Editora-geral do Bereia discute sobre fundamentalismos, crise da democracia e ameaça aos direitos humanos na América do Sul
Com a participação da editora-geral do Bereia Magali Cunha, a Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, ligada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), promoveu em 4 de novembro o Seminário de Altos Estudos “Fundamentalismos, crise da democracia e ameaça aos direitos humanos na América do Sul”. O evento faz parte da programação da instituição que busca incentivar o livro, a leitura e o debate de temas literários e acadêmicos.
Na apresentação de Magali Cunha, ela destacou a forma como o avanço dos fundamentalismos passa a ser um fenômeno social das últimas duas décadas que vai além da dimensão religiosa, adquire um perfil mais diversificado e assume um caráter político, econômico, ambiental e cultural. Conforme comentou, “fundamentalismos precisam ser entendidos não como um rótulo de conservadorismos extremos, mas como uma visão de mundo, uma interpretação da realidade, de uma matriz religiosa, que é recurso discursivo e de posturas também de quem não tem vínculo religioso. Esta visão de mundo orienta ações políticas, que fragilizam os processos democráticos e os direitos, especialmente os sexuais e reprodutivos e os das comunidades tradicionais, também as políticas de valorização da pluralidade”.
Outro aspecto que a pesquisadora chamou à atenção foi que a desinformação, popularmente denominada “fake news”, é estratégia-chave nos discursos dos fundamentalismos, com vistas ao convencimento do público. Segundo sua análise, “esta retórica usa o pânico moral, como é frequentemente checado pela equipe do Bereia, baseado no medo e no uso obrigatório da desinformação, principalmente notícias falsas, uma linguagem que gera identificação popular com padrões reacionários”.
Magali Cunha considera importante que temas como esses façam parte das pautas públicas, bem como de instituições que atuam no enfrentamento dos fundamentalismos e do desrespeito aos direitos humanos. “É preciso que ativistas por direitos nas mais diversas frentes, identifiquem com cuidado o lugar que a religião tem ocupado no cotidiano e na cultura, não apenas na política. É preciso admitir que a religião não cumpre um único papel, mas que seus papéis são plurais, e saber lidar com eles, valorizá-los para a superação dos retrocessos do uso da religião pelos grupos reacionários”, alerta.
Imagem de capa: Michal Jarmoluk / Pixabay