Balanço Janeiro 2024: políticos religiosos desinformam sobre situação econômica do Brasil

O levantamento do Bereia sobre destaques em desinformação disseminada no mês de janeiro de 2024, identificou o tema da economia e o protagonismo de políticos religiosos nestas publicações.

Alarde sobre alta no preço de alimentos

Em 15 de janeiro de 2024, o senador evangélico Magno Malta (PL-ES) publicou na plataforma X/Twitter, conteúdo com milhares de acessos e compartilhamentos, sobre o aumento dos alimentos no Brasil em que afirma haver uma exorbitante alta dos preços dos alimentos, atribuindo a suposta disparada ao atual governo.

Imagem: reprodução do X (antigo Twitter) 

Na postagem acima, o valor de compra de três produtos juntos, arroz, refrigerante e óleo de soja, de determinadas marcas, seria de R$ 80,00.  Seguindo as características de qualquer publicação identificada como desinformativa, a postagem de Magno Malta não tem dados fundamentais para comprovação do conteúdo, como a data de coleta dos preços, a procedência dos valores (o local de onde colheu a informação – estabelecimento, cidade) e o oferecimento de um parâmetro de comparação.

Bereia fez a busca dos dados ausentes e procedeu a um levantamento de preços dos produtos em outros dois estabelecimentos do ramo de alimentos, para obter parâmetros de comparação. Os preços totalizaram valores muito abaixo do divulgado na postagem do senador evangélico, conforme a tabela a seguir.

 ProdutoMarca/TipoQtdePreço
Magno Malta – X (15/Jan)Arroz – 1 kgCamil/Branco1Sem descrição
Coca Cola – 2 ltCola-Cola1Sem descrição
Oléo de cozinha – 1 ltLIZA/Soja1Sem descrição
Total (segundo Magno Malta)R$ 80,00
Pão de AçúcarArroz – 1 kgCamil/Branco1R$ 7,29
Coca Cola – 2 ltCola-Cola1R$ 10,99
Oléo de cozinha – 1 ltLIZA/Soja1R$ 6,89
Total (Pão de Açúcar – SEM DESCONTO – em 31 de janeiro de 2024)R$ 25,77
Rappi → ASSAÍ ATACADISTAArroz – 1 kgCamil/Branco1R$ 6,49
Coca Cola – 2 ltCola-Cola1R$ 9,95
Óleo de cozinha – 900 mlLIZA/Soja1R$ 5,85
Total (ASSAÍ – SEM DESCONTO – em 31 de janeiro de 2024)R$ 22,29

Tabela de preços levantados por Bereia – autoria própria

Este exercício também foi realizado por vários seguidores do perfil do senador, que publicaram diversos comentários, como os exemplificados a seguir:

Imagens: reprodução do X (antigo Twitter)

Magno Malta prosseguiu, em janeiro, com outras postagens de conteúdos relacionados à economia.

Imagem: reprodução do X (antigo Twitter)

O parlamentar, em 19 de Janeiro passado, também na plataforma X/Twitter,  publicou uma montagem de vídeo  que mostra, em primeiro plano, uma mulher, supostamente ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), festejando, de forma irônica,  preços associados aos produtos que aparecem em segundo plano. Os valores em destaque sugerem que o país estaria vivenciando um descontrole dos preços dos alimentos.

De forma similar à primeira postagem, destacada nesta matéria, o senador não informa a data, os valores de cada produto, ou qualquer informação sobre o local da coleta de preços. Tudo isto caracteriza a produção de conteúdo falso e enganoso.

O que dizem os dados da economia sobre preços dos alimentos

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação de preços de quem ganha entre um e cinco salários mínimos, publicado em dezembro de 2023 registrou uma queda de 2,48%, no acumulado até novembro de 2023, no chamado Grupo de Alimentação no Domicílio. Isto significa um recuo nos preços na lista de alimentos mais comuns nas mesas das famílias brasileiras. Esta baixa foi alcançada ainda que o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), que mede a variação de preços dos itens consumidos por quem ganha entre um e quarenta salários mínimos, tenha tido uma alta de 0,4% em dezembro de 2023. A figura abaixo, retirada do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirma estes dados.

Imagem: reprodução do site do IBGE

Estes dados demonstram que o senador Magno Malta mentiu em publicações que buscaram criticar políticas de preços e causar pânico em relação a falsa alta de custos gerais de alimentos.

Sobre as contas Contas Públicas em 2023

O radar do Bereia detectou outra publicação relacionada ao contexto da situação econômica do país, com suspeita de desinformação. O deputado estadual evangélico Ricardo Arruda (PL-PR) fez um alarde entre seguidores religiosos, ao publicar, em suas mídias sociais, em 30 de janeiro de 2024, um card com a seguinte legenda: “Brasil passa Argentina e vira o mais endividado da América Latina. Alguém surpreso?”.

Imagem: reprodução do Facebook

O veículo de extrema-direita Revista Oeste publicou matéria com o mesmo conteúdo, em 29 de janeiro de 2024, alegando que a informação foi divulgada pelo Instituto Millenium, sob a chamada: “O Brasil ultrapassou a Argentina e se tornou o país mais endividado da América Latina”. Bereia verificou o site do Instituto Millenium e não localizou este conteúdo.

Já o outro veículo da extrema-direita, Terra Brasil Notícias, publicou matéria com a chamada: “Vexame: Brasil passa Argentina e vira o mais endividado da América Latina”. A TV CNN Brasil repercutiu a informação de o Brasil ter fechado 2023 com o pior déficit da história:

Imagem: reprodução do Instagram

A Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD), uma associação suprapartidária sem fins lucrativos, que estuda e divulga o endividamento público e seus desdobramentos, criticou a divulgação destes conteúdos:


 “Vários veículos de comunicação noticiaram hoje, praticamente na mesma linha editorial, um suposto rombo de R$ 230 bilhões em 2023, relativo às contas do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social), dando a entender que a dívida pública estaria financiando as áreas sociais. Porém, o que vem ocorrendo nos últimos anos é o contrário: a dívida pública tem SUGADO os recursos das áreas sociais. Isso ocorre, pois a metodologia do “Superávit Primário” OMITE diversas receitas que o governo vem tendo todos os anos, como lucros do Banco Central, recebimentos de juros de dívidas de estados, dentre outras, que têm sido destinadas para o pagamento da chamada “dívida pública”. Ou seja, ao mesmo tempo em que é massificada a propaganda do suposto “rombo”, omite-se que recursos que poderiam financiar setores fundamentais vão para este sistema vampiresco. A ACD está elaborando artigo para mostrar esta situação em detalhes, em breve. Por outro lado, os próprios veículos de comunicação informam que a conta não inclui os custos com o pagamento dos juros da dívida pública, nunca auditada, o verdadeiro problema que o Brasil precisa enfrentar.”

Em entrevista a jornalistas sobre o tema, o ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que o déficit nas contas públicas em 2023 resultou do pagamento de precatórios atrasados, deixados pelo governo anterior. No ano passado, o resultado ficou negativo em R$ 230,54 bilhões, só perdendo para 2020, quando o déficit atingiu R$ 743,25 bilhões por causa da pandemia de covid-19. O déficit primário representa o resultado negativo das contas do governo sem os juros da dívida pública. Segundo Haddad:

“Esse resultado é expressão de uma decisão que o governo tomou de pagar o calote que foi dado, tanto em precatórios quanto nos governadores em relação ao ICMS sobre combustíveis. Desses R$ 230 bilhões, praticamente metade é pagamento de dívida do governo anterior, que poderia ser prorrogada para 2027 e que nós achamos que não era justo com quem quer que fosse o presidente na ocasião.”

Reportagem da Agência Brasil explica que a informação do Tesouro é a de que, sem os precatórios, o resultado negativo ficaria em R$ 23,8 bilhões. Este valor ficaria abaixo da estimativa das instituições financeiras. Segundo a pesquisa Prisma Fiscal, divulgada todos os meses pelo Ministério da Fazenda, os analistas de mercado esperavam resultado negativo de R$ 35,5 bilhões, sem considerar o pagamento de precatórios.

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Bereia classifica as publicações sobre economia, que circularam em ambientes digitais religiosos, verificadas nesta matéria como falsas.

Como registrado acima, as publicações do senador Magno Malta têm todas as características de conteúdo falso propagado nas mídias digitais, por não oferecerem dados que embasem a divulgação dos valores de preços indicados. É conteúdo inventado com a explícita intenção de divulgar críticas à situação econômica do país e forçar reação negativa ao atual governo.

