Deputado federal evangélico Nikolas Ferreira promove desinformação em discurso na Câmara dos Deputados

No último 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) subiu à tribuna da Câmara dos Deputados e, aproveitando-se da data em homenagem às mulheres, proferiu discurso que gerou forte reação negativa nas redes digitais, e por parte de políticos e grupos sociais. Ironizando a realidade de pessoas transgênero, o deputado vestiu uma peruca amarela e passou a falar como se fosse uma mulher de nome “Nicole”. A fala repercutiu como ofensa não apenas às mulheres trans, mas também às mulheres em geral e à sociedade brasileira.

Eleito na esteira do avanço conservador capitaneado pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro,  o filho e neto de pastor Nikolas Ferreira, vinculado à Comunidade Evangélica Graça e Paz, foi o deputado federal mais votado em 2022, com campanha em que se apresentou, genericamente, como “cristão”. Pesquisa do Instituto de Estudos da Religião (ISER) que levantou a identidade religiosa de parlamentares eleitos para o mandato 2023-2017 aponta que, desde as eleições municipais de 2020, políticos passaram a utilizar o termo genérico “cristão” como estratégia para alcançar diferentes segmentos da sociedade que se identificam com as moralidades e valores cristãos. Ele é conhecido por suas polêmicas envolvendo temas religiosos, pautas anti-feministas e LGBTQIAP+ e a defesa de posições radicais.

Bereia checou a fala do deputado e constatou, entre outros temas, falsas menções a  “banheiro unissex”, a acusação de pedofilia à intelectual feminista Simone de Beauvoir (1908-1986) e interpretações pessoais do papel supostamente reservado às mulheres na sociedade.

Banheiro unissex

Em seu discurso, o deputado Nikolas Ferreira fez alusão aos “banheiros unissex”, afirmando que defendia a liberdade “de um pai recusar (…) um marmanjo entrar no banheiro da sua filha sem você ser considerado um transfóbico”. A frase apela para uma das mais utilizadas fake news em campanhas eleitorais nos últimos anos. Ao abordar o assunto, o deputado do PL cria uma situação hipotética de abuso infantil, utilizando o medo como principal recurso retórico.

A fake news do banheiro unissex foi amplamente utilizada na campanha presidencial de 2022, em que apoiadores do candidato Jair Bolsonaro atribuíam a Luís Inácio Lula da Silva um falso projeto de implementar banheiros compartilhados por homens e mulheres nas escolas infantis brasileiras.

Em entrevista à Folha de São Paulo, a pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Viviane Vergueiro, afirma que “não necessariamente a demanda da população trans parte da bandeira de banheiros multigênero ou unissex. Ela parte da ideia de que as pessoas trans, como todas as pessoas, têm o direito de utilização dos espaços públicos”.

No entanto, assim como a fake news do “kit gay”, a do banheiro unissex segue sendo utilizada por políticos conservadores para manter suas bases de apoio permanentemente engajadas contra pautas associadas aos grupos progressistas.

A narrativa dos banheiros compartilhados tem sido cada vez mais frequente em diversas disputas ideológicas. Conforme Bereia já publicou, sites religiosos e políticos já exploraram o tema de maneira inadequada, acusando adversários políticos sem apresentar provas ou fontes que sustentem suas alegações. 

Simone de Beauvoir e pedofilia

A fala do deputado Nikolas Ferreira, proferida no Dia Internacional da Mulher, contemplou uma crítica ao feminismo. Entre outros trechos questionáveis do ponto de vista factual, o deputado acusou a intelectual francesa Simone de Beauvoir, célebre feminista, de apoiar a pedofilia.

O parlamentar evangélico fez referência ao controverso episódio, ocorrido em 1977, em que vários intelectuais, incluindo Beauvoir, defenderam, perante o Parlamento francês, a abolição da idade de consentimento para o ato sexual, o que não significa defesa da pedofilia.

A pedofilia é considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde os anos 1960. Segundo reportagem publicada pelo TAB/UOL, são considerados pedófilos – ou seja, portadores da doença pedofilia – pessoas que sentem atração sexual compulsiva por crianças abaixo de 13 anos. A equivocada associação da doença com o crime contra a dignidade sexual da criança, previsto no arcabouço jurídico brasileiro, é utilizada pela extrema direita no intuito de confundir e causar pânico, conforme Bereia checou.

O deputado utilizou-se do caso específico na França, em 1977, desconhecido por boa parte da população, para menosprezar o feminismo enquanto luta pela justiça de gênero. “Mulheres, vocês não devem nada ao feminismo, pelo contrário”, afirmou.

Trata-se de uma polêmica antiga no Brasil e que já havia demonstrado seu poder de promover agitação ideológica. Os ataques contra Simone de Beauvoir avolumaram-se após o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) abordar, em 2015, a obra da escritora em uma de suas questões. Nos dias seguintes à realização do exame, uma enxurrada de críticas circulou na internet.

Conforme consta em matéria da BBC divulgada à época, o verbete sobre Beauvoir no site Wikipedia foi alterado diversas vezes, ridicularizando a feminista. Segundo a BBC, de 250 visitas diárias, o verbete passou para 35 mil visitas em um só dia e as edições foram tantas que o site restringiu a possibilidade de alteração do texto, considerando o que ocorreu como “vandalismo excessivo”.

Violência política de gênero no Dia Internacional da Mulher

Em outro trecho de sua fala na tribuna, o deputado do PL dirige-se às mulheres: “retomem sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade, formem a sua família porque, dessa forma, vocês colocarão luz no mundo e serão, com certeza, mulheres valorosas”. Segundo a avaliação do Instituto de Estudos da Religião (ISER),  utilizando a religião como alicerce de posições políticas conservadoras – o deputado escreveu o livro “O Cristão e a Política”, em que reúne o conteúdo de suas palestras – Nikolas Ferreira valeu-se do Dia Internacional da Mulher para, a partir de suas crenças pessoais, ditar às mulheres como proceder em suas vidas.

Segundo matéria da BBC, o relatório “Evangélicos nas redes”, elaborado pelo NetLab, grupo de pesquisa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identificou que os conteúdos divulgados por Nikolas Ferreira caracterizam-se por propor uma oposição entre evangélicos e figuras ligadas à esquerda do espectro político, sejam políticos ou meros apoiadores. O grande alcance que possui, materializado no expressivo número de votos que obteve no pleito de 2022 – 1,47 milhão de votos, recorde histórico para o cargo de deputado federal –, está relacionado, entre outros fatores, à vinculação da política à religião.

No discurso de 8 de março, Ferreira, enquanto ataca pautas progressistas, defende referências religiosas anti-feministas com base na sua interpretação e na sua opinião, ignorando um fenômeno nada novo na religião: o feminismo de orientação cristã, como recordam as pesquisadoras do ISER. Mundo afora, mulheres protestantes e católicas dedicam-se a uma leitura feminista da Bíblia, ressaltando figuras bíblicas femininas que fogem do modelo de submissão e devoção apregoado por muitos.

Conforme divulgado pelo jornal El País em matéria publicada em 2018, o livro “Uma Bíblia das Mulheres”, desenvolvido por teólogas e historiadoras, apresenta um olhar feminista sobre os ensinamentos bíblicos. Na reportagem, Lauriane Savoy, codiretora do projeto argumenta que “pode-se ler a Bíblia sendo feminista, e inclusive a leitura da Bíblia pode nos nutrir como feministas”.

