Pesquisa realiza análise da propagação de desinformação sobre a calamidade no Rio Grande do Sul

Desinformação sobre as enchentes no Rio Grande do Sul é o foco do relatório divulgado pelo NetLab, laboratório de pesquisa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), em 16 de maio passado. O material tem como objetivo analisar as principais temáticas que são alvo de mentiras, enganos e imprecisões, além dos perfis que fazem parte dessa propagação em diferentes plataformas.

Esse é o quarto desastre relacionado a questões ambientais que atingem o estado no período de um ano. As chuvas tiveram início em 27 de abril e as consequências delas levaram o poder público a declarar Estado de Calamidade em 1 de maio. Nas atualizações, publicadas pela Defesa Civil do RS, até o fechamento desta matéria, o número de óbitos confirmados atingiu a marca de 161 pessoas e mais de 580 mil cidadãos desabrigados.

Junto dos números alarmantes sobre a tragédia, cresceu também o número de conteúdos de desinformação sobre a situação do estado. Essas publicações prejudicam o trabalho de assistência prestado à população, propiciam um ambiente de insalubridade e funcionam como palco para uma disputa política entre figuras que buscam lucrar com a tragédia,  como mostra a pesquisa do NeltLab-UFRJ.

O relatório apresenta o mapeamento de influenciadores e conteúdos desinformativos em diferentes plataformas, como o Instagram, Facebook,  a biblioteca de anúncios do Meta, o Youtube e outros sites. A partir dessa análise, o laboratório de pesquisa observou que influenciadores e plataformas de conteúdo fazem uso dessas informações para descredibilizar o governo Lula e banalizar a crise climática, por meio do negacionismo das mudanças no clima, teorias da conspiração e críticas à resposta governamental federal.

Entre os principais resultados, o material destaca oito temas que embasam mentiras, enganos e imprecisões e circulam nas mídias: 

1. Ao presidente Lula não está comprometido com as vítimas das enchentes; 

2. A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva insiste em culpar Bolsonaro por tragédia; 

3. Starlink (tecnologia de propriedade do megaempresário dos EUA Elon Musk) é a única internet que está ajudando nos resgates; 

4. Show da cantora Madonna (Rio, ll de Janeiro, 4 de maio)  recebeu recursos governamentais que  deveriam ir para o RS;

 5. Governo federal está impedindo que doações cheguem às vítimas; 

6. As chuvas são um castigo de Deus; 

7. A tragédia foi planejada e implementada por globalistas; 

8. Figuras vinculadas à direita política  estão ajudando mais que o governo federal.

O relatório aponta que a disseminação de desinformação já ocorreu em outras catástrofes e que a situação se repete devido à ausência de regulamentação do ambiente digital. O destaque são plataformas como a Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) que não apresentam transparência sobre dados de usuários e de anúncios que propagam notícias fraudulentas, com informações e links falsos.

O papel dos influenciadores e das plataformas religiosas 

Além da análise das principais publicações desinformativas, o relatório faz a checagem de perfis de influenciadores e conteúdos divulgados sobre a situação do Rio Grande do Sul. Entre os influenciadores analisados pelo NetLab estão personagens com identidade religiosa como Michele Abreu, que divulgou vídeos afirmando que a calamidade no Sul seria resultado de um castigo de Deus por conta de o estado ter o maior número de terreiros de religiões de tradição africana. .

Outras personagens com identidade religiosa analisadas pelo laboratório são o influenciador Pablo Marçal, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e Eduardo Bolsonaro, que disseminaram conteúdos afirmando que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) havia bloqueado caminhões com recursos para as vítimas. Estes conteúdos  também foram checados pelo Bereia,  cuja matéria também inclui  outras figuras públicas religiosas. 

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Os conteúdos e anúncios fraudulentos propagados nas mídias sociais, além de causarem pânico e confusão, corroboram ainda para um cenário de desestruturação e descredibilidade das estruturas governamentais e de pesquisa. Isto, a longo prazo, repercute em ataques políticos-ideológicos com o objetivo de lucrar com esses eventos, como aponta o professor Camilo Aggio, docente do Departamento de Comunicação Social da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em entrevista ao Nexo.

Bereia alerta os leitores e leitoras para este último ponto, uma vez que o Brasil vive ano de eleições para os cargos municipais e o uso político da tragédia no Sul para campanha eleitoral deve ser observado.