Já a publicação do deputado estadual do Paraná reproduz conteúdo enganoso fartamente explorado em mídias alinhadas à extrema-direita para criticar o atual governo. O déficit nas contas públicas existe, de fato, porém é preciso contextualizar que ele tem origem em políticas implementadas nos governos anteriores ao atual.

Bereia tem repetido continuamente que é muito importante haver oposição a governos em uma democracia. Parlamentares da oposição devem criticar e cobrar ações, o que é parte de sua atuação. Porém isto deve ser feito de forma digna, com conteúdo correto, e não com o recurso a mentiras e falsidades como estratégia de convencimento de seguidores. 

Referências de checagem:

Auditoria Cidadã da Dívida/ACD. https://www.facebook.com/photo/?fbid=776566384496949&set=a.637030275117228. Acesso Fev 2024

CNN. https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/fmi-eleva-projecao-de-alta-do-pib-brasileiro-em-2024-a-17-e-cita-economia-resiliente/?. fbclid=IwAR1_uiIvGyosBGbj_og9bJPA8DA1QC77qzsT3RkXQoge8z8sMbxQfD8DwEQ#:~:text=Apesar%20disso%2C%20o%20Brasil%20deve,abaixo%20da%20sua%20estimativa%20anterior. Acesso Fev 2024

FMI. Atualização das Perspectivas Econômicas Mundiais. file:///C:/Users/Xenia/Desktop/FMI%20-%20Atualiza%C3%A7%C3%A3o%20das%20Perspectivas%20Econ%C3%B4micas%20Mundiais%202023.pdf.

Revista Oeste. https://revistaoeste.com/economia/brasil-passa-argentina-e-se-torna-o-pais-mais-endividado-da-america-latina/. Acesso Fev 2024

Terra Brasil Notícias. https://terrabrasilnoticias.com/2024/01/vexame-brasil-passa-argentina-e-vira-o-mais-endividado-da-america-latina/. Acesso Fev 2024

X.

https://twitter.com/MagnoMalta/status/1746952452727824651?t=Wfdv7Nw_EvM-lLChnRavYQ&s=19. Acesso Jan 2024

https://twitter.com/MagnoMalta/status/1748357394998907089?t=JbxB3YReeQuRA_1ts0jP0Q&s=19 Acesso Jan 2024

PÃO DE AÇÚCAR.

https://www.paodeacucar.com/produto/99080/arroz-agulhinha-tipo-1-camil-pacote-1kg Acesso Jan 2024

https://www.paodeacucar.com/produto/449568/refrigerante-coca-cola-original-garrafa-2l Acesso Jan 2024

https://www.paodeacucar.com/produto/131661/oleo-de-soja-liza-pet-900ml Acesso Jan 2024

RAPPI.

https://www.rappi.com.br/lojas/900612877-assaiatacadista-nc/mercearia/arroz Acesso Jan 2024

https://www.rappi.com.br/lojas/900612877-assaiatacadista-nc/bebidas Acesso Jan 2024

https://www.rappi.com.br/lojas/900612877-assaiatacadista-nc/mercearia/oleos-azeites-e-vinagres Acesso Jan 2024

IBGE. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/38884-ipca-chega-a-0-56-em-dezembro-e-fecha-o-ano-em-4-62 Acesso Fev 2024

TV CULTURA. https://www.youtube.com/watch?v=UyE2HzOS4Io Acesso Fev 2024

AGÊNCIA BRASIL. https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-01/haddad-deficit-resultou-de-quitacao-de-precatorios-do-governo-passado. Acesso Fev 2024

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Foto de capa: Joel Santana/Pixabay

Deputado federal cristão usa montagem de oito vídeos para desinformar sobre atual gestão do Poder Executivo

O deputado federal, identificado como cristão, Carlos Jordy (PL-RJ) compartilhou, em sua conta pessoal no X (antigo Twitter), no Instagram e no Telegram, um compilado de vídeos críticos ao atual governo federal. Ao todo, são oito recortes de vídeos de diferentes jornais brasileiros, que apresentam notícias sobre a atual gestão do Poder Executivo federal. Ao compartilhar o conteúdo, o parlamentar afirma que “até quem não votou em [Jair] Bolsonaro está com saudade dele”.

A publicação alcançou quase cem mil visualizações e obteve mais de dois mil compartilhamentos até o fechamento desta matéria. Bereia checou as afirmações de cada um dos vídeos expostos.

Imagem: reprodução X

Vídeo 1 – Rombo nas contas do governo

O primeiro corte de vídeo apresentado refere-se à notícia, veiculada pela CNN Brasil, de que o governo federal registrou déficit de R$ 45 bilhões nas contas públicas em junho, sendo o pior resultado desde 2021, quando o déficit foi de R$ 84 bilhões. A informação também foi divulgada pelo Ministério da Fazenda, por meio dos canais oficiais do governo. Trata-se de dado apresentado pelo relatório Resultado do Tesouro Nacional (RTN), publicado mensalmente.

A informação publicada pelo deputado Carlos Jordy omite esta explicação importante. O secretário do Tesouro Nacional Rogério Ceron destacou que os resultados do primeiro semestre de 2023 foram impactados por desonerações (redução do recolhimento de tributos) implementadas em 2022, durante o governo anterior, como estratégia de campanha pela reeleição. “Por mais que o Ministério da Fazenda tenha adotado medidas para recompor as receitas que foram desoneradas, é preciso respeitar ciclos de noventenas”, disse Ceron, em referência   ao que a Constituição Federal determina (art. 150, inciso III): que sejam cobrados novos impostos somente depois de decorridos 90 dias da publicação da lei que o instituiu ou aumentou.

O Tesouro Nacional informa que, pela ótica das receitas, houve impacto na arrecadação graças à concessão da Eletrobras, ao pagamento de dividendos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e à queda na arrecadação de receitas administradas. Pela ótica das despesas, os motivos principais seriam o pagamento de benefícios previdenciários e o aumento do valor executado com o programa Bolsa Família.

Imagem: reprodução Tesouro Nacional

Vídeo 2 – Bloqueio do Bolsa Família

O segundo trecho de vídeo que compõe a publicação feita pelo deputado Carlos Jordy diz respeito ao bloqueio temporário do acesso ao Bolsa Família para 1,2 milhão de beneficiários. A notícia foi veiculada pelo telejornal SBT Brasil, em abril deste ano, mas o trecho veiculado omite que o bloqueio temporário foi aplicado a pessoas que dizem morar sozinhas e que começaram a receber o benefício durante o período eleitoral de 2022.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome informou em março deste ano, os bloqueios destinavam-se a combater possíveis fraudes e inconsistências na composição familiar declarada ao Bolsa Família. A medida foi implementada na esteira da percepção, por parte do gabinete de transição do candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que houve abuso de poder econômico durante a gestão Bolsonaro.  

A ex-ministra do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome Tereza Campello, que integrou o grupo técnico da transição na área de desenvolvimento social e combate à fome, apontou que houve crescimento anormal na quantidade de beneficiários unipessoais. Segundo Campello, de janeiro de 2019 a outubro de 2022, houve aumento de 200% nos cadastros unipessoais, com picos concentrados de crescimento.

Vídeo 3 – Taxação de compras internacionais online

No terceiro trecho que compõe a postagem crítica do deputado cristão, a notícia, retirada do Jornal da Band, trata da taxação de compras internacionais feitas pela internet. O vídeo de Jordy omite informações que permitam entender o novo modelo de tributação, que isenta remessas de até US$ 50 entre pessoas físicas ou entre pessoas físicas e empresas que se cadastrarem na Receita Federal.

Um dos objetivos do novo modelo de tributação é mitigar a sonegação de impostos por parte de empresas que tentam burlar a taxação. Recentemente, o secretário especial da Receita Federal Robinson Barreirinhas disse que a Receita identificou um cidadão que já realizou mais de 16 milhões de envios para o Brasil.

Em evento na Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Barreirinhas chamou atenção para a necessidade de regulamentação das remessas internacionais. “A gente tem que trazer as empresas para a conformidade. A ilegalidade é tão grande que é preciso um procedimento para que isso seja regularizado”, afirmou.

Vídeo 4 – Alta do preço da gasolina

O quarto trecho veiculado na montagem de vídeos reproduz matéria do telejornal CNN 360º sobre o preço de combustíveis. A notícia dá conta de que o preço da gasolina atingiu o valor mais alto em um ano, após o preço médio do litro chegar a R$ 5,88.

