Veículos de imprensa exageram ao divulgarem pesquisa sobre evangélicos e pautas de extrema direita

Veículos de jornalismo publicaram, no final de julho passado, matérias positivas sobre evangélicos, a propósito da pesquisa do Instituto Datafolha sobre eleições na cidade de São Paulo. As matérias apresentam tom que se coloca em direção contrária ao que é predominante, como Bereia já publicou em outras checagens, com troca do pejorativo para o valorativo.

O jornal O Globo afirmou, em 22 de julho, que “evangélicos se contrapõem ao bolsonarismo”. O Mídia Ninja publicou, na mesma data, matéria sob o título “Evangélicos abandonam agenda bolsonarista; maioria é contra prisão de mulheres que abortam”. A revista Fórum divulgou, em 20 de julho, que “evangélicos de São Paulo rejeitam bolsonarismo”. Bereia checou estas formas de chamar para o tema e a origem dos dados apontados pelos veículos de imprensa. 

Imagem: reprodução Instagram

Pesquisa ‘Perfil dos Evangélicos em São Paulo’

Perfil dos Evangélicos em São Paulo foi o título da pesquisa, realizada pelo Instituto Datafolha, entre os dias 24 e 28 de junho último, com 613 moradores da capital paulista. O relatório completo do estudo foi divulgado em 25 de julho, e a Folha de S. Paulo publicou uma sequência de quatro matérias, com diferentes abordagens: o perfil evangélico da capital paulista; como o grupo religioso enxerga o pertencimento à comunidade religiosa; o afastamento dos evangélicos de pautas bolsonaristas com o porte de armas e o homeschooling; e a recusa à indicação de votos por líderes religiosos.

A pesquisa traz informações como o partido político de preferência do grupo em tela: entre os evangélicos, 15% preferem o PT (Partido dos Trabalhadores) e 7% preferem o PL (Partido Liberal); enquanto 40% dos católicos preferem o PT, contra 4% que preferem o PL. Estes dados contrariam a visão predominante nas mídias, segundo a qual haveria um alinhamento político-ideológico dos evangélicos com a extrema direita.

A composição da renda familiar e o vínculo a diferentes denominações – classificadas entre pentecostal, neopentecostal e histórico/protestante – são apresentadas no início do relatório, que é dividido nas seções: perfil religioso, pauta de valores, igreja e política, eleições em São Paulo e perfil ideológico; cada uma trazendo dados pormenorizados da pesquisa feita a partir de 613 entrevistas.

Imagem: reprodução Folha de S.Paulo

Nas mídias digitais, o Instituto Datafolha destacou a informação de que “para 78% dos evangélicos, é fundamental que seu candidato acredite em Deus, mas apenas 22% consideram muito importante que o escolhido seja da mesma religião que a sua”. A pesquisa também foi divulgada na íntegra, com possibilidade de download e detalhamento em texto.

Participaram da concepção e desenvolvimento da pesquisa, como consultores, o antropólogo Juliano Spyer, a professora associada do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF) Christina Vital, o professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rodrigo Toniol, o doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) Vinicius S. M. do Valle e a repórter especial da Folha de S. Paulo e autora de “O Púlpito – Fé, Poder e o Brasil dos Evangélicos” (Todavia), Anna Virginia Balloussier. 

Imagem: reprodução Datafolha

Abordagem por veículos de jornalismo

O portal de notícias Mídia Ninja, a revista Fórum e o jornal O Globo divulgaram recortes da pesquisa relacionados às pautas defendidas pelo bloco político liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Estes veículos optaram por adotar títulos que relacionam os segmento evangélico ao chamado “bolsonarismo”, porém deixaram de apresentar outros dados relevantes sobre o perfil do grupo religioso.

A revista Fórum publicou, ainda em 20 de julho, texto em que afirma que dois temas são determinantes para a “rejeição” dos eleitores evangélicos dos candidatos ligados ao “bolsonarismo”: armas e “homeschooling” (educação escolar em casa). Na chamada, a revista apresenta a conclusão de que o evangélico paulistano “não concorda com a extrema-direita”.

Imagem: reprodução Revista Fórum

Os jornais O Globo e Mídia Ninja destacaram outros temas relacionados à extrema direita, abordados pela pesquisa. No título, O Globo também chamou a atenção para “armas” e ‘homeschooling’  e apresentou os dados da opinião de evangélicos de São Paulo sobre aborto, educação sexual e acolhimento a homossexuais.

Imagem: reprodução O Globo

Mídia Ninja, por sua vez, abordou os mesmos temas que O Globo, e acrescentou a opinião do segmento cristão sobre o Brasil apoiar todas as guerras de Israel. Em seu portal digital, porém, o Mídia Ninja utilizou como chamada os dizeres “Evangélicos abandonam agenda bolsonarista”.

Outros veículos de imprensa também repercutiram a pesquisa Datafolha. Entre eles, CNN, Metrópoles, Carta Capital, com diferentes abordagens da mesma pesquisa. 

