Morte do Papa e Conclave para eleição do novo líder católico geram uma onda de desinformação massiva 

Uma onda de teorias conspiratórias, interpretações simbólicas e místicas e paralelos proféticos, relacionada à morte do Papa Francisco chegou à equipe do Bereia nas últimas semanas. A ela se soma um intenso debate nas mídias digitais, com especial enfoque em círculos religiosos.

Francisco, líder da Igreja Católica Romana desde 2013, faleceu no dia 21 de abril de 2025, em sua residência na Casa Santa Marta, no Vaticano. De acordo com o comunicado oficial da Santa Sé, a causa da morte foi um acidente vascular cerebral fulminante, seguido de colapso cardíaco.  Apesar da clareza do comunicado e da cobertura televisiva dos ritos fúnebres, o fato do falecimento do pontífice, embora esperado após semanas de internações e histórico médico, gerou esta massa de desinformação. Bereia reune nesta matéria uma parcela do que foi coletado e pesquisado pela equipe. 

A data, a hora da morte e o clube do coração 

Um dos detalhes que mais gerou repercussão nas redes foi a divulgação de uma “numerologia” que representava a idade e o horário da morte do Papa: 88 anos e 2h35, horário argentino de seu falecimento. A união dos números coincide com os dígitos finais da credencial de sócio do clube de futebol San Lorenzo de Almagro, pelo qual Francisco era apaixonado: 88235. O clube divulgou no perfil oficial no X um vídeo em homenagem ao seu mais ilustre torcedor, com a imagem da carteirinha de Bergoglio. 

Imagem: Reprodução X

De fato, os números coincidem, o que não significa uma correlação direta entre um clube de futebol e a morte de um Papa. Porém, a constatação acionou uma série de suposições publicadas em mídias sociais.  

Imagem: Reprodução de publicação que ressalta a coincidência numérica
Imagem: Reprodução de publicação no X

Bergoglio é o “Anticristo” e o “Último Papa”?

A morte do Papa Francisco reacendeu debates sobre profecias que circulam há décadas, especialmente, em ambientes evangélicos, que supostamente preveem  o fim dos tempos. Entre elas, destaca-se a chamada Profecia de São Malaquias, ou a “Profecia dos Papas”, uma lista de 112 ou 113 frases em latim, que descreve os papas da Igreja Católica, começando com Celestino II até o último papa (Petrus Romanus). 

A lista teria sido escrita pelo arcebispo de Armagh (Irlanda), no século 12, Máel Máedóc Ua Morgair, que foi canonizado como São Malaquias, no final daquele século. O texto ganhou notoriedade com a publicação do historiador e monge beneditino francês Arnold de Wion, na obra Lignum Vitae (1595). Na lista, cada papa é representado por um lema em latim, que poderia refletir sua personalidade ou o contexto histórico do seu pontificado. De acordo com a teoria, o arcebispo irlandês teria descrito os papas que liderariam a Igreja Católica até o Juízo Final.​ O manuscrito de 900 anos diz que o ‘Apocalipse’ viria após a consagração do 112º Papa, que foi Francisco.

Segundo interpretações populares, o Papa Francisco corresponderia ao penúltimo lema, que antecede o “Petrus Romanus” (“Pedro Romano”), o último papa que governaria durante grandes tribulações. A inscrição de São Malaquias sobre “Pedro Romano” diz: “Na extrema perseguição da Santa Igreja Romana, sentar-se-á Pedro Romano, que apascentará as ovelhas em muitas tribulações; e quando estas coisas terminarem, a cidade das sete colinas será destruída, e o Juiz terrível julgará o seu povo. Fim.” 

A rede de teorias baseadas nessa suposta profecia viralizou na última semana. Entre os evangélicos, a morte e a escolha de um novo líder para a Igreja Romana reacenderam as teorias apocalípticas divulgadas, em especial, por  grupos adventistas,  pela editora “Chamada da Meia-Noite” e pela teologia  dispensacionalista — uma interpretação da bíblica que divide a história da humanidade em diferentes “dispensações” ou períodos, nos quais Deus interage com o homem de maneiras distintas. Este sistema teológico enfatiza a separação entre Israel e a Igreja, com cada um tendo um papel único no plano de Deus. Tal noção foi reforçada, mais recentemente,  pelo sucesso editorial do best seller “Deixados Para Trás”, sucesso nos Estados Unidos no começo dos anos 2000 (simbolicamente, a virada do segundo milênio) e foi produzida em filme.

Na leitura dispensacionista do Apocalipse, no fim do mundo há uma guerra em Israel, a morte do papa e uma crise civilizatória. Evidentemente, os três eventos acompanham a história da humanidade desde 1054 – data em que o Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla se excomungaram mutuamente. 

Teses semelhantes já haviam circulado durante os pontificados de Pio XII (contemporâneo de Adolf Hitler) e de João Paulo II (contemporâneo da Queda do Muro de Berlim). Para ampliar as teses macabras e acionar os buscadores de presságios, foi propagada a história de que, em 1958, o cadáver de Pio XII, saturado de gases internos, após longo velório, teria se rompido. 

Bereia levantou publicações que divulgam  o resumo das “profecias dos papas”, relacionados ao capítulo 17 de Apocalipse. Elas apresentam uma leitura tradicionalista e conservadora sobre o lugar e do poder da Igreja Católica, como se pode identificar: 

1. Pio XII (1939–1958) Último pilar da tradição católica. Seu “reinado” marca o início da preparação do ciclo profético, antes da grande ruptura.

2. João XXIII (1958–1963) Convocou o Concílio Vaticano II. Foi o iniciador da “transformação espiritual da Igreja”, abrindo caminho para mudanças profundas.

3. Paulo VI (1963–1978) Implementou as reformas do Concílio. Seu “reinado” consolidou a “perda das tradições milenares e acelerou a crise interna da fé”.

4. João Paulo I (1978) “Reinou” apenas 33 dias. Cumpriu o sinal do “reinado breve”, previsto na profecia, e simbolizou a “fragilidade do tempo”.

5. João Paulo II (1978–2005) Liderança mundial carismática. Promoveu a “expansão espiritual da Igreja, mas também cedeu ao espírito do mundo moderno”.

6. Bento XVI (2005–2013) Lutou pela “defesa da tradição em meio ao isolamento”. Seu papado representou a “última grande resistência antes da divisão aberta”.

7. Francisco (2013–2025) Promoveu uma “abertura extrema e favoreceu o cisma interno”. Sua morte “marca o fim dos sete reis e o encerramento da era”.

8. O Futuro Papa  Será o “oitavo rei”. O seu surgimento representa o “fechamento do ciclo profético e a manifestação da besta que caminha para a perdição”.

Profecia de São Malaquias

A pesquisa sobre este assunto indica que estudiosos questionam a autenticidade e a interpretação dessa profecia; entre eles está o escritor  Anura Guruge. Ele afirma que, apesar de a profecia usar o nome de São Malaquias, não vale a pena prestar atenção nela. “O fato é que Malaquias é um santo católico, então alguns católicos atribuem qualidades mágicas ou espirituais à visão. O que eles tendem a não entender é que, muito provavelmente, tudo isso é uma falsificação”.

Para a maioria dos teólogos e historiadores eclesiásticos, a chamada “Profecia dos Papas”, atribuída a São Malaquias, é considerada uma falsificação. Para o professor do departamento de Teologia da PUC-SP Dayvid da Silva, a “profecia” usou o nome de São Malaquias para ganhar relevância. “Esse texto é aquilo que nós chamamos de pseudoepígrafo, que é quando você escreve um texto e para obter relevância você coloca o nome de alguém famoso ou de um santo famoso, alguém com uma certa autoridade”, explicou. Não existem registros contemporâneos que comprovem que São Malaquias tenha escrito essa profecia durante a  vida.

O intervalo entre a morte de São Malaquias, em 1148, e a primeira publicação da suposta profecia, em 1595, é de mais de 400 anos. O texto foi divulgado pela primeira vez pelo beneditino Arnold de Wion, como já indicado nesta matéria. Além disso, não há qualquer menção a essa profecia nos escritos de São Bernardo de Claraval, biógrafo e amigo pessoal de São Malaquias. Como aponta o  pesquisador em História e Filosofia Medieval Dr. Luis Alberto De Boni, São Bernardo descreve Malaquias como um “homem de espírito profético”, mas sem citar qualquer obra. Dado o relacionamento próximo entre os dois, seria improvável que Bernardo desconhecesse tal documento caso ele realmente existisse.

Diante disso, muitos teólogos e historiadores consideram a Profecia de São Malaquias como uma desinformação do século 16, possivelmente elaborada para influenciar eleições papais da época. Assim, não há embasamento teológico ou histórico sério que ligue Francisco a um suposto “último Papa”.

Imagem: Reprodução Instagram

Imagem: Reprodução Instagram


O fim do mundo, mais uma vez…

No prefácio da obra “Visions of the End, Apocalyptic Traditions in the Middle Ages” [Visõesdo Fim, Tradições Apocalípticas na Idade Média”, em 1979, o historiador Bernard McGinn afirma,, que o apocalipticismo faz parte das três religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Todavia, a literatura apocalíptica ganhou impulso na Idade Média entre os cristãos – especialmente por conta da virada do milênio e das guerras religiosas promovidas pelas Cruzadas e após a Reforma Protestante do século 16. Viradas de milênio e movimentos de mudança cultural, tecnológica ou transformação geopolítica também são apontadas como “catalizadores” de movimentos milenaristas e de propagação de  seitas apocalípticas.

