Deputado católico compartilha tuíte sobre complicações relacionadas à vacina

O deputado federal da bancada católica Diego Garcia (Podemos-PR), publicado em 7 de novembro, trouxe de volta o tema de vacinação em adolescentes e risco de miocardia, repostando um tuíte relacionando esse e outros casos.  

Imagem: reprodução do Twitter

O tuíte foca em uma notícia publicada pela colunista Lúcia Helena, na coluna do UOL Viva Bem, em 17/09/21, cujo título é: “A miocardite não é desculpa para suspender a vacinação dos adolescentes”.   Em seu texto, Lúcia Helena critica quem usa suspeitas infundadas sobre prejuízos da vacinação contra a covid-19, inclusive o próprio ministro da Saúde  Marcelo Queiroga. A colunista traz informações sobre a miocardia e cita palavras da infectologista Rosana Richtmann, médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo durante a 23ª Jornada Nacional de Imunizações, realizada no mês de outubro passado, pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Richtmann defende a vacinação de adolescentes e tranquiliza as famílias com dados científicos.

O tuíte repostado pelo deputado Diego Garcia lista, de forma irônica, outras situações  com a intenção de comparar e justificar o cancelamento da vacinação contra a covid-19 em adolescentes, de forma enganosa. 

Uma delas relaciona o problema que o mundo viveu nas décadas de 50 e 60, com os casos de teratogenia em crianças cujas mães utilizaram a talidomida durante a gestação. De fato, conforme estudos feitos na ocasião levaram a talidomida a ser proibida em todo o mundo, em 1961. Mais de 10 mil crianças foram afetadas pela talidomida no mundo, porém isso não tem qualquer relação com a vacinação de adolescentes contra a covid-19. 

O tuíte do deputado da bancada católica  também tenta relacionar a vacinação contra a covid-19 a outro medicamento que foi suspenso em outubro de 2004, o Vioxx. Na ocasião, a suspensão foi feita pela própria companhia farmacêutica americana Merck, após realizar estudo que mostrou que o medicamento aumentava significativamente as chances de ocorrência de eventos cardiovasculares (como ataques cardíacos e derrames), em pacientes que o usam continuamente por mais de um ano e meio. 

De novo, nada liga este caso do Vioxx à vacinação contra a covid-19 em adolescentes. São assuntos completamente diferentes e ambos com comprovações científicas tanto para a suspensão, no caso do Vioxx, quanto para a manutenção da vacinação contra covid-19 em adolescentes.

O médico cardiologista, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, José Rocha Faria Neto disse no programa da rádio EBC, “Tarde Nacional” que “os casos de miocardite – inflamação no músculo do coração [resultantes da vacinação] – não foram graves e a ocorrência é de quatro para 100 mil jovens. Em contrapartida os casos de morte pela covid-19, nessa faixa etária, é 10 vezes maior”. Na ocasião, o médico alertou também que não se deve menosprezar a covid-19 em adolescentes. “Os adolescentes têm que estar vacinados não só para se proteger, mas também para proteger os outros”, reforçou.

Nota Técnica da AMB

A Associação Médica Brasileira (AMB) publicou em seu Boletim 017/2021 , a Nota Técnica sobre a Vacinação Covid em Adolescentes no Brasil, na qual mostra sua preocupação sobre nota do Ministério da Saúde, de 15 de setembro de 2020, que interrompeu a vacinação contra a covid-19 em adolescentes sem comorbidades. A AMB informou na ocasião que a vacinação desse grupo “já havia sido iniciada há algumas semanas em diversos municípios e estados do Brasil, sendo que mais de três milhões de cidadãos adolescentes na faixa etária entre 12 a 17 anos já receberam a primeira dose do imunizante Pfizer, único com registro na Anvisa e aprovado em bula para essa população”. 

A Nota Técnica da AMB esclareceu ainda que “órgãos regulatórios nacionais e internacionais como a ANVISA e o FDA aprovaram a vacina da Pfizer em adolescentes, decisão baseada em rigorosos ensaios clínicos randomizados que incluíram milhares de voluntários, que demonstraram eficácia em termos de imunogenecidade em indivíduos que receberam duas doses desse imunizante. No tocante à segurança dessa vacina, a incidência e gravidade dos potenciais eventos adversos evidenciados nesses estudos foram não significativos quando comparados aos benefícios da proteção conferida pelo imunizante”.

Com base nisso, a AMB disse em sua NT que não se justificavam os argumentos genéricos presentes na Nota Informativa publicada pelo Ministério da Saúde , que “questionam a eficácia dos ensaios clínicos randomizados no tocante aos evidentes benefícios da vacinação nessa faixa etária” e, que, igualmente não se justificava questionar a segurança da vacina contra covid, como fez o Ministério da Saúde, com base em conjecturas sobre casos de eventos adversos pontuais após a aplicação da vacina.