O trecho omite a informação, apresentada logo em seguida no mesmo jornal CNN 360º, de que, em julho de 2022, o preço do litro do combustível estava em R$ 6,06, ou seja, valor ainda mais alto do que o preço alcançado em 2023.

Em 2023, o tema do preço dos combustíveis tem sido usado para desinformar, como demonstraram checagens do Bereia, da AFP Checamos e do Estadão Verifica. Nas checagens, assim como no trecho utilizado pelo deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), são feitas comparações entre os governos de Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Vídeo 5 – Redução do Fundo de Participação dos Municípios

Na sequência, o conteúdo compartilhado pelo deputado apresenta o trecho de uma reportagem veiculada pelo jornal televisivo piauiense Jornal de Picos, que cita um protesto de prefeituras da região Nordeste, devido à redução do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

A reportagem em questão foi veiculada em 30 de agosto e informou que cerca de 150 prefeitos da região de Picos (PI) paralisaram suas atividades e participaram do ato, na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi), contra a redução do FPM, que chegou a 50% em agosto. Em entrevista ao jornal, o presidente da Associação Piauiense de Municípios (APPI) e prefeito de Caridade (PI) Toninho de Caridade afirmou que 16 unidades federativas aderiram à paralisação.

O deputado federal Carlos Jordy reproduz o tema esteira de outras publicações. Como demonstra checagem do Projeto Comprova, a mobilização de prefeitos em defesa do Fundo de Participação dos Municípios tem sido alvo de desinformação nas redes digitais.


A Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgou, em seu portal oficial, que em relação à 2022, o repasse de agosto teve redução de quase 8%. O cálculo do valor do FPM é feito sobre a arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Em 13 de setembro, um substitutivo ao Projeto de Lei Complementar (PLP) 136/2023 incluiu texto que define um apoio financeiro para recomposição de quedas no FPM. O projeto ainda deve passar pelo Senado.

Vídeo 6 – Lula se torna o presidente que mais liberou emendas parlamentares em um mês

O sexto trecho na sequência de vídeos publicada por Jordy (PL-RJ) corresponde a chamada do programa Os Pingos nos Is, de 21 de agosto, do canal de notícias Jovem Pan News no YouTube, sobre o valor de emendas parlamentares liberadas em julho. O quadro noticia economia e política a partir da discussão e análise dos apresentadores.

De acordo com o noticiário, foram liberados quase R$ 12 bilhões aos estados e municípios no mês. A matéria omite informações como um levantamento do portal de notícias Metrópoles, que considerou o valor liberado pelo atual governo mês a mês até a data e apresentou as circunstâncias políticas no Congresso que possivelmente pautam as decisões de Lula da Silva. 

O texto pontua que, nos quatro primeiros meses, não houve liberação e classifica o governo lento quanto a isso. Destaca ainda que, apesar dos R$ 11,8 bilhões liberados em julho, o acumulado até aquele momento era ligeiramente menor que o valor liberado no mesmo período de 2022.

Jordy, ao utilizar vídeo da Jovem Pan, despreza o fato de que este é um notório veículo de propagação de desinformação. A emissora, que tem concessões públicas de rádio e de TV, enfrenta, uma ação civil pública, ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF), em razão de campanhas de desinformação. O MPF pede o cancelamento de outorgas de concessão e permissão para radiodifusão da empresa por entender que a Jovem Pan propaga “desinformação em larga escala” com “potencial de incitação à violência e à ruptura democrática”.

Vídeo 7 – Mais de 400 mil empresas fechadas no primeiro semestre de 2023

Com mais uma chamada de reportagem televisiva, o deputado federal compõe a montagem de vídeos publicados com a informação de que mais de 400 mil empresas foram fechadas de janeiro a junho deste ano. O vídeo correspondente é a reportagem do Jornal da Tarde de 4 de setembro, da TV Cultura. 

A notícia apresenta que o número exato de empresas fechadas no período foi de 427.935 empresas, de acordo com pesquisa da Contabilizei, baseada em dados da Receita Federal. O levantamento também aponta que, desde o quarto trimestre de 2021, o saldo entre abertura e fechamento de empresas é negativo, gerando um acumulado de 750 mil. Os números não incluem Microempreendedores Individuais (MEIs).

A montagem de Carlos Jordy omite que a reportagem traz ainda informações do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de que as micro e pequenas empresas criaram quase 710 mil vagas de trabalho, o equivalente a 70% das vagas com carteira assinada geradas no mesmo período e os valores são equivalentes aos primeiros semestres de 2021 e 2022. 

Segundo publicado pelo portal G1 no mesmo dia, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) contestou os valores apresentados pela Contabilizei e apontou saldo positivo de 212.654 empresas, desconsiderados os MEIs. A pasta se baseou em números do Mapa de Empresas, que considera dados de juntas comerciais e cartórios, além da Receita Federal.

Vídeo 8 – Poder 360

O oitavo e último vídeo da publicação de Jordy (PL-RJ) apresenta uma fala de Lula da Silva sobre o Desenrola, programa de renegociação de créditos inadimplidos criado pelo governo federal. O programa tem três etapas com atendimento a públicos diferentes, em que a terceira etapa, iniciada em setembro, atende pessoas endividadas no varejo em até R$ 5 mil. 

A esta última situação, em entrevista ao canal do portal Poder 360 no YouTube, Lula se refere ao “grosso” como uma injeção de valores importantes para o giro da economia. O trecho publicado pelo deputado atribui conotação distinta à fala do atual Presidente da República, ao insinuar que o atual mandatário estaria ironizando a situação da população enquanto alvo das políticas de seu governo.

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Após checagem das informações apresentadas na publicação feita pelo deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), Bereia considera o conteúdo como enganoso. A postagem oferece conteúdos de substância verdadeira, mas não contextualiza as informações apresentadas e ainda omite explicações fundamentais para compreensão dos fatos. Tal prática, frequentemente tem a intenção de levar o público a julgamentos errôneos sobre os diversos temas ali presentes e, neste caso, sobre a condução do atual governo federal como um todo.

Ademais, a inclusão de um trecho de fala do atual Presidente da República Lula da Silva de modo sensacionalista contribui para uma percepção equivocada das informações anteriormente apresentadas. A postagem representa desinformação e carece de substância e contextualização. Bereia incentiva que o público exerça sempre uma leitura crítica dos discursos presentes nas redes digitais que se apresentam de forma recortada, longe do todo em que foram apresentados, procurando informações de qualidade, completas e contextualizadas.

Referências da checagem:

YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=jCNSzhKin7w&ab_channel=CNNBrasil Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=F1Tse_nBgl4&ab_channel=SBTNews Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=R9LgDxWr1Wk&ab_channel=BandJornalismo Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=AyNwR6s_u40&ab_channel=CNNBrasilEconomia Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=4ATWYzz0FGk&t=417s&ab_channel=AVozTrabalhadora Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=Ty_a0gUzLi4&ab_channel=TVCidadeVerde Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=n_lQKXdF9LE&ab_channel=OsPingosnosIs Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=hBjk-XReQS8&ab_channel=JornalismoTVCultura Acesso em: 13 set 2023

https://www.youtube.com/watch?v=WW5m2ZLb8EQ&ab_channel=Poder360 Acesso em: 13 de set 2023

https://youtu.be/wfY6EU-bP5A?t=1780 Acesso em: 14 set 2023

Ministério da Fazenda https://www.gov.br/fazenda/pt-br/assuntos/noticias/2023/julho/governo-central-registra-deficit-primario-de-r-45-22-bilhoes-em-junho-de-2023#:~:text=O%20Governo%20Central%20%E2%80%94%20Tesouro%20Nacional,no%20acumulado%20do%20primeiro%20semestre Acesso em: 14 set 2023

https://static.poder360.com.br/2023/07/sumario_executivo_jun23-1.pdf Acesso em: 14 set 2023

https://static.poder360.com.br/2023/07/apresentacao_jun23-1.pdf Acesso em: 14 set 2023

Tesouro Nacional https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/estatisticas-fiscais-e-planejamento/resultado-do-tesouro-nacional-rtn Acesso em: 14 set 2023

IPEA https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/13858-ipea-estima-deficit-primario-de-r-45-3-bilhoes-nas-contas-do-governo-central-em-junho Acesso em: 14 set 2023

