1º de abril: Como notícias falsas alimentam o caos e a violência

Nesse primeiro de abril, dia popularizado como “Dia da Mentira”, Bereia traz um alerta: além de ter se tornado estratégia política na captação de apoios e interferência em temas de interesse público, a mentira pode ter consequências trágicas e irreversíveis. 

O caso mais recente que ocorreu no Acre ilustra isso. Yara Paulino da Silva foi assassinada, em 24 de março passado, após um boato afirmar que ela havia matado sua filha de três meses. A ossada que supostamente pertencia à bebê foi analisada e identificada como sendo de um animal, mas a verdade chegou tarde demais. Seus dois filhos mais velhos, de dez e dois anos, presenciaram o crime, e agora recebem apoio psicológico para lidar com o trauma. 

O Ministério Público do Acre (MP-AC) alertou para os riscos da disseminação de notícias falsas e enfatizou a importância de checar informações antes de compartilhá-las. “Fake news mata”, destacou a instituição em comunicado. O promotor Thalles Ferreira reforçou que a propagação irresponsável de boatos tem gerado uma onda de ódio, linchamentos e execuções injustificadas, comprometendo a segurança e a justiça no país.

A história de Yara, infelizmente, não é um caso isolado. A desinformação tem impactos devastadores na sociedade, levando a linchamentos, morte, impactos na saúde coletiva e até mesmo conflitos étnicos. Bereia fez um levantamento de 13 casos que repercutiram na imprensa no Brasil e no mundo:

Linchamentos baseados em mentiras

  • O caso da “Bruxa do Guarujá” (2014): Fabiane Maria de Jesus foi espancada até a morte por cerca de 100 pessoas após ser falsamente acusada de sequestrar crianças. O boato, originado de uma fake news compartilhada nas redes sociais, desencadeou uma onda de violência.
  • O caso de Las Colonias de Hidalgo, México (2022): Um advogado de 31 anos, Picazo González, foi linchado e queimado vivo por uma multidão após rumores falsos de que forasteiros estavam sequestrando crianças para o tráfico de órgãos. Seu único “erro” foi ter um carro com placa de outra cidade.
  • O caso de Araruama, RJ (2017): Um casal foi atacado por 200 pessoas após serem acusados, sem provas, de sequestrar uma criança. O boato viralizou pelo WhatsApp e, sem a intervenção da polícia, o desfecho poderia ter sido fatal.
  • O caso de Rafael dos Santos Silva (2024): Rafael, de 22 anos, foi espancado até a morte em Suzano, SP, após circular a falsa alegação de que ele matava cães. Sete homens foram presos pelo crime, e investigações mostraram que o boato começou a partir de um vereador local, que insinuou a acusação sem provas.

Mentiras sobre desastres naturais

Durante as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, a disseminação de informações falsas complicou os esforços de resgate e causou pânico desnecessário. Circularam mensagens mentirosas sobre “crianças boiando nos rios do Sinos e Gravataí por falta de socorro das autoridades” e sobre o retorno da água em bairros afetados de Porto Alegre, levando moradores a saírem de suas casas antes do momento seguro.

Mentiras sobre saúde pública

  • A desinformação sobre vacinas e a covid-19: Durante a pandemia, notícias falsas sobre a ineficácia das vacinas e teorias conspiratórias sobre o coronavírus resultaram na hesitação vacinal e em milhares de mortes evitáveis. De supostos medicamentos que atenuariam os efeitos do vírus a narrativas negacionistas que minimizaram a gravidade da doença, a desinformação retardou as medidas de contenção e agravou ainda mais a crise sanitária. 
  • Estigmas sobre o HIV: bem antes da pandemia de Covid, a desinformação sobre a Aids resultou em preconceito e estigmas que até hoje são associados à doença causada pelo vírus HIV. Relacionada à “punição divina pela devassidão” e intitulada de “câncer gay” na década de 1980, a doença até hoje é vista como motivo de vergonha para algumas pessoas soropositivas, retardando diagnósticos e o tratamento.
  • Chás milagrosos: a ingestão de chás que prometem desinchar e resultar na rápida perda de peso é frequentemente difundida na internet como alternativa ágil e saudável a medicamentos autorizados e a processos longos de emagrecimento. No entanto, o uso de determinados “chás milagrosos”, que misturam ervas, pode resultar em morte por insuficiência hepática. Foi esse o caso que resultou no óbito de Mara Abreu, em 2022, que faleceu após ingerir cápsulas cuja venda é proibida no Brasil.

