%C3%A1rio de pol%C3%ADtica..pdf Acesso em: 25 nov 2024.

Foto de capa: Free Malasya Today

Ações da extrema-direita no poder em Israel promovem perseguição a cristãos e outras minorias religiosas

A FEPAL (Federação Árabe Palestina do Brasil) reproduziu em sua página do Instagram notícia publicada originalmente pelo Vatican News que chama a atenção para o  “potencial agravamento das já severas restrições ao Cristianismo em Israel, que poderá levar, por nova lei, à prisão de quem pregar a fé cristã”, no que seria  mais uma “ofensiva anticristã do regime racista israelense”. 

Nesse mesmo portal, diz que os “proponentes da norma são dois membros do Knesset, Moshe Gafni e Yaakov Asher, próximos à ala judaica ultra-ortodoxa e membros do Judaísmo da Torá Unida.” O texto, cujo título “Proibição de solicitação de conversão religiosa”, modificaria a lei penal israelense de 1977, onde a pena chegaria a até “um ano de prisão”, se tratando de tentativa de “conversão”, cuja pena se elevaria a dois anos, em caso de menoridade.

De fato, a lei impede qualquer forma de evangelização na Terra Santa, das práticas de evangelismo já conhecidas, até publicações e compartilhamentos de conteúdos midiáticos.

Imagem: reprodução do Instagram

A situação dos cristãos em Israel

Bereia checou as informações e verificou que a situação política em Israel piorou a vida dos cristãos no berço do Cristianismo. Para compreender como Israel chegou a esta posição extremista e de perseguição, Bereia apresenta um retrato do parlamento do país, a coalizão que sustenta o primeiro ministro no poder, as conexões com o Brasil e o histórico de aliança com os EUA, país de maioria protestante.

Netanyahu e sua coalizão de extrema-direita

O Likud, partido de direita liderado por Netanyahu, foi o grande vencedor das eleições de 1º de novembro de 2022. O resultado da eleição geral de novembro, a quinta realizada no país em menos de quatro anos, levou à formação do governo mais à direita da História de Israel. No pleito, o bloco de forças próximas a Netanyahu ficou com o total de 64 das 120 cadeiras da Knesset, o Parlamento israelense, com 32 para o seu partido, o Likud; 18 para os partidos ultraortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Torá; e o recorde de 14 assentos para os representantes do Sionismo Religioso.

Imagem: o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,
no Fórum Econômico Mundial / Flickr WEC

A partir de então, o governo preparou uma grande reforma judicial – que ainda deve passar por votação no Parlamento, e enfrenta protestos pelo país, – e de acordo com diversos especialistas, coloca em risco a democracia no país. Dentre as medidas propostas, encarrega o partido que está no poder da nomeação de juízes e permite ao Parlamento anular decisões da Suprema Corte por uma maioria simples de 61 votos. Assim, deixará para o Legislativo controlado por radicais religiosos e de direita a decisão final sobre leis que prejudicam direitos da minorias religiosas, da imprensa e da comunidade LGBTQIA+.

Yuval Noah Harari: “Israel pode se tornar uma teocracia messiânica”

O professor Yuval Noah Harari, um dos pensadores mais importantes da atualidade, explica que a fundação de Israel, mesmo influenciada pela religião judaica e pela Bíblia, foi um movimento nacional secular e não um movimento religioso, que prometeu liberdade e igualdade para todos os seus cidadãos: cristãos, muçulmanos, ateus. 

“Durante décadas, Israel esteve dividido entre duas visões conflitantes de si mesma — seria uma democracia secular ou uma teocracia messiânica? Agora esse conflito está chegando ao auge. O governo de Netanyahu — que se baseia em uma coalizão de extrema direita de forças messiânicas — está tentando destruir a democracia israelense. Se vencer, se conseguir, transformará a natureza de Israel, do povo judeu e até da religião judaica. O judaísmo israelense se tornará uma seita messiânica intolerante que usa a violência para defender a supremacia judaica. Isso criará uma divisão com comunidades judaicas mais liberais em outras partes do mundo, destruirá a unidade do povo judeu, trará infâmia à religião judaica e incendiará todo o Oriente Médio. As forças seculares e democráticas em Israel estão fazendo tudo o que podem para impedir esta catástrofe histórica e salvar a democracia israelense”.

Michel Gherman: a tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo

Pesquisador do Centro de Estudos do Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém e assessor acadêmico do Instituto Brasil-Israel, Gherman explica que, para além do uso de Israel como inspiração para a extrema-direita, há ligações concretas também entre o bolsonarismo e a comunidade judaica brasileira, na formação de uma espécie de comunidade conservadora.