Poder360 https://www.poder360.com.br/economia/governo-tem-rombo-de-r-425-bilhoes-no-1o-semestre-de-2023/ Acesso em: 14 set 2023

https://www.poder360.com.br/economia/brasil-recebe-ate-1-mi-de-pacotes-por-dia-em-2023-diz-fisco/ Acesso em: 13 set 2023

Diário Oficial da União

https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-mf-n-612-de-29-de-junho-de-2023-493173583 Acesso em: 13 set 2023

https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-mf-n-612-de-29-de-junho-de-2023-493173583 Acesso em: 13 set 2023

G1

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/09/04/brasil-perdeu-mais-de-400-mil-empresas-no-primeiro-semestre-de-2023.ghtml?utm_source=thenewscc&utm_medium=email&utm_campaign=referral Acesso em: 13 set 2023

https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/04/28/bolsa-familia-governo-suspende-ate-junho-bloqueio-de-pagamentos-por-descumprimento-de-requisitos.ghtml Acesso em: 14 set 2023

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/08/01/compras-internacionais-de-us-50-como-ficam-os-precos.ghtml Acesso em: 14 set 2023

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/06/30/governo-taxara-compras-internacionais-de-ate-us-50-feitas-em-sites-de-empresas-que-nao-pagam-impostos.ghtml Acesso em: 14 set 2023

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/08/25/preco-medio-da-gasolina-sobe-a-r-588-nos-postos-e-atinge-maior-patamar-em-mais-de-um-ano-mostra-anp.ghtml Acesso em: 14 set 2023

Folha de São Paulo

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/04/governo-bloqueia-bolsa-familia-de-12-milhao-de-pessoas-que-moram-sozinhas-veja-o-que-fazer.shtml Acesso em: 13 set 2023

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/12/transicao-ve-abuso-de-poder-economico-no-auxilio-brasil-e-vai-representar-contra-bolsonaro.shtml Acesso em: 13 set 2023

Ministério do Desenvolvimento

https://www.gov.br/mds/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvimento-social/para-combater-fraudes-no-bolsa-familia-governo-federal-antecipa-bloqueios-de-cadastros-unipessoais-irregulares Acesso em: 13 set 2023

Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-06/compras-de-ate-us-50-pela-internet-ficam-livres-de-taxacao-federal Acesso em: 13 set 2023

https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2023-06/mpf-pede-cancelamento-das-frequencias-da-jovem-pan-por-desinformacao Acesso em: 19 set 2023

CNN Brasil

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/governo-volta-atras-e-estuda-imposto-federal-em-compras-internacionais-abaixo-de-us-50/ Acesso em: 14 set 2023

BBC

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AFP

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Estadão

https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/postagem-tira-de-contexto-preco-gasolina-governos-lula-e-bolsonaro/ Acesso em: 14 set 2023

Petrobras

https://petrobras.com.br/en/our-activities/precos-de-venda-de-combustiveis/ Acesso em: 14 set 2023

CNM

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https://www.cnm.org.br/comunicacao/noticias/camara-aprova-projeto-que-antecipa-compensacao-do-icms-e-recompoe-perdas-no-fpm Aceso em: 16 set 2023

Câmara dos Deputados

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2372071 Acesso em:16 set 2023

Metrópoles
https://www.metropoles.com/brasil/governo-lula-ja-liberou-r-206-bilhoes-em-emendas-parlamentares-neste-ano Acesso em: 16 set 2023

Gov.br
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https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/desenrola-brasil Acesso em: 16 set 2023

Supremo Tribunal Federal

https://constituicao.stf.jus.br/dispositivo/cf-88-parte-1-titulo-6-capitulo-1-secao-2-artigo-150 Acesso em: 19 set 2023

Comprova

https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/entenda-a-mobilizacao-dos-prefeitos-em-defesa-do-fundo-de-participacao-dos-municipios/ Acesso em: 19 set 2023

Ministério Público Federal

https://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/docs/acp-jovem-pan Acesso em: 19 set 2023

Foto de capa: Câmara dos Deputados

Senador da Bancada Evangélica distorce informações publicadas em veículos estrangeiros

O senador da Bancada Evangélica no Congresso Nacional Luis Carlos Heinze (PP-RS) voltou a apresentar dados controversos durante o segundo depoimento do ministro da saúde Marcelo Queiroga à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, na terça-feira (08/06). Desta vez, o senador falou a respeito de matérias publicadas em veículos estrangeiros sobre dados positivos da economia brasileira. “O (The) Wall Street Journal mostrou na semana que passou o crescimento do Brasil pós-pandemia, uma das melhores economias do mundo, pelo trabalho realizado pelo ministro, pelo presidente da República e seus ministros. Na semana passada, retrasada, a BBC de Londres também fez uma publicação sobre a redução da pobreza, trabalho também realizado pelo Governo Jair Bolsonaro. Então, vamos falar de coisas positivas!”, afirmou o senador que é suplente da CPI da Covid e assumiu a vaga de titular no lugar de Ciro Nogueira (PP-PI), que está em viagem aos EUA, nesta semana. 

A matéria do The Wall Street Journal

Na verdade, o jornal americano The Wall Street Journal não destaca o “Pós-pandemia”, em matéria publicada em 02 de junho de 2021, mas a recuperação econômica do país, mesmo com números tão expressivos de mortes e casos de covid-19. A matéria explica que o crescimento de 1,2% no primeiro semestre deste ano foi puxado por um crescimento dos preços de commodities (matérias primas uniformes comercializados no mercado global, por exemplo, soja). A reportagem ainda explica que enquanto o auxílio emergencial evitou perdas econômicas ainda mais severas diante da crise (o PIB caiu 4,1% em 2020), o nível da dívida pública (em 86,7% do PIB) é insustentável em um país em desenvolvimento e prejudica a velocidade de crescimento à frente.

Além disso, em entrevista para o podcast O Assunto, o economista Alexandre Schwartzman analisou que o governo conseguiu uma redução da dívida pública por conta de um crescimento da inflação. “Não é um processo sustentável. Queremos controlar a dívida para não ter inflação, não o contrário”, disse à jornalista Renata Lo Prete. A taxa de 0,83% em maio foi a maior para este mês em 25 anos. Apesar de reconhecer que o crescimento é positivo, ele ainda pondera que o emprego ainda não voltou. Esse é o cenário que mostra uma queda de renda e continuidade do desemprego mesmo com crescimento do PIB. 

Brasil cai em relatório de investimentos

Um relatório elaborado pela Austin Rating com 50 nações, classifica o Brasil em 19º lugar em ranking mundial de PIBs, ficando atrás dos vizinhos Colômbia (7º) e Chile (4º). O país perdeu sete posições em relação ao ranking do 4o trimestre de 2020, em que estava na 12a posição. De acordo com Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, pode-se considerar o crescimento de 1,2% um resultado positivo dentro das condições econômicas apresentadas: pandemia ainda em curso e ambiente fiscal ainda fragilizado. “Porém, considerando que a maior parte dos países que ficou na frente do Brasil no ranking são emergentes, então o resultado não foi tão bom assim, pois, esses países são nossos concorrentes na atração de investimentos que, em última instância, significa maior potencial de geração de emprego e renda”, explica o economista que considera a queda do Brasil em sete posições no ranking, de 12º lugar, no quarto trimestre de 2020, para 19º no primeiro trimestre de 2021, não ser preocupante, mas faz ressalvas. “O que preocupa é o baixo nível de investimentos na economia que, por sua vez, tem se transformado na perda dos fatores de produção nos últimos anos e, com isso, reduzido o PIB potencial do Brasil”. 

O senador também ressalta em sua fala, reportagem supostamente publicada no site da BBC de Londres sobre a diminuição da pobreza no Brasil, o que não confere. Em checagem publicada em nosso site, a partir da matéria do portal evangélico Pleno News, o Beréia constatou que se tratava de informação enganosa. A matéria não era da BBC de Londres e não tratava de dados referentes ao ano de 2020, mas sim dados compilados entre 2014 a 2019.

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Bereia classifica a fala do senador Luis Carlos Heinze como enganosa. Ainda que o crescimento de 1,2% do PIB no primeiro trimestre de 2021 seja verdadeiro, não se trata do cenário pós-pandemia. Além disso, o crescimento do PIB ainda não é acompanhado pelo crescimento da renda e do emprego. Na verdade, a dívida pública alta e o crescimento da inflação são pontos de atenção para a economia brasileira. Quanto à matéria da BBC, os dados diziam respeito ao período pré-pandemia.

