Pai de santo e outros líderes não cristãos estiveram no ato por perdão judicial a participantes dos ataques ao processo eleitoral de 2022

 

Entre as publicações sobre a manifestação realizada na Avenida Paulista, em 6 de abril passado, por perdão judicial a participantes dos ataques ao processo eleitoral de 2022, em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), viralizaram nas mídias sociais imagens sobre a presença de um pai de santo. 

A participação do religioso repercutiu nas redes digitais e na imprensa, e gerou surpresa e debates sobre a veracidade de sua presença e da diversidade de perfis líderes de outras religiões presentes no ato, comumente identificado como de cristãos da extrema-direita. 

A participação do pai de santo Sérgio Pina, líder de um terreiro localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ), foi confirmada pelo Bereia. Pina é conhecido nas mídias sociais como “o pai de santo da cantora Anitta”.

Imagem: Reprodução Instagram Metrópoles

Sérgio Pina fez diversas publicações em seu perfil no Instagram, e registrou sua presença no ato. Em uma das postagens, ele fala em nome dos fiéis do Candomblé e afirma que estão unidos “em prol da liberdade”. “Vamos encontrar um movimento ordeiro, como sempre foi, pacífico, em prol da liberdade”, declarou. “Nós, candomblecistas, umbandistas, espiritualistas de uma forma geral, estamos unidos em prol da liberdade, de um Brasil melhor, de anistiar e libertar aqueles que estão sendo injustamente tratados”, acrescentou o religioso.

Entre as publicações, há um vídeo em que o pai de santo aparece ao lado de Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). No registro, Bolsonaro afirma que a presença do religioso o enche de alegria e agradece sua “posição corajosa”.

Ao final do vídeo, Michelle Bolsonaro também se pronuncia: “Deus não faz acepção de pessoas. Neste momento, estamos todos juntos: cidadãos de bem, homens e mulheres lutando pela anistia humanitária. Aqui é independente de religião, de raça, independente de opção sexual. Estamos todos juntos, brasileiros, em prol da anistia humanitária, em prol da liberdade da nossa nação”, disse.

Imagem: Reprodução Instagram de Sergio Pina

Lideranças de ao menos quatro religiões participam de manifestação

Além de Sérgio Pina, outras lideranças religiosas marcaram presença no ato. Entre elas  vários pastores evangélicos, o padre católico Sandro Salvina e o rabino Sany Sonnenreich.

Kelmon L. Souza, agora filiado ao Partido Liberal, também marcou presença na Paulista. O autointitulado padre ficou conhecido dos brasileiros quando foi candidato à Presidência da República em 2022 pelo PTB. Em seu perfil no Instagram, o ex-candidato publicou diversos registros sobre o evento.

Imagem: Kelmon ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a manifestação em 06 de abril de 2025. Reprodução: Instagram

Apesar da tentativa de transmitir uma imagem de apoio inter-religioso, a participação desses religiosos na manifestação não pode ser classificada como  “ecumenismo”. O termo foi utilizado em vários comentários em mídias sociais em relação à presença multi-religiosa no palanque na Avenida Paulista. Na avaliação de especialistas em religião, ouvidos pelo Bereia, havia no evento apenas a presença de líderes de quatro grupos religiosos diferentes manifestando apoio,  como pessoas físicas, às reivindicações dos manifestantes. Elas  não representam confissões religiosas, mas expressam publicamente sua opinião, à exceção de certos pastores que são presidentes de suas igrejas, como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, um dos organizadores do ato.

De acordo com o bispo da Igreja Anglicana em Santa Maria–RS Francisco de Assis Silva, ouvido pelo Bereia, a cena oferece uma ótima reflexão sobre o fenômeno que pode ser classificado como “distopia: algo que aparenta ser, mas não é”. 

O bispo explica: “Em um mesmo palanque estão três figuras que encerram em si, a representação de três distintos universos religiosos. Um padre, mesmo que tenha sido identificado como ‘padre de quadrilha junina’; um pastor, amplamente reconhecido, e um pai de santo, que alcançou fama após ser identificado como guia espiritual da famosa cantora Anitta”, ressalta o bispo anglicano se referindo ao religioso autodenominado padre Kelmon, que ganhou o apelido em um dos debates do período eleitoral, ao pastor Silas Malafaia e ao pai de santo Sérgio Pina. 

“Religiosamente diferentes, mas unidos por uma causa política. Comunhão inter-religiosa? Definitivamente não! A única comunhão entre os três se dá na adesão manifesta a um projeto político fascista. As manifestações foram completamente individuais e tiveram um propósito: demonstrar que Bolsonaro é capaz de unir lideranças religiosas diferentes”, explica Francisco Silva.