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Referências:

Enchentes no Rio Grande do Sul: uma análise da desinformação multiplataforma sobre o desastre climático. https://netlab.eco.ufrj.br/post/enchentes-norio-grande-do-sul-uma-análise-da-desinformação-multiplataforma-sobre-o-desastre-climáti.  Acesso em 21 maio 2024

Por que espalhar desinformação sobre as enchentes agrava a crise no Rio Grande do Sul. https://www.aosfatos.org/noticias/desinformacao-tragedia-rio-grande-do-sul/ Acesso em 21 maio 2024

Vídeo de idosa com cachorro em casa alagada foi gravado na Argentina, não no RS. https://www.aosfatos.org/noticias/video-idosa-cachorro-casa-alagada-argentina-nao-rs/ Acesso em 21 maio 2024

No Telegram, negacionistas usam falsa ‘arma climática’ para justificar tragédia no RS. https://www.aosfatos.org/bipe/negacionismo-climatico-telegram-rio-grande-do-sul/ Acesso em 21 maio 2024

A onda de mentiras que mina ações de ajuda aos gaúchos. https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/05/07/chuvas-rio-grande-do-sul-geram-desinformacao-fake-news Acesso em 21 maio 2024

Lideranças religiosas mentem e enganam sobre as enchentes que atingem o RS. https://coletivobereia.com.br/a-desinformacao-de-religiosos-nas-enchentes-que-atingem-o-rio-grande-do-sul/ Acesso em 21 maio 2024

NetLab. https://netlab.eco.ufrj.br/quemsomos Acesso em 21 maio 2024

Defesa Civil atualiza balanço das enchentes no RS – 21/5, 18h. https://estado.rs.gov.br/defesa-civil-atualiza-balanco-das-enchentes-no-rs-21-5-18h Acesso em 21 maio 2024

Enchentes no Rio Grande do Sul: Uma análise da desinformação multiplataforma sobre o desastre climático. https://netlab.eco.ufrj.br/post/enchentes-norio-grande-do-sul-uma-an%C3%A1lise-da-desinforma%C3%A7%C3%A3o-multiplataforma-sobre-o-desastre-clim%C3%A1ti  Acesso em 21 maio 2024

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Foto de capa: Wikkikomons

Comunicadores cristãos são convocados a difundir a causa da preservação ambiental

Ciclone extratropical deixa rastro de destruição e mortes no RS”;  “Choveu dois meses em um só dia no litoral de SP”; “Maior seca em 43 anos na Amazônia”; “Queimadas caem 1% no Brasil, mas crescem 14% na Amazônia”; “Calor Extremo: julho de 2023 foi o mês mais quente já registrado no planeta

Manchetes como estas estão cada vez mais comuns nos jornais diários no Brasil e em todo o mundo. Temperaturas extremas, tempestades e secas jamais vistas, derretimento de geleiras, mortes e destruição. Sim, as mudanças climáticas têm uma variedade de consequências no planeta e países do mundo todo estão debruçados sobre estudos avançados para tentar reverter ou, pelo menos, frear os efeitos devastadores dessas mudanças. Mas a pergunta que fica é: por que estamos enfrentando desastres e eventos climáticos tão severos em diferentes regiões da Terra?  

Pensando em difundir entre cristãos brasileiros as causas das severas mudanças climáticas e como protegermos o que nos resta, a Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI-Brasil) promoveu, durante os dias 26 e 27 de setembro, um encontro entre comunicadores cristãos. 

Um grupo com cerca de 40 pessoas entre jornalistas, influencers, radialistas, apresentadores e produtores de todo o país esteve em São José dos Campos, interior de São Paulo, para palestras e oficinas com pesquisadores no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ambos órgãos ligados ao governo federal. Beréia foi representado no encontro pela jornalista Viviane Castanheira. 

O IRI

O IRI é uma iniciativa mundial, criada em 2017 em Oslo, capital da Noruega, em um encontro inédito de lideranças religiosas católicas, evangélicas, muçulmanas, judaicas, budistas, hindus e taoístas, além de cientistas climáticos, especialistas em florestas tropicais e representantes dos povos indígenas do Brasil, Colômbia, República Democrática do Congo, Indonésia e Peru, países que juntos contém 70% das florestas tropicais restantes no mundo. 

