Medidas de proteção contra a covid-19 ainda deverão ser mantidas após o recebimento das doses da vacina

* Investigado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia em parceria com Agência Mural e Poder360. Verificado por Estadão, Jornal do Commercio, Correio 24 horas e Rádio Noroeste. Publicado originalmente no Comprova.

É verdade que as pessoas imunizadas apenas com a primeira dose das vacinas contra covid-19 não estão totalmente imunes contra a doença. A afirmação consta em um vídeo do infectologista Marcius Burgarelli, que viralizou nas redes sociais e foi objeto de questionamento por parte de leitores do Comprova. No vídeo, Burgarelli explica que uma única dose da vacina não é suficiente para assegurar a exposição a atividades e locais com ampla circulação de pessoas e aglomerações em geral, e recomenda que sejam mantidas as medidas de proteção contra o vírus, como uso de máscara e de álcool.

No mesmo vídeo, Burgarelli sugere ainda que as pessoas devem manter as condutas de proteção “até pelo menos 14 dias depois da segunda dose”. Na realidade, os especialistas alertam que as medidas de proteção devem ser mantidas até que grande parte da população esteja imunizada com as duas doses da vacina.

O vídeo foi publicado por Burgarelli em seu perfil no Instagram em 3 de fevereiro deste ano e compartilhado no perfil do homeopata Alberto Almeida em 7 de fevereiro. Nele, o médico explica que o processo de produção de anticorpos, chamados IgG, só é iniciado 14 dias após a primeira dose, mas que ainda não se pode considerar uma imunidade, já que esse ciclo de imunização só é completo depois de passados mais 14 dias depois da aplicação da dose de reforço – geralmente aplicada 21 dias depois da primeira dose, a depender da vacina.

Logo, o processo completo levaria em torno de 36 dias. Antes desse período, é possível que a pessoa vacinada com a primeira dose ainda seja contaminada com o coronavírus e transmita para outras pessoas que ainda não foram imunizadas.

O Comprova ouviu dois especialistas, além da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que confirmaram a veracidade das informações expostas no vídeo, mas reforçaram que os períodos de proteção podem variar de acordo com cada fabricante.

Como verificamos?

Primeiro, encontramos por meio de busca no Google o vídeo original publicado no perfil do instagram do médico Marcius Kleber Nunes Burgarelli, e pesquisamos seu registro no Conselho Federal de Medicina (CRM), que consta com as especialidades de psiquiatria e infectologia, conforme informado em seu instagram.

Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e com a assessoria do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar de enfrentamento à covid-19 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para solicitar a avaliação de um infectologista sobre as afirmações contidas no vídeo investigado pela reportagem.

Em resposta, o GT encaminhou contato do infectologista e professor Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e integrante do grupo, e a SBI respondeu aos questionamentos com base na análise do infectologista e consultor Leonardo Weissmann.

A reportagem também procurou o autor do vídeo por meio do Facebook para esclarecer se o vídeo trata de algum imunizante em específico ou de todos até o momento aprovados pela Anvisa, e se teria interesse em comentar essa demanda de verificação recebida pelo Comprova e sua veracidade. Por fim, fizemos contato por telefone com seu consultório, em Uberlândia, Minas Gerais, onde atende como psiquiatra, infectologista e imunologista, conforme informações de sua secretária. Até o fechamento da reportagem não obtivemos retorno.

Também enviamos email para a assessoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para mais esclarecimentos sobre a especificações de cada vacina já aprovada no Brasil e o impacto destas na imunização coletiva (de rebanho).

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de fevereiro de 2021.

Vacinas aprovadas no Brasil

Até a publicação desta reportagem, apenas duas vacinas receberam autorização da Anvisa para a campanha de imunização no Brasil: a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a Covishield, produzida pela Universidade de Oxford e laboratório Astrazeneca em parceria com a Fiocruz.

O Comprova procurou a Anvisa para esclarecer a importância da aplicação da segunda dose da vacina como garantia de uma proteção eficaz contra a covid-19.