Para o líder da Igreja Anglicana, há uma particularidade nessa “união” de três credos distintos na Paulista: “É a contradição de que os três representam grupos que se confrontam dentro do mercado religioso, através de mútuas intolerâncias. É o tipo de cena construída com o propósito de exibir que diferentes religiões podem se dar as mãos e selar uma conveniente aliança política. Somente isso. Para mim, isto é o cúmulo da distopia”.

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Bereia confirmou a veracidade da presença de um pai de santo, Sérgio Pina, no ato por perdão judicial de pessoas  envolvidas nos ataques de 8 de janeiro de 2023. As postagens em seu perfil foram verificadas, assim como os registros em vídeo ao lado do ex-presidente Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A presença de outras lideranças também é documentada por imagens publicadas nas redes dos próprios participantes e por matérias jornalísticas sobre o evento.

As declarações do pai de santo Sérgio Pina, durante sua participação no ato, reacendem debates sobre a presença de lideranças de religiões de matriz africana e de outras religiões em espaços políticos historicamente ocupados cristãos identificados como ultraconservadores na política.

Referências:
Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/tags/8-de-janeiro – Acesso em 08 de abril de 2025. 

Folha de S. Paulo. https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2025/04/pai-de-santo-de-anitta-participa-de-ato-de-bolsonaro-na-paulista.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha. Acesso em 08 de abril de 2025. 

Metropoles. https://www.metropoles.com/colunas/igor-gadelha/bolsonaro-leva-pai-de-santo-padre-e-rabino-para-ato-pro-anistia-em-sp#google_vignette. Acesso em 08 de abril de 2025. 

CNN Brasil. https://www.cnnbrasil.com.br/politica/padre-kelmon-participa-de-manifestacao-pela-anistia-na-avenida-paulista/. Acesso em 08 de abril de 2025. 

Revista Oeste. https://revistaoeste.com/politica/ato-pela-anistia-une-pastor-padre-rabino-e-pai-de-santo/. Acesso em 08 de abril de 2025.

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/a-intolerancia-religiosa-e-um-problema-grave-no-brasil-o-que-fazer/. Acesso em 08 de abril de 2025.

Coletivo Bereia. https://coletivobereia.com.br/balanco-janeiro-2025-politicos-religiosos-e-veiculos-jornalisticos-publicam-falsidades-sobre-acordo-em-torno-de-terras-indigenas/. Acesso em 14 de abril de 2024. 

Balanço Janeiro 2025: Políticos religiosos e veículos jornalísticos publicam falsidades sobre acordo em torno de terras indígenas

Durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, entre 20 a 24 de janeiro de 2025, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e a multinacional brasileira Ambipar firmaram um protocolo de intenções voltado às emergências climáticas e o desenvolvimento sustentável em terras indígenas. A empresa, especializada em soluções ambientais, para governos, empresas e organizações da sociedade civil, anunciou o acordo para a mídia especializada na cobertura de economia e negócios como um trunfo recém adquirido. 

De imediato, uma enxurrada de publicações da oposição, de políticos religiosos, e até mesmo de veículos não classificados como extremistas, disseminaram informação falsa, com a noção de que o governo federal havia repassado a administração das terras indígenas, 14% do território nacional, à iniciativa privada. Se tal procedimento tivesse acontecido de fato, seria uma ilegalidade pois contrariaria a Constituição Federal.

Uma das figuras públicas que ainda propaga mentiras sobre o assunto é o ex-candidato à presidência da República em 2022, o religioso Kelmon L. Souza, filiado ao Partido Liberal. O autointitulado padre insistiu na divulgação das falsidades mesmo após a nota de esclarecimento do MPI e de matérias da imprensa explicarem a natureza do acordo. Até o fechamento desta matéria, o político havia publicado mais de cinco vídeos com conteúdo falso sobre o acordo. 

Kelmon argumenta que a comprovadamente falsa “transferência da administração” representaria uma ameaça à soberania nacional, pois mais de um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas passariam a ser controlados por uma empresa privada. O primeiro vídeo foi publicado em 24 de janeiro, foi denunciado e não está mais no ar. 

Imagem reprodução do Instagram

O deputado federal evangélico Filipe Barros (PL-PR), ex-líder da oposição na Câmara, também fez uma série de publicações em seus perfis de mídias sociais com falsidades sobre o tema. Ele disse ainda que iria protocolar pedido de explicações ao governo e ao MPI sobre a parceria.

Além de Barros, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) tem propagado a ideia de que há algo irregular na parceria. 

