Publicação viral que compara nazismo, esquerda e direita distorce o debate político – PARTE 3

* Checagem publicada em três partes. Veja aqui a parte 1 e a parte 2

Veja abaixo a terceira parte da checagem na qual Bereia analisou, quadro a quadro, tabela que circula nas redes disseminando desinformação sobre supostos posicionamentos políticos e atitudes comportamentais. Bereia alerta para a fundamental necessidade de se checar as fontes dos conteúdos que circulam na internet e analisá-los criticamente, para que estratégias de desinformação sejam efetivamente combatidas. A síntese feita pelo quadro buscava reforçar a polarização entre direita x restante do campo político. 

Imagem: reprodução propositalmente desfocada

Sem liberdade individual x liberdade individual 

Historicamente, a defesa das liberdades individuais, também conhecidas como liberdades civis, ganhou força na Modernidade com o Iluminismo, os Humanismos e a Revolução Francesa, a partir do século 18. O professor da Universidade Federal do Espírito Santo Victor Gentilli explica que a noção moderna de liberdade entende o direito de ir-e-vir, o direito de escolher, o direito à privacidade, o direito de não ser preso, de não ser torturado. Enfim, a liberdade era vista pelos antigos como alguma coisa vinculada à esfera pública, enquanto para os modernos o conceito de liberdade é hoje nitidamente vinculado à esfera privada. 

A cientista política estadunidense Wendy Brown, na obra “Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente” (Editora Filosófica Politéia, 2019), explica que as estas noções de liberdade formuladas por agentes influenciadores neoliberais, deram base para a extrema direita política mobilizar um discurso de liberdade que justifica exclusões e violações que reasseguram privilégios históricos da hegemonia branca, masculina e cristã, além de expandir o poder do capital. Para a pesquisadora, esta noção de liberdade “demoniza o social, rotula a esquerda como tirânica em sua preocupação com a justiça social e, ao mesmo tempo, coloca-a como a responsável pelo esgarçamento do tecido moral e por premiar quem não merece”.

Wendy Brown afirma que esta propagada liberdade contribui para o desmantelamento das democracias com a demonização das propostas de justiça social em nome da liberdade, dos mercados e dos valores morais. Nesta trilha, a cientista política aponta como especialmente problemática a relação entre liberdade de expressão e liberdade religiosa no neoliberalismo. Ela expõe a estratégia de se usar a ideia de liberdade como instrumento para promover a desregulamentação dos mercados e barrar iniciativas antidiscriminatórias. Nesta direção, o indivíduo deve gozar de uma “liberdade ilimitada que desconhece limites éticos”, como direito de espalhar mentiras e falsidades pelas redes digitais até ofender e caluniar desafetos e opositores. 

A postagem checada pelo Bereia, ao atribuir “sem liberdade individual” às esquerdas políticas e “com liberdade individual” à direita, expõe os elementos expostos na análise de Wendy Brown. Porém, a pesquisadora alerta que, ao mesmo tempo há contradição nesta proposição com o uso do termo “liberdade” pois “os grupos extremistas que clamam por ela não toleram o pluralismo, abominam a diversidade de modos de vida e atuam para impor seus valores a toda a sociedade”. Brown indica que neste sistema de valores da liberdade individual estão no centro “o rancor, a reprimenda e a vingança” e um desejo de negar tudo: “a crise climática, o racismo, a afirmação de direitos a mulheres e à comunidade LGBT, a esfericidade da terra”, entre outros. 

Educação doutrinadora X educação de excelência

A publicação checada pelo Bereia atribui a ideia de “educação doutrinadora” às esquerdas políticas e a de “educação de excelência” à direita. Tal proposição tem relação com a ideologia que emergiu, recentemente, no Brasil, denominada “Escola Sem Partido” (ESP).

A professora da Universidade Federal de Juiz de Fora Andréa Silveira de Souza explica que ESP “é um programa e um projeto de lei oriundo de um movimento político surgido no Brasil em 2003, no âmbito da sociedade civil, capitaneado pelo procurador paulista Miguel Nagib. No contexto do surgimento, a principal pauta do ESP era o combate ao que Nagib denominou ‘doutrinação política e ideológica’ de crianças e jovens nas escolas brasileiras”.

Andréa Silveira mostra que segundo o procurador e os defensores do programa, a “‘doutrinação’ estaria sendo promovida por professores e professoras que, ardilosamente, se valem da ‘audiência cativa’ de estudantes vulneráveis nas salas de aula para promover uma suposta doutrinação a qual classificam como comunista ou ‘de esquerda’. 

A pesquisadora explana que por “doutrinação” entenda-se “toda e qualquer informação que seja diversa daquela que é preservada pelas famílias dos e das estudantes, as quais fazem parte da pluralidade de ideias que caracteriza os conhecimentos e os currículos de diferentes componentes para uma formação escolar ampla e cidadã”.

Andréa Silveira acrescenta que “compreender o ESP significa compreender que ele é um dispositivo jurídico que, assimilado por grupos religiosos fundamentalistas, reverbera um certo tipo de ideologia religioso-política pautada pela perseguição de educadores e educadoras, pela supressão do reconhecimento e do diálogo entre as alteridades, e cuja pretensão é garantir pela força da lei o apagamento da pluralidade de ideias, da liberdade e da diversidade em uma das principais instituições da vida moderna, a escola”. 

A publicação que o Bereia verificou atribui “doutrinação” apenas às esquerdas políticas, eximindo a direita de tal prática, o que não é verdade. Segundo a Enciclopédia do Holocausto, durante o regime nazista, professores considerados “não confiáveis politicamente” foram expulsos das escolas públicas e os que permaneceram foram associados a Liga de Professores ligada ao partido e ensinavam aos alunos, primordialmente, o amor a Hitler, o militarismo e o racismo. 

Conforme apontado pelo Centro de Referências em Educação Integral, durante a ditadura militar no Brasil “foram excluídas as aulas de Sociologia e Filosofia do currículo básico dos estudantes e também foram promovidas alterações importantes em outras disciplinas, notadamente as de humanas, como História e Geografia” com o objetivo de “consolidar outra visão de História, na qual o nacionalismo era ressaltado”.

Mais recentemente, no governo de direita de Jair Bolsonaro, foram implantadas as escolas cívico-militares com a justificativa de promover melhorias nos índices educacionais do país, no entanto, Bereia checou informações e identificou que o programa carecia de ajustes e justificativas técnicas para ser considerado totalmente eficiente. 

Relativismo x objetivismo e lógica

O Relativismo é uma corrente filosófica que compreende o conhecimento humano como uma variável, a depender de contexto histórico, cultural, social, político, econômico e temporal. Fortalecido a partir do movimento pós-modernista, em meados da década de 1960, está presente em diversas áreas, como cultural, moral e científica. 

O filósofo Friedrich Nietzsche é considerado um dos precursores do movimento, autor da frase que traduz a filosofia relativista em poucas palavras: “Não há fatos, apenas interpretações”. 

O Objetivismo, por sua vez, descarta a subjetividade do existir humano. Nas palavras de Ayn Rand, romancista e roteirista de filmes para Hollywood, quem estruturou esta vertente filosófica, “a realidade existe como algo absoluto e objetivo: fatos são fatos, independentemente das emoções, desejos, esperanças ou medos dos homens. A razão (a faculdade que identifica e integra o material fornecido pelos sentidos do homem) é o único meio do homem de perceber a realidade, a sua única fonte de conhecimento, o seu único guia para a ação e o seu meio básico de sobrevivência”.

A alegação contra o Relativismo é que esta filosofia vai contra verdades e fatos, ou seja, padrões estabelecidos, segundo ela, lógicos e fundamentados.

Conforme os estudos da cientista política Camila Rocha, o Objetivismo é uma das bases que orientam o que se pode denominar nova direita brasileira. Além de grupos como o Movimento Brasil Livre e o Partido Novo, há articulações que se estabeleceram para difundir ideias conservadoras ou de matriz liberal alinhadas à direita política. Entre elas estão: o Instituto de Estudos Empresariais, o Instituto de Formação de Líderes, o Instituto Mises Brasil, o Instituto Millenium, o Instituto Liberal, o Lola Brasil, que pretende engajar mulheres, entre outros. 

Boa parte destes grupos e movimentos, se baseia em ideias liberais clássicas, do século 17, a partir de pensadores como John Locke, até autores do século 20 como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek. Outros defendem ideias de diferentes vertentes como o Objetivismo, de Ayn Rand, também Minarquismo, de Robert Nozick, o Anarcocapitalismo, de  Murray Rothbard, todos autores famosos na lista de “defensores da liberdade”. 

Quem produziu a publicação checada pelo Bereia se revela adepto da nova direita brasileira, da vertente objetivista, e nela expõe sua ideologia/filosofia, não uma informação.