Estudiosos da Bíblia no Brasil compartilham da mesma compreensão. O professor e pesquisador em Cristianismo Primitivo Paulo Augusto de Souza Nogueira afirma que o Apocalipse de João, na Bíblia, é um texto que fascina a humanidade. “Suas imagens misteriosas e sua narrativa surpreendente nos causam admiração, encanto, mas também pavor. Devido a seu potencial simbólico tem sido travada na cultura ocidental uma batalha de interpretação em torno desse texto. O Apocalipse tem sido, dessa forma, atualizado e recriado para expressar as angústias, temores e anseios mais profundos da sociedade”, explica Nogueira, que integra Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Campinas. Ele indica que “apocalipse” quer dizer “revelação”, isto é “desvelamento da experiência profunda do mundo, do encontro do ser humano com o Cristo, para muitas gerações”.

O prof. Paulo Nogueira alerta que, por outro lado, “o Apocalipse também tem sido domesticado, quando não calado”. Por isso, o pesquisador acrescenta: “Ele foi transformado em mapa de fim de mundo, em previsão de notícias de jornais, um horóscopo tão impreciso quanto assustador. Não é à toa que diferentes discursos fundamentalistas cristãos buscam construir suas visões de mundo a partir desse livro”. 

Nos livros que escreve e nos cursos que oferece sobre o Apocalipse, Nogueira propõe: “Podemos superar esses medos paralisantes por meio da redescoberta desse texto fundante de nossa cultura, adentrando em seus misteriosos jogos de interpretação, jogos que não se resumem a prever eventos isolados, ao contrário, inserem nossa realidade numa narrativa total e multifacetada, integradora e radical”.

Os cardeais e o Conclave

A morte de Francisco, que alimentou discussões escatológicas sobre o “fim dos tempos”, num contexto de crescente instabilidade global — guerras, crises ambientais e tensões religiosas, também alimentou uma enxurrada de desinformação sobre os cardeais e o Conclave.

O lançamento de um filme homônimo, que concorreu ao Oscar em 2025, Conclave,  aumentou a imaginação em torno da eleição do novo pontífice. Publicações em  grupos de Telegram e Whatsapp relacionados à própria Igreja Católica e a igrejas evangélicas relacionaram a morte do Papa Francisco com os enredos conspiratórios do filme – e especialmente com “informações secretas” sobre os candidatos. Para complicar a propagação de desinformação , imagens do filme (uma obra de ficção) estão sendo discutidas e tratadas como “documentário”.

No filme, as diversas alas políticas e teológicas disputam a votação do sucessor do papa falecido. A pressão política vazou para as mídias.  Conclave é um thriller político dirigido por Edward Berger – o mesmo diretor de “Nada de Novo no Front” (2022). Ele captura o suspense que surge quando o Vaticano atrai o interesse da cobertura internacional. 

Em meio às teorias, coincidências e interpretações simbólicas, o fato é que a morte de Francisco marcou o fim de um papado transformador e divide opiniões dentro e fora da Igreja Católica.

Para muitos, Francisco deixa um legado de engajamento, mobilização ambiental, diálogo inter-religioso e defesa da paz e justiça social, bem como atenção aos mais vulneráveis. Para seus admiradores, seu maior sinal profético não foi a data de sua morte, mas a vida que escolheu viver — desafiando estruturas de poder e chamando a Igreja a uma conversão pastoral em tempos conturbados. Para os que são contrários às suas ações enquanto Papa, Francisco dividiu a Igreja Católica e foi por demais permissivo com questões morais destrutivas da fé cristã. 

O mundo aguarda agora o próximo capítulo da história. Com Francisco, uma era se encerra; o futuro ainda está por ser escrito. 

Referências:

O Estado de São Paulo

https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/profecia-de-sao-malaquias-proximo-papa-fim-do-mundo-enganoso/#:~:text=O%20que%20est%C3%A3o%20compartilhando:%20que,e%20concluiu%20que:%20%C3%A9%20enganoso. Acesso em 25 abr 2025

Extra

https://extra.globo.com/blogs/page-not-found/post/2025/04/morte-do-papa-francisco-reacende-crenca-na-profecia-de-sao-malaquias-argentino-seria-o-ultimo-pontifice-antes-do-fim-do-mundo.ghtml?utm_source=chatgpt.com Acesso em 25 abr 2025

Extra

https://extra.globo.com/mundo/noticia/2025/04/morre-papa-francisco-o-reformista-da-igreja-catolica.ghtml Acesso em 25 abr 2025

CNN

https://www.cnnbrasil.com.br/lifestyle/profecia-de-nostradamus-vem-a-tona-apos-morte-do-papa-francisco-entenda/ Acesso em 25 abr 2025

CNN

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/entenda-as-coincidencias-em-torno-da-data-da-morte-do-papa-francisco/ Acesso em 25 abr 2025

CNN

https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/futebol/idade-e-hora-da-morte-do-papa-e-igual-ao-dado-de-socio-dele-no-san-lorenzo/  Acesso em 25 abr 2025

G1

https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2025/04/21/e-fato-idade-e-hora-da-morte-do-papa-francisco-coincidem-com-numero-da-carteirinha-dele-de-socio-do-san-lorenzo.ghtml Acesso em 25 abr 2025

G1

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/04/21/time-do-papa-francisco-faz-homenagem-emocionante.ghtml  Acesso em 25 abr 2025

PUC-RS

https://revistaseletronicas.pucrs.br/teo/article/view/1689  Acesso em 25 abr 2025

New Advent

https://www.newadvent.org/cathen/12473a.htm  Acesso em 25 abr 2025

O Estado de São Paulo

https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/profecia-de-sao-malaquias-proximo-papa-fim-do-mundo-enganoso/#:~:text=O%20que%20est%C3%A3o%20compartilhando:%20que,e%20concluiu%20que:%20%C3%A9%20enganoso. Acesso em 25 abr 2025

Vatican News

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-04/papa-francisco-causa-morte-21-04-25.html Acesso em 25 abr 2025

Prof. Paulo Nogueira

https://www.profpaulonogueira.com.br/sobre/. Acesso em 7 mai 2025

Revista Fronteiras – Revista de Teologia da UnicapXAVIER, Liniker Henrique. Fundamentalismo e Dispensacionalismo: evangélicos e o engajamento contra a Modernidade. Fronteiras – , Recife, PE, Brasil, v. 6, n. 2, p. 267–286, 2023. https://www1.unicap.br/ojs/index.php/fronteiras/article/view/2519.. Acesso em 7 mai 2025.

A influência de um novo Papa na relação da Igreja Católica com a comunidade LGBT+

Na preparação do CONCLAVE para a escolha de um novo líder, o que realmente atinge a comunidade Queer?

A eleição de um novo papa representa sempre um momento de virada para a Igreja Católica — não apenas em termos espirituais ou administrativos, mas também no impacto social e cultural de suas orientações. Para a comunidade LGBT+, a figura do pontífice pode significar tanto avanços no diálogo quanto um retrocesso no acolhimento. Embora certas estruturas doutrinárias permaneçam, o tom e as práticas pastorais adotadas pelo novo líder podem mudar substancialmente.

Francisco: Um Pontificado de Diálogo

Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco adotou uma abordagem mais acolhedora e menos condenatória em relação às pessoas LGBT+. A célebre frase em sua viagem para o Brasil em 2013 — “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” — marcou uma mudança clara no discurso papal, contrastando com abordagens anteriores que falavam em “tendências desordenadas” ou enfatizavam o pecado.

Francisco defendeu o acolhimento pastoral como princípio, afirmando que a Igreja deve ser uma “casa para todos”, independentemente de orientação sexual. Em 2020, ele surpreendeu ao apoiar leis de união civil para casais do mesmo sexo, reconhecendo a necessidade de proteção legal — ainda que sem abrir mão da posição contrária ao casamento religioso homossexual.

Mais recentemente, em 2024, o Vaticano autorizou bênçãos informais para casais LGBT, com a aprovação direta do papa. Embora essa decisão não represente a validação de uniões do mesmo sexo pela doutrina, foi vista como um avanço significativo no reconhecimento pastoral dessas relações.

Além disso, Francisco nomeou para cargos importantes bispos e cardeais com visões mais inclusivas, o que pode influenciar a cultura interna da Igreja a médio e longo prazo.

O Futuro Incerto: Conservadorismo à Vista?

Apesar de os avanços promovidos por Francisco, a sucessão papal pode mudar os rumos desse diálogo. Entre os possíveis sucessores, há nomes com perfis mais conservadores. Caso um papa com essa orientação seja eleito, espera-se uma possível reversão de medidas atuais.

Um novo pontífice mais tradicionalista poderia reforçar a doutrina clássica, destacando que atos homossexuais são “pecado grave” e que relações entre pessoas do mesmo sexo são “contrárias à lei natural”. Também poderia suspender documentos como o Fiducia Supplicans, que hoje autoriza bênçãos informais a casais LGBT, retornando a um discurso que evita qualquer forma de validação simbólica dessas uniões.

