Bereia apresenta seu projeto a alunos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

A editora-geral Magali Cunha apresentou o trabalho do Coletivo Bereia na Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 21 de março. A aula fez parte da disciplina Seminários Especiais e contou com a participação de alunos de Jornalismo e Relações Públicas.

Para falar sobre o surgimento do Coletivo, ela trouxe dados do relatório “Caminhos da Desinformação”, do Instituto Nutes, ligado à UFRJ, que indicou uma alta disseminação de desinformação em grupos de WhatsApp ligados a igrejas evangélicas.

A pesquisa que resultou no relatório consistiu na aplicação de 1.650 questionários em congregações das igrejas Batista e Assembleia de Deus no Rio de Janeiro (RJ) e em Recife (PE), as duas maiores igrejas evangélicas e as duas cidades de maior concentração desses fiéis no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo concluiu que 49% dos evangélicos receberam conteúdo falso, e, destes, 77,6% disseram ter recebido desinformação em grupos de WhatsApp ligados à sua comunidade de fé. Bereia foi resultado dessas constatações, que impediriam um grupo de pesquisadores e pesquisadoras de concretizar ações de enfrentamento.

Para a editora-geral do Bereia, esse é um cenário preocupante: “A desinformação exerce um apelo sobre grupos religiosos, e isso tem a ver mais com crenças e valores e menos com fatos propriamente ditos”, destaca a pesquisadora. Ela também salientou que aspectos associados à prática da religião entre evangélicos interferem de modo significativo na difusão de desinformação. Magali Cunha comenta que o sentimento de pertencimento à comunidade gera uma imagem das lideranças e de outros membros como fontes confiáveis de notícias.

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Foto de capa: Luis Henrique Vieira

Desinformação sobre elefante que matou idosa e teria destruído sua casa viraliza em espaços digitais religiosos

Voltaram a circular em mídias sociais do meio religioso  notícias, vídeos e fotos sobre a morte de Maya Murmu, 68, que foi pisoteada e morta por um elefante no último dia 9 de junho. O caso ocorreu na Índia e, segundo jornais locais, o animal teria ainda invadido o velório da idosa, pisoteando-a pela segunda vez. Logo após a invasão, uma manada de elefantes atacou a vila na qual a vítima morava, destruindo a casa de Murmu e matando sua criação de cabras.

Imagem: reprodução Portal do Trono

A vingança dos elefantes?

De acordo com o jornal Times of India, tudo se passou na vila de Raipal, localizada no estado indiano de Odisha. Supostamente, o elefante teria fugido do santuário de vida selvagem de Dalma, a 200 quilômetros do ocorrido. 

Moradores da vila relataram que o elefante selvagem atacou Maya Murmu enquanto ela pegava água. O animal teria invadido uma área povoada e pisoteado a idosa, que faleceu a caminho do hospital. Depois, ele retornou à comunidade com sua manada e destruiu três casas, dentre elas a residência de Murmu, que também teve o velório interrompido pelo animal. Ele retirou o corpo de Murmu da pira funerária — uma estrutura de madeira onde os mortos são queimados em cerimônias, geralmente hinduístas — e o pisoteou novamente.

O caso não é isolado na região. Odisha é uma área abundante em minerais usados para construção civil e a exploração é feita utilizando força animal, dentre eles, os elefantes. Nos últimos 20 anos, 1.356 elefantes foram explorados e mortos na região, segundo autoridades locais. Para a  jornalista e presidente fundadora da Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA) Silvana Andrade, consultada pelo Bereia, é comum na Índia que elefantes sejam explorados como força de trabalho em setores como a construção civil, turismo, indústria e mineração: “eles são submetidos a trabalhos terríveis e pesados, inclusive, como você faz um elefante puxar toneladas? Eles pegam um bebê elefante e o colocam na frente, e a mãe dele vai andando e puxando a carga para tentar alcançar seu bebê, levando com ela cargas pesadíssimas”.

