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Por que você não deveria argumentar com radicais – o efeito “Backfire”

Davi Carvalho on 14 de abril de 2021

* Texto originalmente publicado em Política na Cabeça/Blogs Unicamp.

Sabe aquela vez que você topou, nas redes sociais ou fora delas, com uma pessoa muito convicta defendendo algo que você tinha certeza de que estava errado?

Pode ter sido um antivacina, um terraplanista, um negacionista da pandemia ou um apoiador ferrenho de algum político, daqueles dispostos a defender qualquer bobagem ou mentira que seu ídolo tenha dito.

Identificou o diálogo aí nas lembranças, né?

Então, você têm os fatos e a ciência a seu favor. Você argumentou contra o que essa pessoa convictamente defendia e ela obviamente mudou de opinião diante das evidências que você apontou, não foi? Pois é, comigo também nunca aconteceu. A verdade é que, diante de pessoas inflexíveis sobre algo, muitas vezes não as convencemos nem mesmo de fatos elementares.

Efeito backfire: quando a tentativa de argumentar sai pela culatra.
(fonte: https://web.northeastern.edu/nulab/backfire-effects-misinformation)

Seria essa tentativa de argumentar com os muito convictos, então, puro desperdício de tempo e energia? A realidade dura nos mostra que pode ser ainda pior do que isso. Sua tentativa de convencer o fanático pode ter um efeito totalmente negativo e torná-lo ainda mais convicto de sua crença. Esse é o chamado “efeito backfire” e é bem provável que você já o tenha produzido em alguém ou nele incorrido em discussões por aí.

Entendendo o conceito

“Nenhuma opinião deve ser defendida com fervor (…) O fervor apenas se faz necessário quando se trata de manter uma opinião que é duvidosa ou demonstravelmente falsa.”

Bertrand Russell

O efeito backfire foi verificado pela primeira vez em um estudo publicado em 2010 [1], conduzido pelos cientistas políticos Brendan Nyhan e Jason Reifler das universidades de Michigan e da Georgia, EUA. Nesse estudo, eles criaram artigos fictícios de jornal que reproduziam informações falsas amplamente difundidas nos EUA à época. Por exemplo, como a ideia de que as forças armadas estadunidenses teriam encontrado armas de destruição em massa no Iraque do ditador Sadam Husseim. Os voluntários da pesquisa liam esses artigos e, na sequência, recebiam outro texto com a informação correta. Isto é as supostas armas de destruição em massa jamais foram encontradas.

Um curioso resultado encontrado pela pesquisa foi o de que os voluntários mais conservadores e favoráveis à guerra contra o Iraque relataram, após a leitura do artigo com a informação verdadeira, que tinham ainda mais certeza de que as tais armas de destruição em massa realmente existiam. Em outras palavras, a tentativa de correção da crença incorreta desses voluntários “saiu pela culatra” (o efeito backfire) e eles ficaram ainda mais convictos sobre algo que nunca aconteceu de fato. Por acaso isso te soa familiar e te faz lembrar de alguma discussão que já teve com alguém?

Mas, podemos chamar de ignorância?

Não! Esse efeito não é fruto de ignorância ou burrice, como se poderia imaginar a princípio. Ele ocorre, na verdade, como um desdobramento do raciocínio motivado. Ou seja, é uma forma de pensar na qual selecionamos somente as evidências que nos agradam para embasar uma conclusão à qual já tínhamos chegado de antemão. Assim, ao receber uma informação que se choca com sua crença, a pessoa tende a revisar mentalmente as “evidências” (não importa muito que possam ser falsas) que a induziram a ter essa concepção equivocada e, nesse processo de revisão de suas memórias, pode acabar reforçando sua crença inicial.

Efeito backfire e política em contexto de pandemia

Até o uso das máscaras tem sido objeto de disputa na polarização política (fonte: Pixabay)

No âmbito da política, que tem como motor as ideologias e paixões humanas, não faltam exemplos de racionalização de “evidências” que levam ao efeito backfire de forma coletiva. Em um cenário de intensa polarização política, quase tudo é politizado e não seria diferente com os aspectos que envolvem a pandemia de coronavírus. Nesse contexto, um exemplo do efeito backfire coletivo pôde ser observado nos que passaram a minimizar a pandemia, buscando equivaler a Covid-19 a uma gripe comum.