O feminismo na religião está presente também no Brasil. Odja Barros, que se diz uma “feminista da Bíblia” e é pastora da Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió (AL), recebeu apoio do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (Conic) após sofrer ameaças de morte por ter celebrado um casamento homoafetivo. Em entrevista ao blog Universa, do UOL, a pastora afirma que “argumentar dizendo ‘É bíblico’ é terrível. Impede o diálogo, é simplesmente para fechar uma postura conservadora e encerrar a conversa”.

Existem, ainda, grupos como o Evangélicas pela Igualdade de Gênero que, no Facebook, descreve-se como uma “ação coletiva em que as mulheres tomam controle de seus próprios assuntos, de sua própria vida e de seu destino”.

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O discurso proferido pelo deputado federal evangélico Nikolas Ferreira (PL-MG) na tribuna da Câmara dos Deputados no dia 8 de março foi checado por Bereia, que considerou o conteúdo veiculado como enganoso. As informações expostas necessitam de correções, substância e contextualização. Além disso, faz uso do pânico moral para captar apoios e confunde o público dando caráter de informação a interpretações e posições pessoais exclusivistas de leitura da Bíblia, em detrimento das outras abordagens existentes.

O parlamentar exerceu seu direito de discursar para o plenário, utilizando-se de sensacionalismo com discurso transfóbico e de desrespeito à história das lutas das mulheres por direitos, para conquista de audiência, especialmente na data em que o fez, em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher.

Referências:

Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=XTpCxJl3WLw Acesso em: 10 mar 2023

CNN https://www.cnnbrasil.com.br/politica/apos-discurso-em-que-disse-se-sentir-mulher-deputado-nikolas-ferreira-multiplica-numeros-de-seguidores-nas-redes/ Acesso em: 10 mar 2023

Bereia

https://coletivobereia.com.br/sites-religiosos-e-politicos-exploram-caso-de-suposto-afastamento-de-diretor-de-escola-de-sorocaba-por-transfobia/ Acesso em: 10 mar 2023

https://coletivobereia.com.br/etiquetas/descriminalizar-a-pedofilia/ Acesso em: 10 mar 2023

Folha de São Paulo https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/10/banheiros-unissex-viram-pauta-de-campanha-e-lula-e-bolsonaro-se-dizem-contra.shtml Acesso em: 10 mar 2023

BBC https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151028_simone_beauvoir_wikipedia_enem_rb Acesso em: 10 mar 2023

El País
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/06/cultura/1544116577_543552.html Acesso em: 10 mar 2023

BBC
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63136759 Acesso em: 10 mar 2023

Twitter ISER https://twitter.com/isernarede/status/1633887087995879427?t=D7RKPAyL6cwkVieWM8czIA&s=19 Acesso em: 10 mar 2023

Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=AfYNI0QvdiM Acesso em: 10 mar 2023

Centro Feminista de Estudos e Assessoria https://www.cfemea.org.br/index.php/pt/?view=article&id=6273:ele-fez-um-discurso-criminoso-diz-duda-salabert-sobre-nikolas-ferreira&catid=567:lgbtqi Aceeso em: 10 mar 2023

Câmara dos Deputados https://www.camara.leg.br/noticias/911272-nikolas-ferreira-e-o-deputado-mais-votado-do-pais-com-147-milhao-de-votos/ Acesso em: 10 mar 2023

UOL

https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/02/16/usam-palavra-de-deus-para-manter-a-mulher-submissa-diz-pastora-feminista.htm Acesso em: 10 mar 2023

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/23/por-que-a-discussao-sobre-abuso-sexual-infantil-precisa-evoluir-no-brasil.htm Acesso em: 10 mar 2023

https://mulherias.blogosfera.uol.com.br/2020/03/07/jesus-apoia-o-feminismo/ Acesso em: 10 mar 2023

Instituto Humanitas Unisinos https://www.ihu.unisinos.br/categorias/615330-nota-do-conic-em-solidariedade-a-pastora-odja-barros Acesso em: 10 mar 2023

Religião e Poder https://religiaoepoder.org.br/artigo/pesquisa-do-iser-levanta-identidade-religiosa-dos-deputados-e-deputadas-federais-diplomados/ Acesso em: 10 mar 2023

Facebook. https://www.facebook.com/mulhereseig Acesso em: 10 mar 2023

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Imagem de capa: reprodução TV Câmara

Ecumenismo (neo)conservador: pacto programático-religioso na defesa da agenda anti-gênero

Parceria com Laboratório de Antropologia da Religião da Unicamp – Por: Tabata Pastore Tesser

Essa crônica tem como objetivo suscitar reflexões pessoais acerca do pacto programático-religioso exercido por setores religiosos em torno da agenda anti-gênero. A reflexão é fruto das palestras ministradas no Seminário Internacional “Catolicismos, direitas cristãs e ideologia de gênero na América Latina”, promovido pelo Grupo de Estudos em Gênero, Religião e Política da PUC/SP (GREPO) em 2021.

No Seminário Internacional, pesquisadoras e pesquisadores abordaram como a agenda anti-gênero atua como um dispositivo retórico de cunho internacional com objetivo de mobilizar setores da sociedade rumo à uma “cidadania anti-política”. Essa “cidadania anti-política”, abordada pelo pesquisador argentino Juan Marco Vaggione, tem como foco executar uma politização reativa nas democracias e, em especial, nas democracias latinoamericanas por atores neoconservadores confessionalmente religiosos ou não.

A unidade programática de setores neoconservadores religiosos se espraia para as direitas políticas não confessionais a fim de propagar uma “cidadania anti-política” que tem como objetivo comum estabelecer uma “politização da moral sexual conservadora”. A agenda anti-gênero enraizada na América Latina por esses setores distintos entre si mas unitários no programa pela “politização da moral sexual conservadora” é, pra Juan Marco Vaggione, uma resposta ao impacto dos movimentos feministas e pró-diversidade sexual na política contemporânea.

Um dos “dispositivos retóricos” para ascensão dessa moral sexual conservadora é a propagação da compreensão familista desempenhada, apesar das diferenças teológicas históricas, por setores (neo)conservadores católicos, pentecostais e neopentecostais. Um dos pilares para a politização dessa “moral sexual conservadora” é a unidade programática em torno da compreensão heteronormativa e patriarcal da família, oriunda do familismo.

Marcha da família Cristã pela Liberdade. Foto: Reprodução

A articulação transnacional em torno da farsesca retórica da “ideologia de gênero” é um exemplo de articulação comum entre setores religiosos diversos que proporcionou – como mencionou a pesquisadora colombiana Sandra Mazo – um “ecumenismo (neo)conservador” na defesa irrestrita da agenda anti-gênero.

Como apontado pela pesquisadora Sandra Mazo, o ecumenismo (neo)conservador obtém um “aporte teórico-narrativo” com foco em quatro aspectos para balizar o discurso sacrossanto da agenda anti-gênero. Um: a defesa da vida, contrastando com os Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (DSDR), em específico o direito ao aborto. Dois: a promoção irrestrita do matrimônio e da família heternormativa (familismo). Três: o uso do conceito de liberdade religiosa (cristofobia) a fim de confessionaliza as políticas públicas para igualar os privilégios públicos aos interesses religiosos. Quatro: a imersão na educação como meta estratégica voltada à doutrinação cristã conservadora na comunidade escolar.