A prática recorrente de desinformação do senador Heinze na CPI da Covid, em parceria com o senador Marcos Rogério (DEM-RO), já foi abordada em matéria do Bereia.

Referências

BBC Brasil (Youtube), https://youtu.be/JKIx9AMwRU8?t=17462. Acesso em 9 de junho de 2021.

The Wall Street Journal, https://www.wsj.com/articles/brazils-economy-bounces-back-to-pre-pandemic-levels-while-covid-19-still-rages-11622587028?page=1. Acesso em 10 de junho de 2021.

Infomoney, https://www.infomoney.com.br/mercados/ate-onde-vai-o-boom-das-commodities-que-tem-sustentado-a-bolsa-veja-expectativas-e-acoes-que-surfam-na-onda/. Acesso em 10 de junho de 2021.

G1, https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2021/06/10/o-assunto-470-o-governo-como-socio-da-inflacao.ghtml. Acesso em 10 de junho de 2021.

G1, https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/06/09/ipca-inflacao-acelera-em-maio-e-chega-a-083percent.ghtml. Acesso em 10 de junho de 2021.

UOL, https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/06/10/na-contramao-do-pib-renda-do-brasileiro-cai-10-com-inflacao-em-alta-e-desemprego.htm. Acesso em 10 de junho de 2021.

Austin Ratings, https://drive.google.com/file/d/1isYHZDTr2RP-6X2Iyv2GsvsC5NzLMjJb/view?usp=sharing. Acesso em 10 de junho de 2021.

Alex Agostini, https://drive.google.com/file/d/1N2tcdc5pByhj7jicG42yN1aLtfEly8-6/view?usp=sharing. Acesso em 10 de junho de 2021.

Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/pleno-news-desinforma-sobre-pobreza-no-brasil/. Acesso em 10 de junho de 2021.Coletivo Bereia, https://coletivobereia.com.br/senadores-evangelicos-abusam-das-fake-news-na-cpi-e-sao-confrontados-por-senadora-evangelica/. Acesso 11 de junho de 2021.

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Foto de capa: Jefferson Rudy/Agência Senado

Bolsonaro repete mentiras em pronunciamento com tom religioso

No dia que o Brasil atingiu um novo recorde de mortes diárias pela covid-19, com 3.158 óbitos, o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em cadeia nacional a respeito da pandemia no país. Apesar de mudar o discurso em relação às declarações anteriores e passar a defender a vacinação, o chefe do executivo fez declarações imprecisas, enganosas e também falsas em suas declarações.

Mentiras sobre as ações do Governo Federal contra a covid-19

Após reconhecer que o país sofre com a circulação de uma nova variante do coronavírus, o Presidente Jair Bolsonaro afirmou o seguinte: “Desde o começo, eu disse que tínhamos dois grandes desafios: o vírus e o desemprego. E, em nenhum momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome.”

Apesar de ter afirmado que o Brasil tinha que combater o vírus e o desemprego, o Governo Federal deixou, desde o início da pandemia, de tomar medidas para conter a propagação da doença no país. Em primeiro lugar, o Presidente, diversas vezes, minimizou a gravidade da doença. Em março de 2020, ele chegou a dizer que, devido a seu histórico de atleta, não teria nada além de uma “gripezinha”. Já no começo de março de 2021, com mais de 260 mil mortos no país, Bolsonaro criticou as políticas de distanciamento social e questionou: “Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando?” Temos que enfrentar os problemas”.

Outra reclamação de Bolsonaro era de que o Supremo Tribunal Federal (STF) o teria deixado de “mãos atadas” para agir contra a pandemia. Bereia já verificou como falsa essa afirmação, que já foi desmentida também pelo STF. Além disso, o auxílio emergencial adotado em 2020 foi aprovado depois de pressões  no Congresso que levou o Governo Federal a determinar o valor de R$ 600. Inicialmente, a equipe econômica pretendia distribuir um valor menor, de R$ 200.

Presidente engana a respeito do ritmo de vacinação no país

Em seguida, o Presidente afirmou que o Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo e completou: “Temos mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados da Federação, graças às ações que tomamos logo no início da pandemia.” Mencionar que o Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo sem ponderar este dado com a proporção da população vacinada é uma forma enganosa de transmitir a informação. O site Our World in Data informa que o Brasil chegou ao quinto lugar absoluto, mas ocupa a 71ª posição de vacinação proporcional à população (6,64%), em 22 de março. O melhor exemplo de vacinação na America Latina até agora é do Chile

Bolsonaro também é impreciso ao falar do número de vacinados e doses distribuídas para os estados. De acordo com o próprio Ministério da Saúde, já foram distribuídas 29,9 milhões de doses da vacina contra a covid-19 e o número de pessoas imunizadas com a primeira dose chegam a 11,7 milhões, além de 3,6 milhões já receberam a segunda dose até 22 de março.

Verdades e omissões sobre a aquisição das vacinas

Em seguida, o presidente elencou os investimentos de seu governo para aquisição das vacinas: “Em julho de 2020, assinamos um acordo com a Universidade Oxford para a produção, na Fiocruz, de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca e liberamos, em agosto, 1 bilhão e 900 milhões de reais. Em setembro de 2020, assinamos outro acordo com o consórcio Covax Facility para a produção de 42 milhões de doses. O primeiro lote chegou no domingo passado e já foi distribuído para os estados. Em dezembro, liberamos mais 20 bilhões de reais, o que possibilitou a aquisição da CoronaVac, através do acordo com o Instituto Butantan. Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa. E assim foi feito.”

É verdadeiro que o Governo Federal assinou termos para produção de doses da vacina AstraZeneca/Oxford em julho de 2020. Também é verdade que em agosto o Governo editou Medida Provisória para liberação de R$ 1,9 bi a respeito da vacina. Em dezembro essa MP foi aprovada e virou lei. 

Quanto ao Covax Facility, é correto que o Governo Federal assinou acordo em setembro para ingresso no consórcio. O que o Presidente omitiu no seu discurso é que o Governo optou por adquirir vacinas para 10% da população em vez de 20%, o que corresponderia a 84 milhões de doses. Conforme o pronunciamento de Bolsonaro, o primeiro lote vindo do consórcio chegou ao Brasil no domingo  21 de março. 

A respeito da compra da CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan), a liberação de R$ 20 bilhões de fato veio em 17 dezembro de 2020. No entanto, a declaração a respeito da aprovação da Anvisa é falsa porque desconsidera a campanha contra a CoronaVac promovida pelo próprio Presidente.

Em 21 de outubro, em entrevista à Rádio Jovem Pan, no programa Os Pingos nos Is, Jair Bolsonaro negou que compraria o imunizante após pergunta do jornalista sobre o que seria feito caso a vacina fosse aprovada pela Anvisa. “A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população”, afirmou o Presidente.

O discurso mudou depois do Governador de São Paulo João Dória (PSDB) anunciar, em 7 de dezembro, que começaria a vacinação em 25 de janeiro de 2021. Em 13 de janeiro, o Presidente ironizou a eficácia do imunizante mas afirmou que compraria a CoronaVac. Dois dias depois, o Governo Federal solicitou as seis milhões de doses do imunizante. Porém, logo após a aprovação emergencial pela Anvisa, a vacinação começou em São Paulo

Por fim, ao afirmar que pediu antecipação das doses da vacina fabricada pela Pfizer, o Presidente também omitiu a recusa do Governo às propostas anteriores da farmacêutica feitas em setembro de 2020. Assim como no caso da CoronaVac, foram três recusas. Em uma das ofertas da Pfizer três milhões de doses poderiam ter sido entregues até fevereiro de 2021. O Governo Federal chegou a justificar a recusa pela “frustração” que um acordo causaria aos brasileiros. Em fevereiro de 2021, o imunizante teve aprovação definitiva pela Anvisa.

Exageros sobre cronograma de vacinação

Ao final do discurso, Bolsonaro afirmou: “Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas. Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal.”

Além da necessária aprovação pela Anvisa sem a qual os imunizantes não são aplicados, o cronograma de entregas de doses tem sido constantemente redimensionado. O Ministério da Saúde confirma que garantiu 562 milhões de imunizantes para 2021. No entanto, no último dia 23 de março a previsão de vacinas entregues em abril caiu de 57,1 milhões para 47,3 milhões. A pasta justifica que as mudanças são feitas de acordo com a produção dos fabricantes.