Mentiras em casos de repercussão mundial: conflitos e guerras

  • Guerra civil em Mianmar: A guerra no país do sudeste asiático, que completou quatro anos em fevereiro de 2025, teve apoio em notícias falsas e boatos veiculados nas mídias sociais. Segundo um relatório produzido pelo Facebook em 2018, publicações e contas na plataforma incentivaram e ampliaram o tensionamento entre o grupo minoritário rohingya, muçulmano, e a maioria budista do país. De acordo com o documento, isso colaborou com o aumento dos casos de violência no país.  
  • O genocídio dos Tutsi em Ruanda:  impulsionado por teorias da conspiração propagadas por uma emissora de rádio – principal meio de comunicação do país no início da década de 1990 -, o genocídio do grupo étnico Tutsi revela a influência da desinformação e do discurso de ódio para a deflagração de conflitos sangrentos. 

Mentiras que geram danos psicológicos

Para além das consequências físicas imediatas, as vítimas de informações falsas frequentemente enfrentam traumas psicológicos duradouros e transformações significativas em suas vidas cotidianas. O caso da carioca Adriana Rodrigues representa nitidamente esse impacto. Falsamente apontada como a mulher que aparecia em um vídeo portando um fuzil, a dona de casa enfrenta uma rotina de medo e dificuldade para dormir há mais de um ano, apesar de uma investigação da Polícia Civil do RJ ter concluído que a mulher na imagem não era ela.

O impacto na vida de Adriana foi devastador: além de lidar com a morte do filho – morto pela Polícia na chacina do Jacarezinho em 2021, ela teve que mudar de casa quatro vezes devido à repercussão da história, passou a tomar remédios controlados e tentou mudar sua aparência para não ser reconhecida. “Tem chacota na rua, ‘vamos tirar foto comigo, vovó do fuzil?'”, relatou Adriana.

As vítimas de notícias falsas frequentemente enfrentam uma espécie de “morte social” – mesmo quando não há consequências físicas diretas, há uma perda profunda da reputação, da privacidade e da sensação de segurança. Isso pode levar a problemas de saúde mental como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

Há consequências trágicas como os dois casos a seguir:

  • O caso Jéssica Canedo (2023): A jovem de 22 anos tirou a própria vida após ser alvo de ataques nas redes sociais, relacionados a uma fake news que afirmava que ela teria um relacionamento com o humorista Whindersson Nunes. A notícia falsa foi repercutida sem apuração por perfis de fofoca, como a página Choquei. Canedo, que passava por tratamento psicológico antes do ocorrido, não resistiu aos ataques de ódio, alguns deles com incitação ao suícidio.
  • O caso de Mia Janin (2021): a estudante do Jewish Free School, em Kenton, Londres, foi encontrada morta em sua casa em Harrow em 12 de março de 2021. A investigação concluiu que Mia tomou sua própria vida após ser vítima de bullying por parte de outros estudantes. Um grupo formado principalmente por meninos, usava aplicativo de compartilhamento de  mensagens para espalhar fotos manipuladas de meninas, colocando suas faces em corpos de estrelas do pornô.