O tom pastoral também tenderia a mudar: o acolhimento ainda existiria, mas centrado em ideias como castidade e renúncia. A reabertura de debates sobre sexualidade, iniciada por Francisco em sínodos e consultas globais, poderia ser encerrada sob uma liderança mais rígida.

A Responsabilidade Pública do Papa

Além da esfera interna da Igreja, a postura do papa tem forte influência sobre a opinião pública e a cultura global. Um líder mais inclusivo pode fortalecer a imagem da Igreja como instituição aberta ao diálogo, promovendo maior empatia e respeito. Em contrapartida, um papa conservador pode reforçar visões excludentes e, de forma indireta, alimentar preconceitos já existentes na sociedade.

No fim das contas, embora os dogmas centrais da Igreja não mudem com facilidade, a figura do papa tem poder real para moldar discursos, inspirar comportamentos e abrir — ou fechar — caminhos para uma Igreja mais inclusiva, o que definitivamente passou da hora de acontecer.

A igreja no pós-Francisco: tensões na nova governança católica

Artigo publicado pelo Bereia em parceria com o Laboratório de Antropologia da Religião da Unicamp (LAR).

A morte de Francisco encerrou um ciclo na história recente da Igreja Católica. Seu legado, ao mesmo tempo acolhedor, pastoral e politicamente sensível a temáticas socioambientais, mudanças climáticas, abusos sexuais no clero, políticas excludentes de migração e refugiados, estratégias contra o autoritarismo na Igreja, colocou a pergunta: o próximo papa será conservador ou progressista? Embora tentadora, essa classificação binária revela-se limitada perante a geopolítica internacional cada vez mais polarizada.

O Papa Francisco, formado no contexto peronista e em diálogo com a teologia da pobreza, rompeu com protocolos institucionais ao impor sua proposta de governança da acolhida, que se propunha a trazer empatia para os encontros cotidianos com fiéis, a imprensa e chefes de Estado ao tratar temas espinhosos. Lembramos sua abordagem sobre a moral sexual da Igreja ao abençoar a união homoafetiva e sugerir que os homossexuais, antes de serem julgados e condenados, devem ser respeitados em sua dignidade; ao contrapor-se a Trump como construtor de pontes e não de muros; ao defender a criação do Estado Palestino após um urgente cessar-fogo em Gaza.

Este legado apresenta um grande desafio que não pode ser reduzido a progressistas e conservadores para analisar a atual conjuntura. Criadas em contextos seculares modernos, essas noções não capturam a densidade da tradição católica, nem a multiplicidade de tensões internas que compõem sua história. A igreja não se define por identidades fixas, mas por sua capacidade de sustentar o equilíbrio entre permanência e mudança, entre tradição, hierarquia, reinvenção, busca de consenso no meio de fraturas ideológicas.

Enquanto setores progressistas se declaram órfãos de um papa que tentou revitalizar a Teologia da Libertação, grupos ultraconservadores, como os “bentovaticanistas”, herdeiros ideológicos da Tradição Família e Propriedade, preferem o silêncio, a negação e a nostalgia tridentina que idealizam um retorno absoluto a uma cristandade ideal. O que importa não é o enquadramento ideológico, mas as tendências internas do Catolicismo que possam responder às exigências do Sul Global, as tensões internacionais e as transformações culturais das novas gerações que exigem novas sociabilidades.

Não é razoável esperar rupturas estruturais imediatas com o patriarcalismo ou o colonialismo institucional do Vaticano numa Igreja milenar. Talvez a pergunta mais relevante não seja se o novo papa será conservador ou progressista, mas de onde ele olhará o mundo e para onde conduzirá a Igreja. O conclave dirá se a Igreja seguirá mudando para continuar sendo ela mesma, ou se, desta vez, ousará surpreender o mundo.

Brenda Carranza: Profª. e pesquisadora do Laboratório de Antropologia da Religião -LAR/UNICAMP e membro do Conselho Editorial do Bereia

Tabata Tesser: Doutoranda em Sociologia pela Universidade de São Paulo – USP e pesquisadora do GREPO/LAR-UNICAMP

** Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia

Foto de capa: Vatican News

Um olhar evangélico “raiz” sobre o Papa-Pastor que viveu sua Páscoa

***Versão completa do artigo publicado pela Carta Capital, em 21 de abril de 2025.

E o Papa Francisco viveu sua Páscoa-Passagem! Depois de semanas de sofrimento, com uma pneumonia bilateral, Francisco fez sua travessia “para os braços de Deus” – uma expressão religiosa muito cara aos evangélicos no Brasil.

Como já escrevi neste espaço de Carta Capital, quando das celebrações dos dez anos do pontificado de Francisco (2023), evangélicos brasileiros, majoritariamente, tiveram um imaginário em torno dos Papas da Igreja Católica construído com base em rejeição.

A herança crítica da Reforma Protestante à “corrupção” que a Igreja de Roma promoveu contra o Evangelho, alimenta um imaginário negativo na figura do seu líder maior, o Papa. A imagem é fortemente atrelada à ideia do poder terreno que perverte a fé (como chefe de Estado) e à riqueza representada no amplo no patrimônio da Igreja Católica.

Quando o Papa Francisco assumiu, em 13 de março de 2013, ele sucedia, praticamente, dois papas. Primeiro, João Paulo II que, por 26 anos, se tornou muito popular, marcadamente por suas dezenas de visitas papais a muitos países do mundo. Deu atenção a povos e situações antes esquecidas pela liderança maior da Igreja Católica, colocando-se fisicamente presente.

João Paulo II, porém, tornou-se também conhecido como aquele que “puxou o freio do processo e deu marcha-ré” a uma série de avanços do Vaticano II, com a assessoria especial daquele considerado seu “braço direito”, o cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (o antigo tribunal da Inquisição) Joseph Ratzinger.

A ofensiva conservadora que marcou a Igreja Católica, no final dos anos 1980, nos anos 90 e nos 2000, estabeleceu um período de oposição a tudo o que alimentasse a igreja progressista, acusada de ser um desvio marxista. Foram 26 anos de pontificado de João Paulo II (1978 -2005), caracterizados por perseguição a bispos, padres, freiras e leigos ligados à Teologia da Libertação, ou simplesmente lideranças comprometidas com os princípios do Concílio Vaticano II, a fim de “restaurar a grande disciplina”, como João Paulo II afirmou ser prioridade de seu papado, no discurso inaugural.

Ratzinger se tornou o Papa Bento XVI, em 2005, para manter e garantir continuidade desse projeto, afinal, 172 dos 184 membros do Colégio Cardinalício foram nomeados por João Paulo II. Porém, foi um curto papado. Em 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI apresentou sua renúncia.

Foi neste contexto que, um mês depois, um Conclave elegeu como Pontífice o argentino, religioso da ordem dos jesuítas, Jorge Mario Bergoglio. Numa referência ao santo de Assis, reconhecido pelo seu trabalho com os empobrecidos, o primeiro latino-americano a se tornar papa escolheu o nome Francisco. A escolha do nome marcava a identidade do episcopado de Bergoglio, como um homem sem luxos, com vocação missionária.

A qualidade de Francisco como “pastor”, elemento significativo do seu papado, relevante característica de uma liderança religiosa sacerdotal, do ponto de vista evangélico “raiz” (não aquele das igrejas-corporações, das churches, ou de Legendários), possivelmente colaborou para a reconstrução da imagem do Papa entre evangélicos, com elementos muito positivos.

A figura do pastor é muito destacada na tradição cristã pela atividade pecuária que marcava o sustento da vida: a criação de ovelhas e o trabalho do pastoreio. Esta atividade era transportada simbolicamente para a vivência da fé.

Deus é considerado o Verdadeiro Pastor, o modelo de pastoreio, pois tem autoridade e é dedicado àqueles de quem cuida, tem poder e carinho, tem vigor e ternura. A maior imagem disto está no Salmo 23, “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará”. Assim como Deus faz, os governantes e os líderes religiosos deveriam fazer também, na responsabilidade de conduzir o povo, para o seu bem-estar.

Jesus demonstra, então, com suas ações todas baseadas em misericórdia e justiça, o sentido de ser um bom pastor: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11-15). Jesus reafirma o sentido do pastoreio das ovelhas que, nesta imagem, representam todos que carecem de cuidado amoroso, misericordioso e justo: acompanha-as todas, guia, cuida, conduz, abre caminhos seguros, de bem viver.

A tradição das igrejas evangélicas (o sentido de “raiz”), do valor ao pastoreio dos sacerdotes, no cuidado com o rebanho mais próximo, a Igreja, e o mais amplo, o mundo, torna possível olhar para o pontificado implementado por Francisco por este prisma: o do Papa-Pastor.

São muitos exemplos dos 12 anos de pontificado de Francisco. A começar da primeira visita papal, pouco mais de três meses depois de assumir a função, em 8 de julho de 2013, a Lampedusa. a ilha é uma das principais rotas de entrada de refugiados do Norte da África, via Mar Mediterrâneo, pela Itália, em busca de sobrevivência na Europa. A ida do então novo papa funcionou como um “cartão de visita” do que a ele passaria a representar.

Quando Francisco visitou Lampedusa, estimava-se que cerca de 20 mil pessoas haviam morrido na travessia precária pelo mar nas duas décadas anteriores. Dias antes, um barco com 165 migrantes do Mali atracou no porto. No dia em que ele estava na ilha, 120 pessoas foram resgatadas no mar depois que os motores de um barco quebraram a 11 quilômetros da costa, entre elas, quatro mulheres grávidas.