Seguindo os aportes teóricos mencionados acima, arrisco que devemos partir de perguntas-pistas para compreender como funciona esse pacto programático-religioso. É possível afirmarmos que o ecumenismo (neo)conservador contemporiza um alinhamento programático em torno da agenda anti-gênero mas há divergências nas estratégias executadas por esses atores? Os diferentes atores usam os mesmos meios e formas para propagação dessa modernização retórica? O que eles têm em comum – na última década – como estratégia para propagação dessa politização da moral sexual conservadora?

Uma das pistas é compreender o uso recorrente das comunicações midiáticas como forma de intensificação dessa “modernização retórica”. A agenda desempenhada por esse ecumenismo (neo)conservador a fim de exercer uma “politização da moral sexual conservadora” indica que, apesar dos agentes terem o mesmo objetivo comum, o fazem de maneiras diferentes e operam seus dispositivos retóricos reacionários de diferentes formas no campo político, jurídico, social e religioso.

Em se tratando da Igreja Católica, setores neoconservadores como o Centro Dom Bosco, liderado pelo Padre Paulo Ricardo, por exemplo, desempenham o dispositivo retórico mais doutrinal e confessional pela “politização da moral sexual conservadora” por meio de intensas agendas de formações onlines (cursos e lives no YouTube). A associação privada de fiéis Comunidade Católica Shalom, fundada pelo Arcebispo Moysés Louro de Azevedo Filho, cultua seu dispositivo retórico reacionário no aspecto mais emotivo, articulando ritos nem tantos doutrinais com uso frequente das redes sociais, além da publicação de artigos contrários à “ideologia de gênero” em seus sites.

No âmbito internacional clerical católico, como apresentado pela pesquisadora brasileira Maria José Rosado Nunes,  temos o papado de Francisco, não analisado usualmente como parte do que tem sido chamado de “neoconservadorismo” uma vez que promove algumas agendas que não se encontram neste campo, como a Teologia o Povo. No entanto, no que se refere aos debates de gênero, o Papa é alinhado discursivamente, e logo politicamente, ao conservadorismo. A intensificação das campanhas anti-gênero entre 2013 e 2019 contou com auxílio do papado de Francisco por meio de documentos pontifícios, pronunciamentos papais, em voga nos termos de “colonização ideológica” e “ideologia de gênero”, ambas citadas no papado a partir de 2013. Termos esses propagados também pelas redes sociais oficiais de Francisco.

Reprodução de tela de vídeo do youtube

Uma das características dessa intensificação das campanhas anti-gênero é justamente como ela vem sendo apropriada por setores protestantes, gerando um ecumenismo neoconservador em torno da agenda anti-gênero.

Observando o campo evangélico, multifacetado e diverso como o catolicismo, temos o exemplo da Ministra Damares Alves, agente política histórica das campanhas internacionais “pró-vida e pró-família” no Brasil. Suas declarações no Twitter sobre “defesa da vida e da família” são constantes, o que proporciona uma reflexão de que o uso das redes sociais por atores religiosos conservadores e neoconservadores são uma arena midiática em disputa na agenda anti-gênero. Ambos atores religiosos conservadores executam estratégias discursivas semelhantes (“ideologia de gênero”, propagação da família, defesa da vida, liberdade religiosa) mas o fazem de diferentes maneiras na arena pública.

Partindo das perguntas-pistas, reflito que a noção de “ideologia de gênero” foi apropriada nos canais midiáticos e nas redes sociais pela direita religiosa como uma forma comum de referir-se a gênero pela direita política até tornar-se uma pauta de Estado, como na interferência nos planos de educação, por exemplo. O sintagma inicial da “ideologia de gênero” inicia-se no campo católico, se espraia para os setores evangélicos e afunila sua agenda nos grupos anti-direitos como um todo, sendo religiosos ou não.

A “ideologia de gênero” não ficou restrita à sua origem católica, ela foi, ao longo do tempo, sendo ressignificada e retrabalhada pela direita política junto a outros setores religiosos não-católicos. Há desalinhamentos teológicos no modo de promoção da “cidadania anti-política” mas há um pacto programático de setores religiosos, portanto ecumênicos, na hora de executar a mesma agenda político-discursiva contra o gênero.

O ecumenismo (neo)conservador compartilha um pacto programático de caráter global que tem como foco a propagação de uma aliança transnacional pró-família (familismo) e que se desdobra no questionamento político dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (DSDR). Setores religiosos atuam com campanhas transnacionais em torno de um programa com dois eixos principais: a defesa da vida desde a concepção (pró-vida) e a defesa da família (nos moldes do familismo).

Dessa forma, conclui-se que a agenda anti-gênero executada pelo ecumenismo (neo)conservador tem como objetivo a propagação de um neoconservadorismo cristão pela retomada da “moral familista unitária” (Vaggione, Biroli, Campos Machado, 2020) no que refere-se a moral sexual cristã. São as agendas anti-gêneros “novas formas de totalitarismo”[1] (Bracke, Paternotte, 2018) no século XXI baseadas em dogmas religiosos cristãos conservadores que visam a defesa da “lei natural” e provocam um retorno da Igreja Católica aliada a setores pentecostais a um regime de diferença sexual. Regime este desempenhado pelo ecumenismo (neo)conservador na utilização estratégica das redes sociais com objetivo de modernizar a retórica dos discursos reacionários.

[1] Ver Sara Bracke e David Paternotte, “Desentrañando el pecado del género”. Habemus Género! La Iglesia Católica y la Ideología de Género. Gênero & Política América Latina e Sexuality Policy Watch, 2018, pp. 08-25.

Referências

BIROLI, Flávia, MACHADO, Maria das Dores Campos e VAGGIONE, Juan Marco. Gênero, Neoconservadorismo e Democracia: disputas e retrocessos na América Latina. 1. ed – São Paulo. Boitempo, 2020.

BRACKE, Sara e PATERNOTTE, David. “Desentrañando el pecado del género”. Em: Sara Bracke e David Paternotte (eds.), Habemus Género! La Iglesia Católica y la Ideologia de Género. Gênero & Política América Latina e Sexuality Policy Watch, 2018, pp. 08-25.

GREPO, Grupo de Estudos de Gênero, Religião e Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Seminário Internacional: catolicismos, direitas cristãs e ideologia de gênero na América Latina. 31 de março de 2021 e 01 de maio de 2021. Youtube. Disponível em 10/04/2021 <https://www.youtube.com/watch?v= m0fG3Wbh1Dk & t=3092s>.

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Tabata Pastore Tesser é mestranda em Ciência da Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e integrante do Grupo de Estudos em Gênero, Religião e Política da PUC/SP (GREPO).