Referências:

Kenan Institute

https://kenan.ethics.duke.edu/media-manipulation-suppression-and-the-rwandan-genocide/

BBC

https://www.bbc.com/portuguese/geral-43895609


G1

https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2025/03/27/apos-mae-ser-morta-por-conta-de-boato-no-ac-mp-alerta-para-o-perigo-das-noticias-falsas-fake-news-mata.ghtml

https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2017/04/multidao-cerca-carro-e-tenta-linchar-casal-suspeito-de-sequestrar-crianca.html

SECOM GOV

https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2023/03/tragica-historia-no-guaruja-e-retratada-em-novo-episodio-da-campanha-brasil-contra-fake

Uol

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2022/06/15/o-chocante-linchamento-de-mexicano-alvo-de-multidao-enfurecida-por-boatos-de-whatsapp.htm

Brasil de Fato

https://www.brasildefato.com.br/2024/05/08/30-noticias-falsas-golpes-e-fraudes-em-andamento-no-meio-das-enchentes-no-rs

Imagem de capa: awmleer/Unplash

Boatos e fake news no tempo do apóstolo Paulo: uma lição para cristãos e cristãs hoje

Podemos nos perguntar se no início do Cristianismo já havia perturbação nas comunidades causada por falsas notícias e documentos apócrifos.

A Segunda Carta de Paulo aos Tessalonicenses dá a entender que esse fenômeno já existia. Paulo alerta:

“A respeito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e de nossa reunião junto a ele, nós vos pedimos, irmãos, não vos perturbeis tão depressa, nem vos alarmeis por causa de uma revelação profética, de uma afirmação ou carta, apresentadas como se procedessem de nós e que vos fariam crer que o dia do Senhor chegou. Que ninguém vos engane, de maneira alguma”. (2 Ts 2,1-3a)

De fato, a comunidade de Tessalônica se situava numa região atravessada por diferentes culturas e religiões, por ser uma cidade portuária, de grande movimento comercial. Havia um ambiente de agitação e conflitos religiosos e políticos, sob o domínio implacável do império romano. Os cristãos, recém convertidos e batizados, sofriam perseguição da Sinagoga local, aliada aos poderosos da cidade, que exploravam os trabalhadores.

Nesse ambiente, a volta do Cristo glorioso e o juízo final apareciam como o restabelecimento da justiça e a conquista da recompensa para os cristãos. Mas, ao mesmo tempo, espalhavam o medo. Então surgiam notícias e falsas profecias sobre o fim do mundo, com fenômenos apocalípticos, que deixavam as pessoas inquietas e ameaçadas. Mais ainda, circulavam falsas cartas atribuídas a Paulo. Por isso, ele vai alertar para que as pessoas não se deixassem levar por essas mentiras e nem dessem crédito às cartas falsamente atribuídas a ele e seus companheiros.

Por esse motivo, Paulo vai terminar sua carta tomando ele mesmo a pena e redigindo do próprio punho a despedida:

“A saudação é de próprio punho, minha, de Paulo. Assim é que assino todas as cartas. Esta letra é minha.

Que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós.” (2Ts 3,17-18)

Lendo a Segunda Carta aos Tessalonicenses podemos ver que, já desde o início do Cristianismo, o fenômeno das falsas notícias, boatos e cartas apócrifas circulavam nas comunidades. A emoção provocada por tais boatos é sobretudo o MEDO, o temor, a inquietação – os mesmos sentimentos que estimulam a propagação de fake news nos dias de hoje.

Paulo vai responder a esse problema alertando para que os cristãos não se deixassem perturbar ou alarmar “tão depressa”. Que não se deixassem enganar de forma nenhuma. E antes de terminar sua carta ele pede: “Que o Senhor da paz vos dê a paz sempre e em tudo” (2 Ts 3,16).

**Os artigos da seção Areópago são de responsabilidade de autores e autoras e não refletem, necessariamente, a opinião do Coletivo Bereia.

***Foto de capa: Peter H/Pixabay

Nota falsa sobre retiradas de empresas de plataformas digitais do Brasil circula em grupos de WhatsApp de igrejas

Circula em grupos de Whatsapp de igrejas um documento assinado divulgado por uma suposta aliança empresarial das chamadas “Big Techs”, formada por Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify, denominada “Democracy Alliance” (Aliança Democracia, em inglês). Segundo a nota, com data de 2 de maio de 2023, as empresas de mídia teriam decidido  suspender suas atividades no Brasil a partir de 4 de junho de 2023, caso a PL 2630/2020 seja aprovada. 