A iniciativa funciona como uma plataforma de apoio às lideranças religiosas para que estas possam dar amplitude à causa ambiental e, assim, contribuir para a preservação, equilíbrio climático, e a proteção dos povos indígenas e das comunidades locais. Uma aliança internacional e multi-religiosa que visa trazer urgência moral e liderança baseada na fé aos esforços globais para acabar com o desmatamento tropical, destaca o site da entidade. 

CEMADEN

No primeiro dia, 26 de setembro, a visita ao Cemaden foi recheada de boas conversas logo na parte da manhã, o grupo foi agraciado com um bate-papo com o coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden José Marengo, reconhecido internacionalmente, como um dos melhores cientistas ambientais no Brasil e no mundo. Marengo destacou que o homem não é culpado pelo aquecimento global, visto que este é um processo natural. “Entretanto, estamos acelerando esse processo. O principal fator é a queima de combustíveis fósseis pela industrialização”, ressaltou o pesquisador que frisou a importância de haver políticas públicas direcionadas à promoção de ações sociais junto aos moradores de áreas de risco.  “Podemos ter os melhores modelos, computadores, equipamentos para prever chuvas, desastres naturais etc, mas se não resolvermos a questão da vulnerabilidade social não adianta nada”, lamenta. 

À tarde, os comunicadores conheceram a “Sala de Situação”, onde equipes multidisciplinares constituídas por meteorologistas, hidrólogos, geólogos e cientistas sociais monitoram todo o país por 24 horas, sete dias por semana. Além dos especialistas em áreas técnicas, há os especialistas em ciências sociais para analisar como determinados eventos naturais vão impactar a vida das comunidades que vivem nos locais atingidos pelos desastres naturais. “O Brasil é um dos países mais complexos do mundo, por isso temos um desafio maior de interligar essas tecnologias com essas dificuldades. Nós possuímos vários produtos de monitoramento o que nos ajuda a tornar o alerta mais preciso”, explica o PhD em Mudanças Climáticas e Desastres Pedro Ivo Camarinha, mostrando como funciona cada sistema no painel de controle. Camarinha é responsável pelo envio de alertas de risco de desastres causados por movimentos de massa do Cemaden. 

Além do monitoramento propriamente dito, a entidade mantém o projeto Cemaden Educação, uma rede de escolas, comunidades, pesquisadores e defesas civis locais que trabalha na prevenção de riscos de desastres socioambientais. De acordo com a instituição federal, o programa tem o objetivo de contribuir para a geração de uma cultura de percepção e prevenção e busca colaborar com a construção de sociedades sustentáveis. “Por meio da promoção e difusão científica, cada escola participante pode se tornar um Cemaden micro-local, espaço para realizar pesquisas, monitorar o tempo e o clima, compartilhar conhecimentos, entender e emitir alertas de desastres. Além de fazer a gestão participativa de intervenções com suas comunidades”, descreve o site do programa.

INPE

A visita ao Inpe não ficou para trás. O Instituto, que foi criado em 1961, atua nas áreas de ciências espaciais e atmosféricas, previsão do tempo e estudos climáticos, observação da Terra, ciência do sistema terrestre, entre outras pesquisas e tecnologias que têm como missão oferecer produtos e serviços singulares e soluções inovadoras nas áreas do espaço exterior e do sistema terrestre, para o avanço e a difusão do conhecimento e o desenvolvimento sustentável, em benefício do Brasil e do mundo. 

Imagem: visita ao INPE. Foto de Viviane Castanheira

A primeira demanda do Inpe, na verdade, foi verificar se as pessoas que foram cooptadas durante o Regime Militar para ocupar a Amazônia, com o intuito de proteger a área da ação estrangeira, estava de fato desmatando e construindo áreas civilizadas. Atualmente, o propósito é outro. Os vários sistemas de monitoramento das florestas brasileiras, usa imagens de satélites para identificar onde está havendo desmatamentos, queimadas e eventos desta natureza. “Pegamos novas imagens, e fazemos um comparativo com o ano anterior para identificar novos desmatamentos”, conta o pesquisador Sênior do Inpe e Coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST / Inpe) Jean Pierre Henry Balbaud Ometto. O pesquisador explicou para o grupo como funcionam os sistemas e plataformas de monitoramento do Instituto. 

