Eleições 2024: jogo alerta e ensina eleitores sobre o uso de inteligência artificial para desinformação nas campanhas 

Um jogo para ensinar sobre falsidades na campanha eleitoral é a iniciativa da Agência Lupa, primeira agência de fact-checking do Brasil, em consórcio com a Politize!, organização dedicada à educação política, e a App Cívico, uma consultoria em projetos de tecnologia cívica. O jogo digital IAgora funciona como um simulador de uma campanha eleitoral. Na brincadeira, o jogador assume o papel de marqueteiro e coordenador da campanha de reeleição de um prefeito fictício, mas com desafios e estratégias familiares ao noticiário político brasileiro.

Imagem: IAgora.org

No IAgora, eleitores podem aprender, na prática, como identificar e se proteger das táticas e técnicas de manipulação usadas para enganar o público com o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA). De acordo com os desenvolvedores, o jogo atua como uma “vacina” contra a desinformação: ao jogá-lo, o jogador desenvolve resistência cognitiva contra as formas comuns de desinformação que poderá encontrar durante as eleições.

Identificar os inimigos da democracia

Em um fluxo de jogo simples e intuitivo, IAgora mostra ao usuário, no papel de coordenador de campanha, como usar cinco táticas de manipulação com grande potencial de ajudar seu candidato a ganhar uma eleição. São elas:

  • Emoção – marcada pelo uso de termos chamativos que remetem à urgência e provocam sentimentos intensos (medo, raiva, alegria, rejeição,  identificação) no eleitor;
  • Teorias da Conspiração – utiliza ferramentas para provocar dúvidas, inseguranças, medos e desconfiança em relação às instituições e autoridades, inclusive no próprio processo eleitoral;
  • Polarização – combina a simplificação de questões complexas com a criação de supostos inimigos, reduzindo um tema ou um debate plural a apenas dois polos;
  • Trollagem – usa de conteúdos de humor para provocar agitação, ofensas e discórdia;
  • Falso Especialista – busca validar determinada visão sobre um tema polêmico por meio de um indivíduo ou grupo que se apresenta como autoridade no assunto, mas não possui conhecimento ou qualificação real.

Desse modo, o jogador é convidado a usar ferramentas de inteligência artificial para manipular imagens verdadeiras, produzir áudios, vídeos e perfis falsos durante a corrida eleitoral. Além de mostrar o impacto e as consequências do uso da desinformação, IAgora explica porque essa tática ainda é um recurso muito usado na política:

“Mesmo que parte da população saiba que o áudio é falso, a maioria das pessoas que recebeu essa mensagem não vai nem desconfiar da veracidade. Isso acontece porque as pessoas recebem os áudios em grupos de pessoas que confiam, como os grupos de família. Com isso, vão acreditar e relacionar inconscientemente uma imagem positiva do seu candidato à educação.”

Educação para IA e o exercício da cidadania 

A indústria da desinformação ganhou escala nas últimas eleições com a ajuda da IA, comprometendo as democracias em diversos países pelo mundo. Nesse sentido, IAgora chega para preencher uma lacuna no campo da educação para o exercício da cidadania nas eleições no que diz respeito ao voto. A iniciativa reconhece que a liberdade para a escolha consciente dos candidatos vem sendo ameaçada pela disseminação da desinformação, o que é popularmente conhecido como fake news, mas inclui muito mais do que é falso, como o Bereia tem mostrado com as checagens.

O pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora João Pedro Chevi, no artigo Info-víduo: novas tecnologias geram novas demandas descreve com clareza a ideia básica de funcionamento daquilo que nos acostumamos a chamar de IA,

“[…] nada de radicalmente novo pode passar a existir através da IA, já que todas as possibilidades de mutações devem se situar dentro do espaço de possibilidades definido pelo programa. Para algo existir, precisa ser percebido no mundo exterior, portanto, se não percebemos e transcrevemos para a máquina, esta coisa não é uma possibilidade, uma vez que os programas consomem informações de bancos de dados. Logo, de acordo com biólogos e filósofos, apenas biologicamente seria possível a criação de novos sensores perceptivos.”

Dessa maneira, ainda que os algoritmos conhecidos como inteligência artificial não sejam capazes de raciocinar ou perceber o mundo como os seres humanos, todavia, podem predizer cenários e tendências, bem como influenciar as escolhas humanas. Seria possível até mesmo “construir” mundos paralelos, por conta da magnitude dos dados (entregues livremente pelos usuários) que alimentam esses sistemas digitais orientados a mecanismos estatísticos de altíssima complexidade.

