E agora? Reposicionando o campo evangélico após as eleições

Eleições definidas. Entre outros grupos que apoiaram o presidente derrotado, é preciso saber como se posicionarão os evangélicos bolsonaristas. Não tanto todos e todas que votaram em Bolsonaro, mas o grupo bolsonarista evangélico. O grupo que construiu o argumento da família e dos valores tradicionais, do antiesquerdismo visceral, do punitivismo, das armas e da defesa do neoliberalismo. Essas pessoas criaram um discurso evangélico de direita sobre a política, a sociedade e a própria fé. Tiveram notável sucesso em mobilizar a “consciência hermenêutica” dos evangélicos – isto é, sua propensão a “ler o mundo” permanentemente em busca de sinais da ação divina e de orientações para sua conduta – vem como em mobilizar a paixão em termos de um “programa”. Foram os evangélicos bolsonaristas que mais longe chegaram no intento de dar um nome e um roteiro como norte da política evangélica no Brasil, a mais bem-sucedida de toda a América Latina. Bolsonaro + um “neoconservadorismo à brasileira” (penso na versão americana dessa palavra, como “modelo” da direita brasileira).

O termo “evangélico” foi apropriado pela direita evangélica – primeiro a pentecostal, depois a histórica. Qualquer observação minimamente sensível do campo evangélico revela a heterogeneidade de posições em todas as direções. Mas “os evangélicos” foi tão solidamente hackeado pela direita que, simbólica e numericamente, passou a designar toda a população protestante. Primeiro, um “povo evangélico” de direita. Depois, um ator assim nomeado, “os evangélicos” pretendendo dirigir uma “maioria cristã”.

Pois bem, da velha identidade “apolítica” pré-democratização, a direita evangélica pretendeu reforçar o adesismo governista – a velha ideia de respeitar e obedecer às autoridades, orar por elas … apoiá-las, votar nelas, de modo quase incondicional. O governismo sempre foi corolário do “apoliticismo” evangélico. Também foi capitalizada a leitura moral dos acontecimentos (bem/mal, luzes/trevas, fé/descrença – ou seja, conversão evangélica ou recusa à mesma). A ela foi acrescida essa politização da “família” e do gênero (a “mulher virtuosa” e a heterossexualidade normativa).

Em terceiro lugar, o velho anticomunismo predominante entre os evangélicos desde os anos 1960, foi “atualizado” como crítica da “esquerda” em geral – democrática, socialista, comunista, anarquista, sindical, ongueira, eclesial, ou seja, qualquer pensamento da igualdade e da solidariedade que resista ao individualismo radical e à subordinação do estado ao poder das corporações, dos bancos e dos “empreendedores”. A perseguição aos evangélicos não-reacionários se intensificou enormemente sob a batuta da direita evangélica, muito ao modo dos tempos da ditadura, quando o governismo era defendido como tradução do apoliticismo e se expulsavam os dissidentes, após tentativas múltiplas de intimidação e desqualificação dessas pessoas.

Pois bem, entramos numa nova fase desse jogo. Agora a direita evangélica perdeu espaço no Congresso, perdeu seu “Ciro” (refiro-me ao governante persa do mundo antigo que, sendo pagão, foi considerado um “messias” – ungido, escolhido – para reconduzir o povo judeu no exílio a sua terra), seu Trump dos trópicos, e perderá seu controle arbitrário sobre a dissidência nas igrejas. Uma possibilidade é que se entrincheire denominacionalmente e vejamos uma debandada de fiéis não-bolsonaristas, reforçando uma divisão política no meio evangélico. Outra possibilidade é que os dissidentes consigam, em algumas denominações, reequilibrar o jogo e desalojar os mais reacionários de suas posições de mando.

Na política institucional, agora a direita evangélica será oposição. Foi oposição num momento de fragilidade do lulismo, entre 2014 e 2016. Mas agora será oposição fora do poder. Como se comportará? Vai manter-se como base do golpismo e da fragilização da democracia? Vai se tornar propositiva (como ensaiou a Frente Parlamentar Evangélica no governo Temer, com seu Manifesto ornitorrinco)? Perderá consistência? Será a primeira vez desde 1986 que suas posições estarão claramente do lado de fora da nova coalizão dirigente. Não sabemos se estará à altura do desafio de ser oposição político-religiosa.