O GREPO – Grupo de Estudos de Gênero, Religião e Política da PUC-SP realizou, nos dias 31/03/21 e 01/04/21, o Seminário Internacional Catolicismos, direitas cristãs e ideologia de gênero na América Latina. Esta crônica é a primeira de uma série que apresenta livres reflexões de suas autoras sobre os debates que reuniram pesquisadores de diferentes países da América Latina no seminário: Brenda Carranza (LAR-UNICAMP, Brasil), Flávia Biroli (UnB, Brasil), Juan Marco Vaggione (Universidade de Córdoba, Argentina), Lucas Bulgarelli (Comissão da Diversidade OAB/SP, Brasil), Maria das Dores Campos Machado (UFRJ, Brasil), Maria Eugenia Patiño (Universidade Aguas Calientes, México), Maria José Rosado Nunes (PUC-SP, Brasil), Olívia Bandeira (GREPO/PUC-SP e LAR/Unicamp, Brasil) e Sandra Mazo (Católicas pelo Direito de Decidir, Colômbia).

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Foto de capa: Marcha da Família Cristã pela Liberdade (Reprodução).

Marginais dentro do centro: os evangélicos e o movimento social

*Publicado originalmente em Angeliquisses.com

Meu ponto de partida é meu corpo. Corpo que possuí diversas identidades, que negocia, troca, toca, experimenta. Corpo que foi construído pelos cristianismos de centro. Corpo que foi desconstruído pelos cristianismos das margens. Corpo que agora é devir. Por que começar essa breve fala com o corpo? Porque é ele que experimenta a religião, é ele que a constrói, é ele que pisa e sente o território místico e dá significados.

Cristianismo nunca é no singular. Cristianismos. Plural. Usando as categorias de “centro” e “margem” dos estudos pós-coloniais tento entender o que se passa com os cristianismos no Brasil. Há um cristianismo de centro? Há um cristianismo das margens? Como os discursos dentro de uma religião podem ser tão distintos? Para encontrar novos caminhos é preciso discutir os caminhos existentes.

Os fundamentalismos têm tomado conta do cenário nacional e mundial. Existem diversas teorias sobre qual a origem do fundamentalismo religioso, todas elas têm suas falhas. Porém, há uma constatação a ser feita: o fundamentalismo é um fenômeno religioso, mas não é ligado com a religião em si. Em menos de uma semana estava na Índia estudando os processos de fundamentalismo religioso e lá há um partido de ultradireita chamado Bharatiya Jananta Party (Partido do Povo Indiano). Partido esse que reivindica uma Índia Hindu, que quer trazer de volta os princípios religiosos dos Vedas, das castas (que ainda é um problema na Índia), doutrina Hinduvta – orgulho de ser hindu, e que quer expulsar os cristãos e os muçulmanos da Índia. O centro, império, é o hinduísmo. Existem algum movimento hindu que não concorda com essa postura do governo em poder? Sim. Nenhuma religião é singular, há sempre o plural.

No Brasil temos como religião de centro o cristianismo, em uma mistura de católico com evangélico, considerando um crescimento notável nas últimas décadas do movimento evangélico. Qual é a imagem do movimento evangélico-protestante-pentecostal? Bem, posso dizer a partir de dentro de que de um lado temos os fundamentalistas escrachados, discursos de ódio, teologia da prosperidade, do outro lado os ditos teólogos ortodoxos, que destilam intolerância com cara de conhecimento científico, que obtém o “verdadeiro conhecimento da Bíblia” e o resto é tudo, claro, é tudo heresia. E não preciso dizer sobre a bancada dita evangélica, apenas mencionar é o bastante.

Engana-se, entretanto, em pensar que o movimento de evangélicos progressistas é algo novo ou uma renovação. Muito pelo contrário, nomes como Anivaldo Padilha, metodista que participou da resistência contra a ditadura e foi denunciado pelo próprio pastor, sendo sequestrado e torturado, estão aí para fazer história e construir essa resistência cristã. Ele é apenas um exemplo, poderia citar outros tantos que não se dobraram ao Centro da fé e da política, continuaram nas margens da fé.

Temos que entender que os evangélicos progressistas representam as margens das margens, pois são marginais da própria fé e marginais da própria esquerda que quase sempre excluiu a religião de qualquer análise social e fechou os diálogos com os crentes com um ar de superioridade colonial. Teologias como teologia gay e queer, teologia negra, teologia feminista, teologia da libertação são marginalizadas pelos centros – da fé e até mesmo pela esquerda.

Acredito que não há um “crescimento” ou mesmo “renovação” do movimento evangélico, entretanto, tem ocorrido mais visibilidade e publicidade das lutas e pautas estabelecidas entre o meio progressista evangélico. O movimento de religiosos evangélicos engajados em pautas sociais e não-conservadoras sempre existiu, não é um fenômenos novo e há muito tempo estão na luta. O que é novo talvez seja uma melhor compreensão teórica, conceitual e política e também uma melhor articulação.  Se há muito tempo religiosos evangélicos, de maneira anônima e desarticulada, atuam em causas relacionadas aos direitos humanos e sociais, hoje, de maneira mais articulada e organizada, estes evangélicos qualificaram e organizaram melhor suas expressões e práticas sobre esses temas e causas. Há diversos interesses nessa nova visibilidade também, interesses políticos, partidários, midiáticos, e esses fatores estão influenciando a publicização do movimento progressista evangélico no Brasil.

Movimento das margens da fé

Os primeiros movimentos progressistas evangélicos surgiram em meados da década de 20 e 30, porém eram institucionalizados e obtinham um caráter mais tradicional.  Hoje encontramos esses movimentos mais nas margens, se costurando com outros corpos, outras identidades para além de um cristianismo ocidental-patriarcal-branco-heterossexual-capitalista. Há diversos movimentos se movimentando por aí: Evangélicos Pelo Estado Democrático de Direito, Evangélicas pela Igualdade de Gênero, Feministas Cristãs, Espiritualidade Libertária, Movimento Negro Evangélico. Mas voltarei aos corpos únicos que vivem essa experiência com o sagrado nas margens.

Ronilso Pacheco, teólogo, negro, mora no Rio de Janeiro, autor do livro “Ocupar, Resistir, Subverter” pela editora Novos Diálogos. Ronilso constrói sua fé nas margens de sua cor. Como um corpo negro experiência a luta, dor, alegria e o mistério da fé?

Ana Ester, teóloga, lésbica, de Belo Horizonte. Pesquisadora sobre a teologia queer, sobre um Deus que flui como nós. Vivência a fé cristã no corpo de uma mulher lésbica.

Alexya Salvador, pastora da Igreja Comunidade Metropolitana em SP, transexual, educadora. Nas margens da sociedade e da fé encontra o divino que lava os seus pés. E agora passa a lavar os pés de sua comunidade de fé, alunos e família. Corpo divinamente queer.

Nancy Cardoso, pastora metodista, teóloga, mora nos quatro cantos do Brasil, feminista, reivindica uma leitura erótica da Bíblia, tão erótica que escorre para a terra, onde ela mais trabalha, na Comissão Pastoral da Terra, autora de diversos livros sobre teologia feminista.

Entre muitos outros que se fazem nas margens e constroem a partir dela suas teologias. Cristianismos de fronteira, de margens, bem distintos do que é propagado na mídia sobre um cristianismo conservador, preconceituoso, frio e seco. Acreditamos naquilo que somos, nossa religião é nossa imagem e semelhança.