O elefante responsável pelo ataque não foi identificado como pertencente à reserva animal, ou mesmo a qualquer habitante da região. A trajetória percorrida por ele até chegar ao vilarejo é desconhecida e ainda não há investigação sobre quando e como uma manada de elefantes atravessou mais de 200 km sem ser vista. 

A jornalista e defensora dos direitos dos animais destaca, ainda, que o vídeo divulgado não mostra nenhum indício de que a destruição das casas, mencionada por diversos portais de notícias, tenha realmente sido causada por uma manada de elefantes. No vídeo, é possível ver apenas um senhor pegando pedaços de escombros, sem nenhuma contextualização ou cena que leve a crer que tal destruição fora provocada por um elefante ou mesmo uma manada.

O apreço ao exótico no jornalismo 

As circunstâncias da morte da idosa ganharam destaque e a notícia repercutiu não só na mídia local, como também, e principalmente, no noticiário de diversos países, incluindo o Brasil. Aquilo que nos é estranho, exótico, não só atrai a atenção, como atende a certos critérios criados pelo jornalismo ocidental do que pode ou não ser notícia. 

Para compreender se algum acontecimento é noticiável é preciso que o acontecido siga critérios de noticiabilidade. Para a pesquisadora e professora universitária Gislene Silva, os “valores notícia” são criações culturais, que variam de acordo com a cultura local, mas tendem a seguir um modelo universal pré estabelecido como: acontecimentos inusitados, acontecimentos locais, celebridades, mortes, curiosidades, dentre outros. Assim, o acontecimento “estranho”, chama a atenção e se torna notícia, e, ao tornar-se notícia o fator estranho é acentuado, e os demais atenuados. 

O acontecimento se torna notícia se ele possuir potencialidade de chamar a atenção e atrair o público. Outra problemática presente em notícias como essa é a exotização de culturas. Para o antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jocélio Teles dos Santos, é comum que países do sul globals, como Brasil e Índia, sejam abordados não por suas culturas em seus termos, mas por aquilo que se convencionou chamar de “exótico”, por uma visão externa e objetificante de histórias, feitos e acontecimentos que levem a questionar a racionalidade, os valores e as culturas dos povos nativos, tidos como folclóricos e próximo a uma linha de selvageria. 

De todo modo, o que convém ressaltar é o privilégio que a cultura assume nessas interpretações  e  o  desenvolvimento  de  argumentações marcantes  que  atravessam  o século  XX.  Se  as  culturas  deixaram  de  ser  primitivas,  bárbaras,  exacerbadamente exóticas,  adentramos,  passo  a  passo,  em  discursos  sobre  a  ótica  das  culturas.    Se  no exotismo  da  cultura  do  “outro”,  as  narrativas  de  filósofos,  viajantes,  literatos,  da imprensa  no  século  XIX,  continham  um  desejo  nem  sempre manifesto,  no  final  da primeira metade do século XX, e até as últimas décadas desse mesmo século, o desejo é mais  que  manifesto,  pois  ele  vira  um  fetiche,  posto  que  a  cultura  assim  o  torna.    Uma reificação cada vez mais se apresenta no conceito de cultura. [p. 259]

O exótico é sempre algo fora de nossa realidade, algo que não veríamos e que nos chama a atenção por seu ineditismo ou por ser estranho ao nosso meio. O valor atribuído ao que acontece na vida cotidiana das pessoas se torna sujeito aos valores externos. A morte de uma idosa se torna parte de uma narrativa onde o exótico e o entretenimento se exaltam sob uma narrativa sensacionalista, sem levar em consideração feitos e acontecimentos internos que levaram ao caso. 

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Bereia classifica a notícia como imprecisa, uma vez que não é possível aferir a veracidade dos relatos. Há uma tendência à exotização somada à descontextualização e ao sensacionalismo das informações, transformando-as em narrativas superficiais de forte poder de entretenimento, capazes de repercutir e chamar a atenção, sem que haja um sério levantamento ou compromisso com a checagem dos fatos. 

