Pesquisa Ipespe: 78% não acreditam no boato de “fechamento de templos”

A pesquisa “Termômetro da Campanha”, do Ipespe, realizada em conjunto com a Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais, ouviu eleitores em diversos temas. Um deles foi o boato da possibilidade do fechamento de templos religiosos após o pleito. O tema foi especialmente associado à vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O resultado: 78% dos entrevistados dizem não acreditar que haveria fechamento de templos após as eleições para presidente da República.

O levantamento foi feito entre 30 de agosto e 1º de setembro com uma amostra nacional de 1.100 entrevistados. A margem de erro total é de três pontos percentuais para mais ou menos dentro de um intervalo de confiança de 95,45%. A pesquisa Abrapel/Ipespe está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número 09344/2022.

Confira aqui a pesquisa completa.

Pesquisa investigou aderência a boatos sobre fechamento de igrejas  — Foto: Abrapel/Ipespe
À esquerda, a porcentagem total das respostas. À direita, o quanto os eleitores de cada candidato responderam SIM ou NÃO. Imagem: pesquisa Termômetro da Campanha.

Foto de capa: Brett Sayles /Pexels

Os cristãos de Bereia e as “tias” do zap

Os irmãos de Bereia foram considerados “mais nobres” que os de Tessalônica pelo espírito crítico ao examinar as doutrinas apresentadas a eles por Paulo. Queriam conhecer a Cristo, mas não se mostraram preguiçosos nessa busca: foram atrás para confirmar aquilo que o apóstolo lhes expusera. 

Hoje, quando dizemos que uma igreja, ou um cristão, são “bereianos”, queremos, por extensão, elogiá-los, por possuírem a mesma atitude cautelosa, criteriosa, de julgar todas as coisas, passando tudo pelo crivo de uma acurada pesquisa. 

Infelizmente, essa não tem sido a postura de parcela dos cristãos em nossos dias, que acabam sendo, na prática, “anti-bereianos”: abraçam tudo o que recebem… Não examinam… Não conferem a veracidade dos fatos nem a credibilidade das fontes. 

O Instituto NUTES de Educação em Ciência e Saúde, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez uma pesquisa junto a evangélicos, acerca do uso do WhatsApp e as “fake news” no Brasil. Eis algumas constatações preocupantes:

49% informaram já ter recebido ‘fake news’ em seus grupos;

23% afirmam não checar as notícias que recebem pelo WhatsApp;

30% reconhecem compartilhar notícias falsas.

É assustador. Pois justamente aqueles que sempre tiveram em sua história a verdade como um dos pilares da sua fé, agora são complacentes com a mentira. E com um agravante: em tempos de pandemia, desinformação pode provocar mortes.

Contudo, esse descaso com a verdade não se trata de um fenômeno novo no meio evangélico. O advento da internet apenas ampliou a facilidade de, agora, atingir multidões. 

Há pelo menos duas décadas, quando o “velho” e-mail tornou-se a forma mais usual de comunicação eletrônica, muitos cristãos – conscientemente ou não – replicavam para a sua lista de contatos, não apenas notícias ou informações, mas também inúmeros “hoaxes”… “Hoax” é uma palavra em inglês que significa “farsa”, aquilo que se faz com o propósito de levar ao engano o maior número de pessoas.

Alguns destes “hoaxes” se tornaram “clássicos” e têm resistido até hoje, ainda que desmascarados… Eis alguns: 

– “Está faltando um dia no Universo” (computadores da Nasa teriam comprovado o texto de Josué que “o sol parou”)…

– “Boicote as Fraldas Pampers e o Sabão Ariel” (apregoava-se que a Procter & Gamble era satanista)… 

– Até o inocente “Parabéns”, crentes já não cantavam mais, pois as palavras finais “Rá-Tim-Bum” seria uma “antiga maldição persa” imprecada contra o aniversariante…

– “Achada a ossada de um gigante que comprova a Bíblia”…

Todos eram “hoaxes”. Porém, com didatismo e boa vontade, eu pacientemente respondia aos irmãos qual a correta visão bíblica, e lhes recomendava não repassarem tais coisas… Que o mundo ria de nós… E que o Evangelho não precisava disseminar mentiras para propagar a fé… O resultado? Perdi amizades de irmãos que se sentiram ofendidos com a exposição da verdade.

Se lá no passado os nossos irmãos bereianos colocavam à prova alguém com a credibilidade de um Paulo, será que hoje eles iriam receber – sem checar – as coisas que aquele “tio”, ou aquela “tia” gostam de mandar no grupo da família?

Aquilo que não resiste ao exame não pode expressar a verdade.

É enganoso o vídeo que mostra a UTI do Hospital Couto Maia de Salvador com leitos vazios

Um vídeo que circula desde o último 22 de abril em grupos de Whatsapp de igrejas e de pessoas cristãs, no Youtube e em perfis do Facebook e do Twitter, denuncia que uma enfermeira de nome Sandra M. Guerra teria sido demitida do Hospital Couto Maia em 21 de abril, porque publicou na internet um vídeo que mostra instalações da UTI de Referência para Tratamento de Coronavírus naquele hospital vazias.