As políticas negacionistas

Nos EUA e no Brasil, foram os presidentes os principais líderes políticos a sistematicamente minimizar a gravidade do coronavírus [2, 3]. Tanto lá como cá, os seguidores de ambos, ao receberem o sinal de seus ídolos, passaram a reproduzir sua concepção. Diante do crescente número de casos comprovados e das complicações, sequelas e mortes causadas pelo vírus, parte expressiva dos defensores da ideia de que se tratava de uma “gripezinha”, ao invés de mudarem de posição perante evidências contrárias, passaram a intensificar seu negacionismo por meio de teorias conspiratórias, ou seja, acionaram o raciocínio motivado resultando no efeito backfire.

Da afirmação — jamais comprovada — de que governadores estariam inflando os números de óbitos [4], passando pelo questionamento sobre a lotação de hospitais (com sugestão do presidente para que populares os invadissem e filmassem os leitos) [5], até o enfoque no número de casos recuperados [6], foram muitos os esforços dos negacionistas convictos para minimizar o terrível impacto da pandemia no segundo país em número de óbitos causados pela Covid-19 no mundo.

Minimizando a pandemia

Quanto àquele esforço de se minimizar a pandemia por meio do enfoque nos milhões de recuperados, é quase cômico observar que, na verdade, isso pesa contra o negacionismo dos fanáticos: a constatação de que há milhões de recuperados pressupõe a existência de um número ainda maior de infectados, o que por si só já expõe a extensão e a gravidade da pandemia.

Animados pelo mesmo impulso negacionista, surgiram também inúmeros apoiadores do presidente cujos parentes ou conhecidos supostamente tiveram diagnóstico positivo para Covid-19, mas que morreram, juram eles, de câncer ou outra doença grave. Por suposto, trata-se aqui do que chamamos, em ciência, de evidência anedótica; é razoável a probabilidade, porém, de que a leitora tenha visto alguma história do tipo em suas redes sociais durante a pandemia.

A “vacina chinesa” e o efeito backfire

Nem mesmo a vacina contra o coronavírus escapou à lógica da polarização política. Bastou o Ministério da Saúde anunciar a intenção de adquirir a CoronaVac [7]– vacina que está sendo produzida em associação entre o Butantã e a Sinovac, uma empresa chinesa — que o presidente, pressionado por apoiadores contrários à vacina [8], cancelou o acordo de compra [9]. Após esse imbróglio, várias fake news sobre a CoronaVac inundaram as redes sociais [10], como a de que a vacina usaria células de bebês abortados [11]. Isso tudo nos faz levantar a questão: existe a possibilidade de ocorrer o efeito backfire ao argumentarmos com um antivacina? Considerando-se a ciência sobre o tema, a resposta infelizmente é “sim”.

[Fonte: Renato Machado — cartunista]

Os mesmos pesquisadores citados, Reifler e Nyhan, conduziram, em 2015, um estudo sobre mitos relativos a vacinas [12]. À época, 43% dos estadunidenses acreditavam que a vacina da gripe poderia fazê-los ter gripe. Assim, nesse estudo, eles buscaram verificar a eficácia de se oferecer as informações corretivas dessa crença infundada. Como resultado, o estudo apontou que informações corretas — que a vacina não causava a gripe — foram suficientes para reduzir bastante essa crença específica.

Efeito colateral

No entanto, os voluntários da pesquisa que demonstraram níveis mais altos de preocupação com supostos efeitos colaterais de vacinas (como acreditar que elas causam autismo) passaram a manifestar menor disposição a vacinarem seus filhos. Nesse estudo, o efeito backfire ocorreu não na crença específica, alvo da informação corretiva, mas na postura dos voluntários que já tinham uma perspectiva antivacina, os quais ficaram ainda mais convictos sobre isso.

A esta altura, a leitora pode estar se perguntando se, por causa da possibilidade do efeito backfire, não devemos jamais argumentar com as pessoas muito convictas que estejam defendendo algum absurdo. Todavia, na realidade, há uma situação bastante frequente na qual convém, sim, debater com dogmáticos.

Argumentar ou não argumentar, eis a questão

“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.”