Uma Israel branca e fortemente armada. Uma muralha contra o Islã, os movimentos LGBTQIA+ e o avanço de culturas que contrariem o fundamentalismo religioso. Ultra capitalista, cristã e militarizada. Essa é a “Israel imaginária”, não necessariamente uma leitura ampla sobre a realidade do país, é definida pelo historiador Michel Gherman, autor do livro “O não judeu judeu: A tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo”, como um modelo cultural que foi importado pela extrema-direita no mundo, inclusive a brasileira, e apropriado pelo bolsonarismo.

Israel e EUA – aliança histórica

A ocupação do território e posterior criação de Israel foi perpetrada por colonos e não por cidadãos de uma potência europeia que os enviou na sua missão colonizadora e os protegeu. Por esse motivo, ficou claro desde o início para os fundadores do sionismo político que era vital para o seu projeto obter o patrocínio de uma Grande Potência – qualquer que fosse a Grande Potência dominante no Oriente Médio – que lhes proporcionaria um ‘muro de aço”, atrás do qual a colonização sionista poderia prosseguir. Sem esse apoio – a que o discurso sionista inicial se referia como uma “carta” – a colonização da Palestina seria uma colonização ainda não iniciada.

Na década de 1930, as relações entre o movimento sionista e o seu antigo defensor britânico arrefeceram e  um processo de início de um novo vínculo: em vez da Inglaterra-sionismo, EUA-Sionismo – um processo que dependia do fato dos EUA estarem entrando no Oriente Médio como uma potência mundial decisiva.

Minoria Cristã em Israel 

Residentes milenares dessa região, os cristãos palestinos representam 1% da população. Para a maioria, a única saída é emigrar, deixar sua nação. Os que ficam, sofrem com os conflitos que atravessam o território.

No total, 48% dos palestinos cristãos pertencem à Igreja Ortodoxa Grega, 38% à Igreja Católica e os demais pertencem a Igrejas Protestantes, como as presbiterianas e ortodoxas de outros ritos (Síria e Armênia).

Nessas regiões estão alguns dos centros mais importantes de peregrinação de suas crenças religiosas: os lugares onde Jesus nasceu, pregou e morreu, de acordo com o relato bíblico e a tradição cristã.

De acordo com a matéria da BBC, os líderes cristãos da região criticam as ações do governo israelense, como parte de “uma tentativa, inspirada em uma ideologia extremista, que nega o direito de existir a quem mora em suas próprias casas”, como disse o bispo católico Pierbattista Pizzaballa de Jerusalém em uma declaração recente.

Assim, como os cristãos são minoria, essa ameaça velada os coloca em maior risco de desaparecer se o conflito perdurar.

Nesse contexto, a comunidade cristã, especificamente, é afetada por duas razões principais: a primeira, pelo crescente assédio por parte dos colonos israelenses às comunidades cristãs ortodoxas e seus representantes religiosos. Em segundo lugar, porque dos aproximadamente 16 mil cristãos que vivem em Jerusalém, cerca de 13 mil são palestinos.

Visto que a comunidade cristã em Jerusalém é muito pequena, tem um peso simbólico e uma forte presença religiosa, no entanto, sua capacidade de influenciar politicamente o conflito, é limitada.

Outro problema que afeta diretamente os cristãos que residem nos territórios palestinos, é o impacto sobre o turismo, atividade que envolve a maioria dos cristãos.

O governo de Israel é quem regula o turismo, assim é também ele, que determina quem entra, quem sai, os itens de consumo, chegando até a segmentar a vacinação contra o coronavírus, que nos territórios palestinos está em fase inicial.

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Bereia conclui que é verdadeiro o conteúdo divulgado pelo site católico  Vatican News que aponta o recrudescimento da perseguição a minorias religiosas por Israel, o que inclui cristãos palestinos. Tal ação resulta tanto de projetos de lei do Parlamento como de ações do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A reforma proposta pelo governo israelense, caso aprovada, coloca em risco não só a permanência de minorias religiosas no país como suas próprias instituições democráticas. 

Referências de checagem:

Federação Árabe-Palestina do Brasil. https://fepal.com.br/ Acesso em: 17 abr 2023 

Vatican News.

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2023-03/israel-shomali-lei-anti-evangelizacao-viola-liberdade-conscienci.html Acesso em: 17 abr 2023  

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2023-03/israel-shomali-lei-anti-evangelizacao-viola-liberdade-conscienci.html Acesso em: 17 abr 2023  

Yuval Noah Harari. https://www.ynharari.com/pt-br/ Acesso em: 17 abr 2023 

Folha de S. Paulo. https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/12/netanyahu-forma-coalizao-para-voltar-ao-poder-em-israel.shtml Acesso em: 17 abr 2023  

Instituto Humanitas Unisinos.

