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A Articulação Judaica de Esquerda (AJE) publicou, em sua página no X, a imagem de uma notícia do jornal francês Le Parisien, em 25 de janeiro último. A reprodução da publicação indica que uma vítima de antissemitismo teria, supostamente, inventado os próprios ataques, e será julgada em março. No texto que acompanha a imagem, a AJE acrescenta que se trata de uma “militante sionista” e que o caso dos ataques foi “amplamente repercutido pela imprensa” francesa. Bereia checou informações sobre o caso.
Imagem: reprodução X
A reprodução da imagem compartilhada nas redes digitais, é referente à notícia publicada também em 25 de janeiro. O texto do Le Parisien esclarece que a vítima de fato denunciou os ataques à imprensa. Em outubro de 2024, o jornal francês noticiou que uma moradora de Paris, identificada como Nancy S., denunciou à polícia ter sido vítima de diversos ataques antissemitas.
Na porta de seu apartamento, na caixa de correio e até no elevador do prédio onde Nancy S. mora havia pichações como a Estrela de David sobreposta pela palavra “judeu”, suásticas nazistas e ameaças de morte.
Nancy S. relatou à imprensa sentir medo em razão dos ataques, sobretudo porque o prédio onde mora já foi palco de um episódio recente de violência contra judeus. Em 23 de março de 2018, a sobrevivente do holocausto Mireille Knoll foi assassinada, aos 85 anos.
De acordo com a Rádio França Internacional (RFI), a mulher judia registrou ao menos dez denúncias, entre 19 de setembro e 24 de outubro de 2024. Segundo o veículo, o Ministério Público de Paris passou a investigar os ataques, considerados degradação por motivos religiosos.
A matéria da RFI acrescenta que, em seu perfil nas redes digitais, a mulher compartilhava vídeos em que ela e a filha mostravam as pichações, e nos últimos meses também procurou veículos de imprensa para denunciar supostas perseguições.
Investigação, discurso falso e julgamento
Em um primeiro momento, as imagens registradas próximas ao endereço da denunciante não permitiram à polícia identificar nenhum suspeito. Na sequência, os responsáveis pela investigação instalaram uma câmera no interior do prédio em que Nancy S. reside, localizado no 11° distrito de Paris, na região centro-leste da capital francesa.
Pichação antissemita, com Estrela de Davi em vermelho e a palavra “judeus” em preto – Imagem: reprodução Le Parisienf
Após a mulher registrar mais uma denúncia, em 20 de dezembro, uma câmera foi colocada no elevador do prédio. Segundo o texto da RFI, a vítima tornou-se suspeita depois que alegou ter recebido uma carta antissemita e as autoridades identificaram que ela havia comprado o selo usado no envelope.
As imagens gravadas permitiram identificar Nacy S, e sua filha menor de idade, cometendo os delitos dos quais alegavam ser vítimas, em 18 de janeiro. Conforme informações divulgadas pela RFI, mãe e filha foram levadas para prestar depoimento em 20 de janeiro.
O julgamento de Nancy S. está marcado para 31 de março. Se condenada, a mulher poderá ficar presa por mais de quatro anos e pagar o equivalente a R$232 mil.
O caso revisita as discussões acerca do que é antissemitismo e a frequente acusação de que posicionamentos contrários ao governo de Israel enquadram-se como ataque antissemita. Bereia produziu uma reportagem sobre o uso instrumentalizado do termo.
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Bereia considera verdadeiro o conteúdo checado. Todas as consultas a fontes francesas de informação corroboram a ideia de que Nancy S. será julgada por forjar manifestações antissemitas, após investigações da polícia francesa apontarem mãe e filha como autoras das pichações. Não foi possível, porém, determinar se a mulher é, de fato, uma “militante sionista”, como afirma publicação no X (antigo Twitter).
Referências da Checagem
Le Parisien
https://www.leparisien.fr/faits-divers/la-victime-des-tags-antisemites-dans-son-immeuble-a-paris-aurait-tout-invente-25-01-2025-5PQCUPVZSZEIFFQJKPCBETFMG4.php Acesso 19-02-2025
RFI
https://www.rfi.fr/br/fran%C3%A7a/20250127-francesa-ser%C3%A1-julgada-por-autoria-de-picha%C3%A7%C3%B5es-antissemitas-das-quais-dizia-ser-v%C3%ADtima Acesso 19-02-2025
La Dépêche
Imagem de capa: reprodução/Le Parisienf