A agência explicou que a aprovação dos imunizantes no Brasil é baseada nos estudos de eficácia apresentados pelas fabricantes, que alcançaram a proteção contra a covid-19 após as duas dosagens. “A bula aprovada para as vacinas em uso emergencial indica a administração de duas doses e a aprovação da Anvisa está baseada nos dados dos estudos apresentados”, afirma. O órgão ainda reforça: “a Anvisa recomenda que o intervalo aprovado seja seguido”.

A agência informou ainda que os estudos disponíveis trazem resultados de eficácia para os intervalos disponíveis nas bulas, e que não foi apresentada nenhuma pesquisa divergente que trate de outros intervalos. Abaixo, segue a descrição enviada pela Anvisa sobre a aplicação das duas vacinas aprovadas para uso emergencial no Brasil:

  • Bula do Butantan (CoronaVac): O esquema de imunização contra covid é de 2 doses de 0,5 mL com intervalo de 2-4 semanas entre as doses.
  • Bula da Fiocruz (Covishield/Oxford): A segunda dose deve ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira dose.

Outras informações sobre as vacinas como características e as bulas completas podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde.

Como funcionam as vacinas?

Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vacina tem o papel de reduzir o risco de contágio de uma doença por meio da indução de uma defesa natural do corpo humano.

A partir do momento em que a vacina é aplicada, é iniciado um ciclo de imunização que passa por três etapas principais: o reconhecimento do antígeno, podendo ser um vírus ou uma bactéria; a produção de anticorpos para atacar o corpo estranho; e o desenvolvimento de uma memória celular no sistema imunológico que seja capaz de inocular a doença da próxima vez em que o indivíduo seja exposto àquele vírus ou bactéria.

Isso acontece porque o sistema de defesa humano trabalha com mecanismos de memória celular. Uma vez expostos a uma ou mais doses de uma vacina, uma pessoa pode, a depender da vacina, ficar protegida contra uma doença durante anos, décadas ou mesmo uma vida inteira. No lugar de tratar os sintomas de uma doença após sua ocorrência, as vacinas impedem que o corpo adoeça. Esse procedimento é válido para todas as vacinas, e não somente contra a covid-19.

As células que indicam essa proteção são chamadas de IgG (imunoglobulina G). Trata-se de uma classe de anticorpos que, quando detectados, indicam contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se é recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso do coronavírus, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer.

O consultor da SBI Leonardo Weissman explica que a  detecção de anticorpos protetores acontece entre 2 a 4 semanas após a vacinação.

“Quando se fala em imunização, pensa-se na proteção individual e coletiva. Nenhuma vacina tem 100% de eficácia e protege todas as pessoas. Por esse motivo, orienta-se manter as demais regras de prevenção enquanto não se alcança a imunidade coletiva (ou de rebanho): distanciamento físico, uso de máscaras, higienização frequente das mãos”, afirma Weissman.

No vídeo, Bugarelli concentra sua fala na importância da segunda dose para assegurar a imunização contra a covid-19 e na necessidade de se manter as medidas de proteção nesse período. “Tome a vacina, mas continue suas condutas de proteção, até pelo menos 14 dias após a segunda dose. A vacina funciona e precisa ser feita”.

De forma didática, Bugarelli apresenta no vídeo um gráfico desenhado por ele para explicar como funciona a produção de anticorpos IgG e a imunização no indivíduo, da primeira à segunda dose, com uma escala crescente. Apontando para a ilustração, ele diz: “se eu tomar a vacina hoje e for para uma festa e pegar o vírus da covid, eu vou ter a doença. Não quer dizer que a vacina não funcionou. Quer dizer que você não deixou a vacina funcionar”.

Ele reforça que é preciso aguardar mais 14 dias, após a segunda dose, que dura, em média, 36 dias,  desde a primeira dose.  “Não se exponham antes de ter resposta à vacina”, afirma Bugarelli.

Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCHH/UFRJ), reitera a informação, destacando que “a imunidade primária só ocorre após a segunda dose. Mas já há uma proteção parcial após 2 semanas da primeira dose”. O autor do vídeo verificado afirma que a partir do primeiro dia o corpo já inicia a produção de anticorpos, mas que o auge é somente em 14 dias. Nesse período, há risco de contaminação.