Além das palestras, os visitantes conheceram a Coordenação de Rastreio, Controle e Recepção de Satélites onde puderam ver como os satélites funcionam e como as imagens são captadas. Equipamentos de última geração. Inclusive, o Brasil tem um satélite de fabricação própria chamado Amazonia-1, o primeiro satélite de Observação da Terra completamente projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil, lançado em 2021. O Amazonia-2 já está em fase de planejamento e vai dar continuidade à missão do satélite anterior, fornecendo dados de sensoriamento remoto para monitorar o desmatamento especialmente na região amazônica e a agricultura em todo o território nacional, entretanto, ainda não tem data para lançamento. 

O grupo de quase 40 comunicadores presentes em São José dos Campos certamente saiu desta experiência com uma bagagem de ferramentas e conhecimentos imprescindíveis para propagar os ideais de proteção e defesa do meio ambiente das nossas florestas tão necessários para o futuro da nossa civilização.

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Foto de Capa: Cemaden, por Viviane Castanheira

“A jaula de ferro” do capital produzirá “uma noite polar, gélida, sombria e árdua”?

*Texto escrito no final de 2021

Seguimos ainda em 2021, ano que não acabou porque o Covid-19 anulou a contagem  do tempo por continuar sua obra letal. O 2022 não pôde, por ora, ser inaugurado. O fato é que o vírus colocou de joelhos todos os poderes, especialmente os militaristas, pois  seu arsenal de morte fez-se totalmente ineficaz. 

No entanto, o gênio do capitalismo, a propósito da pandemia, fez com que a classe capitalista transnacionalizada se reestruturasse mediante o Great Reset (a Grande Reinicialização), expandindo a recente economia digital mediante a integração dos gigantes: Microsoft,  Facebook, Apple, Amazon, Google, Zoom e outros com o complexo militar-industrial e de segurança. Tal evento representa a formação de um poder imenso, nunca havido antes. Notemos que se trata de um poder econômico de natureza capitalista  e que, portanto, realiza seu propósito essencial, o de maximização  dos lucros de forma ilimitada, explorando, sem consideração, os seres humanos e a natureza. A acumulação não é meio para um bem viver mas é um fim em si mesmo, vale dizer, a acumulação pela acumulação, o que é irracional.

A consequência desta radicalização do capitalismo  confirma o que  um sociólogo da universidade da Califórnia em Santa Bárbara, William I. Robinson, num artigo recente, bem observou (ALAI 20/12/2021): “À medida em que o mundo vai se livrando da pandemia, haverá mais desigualdade, conflitos, militarismo e autoritarismo e nesta mesma medida aumentarão as convulsões sociais e os conflitos civis; os grupos dominantes se empenharão por expandir o estado policial global para conter os descontentes em massa, vindos de baixo”. Com efeito, utilizar-se-á a inteligência artificial com seus bilhões e bilhões de algoritmos para controlar cada pessoa e a sociedade inteira. Esse brutal poder levará a humanidade para onde?

Sabendo da lógica implacável do sistema capitalista, Max Weber, um dos que melhor a analisou criticamente, um pouco antes de morrer, asseverou: “O que nos aguarda não é o florescimento do outono, nos aguarda uma noite polar, gélida, sombria e árdua (Le Savant et le Politique, Paris 1990, p. 194). Ele cunhou a expressão forte que atinge o coração do capitalismo: ele é uma “jaula de ferro” (Stahlartes Gehäuse) que não consegue romper e, por isso, nos pode levar a uma grande catástrofe (cf. a pertinente análise de M. Löwy, La jaula de hierro: Max Weber y el marxismo weberiana, México 2017). Essa opinião é compartilhada por grandes nomes como Thomas Mann, Oswald Spengler, Ferdinand Tönnies, Eric Hobsbawn entre outros.

Vários modelos de sociedade-mundo estão sendo discutidos para o pós-pandemia. Os mais importantes além do Great Reset dos bilhardários, são: o capitalismo verde, o ecossocialismo, o bien vivir e convivir dos andinos, a biocivilização, de vários grupos e  do Papa Francisco entre outros. Não cabe aqui detalhar tais projetos, coisa que fiz no livro Covid-19: A Mãe Terra contra-ataca a Humanidade (Vozes 2020). Apenas diria: ou mudamos de paradigma de produção, de consumo, de convivência e,  especialmente, de relação para com a natureza, com respeito e cuidado, sentindo-nos parte dela e não  sobre ela como donos e senhores, ou então realizar-se-á o prognóstico de Max Weber: poderemos de 2030 até no máximo 2050, conhecer um armagedon ecológico-social extremamente danoso para a vida e para a Terra.