Imagem: Reprodução Instagram Filipe Barros

Não foram apenas políticos da extrema direita que propagaram e amplificaram a divulgação do conteúdo enganoso, sites de notícias como Metrópoles e O Antagonista também criaram chamadas sensacionalistas sobre o acordo firmado entre o MPI e a Ambipar. 

“Acordo secreto do governo com multinacional envolve 1,4 milhão de km² de terras indígenas”, dizia a manchete de O Antagonista. Entretanto, é notório que a parceria não foi secreta, pelo contrário, foi amplamente divulgada, inclusive em entrevistas com executivos da Ambipar, como a concedida à CNN Brasil, pela diretora de Carbon Solutions da empresa Soraya Pires. 

Imagem: Reprodução do perfil no Instagram do portal Metrópoles

Imagem: Reprodução site O Antagonista

O que é um Protocolo de Intenções?

De acordo com o site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, órgão do governo federal, o Protocolo de Intenções “é o instrumento formal utilizado por entes públicos para se estabelecer um vínculo cooperativo ou de parceria entre si, que tenham interesses e condições recíprocas ou equivalentes, de modo a realizar um propósito comum (…) se diferencia de convênios, contratos de repasse e termos de execução descentralizada pelo simples fato de não existir a possibilidade de transferência de recursos entre os partícipes”. 

“(É) um ajuste genérico, sem obrigações imediatas. Trata-se de um documento sucinto, que não necessariamente exige um plano de trabalho ou um projeto específico para lhe dar causa, sendo visto como um mero consenso entre seus partícipes, a fim de, no futuro, estabelecerem instrumentos específicos acerca de projetos que pretendem firmar, se for o caso”, explica o site.

Entenda o caso do protocolo do MPI

A parceria firmada entre o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e a Ambipar, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, trata-se de um compromisso preliminar estabelecido por meio de um Protocolo de Intenções. “Esse instrumento, amplamente utilizado na gestão pública, não implica transferência de verbas públicas ou de responsabilidades do Estado. Diferentemente do que peças de desinformação propagam, o acordo não configura concessão de terras indígenas, não dependendo de licitação ou concorrência para tal”, esclarece a nota divulgada pelo governo acerca do acordo

De acordo com o MPI, esta parceria faz parte da estratégia do ministério de incluir o setor privado na responsabilização global da preservação das terras indígenas Ele abrange iniciativas que incluem suporte técnico para capacitação em prevenção e resposta a eventos extremos, desastres e combate a incêndios, reflorestamento de áreas desmatadas, desenvolvimento de projetos de bioeconomia, conservação e educação ambiental, além da promoção da economia circular e da gestão eficiente de resíduos sólidos. 

“O protocolo em questão tem como foco a assunção de compromissos e iniciativas, e representa um caminho para qualificar e fortalecer a gestão territorial indígena, oferecendo serviços e tecnologias de mais qualidade que só serão utilizados se estiverem previstos nos Planos de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PGTAs) e contarem com o consentimento dos povos de cada território, respeitando a consulta livre, prévia e informada”, informa a nota.

Algumas ações previstas:

  • Projetos de conservação e recuperação ambiental;
  • ⁠Promoção da economia circular;
  • ⁠Gestão, destinação e disposição de resíduos sólidos;
  • ⁠Suporte técnico para prevenção e respostas a eventos extremos e desastres como incêndios, enchentes, entre outros;
  • Reflorestamento de áreas desmatadas e projetos de bioeconomia e serviços ecossistêmicos.

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Bereia classifica o conteúdo dos vídeos divulgados por políticos cristãos como falso, pois há um protocolo de intenções, porém com termos deliberadamente distorcidos para criar alarde sobre alienação inexistente de terras indígenas. 

Bereia chama a atenção para a insistência destas personagens de continuar produzindo e publicando sequencialmente conteúdos sobre o tema com mais falsidades, ainda que haja amplo esclarecimento oficial disponível sobre o tema. 

Além disso, esse conteúdo desinformativo já checado e amplamente divulgado como falso por diferentes portais de checagem é mantido e reverberado por essas lideranças , o que configura falta de compromisso com a verdade dos fatos

Como verificado pelo Bereia, o acordo firmado pelo MPI com a empresa Ambipar trata de um compromisso preliminar estabelecido por meio de um Protocolo de Intenções. Esse instrumento, amplamente utilizado na gestão pública, não implica transferência de verbas públicas ou de responsabilidades do Estado. Ninguém vendeu, alugou ou cedeu as terras indígenas brasileiras para uma empresa privada. Não é verdade que o governo federal, por meio do Ministério dos Povos Indígenas, tenha transferido a gestão dessas terras para a iniciativa privada. 