Carl Sagan

Em uma conversa privada, no tête-à-tête mesmo, com alguém defendendo radicalmente alguma inverdade, talvez seja melhor não insistir. O risco de você contribuir para que a pessoa fique ainda mais convicta é real. Por isso, vale muito mais a pena argumentar com as pessoas que podem ter caído em alguma desinformação, mas que têm maior abertura ao debate. E elas são muitas. Dessa forma, como sustenta o cientista político David Redlawsk, isolam-se os fanáticos de todo tipo, reduzindo sua influência.

Estudos mais recentes, como o dos cientistas políticos Thomas Wood e Ethan Porter, da George Washington University, não encontraram o efeito backfire em relação a fatos específicos [13]. Os pesquisadores argumentam que é possível, sim, mudar a opinião equivocada das pessoas com a exposição de fatos.

Mas…

É preciso lembrar, no entanto, que existe sempre a possibilidade de que elas reforcem sua postura — como ocorreu no estudo mencionado sobre a vacina — apesar de se dobrarem a um fato específico. Como um exemplo, imagine que você vai argumentar com uma pessoa que defende um remédio comprovadamente ineficaz contra a Covid-19 porque o político que ela apoia insiste se tratar de um medicamento salvador. A depender de sua abordagem e do nível de convicção dessa pessoa, talvez até a convença do fato de que o remédio é ineficaz. Não espere, porém, que diminua o apoio dela ao político, pois o mais provável é que o contrário aconteça.

No entanto, como parte significativa de nossas vidas atualmente acontece em rede, quando o debate for em público, como no Facebook ou em grupos de WhatsApp, convém demonstrar que os radicais estão equivocados. Nas redes, terceiros quase sempre estão observando as conversas alheias. Eis aí a situação na qual vale a pena travar o bom combate contra a desinformação, a mentira e as concepções falsas. Se seu interlocutor direto ficar ainda mais convicto na defesa de alguma desinformação qualquer, paciência. Quase sempre há vários outros que podem se beneficiar do seu esforço de argumentação em prol do restabelecimento da verdade.

Por fim

Vivemos em tempos nos quais vicejam posturas anticientíficas e esforços de relativização da verdade, quando não de sua negação completa. Como é bastante conhecido, isso é impulsionado por líderes políticos cujo comportamento é replicado por milhões de seguidores. Por isso, é importante que continuemos disputando, se não os corações, ao menos as mentes das pessoas e ter consciência da possibilidade de que o efeito backfire ocorra é um passo fundamental nessa jornada.

***

Foto de capa: Pixabay/Reprodução

***

Referências:

[1] Nyhan, B, Reifler, J (2010) When Corrections Fail: The Persistence of Political Misperceptions; Political Behavior, Vol 32, No 2, pp 303-330.

[2] (2020) Timeline: How Trump Has Downplayed The Coronavirus Pandemic. National Public Radio (NPR), 02 de outubro de 2020.

[3] “Gripezinha” e “histeria”: cinco vezes em que Bolsonaro minimizou o coronavírus (2020)

[4] Bolsonaro endossa notícia falsa para dizer que Estados inflam mortes por coronavírus, Valor Econômico, 31 de outubro de 2020.

[5] Bolsonaro recomenda invadir hospitais, Correio Braziliense, 11 de junho de 2020.

[6] Na data em que Brasil ultrapassa 100 mil mortos, Bolsonaro destaca pacientes recuperados, Agência Brasil (EBC), 20 de outubro de 2020.

[7] Brasil anuncia que vai comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, Agência Brasil, 20 de outubro de 2020.

[8] Bolsonaro sabia da intenção de compra da CoronaVac, mas recuou, Estado de Minas, Edição de 21 de outubro de 2020.

[9] Bolsonaro diz que Governo Federal não comprará vacina CoronaVac Agência Brasil (EBC), 21 de outubro de 2020.

[10] Aos Fatos (agência de fact-checking) – resultados de busca do verbete “coronavac”

[11] (2020) É falso que CoronaVac usa células de bebês abortados, Aos Fatos, 28 de julho de 2020.

[12] Nyhan, B, Reifler, J (2015) Does correcting myths about the flu vaccine work? An experimental evaluation of the effects of corrective information. Vaccine 33 (3): 459–464.