Neste sentido, meu sentimento do mundo me diz que quem irá destruir a ordem do capital, com sua economia, política e cultura, não seria nenhum movimento ou escola de pensamento crítico. Seria a própria Terra, planeta limitado que não suporta mais um projeto de crescimento ilimitado. A visível mudança climática, objeto de discussão e de tomada de decisão (praticamente nenhuma) das últimas COPs da ONU, o esgotamento crescente dos bens e serviços naturais, fundamentais para a vida (The Earth Overshoot) e a ameaça de  rompimento das principais das nove barreiras do desenvolvimento que não podem ser rompidas a preço do colapso da civilização, são alguns indicadores de uma iminente tragédia. 

Um número significativo de especialistas em clima  afirma que chegamos tarde demais. Com o já acumulado de gases de efeito estufa na atmosfera não poderemos conter a catástrofe, apenas, com ciência e tecnologia, minorar seus efeitos desastrosos. Mas a grande crise irreversível  virá. Por isso se fizeram céticos e  até tecno fatalistas.

Seremos pessimistas resignados ou, no sentido de Nietzsche, adeptos da “resignação heroica”? Estimo, como dizia um pré-socrático: devemos esperar o inesperado, pois, se não o esperarmos, quando ele vier, não o perceberemos. O inesperado pode ocorrer, dentro da perspectiva quântica: o sofrimento atual por causa da crise sistêmica não será em vão; ele está acumulando  energias benfazejas que, ao atingir certo nível de complexidade e de acumulação, darão um salto para uma outra ordem mais alta com um novo horizonte de esperança para a vida e para o planeta vivo, Gaia, a Mãe Terra. Paulo Freire cunhou a expressão esperançar: não ficar esperando que um dia a situação irá melhorar, mas criar as condições para que a esperança não seja vazia, senão que, com nosso empenho, a façamos efetiva.

Creio que esse salto, com a nossa participação, poderá ocorrer e estaria dentro das possibilidades da história do universo e da Terra: do atual caos destrutivo, podemos passar para um caos generativo de um novo modo de ser e de habitar o planeta Terra. A arca de Noé está sendo construída pelos movimentos ecológicos, pelo eco feminismo e pelos modelos alternativos de economia circular, pelos grupos políticos engajados numa biocivilização. É nisso que creio e espero, reforçado pela palavra da Revelação que afirma: “Deus criou todas as coisas por amor porque é o apaixonado amante da vida”(Sabedoria 11,26). Ele não permitirá que terminemos assim tragicamente. Ainda viveremos sob a luz benevolente do sol.

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Imagem de capa: Jeso Carneiro / Flickr

Bispo da Assembleia de Deus Abner Ferreira participa de encontro inter-religioso no Vaticano

Circulam em grupos de WhatsApp evangélicos fotos e notas que colocam em dúvida a participação do Bispo Presidente da Assembleia de Deus – Ministério de Madureira Abner Ferreira, em evento no Vaticano. O Bispo, de fato, esteve presente na conferência “Fé e Ciência: Rumo à COP 26” cujo anfitrião foi o líder máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, Papa Francisco. O encontro reuniu cientistas e outros 22 representantes de diversas religiões. 

De acordo com o sociólogo e secretário-executivo adjunto do Instituto de Estudos da Religião (ISER) Clemir Fernandes, que colaborou para a participação do Bispo no evento, Abner foi convidado pela Embaixada do Reino Unido em Brasília através de contato com o ISER. O Instituto possui conexões internacionais com movimentos ambientais inter-religiosos. 

Segundo Clemir, “o evento possuía uma agenda muito clara, tratando de mudanças climáticas, a partir da ciência e compromisso com educação. O convite às lideranças religiosas globais veio através da percepção do sistema ONU de que o apoio e a mobilização das religiões são muito importantes para incidência nessa agenda”. Ele acrescentou que, por isso, o Reino Unido, sede da COP26, em conjunto com a Itália, presidente do Grupo dos 20, promoveu o encontro em diálogo com o Vaticano.