A potência da margem: o corpo marginal da fé

Comecei a reflexão falando dos corpos. Nosso corpo é a nossa linguagem. Quando os corpos são marginalizados não temos mais voz. A minoria tem seus corpos oprimidos e silenciados pelo colonialismo. O corpo religioso é um corpo oprimido duplamente, cultural-social e religioso – se é que pode haver essa separação. Um corpo LGBTI não tem lugar na reflexão teológica, da mesma forma que um corpo negro, que um corpo de uma mulher, um corpo indígena. A liberdade é definida pela sua genitália, cor, classe social e sexualidade. Obviamente o centro do cristianismo não quer que as margens teologizem. Relembrando Spivak: Pode o subalterno teologizar?

Os corpos marginais da fé são um potencial de desafiar a hegemonia presente, um potencial de criatividade, um potencial de sonhar diferentes espaços religiosos e sociais. Ser marginal dentro do centro é desestabilizar as “normas” teológicas, questionar as doutrinas opressoras, é criar uma nova narrativa religiosa a partir do corpo que sente. É viver nas margens, nas fronteiras, nos entrelugares. Homi Bhabha diz:

O trabalho fronteiriço da cultura exige um encontro com “o novo” que não seja parte do continuum de passado e presente. Ele cria uma ideia do novo como ato insurgente de tradução cultural. Essa arte não apenas retoma o passado como causa social ou precedente estético; ela renova o passado, refigurando-o como um “entre-lugar” contingente, que inova e interrompe a atuação do presente. O “passado-presente” torna-se parte da necessidade, e não da nostalgia, de viver. (2001, p. 27)

Outro ponto que as margens vivem em constante negociação. Uma das perguntas que mais ouço sendo uma teóloga feminista “como você pode ser feminista e cristã?” ou ainda além: “por que você ainda se considera cristã?”.  Ou de uma esquerda tão cega quanto a própria fé que me diz: “não precisamos de vocês na nossa luta” – mesmo sendo a luta feminista. Como negociar entre essas fronteiras? O entrelugar é uma categoria necessária para entender os movimentos evangélicos emergentes na contemporaneidade. Negociam entre as margens e assim criam um novo lugar, um entrelugar de potências e diversidade. É o “rompimento das totalidades impostas e a superação dos fantasmas de cultura universal e culturas puras” (RIBEIRO, 2012, p. 169).

Um cristianismo-puro-singular-ortodoxo não tem mais espaço para os corpos marginais da fé. Viver nas fronteiras das diferentes situações produz um novo sentido para a realidade. Ainda mais, é preciso residir no além das fronteiras. Para Bhabha: “residir ‘no além’ é ainda… ser parte de um tempo revisionário, um retorno ao presente para redescrever nossa contemporaneidade cultural; reinscrever nossa comunidade humana, histórica; tocar o futuro em seu lado de cá. Nesse sentido, então, o espaço intermédio ‘além’ torna-se um espaço de intervenção no aqui e no agora” (2001, p. 27)

A vida é essa mistura de identidades que se interligam, interconectam, entrelaçam. É o passado e presente se fazendo novo. Os movimentos progressistas cristãos inspiram um novo a vir, uma comunidade que vem. Há sempre o perigo da margem querer se tornar centro, e assim perder a potência de criação e ser apenas uma repetição do velho, espero que isso não aconteça, mas antes crie o novo, novas relações com a fé e a sociedade, novas leituras das Escrituras que não mais oprimem o corpo, novas formas de se relacionar com o contexto atual. Ser evangélico é ser portador de uma boa nova, que essa boa nova se faça carne nos corpos marginais da fé.

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Foto de Capa: Pixabay/Reprodução

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REFERÊNCIAS

BHABHA, Homi. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.

RIBEIRO, Cláudio. Fronteiras. entrelugares” e lógica plural: a contribuição dos estudos culturais de Homi Bhabha para o método teológico. Estudos de Religião, v. 26, n. 43, p. 9-21, 2012.

Câmara da França não aprovou aborto até 9° mês de gestação

O portal gospel Pleno News reproduziu em português, no último 11 de agosto, notícia do site da organização britânica “The Christian Institute”, publicada na mesma data em inglês. Segundo a matéria, a Assembleia Nacional da França, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, aprovou, na primeira semana de agosto de 2020, uma emenda pró-aborto que pode permitir que bebês em gestação sejam abortados em qualquer momento da gravidez, seja ele o primeiro ou o último mês.

A notícia original em inglês, reproduzida na íntegra em português, afirma que a medida permitiria a realização do aborto, sob demanda, até o nascimento para mães que sofram de “problemas psicossociais”, sem qualquer restrição. O texto indica que há críticas quanto ao termo genérico “problemas psicossociais”, o que poderia permitir uma liberdade para aprovar o procedimento.

No dia seguinte à publicação do Pleno News, em 12 de agosto, o projeto de verificação de notícias do jornal O Estado de São Paulo, Estadão Verifica, veiculou matéria indicando a não veracidade da notícia e seu caráter desinformativo.

Segundo o Estadão Verifica, a notícia passou a ser divulgada a partir de 10 de agosto em sites pró-vida internacionais, sites e postagens de brasileiros, como o Pleno News. Segundo o projeto de verificação, a publicação sobre o assunto que mais viralizou recebeu 35 mil compartilhamentos no Facebook.

O tema do aborto é sempre motivador para propagação de desinformação, afeta subjetividades e emoções. A notícia foi publicada por mídias de notícias já conhecidas como desinformativas, como a Gazeta do Povo, a Gazeta Brasil, o Terça Livre, o MBL News, entre outras, e se espalhou facilmente pelas mídias sociais, inclusive de políticos. Entre estes está o vereador católico de São Paulo Fernando Holiday (Patriota) que fez uso do Twitter para divulgar o caso:

A matéria do Estadão Verifica explica que, na verdade, o caso diz respeito a uma emenda de texto mais amplo em tramitação na Assembleia Nacional da França (a emenda 524), que se refere à interrupção da gravidez por motivos médicos, o que já é liberado naquele país em qualquer etapa da gestação. O texto ainda será votado novamente pelo Senado, para, depois ser considerado na Assembleia Nacional mais uma vez e sancionado pelo presidente Emmanuel Macron para passar a vigorar.

Processo em curso

O Estadão Verifica esclarece que, de tempos em tempos, os deputados e senadores franceses são convocados a rever a legislação que diga respeito à bioética. Os parlamentares precisam considerar a evolução “dos problemas éticos e das questões sociais” pautados pela “biologia, medicina e saúde”. A lei em questão foi aprovada em 1994 e já foi renovada duas vezes, no mesmo processo: em 2004 e 2011. A etapa de atualização em curso já foi adotada em primeira votação pela Assembleia Nacional em outubro de 2019, passou pelo Senado, onde foi aprovado em primeiro turno em 2 de julho de 2020, mas teve que voltar para a Assembleia por conta das modificações. Houve novas alterações e a matéria foi aprovada em segundo turno no último 31 de julho. Foram 60 votos a favor, 37 contra e 4 abstenções. A imprensa na França destacou outros pontos desta nova legislação: o acesso de mulheres solteiras e casais de mulheres homoafetivas à procriação médica assistida. Com estas alterações, o projeto de lei volta para apreciação do Senado, o que implica dizer que ele ainda não foi aprovado.