É importante lembrar que a Constituição Federal determina que as terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas são imprescritíveis. Portanto, além de falsa, a informação que circula desde do fim de janeiro, não tem qualquer respaldo jurídico. 

Referências:

EBC

https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake/noticias/2025/01/governo-federal-nao-esta-transferindo-gestao-de-terras-indigenas-para-iniciativa-privada – Acesso em 12-2-25

https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202501/governo-federal-nao-transfere-gestao-de-terras-indigenas-para-iniciativa-privada – Acesso em 12-2-25

Planalto

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7747.htm – Acesso em 12-2-25

MPI

https://www.gov.br/povosindigenas/pt-br/assuntos/noticias/2025/nota-fake-news-sobre-parceria-firmada-pelo-ministerio-dos-povos-indigenas – Acesso em 12-2-25

CNPQ

https://www.gov.br/cnpq/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/parcerias/nacionais-1/protocolo-de-intencoes – Acesso em 12-2-25

CNN

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/negocios/ambipar-firma-acordo-com-governo-para-acoes-em-territorios-indigenas/ – Acesso em 12-2-25 

Estadão 

https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/gestao-14-territorio-nacional-terras-indigenas-enganoso/?srsltid=AfmBOorT3ZG7MQW3_tn6-pw42BU8Jnzv6sMzr488ajA3imFuZylsP4Lm Acesso em 12-2-25 

Fato ou Fake

https://www.aosfatos.org/noticias/governo-privatizacao-terras-indigenas-grupo-bilionario/ Acesso em 12-2-25 

Veja

https://veja.abril.com.br/brasil/ambipar-e-ministerio-fecham-parceria-para-apoiar-povos-indigenas-no-brasil – Acesso em 12-2-25

Uol

https://noticias.uol.com.br/comprova/ultimas-noticias/2025/02/03/video-engana-ao-afirmar-que-ministerio-entregou-terras-indigenas-a-empresa.htm – Acesso em 12-2-25

Lupa https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2025/02/04/governo-nao-cedeu-controle-de-terras-indigenas-para-empresa-privada – Acesso em 12-2-25

Lançamento do Foro do Brasil é marcado por ausência de público e desinformação

Na tarde de 29 de junho, dia em que a Igreja Católica celebrava São Pedro, o esvaziado auditório Nereu Ramos, da Câmara Federal, foi palco para o político Padre Kelmon (PTB) lançar o Foro do Brasil, junto de outros religiosos e políticos autodenominados conservadores, em tentativa de contrapor o 26º Encontro do Foro de São Paulo, marcado para o mesmo dia, em Brasília.

A defesa de pautas de políticas da extrema-direita se associou ao forte tom religioso do evento, dado pelas declarações recheadas de passagens bíblicas, apresentação de músicas cristãs, orações e depoimentos. O evento trouxe, para testemunhar, inclusive, um jovem político venezuelano que, de acordo com a organização, sofre perseguição política.

Um fato que marcou o lançamento do Foro foi a ausência de seus principais divulgadores. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, Bia Kicis (PL/DF), Carla Zambelli (PL/SP) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) convidaram o público por meio de suas mídias sociais, mas faltaram ao lançamento. Kicis e Zambelli enviaram vídeos com declarações de apoio ao evento, a primeira foi a um funeral e a segunda não justificou. Já o parlamentar carioca, segundo o deputado General Girão (PL/RN), não compareceu pois, no dia anterior ao evento, teve o celular roubado no Rio de Janeiro.

Se por um lado o público presente não conseguiu encher o pequeno auditório, a desinformação marcou presença no discurso do senador evangélico Magno Malta (PL-ES), um dos personagens frequentemente checados na seção Torre de Vigia do Bereia. Com duração de cerca de 40 minutos, a preleção mais longa do evento, notoriamente religiosa, foi repleta de afirmações falsas e dados incorretos.

Ataque à esquerda

O senador, logo no começo, utiliza, em seu discurso, estratégias de desinformação checadas pelo Bereia, como a “ameaça comunista” e a “cristofobia”. Na tentativa de incriminar a reunião do Foro de São Paulo  no Brasil, ele afirma que o evento receberia “ditadores inescrupulosos, negadores da fé, negadores de direitos, assassinos da moral alheia, esses que matam, homossexuais que perseguem cristãos, que fecham igrejas, eles verbalizam”. Em seguida, finaliza o trecho afirmando que os participantes do Foro de São Paulo desfrutam da estrutura de governo. Esta é uma informação fasa, pois, ao contrário do Foro do Brasil, que ocorre em um dos auditórios da Câmara Federal, sob o rótulo de “Reunião Técnica“, o Foro de São Paulo ocorre em local privado, no Hotel San Marco, às custas dos participantes.