Outro desafio é interno. Que “spin” vai ser dado ao discurso do governismo e do “biblismo político” (aquele código de leitura seletiva da Bíblia que legitima as alianças sociais e eleitorais e o programa da direita evangélica)? Se “o cristão” tem que obedecer às autoridades e orar por elas (sem ironias ou hipocrisia), a direita vai honrar seu ensino? Se ser de esquerda é ser anticristão, vai-se continuar rejeitando e perseguindo as vozes nas igrejas que não só se fizeram ouvir, mas estão mais organizadas do que nunca antes nas últimas quatro décadas? Vão partir pra disputa interna, transformando de vez as igrejas em campos de batalha ideológica? Como responderão as igrejas evangélicas à convocação do novo presidente a que se envolvam nos Conselhos a serem recriados, a participarem das conferências de políticas públicas, agora que cravaram anos de envolvimento direto no desenho e implementação de políticas “alternativas” nos governos Temer e Bolsonaro? Terão algo a dizer e propor? Quererão?

E como se comportarão os anti-bolsonaristas em relação aos líderes evangélicos bolsonaristas – alguns e algumas vitoriosos/as eleitoralmente, mas lançados à oposição (de direita, sem mais subterfúgios linguísticos, como “de centro” ou “conservadores”)? Vão peitar seus irmãos e irmãs? Vão enquadrá-los/las em nova guerra de posições dentro e fora das igrejas?

Ao que parece, ainda tem muita água pra rolar nesses primeiros meses pós-eleitorais. Algumas escaramuças serão conjunturais, mas há lances estratégicos a serem jogados na política evangélica no país, agora que ninguém mais duvida de que a religião pública – ou seja, a religião vivida em público, politizada e contestada publicamente em suas razões e ações – está aí pra ficar por bem mais tempo.

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Foto de capa: Pexels/Luis Quintero

Governo da Nicarágua fecha canais de TV, incluindo o único cristão

*colaborou Magali Cunha

Na última semana, ganhou destaque em sites de notícias gospel a retirada do ar do canal Enlace, único canal de Tv cristão por satélite na Nicarágua. O fato ocorreu em 10 de novembro de 2021, três dias após as conturbadas eleições presidenciais no país que resultaram na reeleição de Daniel Ortega (Frente Sandinista de Libertação Nacional), há 14 anos consecutivos no poder. 

O processo eleitoral, que envolveu o Reverendo Guillermo Osorno, representante do canal, candidato pelo partido Caminho Cristão Nicaraguense (CCN), foi marcado pela prisão de sete adversários de Ortega e denúncias por parte da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A legitimidade das eleições nicaraguenses foi contestada em Assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 12 de novembro, o que levou o país a anunciar sua retirada da organização.

Canal Enlace teve a licença de operação cancelada por órgão governamental 

De acordo com o veículo local Nicaragua Investiga, o governo de Ortega cancelou não só a licença de operação do canal Enlace, como também a da Rádio Nexo, ambos pertencentes ao ex-presidenciável Reverendo Guillermo Osorno.

O cancelamento ocorreu logo após Osorno denunciar irregularidades no processo eleitoral da Nicarágua, bem como pedir a libertação de presos políticos. Em coletiva de imprensa realizada em 9 de novembro, na sede nacional do CCN, o pastor afirmou não reconhecer a vitória de Ortega e sugeriu a convocação de novas eleições. Ele foi um dos dos seis candidatos que concorreram à presidência do país nas eleições de 7 de novembro, que mantiveram no poder por mais cinco anos o regime de Daniel Ortega e de sua vice-presidente e também esposa Rosario Murillo.

No mesmo dia do pronunciamento de Guillermo Osorno contra o governo, membros do Instituto Nicaraguense de Telecomunicações (Telcor), órgão responsável por supervisionar os meios de comunicação na Nicarágua, inspecionaram as instalações do canal de TV e da rádio. Segundo Abraham Osorno, filho do pastor, “Às seis da tarde recebemos a carta de notificação onde nos diziam que, após a fiscalização, o cancelamento da licença de exploração era meritório, sem nos darem detalhes do porquê”.

 Atualmente dirigido por Nahima Díaz, filha do diretor da Polícia Nacional Francisco Díaz e cunhada do filho de Daniel Ortega, o Telcor alegou que foram encontradas anomalias na operação dos veículos midiáticos. Conforme comunicado publicado pelo Canal Enlace, foram apresentadas ao escritório do Instituto evidências que comprovavam a normalidade das operações do canal, que ainda assim teve sua licença cancelada.

O Canal Enlace e a frequência da Rádio Nexo foram atribuídos ao Reverendo Osorno em 1991, sob o governo de Violeta Chamorro. O canal saiu do ar em 12 de novembro e até a conclusão desta checagem, a programação continuava a ser transmitida por meio de seu website.