É assim que a IA pode influenciar usuários de mídias sociais num cenário de eleições municipais, por exemplo. Isto ocorre na medida em que o perfil de cada usuário e seu mundo (características pessoais, relações sociais, gostos, desgostos, opções políticas, sociais, sexuais, culturais, etc) é copiado para dentro da base de dados manipulada pela inteligência artificial. 

O professor Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade Federal do ABC, um dos maiores especialistas no assunto exemplifica bem este processo:

“[…] aqueles códigos invisíveis que agem na internet, orientando o resultado das buscas que fazemos, decidindo pelo usuário da rede social quem aparecerá na timeline dele ou para quais amigos suas postagens serão exibidas e ainda escolhendo os anúncios que milagrosamente aparecem nos sites e aplicativos – são também capazes de agir, ainda que indiretamente, sobre o comportamento e as posturas dos internautas.”

Obviamente, para o funcionamento eficiente dessas ferramentas sempre tem alguém ou algum grupo de interessados que definem as regras e os parâmetros de funcionamento de um sistema digital baseado em inteligência artificial. Não poucas vezes isso é usado para atingir objetivos de lucro ou poder a qualquer custo, sem respeito à realidade dos fatos ou a valores éticos, exatamente como acontece na realidade fictícia proposta pelo game. 

Imagem: IAgora.org

É justamente neste contexto, de ausência de educação digital ou mesmo de ausência de uma educação para o manejo das mídias digitais, no cenário da comunicação social, sobretudo em tempos de pós-verdade, como o atual momento histórico, que a manipulação acontece em escala, com o auxílio da IA. 

Razão porque existe o trabalho árduo de agências de checagem de notícias, como o Coletivo Bereia e a Agência Lupa, entre outros projetos, que, além de prestarem o necessário serviço de fact checking (checagem de notícias) à sociedade, também oferecem bons serviços de educação cidadã no campo do jornalismo e da comunicação social. 

Referências

IAgora, ONLINE. https://iagora.org/about. Acesso 17 set 2024. 

GAMEREPORTER. https://www.gamereporter.com.br/politize/. Acesso 17 set 2024. 

JOÃO PEDRO CHEVI. https://medium.com/@projetomemoria8/info-v%C3%ADduo-novas-tecnologias-geram-novas-demandas-bafcb6dacbe3. Acesso 17 set 2024.

Elisa Marconi e Francisco Bicudo. https://revistagiz.sinprosp.org.br/cultura/como-algoritmos-afetam-a-democracia/. Acesso em 18 set 2024.

Destaques Bereia na Educação em 2023

Bereia participou de diversas iniciativas – seminários, podcasts, trabalhos acadêmicos e outros – ao longo de 2023 voltadas a refletir sobre a desinformação e modos de enfrentá-la. Confira alguns destaques.

Julho – Trabalho acadêmico discute desinformação em redes religiosas e destaca atuação do Bereia

O fenômeno da desinformação em redes religiosas, em especial nos espaços cristãos, foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo de Julia Weiss, da Universidade Federal de Santa Catarina. O podcast Heresias da Informação, produzido para o TCC, destaca o trabalho realizado pelo Bereia na checagem de conteúdos noticiosos, com depoimentos de seus integrantes.

Setembro – Bereia participa de seminário sobre religião, discurso de ódio e mídias sociais

Bereia participou do seminário “Religião, discurso de ódio e mídias sociais”, organizado pela área de Religião e Política do Instituto de Estudos da Religião (ISER) em parceria com a Fundação Boll. O evento contou com a presença de pesquisadores e representantes de instituições da sociedade civil.

A pesquisadora Magali Cunha, editora-geral do Bereia, abordou as complexidades das mídias sociais e dos discursos de ódio relacionados à religião. Discutiu-se como a extrema direita tem utilizado a religião para disseminar ódio e desinformação online, fortalecendo estereótipos e discriminações.

Outubro – Jornalista do Bereia participa de treinamento da agência Lupa

Com o objetivo de aprimorar o trabalho de enfrentamento à desinformação, foco do trabalho realizado pelo Bereia, o jornalista  João Pedro Capobianco foi selecionado para integrar o programa de treinamento Mirante, da Agência Lupa, especializada em checagem de notícias.