Imagem: reprodução de falsa nota oficial das empresas de tecnologia

O Projeto de Lei 2630/2020

Conhecido de forma simplista como “PL das Fake News”, o Projeto de Lei 2630/2020 diz institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. No texto, o PL cria medidas de enfrentamento a disseminação de conteúdo desinformativo (falso e enganoso), bem como de material que estimule o ódio, o extremismo e a violência (as chamadas fake news) nas mídias digitais, sejam os perfis públicos ou privados, bem como visa à responsabilização das plataformas que não somente publicam mas monetizam (ganham financeiramente) com tais conteúdos.

Os artigos 3° e 4° expõem estes princípios e objetivos:

Art. 3º Esta Lei será pautada pelos seguintes princípios: 

I – liberdade de expressão e de imprensa;

 II – garantia dos direitos de personalidade, da dignidade, da honra e da privacidade do indivíduo; 

III – respeito ao usuário em sua livre formação de preferências políticas e de uma visão de mundo pessoal; 

IV – responsabilidade compartilhada pela preservação de uma esfera pública livre, plural, diversa e democrática; 

V – garantia da confiabilidade e da integridade dos sistemas informacionais; 

VI – promoção do acesso ao conhecimento na condução dos assuntos de interesse público; 

VII – acesso amplo e universal aos meios de comunicação e à informação; 

VIII – proteção dos consumidores;  

IX – transparência nas regras para veiculação de anúncios e conteúdos pagos. 

Art. 4º Esta Lei tem como objetivos:

 I – o fortalecimento do processo democrático por meio do combate ao comportamento inautêntico e às redes de distribuição artificial de conteúdo e do fomento ao acesso à diversidade de informações na internet no Brasil;

 II – a defesa da liberdade de expressão e o impedimento da censura no ambiente online; 

III – a busca por maior transparência das práticas de moderação de conteúdos postados por terceiros em redes sociais, com a garantia do contraditório e da ampla defesa; 

 IV – a adoção de mecanismos e ferramentas de informação sobre conteúdos impulsionados e publicitários disponibilizados para o usuário.

O projeto é de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e é uma resposta aos mais de 50 projetos de leis para combate à fake news que circularam no Congresso Nacional até o ano de 2020, ano em que o PL foi apresentado. O projeto foi aprovado no Senado, depois de três anos de debates e encaminhado à Câmara de Deputados, onde está em debate  e pode ser acompanhado pelo portal da Câmara legislativa.

Posicionamentos contrários ao PL 2630 em meio a grupos religiosos religiosos já foram tratados em matérias do Bereia.  Foi verificado o caso em que a Frente Parlamentar Evangélica, liderada pelo deputado federal Eli Borges (PL-GO) veio a público orientar a votação contrária à PL. Bereia também checou postagem do deputado ex-procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), publicada em suas mídias sociais para desinformar sobre o projeto de lei. 

Sobre a suposta nota das plataformas de mídia

As empresas de plataformas  de mídia, citadas na nota oficial divulgada, com data de 2 de maio de 2023, foram consultadas pelo projeto de checagem Boatos.org . Em resposta, as empresas citadas no documento negaram serem as autoras. Em nota publicada em seu site, em 3 de maio de 2023, a empresa Meta (Facebook/Instagram e WhatsApp) afirmou serem falsas as informações do documento:

Imagem: reprodução de blog da Meta

A empresa Spotify declarou, ao Boatos.org, ser falsa a informação de que é autora do documento em circulação. Já a Google não se pronunciou sobre o caso. A empresa havia publicado anúncio publicitário contra o PL, na página de abertura de sua plataforma, em 2 de maio de 2023, mas retirou a nota do ar, logo após a aplicação de medida cautelar da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) contra a empresa.