A mensagem de Whatsapp que circula é:

No Youtube, o vídeo foi publicado, em 22 de abril, no Canal Jorvideo News, com a mesma chamada:

“A enfermeira Sandra M. Guerra, foi demitida no início da noite por ter ingenuamente divulgado imagens da UTI Referência Do Vírus Chinês do Hospital Couto Maia no dia de hoje, 21/04/2020. Não foi por exposição dos pacientes (ela teve essa preocupação). Foi simplesmente por mostrar as instalações vazias”.

No Twitter, o vídeo foi publicado, em 22 de abril, pelo perfil C18H26CIN3 @semfronteira64, com bio redigida em hebraico אלוהים הוא בשליטה [Deus está no controle]. A postagem tem a mesma chamada:

“A enfermeira Sandra M. Guerra, foi demitida no inicio da noite por ter ingenuamente divulgado imagens da UTI Referência Do Vírus Chinês Do Hospital Couto Maia no dia de hoje, 21/04/2020. Não foi por exposição dos pacientes Foi simplesmente por mostrar as instalações vazias”.

O Hospital Couto Maia

O Instituto Couto Maia, da rede pública do Estado da Bahia, passou a atender exclusivamente pacientes com suspeita de coronavírus, desde março passado. Em 23 de março, a diretora-geral do Couto Maia, a médica-infectologista Ceuci Nunes, declarou que ao todo, a unidade dispõe de 120 leitos, mais doze de observação: “E todos agora são dedicados ao coronavírus. Nós fizemos várias modificações na unidade, para comportar esse atendimento. Fizemos modificação de fluxo de entrada e saída de pacientes, modificações na estrutura para instalar leitos de UTI”, disse ao site de notícias da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.

A diretora, na entrevista, completou que é importante que haja hospitais dedicados exclusivamente ao coronavírus. “Como a gente viu, pela experiência internacional, o Covid-19 é muito transmissível e nós teremos um grande número de pessoas contaminadas. A maioria dessas pessoas, cerca de 80%, não ficará em estado grave e não vai precisar de ficar em respiradores. Mas muita gente vai precisar de leitos de UTI e isso pode levar a grandes problemas no sistema de saúde e é por isso que a gente dedicou esse hospital, assim como outros, ao coronavírus”. Ela também destaca que, como a transmissão é muito grande e o ICOM era um hospital de doenças infecto-contagiosas, “os pacientes de outros diagnósticos estão com a imunidade baixa e não podem ser expostos ao coronavírus”.

Em 21 de abril, em entrevista ao Jornal da Manhã (Rede Globo Bahia), o secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas Boas, afirmou que o sistema de saúde do estado deve ter capacidade para receber pacientes até o início de junho, caso a curva de contágio se mantenha com crescimento de 9% ou 10% ao dia.

Em boletim divulgado em 22 de abril, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia registrou 1.645 casos confirmados de coronavírus em todo o Estado, com 405 pacientes recuperados, 53 mortes, 291 pessoas internadas, sendo 61 em UTI, com 50% de ocupação de leitos em todo o Estado.

Até essa data, o governo do estado havia disponibilizado 1.135 leitos exclusivos para o tratamento da doença, sendo 429 deles de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A promessa é de que o número total chegará, nas próximas semanas, a 2.418 leitos de referência. Destes, 1.399 estarão localizados em Salvador, com outros 1.019 distribuídos pelo interior do estado.

A taxa de crescimento está abaixo dos 15%, de modo que Tereza Paim, subsecretaria de saúde do estado, considera o estado da Bahia como um exemplo positivo de combate ao vírus no país.

Fonte: Jornal da Manhã

O vídeo da enfermeira do Couto Maia

Na noite do mesmo dia, 22 de abril, em que o vídeo-denúncia de que havia leitos vazios na UTI passou a ser divulgado, a diretora-geral do Instituto Couto Maia, Dra. Ceuci Nunes, publicou em seu perfil do Facebook uma mensagem desmentindo o conteúdo:

 “Estão mandando este vídeo gravado dia 21/03 por uma enfermeira nossa, mostrando a primeira ampliação de leitos da uti que fizemos. Abaixo uma informação com um nome que não corresponde ao nome da enfermeira, dizendo que foi demitida por mostrar leitos vazios. Hoje os leitos estão todos cheios. Fake absurda. Se recebeu desminta por favor. Grata, Ceuci Nunes – Diretora do ICOM”

O jornalista Angelo Ringon, do Maringá News, checou o nome da enfermeira que fez o vídeo quando o hospital havia terminado de preparar o aparato para atender pacientes, em 21 de março. É a enfermeira Maria das Graças Santos e não foi demitida.