A capacitação, com duração de quatro meses, inclui treinamento em técnicas de jornalismo investigativo, além de imersão e mentorias. “Estou muito feliz com mais esse passo dado. Bereia tem uma importância crucial nisso, como não poderia deixar de ser!”.

Dezembro – Bereia participa de discussão sobre envolvimento das igrejas em desinformação ou informações falsas

A editora-geral do Bereia Magali Cunha participou de um webinar que discutiu sobre o envolvimento das igrejas em desinformação ou informações falsas e sobre o que fazer para prevenir esses casos.

O evento foi promovido pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e a Associação Mundial de Comunicação Cristã (WACC) e contou com representantes de várias partes do mundo.
Magali Cunha falou sobre a situação das igrejas em uma era de alto volume de informações e desinformação. “Os ambientes religiosos são altamente vulneráveis à circulação de desinformação”, destacou. A pesquisadora comentou que “as contas de mídias sociais de grupos religiosos e seus líderes são creditadas como fontes de verdade”. Saiba mais em:

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Foto de capa: StartupStockPhotos/Pixabay

Destaques Bereia na Mídia em 2023

O Coletivo Bereia esteve presente em diversos espaços da mídia ao longo de 2023. Confira alguns destaques:

Abril – Jornal O Globo (Blog Sonar – a escuta das redes)

O Coletivo Bereia, por meio da editora-geral Magali Cunha, subsidiou o levantamento do jornal “O Globo” sobre fake news contra o governo Lula e o papel de evangélicos nessa estratégia. De acordo com Cunha, ao longo dos primeiros três meses do mandato, o modelo de desinformação se mantém nos mesmos moldes do que ocorreu em 2022 durante a campanha eleitoral: “O discurso ainda permanece o mesmo e com alguma repetição na formação de memes que são criados com alertas de pânico e em torno de alguns vídeos”. Confira o levantamento no site do jornal.

Julho – Programa Almoço no MyNews

A editora-geral Magali Cunha tratou de casos recentes envolvendo cristãos no cenário político. Em entrevista, ela explicou como o termo “cristofobia” é utilizado para ganho político e citou exemplos da época, como o caso do pastor André Valadão, enquadrado dentro das leis brasileiras por discurso de ódio. Veja no Instagram.

Julho – Rede TVT (Podcast do Conde)

A editora-geral Magali Cunha tratou de diversos temas durante a entrevista, entre eles o da interseção entre religião e política. Segundo ela, isso não é algo novo, mas a partir dos anos de 2010 o que se vê “é uma articulação ultraconservadora, especialmente no cristianismo, com uma estratégia de convencimento de determinada população que tem afeto pela religião e que abraça uma perspectiva que não é nada religiosa, mas puramente política, com ocupação de espaços de poder e de negação de direitos, especialmente dos das minorias”. Confira a entrevista completa no canal da TVT no YouTube.

Agosto – Agência Lupa

O pastor presbiteriano, integrante da equipe do Bereia André Mello destacou em entrevista à Agência Lupa o trabalho de combate à desinformação no meio evangélico que realiza ao longo de seu ministério. Mello, que também é jornalista e tradutor, ressaltou a importância de iniciativas como a do Bereia no esforço de checar fake news que vem crescendo nos dias de hoje e que alcançam os evangélicos, tanto na posição de alvos quanto na de disseminadores de fatos enganosos. De acordo com ele, “as mesmas figuras que hoje disseminam desinformação e tentam promover uma campanha de pânico moral, especialmente entre a comunidade evangélica, já faziam isso há no mínimo duas décadas”. Veja no site da Lupa.

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Foto de capa: Florian Pircher/Pixabay

No Dia Internacional da Mulher, editora-geral do Bereia é homenageada pelo enfrentamento à desinformação

A editora-geral do Coletivo Bereia Magali Cunha foi uma das mulheres homenageadas pela Agência Lupa no Dia Internacional da Mulher neste 2024 pelo trabalho de enfrentamento à desinformação. Sob o  título “8 cientistas mulheres que pesquisam desinformação que você precisa conhecer”, Lupa, um hub de soluções de combate à desinformação por meio do jornalismo e da educação midiática, as apresentou e também trouxe uma reflexão de cada uma dentro da área de atuação delas.

