Líder da “Machonaria”, pastor Anderson Silva é acusado por pares de corrupção nas contas da confraria

O pastor Anderson Silva, fundador e líder da Igreja em Movimento Brasília está no centro de uma polêmica envolvendo acusações de desvio de dinheiro dos projetos sociais do movimento evangélico que fundou, a Machonaria – Confraria Nacional de Homens. Em maio de 2025, um grupo de 18 pastores anunciou publicamente renunciarem ao projeto, acusando Anderson Silva de má gestão e do desvio de R$ 500 mil. A denúncia foi divulgada por diversos veículos de imprensa.

Imagem: Reprodução do site Metrópoles
Entenda o caso
Um grupo de 18 pastores que faziam parte da liderança da Confraria Nacional de Homens anunciou a renúncia coletiva aos cargos em carta divulgada nas redes digitais, em 19 de maio de 2025. Os ex-dirigentes da Machonaria alegaram que tomaram a decisão motivados pela falta de transparência e pela violação dos princípios da instituição por parte do presidente, o pastor Anderson Silva.
Segundo os ex-líderes do grupo, a atual liderança “se afastou dos valores originais da Machonaria”. As práticas irregulares caracterizam má gestão dos recursos, confusão entre finanças pessoais e institucionais, e uso indevido de dados de terceiros para contratos e financiamentos.
“A ausência de prestação de contas e de alinhamento à diretoria atual tornou insustentável nossa permanência em qualquer função de representação, pois cremos que nenhuma missão, por mais nobre que seja, pode subsistir sem verdade, transparência e obediência aos princípios que a legitimam. Diante disso, reiteramos que não podemos e não devemos compactuar com tais violações, sendo nossa renúncia um ato de fidelidade à missão original que um dia nos uniu e que ainda consideramos nobre”, descreve a nota publicada no perfil do ex-vice-presidente da entidade pastor Radamés Morais.


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Segundo os pastores denunciantes, o sustento da entidade religiosa provinha de eventos realizados pela Confraria, além de campanhas, rifas, venda de Bíblias personalizadas e cursos. “Começaram a chegar várias cobranças: aluguel atrasado, ordem de despejo, contas de energia que não eram pagas. Nós, então, fazíamos um rateio entre nós mesmos para conseguir pagar a energia elétrica. Em nenhum momento, cogitamos a possibilidade de que pudesse haver algum desvio. Mas essas questões de contas em atraso e falta de pagamento foram se acumulando”, declarou Morais ao site Metrópoles.
Já o ex-diretor administrativo da confraria Jhonny Alves, alega na mesma reportagem, que surgiram cobranças de diversas partes do Brasil, de pessoas com quem o pastor Anderson Silva havia feito orçamentos de serviços em nome da instituição e que não foram pagos. “A única conclusão à qual pude chegar foi: se ele não está pagando nem as contas da própria instituição e ainda acumula boletos de fora, então estamos lidando com alguém que compra e não paga — em outras palavras, um caloteiro”.
De acordo com informações disponíveis no site da Machonaria, o hub social (um espaço ou plataforma on line que conecta e apoia projetos sociais) embarca 33 projetos ativos, entre os quais constam ações para ajudar pessoas autistas, famílias em vulnerabilidade social, pastores em depressão e até “resgate de ex-transexuais”.
Contudo, ex-líderes do movimento expõem que apenas cinco projetos estavam em operação atualmente – um deles é a Casa do John John. Segundo os relatos, o hub social do projeto, localizado em Samambaia Sul (DF), acumulou dívidas vultosas enquanto campanhas de arrecadação e doações continuavam sendo promovidas. Os ex-líderes cobram uma auditoria nas contas da instituição.
O que dizem os documentos oficiais
No site oficial da entidade, existe uma aba nomeada “Transparência”, porém o espaço não disponibiliza informações financeiras ou relatórios de prestação de contas. O grupo continua promovendo eventos e realizando campanhas com forte apelo emocional para a arrecadação de recursos. Entretanto, há apenas um link para um canal no Telegram cuja última atualização foi em 31 de outubro de 2023.
Apesar da promessa de “transparência”, o site oficial da Machonaria não oferecia qualquer informação financeira pública até o fechamento desta checagem.

Imagem: Reprodução do site Machonaria

Imagem: Reprodução do canal da Confraria no Telegram
Resposta de Anderson Silva
Em seu site pessoal, Anderson Silva se apresenta como teólogo, pai de quatro filhos, residente em Brasília há mais de 20 anos e líder de mais de 30 projetos sociais. Procurado pela imprensa, o pastor Anderson Silva não se pronunciou formalmente sobre as acusações.
No entanto, em seus perfis nas redes digitais, o pastor tem feito postagens com tom de deboche, sugerindo que as denúncias seriam “intrigas” ou “perseguição”.
“Pessoal, se vocês acharem os 500k me avisem, pois preciso pagar 150k de aluguel atrasado do projeto social, além de tirar a moto da rifa”, escreve o pastor, seguido de risos, sem fornecer explicações concretas sobre a movimentação financeira do projeto, apenas reproduções (prints) com o saldo das contas correntes pessoais e da entidade, em publicação do dia 14 de junho.
Já no vídeo destacado em seu perfil no Instagram, postado em 18 de junho, o líder da entidade adota um tom mais formal e defende-se das acusações. “Tomei uma decisão na minha vida, nunca mais entrarei em processo jurídico nenhum na minha vida. A Bíblia me proíbe e Deus é meu juiz. Então, digam o que quiserem, façam o que quiserem, não cabe a mim, a minha justificação pertence a Jesus”, diz o pastor.
“Alguns desses homens que já andaram comigo, estão agindo de maneira leviandade, por pura maldade. Eles sabem que os meus erros não são de caráter, mas de excesso de generosidade. Mas vale cuidar de uma vida, do que na gestão em si”, admite Silva e questiona: “Pode um homem fraudulento produzir tantos frutos, abençoar tantas vidas e transformar tantas pessoas, inclusive a vida deles mesmos?”.