O Estadão Verifica também informa que o Código de Saúde Pública francês já diferencia a interrupção voluntária da gravidez (IVG) da interrupção médica da gravidez (IMG). A IVG é legalizada até a 12ª semana de gestação. Já a IMG pode ser realizada em qualquer etapa da gravidez, mas só pode ser realizada em caso de “grave perigo para a saúde da mulher” ou de diagnóstico de que o feto tenha “condição de gravidade particular reconhecida como incurável”.

Conteúdo enganoso

A emenda que gerou desinformação é a 524, que é defendida pela Delegação dos Direitos da Mulher. A proposta é incluir no texto da legislação que o perigo grave “pode resultar de um estresse psicossocial”, o que seria importante para “esclarecer o quadro jurídico” que orienta a conduta médica ao realizar a IMG. Outras duas emendas na mesma direção foram propostas por duas deputadas da mesma Delegação. Mais detalhes são oferecidos pelo Estadão Verifica.

Nenhum destes esclarecimentos é oferecido aos leitores por Pleno News ou por sua fonte, o The Christian Institute. Nesse sentido, o Coletivo Bereia classifica a publicação destes veículos como enganosa. Eles fazem uso de um fato ocorrido e distorce a informação para levar leitores/as a pensarem que a França aprovou o aborto livremente do primeiro ao último mês de gestação. Além de ainda estar em tramitação, o caso diz respeito a uma emenda de lei francesa que trata de muitos outros aspectos referentes à saúde de mulheres, o que também é omitido para os leitores.

Um acréscimo: o Coletivo Bereia também chama seus leitores e leitoras que desinformação pode ser verificada pelo uso à razão. A emoção que certos temas geram acaba impedindo, por vezes, o raciocínio que revela falsidades e enganos. Para desconfiar desta notícia, bastaria fazer a pergunta: como uma mulher poderia abortar um bebê bem formado a partir do sexto mês, espontaneamente? Como seria aos nove meses?! A razão indica que uma mulher que deseja abortar não esperaria tantos meses com a criança no ventre para fazê-lo. Ainda que assim fosse, retirar um bebê do corpo por livre desejo, e não por motivos médicos, a esta altura de uma gestação, significaria um parto seguido de assassinato, o que não seria permitido.

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Referências de checagem

Estadão Verifica, https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/assembleia-nacional-francesa-nao-liberou-aborto-voluntario-ate-o-nono-mes-de-gestacao/?amp&__twitter_impression=true Acesso em 13 ago 2020.

“A Igreja irá perder as mulheres que pensam”. Entrevista com Ivone Gebara

*Publicada originalmente no IHU. Republicada no Cebi. Imagem: Cebi/Reprodução

“Dizer que a Virgem Maria é mais importante que os apóstolos só serve para que tudo continue igual. Isso não vem do Evangelho”. A teóloga brasileira Ivone Gebara é uma das máximas representantes da teologia feminista no mundo.

De Comillas [Espanha], onde esta tarde participou de algumas conversas organizadas pela Associação de Teólogas EspanholasGebara critica a “Igreja patriarcal” que, afirma, corre o risco de “perder as mulheres que pensam”. Conversamos com ela exclusivamente.

A entrevista é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 01-10-2018. A tradução é do Cepat.

EIS A ENTREVISTA.

Em sua exposição, você fala em alteridade, diferença e igualdade. O que quer dizer com tudo isso?

São conceitos muito relacionados com o feminismo, e por isso algumas filósofas feministas trabalharam, e eu também, estes conceitos, que não nasceram com o feminismo, mas de outras reflexões filosóficas, como as do filósofo judeu francês Levinas, que falou muito do outro, de quem é o outro. Minha contribuição é levantar uma suspeita de que as reflexões sobre a alteridade colocaram a mulher como ‘a outra’. E quando se fala de diferença, se faz dentro de um contexto, onde a universalidade masculina é bastante forte.

Vivemos uma ética machista?

Não necessariamente machista. Quero dizer que nem sempre estão relacionados a uma ética, mas, ao contrário, a uma maneira de reduzir o outro, de não levar em conta a diferença. Estes conceitos passam a ser teóricos, quase vazios na prática. A igualdade, a alteridade, a diferença… estão relacionadas a algo. Igual a quê, diferente de quê. Neste sentido, quero falar de algo que está relacionado à vida das mulheres, que é a beleza. Fabrica-se uma só beleza, que na realidade são os produtos que se vendem. As mesmas marcas produzidas para diferentes marcas…

Esta é uma teia de aranha na qual todas nós caímos, porque essa beleza é algo exterior, e é muito sacrificada. Temos que nos sacrificar muito para ter o peso ideal, a pele sem rugas… milhares de escravidões. Finalmente, falo do corpo feminino a partir do Cristianismo. E é interessante que no Cristianismo, e quando falo do Cristianismo falo da teologia, não do tempo de Jesus, o ideal da beleza feminina é um ideal ‘espiritual’, mas é a beleza do serviço. A mulher que é boa é a que serve, a que é muito boa mãe… Por exemplo, todas estas mulheres que vão à rua para falar dos direitos das mulheres traem o ideal da mulher como mãe, cuidadora, contida, dona de casa, zeladora da Igreja, servidora dos padres. São as mulheres que cozinham para eles, limpam os seminários…

A Igreja não percebe que o dia em que as mulheres disserem: ‘Já basta’ de ser servas, escravas… e não a outras coisas dentro dessa Igreja, a Igreja pode ficar vazia?

É que até agora eles veem este projeto de mulheres muito distante, sobretudo na América Latina. Percebem, mas agem como se o problema não existisse. Eu conheço alguns padres que pagam um salário mísero e, ao mesmo tempo, falam de justiça social. Estas contradições existem, porque existe a pobreza em que as mulheres vivem. Pobreza material, em primeiro lugar, mas também há uma ‘compensação’, porque às vezes o padre é bom tipo, educado, não é como o bêbado do marido. Existe o consolo…

Sim, mas a mulher não muda seu papel, permanece submetida…

Mas, a submissão é diferente. O padre não a pega, o padre lhe agradece, diz que irá rezar por ela. Há uma ideia do padre como representante de Jesus. Esta simbologia, de certa maneira, atrasa o processo.

Isso, aqui, se chama ‘micromachismos’, sem você se dar conta…

… está fomentando a injustiça. E o dia em que o padre perceber, as relações irão mudar. Mas são mais relações de amizade.

Quando a Igreja também reconhecerá as mulheres como discípulas de Jesus?

A primeira coisa que é necessário dizer é que se dizemos ‘discípulas’, já estabelecemos uma hierarquia. Eu prefiro falar de ‘Movimento Jesus’. Neste movimento, Jesus não sempre tinha a última palavra. As teologias masculinas destacaram uma sabedoria infundida em Jesus, como se não necessitasse aprender nada de ninguém, até o ponto de dizer que Maria foi a primeira discípula de seu filho. Isso não pode se sustentar. Jesus tinha que aprender, ser contestado, responder, se equivocar. Acredito que temos uma ideia muito romântica de Jesus de Nazaré, e ao falar de movimento estamos descendo à realidade da vida. No mundo judeu, as mulheres têm um papel importantíssimo, como mães, educadoras, que são escutadas. O mundo patriarcal, o Cristianismo a partir do século II e III, irá se vincular à ideia de poder do Império Romano, e aí as coisas começam a mudar. A autoridade pública da mulher se perde totalmente.

