“O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados.”
Lucas 12:3
A Terra, redonda ou plana, dá muitas voltas. E nas voltas, idas ou cambalhotas que ela dá, revela muitas coisas. E qualquer poder político é ciente, ou deveria ser, de que nada fica encoberto para sempre.
Quando Richard Nixon e seus cupinchas resolveram espionar os adversários políticos, nunca imaginaram que seriam descobertos e investigados por escutas ilegais, conspiração, uso ilegal dos serviços secretos e das forças de segurança e por aí vai…
Quando um grupo político articulou o pagamento de mensalidades para financiar apoio parlamentar ou ainda quando pessoas do alto escalão de empresas brasileiras se associaram ao governo para, mutuamente, surrupiarem o dinheiro público, não esperavam que fossem descobertos.
Renunciando, cumprindo pena ou apenas desmascarados, todos eles tiveram suas conversas, antes “sussurradas aos ouvidos dentro de casa, proclamadas”. Pois é, como diz o título de um livro: “E a Bíblia tinha razão”.
Agora, temos um caso de sonegação da informação. O atual governo decidiu mudar a forma de comunicar os dados da Covid-19 no Brasil.
O Ministério da Saúde não mais informa o total de mortes e nem o total de casos confirmados desde o início da pandemia. No portal do Ministério, as informações consolidadas chegaram a sair do ar.
Esconder números é uma decisão antidemocrática e uma afronta à clareza das informações que o governo federal tem, por obrigação, manter com a sociedade. A isso se dá o nome de transparência.
Além de não vermos medidas efetivas tomadas pelo governo – e mesmo o que é anunciado não é cumprido (atraso de pagamentos do auxílio emergencial de R$ 600 e redução do valor do benefício), vamos enfrentar um inimigo invisível sem informações claras a respeito do Covid-19.
A informação e análise de dados são fundamentais para qualquer processo decisório. Isso vai desde decisões tomadas no âmbito mais pessoal, dentro de nossas casas, como dentro das empresas e nos poderes constituídos, bem como em toda a sociedade. Isso se acentua ainda mais quando as decisões afetam a vida e a morte.
E não bastasse toda a suspeição que paira sobre os dados, logo da primeira divulgação após o anúncio de mudança no formato, o governo tropeçou nas próprias pernas.
O primeiro balanço do ministério apontava para 1.382 novas mortes. O segundo, no entanto, informava 525 óbitos. Uma diferença de 857 óbitos.
O colaborador do governo, o empresário Carlos Wizard, acusou, sem apresentar provas, gestores públicos de aproveitarem a pandemia para atrair mais recursos para os seus estados e municípios. Depois, Wizard pediu desculpas pelas declarações desastradas e se recusou a continuar colaborando com o governo.
A pergunta que me faço todos os dias é: o que, de fato, esperamos de alguém no exercício do poder público?
Probidade, acima de tudo, transparência e lealdade com a nação. Veja: com a nossa nação, não com governos de outros países.
A decisão, que ora vai, ora vem, sobre os números relacionados à Covid-19, é mais um capítulo não apenas de omissão por nada fazer, mas total irresponsabilidade de não assumir o papel que tem diante da população. Alheamento na tragédia.
Aprofundamento da crise ocasionada por microcrises diárias. Ações que mais se assemelham a de uma criança com pirraça, cujo poder não lhe dá plenos direitos de agir de maneira nociva, do que um governante legitimamente eleito pelo povo. Um governo que manifesta o desprezo ao sofrimento, na lógica do escárnio e da afronta ao povo brasileiro.
Não vivemos num país de poder herdado nem de poder tirano.
Minha única esperança diante dessa sucessão de tragédias é saber que o Deus a quem eu sirvo é justo, e levará esses iníquos ao juízo. Como todos os demais agentes públicos que roubaram e escarneceram de nossa paciência e compreensão. Eles terão suas estratégias demoníacas desmascaradas. Suas taras privadas serão envergonhadas publicamente.
“Eis que pecastes contra o Senhor; e sabei que o vosso pecado vos há de achar.”
Números 32:23
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