***

Bereia classifica a publicação na forma de um quadro sem autoria, que consiste em uma tabela comparativa entre  Nazismo, “esquerda” e “direita” como informação FALSA. O material é um conjunto de expressões opinativas, de caráter ideologizado, não têm substância factual. É desinformação sem base comprobatória, identificado com a direita política. É conteúdo fabricado para parecer informação, porém se constitui um panfleto de campanha anti-esquerdas.

Referências de checagem:

VIZENTINI, P. F. A Guerra Fria: o desafio socialista à ordem americana. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004

Scielo

https://www.scielo.br/j/rae/a/3gyNF765nj8nsRtD5vVnYGn/# Acesso em: 17 nov 2023

CNN Brasil

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/essencial-ou-dispensavel-entenda-o-papel-da-uniao-sovietica-na-2a-guerra-mundial/ Acesso em: 8 nov 2023

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/conhecido-pela-uniao-entre-moradores-kibutz-no-sul-de-israel-foi-palco-de-massacre/ Acesso em: 8 nov 2023

Bellingcat

https://www.bellingcat.com/news/2023/10/20/geolocating-hamas-led-attacks-on-israeli-civilians/?utm_source=aosfatos&utm_campaign=1508caad78-EMAIL_CAMPAIGN_2023_07_11_08_34_COPY_01&utm_medium=email&utm_term=0_-d376c0b720-%5BLIST_EMAIL_ID%5D Acesso em: 15 nov 2023

BBC

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd1kwg7320qo Acesso em: 8 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51071094 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62521737 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-39809236 Acesso em: 9 nov 2023

Unisinos

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-2018/579759-discurso-do-estado-minimo-inebria-o-enfrentamento-das-desigualdades Acesso em: 8 nov 2023

Enciclopédia do Holocausto

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/introduction-to-the-holocaust#:~:text=O%20Holocausto%20foi%20a%20persegui%C3%A7%C3%A3o,anos%20de%201933%20a%201945.&text=O%20antissemitismo%20foi%20a%20base%20do%20Holocausto. Acesso em: 9 nov 2023

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-rule?series=60 Acesso em:  nov 2023

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/indoctrinating-youth Acesso em: 10 nov 2023

Senado Federal

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/276/r135-27.pdf?sequence=4&isAllowed=y Acesso em: 10 nov 2023

A Crise em Perspectiva: 1929 e 2008

https://www.scielo.br/j/nec/a/Tn53n6xsSgDmhbB3cFgL6Bh/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 10 nov 2023

Politize!
https://www.politize.com.br/joao-goulart/#:~:text=Acuado%2C%20Jo%C3%A3o%20Goulart%20resolveu%2C%20de,personifica%C3%A7%C3%A3o%20de%20seus%20piores%20pesadelos. Aceso em: 10 nov 2023

Memorial da Resistência

https://memorialdaresistenciasp.org.br/noticias/lei-censura-imprensa-55-anos/ Acesso em: 10 nov 2023

FGV
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5#:~:text=O%20Ato%20Institucional%20n%C2%BA%205,a%C3%A7%C3%B5es%20arbitr%C3%A1rias%20de%20efeitos%20duradouros. Acesso em: 10 nov 2023

Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-05/liberdade-de-imprensa-brasil-melhora-e-sobe-18-lugares-aponta-estudo Acesso em: 10 nov 2023

UFRGS

https://www.ufrgs.br/fce/liberalismo-bolsonarismo-e-nazismo/ Acesso em : 10 nov 2023

Educação Integral

https://educacaointegral.org.br/reportagens/ditadura-legou-educacao-precarizada-privatizada-anti-democratica/ Acesso em: 10 nov 2023

Humanidades

https://humanidades.com/br/relativismo/ Acesso em: 10 nov 2023

Ayn Rand Center Latin America
https://www.aynrandlatam.org/objetivismo Acesso em: 13 nov 2023

Lista de partidos políticos registrados no Brasil – e posicionamento político.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_partidos_pol%C3%ADticos_do_Brasil Acesso em: 16 nov 2023

Lista de Partidos (Oficial) – TSE

https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse Acesso em: 16 nov 2023

Revista Ciência e Cultura

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252016000300018 Acesso em: 17 nov 2023

Jornal da USP

https://jornal.usp.br/radio-usp/crescimento-de-neonazistas-no-pais-e-um-dos-desafios-das-eleicoes-2022/ Acesso em: 20 nov 2023

Organização Mundial da Sáude

https://abortion-policies.srhr.org/ Acesso em: 20 nov 2023

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

https://www.fndc.org.br/ Acesso em: 20 nov 2023

Revista FAMECOS

https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3184 Acesso em: 20 nov 2023

PINTO, A. C. “O  regresso  das  ditaduras?”. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021

BROWN, W. “Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente”. Editora Filosófica Politéia, 2019

*** Foto de capa: Andrea Piacquadio/Pexels

Publicação viral que compara nazismo, esquerda e direita distorce o debate político – PARTE 2

* Checagem publicada em três partes. Veja aqui a parte 1 e a parte 3

Bereia analisou, quadro a quadro, tabela que circula nas redes disseminando desinformação sobre supostos posicionamentos políticos e atitudes comportamentais. Bereia alerta para a fundamental necessidade de se checar as fontes dos conteúdos que circulam na internet e analisá-los criticamente, para que estratégias de desinformação sejam efetivamente combatidas. A síntese feita pelo quadro buscava reforçar a polarização entre direita x restante do campo político. 

Imagem: reprodução propositalmente desfocada

Confira a parte 2 da checagem:

Defesa do aborto x contra o aborto 

O tema do aborto tem sido amplamente utilizado na mobilização de pânico moral nas redes digitais. Bereia já produziu extenso material sobre o assunto, desde checagem sobre acusações imprecisas envolvendo a Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Carmem Lúcia, até a disseminação de conteúdo enganoso sobre aborto por sites e políticos religiosos. Nessas postagens, como no material checado nesta matéria pelo Bereia, atribui-se à esquerda política a defesa do aborto (classificado como “assassinato de bebês”), enquanto que a direita se coloca contra o aborto.

Esta divisão ideológica do tema pode ser desmentida pelo levantamento da Organização Mundial de Saúde sobre as políticas em relação ao aborto nos diferentes países do mundo. Tendências políticas tanto de esquerda, quanto de direita e de centro governam países que aprovam o aborto, desde por exclusiva solicitação da mulher, para preservar sua saúde física ou mental, por conta de violência sexual, por anomalia fetal grave.

Outro ponto a ser considerar, apesar das estratégias discursivas de tratar do assunto pelo viés moral, as discussões sobre aborto consideram questões de saúde pública, relacionadas às condições de vida e bem-estar de mulheres e direitos reprodutivos, por exemplo. Segundo uma das autoras da Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), Débora Diniz, mesmo com queda nos registros, estima-se que meio milhão de abortos tenham sido realizados no Brasil em 2021, sendo que 57% foram realizados sem hospitalização.

Dados da PNA de 2021 divulgados pela Gênero e Número mostram que mulheres de diversas origens, escolaridades e práticas religiosas realizam abortos todos os anos, não havendo vínculo político-ideológico relacionado à prática. “A gente precisa falar com mais tranquilidade e menos estigma para que as pessoas possam compreender o aborto como uma necessidade de saúde, que é o que ele é”, afirma a ginecologista do Núcleo de Atenção Integral a Vítimas de Agressão Sexual (Nuavidas) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Helena Paro.

Desarmamentismo x cidadãos armados

A noção, defendida na postagem checada pelo Bereia, de que o regime nazista promoveu uma política desarmamentista e que, portanto, se os judeus perseguidos tivessem mais armas, estariam em condições de lutar contra seus perseguidores, é de difícil comprovação. Associar a figura de Adolf Hitler ao desarmamentismo é estratégia antiga, desvendada pelo professor da Universidade de Columbia Bernard Harcourt, em seu artigo “Sobre registro de armas, a NRA, Adolf Hitler e as leis nazistas sobre armas: Explodindo as guerras culturais com armas (um apelo aos historiadores)”.

Artigo de Adam Geller, para a Associated Press (AP) destaca, em primeiro lugar, que o debate atual sobre controle de armas não se aplica ao cenário da Alemanha no entreguerras, por diversos motivos. Em entrevista à AP, o historiador Steve Paulsson, descendente de sobreviventes do holocausto, acredita que, se judeus perseguidos tivessem mais armas à época, “poderia ter piorado as coisas”. Em suma, o debate sobre controle de armas durante a Alemanha nazista está longe de um consenso.

Em relação ao debate contemporâneo, estudos recentes mostram a correlação entre o maior número de armas de fogo à disposição da sociedade e o aumento da violência. Reportagem do jornal eletrônico Nexo sobre o tema destaca pesquisa do National Bureau of Economic Research, ligado ao governo dos Estados Unidos, que aponta o crescimento de 13% a 15% dos crimes violentos em locais que adotaram legislações mais permissivas. A facilidade de acesso a armas também aumenta casos de suicídio, feminicídio e mortes de crianças. 