A AMB também afirmou na ocasião: “No que se refere especificamente ao evento adverso miocardite, sua incidência é extremamente rara (16 casos/milhão de pessoas que recebem duas doses da vacina), geralmente leve, e inferior ao risco da própria covid-19”.

Na mesma Nota Técnica, a Associação mostra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vacinação de adolescentes entre 12 a 17 anos sem comorbidades, desde que obedecida a priorização da imunização de outros 

grupos mais vulneráveis.  “Apesar de relativamente à outras faixas etárias a covid-19 ser de menor gravidade em crianças e adolescentes, o Brasil já acumula mais de 2.000 óbitos desde o início da Pandemia em menores de 18 anos, número muito superior ao total de mortes nessa população quando se observa outras doenças imunopreveníveis”, afirma a AMB.

AMB recomendou continuidade da vacinação

A Nota Técnica da AMB salientou ainda, que “ao contrário do que a Nota Informativa Nº 1/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/Ministério da Saúde de 15/09/2021, a melhora do cenário epidemiológico no Brasil não justifica interrupção da vacinação em adolescentes, e sim justamente o inverso, o avanço no controle da Pandemia no país se deu única e exclusivamente por finalmente, depois de um lamentável atraso, estarmos realizando uma vacinação ampla e rápida da população, incluindo milhões de adolescentes”.

Na conclusão, a AMB recomendou a continuidade da vacinação contra a  covid em adolescentes no Brasil, e lamentou o conteúdo da Nota expedida pelo Ministério da Saúde, afirmando que a mesma “colabora para a desinformação e insegurança em relação à vacinação no país”.

O Ministério da Saúde voltou a recomendar a vacinação para adolescentes em 22 de setembro.

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Bereia classifica como ENGANOSO o tuíte do deputado federal católico Diego Garcia (Podemos-PR) publicado 7 de novembro, por incitar pânico nas famílias ao trazer de volta questionamentos infundados sobre efeitos colaterais da vacinação contra a covid em adolescentes no Brasil, já devidamente provada eficaz e sem riscos comprováveis por especialistas, pela OMS e pela Associação Médica Brasileira em pronunciamentos e notas técnicas. 

Referências:

Viva Bem. https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2021/09/17/a-miocardite-nao-e-desculpa-para-suspender-a-vacinacao-dos-adolescentes.htm?fbclid=IwAR1iRYs9XQVKpJBnjfhNqksJBJan52cO2RMOLQP81Rv-rTfsWcIxVPB697E Acesso em: 12 nov 2021.

Associação Médica Brasileira. https://amb.org.br/cem-covid/boletim-017-2021-nota-tecnica-sobre-a-vacinacao-covid-em-adolescentes-no-brasil/  Acesso em: 12 nov 2021.

Ministério da Saúde. https://sei.saude.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&codigo_verificador=0022770797%20&codigo_crc=BEFBD157&hash_download=34849307c0375646c10748c889463c08c6008ae8183ab1341d6861e8d7008e128ee9929027cc22b6793a23747f78ef57ff73b329544417ce4f04731b5b3b5dfd&visualizacao=1&id_orgao_acesso_externo=0 . Acesso em: 13 nov 2021.

O Tempo. https://www.otempo.com.br/mobile/brasil/medicamento-foi-proibido-em-1961-em-todo-o-mundo-1.580957?utm_source=whatsapp&fbclid=IwAR0gG_oJ3Gaw4naYZ1FgeLkuuXkM5ADmtpfx7Z4PQrwiv3QUCkXPTa-tSyY. Acesso em: 12 nov 2021.

EBC. https://radios.ebc.com.br/tarde-nacional/2021/10/vacinacao-contra-covid-e-segura-para-adolescente-afirma-medico?fbclid=IwAR33a2xZCeVKaOiNi2evRATRwiQWvZGY41Je4smnK3bXMl3cKjji1-Tf3ts Acesso em: 12 nov 2021.

Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-09/covid-19-ministerio-volta-recomendar-vacinacao-de-adolescentes . Acesso em: 13 nov 2021.

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Imagem de capa: reprodução do UOL

Deputado distorce dados e omite informações sobre teleaborto em tuíte

A pandemia está sendo usada como pretexto para se promover o teleaborto e os praticantes da modalidade não têm interesse na vida do bebê e na vida da mulher. Foi este o conteúdo divulgado no tuíte publicado pelo  deputado federal da Bancada Católica no Congresso Nacional Diego Garcia (PODE/PR), em 26 de abril passado, no qual dizia ser “taxado de radical por defender a vida”. A postagem não oferece informações sobre a realidade da modalidade, o lugar onde ocorre o procedimento e os movimentos a seu respeito.
Bereia investigou a veracidade dos pontos apresentados pelo deputado no tuíte.