Imagem: reprodução do Youtube

Abner Ferreira discursou por cerca de cinco minutos na Sala das Bênçãos, no Vaticano, representando a Convenção Nacional Das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira (CONAMAD), na pessoa de seu Presidente Vitalício Bispo Primaz Manoel Ferreira, pai de Abner, e de seu irmão, Presidente Executivo Bispo Samuel Ferreira.

Na fala, o bispo pentecostal, único representante da América do Sul na conferência, destacou que “a principal tarefa da Igreja é anunciar as Boas Novas de salvação em Cristo Jesus, mas isso não a isenta de preocupar-se com a questão ecológica. Foi Deus quem responsabilizou o homem sobre esta tarefa, ‘Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar’ (Gênesis 2:15)”. Ele enfatizou que a preservação do meio-ambiente não é responsabilidade somente dos governantes. O discurso em vídeo pode ser conferido na íntegra aqui.

Fé e Ciência: Rumo à COP 26

Sediado no Vaticano, o encontro ocorreu nos dias 4 e 5 de outubro com objetivo de fazer um apelo às autoridades participantes da COP 26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada anualmente. Visando discutir a redução das emissões de gases do efeito estufa, a 26ª conferência será entre 31 de outubro e 12 de novembro em Glasgow, na Escócia.

Em meio a discursos e debates, o Papa e líderes das representações religiosas ortodoxa, islâmica, judaica, jainista, sikh, protestante e evangélica assinaram um documento no qual ressaltam a importância do comprometimento dos países para alcançar as metas climáticas. O texto aponta que os Estados responsáveis ​​por parcelas significativas de emissões de gases do efeito estufa devem fornecer um “apoio financeiro substancial” às comunidades mais vulneráveis à crise climática. Os religiosos, por sua vez, comprometeram-se a promover iniciativas educacionais e culturais com o intuito de desenvolver uma consciência ambiental que possa levar seus fiéis a terem estilos de vida mais sustentáveis.

Após a assinatura, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé Matteo Bruni, convidou os presentes a um momento de oração “levando no coração sobretudo os mais pobres e marginalizados, aqueles que primeiramente e de maneira mais forte sofrem os danos causados pelas mudanças climáticas”. Os líderes religiosos realizaram orações silenciosamente, cada um de acordo com seu próprio credo.

O documento foi entregue pelo Pontífice ao presidente da COP26 Alok Sharma, e ao Ministro das Relações Exteriores da Itália Luigi Di Maio. As três páginas do discurso proferido pelo Papa na ocasião também foram entregues.

Imagem: reprodução do YouTube

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Bereia classifica como verdadeiras as postagens em mídias sociais sobre a participação do Bispo Presidente da Assembleia de Deus – Ministério de Madureira Abner Ferreira, no evento “Fé e Ciência: Rumo à COP 26” no Vaticano, liderado pelo  Papa Francisco. A presença de Abner Ferreira foi registrada em suas mídias sociais e confirmada nas mídias do Vaticano.

Referências:

Youtube – Vatican News. https://www.youtube.com/watch?v=w6E4IUyUZc4&t=5342s Acesso em: 10 out 2021

Instituto de Estudos da Religião. https://www.iser.org.br/noticia/fe-no-clima/fe-e-ciencia-pelo-clima/ Acesso em: 10 out 2021.

Missão Somos Um. http://missaosomosum.com.br/2021/10/08/bispo-abner-ferreira-lider-da-iead-ministerio-madureira-encontra-se-com-papa-francisco-no-vaticano/ Acesso em: 10 out 2021.

UN Climate Change Conference UK 2021. https://ukcop26.org/ Acesso em: 10 out 2021.

CNN. https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/entenda-o-que-e-cop26-conferencia-da-onu-para-evitar-catastrofe-climatica/ Acesso em: 10 out 2021.

Vatican News. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-10/papa-francisco-fe-ciencia-vaticano-cop-26-glasgow.html Acesso em: 11 out 2021

Vatican Newshttps://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-10/fe-ciencia-cop-26-lideres-religiosos-assinatura-apelo-al-tayyib.html Acesso em: 11 out 2021

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Imagem de capa: YouTube do Vatican News