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Esta não é a primeira vez que o nome de Anderson está envolvido em polêmicas. Entre as principais, estão suas declarações consideradas misóginas (posturas machistas de ódio), como a afirmação de que mulheres têm “potencial demoníaco”, que tomaram forma de livro.
Imagem: Reprodução Instagram
No campo político, o lider da Machonaria também gerou controvérsia ao fazer orações públicas pedindo a “quebra da mandíbula de Lula”, o que resultou em investigação da Polícia Federal.

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Anderson Silva também foi candidato a deputado no Distrito Federal nas eleições de 2022 pelo Partido Liberal, contudo não foi eleito.
O que é a Machonaria?
Fundado em 2018 por Anderson Silva, a Machonaria se define como “o maior movimento de masculinidade da América Latina”. De acordo com o site da entidade, o projeto surgiu com o objetivo de promover valores cristãos voltados à “masculinidade bíblica”, liderança familiar, combate à pornografia e engajamento social.
Ainda, segundo a página da iniciativa, mais de 10 mil homens já participaram do trabalho promovido pela Confraria. Com forte presença digital e eventos realizados em várias cidades do país, o movimento também criou a “Igreja de Segunda-feira”, estrutura paralela a cultos tradicionais.
Bereia ouviu a antropóloga da religião Simony dos Anjos sobre o movimento. Ela explica que grupos como a Machonaria têm recorte de gênero e de classe. “Além da estratégia de politizar a categoria família como uma forma de conquistar a base da sociedade que vê nessa instituição seu bem de maior valor, esses discursos vêm atrelados à Fé.”, diz a cientista social.
“Não é incomum que perfis de influencers homens e mulheres que se dizem cristãos tenham um momento de devocional diário. Livros como ‘Café com Deus Pai’, entre outras modas devocionais que demonstram uma esfera de acolhimento por meio da espiritualidade, convivem com a defesa do uso de armas e de papéis de gênero conservadores.” Para Dos Anjos, esses movimentos masculinistas não funcionam sozinhos, eles precisam de um movimento de mulheres submissas.
Além disso, Simony dos Anjos traça uma relação entre esses movimentos e a violência de gênero a partir da circulação de narrativas do homem provedor e da mulher submissa como a solução para os conflitos familiares. “Homens, como machos provedores, querem mulheres submissas e que cobram um cuidado que eles não podem oferecer. Essa situação fica ainda mais tensa quando esse homem não consegue prover o lar, seja por desemprego ou por sub-salários.”, avalia a antropóloga. Ela traça uma conclusão desse cenário: “O resultado são homens frustrados em uma sociedade violenta, que respondem a esse sentimento com violência”.
Por fim, Simony Dos Anjos acredita que narrativas masculinistas e que defendem uma “masculinidade bíblica” oferecem soluções para homens que acham que se encaixar nesse modelo pode tornar suas famílias perfeitas. Porém, na verdade, ainda segundo a especialista, os problemas familiares são muito mais complexos porque envolvem desigualdade social e de gênero.
“Um homem que siga um defensor da masculinidade cristã pode se decepcionar com a impossibilidade de ser um provedor e isso não vai gerar crítica social sobre os problemas econômicos, vai gerar frustração e revolta que vai ser despejada justamente nas ‘filhas de Eva: as mulheres eternas pecadoras com seus potenciais demoníacos’”.
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Embora ainda não existam provas judiciais de que Anderson Silva desviou R$ 500 mil do movimento que criou, as acusações são consistentes, documentadas e partem de fontes internas do próprio movimento. Apesar da resposta do pastor líder nas redes digitais, não há uma nota oficial institucional.
No primeiro momento, houve um desprezo pelas alegações, por parte de Anderson Silva, entretanto, em vídeo mais recente, o pastor tenta justificar os problemas financeiros dizendo preferir “primeiro a vida, depois a gestão”. Em suas palavras, ele diz priorizar o atendimento aos necessitados em detrimento de honrar as dívidas da Confraria. Entretanto, ele não explica o desvio do montante de R$500 mil reais da entidade, o que se soma à falta de transparência financeira e dívidas públicas registradas oficialmente.
Bereia checou e classificou como verdadeira a denúncia que culminou com a renúncia do grupo de 18 líderes da Confraria Nacional de Homens, já que o próprio pastor Anderson Silva admite, em vídeo publicado em seu canal, erros na gestão dos projetos que compõem o hub social da Machonaria.
Referências
Metrópoles
https://www.metropoles.com/distrito-federal/machonaria-18-pastores-expoem-lider-religioso-apos-sumico-de-r-500-mil – Acesso em 21 Jun 25
Diário do Nordeste
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ultima-hora/pais/pastor-fundador-de-machonaria-e-acusado-de-desviar-r-500-mil-de-projetos-sociais-1.3660321?utm_source=twitter – Acesso em 21 Jun 25
Carta Capital
https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/machonaria-um-demonio-que-precisa-ser-exorcizado/ – Acesso em 21 Jun 25
Revista Fórum
https://revistaforum.com.br/brasil/2025/6/16/machonaria-em-crise-pastores-denunciam-fundador-por-desvio-de-r-500-mil-181552.html – Acesso em 21 Jun 25
CNN
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pastor-que-pediu-que-deus-arrebentasse-a-mandibula-de-lula-diz-ter-recebido-ligacoes-da-pf/ – Acesso em 21 Jun 25
O Hub Social
https://www.ohubsocial.com.br/ – Acesso em 21 Jun 25