Weissman atenta que após a vacinação não é recomendado fazer sorologia ou qualquer exame, “pois isso pode causar somente mais confusão”. Isso porque, de acordo com Bugarelli, somente no 14º dia depois da aplicação da primeira dose, o organismo começa a produzir anticorpos IgG (imunoglobulina G). “Quando detectado, indica contato prévio com o micro-organismo em algum momento da vida, mas não permite dizer se recente ou antigo. Em alguns casos, sua presença pode significar proteção se houver novo contato. No caso da covid-19, pode aparecer tardiamente ou nem aparecer”, explica Weissman, da SBI.

Imunidade de rebanho

De acordo com Leonardo Weissman, a imunidade coletiva ou de rebanho é configurada quando um grande percentual de uma população se torna imune a um determinado agente infeccioso. Tradicionalmente, isso ocorre através de vacinação.

O assunto já foi tratado em outras verificações. Em artigo publicado em outubro de 2020, o professor Fernando Barros, da UFPel, explicou ao Comprova que a imunidade coletiva ocorre “quando o vírus já não consegue mais circular em uma comunidade porque faltam pessoas suscetíveis” a ele.

Segundo Barros, essa terminologia deriva de processos imunizadores que envolvem vacinações em massa. “A imunidade de rebanho se dá quando os níveis de imunização chegam em uma determinada proporção na população; por exemplo, em torno de 90% no caso do sarampo”, diz. “Diante disso, esses 10% das crianças que não estão vacinadas com frequência não se contaminam porque o vírus deixa de circular”, afirma.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal e à pandemia de covid-19.

O Comprova recebeu de leitores solicitação para verificar a veracidade do vídeo publicado originalmente pelo médico Marcius Kleber Nunes Burgarelli em seu perfil pessoal do Instagram. O vídeo foi posteriormente reproduzido pelo médico homeopata Alberto Almeida, também no Instagram, sendo visualizado mais de 16 mil vezes até a publicação desta verificação.

Comprovado para o Comprova é um fato verdadeiro ou conteúdo original publicado sem edição.

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Foto de Capa: Projeto Comprova/Reprodução

Médico tira de contexto dados de estudo para sugerir que máscaras são ineficientes

* Investigado por Luciana Petersen e Juliana Dias, do Coletivo Bereia, em parceria com Correio 24 horas e Favela em Pauta. Verificado por Jornal do Commercio, NSC Comunicação, Folha, UOL, Estadão, GZH e A Gazeta. Publicado originalmente no Projeto Comprova.

É enganoso o tuíte que insinua que o uso de máscara é ineficaz contra o novo coronavírus com base em dados de 154 pacientes que testaram positivo para o novo coronavírus nos Estados Unidos coletados no mês de julho deste ano. O tuíte compartilha parte de uma tabela publicada em um artigo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e destaca os dados sobre o uso de máscara: 85% dos novos casos eram pacientes que usavam a máscara sempre ou com frequência nos 14 dias que antecederam o início da doença, 7% usavam eventualmente e 8% usavam raramente ou nunca.

O tuíte, contudo, omite a informação de que a tabela foi publicada em um estudo que afirma que a exposição da comunidade e o contato próximo entre as pessoas contribui para a disseminação de covid-19. O artigo leva em conta o processo de reabertura em bares e restaurantes e conclui que os pacientes infectados tinham, aproximadamente, duas vezes mais chances de frequentar estes locais, onde é mais difícil manter o uso de máscaras e outros tipos de cobertura facial. Ou seja, quando as pessoas tiram a máscara, aumenta o risco de contaminação.

O autor do post não respondeu às tentativas de contato do Comprova até o fechamento desta verificação.

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos o artigo original que contém a tabela compartilhada pelo usuário do Twitter @AlessandroLoio2. Na rede social ele não cita sua formação, mas a imagem de capa do perfil mostra a ‘orelha’ de um livro de sua autoria em que ele afirma ser médico, formado em 1996 pela Escola de Medicina da Santa Casa, no Espírito Santo, e ex-coordenador da Secretaria Especial da Cultura do governo federal.