Enquanto o canal de notícias CNN divulgou que a maioria dos evangélicos da capital do estado de São Paulo é contra porte de arma e ‘homeschooling’, o portal Metrópoles, a revista Carta Capital deram destaque à opinião do grupo religioso sobre pastores indicarem votos para fiéis.

Mídia religiosa

O site Folha Gospel também repercutiu os resultados da pesquisa e destacou, em título de matéria, que a maioria dos evangélicos de São Paulo é contra a indicação de voto por líderes religiosos. O portal abordou informações correlatas, como a importância de candidatos serem também evangélicos, mas omitiu os dados de opinião sobre porte de armas e aborto.

E abordagem semelhante, o portal O Fuxico Gospel não mencionou os achados da pesquisa que dizem respeito à opinião sobre aborto e sobre porte de armas. Já o portal Guiame enfatizou os dados sobre idade de conversão. O site Pleno News, que faz um grande volume de publicações diárias, ignorou a pesquisa.

Políticos com identidade religiosa, ativos nas mídias digitais e que costumam repercutir discursos religiosos, não repercutiram a pesquisa.

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A pesquisa Perfil dos Evangélicos em São Paulo, elaborada pelo Instituto Datafolha, divulgada no último 25 de julho, apresenta uma série de resultados que ratificam o que pesquisadores vêm mostrando há anos: evangélicos formam um bloco múltiplo e tentar homogeneizá-los é incorreto.

A pesquisa, feita com 613 entrevistados, traz números que não permitem concluir posicionamentos “dos” evangélicos enquanto grupo homogêneo, o que não se constitui. O uso de expressões como “rejeitam o bolsonarismo” e “abandonam o bolsonarismo” é, portanto, exagerado e e enganoso, como revelam os próprios dados da pesquisa.

Os resultados apresentados dão conta de que algumas parcelas do grupo pesquisado pensam de uma forma, e outras pensam de outra, tal como se desenha na própria sociedade brasileira. É um erro retratar qualquer grupo religioso como bloco indissociável, sobretudo quando questões de natureza político-ideológica são consideradas.

A correta veiculação de informações não permite disseminar a ideia de que evangélicos “abandonam” ou “rejeitam” o chamado bolsonarismo. O apoio e o alinhamento político ao bloco extremista existem de forma parcial, ao lado da rejeição e da dissidência que também são fato. O que a pesquisa revela, como bem expresso pela Folha de S. Paulo e pelo jornal O Globo, é uma dada maioria desse grupo religioso tem se afastado de um determinado conjunto de ideias defendidas pelo chamado “bolsonarismo”.

A relevância disso é comprovada, por exemplo, pelo fato de veículos relacionados à extrema direita não terem publicado sobre os números da pesquisa.

O uso de termos absolutos e chamativos por alguns veículos acaba por expressar um discurso participante de disputas na arena política que varia conforme a atmosfera que se deseja ressaltar. É preciso rever as abordagens sobre evangélicos que ora exageram no sensacionalismo negativista, ora exageram com pauta “positiva”,  e não favorecem processos informativos necessários na superação de polarizações nocivas. 

Informação digna é um direito humano e distorções como as que são observadas na repercussão publicada não colaboram na construção de um jornalismo a serviço dos cidadãos brasileiros.

Referências da checagem:

Folha de S.Paulo

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/07/mulheres-negras-sao-maioria-nas-igrejas-evangelicas-paulistanas-aponta-pesquisa-datafolha.shtml Acesso em: 31 jul 2024

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/07/armas-e-homeschooling-afastam-evangelicos-em-sp-do-bolsonarismo-aponta-datafolha.shtml?utm_source=sharenativo&utm_medium=social&utm_campaign=sharenativo Acesso em: 31 jul 2024

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/07/maioria-dos-evangelicos-paulistanos-e-contra-pastor-indicar-voto-mostra-datafolha.shtml?utm_source=sharenativo&utm_medium=social&utm_campaign=sharenativo Acesso em: 31 jul 2024

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/07/evangelicos-paulistanos-veem-igreja-como-lugar-para-achar-amor-trabalho-e-amigos.shtml?utm_source=sharenativo&utm_medium=social&utm_campaign=sharenativo Acesso em: 31 jul 2024

CNN. https://www.cnnbrasil.com.br/politica/sp-maioria-de-evangelicos-na-capital-e-contra-porte-de-arma-e-homeschooling-diz-datafolha/ Acesso em: 31 jul 2024

Metrópoles. https://www.metropoles.com/sao-paulo/datafolha-maioria-evangelicos-contra-pastor-indicar-voto Acesso em: 31 jul 2024

Carta Capital. https://www.cartacapital.com.br/politica/maioria-dos-evangelicos-e-contra-pastor-indicar-voto-mostra-pesquisa-datafolha-em-sao-paulo/ Acesso em: 31 jul 2024

Fuxico Gospel. https://www.fuxicogospel.com.br/2024/07/datafolha-evangelicos-de-sp-sao-contra-pastores-indicarem-voto-em-candidatos.html Acesso em: 31 jul 2024

Guiame. https://guiame.com.br/gospel/noticias/maioria-dos-evangelicos-se-converte-apos-18-anos-e-nao-tem-familiares-crentes-diz-pesquisa Acesso em: 31 jul 2024