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/626764-israel-para-os-cristaos-a-situacao-esta-piorando-a-direita-religiosa-nao-fala-conosco Acesso em: 17 abr 2023  

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/627298-conferencia-internacional-debate-o-uso-de-israel-como-modelo-cultural-pela-extrema-direita Acesso em: 17 abr 2023

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/626764-israel-para-os-cristaos-a-situacao-esta-piorando-a-direita-religiosa-nao-fala-conosco Acesso em: 17 abr 2023 

UOL. https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/09/08/por-que-eventos-bolsonaristas-tem-bandeiras-de-israel.htm Acesso em: 17 abr 2023  

O Globo.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/12/netanyahu-consegue-maioria-e-liderara-governo-mais-de-extrema-direita-da-historia-de-israel.ghtml Acesso em: 17 abr 2023  

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/04/movimentos-de-extrema-direita-pelo-mundo-estao-conectados-diz-professor-israelense.ghtml Acesso em: 17 abr 2023  

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/04/em-israel-tentam-evitar-a-catastrofe-e-salvar-a-democracia-diz-autor-de-best-sellers.ghtml Acesso em: 17 abr 2023  

G1. https://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/g1-explica-o-que-e-sionismo-judaismo-e-antissemitismo.html Acesso em: 17 abr 2023   

Agência Pública. https://apublica.org/2023/03/como-a-extrema-direita-brasileira-se-apropriou-de-simbolos-judaicos/  Acesso em: 17 abr 2023 

VEJA. https://veja.abril.com.br/mundo/perseguicao-onde-os-cristaos-sao-vitimas-de-opressao-e-violencia/ Acesso em: 17 abr 2023  

Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2021/05/19/pesquisador-explica-conflito-entre-israel-e-palestina-nao-e-um-conflito-religioso Acesso em: 17 abr 2023  

BBC.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c03k6wr202eo Acesso em: 17 abr 2023  

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57143976  Acesso em: 17 abr 2023  

https://www.google.com/amp/s/www.bbc.com/portuguese/internacional-57143976.amp Acesso em: 17 abr 2023   

Outras Palavras. https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/israel-e-eua-parceiros-na-geopolitica-da-barbarie/Acesso em: 17 abr 2023  

Youtube.

https://www.youtube.com/watch?v=SY2eNW6n0po Acesso em: 17 abr 2023  

https://www.youtube.com/watch?v=Olx3rZtUbug Acesso em: 17 abr 2023  

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Foto de capa: Flickr World Economic Forum

Com propaganda sobre Israel, site gospel desinforma sobre remédio contra a covid-19

O site de notícias Gospel Prime publicou, no último 9 de fevereiro,matéria que afirma que o Centro Médico de Ichilov, em Tel-Aviv, Israel, anunciou um medicamento capaz de curar 100% dos doentes da covid-19. A publicação dá conta de que a droga EXO-CD24 passou com sucesso pela fase 1 de testes clínicos. 29 dos 30 pacientes em condições moderadas e graves receberam o medicamento e tiveram alta em até cinco dias, enquanto outro também se recuperou em um período de tempo maior. Apesar de sugerir uma boa notícia, a matéria é imprecisa quanto à eficácia do medicamento, que ainda precisa de mais testes clínicos para ser comprovada.

Como funciona o EXO-CD24

O jornal local The Times of Israel explica que o medicamento combate a tempestade de citosina, uma resposta imune à infecção de coronavírus que se acredita ser responsável por várias das mortes associadas à covid-19. Para conter essa reação, o remédio faz com que exossomos (transportadores de materiais entre células) para entregar aos pulmões a proteína CD24 – alvo de pesquisa do professor Nadir Arber.

“Esta proteína está localizada na superfície das células e tem um papel bem conhecido e importante na regulação do sistema imunológico”, disse ao jornal a pesquisadora Shiran Shapira, do laboratório de Arber. Assim, a CD24 ajuda a acalmar a tempestade de citosina e conter a tempestade.

O sucesso inicial dos testes do EXO-CD24 repercutiu no país. Na semana seguinte ao anúncio, o professor Arber se encontrou com o Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu para tratar do desenvolvimento da droga, informou o The Times of Israel. O cientista explicou que ainda é preciso avançar na fase 2 de testes para ter um retrato mais confiável da eficácia do medicamento e que o remédio não estará disponível sem testes cuidadosos acerca de sua segurança. O doutor também afirmou que o EXO-CD24 pode dar esperança em lugares que não têm vacinas disponíveis. “Podemos produzir este medicamento de forma eficaz, eficiente e barata, então isso pode ser uma solução parcial para países que atualmente não podem pagar uma vacinação”.

Fases de testes para medicamentos

O que o site Gospel Prime não informa e um dos próprios líderes da pesquisa afirma, o EXO-CD24 precisa de mais testes e não vai contra a vacina, mas é uma solução parcial em sua ausência. Não há ainda um estudo com ensaio clínico sobre o remédio e nem publicação em revista científica com revisão de outros cientistas. O próximo passo para a avaliação do medicamento é a fase dois.