Depois de colocar uma coroa de flores no mar para reverenciar os mortos, Francisco pronunciou crítica ao que chama de “globalização da indiferença” aos migrantes, classificando-os como principais vítimas de uma “cultura do descartável”.

“Peçamos ao Senhor a graça de chorar sobre a nossa indiferença, de chorar pela crueldade do nosso mundo, do nosso coração e de todos aqueles que no anonimato tomam decisões sociais e econômicas que abrem as portas para situações trágicas como esta”, desafiou Francisco na ocasião. O Papa-Pastor estabelecia ali sua plataforma de trabalho ancorada no pastoreio do cuidado comprometido com a justiça, como o desejo que manifestou a jornalistas, em encontro logo após sua eleição: “Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres!”.

Neste contexto, Bergoglio inscreveu seu nome como o primeiro Papa latino-americano, o primeiro Papa jesuíta, o primeiro Papa com o programático e simbólico nome de Francisco. Tudo isto o tornou singular e suficiente para fazer história.

Com aquela base teológica e pastoral que tornou pública em Lampedusa, Francisco atuou pela paz e pela justiça em muitas frentes, com a das relações Estados Unidos-Cuba, pelo fim da guerra entre Ucrânica e Rússia e, mais recentemente, na denúncia do genocídio promovido por Israel contra a Palestina. Ele produziu também, importantes plataformas para a Igreja Católica.

A sua primeira carta pastoral publicada em novembro de 2013 foi intitulada “La alegría del Evangelio” (Evangelii Gaudium). Ela traz um tema importante na teologia e na cultura das igrejas evangélicas “raiz” que é o da conversão. A ideia de conversão vem do termo grego “metanoia”, traduzido como “mudar de ideia”, “mudar o modo de pensar e sentir”. A raiz latina “conversio”, “mutatio”, evoca a noção de transformação, mudança. Por isso, se construiu uma pregação, entre evangélicos, embasada na ideia de transformação, nas crenças e nas práticas, e com ela a mudança de percepção do mundo.

Descartada a reflexão em torno do proselitismo dos evangélicos, centrado na conversão à crença e no (re)batismo, e na mudança de vida ancorada na moralidade puritana, a noção de que o encontro com o Evangelho de Cristo traz mudança de vida, é um elemento-chave nesta leitura pastoral.

É esta a linha da reflexão que o Papa Francisco impôs à sua Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, que encontra ressonância nesta tradição evangélica ainda viva em parcela importante das igrejas brasileiras. No texto, o papa pede aos fiéis que se desloquem com a noção da “Igreja em Saída” – uma igreja que não é fechada em si mesma e vai ao encontro dos desafios missionários impostos pelo mundo e suas injustiças.

Na Encíclica, Francisco inclui até mesmo uma “conversão do papado”, para torná-lo “mais fiel ao significado que Jesus Cristo quis dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização”

A noção de “igreja em saída” abriu caminho para aprofundamentos que passam pelo cuidado com toda a Terra, expresso na importantíssima Encíclica Laudato Si (2015) e na realização do Sínodo da Amazônia (2019). Também se conecta com o cultivo de fecundos encontros e expressões de amor que Francisco teve com lideranças de igrejas irmãs e de outras religiões.

Neste caminho, o Papa-Pastor, pregador da conversão, colocou como prioridade, no seu primeiro ano, a reestruturação das instituições financeiras do Vaticano, para que estivessem alinhadas com as regras internacionais de transparência e acompanhadas por um controle visível.

Ao mesmo tempo, Francisco frustrou expectativas de conversão entre fiéis progressistas, com posições conservadoras em relação à justiça para mulheres e para pessoas LGBTQIA+. Ele se rendeu à falaciosa noção de “ideologia de gênero”, apesar de ter realizado gestos amorosos e inclusivos para com mulheres e para com a população LGBTQIA+.

Porém, os focos de oposição manifestos em várias partes do mundo ao Papado marcadamente humanitário e conciliador de Francisco devem-se fortemente ao legado conservador dos dois pontificados passados. Há muita resistência de alas da Igreja Católica a suas ações marcadas pela reestruturação das confusas finanças do Vaticano, criação de comissão para combater abuso sexual de crianças na Igreja, defesa de uma Igreja mais tolerante em questões de família, duras críticas ao capitalismo, à destruição do meio ambiente e ao enfrentamento dos poderes que promovem guerras e morte.

É fato que Francisco fez história com sua proposta de imprimir um estilo humanizado ao cargo, coerente com suas ideias. Foi assim que ele marcou seu pontificado como um Papa-Pastor: buscou se aproximar das pessoas comuns e de suas mazelas, com discursos simples, ações e propostas de humildade para a Igreja. Francisco, portanto, rompeu com o histórico aparato em torno do cargo, que tende a afastar Pontífices dos fiéis, e mais ainda dos considerados “infiéis”. Ao mesmo tempo que atingiu racionalidades, afetou corações.

Por estas coisas, é possível reconhecer que um significativo número de evangélicos brasileiros puderam se sentir um pouco mais próximos e menos avessos a um Papa. Este é um exemplo de como Francisco deixa um legado importante, não apenas para quem se reconhece cristão, mas para todas as pessoas com ou sem religião, que têm sede e fome de justiça.

** Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia.

Foto de Capa : Vatican News/Reprodução

O Papa do fim do mundo

Ao ser empossado bispo de Roma em 19 de março de 2013, há doze anos, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio adotou o nome de Francisco para carimbar seu pontificado como favorável aos excluídos e à saúde do Planeta, e declarou: “Como vocês sabem, o dever do Conclave era dar um bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo.”

Como ressalta o professor Fernando Altemeyer Junior, a preocupação de Francisco é “o cuidado pastoral dos empobrecidos e o rompimento claro do clericalismo que fez da Igreja uma instituição autocentrada e distante do evangelho de Jesus.”

Francisco puniu com severidade bispos e padres pedófilos, acolheu as vítimas, enfrentou a ultradireita católica dos EUA e da África e, em 2019, excluiu do cardinalato e do sacerdócio o estadunidense Teodore McCarrick, ex-arcebispo de Washington, por prática de pedofilia e, em 2023, o Tribunal Penal do Vaticano condenou a cinco anos de prisão o cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, de 75 anos, por peculato e fraude financeira.

Francisco não esconde seu descontentamento com Trump e sua simpatia por Lula, apoia a causa palestina e, em janeiro deste ano, nomeou a religiosa Simona Brambilla prefeita do Vaticano. Democrata, já convocou seis sínodos no intuito de renovar a Igreja, inclusive pôr fim ao celibato obrigatório para o clero do Ocidente. No entanto, muitos bispos e cardeais são oriundos da safra conservadora dos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, que levantam o freio de mão enquanto o papa acelera.

Francisco é o cabeça de uma comunidade que congrega 1 bilhão 390 milhões de fiéis (pouco mais de 17% da população mundial). Fez 47 viagens internacionais e visitou 60 países, mas não retornou à Argentina.

Quando o papa Francisco falecer, será convocado um novo Conclave (como mostra o filme de mesmo nome dirigido por Edward Berger). Os atuais cardeais eleitores são 138, de 71 países. Os cardeais não eleitores, por terem ultrapassado 80 anos, são 114. Os cardeais nomeados por Francisco somam 79,7% do atual colégio eleitoral. São 18 eleitores na África, 18 na América do Sul (entre os quais 7 brasileiros), 20 na América do Norte e América Central, 24 na Ásia, 54 na Europa, e 4 na Oceania.

Neste mês de fevereiro, a editora Fontanar/Companhia das Letras lançou a autobiografia de Francisco, “Esperança”, a primeira de um papa, redigida em parceria com Carlo Musso.

Tive dois encontros pessoais com Francisco, no Vaticano, em abril de 2014, e em agosto de 2023. No primeiro, falei-lhe da importância das Comunidades Eclesiais de Base (escanteadas pelos dois papas que o precederam), e pedi-lhe manter o diálogo com a Teologia da Libertação, sempre defender os povos indígenas e reabilitar meus confrades Mestre Eckhart, que teve vários de seus escritos condenados pela Cúria Romana, e Giordano Bruno, queimado vivo como herege em uma praça de Roma, em 1600.

Francisco reagiu às minhas solicitações: “Ore por isso.” Ao final, me dirigi a ele, primeiro, em latim, e logo traduzi para o espanhol: “Extra pauperes nulla salus – Fora dos pobres não há salvação.” O papa sorriu: “Estou de acordo”, disse ao se afastar.

No segundo encontro, Francisco me abraçou, beijou e permitiu que fosse filmado por Roberto Mader, que prepara documentários sobre minha trajetória. Dei-lhe de presente meu livro “Jesus militante – o Evangelho e o projeto político do Reino de Deus” (Vozes) e, em espanhol, a cartilha popular, redigida por mim, e traduzida para o espanhol, do Plano de Soberania e Educação Nutricional de Cuba, que assessoro desde 2019.