Em seguida, buscamos por registros com o nome de Alessandro Loiola no Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo e por menções a seu cargo como coordenador na Secretaria Especial de Cultura.

Procuramos ainda os responsáveis pela publicação do artigo onde consta a tabela publicada no Twitter, o autor do tuíte, além dos médicos infectologistas Edimilson Migowski, que é professor de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ.

Até o fechamento desta verificação, os responsáveis pelo artigo não tinham respondido aos e-mails enviados pelo Comprova. Procurado através de seu e-mail pessoal e de outro contato usado em seu portal, Alessandro Loiola também não retornou.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de outubro de 2020.

Os dados são reais?

As informações do tuíte são verdadeiras, mas foram tiradas de contexto para levar a uma conclusão enganosa. Os dados constam em uma tabela que faz parte de um artigo publicado no dia 11 de setembro no site do CDC. A publicação original, no entanto, não faz menção a uma eventual ineficácia do uso de máscaras.

Pelo contrário: os pesquisadores mostraram que, entre as pessoas que relataram exposições semelhantes durante os 14 dias antes do início da doença, aquelas que testaram positivo tinham aproximadamente duas vezes mais chances de terem frequentado bares ou restaurantes neste período. O problema é que, nestes lugares, apontam os pesquisadores, não se pode usar máscaras com eficácia durante refeições e ingestão de bebidas.

“Relatos de exposições em restaurantes foram relacionados à circulação de ar. A direção, a ventilação e a intensidade do fluxo de ar podem afetar a transmissão do vírus, mesmo se medidas de distanciamento social e uso de máscara forem implementados de acordo com as orientações atuais. As máscaras não podem ser usadas com eficácia durante as refeições e bebidas, ao passo que fazer compras e muitas outras atividades internas não impedem o uso da máscara”, diz um trecho do artigo assinado por 24 pesquisadores, incluindo Kiva Fisher, da Escola de Saúde Pública de New Orleans e membro da Equipe de Resposta CDC Covid-19.

Ida a restaurantes, bares e cafés

Os pesquisadores ouviram 314 pacientes adultos com mais de 18 anos atendidos em 11 unidades de saúde ambulatoriais dos Estados Unidos no mês de julho. Do total, 154 testaram positivo para a covid-19. Os números destacados pelo tuíte aparecem na continuação de uma tabela que mostra as características desses pacientes.

Sobre o uso de máscaras, eles relataram o seguinte: 70,6% disseram ter usado máscara sempre nos 14 dias que antecederam o início da doença; 14,4% afirmaram que usaram frequentemente; 7,2% usaram algumas vezes; 3,9% usaram raramente e outros 3,9% disseram não ter usado.

O que o tuíte não mostra é que, destes mesmos 154 pacientes que testaram positivo, 40,9% disseram ter ido a restaurantes neste mesmo intervalo de 14 dias e 8,5% afirmaram ter ido a bares ou cafés. É um percentual maior do que os outros 160 pacientes entrevistados e que testaram negativo. Entre eles, 27,7% foram a restaurantes e 5% a bares e cafés.

Esses dados significam que o uso de máscaras é inútil?

A conclusão do artigo aponta que a frequência em locais onde não é possível manter o uso de máscaras corretamente é um fator de risco para contaminação, e é necessário fazer uma avaliação contínua sobre os vários tipos de exposição aos vírus, à medida que locais reabrem – como bares, restaurantes, escolas e igrejas.

“Exposições e atividades nas quais o uso de máscara e o distanciamento social são difíceis de manter, incluindo ir a locais que oferecem refeições e bebidas no local, podem ser fatores de risco importantes para infecção por SARS-CoV-2. A implementação de práticas seguras para reduzir a exposição ao coronavírus durante as refeições e bebidas no local deve ser considerada para proteger os clientes, funcionários e comunidades e retardar a disseminação da covid-19”, conclui o artigo.

Para o infectologista Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, os dados não apontam que o uso de máscaras seja ineficaz. “Não tem o menor sentido isso que o tuíte afirma. O estudo prova exatamente o contrário. Nos momentos em que tiramos a máscara estamos mais expostos e com maior risco de nos infectarmos. O estudo recomenda o uso da máscara e distanciamento social em suas conclusões”, afirma.