Datafolha.

https://media.folha.uol.com.br/datafolha/2024/24/hxnnvpz2mvs5msosj0is3ffozpmxdk-bqu3cnh1syz9bywlayjnflqy1e6nbuvqqlsys6mxesxdisrmugq9wlg.pdf Acesso em: 31 jul 2024

https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniao-e-sociedade/2024/07/92-dos-evangelicos-paulistanos-concorda-que-a-igreja-muda-para-melhor-a-vida-das-pessoas.shtml Acesso em: 31 jul 2024

Folha Gospel. https://folhagospel.com/maioria-dos-evangelicos-de-sp-e-contra-pastor-indicar-voto-diz-datafolha/ Acesso em: 4 ago 2024

Fórum. https://revistaforum.com.br/politica/2024/7/20/evangelicos-de-sp-rejeitam-bolsonarismo-por-armas-homeschooling-diz-datafolha-162463.html Acesso em: 31 jul 2024

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Foto de capa: Shelagh Murphy/Pexels

Pesquisa compartilhada em mídias e sites evangélicos tem metodologia questionável

Dezenas de sites e mídias digitais evangélicas divulgaram uma controversa pesquisa eleitoral realizada pelo Instituto Brasmarket sobre intenção de votos para a Presidência da República. A pesquisa é polêmica pois vai de encontro a todos os demais levantados dos principais institutos de pesquisa do país.

De acordo com os dados apresentados pelo Brasmarket, o presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria liderando a corrida eleitoral com 44,9% (37% no levantamento anterior), enquanto Lula teria 31%  (27%, no levantamento anterior). Além disso, quando o corte é por religião, os cristãos católicos e evangélicos rejeitaram em sua maioria o ex-presidente Lula (PT). A pesquisa foi registrada no TSE com o número BR-00580/2022. 

Instituto Brasmarket

O site do Instituto Brasmarket afirma que a empresa tem 40 anos de experiência com pesquisas, mas apenas nove pesquisas eleitorais estão disponíveis para consulta. De acordo com o site da Receita Federal, os proprietários da empresa são José Carlos Nogueira Cademartori e Felipe Fontes de Castro Cademartori. Ambos tornaram-se proprietários da empresa apenas em março de 2002. O Instituto Brasmarket não consta como afiliado à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. 

Além das pesquisas eleitorais para presidente, três delas contratadas pela Associação de Supermercados do Rio de Janeiro, as demais foram custeadas pelo próprio Brasmarket. O Instituto realizou outras pesquisas este ano: para o governo de Goiás, contratado pela ASSOCIAÇÃO GOIANA DO NELORE, governo de Tocantins, custeada pela própria empresa, para o governo do Rio Grande do Norte, contratada pela CPF/CNPJ: 25450212000100 – BG MÍDIAS E ASSESSORIA DIGITAIS EIRELI, para o governo de Mato Grosso do Sul, contratada pela CPF/CNPJ: 03976495000187 – RADIO CAPITAL DO SOM LTDA / Origem do Recurso: (Recursos próprios). As pesquisas para os governos estaduais foram acompanhadas de pesquisa levantamento de intenção de voto para Presidente da República apenas naquele estado. 

Matéria da Revista Veja de janeiro de 2022 apresenta uma suposta pesquisa realizada ainda em 2021 pelo Brasmarket que chegou ao conhecimento público sem o devido registro no TSE e rapidamente inundou as mídias digitais de direita. De acordo com a matéria, o Instituto está envolvido em diversas controvérsias e mistérios.

Pesquisa Brasmarket

A pesquisa mais recente é que passou a circular em mídias digitais religiosas  foi realizada pelo Instituto Brasmarket e registrada no dia 17/09/2022 no TSE com o número de identificação: BR-00580/2022. Os resultados foram divulgados em 23/09/2022. A pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 20 de setembro e foi custeada com recursos da própria empresa com o valor de R$ 32.000,00.

A metodologia de pesquisa utilizada foi a quantitativa, por meio de entrevistas telefônicas, com aplicação de questionários estruturados e padronizados junto a amostra representativa da população pesquisada. Foram 2.400 entrevistados de 116 municípios.

A pesquisa realizada pelo Instituto Brasmarket chama atenção por ser o único levantamento que aponta o presidente Jair Bolsonaro como favorito e pelo resultado bem diferente dos apresentados pelos Institutos mais conhecidos e renomados do país: Datafolha e Ipec (formado por ex-executivos do Ibope).  

O agregador de pesquisas eleitorais do Estadão usa dados dos levantamentos de 14 empresas, considerando suas peculiaridades metodológicas, para calcular a Média Estadão Dados e o cenário mais provável da disputa eleitoral. Lula aparece com 47% e Jair Bolsonaro fica com 33% na média de todos os levantamentos nos últimos seis meses. 

