O futuro do evangelho foi o tema de “Conversas Pastorais”, debate promovido pela Igreja Batista de Água Branca (IBAB) em 31 de outubro na cidade de São Paulo que contou com a participação da editora-geral do Bereia. Participaram também da mesa de conversa o teólogo Ronilso Pacheco, o pastor batista Kenner Terra e o pastor e teólogo Ed René Kivitz, idealizador do evento.
Em sua apresentação, a pesquisadora destacou que não é possível falar de futuro sem se remeter ao passado. Segundo ela, as culturas tradicionais, os povos originários e as tribos africanas estão desafiam constantemente a se entender o que vem antes. “A gente só pode entender quem é se olhar para trás, e só pode entender e falar do futuro se entender o passado e o presente que nos significa hoje”.
Nessa direção, Magali Cunha ressaltou que falar sobre o futuro do Evangelho implica trazer à memória de maneira crítica e também esperançosa aquilo que já ocorreu. Ela fez referência ao período do nazismo, em que o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, no trabalho de enfrentamento a esse regime, buscava manter e espalhar esperança em um mundo destruído, e também ao período da ditadura militar, que representou perseguições e o alinhamento religioso.
“Não podemos deixar de olhar o passado, seja de forma crítica, seja de forma profética, dinâmica, esperançosa, pois esse é um grande desafio para refletir sobre o futuro do Evangelho”, acrescentou.
A editora-geral do Bereia também destacou que o futuro do evangelho passa também pela dimensão comunitária, na partilha e na divisão do que se tem. Ao reagir ao comentário do pastor Ed René de que Jesus não trouxe ideias, e sim vivências, Magali Cunha chamou a atenção para o equívoco de se apegar exageradamente à palavra, “como se ele resolvesse tudo”.
“Hoje fala-se e ouve-se muito, mas são poucas as comunidades de partilha, em que as pessoas podem trazer suas vidas, dizer quem são e ter oportunidade de colocar desejos, expectativas e frustrações. Esse é de fato o caminho para a reconstrução”, completou.
No contexto da cobertura noticiosa dos casos de reação negativa de membros de igrejas evangélicas a discursos de campanha pró-reeleição do presidente Jair Bolsonaro, o jornal O Globo produziu, em 6 de setembro passado, a matéria “Campanha eleitoral em cultos evangélicos provoca reação de fiéis e até troca de igreja”. O texto também enfatiza que algumas lideranças têm sido punidas internamente após as reações negativas a estas práticas.
Entre os casos mencionados na matéria está o do tiro disparado em uma igreja por um PM depois de um membro reagir a um pregação política contra esquerdas. É também apresentada a situação do pastor da Igreja Batista de Água Branca Ed René Kivitz. O jornal afirma que ele teria sido punido pela Ordem dos Pastores Batistas de São Paulo depois de fazer pregação política. O jornal desinformou ao inserir este caso na matéria pois ele não corresponde à ênfase dada.
Imagem: reprodução do Youtube
Liderança evangélica com forte presença nas mídias, Ed René Kivitz há tempos é alvo de críticas de um público conservador das igrejas, tendo sofrido linchamentos virtuais e “cancelamentos”. Conhecido por sua crítica ao posicionamento político alinhado à extrema direita, de algumas igrejas e religiosos, Kivitz manifesta-se contrário a uma série de pautas defendidas por apoiadores do governo Bolsonaro, entre eles o porte de armas e o apoio institucional de igrejas ao governo. Ele sofreu graves críticas por um sermão pregado em sua igreja, em culto online do dia 25 de outubro de 2020, intitulado “Cartas vivas contra letras mortas”, pelo qual desafia os fiéis a uma leitura da Bíblia mais contextualizada e relacionada à vida. No apedrejamento virtual que sofreu, o pastor foi acusado de herege por querer “atualizar a Bíblia”.
A abordagem de O Globo menciona brevemente que Kivitz foi excluído da Ordem dos Pastores Batistas de São Paulo por ser crítico ao candidato Bolsonaro. Sem aprofundar o tema, a matéria coloca o pastor entre outros que estão relacionados a punições por realização de discurso político em cultos.
Imagem: reprodução do jornal O Globo
O pastor Kivitz comentou uma postagem de divulgação na matéria no Twitter e afirma que não foi expulso da Ordem dos Pastores Batistas de São Paulo:
Imagem: reprodução do Twitter
Em vídeo publicado em suas mídias sociais em 2021, o pastor reconhecia o seu desligamento da Ordem Batista por conta da pregação online, de 2020, que gerou a acusação de heresia. Ele afirma: “foram oito minutos, em um sermão de 50 minutos, numa série de treze sermões, numa história de mais de 30 anos; e foram exatamente esses oito minutos que deram origem a um processo disciplinar que culminou, nessa última semana, com o meu desligamento da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil”.
Durante o vídeo em questão não há menção à perseguição religiosa por motivações políticas. Bereia tentou conversar com o Pastor, mas não obteve resposta.
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Bereia classifica a informação levantada pelo Jornal O Globo como imprecisa. O Pastor Kivitz não foi ouvido pelo jornal para a construção da matéria, houve falha de apuração do caso que levou à redação de conteúdo superficial e inverídico, levando o público a uma compreensão distorcida dos acontecimentos que foram indevidamente utilizados no texto.