Outros meios de comunicação censurados no regime Ortega-Murillo

Imagem: Voz de America

Com a suspensão, Enlace e Nexo se juntam a inúmeros veículos de comunicação censurados pelo regime de Ortega desde sua volta à presidência, em 2007. Neste período, o governo do país ordenou o confisco ou fechamento de pelo menos 20 veículos de comunicação. Entre eles estão o Canal 12, jornal Metro e jornal El Nuevo Diario. Outros meios foram vítimas de ataques e censura, é o caso do canal 100% noticias, jornal Confidencial, e La Prensa, cujo gerente-geral foi detido pelo regime há mais de 100 dias.

A situação da imprensa na Nicarágua preocupa o Comitê para a Proteção de Jornalistas, já que o país vem apresentando um crescente número de ataques à jornalistas e invasão de redações.

De revolucionário a governante “mão de ferro”

A postura assumida pelo presidente da Nicarágua Daniel Ortega torna perplexo quem acompanhou sua trajetória.  Ele se tornou líder do país pela primeira vez, em 1981, dois anos depois da Revolução Sandinista (1979), que livrou o país da ditadura do general Anastásio Somoza e filhos, que durou 32 anos. Naquele ano, Ortega foi eleito coordenador do Conselho de Administração.  Em 1984, ele ganhou as eleições presidenciais e ocupou a presidência até 1990. Voltou ao poder em 2007 e se manteve no cargo até o presente. Desde então, analistas de várias tendências consideram que houve um desmantelamento do Estado nicaraguense em nome de um governo que ganhou “mão de ferro”.

Matéria do jornal alemão DW, de 23 de novembro, traduzida para o IHU On Line, ainda não confirmava, até o fechamento do texto, a prisão de Edgard Parrales, que foi embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos no primeiro governo de Daniel Ortega. Ele foi capturado na segunda-feira, 22 de novembro,  por desconhecidos em frente à sua casa em Manágua. Parrales, de 79 anos, havia participado  em um programa de televisão em que se falou da decisão do governo nicaraguense de retirar o país da OEA. Não era a primeira vez que o ex-padre, que um dia se somou às fileiras sandinistas e ocupou vários cargos depois da ditadura de Somoza, se pronunciava publicamente fazendo críticas ao regime de Daniel Ortega. Assim como Ernesto e Fernando Cardenal e Miguel d’Escoto, Parrelas foi suspenso, em 1984, do exercício sacerdotal da Igreja Católica por abraçar a Teologia da Libertação. 

A matéria do DW afirma que figuras que outrora apoiaram o sandinismo, agora são perseguidas. “Edgard Parrales foi preso por pessoas que não usavam uniforme de polícia, e não havia uma ordem de prisão contra ele. Então foi como um sequestro”, disse Barbara Lucas, do Informationsbüro Nicarágua, uma associação alemã com sede em Wuppertal que leva mais de quatro décadas informando sobre esse país. “A prisão de Edgard Parrales é outro sinal de que qualquer um que se pronunciar publicamente está arriscando sua liberdade. E este senhor tem 79 anos, isso é um perigo para sua vida”, destaca.

As coisas mudaram muito desde os tempos da revolução sandinista, na qual muitos religiosos tomaram partido contra Somoza até o presente. Quando os protestos de 2018 explodiram, foi a Igreja Católica nicaraguense que intercedeu ante o governo. “Foi um forte apoio para a população, sobretudo para os jovens que estavam sendo tratados com uma violência terrível. Havia certo respeito pela Igreja Católica. Muitos cardeais se colocaram a favor do povo, mas também houve palavras de mediação. Intercediam também para que o governo da Nicarágua cessasse com a violência desnecessária”, disse Betina Beate, diretora do departamento de América Latina de Misereor, uma organização de ajuda ao desenvolvimento do episcopado alemão.

Barbara Lucas afirma que na Nicarágua “existe uma ditadura, um estado policial”, sem liberdade de expressão. “Para mim, pessoalmente, é um caminho muito doloroso, porque nos anos 1980 havia muita esperança, muitos sonhos, muito idealismo, e aos poucos vimos como os espaços para uma sociedade justa e mais solidária foram fechando”, diz. Mesmo assim, ela acredita que a Igreja ainda tem um papel importante. “Mas, neste momento, é um papel um pouco abaixo da superfície, porque atuar em público pode ser muito perigoso”, estima, e lembra o que acabou de acontecer com Edgard Parrales.

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Bereia classifica como verdadeiro o cancelamento do Enlace, único canal cristão de TV por satélite da Nicarágua. A retirada do ar se deu em um momento de grandes tensões políticas no país, que acaba de sediar um complexo processo eleitoral, e vai ao encontro de medidas autoritárias perpetuadas pelo governo de Ortega no que se refere à imprensa local. 