Declaração de solidariedade às famílias enlutadas

Alterando a postura zombeteira com a doença, com pessoas doentes e com mortos, o pronunciamento de Bolsonaro teve manifestação de condolências àqueles que perderam familiares por conta da pandemia. Logo no início, reconheceu que a nova variante da covid-19 tem tirado a vida de muitos brasileiros. Na parte do final do discurso, o Presidente afirmou em tom religioso: “Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em suas famílias. Que Deus conforte seus corações!”

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Bereia conclui que o discurso do Presidente Jair Bolsonaro no dia 23 de março foi enganoso. Ele enganou sobre dados referentes à vacinação e omitiu pontos importantes do processo de compra de vacina a fim de transmitir a mensagem de que a situação brasileira quanto às vacinas é melhor do que de fato está. Por fim, ele mente quanto à sua postura na condução da pandemia e exagera a respeito do cronograma de vacinação, que tem sofrido reduções.

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Foto de Capa: Youtube/Reprodução

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Referências

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Governo do Estado de São Paulo, https://www.saopaulo.sp.gov.br/noticias-coronavirus/governo-de-sp-inicia-vacinacao-contra-coronavirus-em-25-de-janeiro/#:~:text=A%20campanha%20vai%20come%C3%A7ar%20no,Instituto%20Butantan%20para%20outros%20estados. Acesso em: 24 de março de 2021.

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CNN Brasil, https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/23/ministerio-da-saude-preve-10-milhoes-de-doses-de-vacinas-a-menos-em-abril. Acesso em: 24 de março de 2021.

Pastor e deputado Marco Feliciano desinforma ao falar de inflação

Na última terça-feira (08), o pastor e deputado federal por São Paulo, Marco Feliciano (Podemos), publicou um tuíte a respeito da relação do auxílio emergencial concedido pelo governo federal no período da pandemia de covid-19 com a inflação. Em seu tweet, afirma que “na pandemia, inflação alta é bom, pois significa que a economia não parou”. A declaração, no entanto, é uma afirmação falsa.

Inflação alta na pandemia é bom” – FALSO

A inflação é o processo de encarecimento de produtos, do custo de vida, que pode acontecer por diversos motivos. A economia se dedica a estudar esse fenômeno, propondo diferentes explicações para ele. Duas vertentes da economia apontavam o que o deputado diz: que o aumento da produção levaria a um aumento do preço dos produtos. Essas eram a teoria convencional e teoria estruturalista da economia.

O ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), doutor na área pela Universidade de São Paulo (USP), Luiz Carlos Bresser-Pereira, estuda sobre inflação desde 1980, sendo um dos criadores do conceito de “inflação inercial”. Segundo ele, a noção de uma inflação associada a crescimento econômico é ultrapassada e limitada.

Em um de seus artigos, Bresser-Pereira refere-se ao professor e pesquisador Ignácio Rangel que afirmava que as empresas, “diante das crises ou ameaças de crise, procuravam proteger sua taxa de lucro através do aumento administrado dos preços. Em consequência, a inflação se acelerava na recessão para acomodar as demandas dos agentes econômicos, que viam seus lucros diminuírem”

O movimento de alta da inflação pode ser observado como consequência do aumento do valor do dólar. Atualmente, por exemplo, com o dólar comercial a 5,04 reais, torna-se mais atrativo para produtores de alimentos exportar sua produção e receber na moeda estrangeira. A escassez de produtos para compra no Brasil, é causada justamente por este desvio dos produtores para o exterior e leva a um aumento dos preços nas prateleiras nacionais. Portanto, inflação alta não é bom em qualquer circunstância na vida de um país.

Graças ao auxílio emergencial a economia arrancou” – FALSO

Dados: IBGE – gráfico: Bereia

A informação é de difícil análise, pois o ano de 2020 não acabou e ainda não foi possível medir todos os impactos da inserção do Auxílio Emergencial na economia. Sabe-se que o auxílio foi responsável pela inserção de R$ 213,06 bi na economia, ao gerar receita para mais de 60 milhões de brasileiros. No entanto os dados do IBGE sobre a variação do Produto Interno Bruto (PIB) indicam que o movimento não foi suficiente para evitar que o país passasse para o vermelho no saldo total. A queda no PIB até o balanço do terceiro trimestre de 2020 foi de -3,4%.

A economia do Brasil vinha em quadro de recessão desde 2019, que foi agravado pela pandemia da covid-19.

[O Auxílio Emergencial] foi o maior programa de assistência social da história” – ENGANOSO

O auxílio emergencial foi o programa de assistência social que atendeu um maior número de brasileiros em menor tempo – foram 60 milhões de brasileiros atendidos com mensalidades no valor de 600 reais, somando R$ 213,06 bi até agosto deste ano. No entanto, em quantidades absolutas, o programa ainda é inferior ao Bolsa Família, programa mais abrangente que trabalha com o conceito de distribuição de renda e superação da pobreza. O Bolsa Família injeta, R$ 29,5 bi por ano na economia desde 2004, chegando a um total de R$ 472 bi até o fim deste ano – sem considerar a inflação.

A afirmação também desconsidera o contexto global: países como Argentina, Espanha, Alemanha, França, Japão e Estados Unidos ofereceram auxílios emergenciais e ajuda à empresas que ultrapassam os valores do governo brasileiro em duração e quantia por família.

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O Coletivo Bereia conclui que o tuíte do deputado Marco Feliciano é falso e enganoso. O conteúdo tem uma visão econômica sobre inflação já desmentida pela pesquisa em economia no Brasil e no mundo, e não encontra respaldo. O auxílio oferecido pelo governo brasileiro, durante o período da pandemia de covid-19, não foi suficiente para evitar uma recessão até o presente momento, nem tampouco figura entre os maiores programas de assistência social da história – seja da história mundial ou brasileira.

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Referências

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A descoberta da inflação inercial. In: Revista Economia contemporânea, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 167-192, jan./abr. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rec/v14n1/a08v14n1.pdf. Acesso em 10/12/2020

G1, https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/05/19/veja-medidas-economicas-adotadas-pelos-paises-para-socorrer-populacao-e-empresas.ghtml, acesso em 10/12/2020

Senado, https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/09/25/pandemia-ja-causou-despesas-de-r-411-bilhoes-para-o-governo, acesso em 10/12/2020

Yahoo Finanças, https://br.financas.yahoo.com/noticias/bolsa-familia-gastos-governo-070036578.html, acesso em 10/12/2020

Deputada católica Bia Kicis continua a publicar desinformação sobre covid-19

No dia 16 de agosto, a deputada federal católica Bia Kicis (PSL/DF) divulgou em sua página no Twitter uma postagem contendo relato do político evangélico Syllas Valadão (PSL/MG). Acompanhando a publicação em que Syllas Valadão descreve o falecimento de uma tia, de 84 anos, diagnosticada com Covid-19, apesar da causa da morte supostamente ter sido problemas pulmonares, a legenda do post de Bia Kicis salientou: “Esse tipo de relato preocupa. Conheço o Syllas Valadão, é uma pessoa real que conta a história da morte de sua tia de 84 anos, e as razões pelas quais muitas famílias acabam sendo induzidas a aceitarem um atestado de óbito de covid mesmo quando não corresponde de à realidade”.

Até a data de apuração da presente matéria, o tuíte contabilizava 93 comentários, 671 retuítes e 1.900 curtidas. De acordo com o relato compartilhado pela deputada federal, as prefeituras arcariam com o gasto de sepultamentos em casos de morte pela Covid-19, o que geraria interesse econômico das famílias das vítimas para constatação da doença em atestado de óbito.

Desde a instauração da pandemia no país, foram refutadas, por meio de agências de checagens, as alegações de que os estados e municípios recebem dinheiro do governo federal a cada notificação de morte por Covid-19. Nas mídias digitais, circularam desinformações segundo as quais os governadores estariam então superestimando o número de óbitos. À agência Aos Fatos, o Ministério da Saúde informou que não faz qualquer repasse em função do volume de mortes pelo novo coronavírus. Os recursos da União para estados e municípios são divididos com base em critérios como o tamanho da população e a complexidade do serviço prestado.

Ainda segundo o suposto relato de Syllas Valadão, postado por Bia Kicis, isso teria se tornado uma prática nos hospitais, e os próprios médicos se ofereceriam para colocar o Covid-19 como a causa da morte para que as famílias economizassem com o sepultamento.

O relato colocou em xeque os números evidenciados pela doença. “Então, não tivemos 100 mil mortes por covid no Brasil. Nem a metade disso. Tivemos sim, milhares de pessoas que economizaram no sepultamento. É o velho jeitinho brasileiro. O pobre ganha, o hospital ganha, a funerária ganha. É o cenário perfeito para formar uma quadrilha”, finaliza o depoimento.