Expliquei-lhe que o “Jesus militante” defende a tese de que o Nazareno veio nos trazer um novo projeto político, civilizatório, que denominava Reino de Deus, em oposição ao reino de César, no qual viveu e pelo qual foi assassinado na cruz devido à ousadia de anunciar um outro reino possível que não era o de César…

Insisti para que participe da COP 30, a conferência mundial do clima, a ser realizada em Belém, em novembro próximo. Ele disse que pensava nessa possibilidade. Pedi que interviesse junto a Joe Biden, que se considera católico, para suspender ou, ao menos, flexibilizar o criminoso bloqueio dos EUA a Cuba. Obama, que não é católico, havia minorado as duras medidas do bloqueio imposto desde 1962 à ilha revolucionária do Caribe. E repeti o pedido feito em nosso primeiro encontro: a reabilitação de meu confrade Giordano Bruno, cujas “heresias” estão hoje integradas à teologia e às ciências ou foram descartadas como anacrônicas.

Deus conceda a ele longa vida, pois ainda há muito a reformar na Igreja e Francisco é, hoje, uma das raras lideranças a criticar a hegemonia capitalista (globocolonização), apontar as causas da degradação socioambiental e defender os refugiados vítimas da secular exploração da Europa aos países africanos, asiáticos e latino-americanos.

** Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia

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Foto de Capa : Vatican News/Reprodução

Igreja Católica permite que transexuais sejam batizados e apadrinhem

* Matéria atualizada em 18/12/2023 às 14:50

Na primeira semana deste novembro, passaram a circular publicações, em diversos veículos digitais,  com compartilhamentos em perfis de mídias sociais religiosos a respeito da liberação, por parte do Papa Francisco, do batismo de pessoas transexuais e homoafetivas. As publicações também citam a aprovação de que estas pessoas possam apadrinhar casamentos realizados no âmbito católico.

Imagem: reprodução do Instagram

Mídias noticiosas também deram destaque à informação:

Imagens: reprodução do UOL e do Correio Braziliense

Por conta do amplo número de compartilhamentos das publicações e da repercussão de tom crítico com a associação à figura do Papa Francisco, alvo frequente de desinformação, Bereia checou o caso.

Imagem: reprodução do X

Onde surgiu a informação

Bereia consultou diretamente o site do Vaticano  e verificou que, em 14 de julho de 2023, o Dicastério (nome dado aos departamentos do governo da Igreja Católica, que compõem a Cúria Romana) recebeu uma carta de Dom José Negri, Bispo de Santo Amaro (bairro da cidade de São Paulo), contendo questões sobre a possível participação nos sacramentos do Batismo e do Matrimônio, por parte de pessoas transexuais e de pessoas homoafetivas. 

Dom José Negri levantou questões que tinham relação com situações vividas em sua Diocese: “Um transexual pode ser batizado? Um transexual pode ser padrinho ou madrinha de Batismo? Um transexual pode ser testemunha de um matrimônio?.

O documento que registra as respostas referentes às perguntas, foi encaminhado pelo cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, principal órgão doutrinário da Santa Sé. 

A posição da Igreja Católica

De acordo com o documento, a posição da Igreja Católica sobre o tema reflete o entendimento de que um transexual – que tenha sido submetido a tratamento hormonal e à intervenção cirúrgica de reatribuição de sexo – pode receber o batismo nas mesmas condições dos demais fiéis. Entretanto, deve-se observar situações em que possa gerar escândalo público ou confusão entre os fiéis.

Sobre a função de padrinho ou madrinha, em determinada condições, pode-se um transexual adulto, ainda que tenha sido submetido a tratamento hormonal e à intervenção cirúrgica de reatribuição de sexo. No entanto, como tal função não constitui um direito, a ponderação pastoral exige que isso não seja permitido quando houver perigo de escândalo, gerando desorientação da comunidade eclesial em âmbito educativo. Por fim, em relação a uma pessoa transexual ser testemunha de um matrimônio, o documento afirma que não existe nada na vigente legislação canônica universal, que proíba a uma pessoa transexual de ser testemunha de um matrimônio. 

ATUALIZAÇÃO: O Vaticano também autorizou que padres concedam a bênção a casais de mesmo sexo. Conforme noticiado em seu site oficial, a bênção ainda estaria” fora de qualquer ritualização e imitação do matrimônio. A doutrina sobre o matrimônio não muda, a bênção não significa aprovação da união”. Os padres podem recusar-se a conceder a bênção, se quiserem.

“Ideologia de gênero” e o Vaticano

A publicação oficial da Igreja Católica sobre assuntos que colocam em questão a moralidade cristã,  é significativa no momento em que a discussão sobre a ideia inventada de “ideologia de gênero” é frequentemente acionada. Bereia checou outras diversas matérias sobre o tema, nas quais pode-se observar que a temática de gênero (e as pautas relacionadas) têm livre circulação nas mídias religiosas.

Bereia classifica a afirmação sobre a liberação da Igreja Católica às pessoas transexuais, de se batizar, de poder ser padrinho ou madrinha de Batismo, e poder ser testemunha de um matrimônio, como verdadeira. 

Bereia, porém,  alerta para a associação da orientação com a figura do Papa, com motivações críticas. A orientação foi encaminhada pela Cúria Romana, seguindo os trâmites de seus departamentos, e não é uma decisão isolada do Papa Francisco.

Referências de checagem:

Correio Braziliense.

https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2023/11/6652674-vaticano-permite-batismo-de-pessoas-trans-na-igreja-catolica.html Acesso em 13 NOV 23

Instituto Humanitas

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/634078-a-recomendacao-do-papa-aos-bispos-para-serem-mais-inclusivos-foi-clara-e-categorica Acesso em 13 NOV 23

https://www.ihu.unisinos.br/630703-victor-fernandez-e-grzegorz-rys-os-novos-cardeais-em-quem-os-grupos-lgtbi-mais-confiam Acesso em 13 NOV 23

Vaticano

https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/index_po.htm Acesso em 12 NOV 23

https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_ddf_20231031-documento-mons-negri_po.pdf Acesso em 12 NOV 23

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-12/declaracao-doutrina-da-fe-bencaos-para-casais-irregulares.html Acesso em 18 DEZ 23

Editora Cléofas

https://cleofas.com.br/novo-chefe-de-doutrina-da-santa-se-esta-aberto-ao-debate-mas-alerta-sobre-riscos-de-cisma/ Acesso em 13 NOV 23

Coletivo Bereia

https://coletivobereia.com.br/panico-moral-sobre-ideologia-de-genero-aborto-erotizacao-de-criancas-e-defesa-da-familia-e-usado-para-disputa-eleitoral-com-base-em-desinformacao/ Acesso em 13 NOV 23

https://coletivobereia.com.br/ideologia-de-genero-e-um-dos-temas-explorados-por-quem-produz-desinformacao-em-espacos-religiosos-nestas-eleicoes/ Acesso em 13 NOV 23

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Foto de capa: Wikicommons

Candidato extremista nas eleições argentinas Javier Milei usa falsidades contra o Papa Francisco em campanha

Javier Milei, o economista ultraliberal que lidera a corrida presidencial na Argentina,  concedeu entrevista para Tucker Carlson, jornalista símbolo da extrema-direita estadunidense. Além de apresentar suas polêmicas propostas,  Milei fez duras acusações ao Papa Francisco.

O candidato representante da extrema-direita afirmou: “o Papa faz política. Ele tem uma forte influência política. Ele também mostrou grande afinidade com ditadores como Castro e Maduro. Em outras palavras, ele está do lado de ditaduras sangrentas”.

Milei também disse que o Papa Francisco considera a justiça social um elemento central, e “isso é muito complicado, porque justiça social é roubar o fruto do trabalho de uma pessoa e dar a outra”. 

As críticas ao Papa Francisco, como a “afinidade com comunistas assassinos” receberam destaque na matéria publicada pelo portal gospel Pleno.News, em 15 de setembro passado. O material foi compartilhado centenas de vezes e circulou por diversos grupos de mensagens de igrejas e entre perfis religiosos. 

Imagem: Matéria do Pleno.News checada pelo Bereia

Quem é Javier Milei e por que um site de notícias gospel do Brasil lhe dá destaque

De acordo com o jornal El Observador,  que analisou as dez últimas pesquisas eleitorais, o economista ultraliberal e deputado do parlamento argentino Javier Milei lidera as pesquisas de intenção de voto em todos os cenários para a corrida presidencial no país. 

Segundo os números mais recentes, ele tem entre 36% e 40,4%  dos votos e está à frente do atual ministro da Economia, Sergio Massa, representante do presidente Alberto Fernandez. O candidato do governo tem de 27,4%  a 33%.  Já a  ex-ministra de Segurança Patrícia Bullrich, apoiada pelo ex-presidente Maurício Macri, alcança entre 23,1% a 29,7%. Se os números forem confirmados nas urnas, o candidato da extrema-direita estará no segundo turno.

Milei se autointitula libertário e promete “acabar com a classe política do país”. O livro “La rebeldia se volvió de derecha”, do historiador argentino Pablo Stefanoni,  expõe como a chamada “nova direita” surgiu no cenário político com a apresentação de uma suposta rebeldia contra “o sistema”. O capítulo “o que querem os libertários e por que deram um giro à direita?”  apresenta a trajetória de Milei e mostra como os temas morais que caracterizam a retórica das chamadas “guerras culturais” se conectam e se entrelaçam com o ultraliberalismo econômico. Este mesmo processo ocorreu nos Estados Unidos e no Brasil, com as campanhas vencedoras de Donald Trump (2016) e de Jair Bolsonaro (2018)

O libertarianismo, movimento nascido nos EUA nos anos 1990, estabeleceu pontes entre a direita e à esquerda políticas, pelo viés dos extremos. O Estado é sempre um inimigo que une as correntes libertárias. 