Resultados da pesquisa do Instituto Brasmarket

Imagem: reprodução site Instituto Brasmarket

Imagem: reprodução site Instituto Brasmarket

Datafolha: história e metodologia 

O Instituto Datafolha realizou 47 pesquisas neste ano, de acordo com a consulta realizada no site do TSE: tanto para corrida presidencial, quanto para governos estaduais. O Datafolha foi criado em 1983 e disponibiliza uma seção de perguntas e respostas para que os visitantes conheçam seus métodos e técnicas de pesquisa. Ele permite que os leitores/visitantes consultem centenas de pesquisas realizadas desde 1989. 

O Datafolha não faz pesquisas sob encomenda para políticos ou partidos. Todos os levantamentos são realizados para divulgação e uso público de grandes veículos de comunicação. Quando um meio de comunicação contrata uma pesquisa eleitoral do instituto, uma de suas obrigações é tornar público o resultado desse levantamento.

De acordo com a seção de perguntas e respostas disponibilizada no site, a validade de uma pesquisa eleitoral feita por telefone, como a realizada pelo Instituto Brasmarket, fica comprometida pois  “é inviável realizar pesquisas eleitorais telefônicas no Brasil que sejam representativas do total do eleitorado, já que apenas 40% dos brasileiros possuem linha telefônica fixa em casa. Por isso os institutos abordam os eleitores pessoalmente”.

A última pesquisa Datafolha para presidente foi divulgada em 22/09, dia anterior  à divulgação da pesquisa do Instituto Brasmarket, com o número de identificação no TSE  BR-04180/2022. O custo total da pesquisa foi de R$ 473.780,00. (o levantamento de Brasmarket custou R$ 32.000,00)

Contratantes: EMPRESA FOLHA DA MANHÃ e GLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A/TV/REDE/CANAIS/G2C+GLOBO GLOBO.COM GLOBOPLAY.  

A metodologia de pesquisa utilizada foi a pesquisa do tipo quantitativo, por amostragem, com aplicação de questionário estruturado e abordagem pessoal em pontos de fluxo populacional. O conjunto do eleitorado brasileiro foi tomado como universo da pesquisa. 6.734 entrevistados em 285 municípios. (Brasmarket entrevistou 2.400 pessoas de 116 municípios).

Resultado pesquisa Datafolha.

Imagem: divulgação Datafolha

Fonte: Datafolha

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De acordo com todas as informações levantadas, o Bereia considera que a pesquisa realizada por Brasmarket, que está sendo amplamente divulgada nas mídias digitais da extrema-direita, é enganosa. 

O instituto começou efetivamente suas atividades há quatro meses, e suas pesquisas são as únicas em todo o país a apresentarem resultados divergentes, e mesmo com o registro no TSE, apresenta disparidades em relação às demais pesquisas, como o custo muito baixo dos levantamentos, metodologia e pouco detalhamento de seus resultados. 

Desta maneira, esta pesquisa parece funcionar mais como uma ferramenta para batalhas discursivas na campanha política  neste pleito 2022, a fim de confundir eleitores.

Referências de checagem: 

Instituto Brasmarket.

https://www.institutobrasmarket.com.br/ Acesso em: 26 set 2022.

https://www.institutobrasmarket.com.br/_files/ugd/d5bd9b_e4dbf5bfbfc146849776fbdf54ee405e.pdf?index=true Acesso em: 26 set 2022.

://www.institutobrasmarket.com.br/_files/ugd/d5bd9b_1fcf826c094a47ae8fcdcdfae46163aa.pdf?index=true Acesso em: 26 set 2022. 

https://www.institutobrasmarket.com.br/_files/ugd/d5bd9b_e23650a6caba4e378556aa209b080da3.pdf?index=true Acesso em: 26 set 2022. 

https://www.institutobrasmarket.com.br/_files/ugd/d5bd9b_ee37cf4ef6a545bc959e873134ed602c.pdf?index=true Acesso em: 26 set 2022. 

https://www.institutobrasmarket.com.br/_files/ugd/d5bd9b_59c1f4aad2854cf5abbcfacbe11929d7.pdf Acesso em: 26 set 2022. 

TSE. https://www.tse.jus.br/eleicoes/pesquisa-eleitorais/consulta-as-pesquisas-registradas Acesso em: 26 set 2022.

Datafolha.

https://datafolha.folha.uol.com.br/ Acesso em: 26 set 2022.

https://datafolha.folha.uol.com.br/sobre/2022/07/historia-do-datafolha.shtml Acesso em: 26 set 2022.

https://datafolha.folha.uol.com.br/sobre/perguntas-e-respostas/pesquisas-eleitorais/ Acesso em: 26 set 2022.

https://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/ Acesso em: 26 set 2022.

Ipec.

https://www.ipec-inteligencia.com.br/ Acesso em: 26 set 2022.

https://asserj.com.br/ Acesso em: 26 set 2022.

Veja. https://veja.abril.com.br/politica/a-unica-pesquisa-em-que-a-familia-bolsonaro-acredita/ Acesso em: 26 set 2022. 

Estado de São Paulo. https://www.estadao.com.br/politica/eleicoes/agregador-pesquisa-eleitoral-2022/?turno=&cargo=presidencial&modalidade=todas&regiao=todas Acesso em: 26 set 2022.  