Na mesma data, em seu perfil no Facebook, Syllas Valadão chegou a postar a arte contendo o relato, produzida por Bia Kicis.

Entenda a polêmica que envolve Bia Kicis e a disseminação de fake news

Em 22 de julho, Bia Kicis foi retirada da vice-liderança do governo na Câmara dos Deputados pelo presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU). De acordo com matéria publicada pelo jornal “O Tempo”, a decisão do presidente Jair Bolsonaro se deu após Kicis e outros seis deputados votarem contra a PEC que tornou o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) permanente. Foram 499 a favor. Sobre a polêmica acerca do voto, a parlamentar afirmou à jornalista Natuza Nery, do canal GloboNews, que agiu conforme sua consciência.

“Eu votei de acordo com a minha consciência. Aliás, eu segui o exemplo do presidente Jair Bolsonaro que, quando foi parlamentar, só votou de acordo com a confiança dele. Para mim, ele é um modelo e continua sendo um modelo”.

Bia Kicis integra a ala bolsonarista mais próxima do Planalto. Com frequência, defende as pautas do governo e manifesta apoio ao presidente, seja em atos públicos, seja nas redes sociais digitais.

Ela faz parte do grupo de parlamentares incluídos no inquérito que apura a organização e financiamento de atos antidemocráticos, que está no Supremo Tribunal Federal (STF). Houve, até mesmo, quebra de sigilo bancário dela e de outros nove deputados. Bia Kicis também é alvo no inquérito das fake news, que investiga ataques contra ministros do Supremo, bem como informações falsas a respeito dos magistrados.

De acordo com o levantamento do Radar Aos Fatos – um monitor de desinformação em tempo real –, Bia Kicis é a terceira congressista que mais disseminou notícias falsas sobre o novo coronavírus, atrás apenas dos deputados Osmar Terra (MDB-RS) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A análise considerou os 1.500 tuítes sobre o assunto com mais interações (retuítes e curtidas) publicados por membros da Câmara dos Deputados e do Senado (incluindo suplentes e licenciados) entre 20 de fevereiro e 8 de abril. No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período.

Fonte: Aos Fatos

Em março, ela relatou em suas redes sociais digitais sobre um porteiro que morreu em um acidente, mas em seu atestado de óbito a causa da morte tinha sido atribuída à Covid-19. A notícia, que circulou em redes sociais digitais e em grupos de WhatsApp, junto com o suposto atestado de óbito, foi considerada como parcialmente verdadeira. Uma versão anterior desse texto informava incorretamente que ela era falsa: de fato, ele não morreu em decorrência do novo coronavírus, mas sua morte não se deu por causa de um acidente com um pneu. Segundo apontado por matéria do UOL, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco esclareceu que a certidão de óbito do paciente foi preenchida com erro.

Em 4 de abril, a deputada federal publicou um banner afirmando que a Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de medicamentos nos Estados Unidos, liberou a hidroxicloroquina para ser usada em pacientes com coronavírus, chamado na peça de divulgação de “vírus chinês”.

Na ocasião, a Agência Lupa realizou a checagem e mostrou que o órgão aprovou apenas o uso emergencial de alguns produtos com sulfato de hidroxicloroquina e fosfato de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. A agência categorizou a postagem como falsa, uma vez que o FDA não havia emitido parecer final sobre o assunto: a autorização seria temporária e para situações específicas.

Fumo, obesidade e Covid-19

Segundo a explicação do Instituto Nacional de Câncer (Inca):

“O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Os fumantes são acometidos com maior frequência por infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. Além disso, o consumo do tabaco é a principal causa de câncer de pulmão e importante fator de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), entre outras doenças. Pelo exposto, podemos dizer que o tabagismo é fator de risco para a Covid-19. Devido a um possível comprometimento da capacidade pulmonar, o fumante possui mais chances de desenvolver sintomas graves da doença”.

Em seu Programa Nacional de Controle do Tabagismo, o Inca, em texto informativo atualizado no dia 26 de agosto de 2020, explica também:

“Os riscos do tabagismo também estão relacionados ao contágio, pois o ato de fumar proporciona constante contato dos dedos (e possivelmente de cigarros contaminados) com os lábios, aumentando a possibilidade da transmissão do vírus para a boca. O uso de produtos que envolvem compartilhamento de bocais para inalar a fumaça — como narguilé (cachimbo d´água) e dispositivos eletrônicos para fumar (cigarros eletrônicos e cigarros de tabaco aquecido) — pode facilitar a transmissão do coronavírus. Há ainda o tabagismo passivo (não fumantes que convivem com fumantes na mesma casa ou em outros ambientes), que aumenta o risco de infecções respiratórias agudas. Por esses motivos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o INCA e diversos órgãos da saúde, encorajam as pessoas a pararem de fumar para minimizar os riscos associados à pandemia de Covid-19, tanto para os fumantes quanto para as pessoas expostas ao fumo passivo”.

Além disso, pesquisadores franceses do Instituto Lille Pasteur examinaram 124 pessoas internadas em virtude do Sars-Cov-2 de 27 de fevereiro a 5 de abril de 2020.

“Os resultados mostraram que 47,6% eram obesas (ou seja, apresentavam índice de massa corporal, o IMC, maior que 30) e 28,2% tinham obesidade grave (IMC maior que 35). Os cientistas notaram ainda que 85 pacientes (68,6% do total) utilizaram ventilação mecânica, e a proporção foi maior entre os obesos graves (85,7%)”.

De olho nos dados, eles concluíram que a seriedade da infecção aumenta à medida que o IMC cresce. No entanto, os cientistas não se debruçaram sobre os motivos por trás dessa relação. Mas pesquisadores da Universidade de Nova York avançaram nessa questão e relataram que os casos mais graves eram aqueles com maior número de marcadores inflamatórios no corpo. Identificaram também que as lesões provocadas por essa inflamação exacerbada levaram à formação de coágulos, culminando em quadros de trombose e embolia pulmonar. Segundo o trabalho, a doença crônica com a associação mais forte a essa cascata de eventos é a obesidade.

Em entrevista ao Bereia, a médica Dolores Souza, do Rio de Janeiro, declarou que a idade avançada, o tabagismo e a obesidade podem prejudicar a saúde do ser humano, levando a maior predisposição a doenças que podem levar à morte, incluindo Covid-19.

Sendo assim, apesar de não ser possível afirmar que essa doença tenha sido a causa do óbito da tia de Syllas Valadão, a presença dessas comorbidades não exclui a possibilidade de Covid-19 como causa de óbito; mais ainda, elas aumentam o risco de mortalidade pelo coronavírus, uma vez que a infecção ocorre em um organismo com imunidade baixa.

Prefeituras e sepultamentos

Bereia não encontrou nenhuma informação a respeito de prefeituras arcarem com os custos de sepultamento de vítimas da Covid-19. O que existe é uma flexibilização para o registro do atestado de óbito. No município do Rio de Janeiro , por exemplo, o registro do atestado de óbito em cartório não precisa ser feito no mesmo dia do sepultamento Segundo matéria da Isto É, “A medida consta na resolução publicada no dia 27 de abril de 2020 pela Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação e é válida apenas durante o período da pandemia da Covid-19. O objetivo é dar mais agilidade ao serviço de enterro ou cremação”.

Syllas Valadão e fake news

Em 2018, Syllas Valadão, mineiro, primo do fundador da Igreja Batista da Lagoinha, concorreu ao cargo de deputado federal (PSL) por Minas Gerais, recebendo mais de três mil votos, mas não foi eleito. Em 2012 e em 2016, ele disputou uma vaga de vereador, pelo DEM, e recebeu 193 e 154 votos, respectivamente.

Fundador do Instituto Patriotas Direita Nacional, afirma em seu site que foi o primeiro a realizar uma palestra contra a ideologia de gênero no Brasil.

No dia 18 de julho de 2020, Valadão compartilhou uma notícia falsa no Facebook, afirmando que a vacina contra a Covid-19 era armadilha para a população.