Imagem: reprodução do X

Além de Magali Cunha, também receberam o reconhecimento Ana Regina Rego (coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação – RNCD), Luisa Massarani (Fiocruz), Thaiane Moreira (UFF), Adriana Barsotti (UFF), Alyne Costa (PUC-RJ), Marie Santini (UFRJ) e Helena Martins (UFC).

Em seu artigo, publicado na revista Debates da NER e reproduzido na Lupa, a editora-geral do Bereia aborda o impacto das mídias sociais no voto das mulheres evangélicas. O foco é a pesquisa qualitativa realizada por Jaqueline Teixeira e Lívia Reis com 45 mulheres evangélicas de diferentes denominações, idades e regiões do Brasil. De acordo com Magali Cunha, três elementos são essenciais em qualquer análise sobre política no Brasil: religião, gênero e mídias.

“Quaisquer considerações sobre a presença de evangélicos na igreja e nas dinâmicas socioculturais e políticas do Brasil precisam levar em conta a expressão de uma religião que carrega simbólicas e intensas marcas das lógicas da mídia e de seu processo de produção de sentidos”, destacou a pesquisadora.

Vídeo não registra morte de missionárias no Afeganistão

Circula pelas redes sociais um vídeo que mostra várias pessoas deitadas no chão e presas dentro de sacos plásticos transparentes, cercadas por um grupo que observa a cena sem fazer nada. A legenda da gravação afirma que as imagens retratam missionárias no Afeganistão que teriam sido jogadas em praça pública para morrer. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira aqui o trabalho de verificação da Lupa.

Melancias chinesas não vieram contaminadas com coronavírus

* Nota por Maria Fernanda de Lima

Voltou a circular em grupos religiosos no WhatsApp um áudio que já havia sido desmentido em maio deste ano pelo Boatos.org. O áudio tem quase dez minutos e nele uma mulher não identificada pede para avisar a população para não comprar melancias, pois todas elas estariam vindo da China contaminadas com o coronavírus.

Conforme outra checagem, realizada pela agência Lupa em setembro, que também declarou como falsas as informações contidas no áudio, o Ministério da Saúde afirma que não há qualquer evidência de que produtos enviados da China para o Brasil tragam o vírus.

Segundo o Boatos.org, o áudio tem características alarmistas, não apresenta qualquer fonte confiável e, além da questão das melancias, mente sobre uma série de outras informações falsas, como supostas vacinas que envenenariam a população e inexistência do coronavírus.

Confira a abaixo a reprodução, na íntegra, da checagem realizada pelo Boatos.org.

Melancia vendida no Brasil foi contaminada por chineses com coronavírus #boato

Caramba! O que não tem faltado na internet são informações malucas (talvez esse seja o melhor termo) relacionadas à Covid-19. A mais nova delas fala de uma “denúncia bombástica” que envolve caminhoneiros, chineses, coronavírus e… melancia.

De acordo com um áudio que está circulando no WhatsApp, uma mulher denuncia que “os chineses” estão contaminando todas as melancias no Brasil com o “vírus” (presume-se que seja o coronavírus), que os caminhoneiros estão sabendo, mas não podem fazer greve e que é preciso deixar de comprar a fruta. O áudio ainda fala que não existe Covid-19 e a pessoa que o narrou pede para ela não seja identificada. Leia a transcrição do áudio em questão:

Por favor, só não divulgue nome de quem te passar por favor, mas avisa toda população que puder. Não compre melancia no Brasil. as as melancias tá entrando. Já nos comércios todas contaminadas. Os caminhoneiros não pôde para greve, porque só tem eles para transportar as melancia os que tão os governantes que tão saindo de Brasília que tão pedindo as contas porque não tão concordando e tão correndo risco de vida, já foi vazado um áudio os chineses tão invadindo o Brasil. Eles querem o Brasil, Estados Unidos a qualquer custo. Só que eles querem comer na população já foi dado ordem. Para o presidente Assinar o decreto espichar mais três meses de seiscentos reais e se depender precisar espichar, mais seis meses que é pra não pegar a população indo trabalhar pa, pegar eles encurralado em casa pra aplicar as vacinas que já tão chegando no Brasil, quem não tomou a vacina vai ser ameaçada de ser preso.
Outra por que que os cadeeiro não pode sair porque lá dentro eles vão ter que consumir a melancia após as refeição e tomar as vacinas e as pessoas idosas vão pegar mais rápido o vírus porque as melancias tão contaminadas todas as melancia entendeu por favor, avisa o Máximo de população que puder porque vão ser obrigado também a tomar vacina todo pessoal da área de saúde até os que tão em casa e eles não tão conseguindo conter as pessoas em casa. Então, eles vão começar a multar quem tiver na rua Só vai poder sair de acordo com a data do seu aniversário, então por favor. Avisa a população que o problema não é máscara. O problema é a injeção que eles tão injetando até mesmo nos hospitais. Quem morre não pode ter direito ao corpo de delito. Eles tão jogando pro Covid-19 não tem Covid-19. é o veneno que eles tão injetando nas pessoas pra diminuir a população pra passar o Brasil Brasil. Dívida alta pra passar o Brasil por cima acontece que o nosso Presidente não queria usar máscara porque ele já sabia. Eles obrigaram o presidente usar máscara pra poder incentivar as pessoas, usa máscara e ficar em casa porque em casa que eles vão querer as pessoas pra vacinar por favor a vacina que tá chegando. Toda contaminada, as pessoas que se escaparem vai ter problema sério mentais em depressão. por favor, avisa o máximo que você puder não consumir as melancia daqui pra janeiro que tão todas contaminadas os governantes que estão ainda em Brasília, porque tão concordando em contaminar Todas as melancia, os caminhoneiro é obrigado a trabalhar na rua pra entregar as melancias pra ir pro comércio. por favor avisem o máximo que puder.

Melancia vendida no Brasil foi contaminada por chineses com coronavírus?

Caraca! Como tem gente maluca (ou mau caráter). Você notou que a pessoa que gravou o áudio pediu para não ser identificada? Sabe por que? Porque o áudio em questão é MUITO falso. Vamos aos fatos.

Como é possível ver, a mulher do áudio em questão faz acusações gravíssimas que envolvem tentativas de matar muitas pessoas dolosamente, contaminar alimentos, promover uma quebra de mercados e outras coisas. E sabe quantas provas ela apresenta? Nenhuma! Isso mesmo. A mensagem em questão vomita acusações e não apresenta nenhuma prova.

É importante citar que o áudio, além de ter características de boatos online, como ser vaga, alarmista, com erros de português e falta de citação de fontes confiáveis, tem diversas contradições que derrubam a tese. Vamos listar algumas só para vocês terem uma ideia.

1) A “contaminação massiva de melancias” cobraria uma logística gigantesca. Em 2014, o Brasil produziu 111 milhões de toneladas de melancia. Imagina só como seria o trabalho de infectar cada melancia. Isso demandaria uma mão de obra e matéria-prima (o vírus) que, com certeza, chamaria atenção. Mas sabe o que sabemos além do áudio da “agente secreta” do áudio? Nada. Não há uma referência sobre o assunto em fontes confiáveis.

2) Mesmo que a ação fosse realizada, não há garantia de que as pessoas fossem contaminadas. O vírus não se multiplicaria na melancia e, se o tempo de infecção até o consumo fosse longo (alguns dias), o vírus já estaria morto. Ou seja: não seria um “plano maléfico” tão eficaz.

3) A mulher fala que “os governantes que não concordam” saíram de Brasília. Com exceção de alguns ministros (como Mandetta, Moro e Teich), não houve nenhuma “renúncia”. Detalhe: nenhum dos três citados saíram por causa de “melancia”.

4) A mulher fala que a China vai invadir o Brasil. Essa tese não só é falsa como também já foi desmentida no Boatos.org. Leia aqui.

4) A mulher chega a falar que vão dar vacinas infectadas nas pessoas e que a Covid-19 não existe. De novo, mais duas informações que não procedem. Primeiro, porque ainda não foi homologada uma vacina para Covid-19. Segundo, porque está mais do que claro que o coronavírus existe.

5) Para terminar, não faz nenhum sentido a tese de que o governo vai prender as pessoas em casa para “se contaminarem”. Se houvesse um plano desses, o que faria sentido seria soltar as pessoas na rua para se contaminarem e morrer muita gente. Ainda bem que ninguém quer isso, não é?

Pela falta de provas apresentadas pela mulher que narra o arquivo e pelos absurdos apresentados, podemos dizer que a informação que circula na internet é falsa. As melancias não foram infectadas com o coronavírus por chineses que querem “invadir o Brasil”.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164. 

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Foto de Capa: Pixabay/Reprodução