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Foto de capa: Instituto Brasmarket

Partido dos Trabalhadores desinforma ao citar redução no crescimento de evangélicos

* Matéria atualizada às 19:58. A etiqueta foi atualizada como resposta a questionamento do autor do texto verificado.

Recentemente, o portal oficial do Partido dos Trabalhadores (PT) publicou notícia em que afirma o crescimento de 129% na quantidade de brasileiros autointitulados evangélicos ao longo dos governos liderados pela legenda, enquanto o número seria de apenas 6,5% durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL). A publicação aponta, ainda, que a administração atual teria sido responsável por instabilidades, perseguições e desinstituicionalizações dentro do meio evangélico. A notícia foi divulgada em vários espaços digitais de esquerda na forma de card. 

Imagem: Reprodução | Site do Partido dos Trabalhadores

Crescimento no número de evangélicos 

De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, o número total de brasileiros autointitulados evangélicos subiu de 26,2 milhões no ano de 1999, para 42,3 milhões em 2010. Proporcionalmente, os evangélicos passaram de 15,5% para 22,2% no número total de brasileiros, sendo pentecostais, protestantes, religiosos de missão, carismáticos e outras denominações consideradas como evangélicas. 

Imagem: Reprodução | Censo IBGE 2010

É importante salientar que o censo do IBGE é realizado a cada 10 anos. Porém,  o último data do ano de 2010, já que, por decisão do governo federal atrelada aos cortes orçamentários relacionados à pandemia da covid-19, o levantamento que deveria ter sido realizado em 2020, foi suspenso e está em curso atualmente, já em 2022. Este déficit de dados torna especulativa qualquer informação que venha a defender um crescimento, ou diminuição, no número de práticas e de praticantes religiosos no país. 

No entanto, instituições privadas costumam produzir suas próprias aferições de dados. É o caso do  Instituto de Pesquisa Datafolha, vinculado ao jornal Folha de S. Paulo. Mencionado na matéria produzida pelo PT, o Instituto Datafolha conduz pesquisas sob encomenda para veículos de informações e políticos. Sua base de dados tende a se concentrar em centros urbanos e metrópoles, limitando a qualidade da amostra colhida. 

Em pesquisa realizada pelo Instituto em 2016, três em cada dez (29%) brasileiros com 16 anos ou mais atualmente se dizem evangélicos; em 2020, ainda segundo o Datafolha, esse número subiu para 31%, isto é, 65,4 milhões de pessoas.  Isto representaria um aumento de apenas 2% no número de evangélicos no país, dos anos de 2016 a 2020. 

Todavia, os dados provenientes do Datafolha não são um parâmetro oficial adotado para mensuração do crescimento, ou não, no número de evangélicos ou de qualquer grupo religioso. Os resultados alcançados pelo instituto da Folha de S. Paulo dizem respeito a um universo amostral menor do que a parcela colhida pelo IBGE, portanto, não podem ser utilizados para afirmação comparativa referente a governos. Estas pesquisas estimativas são úteis na produção de resultados parciais para uma abordagem geral sobre possível distribuição de fiéis por religiões e sondagem de opinião como intenção de votos, aprovação do presidente etc, mas não configuram uma fonte oficial para ser utilizada na discussão de políticas públicas, como é o IBGE.

Imagem: Reprodução | Site do Partido dos Trabalhadores

Políticas  dos governos petistas voltadas ao público evangélico

A matéria do PT menciona ainda uma série de leis, projetos e acordos firmados entre o governo Lula e instituições religiosas, dentre elas: lei que permitiu que as igrejas e associações religiosas passassem a ter personalidade jurídica, em 2003, proibindo intervenções do Estado nas ações das igrejas e possibilitando a criação de seus próprios estatutos; criação do Dia Nacional da Marcha para Jesus, em 2009; criação do Dia Nacional do Evangélico (30 de novembro), em  2010. 

Tais projetos não se deram apenas por uma boa vontade do então presidente para com os evangélicos, mas, sim, graças ao cumprimento de acordos políticos firmados entre ele, a Bancada Evangélica e lideranças políticas/religiosas. Em igual medida, Bolsonaro se alinha a uma bancada formada majoritariamente por agentes religiosos e realizou a aprovoção de projetos como maior flexibilização da compra de armas de fogos, redução de investimento em ONGs que atuam por direitos relacionados à pauta de costumes, nomeação de evangélicos para primeiro e segundo escalões de ministérios no governo federal, perdão para dívidas de igrejas com a Receita Federal, além de movimentar os debates sobre aborto, família e Direitos Humanos sob uma perspectiva conservadora de sua base aliada.  

O interesse dos presidenciáveis no eleitorado evangélico

O voto dos evangélicos está sendo disputado pelos dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais para Presidente.  Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL) têm buscado o apoio do segmento, que representa aproximadamente 30% da população brasileira, segundo os institutos de pesquisa, e deve ter um peso nas eleições de outubro de 2022.

De acordo com pesquisa do PoderData realizada de 22 a 24 de maio deste ano, Jair Bolsonaro lidera com 46% das intenções de voto entre eleitores evangélicos para o 1º turno, enquanto Lula marca 33%. A distância entre os dois presidenciáveis nesse grupo específico é de 13 pontos percentuais. Na rodada realizada de 8 a 10 de maio, era de 27 pontos. Os números  desmistificam o apoio massivo dos evangélicos a Bolsonaro.