Em matéria detalhada, o portal Boatos.org aponta como falsas as informações contidas na nota em circulação e lembra que “ao olhar o texto, já é possível ficar muito desconfiado. A mensagem segue o velho roteiro das fake news na internet. Ela apresenta caráter vago, extremamente alarmista e tem muitos erros de ortografia”.

Quanto à Democracy Alliance, a instituição não tem relações com as empresas de mídia citadas na falsa nota oficial”. Em seu site, a rede Democracy Alliance defende ser uma rede de doadores que se dedica à promoção de uma agenda progressista durante as eleições estadunidenses; O site explica que esta comunidade de doadores, formada por agentes políticos ligados às pautas de gênero, raça e classe, torna possível que estas pessoas “troquem experiências e conhecimentos com outros e alinhem recursos e estratégias com sindicatos, fundações progressistas, bem como indivíduos e famílias comprometidos com a construção de uma democracia mais inclusiva e equitativa”.

A informação também foi apurada como falsa por outras iniciativas de checagem, como UOL Confere, Agência Lupa e Estadão Verifica.

**

Bereia classifica como falsa a informação de que as empresas META, Spotify e Google haviam se unido e redigido um documento/comunicado sobre o fim de suas atividades no Brasil. Algumas empresas citadas manifestaram-se a respeito, negando a autoria da nota, que tampouco se encontra no site da alegada organização responsável , a Democracy Alliance.  

Importa considerar que essas empresas de plataformas de mídias digitais são conglomerados que comandam o mercado mundial de consumo de informações virtuais. Uma suposta retirada de um país do tamanho do Brasil – o terceiro país do mundo a consumir redes sociais, e o primeiro da América Latina – dificilmente seria cogitada, pois representaria um prejuízo muito significativo para o altamente lucrativo mercado que estes conglomerados disputam, arena em que há muita concorrência.

Bereia lembra leitores e leitoras que o PL segue em trâmite legal, e o processo pode ser acompanhado pelo portal da Câmara dos Deputados. 

Referências de checagem:    

Câmara dos Deputados. 

https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2256735  acesso em 13 mai 2023

https://www.camara.leg.br/noticias/666062-combate-a-fake-news-e-tema-de-50-propostas-na-camara-dos-deputados acesso em 13 mai 2023

https://www.camara.leg.br/noticias/673694-projeto-do-senado-de-combate-a-noticias-falsas-chega-a-camara/ acesso em 13 mai 2023

https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2256735acesso em 13 mai 2023

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1909983 acesso em 13 mai 2023

Boatos.org. https://www.boatos.org/tecnologia/google-meta-twitter-telegram-e-spotify-anunciam-que-vao-deixar-o-brasil-em-nota-oficial-brpt-boato.html acesso em 13 mai 2023

Meta. https://about.fb.com/br/news/h/carta-falsa-atribuida-a-empresas-de-tecnologia-sobre-o-pl-26 acesso em 13 mai 2023

Democracy Alliance. https://democracyalliance.org/about/ acesso em 15 mai 2023

Ministério da Justiça e Segurança Pública Secretaria Nacional do Consumidor Gabinete da Secretaria Nacional do Consumidor, DESPACHO Nº 652/2023/GAB-SENACON/SENACON https://manualdousuario.net/wp-content/uploads/2023/05/despacho-senacom-google-2-mai-2023.pdf acesso em 15 mai 2023

Bereia.

https://coletivobereia.com.br/deputado-evangelico-usa-biblia-em-material-falso-de-campanha-para-impedir-projeto-de-lei/ acesso em 15 mai 2023

https://coletivobereia.com.br/religiosos-se-mobilizam-sobre-o-projeto-de-lei-2630-2020-a-lei-de-enfrentamento-das-fake-news/ acesso em 15 mai 2023

https://coletivobereia.com.br/?s=lei+fake+news acesso em 15 mai 2023

Forbes. https://forbes.com.br/forbes-tech/2023/03/brasil-e-o-terceiro-pais-que-mais-consome-redes-sociais-em-todo-o-mundo/ Acesso em 15 mai 2023