Referências de checagem:

R7 .https://noticias.r7.com/hora-7/odio-animal-elefante-mata-idosa-comparece-ao-funeral-e-pisoteia-o-cadaver-dela-14062022  Acesso em: 23 de jun 2022

Correio Braziliense. https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/06/5015485-elefante-mata-idosa-de-70-anos-e-volta-no-funeral-para-pisotea-la.html Acesso em: 23 de jun 2022

PUC Minas.

http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/12182/9571 Acesso em: 23 de jun 2022

https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/2091   Acesso em: 28 de jun 2022

OpIndia. https://www.opindia.com/2022/06/elephants-revenge-act-tusker-kills-woman-returns-after-hours-to-trample-her-corpse-destroys-her-house/ acesso em: 25 de jun 2022

Times of India. https://timesofindia.indiatimes.com/city/bhubaneswar/elephant-tramples-woman-to-death-in-mayurbhanj-district-attacks-villagers-again-before-funeral/articleshow/92193738.cms Acesso em: 25 de jun 2022

Twitter.
https://twitter.com/TOIBhubaneswar/status/1536557828156329985?cxt=HHwWgsDUwYTN-dIqAAAA Acesso em: 25 de jun 2022

Foto de capa: reprodução da internet

Bereia é destaque no jornal O Estado de S.Paulo

O surgimento e o trabalho do coletivo Bereia foi tema de reportagem da edição de hoje do jornal O Estado de São Paulo. Nossa editora-geral Magali Cunha foi entrevistada e discorreu sobre o perfil diverso da equipe, a metodologia de checagem que junta jornalismo e pesquisa em religião, que tem sido compartilhada no meio religioso para combater a desinformação. Leia um trecho:

“O coletivo é o primeiro especializado em fact-checking religioso. Ao que se sabe, segundo Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, é também o único projeto assim no mundo. O diferencial do Bereia não para por aí. Magali relatou que, após pesquisar o modus operandi de agências de checagem no Brasil e no exterior, o grupo criou sua própria metodologia “que junta jornalismo especializado em religião com fact-checking e com pesquisa voltada para a temática da religião no Brasil”

A reportagem completa pode ser acessada no Estadão, mas também foi distribuída no UOL, na IstoÉDinheiro, no Zero Hora, e no Jornal de Brasília.

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Foto de capa: Wilton Junior/Estadão

O bom jornalismo está sob ameaça

A profissão de jornalista mudou muito desde que comecei como estagiário no extinto “Jornal do Brasil”, no ano da graça de 1981. Antes de começar a produzir uma matéria especial, eu recorria à biblioteca do jornal e ao famoso Departamento de Pesquisa, de onde Fernando Gabeira caiu na luta armada no maravilhoso ano de 1968. Ali fazia diligentemente a pesquisa em pastas com recortes e fotografias arquivadas. Não existia esse negócio de site de busca e muito menos internet.

Para escrever a matéria, nós usávamos uma Olivetti Lexicon 80, que bem depois virou obra de arte no Moma, de Nova York. Com três cópias – uma para o copydesk (o corpo de redatores), uma para a Rádio JB e outra para a Agência Jornal do Brasil, que funcionavam no mesmo prédio da Avenida Brasil 500, em São Cristóvão (o prédio virou um hospital público). A falta do computador, que permite a maravilha da edição do texto, obrigava o redator da matéria a fazer uma colagem com novos parágrafos e sobretudo mudanças no lead. Era a chamada gilete press.

Para dar retorno ao chefe de reportagem, diretamente da rua, você era obrigado a usar orelhões com uma ficha (nem moeda o equipamento aceitava) e mais tarde cartões. É verdade que alguns carros de reportagem tinham um rádio Motorola – tipo radiopatrulha, cujo sinal falhava muito. Com o smartphone, o repórter passou a poder apurar por voz, vídeo ou dados, pesquisar, escrever, fotografar e filmar o tema relativo à reportagem e publicar tudo numa plataforma digital sem depender de nenhum “gate keeper” — o chamado Jornalismo Móvel. Hoje, o repórter de rua precisa não apenas saber escrever, mas fotografar e filmar, usar as mídias sociais e estar atento para a checagem dos fatos, afim de evitar as “fakes”.