Referências:

Enlace. https://www.enlace.org/ Acesso em: 23 nov 2021.

Radio Nexo. https://nexo895fm.com/ Acesso em: 23 nov 2021.

CNN Latinoamérica. https://cnnespanol.cnn.com/2021/11/02/daniel-ortega-presidente-nicaragua-orix/ Acesso em: 23 nov 2021.

Nicaragua Informa.
https://nicaraguainvestiga.com/politica/65431-telcor-cancela-la-licencia-para-operar-a-enlace-canal-21-y-a-radio-nexos/ Acesso em: 23 nov 2021.

100% Noticias. https://100noticias.com.ni/politica/111306-camino-cristiano-desconoce-resultados-electorales/ Acesso em: 23 nov 2021.

https://100noticias.com.ni/politica/111329-telcor-cancela-licencia-enlace-canal-21-nicaragua/
Acesso em: 23 nov 2021.

Confidencial.
https://www.confidencial.com.ni/nacion/el-conflicto-con-la-nueva-directora-de-telcor-nahima-diaz-flores/ Acesso em: 23 nov 2021.

Instituto Nicaraguense de Telecomunicaciones y Correos.
https://www.telcor.gob.ni/Default.asp Acesso em: 23 nov 2021.

La Prensa.
https://www.laprensa.com.ni/2021/11/10/politica/2908875-cancelan-canal-de-television-y-emisora-radial-a-guillermo-osorno Acesso em: 24 nov 2021.

Voz de America.
https://www.vozdeamerica.com/a/nicaragua-gobierno-cancela-dos-medios-ligados-candidato-presidencial/6308904.html Acesso em: 24 nov 2021.

Nicaragua Investiga
https://nicaraguainvestiga.com/politica/65674-dictadura-daniel-ortega-saca-senal-abierta-enlace-canal-21/?fbclid=IwAR1XjyC5j5NT4duK9T7A4Guav6YJDfMMfy34z5jamO4LyPncgm4z-t-t8Z8 Acesso em: 24 nov 2021.

G1.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/08/nicaragua-daniel-ortega-conquista-quarto-mandato-consecutivo-na-nicaragua-pais-e-um-estado-policial-sem-separacao-de-poderes-diz-cidh.ghtml Acesso em: 25 nov 2021.

Voz de America.
https://www.vozdeamerica.com/a/centroamerica_nicaragua-canal12-represion-daniel-ortega/6067991.html Acesso em: 25 nov 2021.

Confidencial.
https://www.confidencial.com.ni/nacion/gobierno-ha-ordenado-cierre-de-medios-de-comunicacion-en-nicaragua/ Acesso em: 25 nov 2021.

El Pais.
https://brasil.elpais.com/internacional/2021-05-20/regime-de-daniel-ortega-volta-a-atacar-e-deter-jornalistas-na-nicaragua.html Acesso em: 25 nov 2021.

La Prensa.
https://www.laprensa.com.ni/2018/04/20/nacionales/2407433-periodistas-de-nicaragua-cierran-filas-por-haberse-censurado-100-noticias Acesso em: 25 nov 2021.

El Pais.
https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-03/ataques-a-imprensa-na-america-latina-geram-buracos-negros-de-informacao-diz-cpj.html Acesso em: 25 nov 2021.

https://brasil.elpais.com/internacional/2021-08-03/ortega-e-murillo-selam-uma-eleicao-sob-medida-para-si-na-nicaragua.html Acesso em: 25 nov 2021.

Swiss Info.
https://www.swissinfo.ch/spa/nicaragua-elecciones_onu-y-cidh—falta-de-libertades–marcan-el-proceso-electoral-de-nicaragua/47085230 Acesso em: 25 nov 2021.

Piauí. https://piaui.folha.uol.com.br/nem-covid-nem-oposicao-nem-eleicao/ Acesso em: 25 nov 2021.

El Pais.
https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-13/america-rechaca-as-eleicoes-da-nicaragua-nao-tem-legitimidade-democratica.html Acesso em: 25 nov 2021.

CNN Latinoamérica.
https://cnnespanol.cnn.com/2021/11/19/nicaragua-retiro-definitivo-oea-orix/ Acesso em: 25 nov 2021.

Deutsche Welle.
https://www.dw.com/pt-br/nicar%C3%A1gua-prende-s%C3%A9timo-pr%C3%A9-candidato-%C3%A0-presid%C3%AAncia/a-58635877 Acesso em: 26 nov 2021.

Instituto Humanitas Unisinos.

http://www.ihu.unisinos.br/614312-nicaragua-do-sonho-ao-pesadelo-sandinista Acesso em: 26 nov 2021.