A Igreja, é machista?

Eu prefiro não usar a palavra machismo, porque essa palavra tem uma conotação de subjetividade e emotividade muito negativa. Nem todos os homens são machistas, nem todos os bispos são machistas, por isso eu prefiro falar de um fundamento patriarcal. Aqui, quem manda é o varão porque é o representante de Jesus, e eu não sou. Então, eu poderia estar mais com a razão do que você, mas a última palavra é sua. O mundo patriarcal não apenas subsiste na Igreja.

É evangélico que somente os homens possam ser sacerdotes, que as mulheres não tenham um papel sacramental na Igreja?

Isto não vem do Evangelho. Os sacerdotes querem ver os 12 apóstolos, varões, como uma escolha de Jesus. Eu não vejo isso. A hermenêutica bíblica feminista vê outras coisas, mas infelizmente não nos leem, não nos escutam e nos deixam de fora das instituições de formação. As poucas teólogas que ensinam nas faculdades de Teologia precisam se ajustar às normas.

Como interpreta que o Papa tenha incluído três mulheres na Comissão Teológica internacional e que tenha aberto uma comissão para o diaconato feminino?

Eu sou muito crítica. Não sou a única que pensa assim. Primeiro, quem escolheu estas teólogas como representantes? Podem ser representantes do feminino, mas não do feminismo católico. Porque o que incomoda a Igreja não é o feminino, é o feminismo. Porque o feminino quer dizer, como disse o Papa, a Virgem Maria é mais importante que os apóstolos, esse é um discurso romântico e que serve para que tudo continue igual. O Papa coloca três mulheres, entre elas há uma freira, duas teólogas alemãs. Por que não perguntou às diferentes organizações de teólogas, por exemplo, para a ATE da Espanha, que nomes indicariam?

Acredita que é mais um assunto de cota, e não de convencimento?

Claro, e depois colocam dois cardeais velhos que não tem nada a ver. Dizem que estão estudando, mas não chegarão a conclusão nenhuma. Já de antemão, ele já disse não à ordenação presbiteral. Agora, abre uma pequena brecha para a diaconal, mas não se deve ter muita esperança.

O que nós católicos feministas, homens e mulheres, que entendemos que a Igreja deve ser um lugar onde a igualdade seja praticada, precisamos fazer?

Acredito que os varões falam muito pouco disto. Podem fazer isso em círculos fechados, mas não falam em congressos, não escrevem ao Papa. Estão satisfeitos, ainda que se poderia fazer diferente. Não há vozes masculinas. Há os dominicanos, jesuítas, que falam de respeito às mulheres, contra a violência, há textos muito bonitos sobre isto. Contudo, entre isto e dizer ‘É preciso mudar a teologia’, até quando falarmos dos apóstolos, de Deus Pai Todo-Poderoso, dos sacramentos somente relacionados à figura masculina de Jesus…, então, não haverá mudanças. E se houver mudanças, estou certa de que não será agora, mas é preciso começar a mudar.

Por onde deveríamos começar?

Cada comunidade, em cada grupo, em cada país, precisa começar a partir de sua própria realidade. Eu convidaria as mulheres para que se reúnam, que estudem, por sua parte, e aos varões que reflitam por seu lado.

Que futuro espera pela Igreja, caso não rompa com o paradigma de varões com poder e mulheres servidoras?

Não sei falar do futuro, mas no presente o que ocorre é que muitas mulheres saem da Igreja. A Igreja já perdeu os operários, já perdeu o campesinato, e irá perder as mulheres que pensam. As mulheres que pensam e as líderes de movimentos populares. A Igreja católica já não lhes diz quase nada. No mundo indígena, esta maneira da Igreja com o feminismo comunitário, não lhes diz nada. Sim, algumas permanecerão, mas perderão muitas.

É enganoso conteúdo do vídeo sobre feminismo publicado pela Canção Nova

Em 21 de julho de 2020, a Canção Nova publicou em seu canal do Youtube, na série de formação intitulada “The Church”, um vídeo de três minutos, do apologeta católico brasileiro professor Felipe Aquino, intitulado “o que a igreja diz sobre o feminismo”.

Na abertura do vídeo, Felipe Aquino afirma:

O que nós entendemos hoje como feminismo? Pelo menos as mulheres que assumem esse título, fazem coisas realmente muito feias. A gente já viu ai na internet, na própria televisão. As vezes invade (sic) uma igreja porque são favoráveis ao aborto, são favoráveis a outras coisas, então picham as igrejas. Eu já vi até caso, por exemplo, vi na internet, feministas que entraram numa igreja, defecaram dentro da igreja, pra mostrar o seu protesto, a sua repulsa a igreja, aos valores da igreja. Ora, esse tipo de feminismo realmente não tem cabimento, não precisa ser católico, cristão pra rejeitar um feminismo desse, é questão até de educação […]”

O Coletivo Bereia verificou que os exemplos usados pelo professor no início do vídeo para caracterizar o feminismo, estão relacionados a matérias e informações imprecisas ou falsas, divulgadas pela internet, a respeito do movimento feminista pelo mundo, que tentam deslegitimar as pautas levantadas nessas manifestações.

Em março de 2020, Bereia checou matéria do Gospel Prime com o título “Feministas vandalizam templos católicos durante protestos: fábrica de estupradores”, sobre episódios ocorridos no Chile, e concluiu que o conteúdo era impreciso. Apesar de o texto conter alguns fatos, omitia informações históricas importantes para contextualizar o sentido dos protestos em curso naquele momento e a relação da Igreja com as pautas das mulheres e o movimento feminista.

O site Boatos.org checou, em 2018, duas fotos que circulavam na internet, nas quais apareciam mulheres defecando dentro de igrejas durante protesto, sendo associadas a manifestações feministas. De acordo com o site, a informação era falsa e as fotos eram de protestos distintos. Um aconteceu no ano de 2011 em Oslo, Noruega. A outra foto foi tirada na Argentina, em 2015, em frente à Catedral Metropolitana de Buenos Aires, durante um protesto organizado por militantes kirchneristas, do grupo La Cámpora. Nenhum dos atos ocorreram durante manifestações do movimento feminista ou foram encabeçados por feministas.

A luta feminista contra o feminicídio

No minuto um do vídeo, o professor aborda o tema do feminicídio e afirma que não é necessário ser feminista para lutar contra este crime e que a igreja quer valorizar a mulher.

É claro que, a mulher tem que ser valorizada, e a igreja quer valorizar a mulher. Essa questão do feminicídio, por exemplo, não precisa ter um movimento feminista pra ir contra um feminicídio. Bater numa mulher, machucar uma mulher, matar uma mulher, é tudo de negativo que existe. Além de ser uma covardia, porque a mulher é fisicamente mais fraca do que o homem, é uma maldade muito grande em todos os aspectos”.