O também infectologista Edmilson Migowski, professor de doenças Infecciosas da UFRJ, explica que a máscara só oferece risco se for mal utilizada. “Por exemplo, eu peguei uma máscara, espirrei, tossi, estou com a covid-19, coloco a minha mão na máscara de uma forma errada, contamino as coisas. Quando a máscara é utilizada dentro dos critérios de utilização, ela é protetora. Ela não seria e não vai ser uma ameaça para as pessoas”, explica.

A própria página do CDC recomenda o uso de máscaras para proteger as pessoas e tem postagens indicando os melhores tipos de máscara e como se proteger, o que inclui cobrir a boca e o nariz com a proteção quando estiver próximo de outras pessoas.

Quem é Alessandro Loiola

Alessandro Lemos Passos Loiola nasceu em 1971, é médico formado pela Escola de Medicina da Santa Casa, no Espírito Santo, e possui dois registros ativos em conselhos regionais de medicina no Brasil: Minas Gerais e São Paulo. Isso é comum porque um médico precisa ter registro em cada estado em que atua.

O registro mais antigo é de Minas Gerais, feito em 7 de fevereiro de 1997 – a foto foi apresentada ao Conselho em 2008. Nele, constam duas especialidades, ou áreas de atuação: cirurgia geral e coloproctologia.

O segundo registro é de 18 de março de 1999, feito no Conselho Federal de Medicina do Espírito Santo, com as mesmas especialidades. Este registro, no entanto, consta como ‘Transferido’.

O terceiro registro, ainda ativo, é do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, feito em 7 de janeiro de 2010, mas não há especialidades ou áreas de atuação cadastradas. A exibição de telefones e endereços onde ele poderia trabalhar não foi autorizada pelo usuário e, por isso, eles não aparecem em suas fichas profissionais. O Comprova não conseguiu encontrar um currículo do médico na Plataforma Lattes, que reúne pesquisadores do país.

Em sua conta no Twitter, ele publica o link para um site com conteúdo de direita voltado para o público masculino, como um curso para discutir “as falácias esquerdistas”. Entre as publicações, há outras que se posicionam contra o uso de máscaras de pano. A imagem de capa do perfil mostra a ‘orelha’ de um livro de sua autoria, em que, além de se apresentar como médico, ele diz que foi, também, coordenador da Secretaria Especial de Cultura do governo federal.

A nomeação para o cargo foi publicada no Diário Oficial da União de 27 de novembro de 2019. Alessandro Loiola foi nomeado pelo ministro do Turismo, Marcelo Henrique Teixeira Dias, para exercer o cargo de Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa, da Secretaria Especial da Cultura.

Menos de dois meses depois, no dia 24 de janeiro, ele foi exonerado do cargo também pelo ministro. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de janeiro de 2020.

No mesmo dia, foram exonerados também outros dois funcionários da Secretaria Especial da Cultura que eram próximos e tinham sido nomeados pelo ex-secretário Roberto Alvim. Este havia sido demitido dez dias antes, após fazer um pronunciamento oficial com referências nazistas, como mostra esta reportagem publicada por O Globo.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais que possam espalhar desinformação nas redes sociais sobre a pandemia da covid-19. O tuíte investigado pelo Comprova teve mais de 4 mil interações na rede social até o dia 19 de outubro.

Conteúdos com alegações enganosas, como essas feitas pelo médico, questionando o uso de máscaras, enfraquecem a confiança da população em instituições sanitárias e podem dificultar os esforços de combate à pandemia. Autoridades médicas e acadêmicas defendem o uso de máscara como uma das formas de se voltar à normalidade sem aumentar a disseminação da doença.

Esta não é a primeira vez que as máscaras foram alvo de desinformação. O Comprova já checou boatos que negavam a eficácia das máscaras em proteger as pessoas, outros afirmavam que seu uso era nocivo à saúde e até que insinuavam que a máscara tinha sido responsável pela morte de uma estudante na Alemanha. Também verificamos postagens alarmistas com alegações de que máscaras exportadas pela China estariam contaminadas. Tais alegações não encontram respaldo científico.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.