Ditadura/opressão x democracia/liberdade 

Um dos pontos da publicação checada pelo Bereia atribui “ditadura/opressão à esquerda política” e “democracia/liberdade” à direita. Esta afirmação é desprovida de qualquer base analítica. Assim como um Estado absoluto, pela mesma razão, uma ditadura também pode ocorrer tanto em governos à direita como à esquerda. O Nazismo é um conhecido símbolo de um regime ditatorial de direita, apesar de pontuais tentativas de associar o Fascismo na Alemanha a um regime à esquerda, como neste conteúdo aqui checado, terem surgido no Brasil nos últimos anos.

Segundo o Dicionário de Política, de autoria do intelectual italiano Norberto Bobbio, ditadura é um regime caracterizado pela concentração absoluta do poder e pela subversão da ordem política anterior. Historicamente, os ditadores tomam o poder por meio de um golpe que destitui a governança em curso, como no caso dos militares no Brasil e a tentativa de Hitler em 1923.

A ditadura nazista teve na pessoa de Hitler a expressão do autoritarismo. O Partido Nazista era o único permitido na Alemanha e o parlamento existia apenas para confirmar as determinações do ditador, a base da política de governo. Como todo regime ditatorial, além da política e da economia, a educação, a cultura e as leis do país passaram a ser controladas pelo Nazismo, restringindo a liberdade dos cidadãos

As características de governo do Nazismo alinham-se às premissas do posicionamento político de extrema-direita. No Brasil, a Ditadura Militar foi a maior expressão deste posicionamento político. Durante os 21 anos do regime militar, 17 atos Institucionais (AI), a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Imprensa garantiram a concentração do poder nas mãos dos militares, a permanência destes no poder e a privação da liberdade dos brasileiros. Esta ditadura foi estabelecida no Brasil, após um golpe militar destituir um governo de esquerda liderado por João Goulart, filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Segundo o cientista político português António Costa Pinto, uma autoridade no tema, autor da obra “O  regresso  das  ditaduras?” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021),  estes regimes ocupam, atualmente, mais de um terço de governos no mundo. O autoritarismo é a forma de governo dominante em potências como a Rússia, a China ou em países como a Arábia Saudita, a Venezuela, a Hungria, a Turquia, Coreia do Norte, Angola, entre outros. Costa Pinto afirma que, quando a política contemporânea é considerada, não é possível afirmar que os regimes autoritários estejam novamente  em  crescimento, porém é certo que o regime  democrático enfrenta uma dinâmica de crise associada à emergência da direita radical (extrema-direita).

Para o cientista político português há características que afastam e aproximam as diversas ditaduras da época fascista, como a do fascismo italiano, e distingue ditaduras socialistas, ditaduras militares e outras ditaduras. Costa Pinto reconhece que hoje o mundo vive uma erosão democrática por conta da chegada ao poder de líderes populistas de direita radical como Jair Bolsonaro no Brasil e chama a atenção para uma diferença fundamental desta nova forma de acesso ao poder. 

Enquanto no  passado, segundo o pesquisador,  a  ascensão  das  ditaduras  resultou  de  uma  aniquilação  imediata da  democracia,  na  atualidade  os  regimes  autoritários chegam legalmente ao poder, disfarçam-se de democracias e provocam lentamente a sua degradação. Costa Pinto cita a questão da censura como marca das ditaduras, e cita a Rússia como exemplo, porém destaca a  divulgação de conteúdo falso, desinformativo, como uma das maiores ameaças à democracia hoje, classificadas como um poderoso papel na manipulação da opinião pública.

Os ex-presidentes dos Estados Unidos e do Brasil, Donald Trump e Jair Bolsonaro,  são dois exemplos de políticos, citados por Costa Pinto, que lançaram mão da divulgação de notícias falsas em proveito próprio. O pesquisador alerta que também partidos de direita radical, em franco crescimento na Europa e com uma crescente representatividade parlamentar, são assíduos utilizadores de notícias falsas. 

Controle da imprensa x liberdade de imprensa

O conteúdo checado por Bereia atribui o controle da imprensa à tendência política da esquerda em contraposição à liberdade de imprensa como elemento defendido pela direita. A afirmação falaciosa não encontra base referencial que a comprove. Este discurso não é novo e aparece todas as vezes que há reivindicação de setores da sociedade civil pela regulação das mídias, para que haja livre comunicação das ideias, das notícias e das opiniões, em especial pelos veículos que são concessões do Estado.

O jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo Eugênio Bucci explica que “sem imprensa independente não há democracia. Do mesmo modo, sem democracia não pode haver imprensa livre. Uma pede a outra, uma concorre para a outra”. Bucci afirma que “o cidadão livre precisa da imprensa por que é com base na existência da imprensa livre que ele se informa e debate ideias e, com isso, capacita-se a melhor delegar, fiscalizar e até mesmo exercer o poder”.

Na linha das reivindicações dos grupos que atuam pela democratização da comunicação no Brasil, país que tem onze famílias no controle das concessões estatais de mídias abertas de rádio e TV e de impressos, Eugênio Bucci explica o sentido da regulação necessária. O professor da USP afirma que “o problema dos monopólios (e também dos oligopólios) é que, controlando sozinhos o mercado numa determinada região do país, eles podem inibir a diversidade cultural, a diversidade das opiniões políticas e, além disso, a concorrência comercial saudável. Para a plena vigência da liberdade de expressão e do direito à informação, o Estado deve, na regulação do mercado (não dos conteúdos), inibir a formação de oligopólios e de monopólios”.

Bucci conclui que “em nenhum sentido precisamos de alguma regulação que venha para restringir os conteúdos. A regulação só é útil quando é necessária para assegurar a todos o direito à informação e à liberdade de expressão. Vejam que, para publicar um jornal impresso, ninguém precisa de concessão pública. Por isso, não há necessidade de regulação direta para essa modalidade de comunicação social. A regulação só é necessária quando sem ela não se pode proteger a liberdade de expressão e o direito à informação”.

Referências de checagem:

VIZENTINI, P. F. A Guerra Fria: o desafio socialista à ordem americana. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004

Scielo

https://www.scielo.br/j/rae/a/3gyNF765nj8nsRtD5vVnYGn/# Acesso em: 17 nov 2023

CNN Brasil

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/essencial-ou-dispensavel-entenda-o-papel-da-uniao-sovietica-na-2a-guerra-mundial/ Acesso em: 8 nov 2023

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/conhecido-pela-uniao-entre-moradores-kibutz-no-sul-de-israel-foi-palco-de-massacre/ Acesso em: 8 nov 2023

Bellingcat

https://www.bellingcat.com/news/2023/10/20/geolocating-hamas-led-attacks-on-israeli-civilians/?utm_source=aosfatos&utm_campaign=1508caad78-EMAIL_CAMPAIGN_2023_07_11_08_34_COPY_01&utm_medium=email&utm_term=0_-d376c0b720-%5BLIST_EMAIL_ID%5D Acesso em: 15 nov 2023

BBC

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd1kwg7320qo Acesso em: 8 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51071094 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62521737 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-39809236 Acesso em: 9 nov 2023

Unisinos

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-2018/579759-discurso-do-estado-minimo-inebria-o-enfrentamento-das-desigualdades Acesso em: 8 nov 2023

Enciclopédia do Holocausto

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/introduction-to-the-holocaust#:~:text=O%20Holocausto%20foi%20a%20persegui%C3%A7%C3%A3o,anos%20de%201933%20a%201945.&text=O%20antissemitismo%20foi%20a%20base%20do%20Holocausto. Acesso em: 9 nov 2023

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-rule?series=60 Acesso em:  nov 2023

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/indoctrinating-youth Acesso em: 10 nov 2023

Senado Federal

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/276/r135-27.pdf?sequence=4&isAllowed=y Acesso em: 10 nov 2023

A Crise em Perspectiva: 1929 e 2008

https://www.scielo.br/j/nec/a/Tn53n6xsSgDmhbB3cFgL6Bh/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 10 nov 2023

Politize!
https://www.politize.com.br/joao-goulart/#:~:text=Acuado%2C%20Jo%C3%A3o%20Goulart%20resolveu%2C%20de,personifica%C3%A7%C3%A3o%20de%20seus%20piores%20pesadelos. Aceso em: 10 nov 2023

Memorial da Resistência

https://memorialdaresistenciasp.org.br/noticias/lei-censura-imprensa-55-anos/ Acesso em: 10 nov 2023

FGV
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5#:~:text=O%20Ato%20Institucional%20n%C2%BA%205,a%C3%A7%C3%B5es%20arbitr%C3%A1rias%20de%20efeitos%20duradouros. Acesso em: 10 nov 2023

Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-05/liberdade-de-imprensa-brasil-melhora-e-sobe-18-lugares-aponta-estudo Acesso em: 10 nov 2023

UFRGS

https://www.ufrgs.br/fce/liberalismo-bolsonarismo-e-nazismo/ Acesso em : 10 nov 2023