Por isso, o discurso gira em torno do fortalecimento das instituições tradicionais que estimulem a vida pública: a família, a igreja e as empresas, com o descarte do Estado. A autoridade social deve ser representada por essas instituições.

Nessa lógica, explica o livro de Stephanoni, o mercado livre é um imperativo moral e prático. Já o Estado de bem-estar social é um roubo organizado, a ética igualitária é moralmente condenável por ser destrutiva da propriedade e da autoridade social,  qualquer “privilégio” racial e de grupo deve ser os valores judaico-cristãos são essenciais para uma ordem livre e civilizada.

Para chegar ao poder, explica o historiador argentino, estes libertários extremistas abraçaram o populismo de direita com teorias que envolvem satanismo, pedófilos, partidos de esquerda e o Papa, entre outros, todos conspirando, em um “sistema”, contra “o povo”. Nos Estados Unidos, o grupo apresentou um salvador para conter esta trama, Donald Trump, e na Argentina, agora, se apresenta Javier Milei.

No Brasil, Jair Bolsonaro também foi apresentado como um político antissistema que prometia governar sem acordos ou concessões à classe política.  As mídias sociais colaboram para a propagação desse perfil, mesmo tendo o militar ocupado uma cadeira de deputado federal por décadas e passado por diversos partidos políticos.

O professor da Universidade de Buenos Aires, Ariel Goldstein, explica: “enquanto Bolsonaro se apresentava como um representante conservador da família tradicional e tentava o apoio dos mercados com Paulo Guedes, Milei se apresenta, de cara, como um representante dos mercados e que, agora, faz um movimento mais em direção a faixas conservadoras”. 

O portal gospel Pleno News,  alinhado a essas políticas econômicas e pautas conservadoras deu amplo espaço à campanha e às declaração de Jair Bolsonaro e agora dá a mesma visibilidade a Javier Milei.

O que Milei falou em entrevista de campanha contra o Papa

Imagem: Reprodução da entrevista de Carlson com Milei no X

Os temas destacados – ideologia de gênero, aborto, afinidade do Papa com ditadores, entre outros – representam o caminho trilhado por Milei e Tucker Carlson durante a entrevista: pânico moral e teorias da conspiração. 

Estudos mostram que as posturas do Papa Francisco em sua maneira de conduzir a Igreja Católica tem incomodado políticos de direita, em especial extremistas ultraliberais, e personagens da própria igreja. O líder religioso e chefe do Estado do Vaticano  denuncia constantemente as condições precárias dos trabalhadores, o racismo e a liberdade de movimento para os imigrantes. Além disso, “defendendo que a política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia’, o bispo de Roma ganhou fama de herege”. Francisco também tem relativizado o direito absoluto à propriedade privada e, por isso, tem sido  chamado de comunista. 

Com estas bases é possível compreender os ataques do candidato argentino ao Papa Francisco, divulgados na matéria do Pleno News. Na entrevista ao jornalista dos Estados Unidos, objeto do texto, ele expôs publicamente que o pontífice é um “representante maligno na terra”, atrelou-o à esquerda e manteve a comum acusação de que o Papa é comunista.

Bereia ouviu o pastor da Igreja Metodista na Argentina, jornalista e presidente da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC) Leonardo Felix sobre o ataque público do candidato ao Papa Francisco. Felix explica que “[Jorge Mario] Bergoglio [o Papa Francisco] sempre representou, quando era cardeal da cidade de Buenos Aires, uma abordagem clara na síntese do peronismo [o ex-presidente Juan Domingo Perón procurou avançar através três pilares: justiça social, independência econômica e soberania política. Para alcançar um consenso mais amplo, elaborou propostas relacionadas ao tema da justiça social, na busca da paz baseada no amor ao próximo], com as diversas tendências do peronismo, mais até à direita. Porém, para a ultradireita na Argentina, isto não é bem visto”.

O diretor da WACC informa que como reação ao discurso de ataque de Milei ao Papa, houve missas em desagravo, em “villas”, espaços equivalentes às favelas no Brasil. De acordo com Felix, “Milei acusa o Papa no campo político, já que o conectou imediatamente com o peronismo e com a esquerda e por fim com o comunismo, coisa que não pode ser assim vista de nenhum ponto de vista. No caso de Francisco, não há nenhuma ideia que permita entender isso além da retórica do Evangelho.”

Quem é o entrevistador de Milei, Tucker Carlson

O jornalista Tucker Carlson comandava um dos programas de maior audiência nos EUA, pela rede de TV Fox News, notoriamente  identificada com a direita política. A rede de TV, inclusive, foi acusada de espalhar informações falsas de que as urnas foram manipuladas para impedir a vitória de Trump nas eleições. Carlson já esteve no Brasil para entrevistar o ex-presidente Jair Bolsonaro em junho de 2022.

Reprodução da matéria de O Globo, de 30 de junho de 2022.

A popularidade de Carlson e sua influência definiam a agenda dos conservadores estadunidenses e consequentemente do Partido Republicano. O programa exibido pela Fox News oferecia abordagens conservadoras populistas em questões como imigração, criminalidade, raça, gênero e sexualidade e a chamada ideologia “woke”. 

O termo woke tornou-se sinônimo de políticas liberais ou de esquerda, que defendem temas como igualdade racial e social, feminismo, o movimento LGBTQIA+, o uso de pronomes de gênero neutro, o multiculturalismo, a vacinação, o ativismo ecológico e o direito ao aborto. São políticas associadas, nos Estados Unidos, ao Partido Democrata do presidente Joe Biden e à ala mais liberal.

O analista político Guga Chacra afirma que Carlson só perde em popularidade para Donald Trump, entre eleitores do Partido Republicano. Chacra acrescenta que o papel fo jornalista foi fundamental para moldar a nova ideologia do partido  e “com um discurso isolacionista e focado na classe trabalhadora branca em temas sociais e econômicos, alterou em parte o discurso conservador americano, antes focado mais em questões fiscais na economia e bélico em questões internacionais”. 

Carlson foi demitido da Fox News e passou a atuar nas mídias sociais digitais. Seu último programa na rede TV estadunidense foi transmitido em 21 de abril deste ano. Atualmente tem um programa de entrevistas  independente na plataforma X (antigo Twitter), no qual conta com dez milhões de seguidores. A entrevista concedida por Milei e destacada pelo portal Pleno.News foi concedida no programa de Carlson no Twitter. 

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Bereia avalia que os ataques de Javier Milei ao Papa Francisco se valem de falsidades, estão no campo da política e funcionam como estratégia eleitoral, na direção do que é praticado comumente por lideranças da extrema-direita. 

Ao se apresentar como candidato antipolítico e relacionar o Papa com o peronismo e o comunismo, atrelando-os à esquerda, que busca confrontar, Milei alcança uma grande parcela da população que nega a política e os políticos.

O Papa Francisco, reconhecido por suas posições progressistas na Igreja Católica, está no espectro político oposto ao de Javier Milei, que busca colocar todos os outros políticos e personagens com atuação política como inimigos, na linha das práticas de extrema-direita.

Como não há registros de declarações do Papa sobre apoiar qualquer ditadura, as acusações de Milei podem ser consideradas mais uma teoria da conspiração, ferramenta tão difundida por políticos de extrema-direita em todo o mundo.

Bereia classifica, portanto,  a matéria do site religioso, Pleno News como desinformativa, pois não oferece apuração do que o candidato argentino pronuncia na entrevista a Tucker Carlson, apenas reproduz. Desta forma,  Pleno News atua como promotor da campanha política de Milei.

Referências de checagem:

El Observador https://www.elobservador.com.uy/nota/elecciones-2023-dos-encuestas-dan-ganador-a-milei-en-primera-vuelta-2023923111922 Acesso em 26 SET 23

Resenha do livro: O que querem os libertários e por que deram um giro à extrema-direita?

https://periodicos.ufba.br/index.php/pculturais/article/view/48454 Acesso em 19 SET 23

El País https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-12/teorias-conspiratorias-do-qanon-varrem-o-mundo-e-sao-mais-perigosa-do-que-parecem.html Acesso em 19 SET 23

BBChttps://www.bbc.com/portuguese/internacional-63547369 Acesso em 19 SET 23

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c512yk8pl8go Acesso em 26 SET 23 

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63547369 Acesso em 19 SET 23

O Globo https://oglobo.globo.com/blogs/guga-chacra/post/2023/04/demitido-da-fox-carlson-moldou-partido-republicano.ghtml Acesso em 19 SET 23

https://oglobo.globo.com/blogs/blog-do-acervo/noticia/2022/06/thucker-carlson-as-ideias-extremistas-do-jornalista-que-entrevistou-bolsonaro.ghtml Acesso em 26 SET 23 

G1 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/08/14/quem-e-javier-milei-candidato-presidencia-argentina.ghtml Acesso em 19 SET 23

UOL https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2022/06/30/quem-e-tucker-carlson-jornalista-conservador-que-entrevistou-bolsonaro.htm Acesso em 19 SET 23