Ainda, segundo dados obtidos por uma pesquisa do Datafolha, também é possível  relativizar  a suposta homogeneidade do voto desses fiéis, principalmente quando se fala sobre as mulheres evangélicas. Entre elas, 39% votariam no petista, enquanto 30% declararam voto no atual Presidente. Os números seguem a tendência dos votos pelo país, que indicam preferência do gênero feminino por Lula. A vantagem do ex-presidente se amplia quando são consideradas mulheres jovens, de 16 a 24 anos, das quais  50% optam pelo candidato do PT, contra 22% que votariam em Bolsonaro. Se comparadacom a intenção de voto dos homens da mesma religião, a situação se inverte, são 46% contra 28% que votariam em Lula. 

Diante deste cenário, de um lado, o atual Presidente procura acenar para o público evangélico ao defender publicamente as chamadas pautas de costume, e até mesmo alçando representantes religiosos a cargos políticos na tentativa de manter o apoio do segmento. Foi através de medidas como essas que Bolsonaro, mesmo se declarando católico, conquistou grande parte do apoio dos evangélicos.

Do outro, o candidato do PT visa se aproximar desse eleitorado. A legenda formou núcleos evangélicos em 21 estados da Federação, a fim de adaptar a comunicação das campanhas aos valores desse segmento religioso.  No início deste mês, o Partido também criou o CEU (Comitê Evangélico Unificado) com o objetivo de enfrentar as fake news que circularam fortemente entre a população evangélica na última disputa eleitoral. De acordo com a pesquisa “Caminhos da desinformação: evangélicos, fake news e WhatsApp no Brasil”, que deu origem ao Bereia e foi realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 49%, ou quase metade, dos evangélicos que responderam aos questionários afirmaram ter tido acesso a conteúdo falso. Desses, 77,6% disseram ter recebido as fake news em grupos de WhatsApp relacionados às suas igrejas.

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Bereia classifica a notícia como IMPRECISA, uma vez que se vale de dados não oficiais, estimativas de pesquisas, para corroborar argumentos de campanha que envolvem políticas governamentais. Como mencionado, as pesquisas de censo IBGE ainda estão sendo realizadas e os resultados divulgados pelo Instituto Datafolha dizem respeito a um universo amostral menor do que a parcela colhida pelo IBGE, além de o primeiro não ser uma fonte oficial do Estado. A matéria em questão cumpre um papel político de reconciliação do PT com o público evangélico, mostrando como a legenda e o povo evangélico lograram conquistas e prosperam durante o governo petista, levando o público leitor a uma compreensão de que durante o governo bolsonarista o pequeno crescimento do número de fiéis seria resultado de um não interesse político nessa comunidade. O crescimento, a estagnação ou decréscimo no número de fiéis de um grupo religioso depende de uma série de fatores socioeconômicos e culturais que precisam ser devidamente avaliados para se produzir uma afirmação como a que foi feita no site do Partido dos Trabalhadores.

Referências de checagem:

PT.

https://pt.org.br/evangelicos-cresceram-129-nos-governos-do-pt-no-governo-bolsonaro-so-65/ Acesso em: 29 jun 2022

https://pt.org.br/blog-secretarias/comite-evangelico-e-criado-com-objetivo-de-combater-as-noticias-falsas/ Acesso em: 29 jun 2022

Veja.

https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/o-crescimento-evangelico-a-proxima-eleicao-e-o-pastor-no-stf/ Acesso em: 29 jun 2022

https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/por-que-a-juventude-brasileira-esta-se-tornando-cada-vez-mais-evangelica/ Acesso em: 29 jun 2022

Terra. https://www.terra.com.br/noticias/brasil/numero-de-evangelicos-cresce-61-no-brasil-diz-ibge,c0addc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html Acesso em: 29 jun 2022

IBGE. https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9662-censo-demografico-2010.html?edicao=9749&t=destaques Acesso em: 29 jun 2022

Folha de São Paulo.

https://datafolha.folha.uol.com.br/ Acesso em: 29 jun 2022

https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2022/06/1989394-reprovado-por-47-bolsonaro-tem-avaliacao-de-governo-estavel.shtml Acesso em: 29 jun 2022

https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2022/06/1989391-69-dos-eleitores-discordam-da-frase-o-povo-armado-jamais-sera-escravizado.shtml Acesso em: 29 jun 2022

https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/pesquisa-eleitoral/noticia/2022/06/07/datafolha-numero-de-evangelicos-de-direita-e-equivalente-aos-de-esquerda.ghtml Acesso em: 29 jun 2022

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Istoé Dinheiro. https://www.istoedinheiro.com.br/pt-cria-nucleos-evangelicos-em-21-estados/ acesso em: 29 jun 2022

Pesquisa: Caminhos da desinformação: evangélicos, fake news e WhatsApp no Brasil.