Imagem: reprodução do site da Câmara dos Deputados

Economia

Magno Malta proferiu também  uma série de afirmações falsas e enganosas sobre a economia do País. Ele citou o fechamento de diversas empresas, aumento do desemprego e de falências para criticar o atual governo. A afirmação falsa fica por conta do desemprego: de acordo com dados do IBGE, o desemprego diminuiu 8,3% e chega à menor taxa do período desde 2015. Já as enganosas são as declarações sobre o fechamento e falência de empresas. O Brasil atingiu a marca de 1,3 milhão de empresas abertas nos primeiros quatro meses de 2023, contra 736,9 mil fechadas, o que deixa um saldo positivo de 594.963 CNPJs abertos em todo o país, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento. 

Já, quando Malta cita o aumento de pedidos de falência, o senador acerta, mas omite um fator fundamental para a saúde financeira das empresas: a alta taxa de juros definida pelo Banco Central. De acordo com diversos economistas, os juros altos aliados à restrição de crédito são um dos fatores que têm contribuído para o cenário atual. A taxa de 13,75% é defendida pelo presidente do Banco Central, Campos Neto, que, por sua vez, é alvo de elogios no discurso do senador. 

Sobre a pandemia, o senador nega, inclusive, a fome sofrida por cerca de 33 milhões de brasileiros durante o período, em semelhança a declaração dada pelo ex-presidente Bolsonaro, durante debate das eleições presidenciais em 2022, quando afirmou não ver pessoas passando fome no país.

Por fim, afirma que o deputado Lindbergh Faria (PT/RJ) teria dito que o “calabouço(sic) fiscal tem parte com capeta”. Bereia entrou em contato com a assessoria do deputado para confirmar a conversa, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta. 

Aula de Geoteologia?

Um fato curioso do evento veio no discurso do deputado federal General Girão. Logo no início, ele pediu que os presentes fechassem os olhos e “imaginem na parede”. Em seguida, pegou o microfone, caminhou até a parede ao fundo e, gesticulando, narrou a posição geográfica dos países sul-americanos e perguntou: “Quem está mais à direita no continente sul-americano?” e depois, “Quem criou o mundo?”. Por fim, conclui com a frase: “Quem quer tirar o Brasil da direita e colocar na esquerda, está querendo contrariar uma criação de Deus. O padre Kelmon falou, é o destino manifesto do Brasil”. 

Imagem: reprodução de site da Câmara dos Deputados

Padre Kelmon, o presidente

O candidato à Presidência da República pelo PTB nas últimas eleições foi apresentado como presidente do Foro do Brasil. Padre Kelmon afirma que a criação do Foro deve-se ao Espírito Santo, que inspirou padres e pastores. Mais tarde, foi apresentado um trailer de um documentário batizado de “Operação Verdade”. Após a exibição, quebrando o protocolo, Kelmon retorna a tribuna e revela os financiadores do trabalho: “Eu preciso dizer isso. Quero agradecer especialmente ao agronegócio […], que nos permitiu passar uma semana em Boavista, em Pacaraima, que nos acolheu, pagou nossas passagens, fez o melhor por nós para que esse documentário pudesse ficar pronto.”

Referências de checagem:

Câmara dos Deputados. https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/68804 Acesso em 3 Jul 2023

Foro de São Paulo https://forodesaopaulo.org/novas-informacoes-logisticas-para-convidados-no-brasil/ Acesso em 3 Jul 2023

IBGE https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/37252-desemprego-recua-a-8-3-no-trimestre-encerrado-em-maio-mesmo-nivel-de-2015 Acesso em 3 Jul 2023

Ministério do Desenvolvimento https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/brasil-teve-1-3-milhao-de-empresas-abertas-no-1o-quadrimestre-de-2023  Acesso em 3 Jul 2023

Agência Brasil https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/economia/audio/2023-04/pedidos-de-falencia-de-empresas-aumentam-mais-de-40-no-trimestre Acesso em 3 Jul 2023

CNN https://www.cnnbrasil.com.br/economia/juros-altos-no-brasil-prejudicam-saude-financeira-de-empresas-dizem-especialistas/ Acesso em 3 Jul 2023

Unisinos https://www.ihu.unisinos.br/noticias/509765-reinventando-a-educacao Acesso em 3 Jul 2023

Estado de Minas https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2022/06/08/interna_nacional,1371929/fome-no-brasil-quase-dobra-apos-dois-anos-de-pandemia.shtml  Acesso em 3 Jul 2023

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