Educação Integral

https://educacaointegral.org.br/reportagens/ditadura-legou-educacao-precarizada-privatizada-anti-democratica/ Acesso em: 10 nov 2023

Humanidades

https://humanidades.com/br/relativismo/ Acesso em: 10 nov 2023

Ayn Rand Center Latin America
https://www.aynrandlatam.org/objetivismo Acesso em: 13 nov 2023

Lista de partidos políticos registrados no Brasil – e posicionamento político.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_partidos_pol%C3%ADticos_do_Brasil Acesso em: 16 nov 2023

Lista de Partidos (Oficial) – TSE

https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse Acesso em: 16 nov 2023

Revista Ciência e Cultura

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252016000300018 Acesso em: 17 nov 2023

Jornal da USP

https://jornal.usp.br/radio-usp/crescimento-de-neonazistas-no-pais-e-um-dos-desafios-das-eleicoes-2022/ Acesso em: 20 nov 2023

Organização Mundial da Sáude

https://abortion-policies.srhr.org/ Acesso em: 20 nov 2023

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

https://www.fndc.org.br/ Acesso em: 20 nov 2023

Revista FAMECOS

https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3184 Acesso em: 20 nov 2023

PINTO, A. C. “O  regresso  das  ditaduras?”. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021

BROWN, W. “Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente”. Editora Filosófica Politéia, 2019

* Foto de capa: Engin Akyurt/Pexels

Publicação viral que compara nazismo, esquerda e direita distorce o debate político – PARTE 1

Com o crescimento de posicionamentos a respeito do conflito bélico entre Israel e Palestina voltou a circular, nas redes digitais, um quadro sem autoria, com baixa qualidade gráfica e sem fontes de pesquisa, que consiste em uma tabela comparativa entre  Nazismo, “esquerda” e “direita”. 

O quadro viralizou, no passado, em grupos e mídias sociais, em 2018 e 2022, por ocasião das eleições – associando a esquerda (com a foice e martelo, do movimento comunista) ao Nazismo. A síntese feita pelo quadro buscava reforçar a polarização entre direita x restante do campo político. 

Imagem: reprodução propositalmente desfocada

Como se pode constatar, entre os 29 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há variadas expressões de “direita”, dentro e fora do Brasil. Ou seja, dentro da própria “direita” há variações e nuances. No artigo “Uma Nova Classificação Ideológica dos Partidos Políticos Brasileiros” os pesquisadores Bruno Bolognesi, Ednaldo Ribeiro e Adriano Codato constatam, a partir de pesquisa realizada junto à comunidade de cientistas políticos em 2018, uma movimentação à direita pelos partidos políticos brasileiros, bem como um predomínio de partidos fisiológicos, que desprezam seus programas partidários em prol da dinâmica voto-cargo.

Embora o Brasil tenha sido, e ainda seja, palco de movimentos como o Integralismo, de inspiração fascista, e o Neonazismo, não há, no país, partido nazista ou neonazista – e nenhum campo político institucionalizado assumiu ou é apontado, abertamente, como apoiador das ideologias do partido Nacional Socialista Alemão.

Nas mídias sociais que circulam no Brasil, em novembro de 2023, com destaque para o TikTok, a publicação ganhou novo impulso. No Twitter/X, uma única publicação soma mais de 620 mil visualizações e 20 mil curtidas, no momento do fechamento desta matéria. Em grupos de Telegram, Whatsapp e do Facebook, o quadro também apareceu em uma sequência de comentários, em fotografias alusivas ao Partido dos Trabalhadores e ao conflito bélico Israel-Palestina.

Esse tipo de campanha, com associação de ideias, com ou sem imagens, em quadros e sem frases, sem fontes, sem autoria e sem análises é muito comum nos “linchamentos virtuais” e nas estratégias de desinformação, que procuram disseminar também conceitos ou preconceitos através de memes – unidades de informação, e desinformação, que, ao veicular ideias, imagens e sons, se multiplicam facilmente nas redes.

Bereia analisou, quadro a quadro, a tabela que circula nas redes disseminando desinformação sobre supostos posicionamentos políticos e atitudes comportamentais. Diante do volume de informações, dividimos a checagem em três partes, que serão publicadas em sequência.

Bereia alerta para a fundamental necessidade de se checar as fontes dos conteúdos que circulam na internet e analisá-los criticamente, para que estratégias de desinformação sejam efetivamente combatidas.

Ódio aos judeus x apoio a Israel 

Segundo a publicação, o Nazismo e a esquerda odeiam os judeus, enquanto a direita apoia Israel.  Registros históricos ensinam que o Nazismo não apenas pregou o ódio aos judeus, mas promoveu o holocausto, tendo assassinado cerca de seis milhões de pessoas de origem judaica na Europa, de 1933 a 1945.

Associar o ódio aos judeus à esquerda, no entanto, é um erro. Ainda durante a 2ª Guerra Mundial, uma das principais forças que contribuíram para a derrota do Nazismo foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), como destaca o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Visentini, no livro “A Guerra Fria – O desafio socialista à ordem americana”. 

Outro aspecto a se destacar é que, na formação do Estado de Israel, comunidades agrícolas socialistas, os chamados kibutzim, tiveram um papel essencial no desenvolvimento rural, intelectual e político do país. Essas comunidades existem até hoje e os ataques de 7 de outubro contra Israel tiveram kibutzim entre seus alvos.

A associação da direita política ao apoio a Israel, por sua vez, pode ser explicada por posturas como o sionismo cristão, que defende o fortalecimento do Estado de Israel e a ampliação do território que ocupa. No Brasil, este fenômeno vem, gradativamente, alinhando-se a uma direita religiosa e ultraconservadora, fortalecida pelos discursos do ex-presidente Jair Bolsonaro, estabelecidos desde 2018. Além disso, o fato de o atual premiê israelense Benjamin Netanyahu ser ultraconservador contribui para que muitos confundam o Estado de Israel, o judaísmo, o nacionalismo e o conservadorismo defendido pelos governantes atuais do Estado.

Estado absoluto x Estado mínimo 

Associar “Estado absoluto” ao Nazismo e à esquerda e “Estado mínimo” à direita é, também, um erro. O uso do conceito de absolutismo em um debate contemporâneo está sujeito a diversas interpretações errôneas, já que se trata de um produto típico das monarquias nos séculos 16, 17 e 18. Desta forma, a própria utilização do termo torna o argumento equivocado.

Governantes com poderes irrestritos podem surgir em regimes à direita e à esquerda. No sentido que a publicação em questão aparentemente quer produzir, de um Estado que interfere em diversos aspectos da vida em sociedade, há exemplos históricos em ambas as vertentes. Ainda assim, atribuir o termo “Estado absoluto” a experiências do século 19 e 20 seria um erro.

Igualmente, a publicação apaga o mais importante agrupamento da esquerda no início do século 20, o Anarquismo, que propõe uma sociedade de liberdades individuais, sem autoridade ou poder estatal, baseada na ajuda mútua e na cooperação voluntária. Na Guerra Civil da Espanha (1936 – 1939), por exemplo, os anarquistas foram o grupo majoritário na luta contra o regime de Francisco Franco (conservador, ultracatólico, capitalista e direitista).

Já o “Estado mínimo”, defendido pela corrente extrema do liberalismo, conhecida, de forma curiosa, como libertarianismo, vem sendo difundido como sinônimo de um Estado que se concentra apenas em tarefas pontuais, atuando com pouca interferência na sociedade. O artigo “O projeto neoliberal e o mito do Estado Mínimo”, do professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP Antônio Carlos de Moraes, explica que a própria dinâmica atual do capitalismo torna a ideia de “Estado mínimo” uma impossibilidade. Além disso, alguns estudiosos alertam para os efeitos nocivos do discurso do Estado mínimo, principalmente no enfrentamento às desigualdades. 

Anticapitalista x capitalista

A publicação diz que o Nazismo e a esquerda são anticapitalistas, enquanto a direita seria capitalista. A apresentação descontextualizada de conceitos amplos, e que carregam subjetividades, gera uma grande confusão e ainda apresenta o capitalismo como o “regime-modelo-salvador”. 

O capitalismo é um sistema econômico que busca a acumulação de riquezas por meio da propriedade privada dos meios de produção. Já o anticapitalismo seria a oposição a tais ideais, com a defesa do controle coletivo dos meios de produção e geração de riqueza.

O Nazismo, apesar de criticar o liberalismo econômico nos moldes vigentes na Europa dos anos 1930, não propunha a socialização dos meios de produção. Em entrevista à BBC News Brasil, a antropóloga e estudiosa de movimentos neonazistas Adriana Dias, falecida em 2023,  explica que o discurso nazista era radicalmente contrário às ideias de Karl Marx, por exemplo. “O nazismo e o fascismo diziam que não existia a luta de classes – como defendia o socialismo – e, sim, uma luta a favor dos limites linguísticos e raciais”, afirma.