Nesta checagem o Coletivo Bereia conclui que as mensagens que circulam em mídias sociais com vídeo que mostram leitos vazios na UTI do Instituto Couto Maia em Salvador são enganosas. Uma mensagem padrão foi produzida e alcançou vários grupos e perfis, fazendo uso de um vídeo publicado na rede em 21 de março, um mês antes desta divulgação. A postagem enganosa expôs um nome de pessoa que não corresponde à autora das imagens, mostra leitos que, de fato estavam vazios pois ainda não estavam em operação, e inseriu a falsa informação de que a enfermeira que fez o vídeo foi demitida por divulgá-lo. Este conteúdo desinforma pois busca induzir os receptores a desacreditarem da gravidade da Covid-19 e desconsiderarem os números divulgados, o que pode custar a saúde e a vida de muitas pessoas.

A diretora-geral do Couto Maia Dra. Ceuci Nunes publicou no dia 23 de abril um desabafo em seu perfil no Facebook:

Bereia alerta leitores e leitoras sobre a importância de se verificar sempre, antes de compartilhar, mensagens que não têm autoria, não indicam a fonte (quem produziu e deve se responsabilizar pela informação).  O perfil do Twitter que divulgou este material enganoso, C18H26CIN3 @semfronteira64, com bio redigida em hebraico אלוהים הוא בשליטה [Deus está no controle], é exemplo significativo de perfis criados exclusivamente para divulgação de material desinformativo: não se identifica, aparece como um número, tem username genérico e simbólico (64), foi criado em 2019 e só publica notícias, todas desinformativas.

Já o canal do Youtube Jorvideo News não se identifica no aplicativo e não tem um histórico de exibição que corresponda a “news” (notícias). Este canal está inscrito no Youtube desde 2007, não tem vídeos próprios e tem apenas nove vídeos desde 1 de outubro de 2019, oito relacionados a filmes de entretenimento na língua inglesa, uma comédia completa e sete trailers de filmes de ação, mais a postagem sobre a “enfermeira demitida”. O nome “news” dá caráter de seriedade ao canal (notícias) e inspira pessoas afeitas a receber desinformação de fontes não credenciadas. 

Bereia classifica estas fontes do Twitter e do Youtube como não confiáveis.

Atualização do caso em 27 de abril de 2020

O jornal Folha de S. Paulo publicou em 27 de abril de 2020, reportagem sobre este caso, com foco na atuação da enfermeira do hospital Couto Maia (Salvador/BA) Ana Cássia Tupiniquim, de 51 anos, que fez o vídeo originalmente divulgado em 21 de março. Ana Cássia não foi demitida e relata o incômodo de ter o vídeo que produziu para animar pessoas no enfrentamento da pandemia ser usado para espalhar mentiras para negar a gravidade da situação que ela enfrenta diariamente. 

Referências de Checagem:

Instituto Couto Maia já atua exclusivamente para pacientes com coronavírus. Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Estado de Saúde. Notícias, 23 mar 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/03/23/instituto-couto-maia-ja-atua-exclusivamente-para-pacientes-de-coronavirus/ Acesso em 23 abr 2020

Bahia tem 1.645 casos confirmados de Covid-19. Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Estado de Saúde. Notícias, 22 abr 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/04/22/bahia-tem-1-645-casos-confirmados-de-covid-19/. Acesso em 23 abr 2020

Hospitais Couto Maia e Ernesto Simões têm 54% dos leitos de UTI ocupados: ‘Ficar em casa ajuda a evitar óbitos’, diz subsecretária. G1 BA, 20 abr 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/04/20/com-70percent-dos-leitos-de-uti-ocupados-na-bahia-subsecretaria-de-saude-faz-alerta-ficar-em-casa-ajuda-a-evitar-obitos.ghtml Acesso em 23 abr 2020

Bahia terá 2.418 leitos de referência para atendimento exclusivo a pacientes com coronavírus. Governo do Estado da Bahia, Secretaria de Estado de Saúde. Notícias, 22 abr 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/2020/04/18/bahia-tera-2-418-leitos-de-referencia-para-atendimento-exclusivo-a-pacientes-com-coronavirus/ Acesso em: 23 abr 2020

Coronavírus: Secretário de saúde do estado fala sobre taxa de ocupação dos leitos de UTI. Jornal da Manhã, Vídeos G1. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/edicao/2020/04/22/videos-jm-de-quarta-feira-22-de-abril-de-2020.ghtml. Acesso em 23 abr 2020

Pura maldade. Blog do Angelo Rangoni. Maringá News, 22 abr 2020. Disponível em https://angelorigon.com.br/2020/04/22/pura-maldade-2/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=pura-maldade-2. Acesso em 23 abr 2020

Na linha de frente contra o coronavírus, tem que ter sangue no olho, diz enfermeira alvo de fake news, por João Pedro Pitombo. Folha de S. Paulo, 27 abr 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/amp/cotidiano/2020/04/na-linha-de-frente-contra-o-coronavirus-tem-que-ter-sangue-no-olho-diz-enfermeira-alvo-de-fake-news.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=comptw&__twitter_impression=true Acesso em: 27 abr 2020.