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Carta Capital. https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/mulheres-evangelicas-olham-para-a-vida-e-resistem-mostram-as-pesquisa-eleitorais/ Acesso em: 29 jun 2022

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Poder 360. https://www.poder360.com.br/poderdata/bolsonaro-tem-46-entre-evangelicos-lula-44-entre-catolicos/ Acesso em: 29 jun 2022

Correio Braziliense. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/05/5004555-candidatos-as-eleicoes-de-2022-disputam-o-voto-da-mulher-evangelica.html Acesso em: 29 jun 2022

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Agência Brasil. http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2003-12-22/lula-sanciona-lei-que-garante-personalidade-juridica-organizacoes-religiosas Acesso em: 30 jun 2022

Imagem de capa: Divulgação/PT

Site gospel manipula informações contra resultados da pesquisa DataFolha sobre eleições 2022

No último dia 13 de maio, o portal Gospel Prime repercutiu os resultados da primeira pesquisa DataFolha sobre as eleições presidenciais de 2022. A matéria destacou que, de acordo com a pesquisa, que classifica como “tendenciosa”, os evangélicos apoiam mais o ex-presidente Lula (PT, 35% das intenções de voto), a quem a matéria se refere como ex-presidiário”, do que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido, com 34% das intenções de voto). A diferença dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos configura um empate técnico.

A divisão dos evangélicos entre Lula e Bolsonaro

A divisão dos evangélicos entre o atual presidente e o ex-presidente expõe uma disputa acirrada que pode ser melhor compreendida com outros dados da pesquisa. O empate técnico diz respeito à pergunta estimulada de intenção de voto no 1º turno. Nela, os entrevistados respondem a seguinte pergunta: “Alguns nomes já estão sendo cogitados como candidatos a presidente em 2022. Se a eleição para presidente fosse hoje e os candidatos fossem estes ____, em quem você votaria?”

Bolsonaro passa a ter vantagem na pergunta não-estimulada, com 25% das intenções de votos evangélicos contra 16% do ex-presidente. Esse resultado acontece diante da pergunta “Em outubro do ano que vem haverá eleição pra presidente. Em quem você pretende votar para presidente em 2022?” 

Outro ponto de desvantagem para Lula está em sua rejeição entre os evangélicos: 42% deles dizem que não votariam no ex-presidente de jeito nenhum. Esse valor mostra que a rejeição de Lula é seis pontos percentuais a mais entre os evangélicos do que na população geral (36%). Bolsonaro tem uma rejeição ainda maior entre os evangélicos (45%). No entanto, esse valor representa uma rejeição menor dos evangélicos ao atual presidente do que quando comparado com a população geral (54%). Ainda assim, a pesquisa volta a indicar uma acirrada divisão entre Bolsonaro e Lula em um eventual segundo turno. Entre esse segmento do eleitorado, os dois empatam em 45%.

O apoio evangélico a Bolsonaro em 2018 e agora

 Alguns analistas advogam que o voto dos evangélicos foi decisivo na eleição de 2018. Em “O voto evangélico garantiu a eleição de Jair Bolsonaro”, o demógrafo José Eustáquio Alves analisa o comportamento dos eleitores desse grupo religioso no segundo turno do último pleito presidencial do país a partir da última pesquisa DataFolha antes da decisão nas urnas. O artigo mostra que cerca de seteem cada dez evangélicos votaram no capitão em detrimento do candidato do PT, Fernando Haddad. A diferença de votos entre Bolsonaro e Haddad dentre os evangélicos (11,5 milhões) foi maior do que a vantagem no total de votos (10,7 milhões).

A pesquisa DataFolha sobre aprovação do Governo Bolsonaro feita em maio de 2021 mostra que o presidente segue mais popular entre os evangélicos do que na população geral. Enquanto 24% dos brasileiros acham o governo do capitão ótimo ou bom, 33% dos que seguem a religião evangélica pensam o mesmo. Por outro lado, 35% desse grupo religioso reprova o governo, porcentagem menor do que no total dos entrevistados (45%).

O eleitorado evangélico é o que mais acredita na capacidade de Bolsonaro liderar o país (49%) contra índices mais baixos entre católicos (34%) e kardecistas (28%). A média geral é de 38%. Esse segmento religioso é também o mais resistente à abertura de processo de impeachment. Apenas 39% deles apoiam essa atitude por parte do Congresso Nacional contra 54% entre católicos e 60% entre kardecistas. O impeachment é apoiado por 49% dos brasileiros diante de 46% que são contrários ao processo.

Assim, é possível compreender que há um desgaste do Governo Bolsonaro entre os evangélicos, apesar do presidente encontrar nesse segmento apoio maior do que nas outras faixas religiosas do eleitorado. Por outro lado, é importante recordar que o PT teve apoio de líderes evangélicos em pleitos anteriores. Em 2014, a então candidata à reeleição Dilma Rousseff recebeu apoio da Assembleia do Bras e da Igreja UniversalNa pesquisa do final de semana do segundo turno, o DataFolha previa um empate de Dilma (PT) e Aécio Neves (PSDB) em 50% e uma vantagem do ex-governador de Minas Gerais entre os evangélicos não-pentecostais (56% a 44%). Dilma Rousseff venceu a disputa com 51,64%, uma diferença de pouco mais de 3 milhões de votos.