No mundo globalizado, diferentes perspectivas político-ideológicas coexistem, como é o caso chinês, em que há ampla participação de empresas privadas em modelo comumente chamado de “capitalismo de Estado”. Além disso, grupos de esquerda, presentes em países capitalistas, não necessariamente defendem a abolição do sistema econômico vigente. A defesa de um modelo econômico não capitalista não guarda qualquer relação com a defesa das ideias nazistas, que caracterizam-se pela ideia de superioridade de uma raça sobre outra e de uma nação sobre a outra.

Estado controla a economia x livre mercado

A postagem checada pelo Bereia atribui à esquerda o controle da economia pelo Estado em oposição à direita política que trabalha pelo livre mercado. A ideia de que as transações financeiras e de bens e serviços devem acontecer sem interferência do Estado tem origem na corrente de pensamento que ficou conhecida como Liberalismo Econômico. Em suma, os defensores dessas ideias pregam que a dinâmica entre oferta e procura – por um bem ou serviço – deve ocorrer livre das decisões de agentes estatais.

A noção de que o “Estado controla a economia”, por sua vez, tem raízes, não apenas nas experiências de economia planificada, mas, principalmente, em uma visão crítica ao Liberalismo. Nela, o Estado deveria intervir no conjunto da economia nacional para corrigir assimetrias como desequilíbrios entre demanda e oferta, inflação, quadros recessivos, entre outros possíveis desafios.Em momentos de crise econômica, como em 1929 ou 2008, importantes intervenções estatais foram implementadas, inclusive em países símbolos do capitalismo, no intuito de controlar os impactos das crises. Em países com altos índices de desigualdade, o Estado pode ser um importante instrumento de direcionamento de recursos visando o bem-estar coletivo. O uso indiscriminado e descontextualizado de termos como “livre mercado” ou “controle estatal da economia” não contribui para uma completa compreensão dos fenômenos econômicos.

***

Bereia classifica a publicação na forma de um quadro sem autoria, que consiste em uma tabela comparativa entre Nazismo, “esquerda” e “direita” como informação FALSA. O material é um conjunto de expressões opinativas, de caráter ideologizado, não têm substância factual. É desinformação sem base comprobatória, identificado com a direita política. É conteúdo fabricado para parecer informação, porém se constitui um panfleto de campanha anti-esquerdas.

Referências de checagem:

VIZENTINI, P. F. A Guerra Fria: o desafio socialista à ordem americana. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004

Scielo

https://www.scielo.br/j/rae/a/3gyNF765nj8nsRtD5vVnYGn/# Acesso em: 17 nov 2023

CNN Brasil

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/essencial-ou-dispensavel-entenda-o-papel-da-uniao-sovietica-na-2a-guerra-mundial/ Acesso em: 8 nov 2023

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/conhecido-pela-uniao-entre-moradores-kibutz-no-sul-de-israel-foi-palco-de-massacre/ Acesso em: 8 nov 2023

Bellingcat

https://www.bellingcat.com/news/2023/10/20/geolocating-hamas-led-attacks-on-israeli-civilians/?utm_source=aosfatos&utm_campaign=1508caad78-EMAIL_CAMPAIGN_2023_07_11_08_34_COPY_01&utm_medium=email&utm_term=0_-d376c0b720-%5BLIST_EMAIL_ID%5D Acesso em: 15 nov 2023

BBC

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd1kwg7320qo Acesso em: 8 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49877815 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51071094 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62521737 Acesso em: 10 nov 2023

https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-39809236 Acesso em: 9 nov 2023

Unisinos

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-2018/579759-discurso-do-estado-minimo-inebria-o-enfrentamento-das-desigualdades Acesso em: 8 nov 2023

Enciclopédia do Holocausto

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/introduction-to-the-holocaust#:~:text=O%20Holocausto%20foi%20a%20persegui%C3%A7%C3%A3o,anos%20de%201933%20a%201945.&text=O%20antissemitismo%20foi%20a%20base%20do%20Holocausto. Acesso em: 9 nov 2023

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-rule?series=60 Acesso em:  nov 2023

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/indoctrinating-youth Acesso em: 10 nov 2023

Senado Federal

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/276/r135-27.pdf?sequence=4&isAllowed=y Acesso em: 10 nov 2023

A Crise em Perspectiva: 1929 e 2008

https://www.scielo.br/j/nec/a/Tn53n6xsSgDmhbB3cFgL6Bh/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 10 nov 2023

Politize!
https://www.politize.com.br/joao-goulart/#:~:text=Acuado%2C%20Jo%C3%A3o%20Goulart%20resolveu%2C%20de,personifica%C3%A7%C3%A3o%20de%20seus%20piores%20pesadelos. Aceso em: 10 nov 2023

Memorial da Resistência

https://memorialdaresistenciasp.org.br/noticias/lei-censura-imprensa-55-anos/ Acesso em: 10 nov 2023

FGV
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5#:~:text=O%20Ato%20Institucional%20n%C2%BA%205,a%C3%A7%C3%B5es%20arbitr%C3%A1rias%20de%20efeitos%20duradouros. Acesso em: 10 nov 2023

Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-05/liberdade-de-imprensa-brasil-melhora-e-sobe-18-lugares-aponta-estudo Acesso em: 10 nov 2023

UFRGS

https://www.ufrgs.br/fce/liberalismo-bolsonarismo-e-nazismo/ Acesso em : 10 nov 2023

Educação Integral

https://educacaointegral.org.br/reportagens/ditadura-legou-educacao-precarizada-privatizada-anti-democratica/ Acesso em: 10 nov 2023

Humanidades

https://humanidades.com/br/relativismo/ Acesso em: 10 nov 2023

Ayn Rand Center Latin America
https://www.aynrandlatam.org/objetivismo Acesso em: 13 nov 2023

Lista de partidos políticos registrados no Brasil – e posicionamento político.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_partidos_pol%C3%ADticos_do_Brasil Acesso em: 16 nov 2023

Lista de Partidos (Oficial) – TSE

https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-registrados-no-tse Acesso em: 16 nov 2023

Revista Ciência e Cultura

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252016000300018 Acesso em: 17 nov 2023

Jornal da USP

https://jornal.usp.br/radio-usp/crescimento-de-neonazistas-no-pais-e-um-dos-desafios-das-eleicoes-2022/ Acesso em: 20 nov 2023

Organização Mundial da Sáude

https://abortion-policies.srhr.org/ Acesso em: 20 nov 2023

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

https://www.fndc.org.br/ Acesso em: 20 nov 2023

Revista FAMECOS

https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3184 Acesso em: 20 nov 2023

PINTO, A. C. “O  regresso  das  ditaduras?”. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021

BROWN, W. “Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente”. Editora Filosófica Politéia, 2019

É verdadeiro que Vera Magalhães publicou fake news sobre ato de oração em frente ao Planalto

Em matéria publicada pelo site de notícias Pleno News em 21 de maio de 2020, intitulada “Jornalista posta fake como se ato de oração fosse nazismo” é renovada a discussão acerca das fake news no Brasil, devido a postagem feita em 18 de maio de 2020 pela jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, em sua conta no Twitter. 

De acordo com o site, a jornalista insinuou na publicação que momento de oração feito por um grupo de paraquedistas pelo Presidente Jair Bolsonaro seria saudação nazista. Segue abaixo o print da publicação:


O caso ocorreu no domingo, 17 de maio de 2020, quando um grupo de paraquedistas da reserva se encontrou com o Presidente Jair Bolsonaro à frente do Palácio da Alvorada. O grupo que se dizia ligado à Brigada Paraquedista do Exército, em meio à pandemia, saiu do Rio de Janeiro para o ato, uniformizado com calça camuflada, boina e camiseta com caveiras.

Ao fazer a oração, gritou palavras de ordem e fez flexões junto com Bolsonaro. Na oração, com mãos direitas estendidas sobre o presidente, os militares disseram para Deus: “Reconhecemos que somos um povo abençoado e temos um presidente escolhido por ti, um presidente abençoado. Proteja ele, sua família, e todos que tenham seu sangue”. Ao final, gritaram juntos a frase “Bolsonaro somos nós!”. Os paraquedistas entregaram ao presidente uma camiseta que faz alusão ao grupo, com o nome “Bolsonaro” em destaque. Eles afirmaram ao chefe do Executivo que são apoiadores antes mesmo dele ser eleito em outubro de 2018.

Alegando falta de apuração sobre o ato realizado pelo grupo ou insinuação, Pleno News afirma que a jornalista utilizou frases soltas ao legendar a publicação, como “É disso que se trata” e que apesar de tentar se livrar de uma possível futura acusação, por isso, ficaria claro que ela insinuou que a imposição das mãos seria gesto nazista.