[13] Wood, T., Porter, E. (2018). The elusive backfire effect: Mass attitudes’ steadfast factual adherence. Political Behavior, Vol41, pp135-163.

OBS:

Esse texto contou com a revisão primorosa de Caroline Frere Martiniuc e Eduardo Jesus Veríssimo, aos quais agradeço enormemente.

Estamos conectados, porém divididos

Odlinari Ramon Nascimento da Silva on 14 de setembro de 2020

*Publicado originalmente no Medium.

A autocrítica é o maior desafio de todos nós. Olhar o argueiro no olho do meu irmão é muito fácil. Difícil é enxergar a trave que está no meu olho. E aqui eu tento escrever um texto na autocrítica do meu pensar e agir. Por isso peço, desde já, compreensão e que todos nós enxerguemos a trave que está no nosso próprio olho.

Parece que as mídias sociais, neste instante, se elevam — ou se rebaixam — a um nível das desigualdades interacionais. O fato de bloquear alguém em determinada mídia social não se configura em apenas bloquear, mas apagar esse “outro”, que na verdade, é o meu próximo.

Na comunicação, o outro sempre foi uma das peças mais importantes do relacionamento comunicativo, pois sem o outro não há interação humana. Gerações dos anos 1980 e 90 lembram do símbolo gestual do “corta aqui” (um gesto feito para alguém “cortar” os dedos indicadores). Mesmo sendo uma experiência traumática para os interlocutores, tal atitude levava sempre em conta o outro. Pensávamos da seguinte forma: como conviver com esse outro, que acabei de romper relações, se ele estuda comigo? Como me comportar diante dessa circunstância, se na sala de aula ele senta ao meu lado? Como lidar com o rompimento se esse outro é sempre aquele que fisicamente está próximo de mim?

Mas, afinal, quem é meu próximo na internet? O doutor em Teologia, Antonio Sparado, no livro Ciberteologia, escreve que “o conceito de ‘próximo’ está originalmente ligado à proximidade, isto é, à vizinhança espacial. A ruptura na proximidade acontece devido ao fato de a vizinhança ser estabelecida através da mediação tecnológica pela qual está ‘perto’ de mim, isto é, próximo, quem estiver ‘conectado’ comigo. Portanto, arrisco estar ‘longe’ de um amigo meu que mora perto e que não está no Facebook e usa pouco o e-mail, e, por outro lado, sentir-me ‘perto’ de uma pessoa que nunca encontrei, que se tornou minha ‘amiga’ porque é amiga de um amigo meu e com a qual tenho uma troca frequente na rede” (SPADARO, 2012, p. 63).

A distância geográfica e a aproximação comunicativa que a internet nos proporciona potencializam esse “apagamento do outro”. Se não vejo ou não verei aquela pessoa fisicamente parece ser mais fácil bloqueá-la. Mas temos de ter a consciência de que bloquear é simplesmente apagar. É tornar-se invisível e deixar o outro invisível, mesmo que a qualquer momento, esse bloqueio venha ser interrompido.

No entanto, isso gera uma bolha para ambos os lados. Reconheço que eu, ao bloquear pessoas no Facebook, por exemplo, acabo sendo vítima de um outro dilema: a bolha do pensamento homogêneo. É a mesma coisa da torcida única. E cada vez mais as nossas mídias sociais estão se tornando uma arena única. Tal consciência nos proporciona a viver com esse dilema, pois quem nunca bloqueou alguém em alguma rede social? “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”.

É óbvio que toda relação social deve estar ancorada no respeito e na consideração, ou seja, a amizade funciona como um contrato do tipo: você respeita o que eu falo e eu respeito o que você fala, mesmo que venhamos a ter conflitos, pois nem sempre concordamos 100% com qualquer pessoa deste mundo. Discordamos, algumas vezes, até dos nossos próprios pais. Mas quando se fere esse contrato de amizade digital, o bloqueio parece ser a primeira solução e, consequentemente ou não, pode reverberar na relação física dos indivíduos. Isso porque várias pessoas que bloqueamos em nossas mídias sociais são as mesmas pessoas que convivemos fisicamente.

