A propósito do 13 de maio, Dia da Denúncia Contra o Racismo: Preconceito nas igrejas evangélicas precisa ser enfrentado
O 13 de maio passou a ser conhecido no Brasil como o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo. É uma data de profunda reflexão e luta, que ressignifica o histórico dia de 1888, quando a Lei Áurea foi assinada, abolindo formalmente a escravidão no país.
Esta mudança de perspectiva foi promovida por movimentos negros, como o Movimento Negro Unificado (MNU), que contestam a narrativa oficial de que a assinatura da Lei Áurea representou a plena liberdade para a população negra. Em vez disso, destacam que a abolição não foi acompanhada de políticas públicas eficazes, o quen resultou em marginalização e exclusão social dos negros no país.
Dentro deste contexto, surge uma questão muito relevante: como o racismo se manifesta nas instituições religiosas, especialmente nas igrejas evangélicas? Apesar dos princípios cristãos de igualdade e amor ao próximo, relatos indicam que o preconceito racial persiste de forma velada nesses espaços.
Para aprofundar essa discussão, são entrevistadas neste espaço duas pessoas de fé evangélica, ativistas pela justiça racial. Uma delas é Alan Rodrigues, mineiro com pós-graduação em Gestão de Negócios e Marketing e especialização em Diversidades e Inclusão Social em Direitos Humanos pela USP. Rodrigues é coordenador do Movimento Negro Evangélico (MNE) em Minas Gerais e idealizador do projeto Negritude em Cores, que promove reflexões sobre teologia negra.
A outra entrevistada é a teóloga da Igreja Metodista Marilia Schuller. Já, em seus primeiros anos como pastora, foi indicada para trabalhar no programa de Combate ao Racismo do Conselho Mundial de Igrejas. Este programa teve importante papel no enfrentamento do apartheid na Africa do Sul, entre outras situações-limite. Por seu compromisso com a luta pelos direitos do povo negro, Schuller acabou por ser enviada como missionária, pela Junta de Ministérios Globais da Igreja Metodista Unida (EUA), para os programas de combate ao racismo e defesa dos direitos das mulheres dessa igreja. Ela hoje está aposentada, de volta ao Brasil, mas segue engajada nos movimentos por justiça racial.

Racismo nas igrejas é parte da estrutura brasileira
A luta antirracista nas igrejas evangélicas brasileiras começou a ganhar força na década de 1980, impulsionada por discussões sobre a redemocratização e o fortalecimento dos movimentos sociais. No entanto, Alan Rodrigues observa que, apesar dos avanços, a resistência interna ao trato desta questão ainda é significativa. “Se formos olhar para um país como o nosso, que é majoritariamente negro e cristão, a gente deveria entender que o Cristianismo vê o racismo como pecado; porém, a conta não bate! Porque o racismo não tem diminuído, pelo contrário”, conclui.
O ativista do MNE destaca: “Quando tentamos falar de negritude ou teologia negra, o primeiro ponto que as pessoas dizem é que estamos tentando separar, estamos tentando criar mais uma teologia que separa as pessoas”.
Segundo Rodrigues, é desafiador para muitos reconhecerem o racismo estrutural presente nas igrejas, que frequentemente permanece encoberto e silenciado. “Precisamos levar informação para as pessoas, só assim vamos conseguir progredir ainda mais educando e ensinando sobre essas vivências”.
Uma perspectiva teológica
A Igreja Metodista iniciou um movimento significativo de combate ao racismo nos anos 1980, fundamentado em princípios teológicos e sociais. Marilia Schuller destaca, nesta memória, a importância do versículo de Gálatas 3:26-28, que afirma: “Pois todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos vocês que foram batizados em Cristo Jesus se revestiram. Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos são um em Cristo Jesus”.
Segundo a teóloga, este trecho da Bíblia enfatiza a unidade e a igualdade de todos os cristãos em Cristo, independentemente de etnia, status social ou gênero. Ela observa que, para a Igreja Metodista, isso implica a necessidade de refletir sobre as desigualdades presentes dentro da própria comunidade de fé e no contexto social mais amplo.
Ao questioná-la sobre a falta de memória histórica em alguns movimentos antirracistas nas igrejas hoje, Marilia Schuller aponta que a memória só é possível quando há conhecimento da história. Ela acredita que um dos principais obstáculos é o desconhecimento e a desinformação sobre os movimentos de diálogo, reflexão e ação antirracismo que já ocorreram.
Outro desafio destacado pela teóloga metodista é a escassez de recursos financeiros para implementar ações eficazes e para divulgar essas iniciativas. Ela enfatiza a necessidade de diálogo, partilha e trabalho conjunto entre as igrejas que estão mobilizadas nesta crucial tarefa de combate ao racismo.
13 de maio deve ser motivação
Neste espaço de enfrentamento da desinformação, que é o Bereia, vale destacar o 13 de maio como motivação para denunciar o racismo estrutural, promover o encorajamento a denúncias, reivindicar políticas públicas.
Além de tudo isto, importa que se alie informação e memória e se celebre a resistência negra nos espaços evangélicos que ainda precisam entender e promover pautas como estas.