O assunto obteve grande repercussão e a matéria foi republicada em diversos sites de notícia, como AM Post, Portal dos Fatos, Hoje Notícias e Senso Incomum, além de, segundo Pleno News, usuários de redes sociais terem feito publicações a respeito. O deputado federal evangélico próximo a Jair Bolsonaro Hélio Lopes, por exemplo, por meio do Twitter compartilhou o vídeo completo para justificar que o ato não se tratava de apologia ao nazismo.

Segundo Pleno News, internautas se posicionaram de modo crítico diante da atitude da jornalista, afirmando que a insinuação foi mal intencionada. A matéria termina com uma opinião atribuída a um dos usuários das redes sociais que se manifestaram sobre o fato: “Tem que ser muito mal intencionado em achar que isso é saudação nazista. É tão verdadeiro quanto a suástica que a moça se fez nas eleições”.

A leitura por Vera Magalhães é reiterada em matéria publicada em 18 de maio de 2020 pela Revista Fórum, na qual outros aspectos do ato em questão são destacados como adaptações da saudação nazista ao Führer na Alemanha dos anos 30 e 40.

Mistura de exaltação e clamor, a frase “Heil Hitler”, cuja tradução significa “Viva Hitler”, tornou-se a bandeira verbal do Nazismo. A saudação que remonta ao Império Romano, pode ser comparada com a aclamação Ave César, utilizada pelos romanos para saudar o imperador. A frase dita no ato de erguer o braço direito e esticá-lo no ar, com a palma estendida para baixo, criava na prática e no imaginário, devoção e adoração.

O Código Penal alemão no parágrafo 86 não permite o uso de emblemas e símbolos de organizações anticonstitucionais, o que inclui distintivos, bandeiras, uniformes, slogans, canções e saudações. Símbolos de organizações e partidos que possam ser confundidos com partidos e associações proibidas são abrangidos pela proibição.

Na lista de símbolos nazistas proibidos estão a suástica, o retrato de Hitler, a insígnia da SS (organização paramilitar do Partido Nazista) e a saudação nazista. A saudação da organização neonazista Frente de Ação dos Nacional-Socialistas/ Ativistas Nacionais foi acrescentada à lista em 1983 pela semelhança com a saudação nazista.

Também são proibidos de acordo com o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV, o serviço secreto interno da Alemanha), entre outros, os seguintes símbolos e emblemas: a cruz celta da associação proibida Movimento Popular-Socialista da Alemanha/Partido do Trabalho, o emblema (badge) triangular da Liga das Moças Alemãs, emblemas das gaue (divisões territoriais nazistas), o símbolo da caveira (totenkopf) das associações da SS, a bandeira imperial de guerra usada pelas Forças Armadas alemãs até 1945, as Ordens de Sangue (condecoração do Partido Nazista), braçadeiras com suástica, o estandarte pessoal  de Hitler, o punhal de honra da SS e emblemas skinheads com a insígnia da SS.

O BfV proibiu entre 1980 e 2015, cerca de 46 organizações e associações, incluindo a Nacionais-Socialistas de Chemnitz. Os símbolos dessas entidades foram proibidos e não podem ser usados em público. Violações podem ser punidas com multa ou pena de prisão de até três anos.

Embora as proibições sejam claras à primeira vista, as exceções causam confusão. Pois os símbolos nazistas não são proibidos se tiverem utilidade cívica, no sentido de esclarecimento para defesa contra aspirações inconstitucionais, para arte ou ciência, pesquisa ou ensino, informação sobre eventos históricos ou atuais, ou a propósitos similares.

As imagens gravadas do episódio na frente do Palácio da Alvorada com paraquedistas da reserva do Exército em 17 de maio, de fato mostram o grupo fazendo uma oração com imposição de mãos sobre Jair Bolsonaro, gesto pertencente a rituais de diferentes religiões. Na tradição cristã é utilizado nas ordenações de sacerdotes e certos ministérios, para o envio de missionários, para a consagração de lideranças ao serviço da igreja, nos atos de batismo e também para busca de cura. Tradicionalmente o sacerdote coloca uma ou as duas mãos sobre a pessoa que é objeto da oração ou da declaração. A imposição de mãos é muito comum no segmento pentecostal para estes propósitos tradicionais mas também para que o Espírito Santo aja sobre a pessoa que recebe a oração dentro do propósito que é solicitado. (Dicionário Cultura do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 1999. Verbete Imposição de Mãos, p.159).

Nesse sentido, Bereia afirma ser verdadeira a crítica do site Pleno News à jornalista Vera Magalhães e sua insinuação de que o grupo teria feito uma” saudação nazista”. A postagem da jornalista é enganosa na medida que não leva em consideração o ato que, de fato, ocorreu na frente do Palácio da Alvorada. O fato de serem paraquedistas fazendo um ritual cristão descontextualizado e “ungindo” o Presidente Jair Bolsonaro como enviado de Deus pode ser até questionado pelas autoridades eclesiásticas e avaliações teológicas do que esta simbologia de fato representa politicamente podem ser feitas, mas a verificação do fato demonstra que não houve saudação nazista no episódio em questão.

No entanto, o Coletivo Bereia apurou que não foi a primeira vez que tal insinuação foi feita. No início do mês de maio circulou em diversos sites, como Catraca Livre,  matéria afirmando que o gesto feito por pessoas que aguardavam Bolsonaro na entrada do Palácio da Alvorada, se tratava de saudação nazista. Porém no dia 12 do mesmo mês, o site publicou matéria corrigindo o que havia sido dito anteriormente, que o gesto feito pelas pessoas se tratava, na verdade, de imposição das mãos, informação verificada e comprovada pelos sites Aos Fatos e E-Farsas. Apesar dos dois casos serem nitidamente ritual religioso, as simbologias nazistas flertam com o governo Bolsonaro, como diz o Catraca Livre:

-Slogan da campanha presidencial-“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”- fazia referência direta a um bordão da Alemanha de Hitler;

-Publicação nas redes sociais da Secom (Secretaria de Comunicação da presidência) sobre o coronavírus usou a frase-símbolo dos campos de concentração nazistas “O trabalho liberta” (“Arbeit macht frei”, em alemão). A frase, inclusive, aparece no portão do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia;

-Em janeiro, o ex-secretário nacional de Cultura Roberto Alvim fez um discurso sobre artes semelhante ao do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. A fala causou revolta da comunidade judaica e culminou com sua demissão. No ano passado o presidente Jair Bolsonaro recebeu críticas do governo israelense ao dizer que os crimes do Holocausto são perdoáveis;

– Bolsonaristas do grupo “300 do Brasil”, fizeram um ato no final de maio em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal) e usaram elementos do nazismo e da Ku Klux Klan. Com máscaras, roupas pretas e tochas, além de uma faixa onde se lia”300″, o grupo composto por poucas dezenas de pessoas desceu a Esplanada e ficou em frente ao Supremo. Seguidos por Sara Winter, os bolsonaristas gritaram palavras de ordem contra o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito contra fake news.

***

Referências de Checagem:

Jornalista posta fake como se ato de oração fosse nazismo. Pleno News, 21 de maio 2020. Disponível em: https://pleno.news/e-fake/jornalista-posta-fake-como-se-ato-de-oracao-fosse-nazismo.html

Jornalista posta fake como se ato de oração para Bolsonaro fosse nazismo. AM Post, 21 de maio 2020. Disponível em: https://ampost.com.br/2020/05/jornalista-posta-fake-como-se-ato-de-oracao-para-bolsonaro-fosse-nazismo/

Jornalista posta fake como se ato de oração fosse nazismo. Portal dos Fatos, 28 de maio 2020. Disponível em: https://portaldosfatos.com.br/2020/05/28/video-jornalista-posta-fake-como-se-ato-de-oracao-fosse-nazismo/

Jornalista posta fake como se ato de oração fosse nazismo. Hoje Notícias, disponível em: https://br.hojenoticias.com.br/jornalista-posta-fake-como-se-ato-de-oracao-fosse-nazismo/9

Vera Magalhães printa vídeo de mulatos fazendo oração para Bolsonaro e faz alusão a nazismo. Senso Incomum, 20 de maio 2020. Disponível em: https://sensoincomum.org/2020/05/20/vera-magalhaes-printa-video/

Vídeo com grito de “Bolsonaro somos nós”, adaptação de Heil Hitler, paraquedistas fardados fazem saudação nazista ao presidente. Revista Fórum, 18 de maio 2020. Disponível em: https://revistaforum.com.br/blogs/blogdorovai/video-com-grito-de-bolsonaro-somos-nos-adaptacao-de-heil-hitler-paraquedistas-fardados-fazem-saudacao-nazista-ao-presidente/amp/

“Somos todos Bolsonaro”: paraquedistas se reúnem com presidente, rezam e fazem flexões. O Estado de Minas, 17 de maio 2020. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/05/17/interna_politica,1148160/paraquedistas-se-reunem-com-bolsonaro-rezam-e-fazem-flexoes.shtml