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/612085-analise-da-realidade-da-nicaragua Acesso em: 26 nov 2021. 

http://www.ihu.unisinos.br/614773-nicaragua-igreja-um-reduto-de-critica-na-mira-do-regime Acesso em: 26 nov 2021.

http://www.ihu.unisinos.br/578631 Acesso em: 26 nov 2021.

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Imagem de capa: Reuters

Vídeo em que pastor Silas Malafaia pede “Fora, Crivella!” é usado de forma enganosa

Circula nas mídias sociais vídeo com intervalo entre 15 e 30 segundos em que o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, diria “Fora, Crivella” em seu programa de TV “Vitória em Cristo”. Bereia verificou que a fala de Silas Malafaia foi editada e tirada do contexto de sua oposição à corrida de Marcelo Crivella a Governador do Estado do Rio de Janeiro nas eleições de 2014. Malafaia tem se declarado neutro nas eleições para a Prefeitura do Rio em 2020, tendo apoiado apenas candidatos a vereança durante o primeiro turno.

A neutralidade de Silas Malafaia no segundo turno foi objeto de análise na coluna Diálogos da Fé do site da revista CartaCapital e foi abordada nas versões impressa e online do jornal O Globo. Nas análises se destaca como as igrejas da Assembleia de Deus e outras vertentes ancoradas em líderes midiáticos, como a de Silas Malafaia, não cederam votos para candidatos da Igreja Universal do Reino de Deus no Rio e em São Paulo (os candidatos da IURD nas cidades eram Crivella e Celso Russomano, respectivamente, ambos do Republicanos). Os votos demonstraram, mais uma vez, que evangélicos não são um bloco monolítico.

Já as críticas de Silas Malafaia contra Marcelo Crivella eram acentuadas nas eleições estaduais do Rio de Janeiro em 2014. Na época, Crivella fora para o segundo turno com Luiz Fernando Pezão (PMDB), e era questionado por Malafaia sobre suas ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Foram feitas acusações de “mentiroso” de ambos os lados. Um ano depois, Silas Malafaia mantinha a postura crítica pública ao bispo da IURD, só agindo favoravelmente a Crivella ante a ameaça de um segundo turno para a prefeitura da cidade com Marcelo Freixo, em 2016.

Desde então a relação dúbia entre os dois mobilizou a ironia de portais como o Sensacionalista, que fez uma coletânea dos tweets ambíguos de Silas Malafaia, mostrando o “antes e depois” da relação entre os dois pastores. A versão mais completa da declaração de 2014 de Silas Malafaia sobre Crivella pode ser encontrada aqui, em canal do candidato a deputado estadual pelo PSOL, na Bahia, em 2018, David Lopes Machado, sob o título “Silas Malafaia manda recado para Marcelo Crivella em 2014”. Silas Malafaia excluiu o respectivo vídeo de suas mídias oficiais.

O Coletivo Bereia classifica as postagens em mídias sociais que usam um vídeo de 2014, em que o pastor Silas Malafaia critica o candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro como se fosse atual, como enganosas.

Trecho de vídeo descontextualizado (print aos 0:14 do vídeo que circula de forma enganosa)

Referências

O Globo, https://oglobo.globo.com/brasil/eleicoes-2020/liderancas-evangelicas-redefinem-apoios-no-rio-em-sao-paulo-no-segundo-turno-24759714. Acesso em: 22 nov. 2020.

A Pública, https://apublica.org/2020/11/silas-malafaia-sobre-esquerda-nao-tem-moleza-e-pau-e-ideologico/. Acesso em: 22 nov. 2020.

CartaCapital, https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/notas-preliminares-sobre-religiao-nas-eleicoes-2020/. Acesso em: 22 nov. 2020.

UOL, https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2020/11/21/crivella-paes-panfleto-fake-news.htm. Acesso em: 22 nov. 2020.

Veja, https://veja.abril.com.br/videos/em-pauta/debate-veja-2o-bloco-a-mistura-entre-politica-e-religiao/. Acesso em: 22 nov. 2020.

Youtube, https://www.youtube.com/watch?v=GnREQ6N_jU4. Acesso em: 22 nov. 2020.

BBC Brasil, https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37818301. Acesso em: 22 nov. 2020.

Sensacionalista, https://www.sensacionalista.com.br/2016/10/31/10-tweets-do-malafaia-antes-e-depois-da-vitoria-de-crivella-que-parecem-coisa-do-sensacionalista/. Acesso em: 22 nov. 2020.

Youtube, https://www.youtube.com/watch?v=mI8NIUtt3HI. Acesso em: 22 nov. 2020.