No entanto, a história tem mostrado como as teologias patriarcais predominantes nas igrejas cristãs negam e inferiorizam o papel da mulher nos ambientes religiosos e na Bíblia. A cultura da dominação do feminino, difunde a ideia de que Deus determinou o papel das mulheres para a reprodução e o cuidado do lar, afastando-as dos espaços de poder e liderança. A teóloga feminista católica, Ivone Gebara, na sua obra “Mulheres, religião e poder: ensaios feministas”, mostra como o poder do catolicismo constrói narrativas misóginas que garantem a manutenção da hegemonia masculina. Além disso, ela destaca a importância da teologia feminista, para a construção de uma nova perspectiva que dá voz e lugar as mulheres. “O feminismo teológico tem uma grande importância na transformação das culturas, na medida em que desobriga as mulheres de obedecerem à ordem estabelecida de certas crenças religiosas patriarcais” (p. 12).

Nos ambientes religiosos, os discursos reproduzem a lógica da cultura de dominação masculina que circula na sociedade e repetem o estereótipo de fragilidade feminina que contribuem com a romantização da violência doméstica. Muitas mulheres, sobretudo, dentro do cristianismo, são desencorajadas a denunciar violências, e aconselhadas a manter relacionamentos abusivos em nome de Deus. De acordo com a pesquisa desenvolvida pela pesquisadora da religião Valéria Vilhena, 40% das mulheres vítimas de violência doméstica de seus companheiros se declaram evangélicas.

Em 17 de julho, a gravadora gospel MK lançou um videoclipe com a nova canção da pastora e cantora Cassiane, influente no meio pentecostal, intitulado “A Voz”. A partir do conteúdo da canção, que fala do poder de Deus na superação de dificuldades da vida, a narrativa do clip deliberadamente incentivava as mulheres vítimas de violência doméstica, a sofrerem caladas.

No vídeo, uma personagem era agredida constantemente pelo companheiro, mas não o denunciava. Ela decide ir embora de casa, deixando um bilhete dentro de uma Bíblia, em que dizia que o perdoava e que orava por ele. O agressor, após receber a Bíblia, se converte e tem final feliz com a mulher. Após grande repercussão e inúmeras críticas, a gravadora lançou uma segunda versão do clipe com trecho em que a mulher liga para o Disque 180 para denunciar o companheiro agressor, ele é preso, depois encontra a Bíblia em casa com o bilhete, se converte e tem o mesmo final feliz com a agredida. Ao final foi inserida a indicação para que sejam denunciadas situações de violência.

Em suas mídias sociais, a editora-geral do Coletivo Bereia, jornalista Magali Cunha, publicou dois vídeos fazendo considerações a respeito do clipe da cantora Cassiane. No primeiro vídeo, ela afirma que a igreja precisa ajudar essas mulheres a saírem da condição de silenciamento. Ao citar os dados da pesquisa de Valéria Vilhena, indica que “muitas dessas violências como aponta a pesquisa, são praticadas por homens evangélicos, muitos deles líderes de igrejas. O fato de estar numa igreja não significa que a violência acabou. O perdão não significa sustentar impunidade”.

A religião contribui, em diversos aspectos, com a reprodução de diversas formas de violência de gênero, quando orienta mulheres a serem submissas, obedientes, silenciadas, a partir de uma interpretação patriarcal dos textos sagrados. Além disso, a conduta machista e sexista que exclui as mulheres da liderança das igrejas, reforça essa estrutura. Na celebração da primeira missa do ano de 2020, na Basílica de São Pedro, o papa Francisco reconheceu que a violência de gênero é a “profanação de Deus”, destacando a importância do papel da mulher na vida religiosa. “As mulheres são fontes de vida, mas ainda assim são continuamente ofendidas, agredidas, violentadas, induzidas a se prostituir e a tirar a vida que carregam no ventre”. Francisco vem sofrendo uma série de críticas no interior da Igreja Católica e uma das causas são suas posições de relativa abertura às questões de gênero.

O feminismo, como movimento político-social histórico, apesar das variações de vertentes e de seus recortes, se manifesta na luta contra violência e opressão sexista, perpetuadas pelo machismo estrutural e pela lógica patriarcal. A história revela diversas conquistas através dos anos de luta e mobilização das mulheres, desde direitos trabalhistas, ao direito à participação cidadã com o voto e legislação referente ao seu lugar na família e na sociedade

Em relação à situação mais dramática no Brasil, a violência contra mulheres, pelo fato de serem mulheres, foi sancionada, em 7 de agosto 2006 a Lei nº 11.340 conhecida como Lei Maria da Penha, que pune e combate a violência doméstica e familiar contra a mulher. Após ser vítima de duas tentativas de feminicídio, e outras violências pelo marido, Maria da Penha, que carrega no corpo e na cadeira rodas as marcas das agressões sofridas, vivenciou anos de luta contra a impunidade e falta de instrumentações legais na justiça brasileira em casos de violência de gênero. Essa conquista é resultado da luta feminista pela garantia dos direitos humanos para as mulheres. Em 2002, houve a criação de um consórcio de ONG’s feministas a fim de elaborar uma lei que combatia a violência contra a mulher. A Lei do Feminicídio sancionada em 2015, que é um agravante do homicídio ocorrido contra uma mulher em decorrência de discriminação de gênero, também nasce da pressão dos coletivos e organizações feministas.

Com base nestes elementos, é enganoso afirmar que não é necessário ser feminista para lutar pela vida das mulheres, uma vez que, a história evidencia a importância da organização e mobilização das mulheres por meio de coletivos, instituições, produções e reflexões teóricas, para a conquista e garantia de direitos. Considera-se que sem o movimento feminista muitos dos direitos e das leis de proteção à dignidade das mulheres não teriam sido alcançados ou teriam sido retardados no tempo.

O Coletivo Bereia classifica o conteúdo do vídeo do professor Felipe Aquino, publicado pela Canção Nova, como enganoso. O vídeo apresenta informações falsas e distorcidas que circulam na internet, outras inseridas de forma descontextualizada e imprecisa, para desqualificar o movimento feminista, silenciando sobre sua importância na história e presença na teologia cristã. O vídeo do grupo Canção Nova pode ser caracterizado como opinião, no entanto, isto não fica claro para a audiência, uma vez que, sob o rótulo “formação”, o conteúdo desinformativo simula o oferecimento de informações.

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Referências de checagem

BBC Brasil, https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39210072

Boatos.org, https://www.boatos.org/politica/feministas-igreja-defecam-protesto.html

Canção Nova, https://formacao.cancaonova.com/series/the-church/o-que-igreja-diz-sobre-o-feminismo/

Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/e-imprecisa-materia-sobre-vandalismo-em-protestos-no-chile/

Feministas ressignificando o direito: desafios para aprovação da Lei Maria da Penha, Revista Direito e Práxis, https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2179-89662017000100616

Huffpost Brasil, https://www.huffpostbrasil.com/entry/papa-francisco-violencia-domestica_br_5e0cb154e4b0b2520d1c5160

Instituto Maria da Penha, https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html

Lei do Feminicídio, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm

Lei Maria da Penha, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm

Magali Cunha, Youtube, https://www.youtube.com/watch?v=8Voqe-XtA9g

Resultados da pesquisa: uma análise da violência doméstica entre mulheres evangélicas, http://www.fg2010.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1280156603_ARQUIVO_ValeriaCristinaVilhena.pdf

Veja, https://veja.abril.com.br/entretenimento/cantora-gospel-cassiane-altera-clipe-acusado-de-romantizar-a-violencia/