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2023/09/05/buenos-aires-celebra-missa-de-desagravo-ao-papa-francisco.htm Acesso em 25 SET 2023

Folha de São Paulo https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/09/padres-argentinos-defendem-papa-francisco-contra-ataques-de-javier-milei.shtml Acesso em 19 SET 23 

IHU On Line https://www.ihu.unisinos.br/categorias/631605-preocupacao-na-igreja-pela-ascensao-de-javier-milei-e-seus-ataques-ao-papa Acesso em 19 SET 23 

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/592611-francisco-um-papa-que-incomoda-artigo-de-victor-codina Acesso em 26 SET 2023

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/603702-herege-e-comunista-a-direita-excomunga-o-papa Acesso em 20 SET 2023

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/593752-as-raizes-peronistas-do-papa-bergoglio Acesso em 20 SET 2023

El País https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-12/teorias-conspiratorias-do-qanon-varrem-o-mundo-e-sao-mais-perigosa-do-que-parecem.html Acesso em 19 SET 23 

Aci digitalhttps://www.acidigital.com/noticia/29432/a-resposta-de-francisco-aos-que-o-chamam-de-comunista-antipapa-e-questionam-se-e-catolico Acesso em 21 SET 2023

Governo Biden muda política de uso de tecido fetal humano para pesquisas médicas

Em 21 de abril, o portal de notícias Gospel Prime publicou que o presidente dos Estados Unidos Joe Biden liberou o uso de tecido de fetos abortados para experiências médicas.

A matéria reproduz informações do jornal norte-americano The Washington Post e relata que a mudança aconteceu no âmbito do Instituto Nacional de Saúde (NIH, sigla em inglês, um conglomerado de centros de pesquisa que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA). O NIH teria feito, segundo o jornal, uma reversão de restrições efetuadas na administração de Donald Trump. Além disso, o texto ainda elenca críticas à medida vinda de instituições cristãs como o Instituto Charlotte Lozier (CLI) e o Conselho de Pesquisa da Família (FRC).

As restrições da administração Trump

Em 2019, o governo do ex-presidente republicano passou a restringir o uso de tecidos de fetos abortados em estudos conduzidos por pesquisadores pagos pelo governo federal no NIH. Outra restrição dizia respeito a cientistas de outras instituições (como universidades) que buscavam financiamento junto ao NIH: seus projetos passariam a ser avaliados por uma comissão de ética. 

No primeiro caso, os “intramural studies” (estudos internos) receberam cerca de 31 milhões de dólares em 2018 e, no segundo, o montante chegou a 84 milhões distribuídos em 200 projetos. A política foi aplicada apenas para novos pedidos de financiamento. Com isso, três estudos foram encerrados.

A comissão de ética avaliou que a medida do governo Trump buscou uma composição com pessoas de diversas áreas: incluindo, pelo menos, um teólogo, um especialista em ética, um médico e um advogado. Não mais do que a metade poderiam ser cientistas.

Entretanto, demorou cerca de um ano para formação do painel e, quando foi criado, a maioria se identificou como contrária ao aborto, segundo The Washington Post. De 14 projetos analisados, todos, exceto um, foram rejeitados.

Além disso, o jornal norte-americano informa que as regras de 2019 obrigaram os cientistas a elaborar justificativas porque o tecido fetal humano era necessário para pesquisa e porque outros métodos eram inadequados. Isso incomodava os cientistas por ocupar muito espaço em pedidos de financiamento. Essa obrigação não foi alterada. 

As mudanças do governo Biden

A ação da atual administração muda as partes centrais das restrições de 2019. A partir de agora, os estudos tecidos fetais para pesquisadores pagos pelo governo estão liberados enquanto os projetos externos não precisam mais passar pela comissão criada por Trump. Mesmo assim, tais pesquisas ainda são obrigadas a obter o consentimento do doador do tecido fetal, seguir os requerimentos das universidades e não podem pagar pelo tecido utilizado. 

Já os estudos do pesquisador no NIH voltam a ser como eram antes das restrições da administração Trump. Por fim, estudos que foram interrompidos pelas regras de 2019 foram retomados sem necessidade de revisão.

Uso de tecidos fetais em pesquisas

O Gospel Prime reproduz as informações do The Washington Post a respeito do uso de tecidos fetais para pesquisas, que datam dos anos 1950. Naquela década, o material foi usado no desenvolvimento da vacina da poliomielite e nos anos 1980 cientistas transplantaram tecidos do sistema imunológico de fetos abortados em ratos de laboratório. O site não cita, porém, que esses experimentos com ratos “humanizados” ajudaram a desenvolver terapias para HIV, câncer, problemas neurológicos, doença das células falciformes e distúrbios oculares.

As linhas celulares derivadas de fetos abortados foram utilizadas também no desenvolvimento de anticorpos monoclonais para o tratamento da covid-19 de Donald Trump, informou o jornal The New York Times. Vacinas financiadas pela Operação Warp Speed do Governo Americano também fez testes nessas linhagens celulares, como verificou Bereia em novembro de 2020. Vale lembrar que o uso dessas células derivadas não provoca novos abortos e que outros cristãos aceitam esse procedimento no desenvolvimento de vacinas (inclusive um médico citado pelo Gospel Prime na matéria verificada pelo Bereia).

Gospel Prime omitiu falas favoráveis à mudança

Além disso, o Gospel Prime também reproduziu críticas à ação do Governo Biden, mas não registrou as declarações em defesa da mudança, também  colhidas pelas mídias de notícias. De fato, representantes das instituições cristãs, Conselho de Pesquisa da Família (FRC, na sigla em inglês) e do Instituto Charlotte Lozier (CLI, na sigla em inglês) criticaram a medida. Ambos foram ouvidos pelo The New York Times e pelo The Washington Post. Estas instituições dizem que a decisão do governo Biden não é ética por usar tecidos de fetos abortados.

Ao The Washington Post, a presidente da Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-Tronco Christine Mummery afirmou em posição divergente: “A comunidade científica reconhece que o governo Biden está suspendendo as restrições arbitrárias sobre a promissora pesquisa biomédica usando tecido fetal humano”. Já o neurocientista da Universidade da Califórnia, San Diego, Lawrence Goldstein, que usou tecidos fetais em sua pesquisa, afirmou ao The New York Times esperar que a política de Trump não volte em uma próxima administração Republicana no futuro: “Seria terrível para essa pesquisa estar sob um vai-e-vem. Ela vai morrer se isso acontecer.”

“Acreditamos que temos que fazer a pesquisa necessária para ter certeza de que estamos incorporando inovação e levando todos esses tipos de tratamentos e terapias para o povo americano”, afirmou aos jornais o Secretário de Estado de Saúde e Serviços Humanos Xavier Becerra. O responsável pela saúde no país é classificado por Tony Perkins, do Conselho de Pesquisa da Família,  como “advogado fanático do aborto.”

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Bereia conclui que a matéria do Gospel Prime é imprecisa. Apesar da mudança de política realizada pelo Governo Biden ser verdadeira, a matéria que faz uso do que foi publicado em jornais dos EUA não expõe o contexto completo das alterações realizadas pelo novo governo e não mostra o ponto de vista dos cientistas que apoiam a nova medida.

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Foto de capa: Susan Walsh/AP Photo

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Referências

Revista Science, https://www.sciencemag.org/news/2019/06/trump-administration-restricts-fetal-tissue-research. Acesso em: 22 de abril de 2021.

Washington Post, https://www.washingtonpost.com/health/biden-administration-removes-trump-era-restrictions-on-fetal-tissue-research/2021/04/16/71719006-9ed2-11eb-8005-bffc3a39f6d3_story.html. Acesso em: 22 de abril de 2021.

The New York Times, https://www.nytimes.com/2021/04/17/health/fetal-tissue-abortion-biden.html. Acesso em: 28 de abril de 2021.

Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/vacina-contra-covid-19-nao-usa-celulas-de-bebes-abortados-como-afirma-site-gospel/. Acesso em: 28 de abril de 2021.

Family Research Council, https://www.frc.org/get.cfm?i=PR21D04. Acesso em: 28 de abril de 2021.

A Teologia da Libertação para reconstruir o Brasil a partir de baixo

Em 13 de julho, o filósofo italiano Gianni Vattimo (84 anos) publicou no jornal espanhol La Nación um artigo que o Facebook reproduziu para nós. Deste texto, colhi as seguintes afirmações que traduzo na minha linguagem e podem não ser citações literais do que Vattimo escreveu, mas correspondem ao que ele afirmou:

“Atualmente, com a pandemia e a quarentena, o controle coletivo sobre as pessoas tende a aumentar. Então, se torna mais necessária uma outra organização social, baseada na ajuda mútua e no amor fraterno”. (…)
“Isso significa que tem de haver uma profunda transformação social. Mas, atualmente, só é possível uma transformação social radical tendo como base um apelo espiritual – e hoje a única pessoa que tem condições de dirigir um processo de transformação radical do mundo é o papa Francisco”.
“Para isso, o papa teria de transformar a Igreja e libertá-la dos dogmatismos, da moral ultrapassada, principalmente, em relação à família, à mulher e a questões sexuais e também libertar ministros e fieis da tentação de se ligarem ao poder social e político”

Gianni Vattimo (La Nación, 13/ -7/ 2020)

Será que depois de escutarmos a voz de um dos mais importantes filósofos vivos do mundo, ainda precisamos explicar porque as teologias da libertação se tornam necessárias no Brasil dos nossos dias e no mundo? 