UOL Confere. https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2023/05/05/nota-falsa-diz-que-google-meta-twitter-telegram-e-spotify-sairao-do-pais.htm Acesso em 15 mai 2023

Agência Lupa. https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2023/05/03/google-meta-twitter-telegram-spotify-suspensao-servicos-pl-fake-news Acesso em 15 mai 2023

Estadão. https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/google-meta-twitter-telegram-spotify-pl-fake-news-4-de-julho/ Acesso em 15 mai 2023

Melancias chinesas não vieram contaminadas com coronavírus

* Nota por Maria Fernanda de Lima

Voltou a circular em grupos religiosos no WhatsApp um áudio que já havia sido desmentido em maio deste ano pelo Boatos.org. O áudio tem quase dez minutos e nele uma mulher não identificada pede para avisar a população para não comprar melancias, pois todas elas estariam vindo da China contaminadas com o coronavírus.

Conforme outra checagem, realizada pela agência Lupa em setembro, que também declarou como falsas as informações contidas no áudio, o Ministério da Saúde afirma que não há qualquer evidência de que produtos enviados da China para o Brasil tragam o vírus.

Segundo o Boatos.org, o áudio tem características alarmistas, não apresenta qualquer fonte confiável e, além da questão das melancias, mente sobre uma série de outras informações falsas, como supostas vacinas que envenenariam a população e inexistência do coronavírus.

Confira a abaixo a reprodução, na íntegra, da checagem realizada pelo Boatos.org.

Melancia vendida no Brasil foi contaminada por chineses com coronavírus #boato

Caramba! O que não tem faltado na internet são informações malucas (talvez esse seja o melhor termo) relacionadas à Covid-19. A mais nova delas fala de uma “denúncia bombástica” que envolve caminhoneiros, chineses, coronavírus e… melancia.

De acordo com um áudio que está circulando no WhatsApp, uma mulher denuncia que “os chineses” estão contaminando todas as melancias no Brasil com o “vírus” (presume-se que seja o coronavírus), que os caminhoneiros estão sabendo, mas não podem fazer greve e que é preciso deixar de comprar a fruta. O áudio ainda fala que não existe Covid-19 e a pessoa que o narrou pede para ela não seja identificada. Leia a transcrição do áudio em questão:

Por favor, só não divulgue nome de quem te passar por favor, mas avisa toda população que puder. Não compre melancia no Brasil. as as melancias tá entrando. Já nos comércios todas contaminadas. Os caminhoneiros não pôde para greve, porque só tem eles para transportar as melancia os que tão os governantes que tão saindo de Brasília que tão pedindo as contas porque não tão concordando e tão correndo risco de vida, já foi vazado um áudio os chineses tão invadindo o Brasil. Eles querem o Brasil, Estados Unidos a qualquer custo. Só que eles querem comer na população já foi dado ordem. Para o presidente Assinar o decreto espichar mais três meses de seiscentos reais e se depender precisar espichar, mais seis meses que é pra não pegar a população indo trabalhar pa, pegar eles encurralado em casa pra aplicar as vacinas que já tão chegando no Brasil, quem não tomou a vacina vai ser ameaçada de ser preso.
Outra por que que os cadeeiro não pode sair porque lá dentro eles vão ter que consumir a melancia após as refeição e tomar as vacinas e as pessoas idosas vão pegar mais rápido o vírus porque as melancias tão contaminadas todas as melancia entendeu por favor, avisa o Máximo de população que puder porque vão ser obrigado também a tomar vacina todo pessoal da área de saúde até os que tão em casa e eles não tão conseguindo conter as pessoas em casa. Então, eles vão começar a multar quem tiver na rua Só vai poder sair de acordo com a data do seu aniversário, então por favor. Avisa a população que o problema não é máscara. O problema é a injeção que eles tão injetando até mesmo nos hospitais. Quem morre não pode ter direito ao corpo de delito. Eles tão jogando pro Covid-19 não tem Covid-19. é o veneno que eles tão injetando nas pessoas pra diminuir a população pra passar o Brasil Brasil. Dívida alta pra passar o Brasil por cima acontece que o nosso Presidente não queria usar máscara porque ele já sabia. Eles obrigaram o presidente usar máscara pra poder incentivar as pessoas, usa máscara e ficar em casa porque em casa que eles vão querer as pessoas pra vacinar por favor a vacina que tá chegando. Toda contaminada, as pessoas que se escaparem vai ter problema sério mentais em depressão. por favor, avisa o máximo que você puder não consumir as melancia daqui pra janeiro que tão todas contaminadas os governantes que estão ainda em Brasília, porque tão concordando em contaminar Todas as melancia, os caminhoneiro é obrigado a trabalhar na rua pra entregar as melancias pra ir pro comércio. por favor avisem o máximo que puder.

