Evangélicas pela Igualdade de Gênero lança cartilha contra feminicídio em espaços cristãos e políticos
A Cartilha de Enfrentamento e Mobilização Nacional pelo Feminicídio Zero, uma iniciativa do grupo Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG), foi lançada em 13 de março, na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). Diante da relevância que os espaços religiosos e suas lideranças assumem na vida de milhões de brasileiras, a EIG contou com o apoio da Procuradoria Especial da Mulher e da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia. O documento é voltado às mulheres evangélicas e busca integrar esse segmento às políticas nacionais de proteção contra a violência de gênero.
A violência de gênero é marcada por diversas manifestações, desde comentários e “brincadeiras” de cunho misógino a agressões físicas, como o feminicídio, como já foi mostrado pelo Bereia em outras produções. Dentre as mulheres vítimas desses ataques, muitas são evangélicas, como aponta um estudo conduzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pelo Instituto Datafolha.
Em conformidade com o documento lançado na Bahia, um estudo conduzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pelo Instituto Datafolha apresentou, na edição mais recente do relatório Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil, que 47,4% das mulheres vítimas de violência grave em 2024 afirmaram não ter feito nada diante da agressão sofrida.
Desse grupo, apenas seis em cada cem mulheres afirmaram ter buscado ajuda da igreja após um episódio grave de violência. Isto chamou a atenção dos pesquisadores, visto que 38 a cada cem mulheres entrevistadas e que passaram por alguma situação de violência ou agressão se declararam evangélicas. De acordo com o grupo de pesquisa, esse dado “remete à discussão sobre o papel dos espaços de fé na prevenção e acolhimento às mulheres em situação de violência doméstica”.
Os dados do relatório mostram que ainda que o Brasil preserve sua laicidade, a população brasileira é majoritariamente cristã, sendo a religião evangélica a que mais cresce, reiterando a importância de refletir e problematizar a violência pelo prisma das categorias religião e gênero.
De acordo com a presidente da EIG Valéria Vilhena, já foi apontado em pesquisas que cerca de 43% das mulheres que prestavam queixa de violência doméstica se declaravam evangélicas. Segundo a coordenadora de projetos da EIG/Fundo Elas+, Bebel Lourenço, em estados como Espírito Santo, considerado o mais evangélico do Brasil, dados levantados com as secretarias de segurança pública apontaram que essa proporção chega a 67 a cada cem mulheres. A cartilha, portanto, busca oferecer suporte nos aparelhos públicos e nas igrejas locais, de modo que essas mulheres tenham informações adequadas e amparo técnico e espiritual na luta contra a violência doméstica e outras formas de agressão.
Na solenidade de lançamento da Cartilha Feminicídio Zero, Valéria Vilhena afirmou: “O Cristianismo, a religião cristã, pecou. Seu pecado trouxe consequências a toda a nossa sociedade. É nosso dever, enquanto cristãs e cristãos, estarmos aliados a todas as lutas pela dignificação e reparação, ou seja, pela dignidade da vida, que foi por séculos aviltada e continua até os dias de hoje.”
A pastora e psicóloga Silvana Alves, que contribuiu para a elaboração da cartilha e mobilizou igrejas locais na adesão ao serviço de acolhimento, reiterou a importância das igrejas na campanha. Para ela, as instituições religiosas são “um ator social de muita relevância e que tem como principal objetivo proclamar o evangelho de Jesus, baseado no ministério da reconciliação que gera vida”, devendo, assim, atuar na busca pela paz e esperança.
Referências
Le Monde Diplomatique
https://diplomatique.org.br/violencia-domestica-e-prevalente-entre-evangelicas/ Acesso em 19 MAR 25
Fórum Brasileiro de Segurança Pública
https://publicacoes.forumseguranca.org.br/items/7c9f57aa-e7d6-4d96-8f11-768fe85a2084
Revista Cenarium
https://revistacenarium.com.br/imagina-tolerar-6-horas-sem-enforca-la-diz-senador-do-am-sobre-marina-silva/ Acesso em 18 MAR 25
Assembleia Legislativa da Bahia
https://www.al.ba.gov.br/midia-center/noticias/63830 Acesso em 18 MAR 25
Mulheres Evangélicas pela Igualdade de Gênero
https://www.mulhereseig.org.br/_files/ugd/3fddf7_388daea3bd074a8c85588f933c8a4a26.pdf Acesso em 19 MAR 25
Coletivo Bereia
https://coletivobereia.com.br/liberdade-de-expressao-a-brasileira-desinformacao-de-genero-e-a-ofensiva-as-mulheres/ Acesso em 19 MAR 25
**
Foto de capa: JulianaAndrade/AgênciaALBA