Essas são algumas das principais mudanças que afetaram o modo de fazer jornalismo. O que nunca mudou e certamente nunca mudará é a paixão que move todo jornalista em busca dos elementos que reconstituam fatos e histórias, o mais próximo possível da verdade e não da “pós-verdade”. É o prazer de trazer à tona informações de interesse público que eram mantidas longe do acesso desse mesmo público com o objetivo de preservar outros interesses, alguns nefastos. O que jamais acabará é o senso de responsabilidade social de cada repórter, seu desejo de contar histórias que também contribuam decididamente para a memória das pessoas, de uma nação, de toda a humanidade. É por isso que, mesmo distante da linha de montagem de um jornal, eu sempre vou amar o jornalismo e seu mundo.  

Mas o bom jornalismo nunca esteve tão ameaçado no Brasil, assim como a democracia, já que a imprensa é um dos maiores pilares desse regime político cujo ar é mantido por aparelhos como a liberdade de expressão e a diversidade de opiniões. Nem mesmo durante a ditadura militar, que matou jornalistas e impôs a censura prévia aos veículos de comunicação de 1968 a 1979 – com a implantação do golpe dentro do golpe, que foi o AI-5 – os repórteres de rua foram tão ofendidos e alvos de todo tipo de violência, até mesmo por cidadãos que compraram a versão de Bolsonaro, de que a imprensa é comunista ou mesmo esquerdista. 

O presidente aloprado reza na mesma cartilha do amigo americano, que logo no início de sua gestão tentou desqualificar a imprensa tradicional por meio da afirmação de seus próprios canais de comunicação com seus eleitores, como o Twitter. Felizmente essas mídias sociais, para preservar a própria credibilidade, já começaram a enquadrar esses líderes fascistas, autoritários e antidemocráticos. 

Enquanto enfrenta três tipos de crise – a do modelo de negócios, a da economia e a da pandemia – o jornal impresso resiste como pode até mesmo a propagandas de bancos, que oferecem linhas de créditos para se renovar o negócio das bancas de jornais, obviamente sem jornais. Para completar o nefasto panorama, os terraplanistas investem em “fake news”, que só agora levaram um freio com o inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal.

Por outro lado, há uma luz sobre a calandra (*). Os novos veículos nativos digitais, que já organizam até um encontro anual, o Festival 3i, são uma promessa de renovação do jornalismo, em que pese a dificuldade de “paywall” num ambiente como a internet, em que a maioria quer acesso gratuito a todas fontes de informação. Impossível.

A sociedade precisa compreender que a produção de informação tem um custo, que será sempre maior quanto menor suporte tiver do leitor. Portanto, meu sincero apelo é que você, leitor, ache um jornal para chamar de seu. Antes que a democracia se torne mais caótica e os golpistas de plantão abracem uma para chamar de sua.

* Calandra é uma prensa para produção de matrizes de estereotipia, uma máquina enorme que era usada também para passar trote nos “focas” (iniciantes). “Vá buscar a calandra”, dizia o chefe de reportagem ao estagiário.

Jornalismo sem medo ou favor

Valeu aí, imprensa, até semana que vem. Eu não quero falar nada aí porque quero ter paz sábado e domingo.

Disse o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em mais um de seus ataques à imprensa, na noite de sexta-feira (17/4), em frente ao Palácio do Planalto, quando se recusou a falar com a imprensa. Em seguida tornou a falar com os seguidores e voltou a hostilizar os meios de comunicação:

A Folha de São Paulo falou que tem um dossiê que eu fiz dizendo que havia um complô da Câmara, Supremo para me derrubar. Eles inventam cada coisa. Segundo uma fonte do Planalto… Sempre é assim. Se é tão grave assim, podiam dar o nome da fonte, né?

Na sequência, ao ouvir um seguidor afirmar que o Correio Brasiliense todos os dias fala mal dele, Bolsonaro disse:

O dia que falarem bem é porque fiz alguma coisa errada!