De acordo com o Centro de Pesquisa Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, um medicamento passa por quatro fases de testes. A primeira trata-se dos primeiros estudos sobre segurança – pelo qual acabou de passar o EXO-CD24. Na fase dois, aumenta-se o número de indivíduos participantes da pesquisa para 100 a 300, em que diferentes dosagens são avaliadas. 

A seguir, a terceira fase tem a participação de milhares de pessoas, em que o possível novo medicamento é comparado com tratamentos já existentes. É nessa fase que são aplicados placebos e obtém-se dados para rótulos e bulas de medicamentos. A análise desses dados que levam a aprovação do uso do medicamento por autoridades sanitária, como a ANVISA, no caso do Brasil. Por fim, a quarta fase, conhecida como Farmacovigilância, acontece com o remédio no mercado e procura detalhes adicionais sobre segurança e eficácia, definir efeitos colaterais ainda desconhecidos ou fatores de risco relacionados. 

Após a projeção do estudo preliminar, o presidente Jair Bolsonaro anunciou em seu Twitter, em 12 de fevereiro que o Brasil pode participar da terceira fase de testes do EXO-CD24.

Fonte: Twitter/Reprodução

Com esta ênfase, o governo federal mantém sua política de exaltação de feitos do governo de Israel, descartando, porém, destaque à eficaz política de vacinação daquele país.

Vacinação em Israel 

Israel é o país mais avançado na vacinação contra a covid-19 no mundo, tendo vacinado 523 mil pessoas desde 19 de dezembro, segundo o órgão de saúde local, sendo essa a principal estratégia do governo para contenção do coronavírus. Dentre as pessoas vacinadas, apenas 544 foram infectadas pelo coronavírus, 4 em estado grave, e nenhuma morreu.

O Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu afirmou em entrevista que o ceticismo sobre a vacina é notícia falsa. “Somos uma nação de vacinação. Temos vacinas para todos os cidadãos, para todos (…) Se você for se vacinar, estará salvando sua vida”, afirmou. 

Outros conteúdos falsos sobre Israel em mídias do Brasil

Essa não é a primeira vez que Israel entra no radar da desinformação sobre a pandemia do novo coronavírus no Brasil. Em março de 2020, Bereia verificou que não é verdade que o país teria descoberto a cura para a covid-19. Também é falso que o governo israelense teria recomendado aos seus cidadãos um gargarejo para matar o vírus, conforme Bereia verificou em dezembro.

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O Coletivo Bereia avalia que a matéria do Gospel Prime a respeito do EXO-CD24 é imprecisa O conteúdo afirma que o remédio ainda está na fase 1 de testes, mas não diz quais são as fases seguintes necessárias para que o medicamento seja aprovado. Além disso, a manchete “Israel anuncia medicamento capaz de curar 100% os doentes da covid-19” desinforma pois dá a entender que o EXO-CD24 já tem a eficácia comprovada, quando isso ainda será determinado pelas próximas fases de testes clínico.

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Foto de capa: Pixabay/Reprodução

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Referências

The Times of Jerusalem, https://www.timesofisrael.com/new-israeli-drug-cured-moderate-to-serious-covid-cases-within-days-hospital/. Acesso em: 11 de fevereiro de 2021.

The Times of Israel, https://www.timesofisrael.com/israeli-inventor-of-promising-covid-drug-hopes-it-can-help-vaccineless-countries/. Acesso em: 11 de fevereiro de 2021.

G1, https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/02/06/medicos-de-israel-identificam-remedio-para-cancer-que-ajuda-no-tratamento-contra-covid-19-ainda-nao-ha-estudo-conclusivo.ghtml. Acesso em: 11 de fevereiro de 2021.

Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, https://www.fcm.unicamp.br/fcm/cpc-centro-de-pesquisa-clinica/pesquisa-clinica/quais-sao-fases-da-pesquisa-clinica. Acesso em: 11 de fevereiro de 2021.

Jair Bolsonaro, https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1360251299149791238. Acesso em: 14 de fevereiro de 2021.

Times of Israel. https://www.timesofisrael.com/hmo-sees-only-544-covid-infections-among-523000-fully-vaccinated-israelis/. Acesso em 14 de fevereiro de 2021.

CNN. https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2021/02/09/mais-de-97-da-mortes-em-israel-por-covid-19-foram-de-pessoas-nao-vacinadas. Acesso em 14 de fevereiro de 2021.

Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/nao-e-verdade-que-israel-descobriu-a-cura-para-o-coronavirus/. Acesso em: 14 de fevereiro de 2021.

Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/religiosos-viralizam-videos-com-mascara-invisivel-e-receita-contra-a-covid-19-nas-midias-sociais/. Acesso em: 14 de fevereiro de 2021.