Quando o uso de símbolos nazistas é permitido na Alemanha? Portal Deutsche Welle (DW), 30 de agosto 2020. Disponível em:https://m.dw.com/pt-br/quando-o-uso-de-s%C3%ADmbolos-nazistas-%C3%A9-permitido-na-alemanha/a-45284573

Bolsonaristas fazem gesto religioso para presidente na porta do Alvorada. Catraca Livre, 12 de maio 2020. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/bolsonarista-fazem-saudacao-nazista-para-presidente-na-porta-do-alvorada/

É falso que apoiadores de Bolsonaro tenham feito saudação nazista; gesto é religioso. Portal Aos Fatos, 12 de maio 2020. Disponível em: https://www.aosfatos.org/noticias/e-falso-que-apoiadores-de-bolsonaro-tenham-feito-saudacao-nazista-gesto-e-religioso/

Apoiadores de Jair Bolsonaro fizeram um gesto nazista ao presidente? Portal E-Farsas, 12 de maio de 2020. Disponível em: https://www.e-farsas.com/apoiadores-de-jair-bolsonaro-fizeram-um-gesto-nazista-ao-presidente.html

Em ato contra STF, bolsonaristas usam símbolos do nazismo e da KKK. Catraca Livre, 31 de maio 2020. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/em-ato-contra-stf-bolsonaristas-usam-simbolos-do-nazismo-e-da-kkk/

SILVA, Luciana Lobão da. Heil Hitler: análise semiológica de pôsteres nazistas do período 1933-1945. Disponível em:<https://scholar.google.com/scholar?cluster=14727049910344441026&hl=pt-BR&as_sdt=0,5&sciodt=0,5>. Acesso em: 10 jul. 2020

Relacionar brinde do Presidente Bolsonaro com leite ao nazismo é enganoso

A Live da Semana do Presidente Jair Bolsonaro (sem partido), da última quinta-feira, 28 de maio, despontou como mais uma polêmica que o envolve. Na ocasião, ele tomou um copo de leite junto com os participantes, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e o Secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Jorge Seif Junior.

Na transmissão no YouTube, cujas visualizações chegavam até quase 287 mil até a data desta matéria, o presidente diz (minuto 10’40’’)

“Vamos aproveitar o momento aqui, pessoal, eu não estou fazendo propaganda de marca nenhuma, tá? Desafio do Leite. Vamos brindar aqui o nosso produtor rural, o pessoal do setor leiteiro do Brasil, é uma atividade que não é fácil – eu morei em fazenda por algum tempo lá em Eldorado Paulista, na Fazenda Quirongosi – nós somos o terceiro maior produtor de leite do mundo e sempre tomei isso aqui. De vez em quando tomo uns venenos aí, tá certo, que vem aí a gente compra em lata nos bares, tá? Mas um brinde a todos os produtores de leite do Brasil e um brinde a nossa querida Tereza Cristina. Não é a melhor não né? Porque se for a melhor só podia ser ela porque não tem outra mulher. Entre todos os outros, homens, que passaram pela agricultura, com todo o respeito, a melhor… Ministério da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina. Vamos lá. Selva!

Foto: Reprodução/ Youtube

Matéria publicada no site do Canal Rural, no mesmo dia daquela transmissão em vídeo, confirmou que o presidente teria feito “uma pequena homenagem” aos produtores de leite no Brasil.

A ação viral teria consistido no “desafio” entre produtores e personalidades midiáticas para que gravassem um vídeo tomando um copo de leite. A pessoa entrava na brincadeira, desafiava outros amigos durante a gravação e bebia o leite.

Em pouco tempo, várias postagens em mídias sociais de pessoas e organizações passaram a criticar o ato, que, em sua compreensão, seria uma mensagem subliminar do presidente em prol da supremacia branca, ou seja, Bolsonaro acreditaria na superioridade da raça caucasiana em detrimento das outras. Isso porque foi recuperado que diversos movimentos neonazistas têm adotado a prática de tomar leite em vídeos como um símbolo da tal supremacia racial. Alguns exemplos:

Reprodução/ Twitter

Depois que o debate sobre o tema viralizou nas mídias sociais, Jair Bolsonaro postou mensagens em seu perfil no Twitter dizendo que a discussão era fake news e mostrando estar participando do desafio do leite:

Foto: Reprodução/ Twitter

O filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), e o blogueiro pró-governo Allan dos Santos também se manifestaram com ampla repercussão. 

O primeiro postou no Twitter uma foto do casal de atores negros Taís Araújo e Lázaro Ramos tomando leite, enquanto o segundo postou um vídeo, ele mesmo, bebendo um copo de leite durante uma transmissão em seu canal do Youtube, logo após a live de Bolsonaro. Rindo, Allan dos Santos faz ainda o comentário de que “entendedores entenderão”. Um dos participantes da live ainda chega a citar “mensagem subliminar”.

Foto: Reprodução/ Youtube

Foram muitas as postagens de apoiadores do presidente com críticas às suspeitas levantadas pelos opositores:

Foto: Reprodução/ Twitter

Sobre Desafio do Leite

O Desafio do Leite é uma iniciativa apoiada pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite. Segundo o seu Estatuto Social, a Abraleite é uma entidade civil sem fins lucrativos, constituída com o objetivo de defender nacionalmente os interesses dos produtores de leite e criadores de raças bovídeas leiteiras, representada por pessoas físicas ou jurídicas que atuem diretamente com a produção de leite e criação de raças bovídeas leiteiras.

Segundo o Canal do Leite,  foram os produtores Reynold Groenwold e Robert Salomons, juntamente com a equipe da COWSDIARIO, que criaram um  “desafio do leite” nas mídias sociais, em 20 de maio, antes da live do presidente Bolsonaro.

Destacando a importância e o dinamismo do setor lácteo nesse momento de crise do coronavírus, o ‘desafio’ consiste em gravar um vídeo tomando um copo de leite e convidar três outras pessoas para fazer o mesmo. Com o objetivo de valorizar a atividade leiteira e o consumo deste nobre produto pecuaristas do Brasil e de outros países, se uniram nessa campanha em prol do leite, buscando também maiores garantias para o setor e mais valorização do produto e seus derivados na vida das pessoas.”

O engenheiro agrônomo Marcelo Pereira de Carvalho explica, no portal da empresa especializada em informação para o agronegócio como AgriPoint, como a campanha é avaliada como bem sucedida:

“A ‘brincadeira’ foi ganhando corpo, as pessoas foram se desafiando e o número de vídeos atingiu um crescimento exponencial. Foi criado um perfil no Instagram, que já tem mais de 1000 seguidores. Lá, grande parte dos vídeos está sendo reproduzida. Produtores, técnicos, industriais, pesquisadores, lideranças, todo mundo entrou no jogo (até o técnico Dorival Jr gravou um vídeo), quem sabe em parte por precisarmos nos aproximar de alguma forma, ainda que simbólica, nesse momento de pandemia, elegendo o leite como algo em comum (…) Não sei se Reynold, Hans e Robert tinham ideia de que sua campanha iria atingir proporção tão grande que até o presidente da república bebeu seu leite, momento raro em que somos lembrados pelas mais altas esferas administrativas.”.

Além do presidente Jair Bolsonaro, a ministra da Agricultura Tereza Cristina também aceitou o desafio da Abraleite, conforme declarou em entrevista ao site do Globo Rural. No vídeo publicado no perfil da Abraleite do Facebook, no dia 28 de maio, a ministra tomou um copo de leite, um de iogurte e ainda comeu um pedaço de queijo. “Aceitei com muito prazer o Desafio do Leite. Fui desafiada por produtores rurais, deputados federais e associações do setor. Vamos tomar mais leite, faz bem para a saúde. Esse é um produto que nós precisamos incentivar”, disse Tereza Cristina no vídeo.

Foto: Reprodução/ Facebook

A deputada federal Aline Sleutjes (PSL/PR) havia publicado em perfil do Facebook, em 22 de maio de 2020, antes da live de Bolsonaro, sua participação no desafio do leite:

Reprodução/Facebook

O site Notícias Agrícolas publicou texto de dois produtores de leite criticando “grupos de esquerda” por atrelarem a campanha “desafio do leite” ao nazismo e classificam como “mediocridade de alguns que acreditam que ao se alimentar com leite, a pessoa estaria difundindo ideias nazistas”.

Qual o fundamento da relação ao símbolo neonazista?

Acredita-se que com o ressurgimento de movimentos supremacistas, entre os quais se destaca o neonazismo, a discussão sobre a simbologia do leite entrou novamente em pauta. Contudo, segundo a reportagem “Bebida mais do que branca: O leite como símbolo do neonazismo”, publicada em 01 de junho, no site Aventuras na História, seção do Portal UOL,  o significado tem origens ainda mais remotas.

