1 ano: Sites religiosos e ativistas digitais que propagam desinformação

O Bereia completou um ano de atuação em 31 de outubro de 2020. Como parte deste marco tão importante, é apresentado um aprofundamento de levantamento publicado em junho de 2020 com um balanço das verificações realizadas pelo coletivo durante esse período.

Foram levadas em consideração todas as publicações da seção “Verificamos” do site Bereia, que se referem à checagem de veracidade de conteúdos informativos sobre religião que circulam em espaços digitais, encontrados pela equipe do coletivo ou indicados por seguidores/as (textos analíticos da seção Areópago não foram considerados). No total, nos doze meses de atuação do Coletivo Bereia (outubro de 2019 a outubro de 2020) foram realizadas 133 verificações de conteúdos, distribuídas conforme o gráfico a seguir:

Fonte: Coletivo Bereia

No que diz respeito ao conteúdo qualitativo dessas checagens, serão expostos a seguir dados quanto à classificação do tipo de informação aos temas e às fontes de informação mais recorrentes nos conteúdos avaliadas.

Classificação por tipo de informação

Fonte: Coletivo Bereia

Há pouca variação entre os dados de classificação apresentados na análise realizada em junho passado. Mais da metade das matérias publicadas por Bereia (60%) ainda concluem que os conteúdos verificados são falsos e enganosos. Pouco mais de 20% ainda representam conteúdos imprecisos e inconclusivos, ou seja, que não apresentam fundamentos para a informação transmitida ou não apresentam recursos necessários para a avaliação de sua veracidade. E apenas 19,20% são confirmadas como verdadeiras.

Temas abordados

Fonte: Coletivo Bereia

Neste aspecto, é possível notar algumas alterações em relação à última análise. Desta vez, o conteúdo que mais se destaca na base de dados como o mais citado é Política Brasileira, com 25,20% dos casos verificados. Na sequência, está “Perseguição Religiosa”, representando 21,26% das notícias e em terceiro, com percentual de 20,47%, está Saúde (com ênfase em coronavírus), que aparecia como o assunto mais citado na última avaliação. Tal fato pode ser atribuído a redução dos casos da COVID-19 no âmbito nacional e a diminuição do espaço de divulgação de informações sobre a pandemia nas mídias. Além disso, o fato de 2020 ser um ano de eleições municipais, o tema se destaca ainda mais no dia a dia da população informações relacionadas ao cenário político.

Fontes de desinformação mais citadas

Fonte: Coletivo Bereia

Quanto as fontes de desinformação mais recorrentes nas verificações do Bereia, o Twitter ainda se destaca como a principal, representando um percentual de 23,47 % nas matérias produzidas. Outras mídias sociais como WhatsApp e Facebook, além da categoria “Mídias digitais variadas” utilizada quando a informação não parte de uma mídia específica, mas para um conjunto delas, são ressaltadas na visualização de dados. Juntas, as plataformas de mídias digitais representam quase 60% das fontes de informação de conteúdos verificados pelo coletivo. Isto remete mais uma vez para o alerta do tipo de informação publicada nestas plataformas, que contam com critérios ainda pouco efetivos para o enfrentamento da desinformação.

As demais fontes são de sites religiosos de notícias, que recorrentemente publicam conteúdo que representam mais uma defesa de suas ideologias e valores morais. Destaca-se o portal Pleno News, como aquele que mais ofereceu material para ser verificado, seguido do Gospel Prime, do Gospel Mais, do CPAD News e do Conexão Política como os espaços digitais com vinculação religiosa que mais produzem desinformação.

Bereia reafirma um alerta aos leitores, para que não deem crédito ou compartilhem informações que não estejam fundamentadas em dados ou tenham sido expostas em veículos de informação não credenciados. O Bereia, neste um ano de atividades, renova o compromisso de atuar pela informação verdadeira e responsável e se dispõe como parceiro de maneira cada vez mais presente, colaborando a partir da metáfora bíblica de “separar o joio do trigo”, pelos próximos longos anos que espera servir.

Confira o balanço e perspectivas no enfrentamento à desinformação em espaços religiosos

Como parte das comemorações do aniversário de 1 ano do Bereia, foi realizada uma live através do Facebook com o balanço de atividades e novas perspectivas no enfrentamento à desinformação em espaços religiosos. Confira o vídeo abaixo:

Aos pastores, pregadores da verdade, e aos impostores, propagadores de fake news

Por favor, não ousem colocar na conta de Deus suas predileções políticas. Não se atrevam a dizer que foi o Espírito Santo quem lhes mandou trabalhar pela eleição de Bolsonaro.Vocês não percebem que com isso a igreja só faz perder cada vez mais sua credibilidade ante a sociedade? 

Durante o último processo eleitoral, o autointitulado apóstolo Renê Terra Nova, o mesmo que organizou um batismo no Rio Jordão em que os fiéis formavam o número 17, “decretou” no mundo espiritual a vitória de seu candidato. Quanta sandice! Desde quando Deus se dobra aos nossos decretos? Chega a soar blasfemo. Enquanto isso, uma enorme ferida se abre no Corpo de Cristo (a igreja), aumentando exponencialmente o número de desigrejados. 

Que WhatsApp que nada! As igrejas se tornaram a principal fábrica de Fake News. 

Mentiras foram ditas nos púlpitos sem o menor constrangimento. Quem quer que tenha certo conhecimento se nega a continuar frequentando esses comitês eleitorais disfarçados de igreja. Pastores chantagearam seu rebanho, ameaçando excluir membros que se negassem a votar em Bolsonaro. Afirmaram que se o candidato oponente vencesse igrejas seriam fechadas, crianças seriam erotizadas nas escolas, pastores seriam forçados a celebrar casamentos gays e o Brasil se tornaria uma Venezuela.

Será que se esqueceram quem é o pai da mentira? 

Haviam grupos de pastores no whatsApp onde a mentira corria solta. Alguns trocavam fichinhas entre si para ver quais as Fake News da vez que deveriam ser contadas no culto seguinte. Não digo que o faziam conscientemente. A maioria, enganada, acreditava que finalmente teriam “um dos nossos” lá, defendo os valores nos quais hipotecamos nossa fé. 

Curiosamente, as mesmas correntes evangélicas que apoiaram o Bolsonaro aqui, são as que apoiaram Donald Trump nos Estados Unidos, com a mesma fábrica de fake news comandada por Steve Bannon.

No site da Unisinos, há um artigo que diz que Bannon estaria na Europa para fazer a mesma coisa: dividir a sociedade do velho continente, inserindo o nazifascismo. Na Itália, conspira contra o Papa. Por onde passa deixa um rastro de ódio e preconceito. 

Pelo menos, tudo o que está ocorrendo no Brasil serve para nos mostrar que o país segue sendo um grande campo missionário. E não me refiro aos milhões de desigrejados que deixaram suas igrejas por não aceitarem esta versão pervertida do Evangelho diluída no discurso fascista. Refiro-me aos tantos que ainda se mantêm nessas igrejas por se alinharem a este discurso. 

Indubitavelmente, o Brasil precisa urgentemente conhecer o evangelho do amor.