E finalizou:

Não leio jornal nenhum!

Tudo isso transmitido pelas redes sociais do próprio Bolsonaro. Dessa forma tem sido a relação do presidente com a imprensa. Vale, ainda, ressaltar as seguintes afirmações ocorridas no mês de março:

Se a imprensa diz que eu ofendo todo dia, o que estão fazendo todo dia ali [entrada do Palácio do Alvorada]? (05/03).

O dia que vocês se conscientizarem que vocês são importantes fazendo matérias verdadeiras, o Brasil muda. (05/03).

Quando vocês aprenderem a fazer jornalismo, eu converso com vocês. (06/03).

No último 26 de março, contrário à recomendação de quarentena da Organização Mundial da Saúde (OMS), Bolsonaro disse que foi criticado por sua postura, mas que a imprensa também estava descumprindo o isolamento social:

Atenção, povo do Brasil, esse pessoal aqui diz que eu estou errado porque tenho que ficar em casa. Agora eu pergunto: o que que vocês estão fazendo aqui? Imprensa brasileira, o que vocês estão fazendo aqui? Não tão com medo do coronavírus, não? Vão para casa! Todo mundo sem máscara!

Os ataques são frequentes aos jornalistas e à imprensa. Em lista elaborada pela organização Repórteres Sem Fronteiras, e publicada no último 21 de abril, o Brasil caiu, pelo segundo ano consecutivo, no ranking de liberdade de imprensa. O país ocupa o 107º lugar de 180 posições.

O relatório afirma que a eleição do presidente Jair Bolsonaro, “deu início a uma era particularmente sombria da democracia e da liberdade de imprensa no Brasil (…). A propriedade da mídia continua muito concentrada, especialmente nas mãos de famílias de grandes empresas que estão, com frequência, intimamente ligadas à classe política. A confidencialidade das fontes dos jornalistas está sob constante ataque e muitos repórteres investigativos foram submetidos a processos judiciais abusivos”, ressalta a entidade.

“Com ameaças e ataques físicos, o Brasil continua sendo um país especialmente violento para a mídia, e muitos jornalistas foram mortos em conexão com seu trabalho. Na maioria dos casos, esses repórteres, apresentadores de rádio, blogueiros ou provedores de informações de outros tipos estavam cobrindo histórias relacionadas à corrupção, políticas públicas ou crime organizado em cidades pequenas ou médias, onde são mais vulneráveis”, diz a Repórteres Sem Fronteiras.

Hoje, 03, celebramos o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A data foi criada em 20 de Dezembro de 1993, com uma decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) e celebra o Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Segundo levantamento da Repórteres Sem Fronteiras, Bolsonaro foi responsável por 32 ataques verbais ou ofensas à imprensa nos três primeiros meses de 2020. Uma média de um a cada três dias. De acordo com a entidade, o presidente realizou 15 ataques diretos a jornalistas, sendo cinco deles destinados às mulheres. Na ocasião do Dia Internacional da Mulher, março de 2020, a jornalista Juliana Kataoka fez um levantamento e destacou que oito mulheres jornalistas foram diretamente atacadas pelo presidente desde janeiro de 2019.

Diante desses ataques, podemos afirmar que há método e razão de ser. Nesse sentido é impossível dissociar a trajetória de Bolsonaro – de seus seguidores, bem como de diversos grupos antidemocráticos que avançam em todo o território nacional –, da postura misógina, relacionada à violência que é praticada contra a mulher e contrária aos direitos das mulheres e a todo tipo de feminismo. Lembremos que Jair Bolsonaro ganhou notoriedade quando, ainda deputado federal, disse que não estupraria uma colega “porque ela não merecia”. E no discurso de posse, como presidente da república prometeu combater o que chama de “ideologia de gênero” para “valorizar a família”, diga-se família, sua concepção heteronormativa, ou seja, a mulher subjugada à liderança masculina.