Melancia vendida no Brasil foi contaminada por chineses com coronavírus?

Caraca! Como tem gente maluca (ou mau caráter). Você notou que a pessoa que gravou o áudio pediu para não ser identificada? Sabe por que? Porque o áudio em questão é MUITO falso. Vamos aos fatos.

Como é possível ver, a mulher do áudio em questão faz acusações gravíssimas que envolvem tentativas de matar muitas pessoas dolosamente, contaminar alimentos, promover uma quebra de mercados e outras coisas. E sabe quantas provas ela apresenta? Nenhuma! Isso mesmo. A mensagem em questão vomita acusações e não apresenta nenhuma prova.

É importante citar que o áudio, além de ter características de boatos online, como ser vaga, alarmista, com erros de português e falta de citação de fontes confiáveis, tem diversas contradições que derrubam a tese. Vamos listar algumas só para vocês terem uma ideia.

1) A “contaminação massiva de melancias” cobraria uma logística gigantesca. Em 2014, o Brasil produziu 111 milhões de toneladas de melancia. Imagina só como seria o trabalho de infectar cada melancia. Isso demandaria uma mão de obra e matéria-prima (o vírus) que, com certeza, chamaria atenção. Mas sabe o que sabemos além do áudio da “agente secreta” do áudio? Nada. Não há uma referência sobre o assunto em fontes confiáveis.

2) Mesmo que a ação fosse realizada, não há garantia de que as pessoas fossem contaminadas. O vírus não se multiplicaria na melancia e, se o tempo de infecção até o consumo fosse longo (alguns dias), o vírus já estaria morto. Ou seja: não seria um “plano maléfico” tão eficaz.

3) A mulher fala que “os governantes que não concordam” saíram de Brasília. Com exceção de alguns ministros (como Mandetta, Moro e Teich), não houve nenhuma “renúncia”. Detalhe: nenhum dos três citados saíram por causa de “melancia”.

4) A mulher fala que a China vai invadir o Brasil. Essa tese não só é falsa como também já foi desmentida no Boatos.org. Leia aqui.

4) A mulher chega a falar que vão dar vacinas infectadas nas pessoas e que a Covid-19 não existe. De novo, mais duas informações que não procedem. Primeiro, porque ainda não foi homologada uma vacina para Covid-19. Segundo, porque está mais do que claro que o coronavírus existe.

5) Para terminar, não faz nenhum sentido a tese de que o governo vai prender as pessoas em casa para “se contaminarem”. Se houvesse um plano desses, o que faria sentido seria soltar as pessoas na rua para se contaminarem e morrer muita gente. Ainda bem que ninguém quer isso, não é?

Pela falta de provas apresentadas pela mulher que narra o arquivo e pelos absurdos apresentados, podemos dizer que a informação que circula na internet é falsa. As melancias não foram infectadas com o coronavírus por chineses que querem “invadir o Brasil”.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164. 

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Foto de Capa: Pixabay/Reprodução

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