Spadaro (2012, p. 61) afirma que “o ciberespaço (a internet) é um lugar emocionalmente quente e não tecnologicamente gélido, como se poderia imaginar. Se a rede, chamada para conectar, na realidade acaba por isolar, então está traindo a si mesma, o seu significado”. E é aqui que as nossas relações se tornam cada vez mais fluídas/líquidas, na linguagem do sociólogo Bauman.

Isso também é potencializado pelo próprio algoritmo que opera na rede. Vivemos em um mundo plural, informacional e conectado, mas nunca estivemos tão divididos. “Hoje todos estão conectados graças às redes sociais, como o Facebook e o Twitter. Como se sabe, tanto as redes sociais quanto os motores de busca, como o Google, conservam as informações das pessoas que os frequentam, e esses dados são utilizados para guiar as respostas e as atualizações relativas aos contatos pessoais. É como se o Google e o Facebook ‘nos conhecessem’ baseados em nossos acessos à rede, nos sites que visitamos, no que nos interessa mais. Isso traz um grande risco: permanecermos fechados numa espécie de ‘bolha’ que filtra o que é diferente de nós, e assim não somos mais capazes de perceber que há pessoas, artigos, livros, revistas que não correspondem às nossas ideias, ou que exprimem uma opinião diferente da nossa. No final, ficamos cercados por um mundo de informação e por um mundo de relações que se parecem conosco: iguais a nós. O risco é evidente: fechar-se à provocação intelectual que provém da alteridade e da diferença. O outro se torna significativo para mim se for, de algum modo, semelhante a mim, senão não existe” (SPADARO, 2016, p. 26).

Vivemos dias em que o diálogo democrático está nebuloso, devido a fumaça dos “incêndios simbólicos” que acontecem no nosso país. Sem partidarizar nosso diálogo aqui, mas compreendendo que a democracia, em sua definição mais básica, é o espaço público da pluralidade de vozes, não há como dizer que é democrático um espaço em que vozes tentam calar outras vozes. É preciso abrir o diálogo opinativo, respeitoso, coerente e, se possível, argumentativo. Precisamos entender que “a rede não tem a vocação de uniformizar o mundo, mas sim de conectar as diferenças, abrir o diálogo, fazer com que os homens se sintam mais unidos”.

SPADARO, 2016, p. 30

Em uma das mensagens do Papa Francisco, a rede muitas vezes se converte no seu oposto, em uma teia de aranha capaz de capturar.

Quando isso ocorre, a identidade funda-se na contraposição ao outro, à pessoa estranha ao grupo: define-se mais a partir daquilo que divide do que aquilo que une.

SBARDELOTTO, 2020, p. 177

Precisamos urgentemente resgatar o nosso convívio comunitário nas diferenças. Jamais somos iguais. A primeira pessoa do plural (nós) precisa ser sempre a nossa bandeira. Segundo Sbardelotto (2020, p. 174) “em vez de ajudar na construção de um ‘nós, o ambiente digital pode se tornar mero espelho para a reafirmação do ‘eu’ ou mera arena para a aniquilação simbólica do ‘tu’ e do ‘eles’. Assim, impossibilita-se qualquer vislumbre de solidariedade em comunidade”.

O Evangelho de Jesus Cristo toca nas nossas feridas. Não é fácil amar aqueles que nos odeiam. Porque amar os que nos amam é simplesmente ser generoso, mas amar os que nos odeiam é acima de tudo ser imitador de Cristo. Que tenhamos paz nas nossas diferenças!

Se amais somente aqueles que vos amam, que generosidade é essa? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa? Os pecadores também agem assim. E se prestais ajuda somente àqueles de quem esperais receber, que generosidade é essa? Até os pecadores prestam ajuda aos pecadores, para receberem o equivalente. Amai os vossos inimigos, fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso também para com os ingratos e maus.

Lucas 6.32–35

***

Foto de capa: Pixabay/Reprodução

***

Referências

SBARDELOTTO, Moisés. Comunicar a fé: por quê? Para quê? Com quem? Petrópolis: Vozes, 2020.

SPADARO, Antonio. Ciberteologia: pensar o cristianismo nos tempos da rede. Tradução Cacilda Rainho Ferrante. São Paulo: Paulinas, 2012.

SPADARO, Antonio. Quando a fé se torna social. Tradução Renato Ambrosio. São Paulo: Paulus, 2016.

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