Quando eu era jovem, me tornei amigo de um dos teólogos pioneiros da Teologia da Libertação, um brasileiro que escreveu sobre isso antes da geração do nosso querido Leonardo Boff, João Batista Libânio e outros. Era Hugo Assman. Ele foi o primeiro a estabelecer a relação entre Teologia e Economia. No começo da década de 1980, houve um famoso congresso teológico em Montevidéu. Ali, Hugo Assman afirmou:

“Se a situação histórica de dois terços da humanidade, com seus 30 milhões de mortos de fome e desnutrição não se converte em ponto de partida de toda teologia cristã hoje, a teologia não poderá aplicar seus temas fundamentais à história concreta. Suas perguntas não serão perguntas reais. Por isso, é necessário salvar a teologia (e a fé) do seu cinismo. Porque, realmente, diante dos problemas do mundo de hoje, muitos escritos de teologia se reduzem a um exercício de cinismo”

(Assman e Mo Sung, 2007, p. 12).

Então, as teologias da libertação existem para salvar a teologia, as ciências da religião e as próprias Igrejas do cinismo hipócrita de falar coisas bonitas e viverem o oposto de tudo o que a fé poderia expressar. 

Até agora, no Brasil, na Europa e em todo o mundo, ainda há – e infelizmente não são tão poucos – padres, bispos, grupos católicos, assim como pastores evangélicos e pentecostais e comunidades cristãs que ainda defendem totalitarismos e políticas de direita e contra os mais vulneráveis do mundo (migrantes, refugiados, minorias sexuais e outros). Nos Estados Unidos, alguns arcebispos e cardeais fazem publicamente campanha em favor da reeleição do presidente Trump e se organizam contra o papa Francisco. Sabem perfeitamente que o presidente persegue migrantes, discrimina negros e é contra a Ecologia. Mas, têm interesses em defendê-lo.

No Brasil e em muitos lugares do mundo, é mais lucrativo apoiar a direita do que a justiça e a democracia. No entanto, entre os eclesiásticos, esse grupo de interesseiros que defendem seus lucros é minoria. A maioria dos cristãos e de gente de outros credos que defendem a desordem indefensável é de gente alienada que faz isso por não saber teologia ou ao menos uma teologia digna deste nome, seja teologia cristã, seja teologia da Umbanda, ou teologia islâmica ou budista… ou simplesmente transreligiosa e não confessional. Outro dia, um amigo me perguntou: “Existe teologia sem ser a partir de uma revelação concreta? Sem estar amarrada a uma Igreja e a uma hierarquia?”

Ao menos, desde o começo deste século, temos as teologias pluralistas da libertação e vocês encontram nas livrarias os livros de europeus como Andres Torres Queiruga e Raimon Panikkar, na América Latina, de José Maria Vigil e no Brasil de Faustino Teixeira e Cláudio Ribeiro, só para dar alguns exemplos. 

Portanto, quando falamos de teologias da libertação no plural, este plural tem dois sentidos. O primeiro é de pluralista, ou seja, queremos ir além de uma teologia confessional e, como cristãos, nos abrir para escutar e acolher a Palavra divina, vinda de outras tradições religiosas. Mas, este curso de teologias da libertação será também no plural para nos introduzir nas teologias contextuais, teologias negras, descoloniais, nas ecoteologias, nas teologias índias, feministas, gays, queers e outras. 

Como Jesus disse no evangelho: Na casa do meu Pai, há muitas moradas. E ele não falou isso para dizer que quando morrermos, teremos um apartamento nos esperando no céu. Ele quis dizer que, na caminhada que temos de percorrer neste mundo, na caminhada da fé, Deus arma para nós tendas, de barracas, moradas provisórias. Estas moradas do Pai são nossas Igrejas, mesquitas, terreiros, as matas da Jurema sagrada e outras moradas do meu Pai. É um caminho encantador e vocês todos/todas estão convidados/as a fazermos juntos/as esta caminhada. 

Um desafio exigente é que toda a teologia clássica que aprendemos foi pensada a partir das categorias greco-romanas e dentro de paradigmas que eram, e são até hoje, coloniais e legitimadores das desigualdades sociais, dos racismos e da religião ligada ao poder. Mesmo quando nossa intenção é fazer teologias da libertação, estas categorias coloniais estão dentro de nós, se expressam nas nossas liturgias, na nossa linguagem religiosa e na organização hierárquica das nossas Igrejas. Querendo ou não, ainda confundimos estes elementos históricos e culturais com a revelação divina no evangelho de Jesus. Agora, somos chamados por Deus a desconstruir essas estruturas de dominação e colonialidade. 

Há quase 30 anos, em Santo Domingos, o papa João Paulo II pedia perdão aos negros e índios pelos pecados de alguns filhos da Igreja. Na ocasião, um simples monge brasileiro, desconhecido e sem importância lhe escreveu fazendo duas ponderações de irmão menor. A primeira é que os tais filhos da Igreja que pecaram contra os negros e índios não eram apenas pessoas individuais. Representavam oficialmente a Igreja. Eram papas, bispos e padres que falavam em nome da Igreja. Portanto, foi a própria Igreja que pecou. Em segundo lugar, eu ponderava que, se queremos enxugar uma sala que está inundada, a primeira providência não é enxugar o chão. É fechar a torneira de onde a água está saindo. Para mudar a atitude da Igreja em relação às culturas oprimidas, é preciso descolonizar a teologia, a espiritualidade, a liturgia, a catequese e a própria forma de organização clerical das Igrejas. Na época, quase nenhuma revista ou jornal aceitou publicar a minha tentativa de diálogo com o papa. Mais tarde, em 2004, escrevi uma carta pública ao papa e aí as consequências foram mais sérias.

Em 2007, aconteceu o 3º Fórum Mundial de Teologia da Libertação em Nairobi, no Quênia. E foi convidado para falar um teólogo muçulmano. Ele chegou, nos cumprimentou e disse: 

– Eu não vou fazer nenhuma palestra para vocês, teólogos cristãos. Só quero que me digam o que vocês fizeram para que os impérios do mundo aceitem tão bem o Cristianismo de vocês. Qual foi o segredo? O que vocês fizeram com a fé que Jesus de Nazaré propôs para transformar o mundo? 

Silêncio total. Todos nós tínhamos a resposta, mas não adiantava apenas falar. Era preciso testemunhar. 

No seu livro Teologia Negra, nosso irmão Ronilso Pacheco comenta que ouviu de um teólogo negro dos Estados Unidos a seguinte afirmação: “Nos Estados Unidos, o racismo não acaba, enquanto a Igreja branca existir”. E Ronilso dizia: “E no Brasil, como dizer que enquanto existir uma Igreja branca ou embranquecida, o racismo não se acabará?” Ele esclarece que não está falando apenas contra uma Igreja de brancos e sim contra um modelo de Igreja construído a partir do colonialismo branco (Cf. Pacheco, 2019, p. 162- 163). 

Não basta pensar uma ao lado da outra: uma Igreja que romaniza cada vez mais e outra que tenta descolonizar a fé. Nesta quarta-feira, todos os que seguem o lecionário católico ouviram um texto do evangelho no qual Jesus ora ao Pai: “Eu te agradeço, Pai, porque tu escondeste tuas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Uma coisa está ligada a outra. Sem desconstruir o paradigma colonial não se constrói o novo. 

Convido vocês a no final deste curso podermos juntos dar uma resposta adequada ao irmão muçulmano que nos encorajava a expressar nossa fé e nossa teologia de forma revolucionária, certos de que Deus, se é Deus, não pode ser de direita e quem é de Deus não pode apoiar governos genocidas e ecocidas, como infelizmente temos hoje no Brasil e em vários países do mundo que se dizem cristãos.

Faz parte dessa resposta descolonial que os conteúdos deste curso sejam desenvolvidos o mais possível na metodologia e na mística do diálogo intergeracional. Os irmãos jovens estarão aqui não apenas como monitores ou apresentadores para o curso ficar mais bonito.  É porque é da própria natureza das novas teologias da libertação serem geradas no diálogo e a partir das sensibilidades e dos desafios das juventudes atuais.

Na exortação pós-sinodal Querida Amazônia, o papa Francisco revelou ao mundo quatro sonhos: o social, o cultural, o ecológico e o eclesial. Claro que tudo isso está interligado, mas vamos tentar propor mais um sonho a estes quatro: o sonho afetivo. Uma grande ciranda de amor revolucionário que, a partir das relações humanas e do amor apaixonado cresça, e se desenvolva até as dimensões cósmicas do amor. Tudo em um só eixo de erotismo que envolva nossos corpos e nossos espíritos em uma só energia. Uma vez, escutei do presidente Hugo Chávez uma afirmação que me tocou muito. Ele me disse: Marcelo, só se pode fazer revolução com amor. 

Então, irmãos e irmãs, aceitem este apelo para revolucionar nossas formas de amor e começar por nós a revolução amorosa e libertadora que queremos ver incendiar o mundo. Como disse a comunidade joanina em sua carta: Nós somos as pessoas que cremos no Amor.

Capa: Pixabay/Reprodução

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