Não foi a primeira notícia falsa que Syllas Valadão compartilhou em seu Facebook. No dia 27 de junho, também foi encontrada situação semelhante em uma de suas publicações:

O mesmo ocorreu no dia 13 de junho de 2020 com outra postagem:

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Diante do que foi apresentado, Bereia conclui que a postagem da deputada Bia Kicis, com o relato de Syllas Valadão, é enganosa, por indicar que uma pessoa idosa, tabagista e obesa não possa morrer por Covid-19. Outro engano identificado é o de afirmar que prefeituras estariam custeando os sepultamentos de vítimas do novo coronavírus. Assim, tanto Syllas Valadão quanto a deputada Bia Kicis apresentam informações para confundir o público.

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Foto de capa: Câmara dos Deputados/Reprodução

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Referências de checagem

Twitter de Bia Kicis. https://twitter.com/Biakicis/status/1295130687767486467/photo/1. Acesso em: 02 set 2020

Aos fatos. https://www.aosfatos.org/noticias/e-falso-que-estados-recebem-verba-federal-cada-obito-registrado-por-covid-19/. Acesso em: 24 ago 2020.

Cotado para Saúde, Osmar Terra é o congressista que mais publicou desinformação sobre Covid-19 no Twitter. https://www.aosfatos.org/noticias/cotado-para-saude-osmar-terra-e-congressista-que-mais-difundiu-desinformacao-sobre-coronavirus-no-twitter/ Acesso em: 2 set 2020

O Tempo, https://www.otempo.com.br/politica/afastada-da-vice-lideranca-por-bolsonaro-bia-kicis-diz-que-seguiu-consciencia-1.2363226 Acesso em: 24 ago 2020.

Agência Lupa,https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/04/13/verificamos-fda-liberou-hidroxicloroquina-todos-pacientes-covid-19/ Acesso em: 24 ago 2020.

UOL,https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/29/deputada-do-psl-divulga-fake-news-do-borracheiro-sobre-coronavirus.htm Acesso em: 24 ago 2020.

INCA (Instituto Nacional do Câncer),https://www.inca.gov.br/perguntas-frequentes/quem-fuma-faz-parte-do-grupo-de-risco-para-o-coronavirus-covid-19 Acesso em: 27 ago 2020.

INCA (Instituto Nacional do Câncer),https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo/tabagismo-e-coronavirus Acesso em: 27 ago 2020.

Veja Saúde, https://saude.abril.com.br/medicina/obesidade-fator-de-risco-covid-19-coronavirus/ Acesso em: 27 ago 2020.

IstoÉ Dinheiro, https://www.istoedinheiro.com.br/prefeitura-do-rio-de-janeiro-flexibiliza-registro-do-atestado-de-obito/ Acesso em: 27 ago 2020.

Biografia resumida de Syllas Valadão, http://syllasvaladao.com.br/biografia/ Acesso em: 25 ago 2020.

Facebook de Syllas Valadão, https://www.facebook.com/syllasvaladaoBH/posts/3054331494614507 Acesso em: 25 ago 2020.

Facebook de Syllas Valadão, https://www.facebook.com/syllasvaladaoBH/posts/2996020377112286 Acesso em: 25 ago 2020.

Facebook de Syllas Valadão, https://www.facebook.com/syllasvaladaoBH/posts/2958235044224153 Acesso em: 25 ago 2020.

Sobre Economia e Saúde: pelo fim da dicotomia, em tempos de pandemia

Há muito se tem discutido e exposto a falsa dicotomia entre salvar nossa economia ou cuidar da saúde. Embora, por si só, já seja estranho que se coloque em risco a vida das pessoas para poder “salvar a economia”, aqui há um erro grande. Se proposital, não há como saber. Porém, se sim, estamos lidando com líderes que traem conceitos, traem projetos e traem a própria inteligência e consciência, em nome de escondidas e “tenebrosas transações”. No caso de não ser proposital, estamos diante da ignorância. E quando a ignorância governa, quem sofre é o povo. Ou seja, nas duas opções, estamos em perigo.

Economia, em sentido estrito, significa “a arte de gerir um lar” (oikos = casa; nomos = lei, normas). Na gerência do lar, todos sabemos, dinheiro, saúde, regras de convívio e lazer fazem parte. Não é sábio gerenciar apenas o dinheiro e não se preocupar em educar os filhos. Não há sabedoria em escolher bons alimentos, mas não se respeitar o horário de cada refeição. Também não se compra sobremesas para agradar às crianças e se evita de ensiná-las a comer e apreciar legumes, verduras e frutas.

Economia, portanto, não é dinheiro. Não é setor financeiro. Sequer é empresariado. Economia é tudo o que fazemos nas ruas: como andamos; como saudamos aos outros; onde comemos; onde vestimos; se damos ofertas na igreja; se damos ou não esmola ao morador de rua; qual condução pegamos ou se pegamos condução; se compramos drogas ilícitas; se seguimos à receita médica; se vamos sentar para assistir televisão enquanto comemos, ou se a hora do almoço é a hora de apenas estar com a família; se vamos mandar mensagens para outras pessoas enquanto estamos no bar, com amigos; qual partido apoiaremos nas eleições; qual candidato rejeitaremos; e até se vamos ou não postar um texto em uma Rede Social. Nossa moral e nossos valores éticos definem e fazem parte dos rumos econômicos. Triste do economista que vê a economia separada da política, do cotidiano humano, animal, vegetal, ou, ainda, dos fenômenos naturais. Triste, também, do político que trata a economia como domínio de um ou mais setores com interesses próprios.

Diante da pandemia que vivemos, ao colocar para o povo que é preciso olhar a saúde sem perder de vista a economia, se cria uma compartimentação que gera confusão e debate onde deveria haver acordo óbvio. Cuidar da saúde do povo não é, apenas, cuidar para que ele tenha um contágio menor possível de Covid-19. Cuidar da economia não é colocar o trabalhador para andar e exercer seu ofício na rua, correndo o risco de contágio.

Cuidar da saúde do povo inclui cuidar da saúde mental desse povo e do seu alimento. Coisas que não ocorrerão se não houver emprego ou dinheiro para pagar as dívidas. Mulheres estão trancadas em casa, por vezes, com homens violentos; crianças estão trancadas em casa com abusadores; desempregados estão pensando em suicídio; as contas não param de chegar e não deixam de aumentar seus juros.

Entender que a quarentena imposta é a única forma de cuidar da saúde da população é um erro. Descuidar que esses cuidados aqui são, por definição, cuidar da economia, é ignorância ou erro e, nos dois casos, um perigo enorme.

Ignorar que esse povo é quem movimenta todos os tipos de concepção econômica, que merece e tem o direito de ser tratado com dignidade, é uma vergonha para qualquer líder.

Por definição, cuidar da economia é cuidar da saúde do povo. Cuidar da saúde do povo é garantir um bom futuro para a economia.

Somente um capataz, sob ordem do senhor da terra, ordena que escravos trabalhem a despeito do perigo que correm. Somente alguém pouco preocupado com a economia, em seu sentido rico, coloca os trabalhadores na linha de frente, sem real necessidade. Economistas como Henrique Meirelles e Raul Velloso defendem, por exemplo, imprimir dinheiro. Não é o momento de se preocupar e não haverá, segundo eles, problema com inflação, com o que estamos vivendo, ao tomar essa decisão. Tudo que é importante se mostra relativo, diante das situações e a situação atual é de emergência e responsabilidade.

Mesmo economistas liberais e o mundo liberal se dobram diante da necessidade de um Estado que saiba gerir e saiba se preocupar com seu povo. Ao invocar essa falsa dicotomia, o governo quer dividir com a população uma responsabilidade que ela, na Constituição e no voto, confiou a ele. Cabe à população, apenas, seguir as regras de distanciamento. Cabe ao governo, e apenas a ele, conseguir levantar ou gerar os recursos para bancar esse povo que morre e teme a morte dia pós dia.

É preciso ampliar o conceito de Economia, ou resgatar seu conceito. E é preciso tirar das costas do povo sofrido a responsabilidade de morrer em nome do sustento de um sistema financeiro que se pretende dono do governo e dono do conceito econômico. Essa tutela da democracia precisa parar. Vários ensinamentos se tiram dessa situação que o mundo vive. Um destes é que nosso sistema socioeconômico, onde o Estado é jogado de lado e os setores privados trabalham como “senhores da terra em um mundo que legaliza escravos”, não funcionou. Todos, nesse momento, precisam do Estado e o Estado brasileiro não pode se colocar como exceção nesse processo. Portanto, junto com tudo isso, é preciso se imprimir, mesmo que pela força da Lei ou da Justiça, uma obrigação ao governo para que lide com a situação de forma decente e digna. Como o povo precisa, tem direito e merece.