Por fim, ressalto a função vital da imprensa em tempo de crise. Sem a imprensa, sem profissionais comprometidos com a verdade seríamos contaminados com as informações falsas. Isso seria letal para toda sociedade.

No Dia Mundial da Liberdade da Imprensa, a ONU ressalta a importância da imprensa em meio à pandemia:

“Jornalistas e profissionais da mídia são cruciais para nos ajudar a tomar decisões informadas. À medida que o mundo luta contra a pandemia da Covid-19, essas decisões podem fazer a diferença entre a vida e a morte.”

Dessa forma começa a mensagem, em vídeo, do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para marcar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Lembrada anualmente em 3 de maio, a data tem como tema esse ano o Jornalismo sem medo ou favor.

Guterres fez um apelo aos governos, e à sociedade como um todo, para garantir que os jornalistas possam fazer seu trabalho durante a pandemia da Covid-19, incluindo outros temas. Os chefes da ONU e da Unesco alertaram ainda sobre a onda de boatos que tomou o planeta durante a crise, classificada como “infodemia”.

“À medida que a pandemia se espalha, dá origem também a uma segunda pandemia de desinformação, desde conselhos prejudiciais à saúde até teorias conspiratórias ferozes. A imprensa fornece o antídoto: notícias e análises verificadas, científicas e baseadas em fatos”, destacou.


Jornalismo, fake news & desinformação: manual para educação e treinamento em jornalismo

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) disponibiliza para download um manual contra as notícias falsas voltado para profissionais, professores e estudantes de jornalismo. O objetivo é auxiliar no enfrentamento das fake news, fornecendo material educativo de distribuição gratuita online.

A Unesco defende que a melhor forma de combater as notícias falsas é por meio da prática jornalística exemplar e, para tanto, produziu um modelo de currículo para ser ensinado. Intitulado Jornalismo, ‘Fake News‘ e Desinformação: Um Manual para Educação e Treinamento em Jornalismo

Uma das diretrizes do manual é dobrar a verificação e o jornalismo ético voltado ao interesse público. O texto também prega que é necessário aprender outras habilidades para lidar com as novas ameaças, como as “deep fake news”, resultantes de profunda falsificação produzida a partir do domínio da tecnologia e da inteligência artificial aplicada em documentos, vídeos e áudios. Além disso, o currículo mostra que os jornalistas precisam aumentar sua cobertura sobre os atores de desinformação, com checagem também depois do período eleitoral. Outra saída para os jornalistas é fazer parcerias com comunidades e pessoas que não atuam diretamente com jornalismo mas que podem auxiliar no processo de checagem.

O currículo planejado pela Unesco propõem aulas contextuais, teóricas e práticas. O material está dividido em duas partes. Os três primeiros módulos enquadram o problema das fake news e dão contexto a ele, aprofundando o conceito de verdade no jornalismo e distinguindo as noções de falta de informação, desinformação e má informação. Os quatro últimos se concentram nas respostas à desinformação e má informação, com ênfase para fact-checking e recursos para verificação nas mídias sociais, além de um módulo dedicado ao enfrentamento de perseguição online de jornalistas e suas fontes.

O manual é editado pelas jornalistas e pesquisadoras Cherilyn Ireton — diretora executiva do Fórum Mundial de Editores da Associação Mundial de Jornais e conselheira da Rede de Jornalismo Ético — e Julie Posetti — acadêmica australiana pesquisadora sênior do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo na Universidade de Oxford —, com colaboração de Claire Wardle, Hossein Derakhshan, Alice Matthews, Magda Abu-Fadil, Tom Trewinnard, Fergus Bell e Alexios Mantzarlis. O Programa Internacional da UNESCO para o Desenvolvimento da Comunicação (IPDC) produz monitoramento global de indicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que entre suas metas prevê a garantia do acesso público à informação e proteger as liberdades fundamentais, de acordo com legislações e acordos internacionais.

Fonte:

https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000368647.locale=en http://www.ufrgs.br/obcomp/noticias/0/652/unesco-lanca-manual-de-jornalismo-para-combater-