São datadas de 100 anos atrás, quando um panfleto do Conselho Nacional de Laticínios dos EUA foi bastante categórico ao explicar a situação. De acordo com a reportagem, na peça, fica evidenciado que pessoas que consomem mais leite “são progressivas na ciência e em todas as atividades do intelecto humano”. Além disso, em 1933, a História da Agricultura do Estado de Nova York teria declarado que “de todas as raças, os arianos parecem ter sido os bebedores mais pesados ​​de leite e os maiores usuários de manteiga e queijo”. Para o órgão, isso teria ligação direta com o “rápido e alto desenvolvimento dessa divisão de seres humanos”.

Na matéria, a professora de direito na Faculdade de Direito da Universidade do Havaí Andrea Freeman ressalta que a ligação entre o leite e a simbologia neonazista é indiscutível. “Não é um novo relacionamento”, explica, pontuando o passado histórico. Autora de um artigo crítico intitulado “A brancura insuportável do leite”, Andrea Freeman acredita que a ligação entre o leite e a ideia supremacista ainda parte de origens biológicas e a indústria dos EUA se aproveita de diferenças raciais para estimular o consumo de leite nas elites norte-americanas.  “Neste momento”, teoriza Freeman, “tanto os supremacistas brancos quanto a política federal de alimentos nos Estados Unidos estão oprimindo através do leite”. Segundo ela, a maior parte do mundo não digere o leite de forma confortável, enquanto a população branca, original de países escandinavos, consome a bebida com facilidade.

Em 2019, a temática volta à tona. De acordo com matéria publicada no jornal Washington Post, em setembro de 2019,

o uso da imagem do leite começou em fevereiro de referido, quando usuários do 4chan, fórum de compartilhamento de imagens que acabou se transformando em um dos mais influentes e anárquicos sites da internet, usando uma imagem extraída de um artigo da revista Nature sobre 2013 sobre intolerância à lactose, aproveitaram a ideia de que adultos do norte da Europa não têm problemas com a lactose. A partir daí, foi apenas um pequeno salto para uma possível analogia racista e a ideia de fazer do leite um símbolo de brancura. 

Pesquisadores brasileiros enxergam uma correlação do gesto com movimentos neonazistas – que adotam o copo de leite como símbolo. À revista Fórum, a doutora em antropologia social pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Adriana Dias, que há anos pesquisa o fenômeno do nazismo,  disse que há uma referência clara entre o episódio e o neonazismo. “O leite é o tempo todo referência neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio, mas é um jogo de cena, como eles sempre fazem”, declarou à Fórum.

Segundo a pesquisadora, Bolsonaro poderia ter se escorado no Shavuot, festa judaica que teve início na quinta-feira, 28 de maio, para se justificar pelo ato, que ocorreu no mesmo dia em que explodiram manifestações em Minneapolis contra a violência policial contra negros – em razão do bárbaro assassinato de George Floyd. O leite como símbolo está diretamente ligado aos chamados “alt-right” estadunidenses. 

Já o antropólogo David Nemer, que pesquisa o bolsonarismo, fez uma sequência de postagens no Twitter comentando também a questão:

Em entrevista ele ressaltou:

Nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que em outros – a capacidade de digerir lactose quando adultos. É uma tentativa racista para se embasar em “ciência” p/ diferenciar e justificar a “raça branca”. Mas como já provado e explicado por toda ciência: Não há evidência genética para apoiar qualquer ideologia racista. O que há, é na verdade, um governo tosco e motivado pelo ódio”.

Outro ponto destacado pelo especialista diz respeito à apropriação do leite por um grupo de bolsonaristas ligado ao perfil Leitadas do Loen, cuja conta é alvo do inquérito do STF que investiga ataques ao Supremo e disseminação de fake news.

“O símbolo do copo de leite foi apropriado por uma facção das redes bolsonaristas, que são channers. Esse pessoal gosta da confusão que o meme gera com a simbologia nazista e se refestelam com a notoriedade que recebem da mídia. Essa fação é do Leon Leitadas”, acrescentou Nemer.

Reprodução/ Twitter

A pesquisa do Coletivo Bereia verificou que a declaração do presidente Jair Bolsonaro na transmissão ao vivo de 28 de maio, relacionando o ato de brindar com leite com seus acompanhantes à produção de leite no Brasil, pode estar associada à campanha “Desafio do Leite, de acordo com a menção do presidente no momento. A campanha de fato existe, tendo sido lançada em 20 de maio pelo Instagram, por dois produtores. Ela foi apoiada pela ministra da Agricultura Tereza Cristina, citada por Jair Bolsonaro no brinde com leite, e já vinha sendo divulgada por deputada ligada a ruralistas do Paraná antes da live de 28 de maio.

Bereia conclui que a relação do ato de Jair Bolsonaro com a simbologia do leite disseminada por nazistas e grupos supremacistas brancos disseminada em mídias sociais é enganosa pois relaciona um elemento real (a simbologia nazista e supremacista do leite) a um episódio que denota outra motivação (a live que responde ao “Desafio do Leite”). 

O Coletivo Bereia analisa que este conteúdo enganoso pode ter duas origens:

1) uma reação de opositores a Jair Bolsonaro (de esquerda e de outras tendências políticas, pois oposição atual ao presidente não está restrita às esquerdas), que recorreu a estudos do nazismo e dos movimentos da supremacia branca, ancorada na concepção de que o presidente do Brasil é racista. Esta concepção se consolidou por declarações públicas e atitudes dele ao longo de sua vida pública, como as de ser contra as cotas raciais; afirmar que seus filhos não se apaixonariam por uma mulher negra pois “foram muito bem educados”, quando se referiu à cantora Preta Gil em programa de TV (caso que rendeu a Bolsonaro condenação na Justiça); fala que negros habitantes de quilombos são gado; não nomeou ministros negros; faz “piadas” racistas frequentes com seu “braço direito” deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ). 

2) por uma estratégia diversionista (desviadora de atenção um dia depois da operação da Polícia Federal relacionada ao inquérito que investiga propagadores de fake news e de ódio contra o STF e outras autoridades públicas. Os investigados são aliados do presidente entre políticos, empresários, comediantes e blogueiros. O diversionismo criado pela viralização da história do leite não só desviraria a atenção do caso da operação da PF, tendo ocupado o lugar dela em discussões virtuais, como lançaria sobre a oposição a acusação de ser propagadora de fake news, o que também se deu em várias postagens sobre em apoio ao presidente e dele próprio. 

Sobre estas duas origens mais pesquisas são necessárias. 

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Referências de Checagem:

Revista Fórum. https://revistaforum.com.br/politica/copo-de-leite-bolsonaro-usa-simbolo-nazista-de-supremacia-racial-em-live/.  Acesso em 2 jun 2020.

Perfil no Twitter do antropólo David Nemer. https://twitter.com/DavidNemer. Acesso em 2 jun 2020.

Perfil no Twitter de Eduardo Bolsonaro. https://twitter.com/bolsonarosp Acesso em 2 jun 2020.

Revista Globo Rural.   https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/Leite/noticia/2020/05/bolsonaro-e-tereza-cristina-participam-do-desafio-do-leite.html Acesso em 2 jun 2020.

Canal rural. https://www.canalrural.com.br/radar/bolsonaro-faz-homenagem-a-produtores-de-leite-durante-live/ Acesso em 2 jun 2020.

Washington Post. https://www.washingtonpost.com/technology/2019/09/26/okay-hand-sign-has-moved-trolling-campaign-real-hate-symbol-civil-rights-group-says/ Acesso em 2 jun 2020.

Farmfor. https://www.farmfor.com.br/posts/a-estupidez-de-quem-associa-o-desafio-do-leite-ao-nazismo/ Acesso em 2 jun 2020.

Página da Abraleite no Facebook. https://www.facebook.com/pg/ABRALEITE/posts/?ref=page_internal Acesso em 2 jun 2020.

Catraca Livre. https://catracalivre.com.br/cidadania/bolsonaro-toma-leite-em-live-enquanto-milhares-morrem-de-coronavirus/ Acesso em 2 jun 2020.

Estatuto Social disponível no site da Abraleite. http://abraleite.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Estatuto_Social.pdf Acesso em 2 jun 2020.

Aventuras na História. Portal UOL. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/bebida-mais-do-que-branca-o-leite-como-simbolo-do-neonazismo.phtml Acesso em 2 jun 2020.

Perfil do Desafio do Leite. no Instagramhttps://www.instagram.com/p/CAaJLbjjcYV/ Acesso em 2 jun 2020.

MilkPoint. https://www.milkpoint.com.br/colunas/milkpoint-20-anos/milkpoint20anos-dia-mundial-do-leite-219749/ Acesso em 2 jun 2020.

Notícias Agrícolas. https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/leite/260682-como-bolsonaro-bebemos-leite-e-nao-somos-nazistas-por-jbolivi-e-jlcoelho.html?utm_source=parceiros&utm_medium=rss#.XtbKzTpKjIU Acesso em 2 jun 2020.

Exame. https://exame.com/brasil/o-diversionismo-como-estrategia-para-camuflar-os-problemas-do-governo/ Acesso em 2 jun 2020.