“Entidades pró-aborto estão usando a pandemia p/ fazer aborto por meio da telemedicina, TELEABORTO.” – FALSO

A modalidade de teleaborto é uma realidade em alguns territórios dos Estados Unidos, e em países como Colômbia, Austrália, Inglaterra e Canadá desde antes da pandemia do coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aborto por meio de ingestão oral de comprimidos para gestantes nas primeiras semanas de gravidez – o teleaborto consiste na ingestão assistida por videochamada de um médico devidamente certificado pelos conselhos regionais de Medicina. Os medicamentos são enviados pelas clínicas por correio, ingeridos pelas pacientes enquanto assistidas pelo médico em videochamada e apenas após exames presenciais de sangue e ultrassom. 

Alguns dos países citados viram os casos de solicitação de teleaborto crescer durante a pandemia. O movimento, apontam especialistas, se deve às restrições de circulação e ao risco de contágio do novo coronavírus, fazendo com que os abortos – que já ocorriam na modalidade presencial de atendimento – migrassem para as formas de telemedicina quando fosse seguro. Portanto, não são entidades pró-aborto que estão usando a pandemia, mas, sim a pandemia que leva pessoas a buscarem modalidades de telemedicina em todas as áreas.

Atendimentos de telemedicina, como deliverys e home office, já existiam antes da covid-19, mas viram a crise do novo coronavírus multiplicar a demanda por esses serviços. O deputado Diego Garcia, logo, incorre em uma falácia, ao apresentar o que é consequência da pandemia como uma causa avulsa. 

“P/ eles a vida do bebê ñ importa, a vida da mulher ñ importa.” – FALSO

Todo o movimento de telemedicina é amparado nas diretrizes que orientam a prática médica presencial, apenas usam a tecnologia para fazer chegar a saúde a lugares de difícil acesso. A telemedicina é um movimento implementado em grandes hospitais brasileiros, como o Albert Einstein, que dedica um setor exclusivo para o atendimento. Ao dizer que a “vida da mulher não importa” o deputado afirma que a saúde das mulheres que realizam o teleaborto é considerada de menor importância no tratamento médico, quando é o oposto que ocorre, segundo as instituições médicas.

O mesmo relatório da OMS também indica os prejuízos econômicos e de saúde de se levar a cabo gravidez de risco, apontando que a interrupção de gravidez nas primeiras semanas é segura e desejada para mulheres que não tenham realizado planejamento familiar para ter o filho. Em diversos países o direito não é restrito, como é o caso da legislação brasileira, que só prevê o aborto em casos de estupro, anencefalia e risco de vida da mulher. O teleaborto permite a não ocupação de leitos de UTI por pessoas que possam receber o atendimento em casa.

Teleaborto no Brasil

No Brasil não há teleaborto como projeto de lei federal. Um dia depois da publicação do tuíte do deputado Diego Garcia, no entanto, sua colega na Câmara dos Deputados Chris Tonietto (PSL/RJ) entrou com um requerimento de informação sobre a prática no Ministério da Saúde. O requerimento contém informações falsas sobre o único caso encontrado de teleaborto no país: a iniciativa promovida pela médica Helena Paro, em Minas Gerais, realizado dentro do que prevê a legislação do país (em caso de risco de vida para a mulher causado pela gravidez, quando a gestação é resultante de um estupro ou se o feto for anencefálico).

O projeto de Helena Paro é amparado juridicamente pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero Anis. A ginecologista e obstetra, que orientou o aborto seguro da menina de 10 anos estuprada no Espírito Santo, propõe um modelo que segue os moldes de Estados Unidos e União Européia para a realização de um aborto seguro, legal e que se valha da telemedicina para continuar salvando vidas. Seu trabalho já acarretou no aborto seguro realizado por 15 mulheres durante a pandemia, que não precisaram ocupar um leito de UTI e teve 100% de recuperação positiva sem necessidade de internação pós-intervenção. 

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Bereia avalia que o conteúdo postado no Twitter pelo deputado federal Diego Garcia é falso. A informação que ele dissemina distorce dados sobre o teleaborto, que é desconhecido e nem é praticado comumente no país, fazendo uso de pânico moral em relação ao tema.

Referências

BBC, https://www.bbc.com/portuguese/geral-52777810 

OMS, https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/77079/9789243548432_spa.pdf?sequence=1 

SOS Vida, https://sosvida.com.br/telemedicina-eduardo-cordioli/ 

Instituto Anis, http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=BioeticaBrasilIntegra&id=26 

Requisição Chris Tonietto https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=node0q936dufhxf731hmj1a0bsq7hg4411480.node0?codteor=1999684&filename=Tramitacao-RIC+535/2021

Revista Piauí, https://piaui.folha.uol.com.br/tres-mulheres-um-direito/ UOL, https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/04/07/teleaborto.htm