Comunicadores cristãos são convocados a difundir a causa da preservação ambiental

Ciclone extratropical deixa rastro de destruição e mortes no RS”;  “Choveu dois meses em um só dia no litoral de SP”; “Maior seca em 43 anos na Amazônia”; “Queimadas caem 1% no Brasil, mas crescem 14% na Amazônia”; “Calor Extremo: julho de 2023 foi o mês mais quente já registrado no planeta

Manchetes como estas estão cada vez mais comuns nos jornais diários no Brasil e em todo o mundo. Temperaturas extremas, tempestades e secas jamais vistas, derretimento de geleiras, mortes e destruição. Sim, as mudanças climáticas têm uma variedade de consequências no planeta e países do mundo todo estão debruçados sobre estudos avançados para tentar reverter ou, pelo menos, frear os efeitos devastadores dessas mudanças. Mas a pergunta que fica é: por que estamos enfrentando desastres e eventos climáticos tão severos em diferentes regiões da Terra?  

Pensando em difundir entre cristãos brasileiros as causas das severas mudanças climáticas e como protegermos o que nos resta, a Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI-Brasil) promoveu, durante os dias 26 e 27 de setembro, um encontro entre comunicadores cristãos. 

Um grupo com cerca de 40 pessoas entre jornalistas, influencers, radialistas, apresentadores e produtores de todo o país esteve em São José dos Campos, interior de São Paulo, para palestras e oficinas com pesquisadores no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ambos órgãos ligados ao governo federal. Beréia foi representado no encontro pela jornalista Viviane Castanheira. 

O IRI

O IRI é uma iniciativa mundial, criada em 2017 em Oslo, capital da Noruega, em um encontro inédito de lideranças religiosas católicas, evangélicas, muçulmanas, judaicas, budistas, hindus e taoístas, além de cientistas climáticos, especialistas em florestas tropicais e representantes dos povos indígenas do Brasil, Colômbia, República Democrática do Congo, Indonésia e Peru, países que juntos contém 70% das florestas tropicais restantes no mundo. 

A iniciativa funciona como uma plataforma de apoio às lideranças religiosas para que estas possam dar amplitude à causa ambiental e, assim, contribuir para a preservação, equilíbrio climático, e a proteção dos povos indígenas e das comunidades locais. Uma aliança internacional e multi-religiosa que visa trazer urgência moral e liderança baseada na fé aos esforços globais para acabar com o desmatamento tropical, destaca o site da entidade. 

CEMADEN

No primeiro dia, 26 de setembro, a visita ao Cemaden foi recheada de boas conversas logo na parte da manhã, o grupo foi agraciado com um bate-papo com o coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden José Marengo, reconhecido internacionalmente, como um dos melhores cientistas ambientais no Brasil e no mundo. Marengo destacou que o homem não é culpado pelo aquecimento global, visto que este é um processo natural. “Entretanto, estamos acelerando esse processo. O principal fator é a queima de combustíveis fósseis pela industrialização”, ressaltou o pesquisador que frisou a importância de haver políticas públicas direcionadas à promoção de ações sociais junto aos moradores de áreas de risco.  “Podemos ter os melhores modelos, computadores, equipamentos para prever chuvas, desastres naturais etc, mas se não resolvermos a questão da vulnerabilidade social não adianta nada”, lamenta. 

À tarde, os comunicadores conheceram a “Sala de Situação”, onde equipes multidisciplinares constituídas por meteorologistas, hidrólogos, geólogos e cientistas sociais monitoram todo o país por 24 horas, sete dias por semana. Além dos especialistas em áreas técnicas, há os especialistas em ciências sociais para analisar como determinados eventos naturais vão impactar a vida das comunidades que vivem nos locais atingidos pelos desastres naturais. “O Brasil é um dos países mais complexos do mundo, por isso temos um desafio maior de interligar essas tecnologias com essas dificuldades. Nós possuímos vários produtos de monitoramento o que nos ajuda a tornar o alerta mais preciso”, explica o PhD em Mudanças Climáticas e Desastres Pedro Ivo Camarinha, mostrando como funciona cada sistema no painel de controle. Camarinha é responsável pelo envio de alertas de risco de desastres causados por movimentos de massa do Cemaden. 

Além do monitoramento propriamente dito, a entidade mantém o projeto Cemaden Educação, uma rede de escolas, comunidades, pesquisadores e defesas civis locais que trabalha na prevenção de riscos de desastres socioambientais. De acordo com a instituição federal, o programa tem o objetivo de contribuir para a geração de uma cultura de percepção e prevenção e busca colaborar com a construção de sociedades sustentáveis. “Por meio da promoção e difusão científica, cada escola participante pode se tornar um Cemaden micro-local, espaço para realizar pesquisas, monitorar o tempo e o clima, compartilhar conhecimentos, entender e emitir alertas de desastres. Além de fazer a gestão participativa de intervenções com suas comunidades”, descreve o site do programa.

INPE

A visita ao Inpe não ficou para trás. O Instituto, que foi criado em 1961, atua nas áreas de ciências espaciais e atmosféricas, previsão do tempo e estudos climáticos, observação da Terra, ciência do sistema terrestre, entre outras pesquisas e tecnologias que têm como missão oferecer produtos e serviços singulares e soluções inovadoras nas áreas do espaço exterior e do sistema terrestre, para o avanço e a difusão do conhecimento e o desenvolvimento sustentável, em benefício do Brasil e do mundo. 

Imagem: visita ao INPE. Foto de Viviane Castanheira

A primeira demanda do Inpe, na verdade, foi verificar se as pessoas que foram cooptadas durante o Regime Militar para ocupar a Amazônia, com o intuito de proteger a área da ação estrangeira, estava de fato desmatando e construindo áreas civilizadas. Atualmente, o propósito é outro. Os vários sistemas de monitoramento das florestas brasileiras, usa imagens de satélites para identificar onde está havendo desmatamentos, queimadas e eventos desta natureza. “Pegamos novas imagens, e fazemos um comparativo com o ano anterior para identificar novos desmatamentos”, conta o pesquisador Sênior do Inpe e Coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST / Inpe) Jean Pierre Henry Balbaud Ometto. O pesquisador explicou para o grupo como funcionam os sistemas e plataformas de monitoramento do Instituto. 

Além das palestras, os visitantes conheceram a Coordenação de Rastreio, Controle e Recepção de Satélites onde puderam ver como os satélites funcionam e como as imagens são captadas. Equipamentos de última geração. Inclusive, o Brasil tem um satélite de fabricação própria chamado Amazonia-1, o primeiro satélite de Observação da Terra completamente projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil, lançado em 2021. O Amazonia-2 já está em fase de planejamento e vai dar continuidade à missão do satélite anterior, fornecendo dados de sensoriamento remoto para monitorar o desmatamento especialmente na região amazônica e a agricultura em todo o território nacional, entretanto, ainda não tem data para lançamento. 

O grupo de quase 40 comunicadores presentes em São José dos Campos certamente saiu desta experiência com uma bagagem de ferramentas e conhecimentos imprescindíveis para propagar os ideais de proteção e defesa do meio ambiente das nossas florestas tão necessários para o futuro da nossa civilização.

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Foto de Capa: Cemaden, por Viviane Castanheira

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