Vigília pela Terra reúne espiritualidades, movimentos sociais e arte no Rio

Vigílias pela Terra, uma mobilização inter-religiosa promovida pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER), em parceria com comunidades e organizações da sociedade civil, entre elas o Bereia, teve lugar no último sábado, 30 de agosto, no Largo da Candelária, no centro do Rio de Janeiro., recebeu o evento. A iniciativa tem como objetivo fortalecer ações no enfrentamento à crise climática a partir da união de diferentes tradições de fé, movimentos sociais, coletivos e artistas.

A programação começou às 15h e contou com apresentações do Jongo da Serrinha, Kaê Guajajara, Xangai, Coral Guarani da Aldeia de Mata Bonita, Ana Bispo, Bela Ciavatta, Doralyce, Hugo Ojuara, Edgar Duvivier, Olivia Byington, entre outros nomes.

As Vigílias pela Terra marcam os 33 anos da primeira Vigília Inter-religiosa “Um Novo Dia para a Terra”, realizada durante a ECO-92, no Aterro do Flamengo, que reuniu cerca de 30 mil pessoas, incluindo lideranças como Dalai Lama, Dom Helder Câmara e Mãe Beata de Iemanjá.

A mobilização também foi espaço de encontros pessoais e coletivos. A evangélica Joyce Santos de Oliveira, membro da Primeira Igreja Batista de Duque de Caxias (RJ) e integrante do movimento “Nós na Criação”, destacou a riqueza do diálogo inter-religioso. “Eu estou gostando muito. Acho que é uma oportunidade única de ter contato com outras expressões de fé. Sou cristã-evangélica e aqui estou tendo contato com pessoas de outras religiões. Outras experiências religiosas, diferentes da minha, também estão com esse objetivo de lutar por justiça climática, lutar pela causa ambiental, e isso é muito importante”.

A doutoranda em teologia pela PUC-Rio e ativista climática católica Suzana Regina Moreira falou sobre o convite para participar com uma apresentação lúdica em pernas de pau no evento, ela integra a comunidade “Pernalta” do Rio de Janeiro. “Pensar em justiça climática em toda a sua perspectiva integral tem que apelar pelo lúdico. Para manter a força da luta, a gente tem que saber brincar também e criar energia diante de tanta complexidade. Foi lindo trazer colegas de diferentes coletivos de circo e ver a diversidade de pessoas brincando e se encantando. Isso ajuda a recuperar a fé na esperança, que é o que está nos faltando”, afirma a teóloga. 

Imagem: Suzana Moreira durante Vigília pela Terra Rio de Janeiro. Foto: Luis Henrique Vieira/Bereia

Suzana Moreira contou ainda que sua dedicação ao tema começou há cerca de dez anos, inspirada pela Encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco. “Transformou totalmente minha vida. Eu comecei a me dedicar à mobilização pela justiça climática muito através do movimento Laudato Si, do qual faço parte”.

Para pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Lusmarina Campos Garcia, que também é doutora em Direito pela UFRJ e pesquisadora na mesma instituição, o evento também é um resgate histórico. “Esse evento é fundamental porque faz memória ao que realizamos em 1992, quando ajudei a organizar. Mostra que a complexidade religiosa, quando se junta, pode fazer diferença. É um testemunho de que juntos conseguimos cuidar da Terra”, ressalta. 

Imagem: pastora Lusmarina com a jornalista Viviane Castanheira. Foto: Luis Henrique Vieira/Bereia

A pastora criticou a lógica de exploração que, segundo ela, distorce o próprio sentido da criação divina. “O que vemos é resultado de uma mentalidade exploratória, que se aprofunda com o sistema neoliberal. Isso é uma distorção hermenêutica da palavra de Deus. Quando não entendemos que a criação é nossa casa comum e lugar do nosso cuidado, negamos a própria criação de Deus”.

Caminho até a COP 30

O diretor adjunto do ISER, Clemir Fernandes, afirma que a vigília cumpriu com êxito seu objetivo. “E foi além, ao reunir tantas diferentes representações como católicas, evangélicas, espíritas, umbanda e candomblé, indígenas, budistas, islâmicas, judaicas, wicca, xamânicas, santo daime e mais, além de artistas diversos, todos comprometidos com a defesa ambiental na luta por justiça climática. Um público também plural, inclusive etário, desde crianças até idosos, e tudo num clima muito saudável, de fé e esperança”. 

No próximo sábado, 6 de setembro, a cidade de Manaus (, AM), será a anfitriã das Vigílias pela Terra, seguida por Natal, RN (13/09), Recife, PE (11/10) e Belém, PA (13/11). O evento já passou por  outras regiões do Brasil. Em abril, aconteceu na abertura do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília (DF) e depois seguiu para Porto Alegre, RS.

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