Reportagens da Folha dizem que pesquisa retrata o momento

Apesar de o site Gospel Prime destacar ana matéria sua avaliação da pesquisa de que Lula teria mais apoio dos evangélicos do que Bolsonaro, questões de renda, classe e raça entre os evangélicos também podem modificar o cenário de escolha eleitoral. Além disso, a própria reportagem que divulga o resultado do DataFolha de maio pondera que o período  da pesquisa retrata um momento difícil para o presidente Bolsonaro por conta da CPI da Pandemia enquanto Lula vem retomando articulação política após ter readqurido os direitos de se candidatar.

Desinformação sobre o DataFolha

Os dados presentes no texto do portal conferem com aqueles presentes na pesquisa. No entanto, o Gospel Prime emite opinião e rotula o DataFolha como suspeito e tendencioso sem explicar o que embasa essa desconfiança. As pesquisas de opinião pública desse instituto já foram alvo de desinformação em outras ocasiões. Em 2018, uma postagem do Facebook afirmou falsamente que uma pesquisa do DataFolha não tinha sido registrada no TSE. Dois anos depois, outro post viralizou ao dizer que o Instituto apontou 64% de aprovação ao Governo Federal – o que não é verdade. 

Vídeos da época da campanha eleitoral de 2018 voltaram a circular após a última pesquisa DataFolha na tentativa de descredibilizar o Instituto. Em um deles, um homem grava um pesquisador do Instituto e diz que não foi entrevistado porque era eleitor de Bolsonaro. Na verdade, entrevistar quem se oferece a pesquisa seria prática contrária aos métodos do DataFolha. 

O Projeto Comprova (do qual o Coletivo Bereia já participou) verificou que outro vídeo enganoso de 2018 voltou a circular após a nova pesquisa. Nele, um entrevistado questiona a credibilidade do Instituto porque não pode ler as perguntas antes de responder. Isso acontece, de acordo com o DataFolha, para evitar vieses nas respostas dos entrevistados.

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Bereia conclui que a matéria do Gospel Prime é enganosa. Apesar de informar corretamente os dados da pesquisa, o site emite opinião sobre o DataFolha como suspeito e tendencioso, sem apresentar as razões que justificam essas percepções. Opina também de forma partidária contra o ex-presidente Lula, ao usar o termo popularizado entre antipetistas, “ex-presidiário”. Além disso, diferentemente do que fez o jornal Folha de S.Paulo, o texto do portal gospel desconsidera o contexto da pesquisa e os motivos pelos quais o apoio de evangélicos a Jair Bolsonaro neste momento  é inferior em relação ao do segundo turno das eleições de 2018.

Referências

DataFolha, http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2021/05/12/1984ppjlrm3poekfrblsintv2022pnc.pdf. Acesso em 17 de maio de 2021.

Instituto Humanitas Unisinos, http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/584304-o-voto-evangelico-garantiu-a-eleicao-de-jair-bolsonaro. Acesso em 22 de maio de 2021.

DataFolha, http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2021/05/13/574c277a171a64f166dee28d083f08cfavbc.pdf. Acesso em 22 de maio de 2021.

Folha de São Paulo, https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/empate-de-bolsonaro-e-lula-no-voto-evangelico-e-recado-para-quem-ve-rebanho-em-vez-de-gente.shtml?origin=folha. Acesso em 22 de maio de 2021.

Exame, https://exame.com/brasil/em-encontro-com-evangelicos-dilma-elogia-obra-da-assembleia/. Acesso em 22 de maio de 2021.

G1, http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/datafolha-para-presidente-por-classe-social-idade-escolaridade-renda-sexo-religiao-e-regiao-2310.html. Acesso em 22 de maio de 2021.

G1, http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/apuracao-votos-presidente.html. Acesso em 22 de maio de 2021.

Folha de Sao Paulo, https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/empate-de-bolsonaro-e-lula-no-voto-evangelico-e-recado-para-quem-ve-rebanho-em-vez-de-gente.shtml?origin=folha. Acesso em 22 de maio de 2021.

Folha de Sao Paulo, https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/datafolha-lula-lidera-corrida-eleitoral-de-2022-e-marca-55-contra-32-de-bolsonaro-no-2o-turno.shtml. Acesso em 22 de maio de 2021.

G1, https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2018/08/23/e-fake-que-pesquisa-datafolha-nao-foi-registrada-no-tse.ghtml. Acesso em 22 de maio de 2021.

Agência Lupa, https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/07/15/verificamos-datafolha-bolsonaro-aprovacao/. Acesso em 22 de maio de 2021.

Folha de São Paulo, https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/video-de-2018-com-acusacoes-falsas-ao-datafolha-volta-a-circular-nas-redes.shtml. Acesso em 22 de maio de 2021.O Estado de Sao Paulo (Projeto Comprova), https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/video-enganoso-de-2018-volta-a-circular-para-desacreditar-datafolha/. Acesso em 22 de maio de 2021.

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Foto de Capa: Instituto DataFolha (Reprodução/ABK Advocacia).